I – Gênero: Fichamento
Fichar um texto significa sintetizá-lo, documentá-lo. A identificação e o registro das principais ideias das
obras, de forma coerente e objetiva, permitem que o acesso ao material seja otimizado, aprimorando,
também, o trabalho do autor; “gênero que atende, principalmente, à finalidade de registrar, de modo
sintético, o conteúdo de um texto/discurso para posterior consulta”.
Assim, “O ato de fichar um livro, um capítulo, um artigo, um ensaio justifica-se, na maioria das vezes, por
uma razão específica: obras cujos textos são objeto de fichamento muitas vezes não pertencem ao leitor,
sejam elas um livro, um periódico da mídia comercial, uma revista científica etc. Logo, é preciso fichar para
registrar o conteúdo daquele texto, tendo em vista possível uso posterior desse conteúdo e potencial
dificuldade de reaver o material de origem para nova consulta.”
Ainda: “há outras razões para a produção desse gênero textual, dentre as quais a forma como alguns
estudantes se organizam em seu processo de estudo, produzindo fichamentos dos textos que leem em
aula ou em tarefas extraclasse com o objetivo de rever e organizar o conteúdo para as provas, trabalhos
acadêmicos etc. Essa, aliás, é uma boa razão para produzir fichamentos, pois constitui exercício de
estudo e favorece a organização do conteúdo das diferentes disciplinas. Sugerimos a você, desde já, que
adote o fichamento como forma de organização de seu material de estudo ao longo do curso, não apenas
desta disciplina, mas de todas as que compõem o curso.”
Várias são as propostas para formatação das fichas. Não há identidade absoluta entre o olhar de
diferentes autores, mas há elementos comuns entre essas propostas. Observando os itens recorrentes, suge -
rimos, aqui, um formato que julgamos dar conta das necessidades para as quais os fichamentos são
produzidos na universidade. Os elementos comuns entre as diferentes propostas contemplam:
a) a informação precisa acerca do tema ou título genérico do objeto de fichamento;
b) o registro do(s) título(s) específico(s) com o qual (os quais) tal tema é convergente no caso de o
fichamento constituir instrumento para realização de relatório de pesquisa ou atividade afim;
c) a organização da linearidade ou sequencialidade das fichas quando houver mais de uma;
d) a indicação do texto-fonte segundo normas da ABNT1;
e) o registro do conteúdo: resumo ou citações do texto-fonte, dependendo da finalidade da ficha;
f) a informação do local onde a obra pode ser encontrada sempre que o texto-fonte não pertencer ao
leitor;
g) as relações com outra(s) ficha(s).
Obs.: A indicação do título genérico ou tema objetiva deixar claro para você mesmo (ou para o
professor no caso de o fichamento ser feito como atividade de avaliação) o assunto da ficha.
No caso das fichas de papel-cartão, a indicação é colocada
imediatamente no início da ficha e permite sua localização temática
na caixa-arquivo. No caso de arquivo-virtual, a indicação do tema ou
título genérico pode ser registrada não na ficha em si mesma, mas no
nome que você atribui ao arquivo na hora de salvá-lo em uma pasta
na memória de seu computador.
A informação dos títulos específicos, por sua vez, faz sentido sempre que realizamos
fichamentos de leituras para produção de textos que apresentem subdivisões internas. No final
de nosso curso, por exemplo, você terá de produzir um texto, para o qual realizará pesquisa
bibliográfica. Você seguramente lerá muitos livros, capítulos de livros, artigos e textos afins que
deverá fichar para a redação do relatório de pesquisa, ao final do estudo. Seu relatório será
composto de capítulos, com títulos e subtítulos.
A indicação dos títulos nas fichas se justifica, é claro, em outros contextos. Interessa-nos
aqui, aludir, ainda, ao fichamento realizado para finalidades de estudo das disciplinas do curso.
Cada uma das disciplinas que constituem o nosso curso de Letras apresenta uma ementa com o
conjunto de conteúdos que a constitui. Uma forma de você se organizar para o estudo valendo-se
1
A norma da ABNT consta ao final desta apostila, em box separado.
do fichamento é, por exemplo, organizar suas fichas tendo como tema ou título genérico o
nome da disciplina e, como título específico, cada um dos diferentes itens da ementa. Fichando
os textos dados pelos professores com essas indicações, certamente ficará bastante fácil o seu
processo de estudo individual para apropriação do conhecimento e para avaliação.
Vale lembrar que o fichamento feito em arquivo virtual deve observar espacejamento 1,5
entre as linhas e uso de fonte 12 conforme prescreve a NBR 14724.
Tipos de Fichamento
Obs.: Sobre como fazer a referência de acordo com a norma da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT), consultar o box ao final desta apostila.
Exemplo:
MARTELOTTA, Mário Eduardo (org.). Manual de linguística. São Paulo: Contexto, 2008. 254
p.
“Os linguistas, portanto, estão interessados no que é dito, e não no que alguns acham que deveria
ser dito. Eles descrevem a língua em todos os seus aspectos, mas não prescrevem regras de
correção. É um equívoco comum achar que há um padrão absoluto de correção que é dever de
linguistas, professores, gramáticos e dicionaristas manter. A noção de correção absoluta e
imutável é alheia aos linguistas.” (p. 25)
“Em sua origem, a linguística aplicada tem sua atuação voltada para o ensino de línguas,
especialmente de línguas estrangeiras, buscando, para isso, subsídios de teorias referentes à
linguagem, sejam elas provenientes da linguística, da filosofia da linguagem ou de qualquer
outra área afim.” (p. 27)
“A relação linguística aplicada é, pois, simbiótica.” (p. 28)
→ Fichamento bibliográfico: consiste em fazer um comentário crítico sobre o assunto do texto ou obra
selecionada, incluindo, claro, os detalhes mais relevantes.
deve apresentar a indicação completa da fonte: nome do autor, título da obra, edição, local de
publicação, editora, ano da publicação, número do volume e de páginas, caso a quantidade seja
superior a um(a).
Exemplo:
ILARI, Rodolfo. Introdução à semântica – brincando com a gramática. 7. ed. São Paulo:
Contexto, 2007.
→ Fichamento de resumo: esse tipo de fichamento consiste na exposição das principais ideias do autor. Ele
é breve e escrito com as próprias palavras do leitor da obra (em contraste com o fichamento de citação).
Na universidade, tende a prevalecer o fichamento que tem por objetivo o resumo de uma obra na
totalidade ou em parte. Nesse caso, o resumo é o próprio conteúdo do fichamento. Há dois tipos de resumo –
resumo indicativo e resumo informativo. O fichamento de textos em obras, capítulos de livros, artigos etc.
é produzido predominantemente na universidade com base em resumos informativos.
Exemplo:
ILARI, Rodolfo. Introdução à semântica – brincando com a gramática. 7.ed. - São Paulo:
Contexto, 2007.
O estudo dos sentidos, a Semântica, não acontece como o estudo da gramática: não há
exercícios específicos para sala de aula da escola de ensino médio. Esse equívoco faz com
que os professores cometam um grave deslize didático: acreditar que não há atividades
interessantes para que o ensino da multiplicidade dos significados seja ministrado. A partir
disso, Ilari propõe:
a) desfazer essa crença;
b) seleção de 25 temas de semântica;
c) atividades diferenciadas para cada tema.
Em síntese:
O resumo é um gênero textual/discursivo cuja finalidade é o registro das informações básicas sobre um
texto, quer objetivando difundir tais informações, quer visando auxiliar o aluno em seus estudos teóricos,
quer buscando informar ao leitor previamente o conteúdo de um trabalho acadêmico. Nessa perspectiva,
Segundo a Norma Brasileira de Referência – NBR 6028 (ABNT, 2003b), da Associação Brasileira
de Normas Técnicas, resumo é uma apresentação “[...] concisa dos pontos relevantes de um documento” e
pode ser classificado em três tipos diferentes:
Resumo indicativo: Indica apenas os pontos principais do documento, não apresentando dados
qualitativos, quantitativos etc. De modo geral, não dispensa a consulta do original.
Resumo informativo: Informa ao leitor, finalidades, metodologia, resultados e conclusões do
documento, de tal modo que possa, inclusive, dispensar a consulta do original.
Resumo crítico: Resumo redigido por especialistas com análise crítica de um documento. Também
chamado de resenha. Quando analisa apenas uma determinada edição entre várias, denomina-se
recensão
Este artigo aborda a produção de textos de opinião como uma atividade facilitada pelas
habilidades metacontextuais relativas à coerência e à coesão. O objetivo do estudo
apresentado foi identificar e descrever o uso de operadores organizacionais de coesão e a
coerência em textos de opinião de 18 alunos do 5º ano do ensino fundamental de uma escola
pública. Foi realizada uma intervenção (sequência didática) que comportou a utilização de
operadores argumentativos e organizacionais como ferramentas que aprimoram a escrita de
textos de opinião. Em virtude do caráter qualitativo da pesquisa e da participação de um
número reduzido de alunos as conclusões deste estudo não podem ser generalizadas.
Contudo, a intervenção revelou-se eficaz tanto como instrumento de investigação quanto
como instrumento de instrução pedagógica. Acredita-se que o tipo de sequência didática
utilizado pode servir para contínua avaliação das aprendizagens e dificuldades reveladas
pelos alunos, subsidiando (re)elaborações nos planejamentos pedagógicos voltados para a
produção de textos de opinião.
Como podemos inferir, resumos dessa natureza têm caráter indicativo, por isso não dispensam a
leitura dos textos-fonte porque tais resumos apenas indicam o conteúdo desses textos. A partir dessa
indicação, o leitor mapeia as informações básicas para, por exemplo, decidir, preliminarmente, se os
trabalhos de conclusão de curso – TCCs –, os artigos, as monografias, as dissertações ou as teses que
têm em mão atendem a suas necessidades de leitura ou não. Importa referir, enfim, que tais resumos
compõem o próprio documento; logo, os seus autores estão dispensados do registro da referência
bibliográfica a que aludem.
Como resumir:
O ato de resumir, o qual requer, preliminarmente, leitura atenta do texto-fonte integral de modo
a depreender os eixos de sentido sobre os quais ele se estrutura, o que ganha especial importância, no
âmbito desta disciplina, em se tratando de textos científicos.
Quanto ao resumo de textos científicos, Marconi e Lakatos (2007, p. 68, grifos das autoras) chamam
atenção para o papel da leitura no ato de produzir tais textos. Segundo as autoras, aquele que escreve
[...] obedece a um plano lógico através do qual desenvolve as ideias em uma ordem hierárquica, ou
seja, proposição, explicação, discussão e demonstração. É aconselhável, em uma primeira leitura,
fazer um esboço do texto, tentando captar o plano geral da obra e seu desenvolvimento.
A seguir, volta-se a ler o trabalho para responder a duas questões principais: De que trata este texto?
O que pretende demonstrar? Com isso, identifica-se a ideia central e o propósito que norteiam o
autor.
Em uma terceira leitura, a preocupação é com a questão: Como o disse? Em outras palavras, trata-se
de descobrir as partes principais em que se estrutura o texto. Esse passo significa a compreensão das
ideias, provas, exemplos etc. que servem como explicação, discussão, demonstração da proposição
original (ideia principal).
Feitas tais leituras, Flôres, Olímpio e Cancelier (1994, p.140) recomendam a redação do resumo –
tanto indicativo quanto informativo - “[...] condensando as idéias, as partes, encadeando-as na
progressão em que se sucedem no texto e estabelecendo a relação entre elas”. O passo final, segundo
as autoras, é a comparação do resumo com o conteúdo do texto-fonte, a fim de testar sua precisão e
fazer as revisões necessárias. Para elas, importa ressalvar que “[...] resumos de textos longos ou de
livros, evidentemente, não devem ser feitos parágrafo por parágrafo. Deve-se, nesses casos, buscar a
síntese do assunto através da análise das partes da obra” (FLÔRES; OLÌMPIO; CANCELIER, 1994,
p. 140).
Composição do resumo
Extensão do resumo
No tópico anterior referimos concepções de Flôres, Olímpio e Cancelier (1994), segundo as quais
resumos correspondem a cerca de um terço do conteúdo a ser resumido. Trata-se de uma concepção
compartilhada por vários autores e professores da área. Podemos inferir, pois, que essa observação remete
aos resumos informativos, dado que os resumos indicativos (dentre os quais incluímos o resumo de
trabalhos acadêmicos), como a própria ABNT prescreve, na NBR 6028 (ABNT, 2003b), devem observar um
espectro entre cinquenta e quinhentas palavras conforme o gênero do texto resumido. (A norma não explicita
que esses limites se referem ao resumo indicativo, mas entendemos como possível essa inferência.)
Precisamos observar, no entanto, que há casos em que não parece ser justificável a manutenção de
um terço do conteúdo e que essa prescrição pode engessar, em algumas circunstâncias, a fluidez do ato de
resumir. Com isso, estamos querendo “dizer” a você que a extensão não deve ser determinada a priori, mas
deve ser decorrência de uma avaliação cuidadosa sua, realizada por ocasião das leituras feitas. Nessa avalia-
ção, importa que você depreenda os itens a que aludimos anteriormente (gênero, assunto ou tema,
focalização etc.) e a relevância de estender-se mais neste ou naquele item, avaliada com base na grande
questão: o resumo tem de dar conta dos argumentos do autor os quais sustentam uma determinada tese
sobre o tema focalizado.
Esses fatores devem nortear a produção de seu resumo – quer se trate de resumo indicativo, quer de
resumo informativo, que, segundo a própria ABNT, devem ressaltar objetivos, método, resultados e con-
clusões do texto a ser resumido. “Método”, por exemplo, é um item de relevância em descrição de pesquisas
que envolvem, em especial, geração de dados empíricos – aquelas pesquisas genericamente conhecidas como
“pesquisas de campo”. O resumo do conteúdo de um livro, por exemplo, pode não demandar registro de
métodos específicos usados pelo autor, mas seguramente registrará argumentos acerca da tese defendida por
esse mesmo autor. Tais argumentos, insistimos, são de depreensão obrigatória no ato de resumir.
Há, por outro lado, textos permeados por exemplos, figuras, ilustrações e itens afins. Os exemplos,
nos textos científicos, tendem a funcionar como “imagens”, ou seja, tendem a ilustrar os argumentos, de
modo a favorecer a compreensão dos leitores. Logo, a relevância do registro, para fins de resumo, está nos
argumentos em si mesmos e não nos exemplos ilustrativos. Há, ainda, textos marcados por paráfrases:
quando os autores repetem, em outras palavras, argumentos e afirmações já registrados anteriormente no
texto. As paráfrases, tanto quanto os exemplos, objetivam conferir maior clareza ao texto, buscando a
compreensão pelo leitor, mas seguramente devem ser suprimidas em um resumo porque constituem
repetições de ideias já veiculadas. Expressões como “isto é” e “ou seja” funcionam como introdutoras de
paráfrases e, portanto, sinalizam repetições que devem ser desconsideradas por ocasião dos resumos.
Desse modo, entendemos que a extensão maior ou menor do resumo deve ser determinada pelo
critério da relevância do que precisa ser registrado e do que pode ser suprimido. Isso não significa que
devamos fazer resumos muito longos ou, ao contrário, resumos muito curtos. Os resumos informativos, que
teoricamente dispensam a retomada dos textos-fonte, devem ter extensão suficiente para dar conta desses
textos, liberando os leitores (e o autor do resumo) de voltar aos textos que lhe deram origem, mas não se
ocupando, o próprio autor do resumo (nem ocupando seus leitores), com registros periféricos que funcionam
como “pano de fundo” para a argumentação do autor. A identificação dessas diferenças e a avaliação da
relevância das informações exigem, pois, que sejamos leitores proficientes.
Resenha é, por definição, apreciação de um texto, visando documentar criticamente seu conteúdo. A
finalidade da resenha é a divulgação de textos e de obras, informando, em uma perspectiva crítica, o que tais
textos e obras contêm. A resenha registra impressões pessoais do resenhista sobre o texto-fonte. Na maioria
das vezes, o autor da resenha alude a outras obras publicadas pelo autor do texto-fonte ou a obras de temas
congêneres, as quais constituem parâmetro em potencial para a apreciação crítica propriamente dita.
Resenhas são comuns em periódicos como revistas semanais de grande circulação nacional e jornais
das mais variadas tendências. Esses periódicos normalmente veiculam resenhas de livros, filmes, peças tea -
trais e gêneros afins, objetivando informar o leitor sobre o conteúdo desses livros, filmes e peças, e da
validade ou não de lê-los ou de assistir a eles.
ASSIS, Machado de. A causa secreta. In: Machado de Assis - obra completa v.II. Rio de Janeiro: Nova
Aguilar, 1986.
Joaquim Maria Machado de Assis é considerado um dos maiores escritores brasileiros e entre seus
livros encontram-se as coletâneas de contos Histórias da meia-noite e Contos
fluminenses.
Causa secreta é um conto que aborda um tema oculto da alma de todo ser humano: a crueldade.
Machado de Assis cria um cenário onde o recém-formado médico Garcia conhece o espirituoso Fortunato,
dono de uma misteriosa compaixão pelos doentes e feridos, apesar de ser muito frio, até mesmo com sua
própria esposa.
Através de uma linguagem bastante acessível, que não encontramos em muitas obras de Assis, o texto
mescla momentos de narração - que é feita em terceira pessoa – com momentos de diálogos diretos, que
dão maior realidade à história.
Uma característica marcante é a tensão permanente que ambienta cada episódio. Desde as primeiras
vezes em que Garcia vê Fortunato - na Santa Casa, no teatro e quando o segue na volta para casa, no
mesmo dia - percebemos o ar de mistério que o envolve. Da mesma forma, quando ambos se conhecem
devido ao caso do ferido que Fortunato ajuda, a simpatia que Garcia adquire é exatamente por causa de
seu estranho comportamento, velando por dias um pobre coitado que sequer conhece.
A história transcorre com Garcia e Fortunato tornando-se amigos, a apresentação de Maria Luiza,
esposa de Fortunato e ainda com a abertura de uma casa de saúde em sociedade. O clímax então acontece
quando Maria Luiza e Garcia flagram Fortunato torturando um pequeno rato, cortando-lhe pata por pata
com uma tesoura e levando-lhe ao fogo, sem deixar que morresse. É assim que percebe-se a causa secreta
dos atos daquele homem: o sofrimento alheio lhe é prazeroso. Isso ocorre ainda quando sua esposa morre
por uma doença aguda e quando vê Garcia beijando o cadáver daquela que amava secretamente. Fortunato
aprecia até mesmo seu próprio sofrimento.
É possível afirmar que este conto é um expoente máximo da técnica de Machado de Assis, deixando o
leitor impressionado com um desfecho inesperado, mas que demonstra – de forma excepcional, é verdade
- a natureza cruel do ser humano. É uma obra excelente para os que gostam dos textos de Assis, mas
acham cansativa a linguagem rebuscada usada em alguns deles.
A resenha, por ser em geral um resumo crítico, exige que o resenhista seja alguém com
conhecimentos na área, uma vez que avalia a obra, julgando-a criticamente.
Segundo Santos (1998), é preciso observar algumas qualidades e preocupações que devem caracterizar
o resenhista e sua atividade. O desenvolvimento da capacidade de leitura atenta parece ser a primeira dentre
essas qualidades e preocupações. Ler várias vezes o texto, com atenção redobrada a cada nova leitura, é
seguramente o primeiro passo para a realização de uma boa resenha. No que concerne a essa questão, Santos
(1998, p. 157) pontua que “É comum criticar-se determinadas obras sem que antes tenham sido examinadas
na sua devida profundidade”.
Outra questão fundamental é tomar conhecimento de quem é o autor, como ele se insere em seu
campo de conhecimento, a que escolas de pensamento se filia (o que podemos inferir por seus escritos),
como ele se coloca no contexto acadêmico etc. Acrescenta, ainda, Santos (1998, p. 157): “O maior ou menor
valor de uma obra está intimamente ligado às credenciais do autor”.
É preciso, ainda, que o resenhista tenha desenvolvido a habilidade de resumir e esteja apto a
depreender os pontos relevantes do conteúdo do texto a ser resenhado, a fim de evitar perder-se em detalhes.
Vale lembrar que o ato de resumir implica considerar o conceito de relevância.
Como podemos observar, cumpre ao resenhista ler tanto quanto possível sobre o autor e sobre o tema
do texto-fonte. Quanto maior for seu conhecimento nesse sentido, mais significativos tendem a ser os re -
cursos de que dispõe para produzir uma resenha de modo proficiente, com conhecimento de causa e
apropriação crítica.
Vários são os contextos interacionais, na universidade, para os quais o gênero resenha se presta. Revistas
acadêmicas, por exemplo, costumam veicular resenhas sobre obras lançadas em diferentes campos de estudo.
Muitos estudiosos e pesquisadores resenham livros de publicação internacional sobre temas de interesse
universitário a fim de cientificar os leitores sobre novas vertentes teóricas, novos olhares, novas concepções,
novos textos literários. Resenhas, por sua natureza crítica, contribuem para a orientação da leitura dos
interessados nas questões focalizadas e ajudam a socializar o conhecimento, pois obras desse gênero, em
geral, não são de fácil acesso.
Uma importante finalidade da resenha, na universidade, é a atividade de pesquisa, para a qual esse
gênero ganha especial relevância por facilitar a seleção de obras a serem utilizadas pelo pesquisador. Tendo
resenhado obras relacionadas a seu foco de pesquisa, o estudante ou o pesquisador verá facilitado o processo
de redação de seu relatório de pesquisa, desde a construção da revisão bibliográfica até a análise de dados.
Você estudará o processo de pesquisa em disciplinas das próximas fases.
Consideremos que, de imediato, você não está apto(a) para publicar resenhas em periódicos
universitários e também não se encontra em fase de realização de pesquisa. Importa, porém, que domine os
mecanismos de produção do gênero resenha para que, em um futuro próximo, possa realizar as atividades
anteriormente mencionadas. De todo modo, vale registrar, aqui, outra finalidade da resenha na universidade,
possivelmente o contexto mais próximo de seu dia a dia na graduação: resenhas feitas como exercício crítico
de leituras realizadas por você.
Esse contexto específico em que se insere a resenha é bastante comum ao longo da graduação.
Professores costumam solicitar aos alunos que resenhem textos indicados, objetivando que esses mesmos
alunos tomem conhecimento do conteúdo de tais textos e, ao mesmo tempo, façam um exercício de leitura
crítica. Esse tipo de atividade exige do aluno não apenas a leitura atenta do texto-fonte da resenha, mas tam -
béma busca de informações adicionais sobre o autor, o tema, o enfoque argumentativo técnico-científico ou
literário. Essa é a finalidade da resenha que efetivamente nos interessa discutir nesta seção porque resenhar,
seguramente, é exercício bastante frequente na graduação.
4. Veiculação da resenha
A resenha é, em geral, veiculada por jornais e revistas. A resenha acadêmica aparece em sites, revistas ou
jornais especializados,
5. Extensão da resenha
A extensão da resenha depende do espaço que o veículo reserva para esse tipo de texto. Observe-se que,
em geral, não se trata de um texto longo, "um resumão" como normalmente feito nos cursos superiores Para
melhor compreender este item, basta ler resenhas veiculadas por boas revistas.
O resumo que consta numa resenha apresenta os pontos essenciais do texto e seu plano geral. Pode-se
resumir agrupando num ou vários blocos os fatos ou ideias do objeto resenhado.
Veja exemplo do resumo feito de "Língua e liberdade: uma nova concepção da língua materna e seu
ensino" (Celso Luft), na resenha intitulada "Um gramático contra a gramática", escrita por Gilberto Scarton.
"Nos 6 pequenos capítulos que integram a obra, o gramático bate, intencionalmente, sempre na mesma
tecla - uma variação sobre o mesmo tema: a maneira tradicional e errada de ensinar a língua materna, as
noções falsas de língua e gramática, a obsessão gramaticalista, a inutilidade do ensino da teoria gramatical,
a visão distorcida de que se ensinar a língua é se ensinar a escrever certo, o esquecimento a que se relega a
prática linguística, a postura prescritiva, purista e alienada - tão comum nas "aulas de português".
O velho pesquisador apaixonado pelos problemas de língua, teórico de espírito lúcido e de larga
formação linguística e professor de longa experiência leva o leitor a discernir com rigor gramática e
comunicação: gramática natural e gramática artificial; gramática tradicional e linguística; o relativismo e o
absolutismo gramatical; o saber dos falantes e o saber dos gramáticos, dos linguistas, dos professores; o
ensino útil, do ensino inútil; o essencial, do irrelevante".
SANTAELLA, Lucia. Leitura de imagens. 1ª ed., 2ª imp. São Paulo: Melhoramentos, 2012. 184 p.
André Ming
Em 2012, Lucia Santaella publicou uma obra de interesse para todos aqueles que se aventuram pela
teoria e prática da leitura de signos não-verbais, dedicada ao êxtase da semiose, por meio da proposta de
ensino da leitura de imagens. Integrante da Coleção Como Eu Ensino, da Melhoramentos, organizada por
Maria José Nóbrega e Ricardo Prado, o volume tem vocação inter e transdisciplinar: trata-se da
pedagogização da leitura de imagens, do despertar do sujeito para o fenômeno da leitura em sua acepção
mais ampla, que vai muito além da decodificação das letras do alfabeto e da linguagem verbal, como
insiste Santaella em várias passagens do texto. Ao final de cada capítulo, uma bibliografia altamente
atualizada sobre os assuntos ali tratados é recomendada ao leitor ávido por mais e, de forma muito
especial, sequências didáticas são sugeridas para que colegas professores conduzam atividades exitosas
junto ao seu alunado.
O contexto inspirador da escritura do livro é clara (e explicitamente): o mundo em que vivemos,
repleto de desenhos, rabiscos, pichações, placas, sinalizações, fotografias, esculturas, pinturas, códigos e
símbolos de toda sorte. A autora clama, alinhando-se, assim, a uma perspectiva corrente em diversas
abordagens semióticas contemporâneas, por uma expansão do conceito de leitura, pelo reconhecimento
dos diversos tipos de leitores e por uma alfabetização visual, i.e., pelo aprendizado da leitura do imagético,
de seus componentes, de sua sintaxe, do cânone de significados atribuídos a certas imagens – e, por que
não, de sua ressignificação. Trata-se, assim, de perscrutar o que há de próprio na nervura representativo-
significativa da imagem e de (re)conhecer as múltiplas camadas das representações visuais, sejam elas
sociais, estéticas, tecnológicas, antropológicas, subjetivas.
Já de início, Santaella deixa claro que a palavra “imagem” é polissêmica e ambígua. A autora alude
primeiramente às imagens formadas por e em nossas mentes, sem vínculo necessário com existências
físicas ou imagens previamente percebidas, e desobriga-se de abordar essa definição e suas implicações no
livro, uma vez que o estudo desse tipo de imagem envolve questões de cunho psicanalítico e cognitivo.
Em seguida, menciona (e também exclui) as imagens diretamente perceptíveis, advindas da realidade e
pertencentes ao âmbito das teorias da percepção visual. Finalmente, alcançam-se as imagens como
representações visuais, criadas intencionalmente por seres humanos em contextos sócio-histórico-
culturais, o verdadeiro foco fenomenológico de que trata o texto. Da tríade classificatória das imagens em
fixas, em movimento e animadas, Santaella elege a leitura daquelas bidimensionais fixas como tema
específico deste trabalho, considerando tanto a relação de semelhança que tais imagens por vezes
resguardam com o que representam, quanto as camadas extras de significação que lhes pode atribuir o
simbolismo.
No primeiro capítulo, dedicado às imagens na arte, a autora trilha o percurso histórico da produção
artística ocidental a partir do Renascimento e rumo às vanguardas estéticas do modernismo. Trata dos
elementos visuais primários (ponto, linha, contorno, direção, tom, cor...), discorre acerca das principais
técnicas no desenho (carvão, grafite, sépia...), da pintura (aquarela, óleo, guache, acrílico...) e da gravura
(metal, xilografia, serigrafia...) e propõe formas de instigar a leitura das complexas obras originadas por
meio do emprego dessas técnicas e dos saberes relacionados.
No capítulo segundo, sobre a fotografia, trata dos fatores técnicos relacionados à produção dessa arte,
seu caráter imagético indicador e/ou documental, o agente condutor do ato de fotografar e as decorrências
desse mesmo ato.
No terceiro capítulo, fala-nos do livro ilustrado e sua característica híbrida, sua composição verbo-
visual, da concorrência (de)construtiva de duas narrativas paralelas sustentadas por signos de natureza
distinta em pura simbiose e os termos que caracterizam a relação dos dois tipos de textos empregados.
No capítulo quarto, “Imagens na publicidade”, aborda as estratégias de engendramento de signos
visuais com vistas à sedução do consumidor dos produtos anunciados e, no quinto, transporta-nos à esfera
do design e da imagem no contexto da hipermídia.
No que diz respeito ao interesse pedagógico da obra, observa-se o cuidado nas atividades sugeridas ao
final de cada capítulo para desenvolvimento junto aos alunos, com a sugestão de exercícios que impliquem
a ação por parte dos educandos, bem como a interação entre eles. Isso configura uma concepção de ensino
que vai ao encontro de algumas das mais contemporaneamente aceitas tendências e visadas teóricas do
fenômeno do ensino-aprendizagem (construtivismo, sociointeracionismo etc.). Todas as atividades
propostas são introduzidas pela indicação das competências e habilidades a serem atingidas pelos
participantes, e são sugeridas, de forma geral, pesquisas em grupos e apresentações das descobertas ao
restante da classe, com posterior discussão dos dados.
Se no início da década de 80 Santaella denunciava, na sessão “indicações para leitura” de seu clássico
O que é Semiótica (Brasiliense), a escassez de obras então disponíveis acerca da teoria geral dos signos em
seus aspectos teórico e aplicado, hoje, a própria autora, com suas inúmeras publicações dedicadas à
disciplina, continua contribuindo generosamente pela expansão dos saberes registrados sobre Semiótica.
Nesta obra, de clara vocação interdisciplinar, Santaella sugere ao professor formas didaticamente felizes
de ensinar o aluno a dialogar com a floresta de signos que representa o mundo contemporâneo. Trata-se de
um texto belamente ilustrado para estudantes de Semiótica, de comunicações, de artes, de multimeios,
para pedagogos e interessados na temática da imagem em geral.
Fonte: MING, André. Resenha: Leitura de imagens. Semeiosis: semiótica e transdisciplinaridade em revista.
[suporte eletrônico] Disponível em: ou Available from: <http://www.semeiosis.com.br/u/76>. Acesso em dia/mês/ano.
FONTE: http://pucrs.br/gpt/resenha.php
A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) é o Foro Nacional de Normalização. É a
ABNT quem define as Normas para diversas áreas do conhecimento. Dentre elas estão as normativas que
estabelecem regras para se fazer e apresentar corretamente os Trabalhos Acadêmicos.
No caso das referências, nosso guia será a NBR 6023:2002, na qual consta a seguinte definição:
“referência: Conjunto padronizado de elementos descritivos, retirados de um documento, que permite sua
identificação individual”.
Também nesse documento, tem-se a seguinte orientação:
Regras gerais de apresentação
Os elementos essenciais e complementares da referência devem ser apresentados em sequência
padronizada.
R Para compor cada referência, deve-se obedecer à sequência dos elementos, conforme apresentados nos
modelos das seções 7 e 8. Os exemplos das referências estão centralizados apenas para fins de destaque.
A NBR traz diversos modelos a serem seguidos para a escrita de referências. No nosso caso, vamos
atentar para os seguintes:
Exemplo:
GERALDI, João Wanderley (Org.). O texto na sala de aula. 3. ed. São Paulo: Ática, 2011.
2. Parte de livro: inclui capítulo e outras partes de uma obra, com autor(es) e/ou título próprios.
2.1 Os elementos essenciais são: autor(es), título da parte, seguidos da expressão “In:”, e da
referência completa da monografia no todo. No final da referência, deve-se informar a paginação ou
outra forma de individualizar a parte referenciada.
Exemplo:
COSTE, Daniel. Leitura e competência comunicativa. In: GALVES, Charlote; ORLANDI, Eni
Puccinelli; OTONI, Paulo (Org.). O texto: leitura e escrita. Campinas, SP: Pontes, 1997. p. 24-46.
es),
artigo ou matéria, título da publicação, local de
Exemplo:
RIOLFI, C. R. & IGREJA, S. G. Ensinar a escrever no ensino médio: cadê a dissertação? In:
RIOLFI, C. R; IGREJA, S. G. Ensinar a escrever no ensino médio: cadê a dissertação?
Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 36, n.1, p. 311-324, jan./abr. 2010.
4. Quando se tratar de obras consultadas online, também são essenciais as informações sobre o endereço
eletrônico, apresentado entre os sinais < >, precedido da expressão Disponível em: e a data de acesso
ao documento, precedida da expressão Acesso em:, opcionalmente acrescida dos dados referentes a
hora, minutos e segundos. NOTA – Não se recomenda referenciar material eletrônico de curta duração
nas redes.
Exemplo: ALVES, Castro. Navio negreiro. [S.l.]: Virtual Books, 2000. Disponível em:
www.poesiabrasileira.org.br. Acesso em: 10 jan. 2002.
FONTES:
BALTAR, Marcos Antonio Rocha; CERUTTI-RIZZATTI, Mary Elizabeth; ZANDOMENEGO, Diva.
Leitura e Produção Textual Acadêmica I. Florianópolis: LLE/CCE/UFSC, 2011.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6028, 2003b.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023, 2002.