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objetivo 1 total de células musculares lisas não diminui de forma

notável, mas há redução no tamanho dessas células. Esse


CONCEITO E DURAÇÃO processo é afetado pela paridade, pelo tipo de parto (o
útero apresenta dimensões maiores em multíparas e após
O puerpério, ou período pós-parto, tem início após a
cesárea) e pela amamentação (o útero se mostra mais
dequitação e se estende até 6 semanas completas após o
reduzido em mulheres que amamentam). Apesar de consistir
parto.
em etapa rotineira na avaliação da puérpera,. não há
Essa definição é baseada nos efeitos acarretados pela evidências de que a avaliação clínica do volume uterino no
gestação em diversos órgãos maternos, que. ao final desse pós-parto imediato seja preditiva de complicações.
período, já retomaram ao estado pré-gravídico, entretanto,
Nos primeiros 3 dias de puerpério, as contrações uterinas
pelo fato de nem todos os sistemas matemos retomarem à
provocam cólicas abdominais. Essas cólicas, em geral, são
condição primitiva até o término da sexta semana. alguns
mais intensas em multíparas do que em primíparas,
estudos postergam o final do puerpério para até 12 meses
intensificando-se com a sucção do recém-nascido, como
após o parto.
resultado da liberação de ocitocina pela neuro-hipófise. Nas
As mamas são uma exceção, pois atingem o primeiras 12 horas após o parto, as contrações uterinas são
desenvolvimento e a diferenciação celular completos no coordenadas, regulares e de fone intensidade. Após a
puerpério e não retomam ao estado pré-gravídico. dequitação, persiste a porção basal da decídua.

CLASSIFICAÇÃO Essa decídua se divide em duas novas camadas: superficial,


que sofre descamação; e profunda, responsável pela
Admitindo como tempo de duração normal do puerpério o regeneração do novo endométrio, o qual recobre por
período de 6 a 8 semanas. este pode ser dividido nos completo a cavidade endometrial até o 16º dia depois do
seguintes períodos: parto. Esse processo de regeneração da ferida placentária.
associado às alterações involutivas que se processam
• Puerpério imediato: até o término da segunda hora após o
simultaneamente vincula-se à produção e à eliminação de
parto.
quantidade variável de exsudatos e transudatos,
• Puerpério mediato: do início da terceira hora até o final denominados lóquios, que consistem microscopicamente em
do décimo dia após o parto. eritrócitos., leucócitos, porções de decídua. células epiteliais
e bactérias. Nos primeiros dias, há quantidade de eritrócitos
• Puerpério tardio: do início do 11º dia até o retomo da suficiente para que os lóquios sejam de cor vermelha. Após
menstruação, ou 6 a 8 semanas nas lactantes. 3 a 4 dias, os lóquios vão se tornando serossanguíneos, mais
MODIFICAÇÕESANATÔMICAS E FISIOLÓGICAS acastanhados, em razão da hemoglobina semidegradada.
Depois do 100 dia após o parto, pela incorporação de
INVOLUÇÃO UTERINA leucócitos e pela diminuição do volume da loquiação, eles
assumem uma coloração amarelada e posteriormente.
Imediatamente após a dequitação, o útero inicia o processo esbranquiçada (lochia alba). O volume total da loquiação
de involução. A retração uterina é característica do pode variar de 200 a 500 mL e sua duração é de
miométrio. que permite ao órgão manter-se em tamanho aproximadamente 4 semanas, podendo-se estender, em
reduzido após sucessivas contrações. cerca de 15% dos casos, a até 6 a 8 semanas após o parto.
Pelo fato de o útero contraído comprimir os vasos Essa duração não é influenciada pela idade materna, pela
sanguíneos. o útero puerperal tem aparência isquêmica, se paridade, pelo peso do recém-nascido e pela amamentação.
comparado ao útero hiperemiado da gestante. A contração Também a administração rotineira de ocitocina além do pós-
uterina também é responsável pela constrição dos vasos parto imediato não diminui a perda sanguínea e tampouco
intramíometriais, reduzindo o fluxo sanguíneo e prevenindo acelera a involução do útero.
a hemorragia pós-parto. Além disso, vasos calibrosos
obliteram-se (trombose), constituindo um mecanismo INVOLUÇÃO DO SÍTIO PLACENTÁRIO
hemostático secundário para a prevenção da perda
sanguínea. Após a dequitação, há contração do local de implantação da
placenta, com redução de suas proporções equivalente à
O fundo uterino tipicamente atinge a cicatriz. umbilical 24 metade de seu diâmetro original. A concomitante contração
horas após o parto, alcançando a região entre a sínfise da camada muscular lisa das artérias deste local assegura a
púbica e a cicatriz umbilical depois de 1 semana. A adequada hemostasia no puerpério imediato. Por volta do
involução uterina costuma ser mais rápida nas mulheres final da segunda semana, o diâmetro passa a 3 a 4 cm e o
que amamentam e, habitualmente. no 12º dia após o parto, endométrio regenera-se a partir das glândulas e do estroma
o fundo uterino localiza-se rente à borda superior da sínfise da decídua basal acelerando o processo de esfoliação local.
púbica. Na segunda semana pós-parto, o útero não é mais
palpável no abdome; e atinge aproximadamente suas COLO UTERINO
dimensões pré-gravídicas em cerca de 6 a 8 semanas de Após a expulsão fetal e a dequitação, o colo uterino
puerpério. encontra-se amolecido com pequenas lacerações nas
O peso do útero decresce de aproximadamente 1.000 g logo margens do orifício externo, que continua dilatado. Essa
após o parto para 60 g depois de 6 a 8 semanas. O número dilatação regride lentamente, permanecendo entre 2 e 3 cm
nos primeiros dias após o parto, e menos de 1 cm com 1 ALTERAÇÕES SANGUÍNEAS E PLASMÁTICAS
semana de puerpério. À medida que a dilatação regride, o
colo uterino torna-se progressivamente mais espesso, e Durante a gestação, verifica-se aumento médio de 30% da
há reconstrução do canal cervical. O orifício externo massa eritrocitária em comparação com o período antenatal.
apresenta zona transversa de cicatrização (forma de fenda), Após o parto, perde-se em média 14% da série vermelha.
podendo distinguir, na maioria dos casos, a paciente com Portanto, no puerpério,. espera-se uma ascensão dos níveis
parto vaginal anterior daquela nulípara ou submetida a de hemoglobina e de hematócrito da ordem de 15% sobre os
cesárea. O exame colposcópico nos primeiros dias níveis pré-gravídicos, mas pode haver grande variação
posteriores ao parto pode revelar lacerações, equimoses e desses resultados. Em relação à série branca durante o
ulcerações. O reparo total do colo uterino e a repitelização trabalho de parto, tem início importante leucocitose, a qual
costumam ocorrer entre 6 e 12 semanas após o parto. se estende ao puerpério imediato. Essa taxa pode chegar a
25.000 leucócitos/mL ou mesmo apresentar valores
Tubas uterinas superiores, com aumento da concentração de granulócitos.
Observam-se também plaquetocitose, linfocitopenia relativa
O epitélio das tubas uterinas durante a gestação é e eosinopenia absoluta. Modificações rápidas e importantes
caracterizado pela predominância de células não ciliadas, são observadas ainda na coagulação e na fibrinólise após o
por causa do desequilíbrio entre os altos níveis de parto. Inicialmente, depois da dequitação, há queda do
progesterona e estrógeno. Após o parto, pela diminuição dos número de plaquetas, com elevação secundária nos
níveis de estrógeno e progesterona, há extrusão dos núcleos primeiros dias do pós-parto. juntamente ao aumento da
de células não ciliadas e diminuição de tamanho tanto de adesividade plaquetária. A concentração de fibrinogênio
células ciliadas quanto de não ciliadas. As tubas uterinas plasmático diminui durante o trabalho de parto, atingindo
removidas entre os dias 5 e 15 do período pós-parto seu menor nível no primeiro dia de puerpério, mas em
demonstram sinais de salpingite aguda em 38% dos casos, seguida volta a se elevar, igualando-se aos níveis pré-
porém, sem identificação de bactérias. A causa específica gestacionais entre o terceiro e o quinto dias após o parto.
dessa inflamação é desconhecida. Também não há relação Verifica-se também padrão semelhante com o fator Vlll e o
entre presença de processo inflamatório histológico nas plasminogênio.
tubas uterinas e endometrite puerperal ou outros sinais
clínicos de salpingite. SISTEMA ENDÓCRINO

VAGINA E VULVA Após a dequitação, observa-se que o desaparecimento da


fração beta da gonadotrofina coriônica humana (beta-hCG)
A vagina encontra-se alargada e lisa imediatamente após o segue uma curva biexponencial. Os valores de hCG
parto. A redução de suas dimensões é gradual e raramente tipicamente retomam ao normal em 2 a 4 semanas após o
elas se igualam ao período pré-gravídico. A rugosidade da parto, podendo levar um tempo maior. A hCG e os
vagina reaparece na terceira semana de puerpério, vinculada esteroides sexuais estão em baixos níveis nas 2 ou 3
à regressão do edema e da vascularização. O hímen que se semanas iniciais do puerpério. Para as mulheres não
rompeu sofre processo de cicatrização, dando origem a lactantes, o retomo da menstruação após parto de termo
nódulos de mucosa fibrosados, as chamadas carúnculas varia de 7 a 9 semanas, com média de 45 dias para nova
himenais ou mirtiformes. A distensão da fáscia e o trauma ovulação (variação de 25 a 72 dias). Setenta por cento das
(lacerações) decorrentes da passagem do feto pelo canal de pacientes irão apresentar menstruação até a 12ª semana
parto resultam em frouxidão da musculatura pélvica, que depois do parto e dessas 25% serão precedidas por ovulação.
pode não regredir ao estágio pré-gravídico. Mulheres lactantes têm atraso no retomo da ovulação, já que
TREMORES a prolactina inibe a liberação pulsátil do hormônio liberador
da gonadotrofina (GnRH) pelo hipotálamo.
Tremores pós-parto são observados em 25 a 50% das
pacientes após parto vagina1. Iniciam-se entre 1 e 30 Perda ponderal
minutos após a dequitação e têm duração de 2 a 60 minutos. Uma das alterações mais bem-vindas para a maioria das
Sua patogênese ainda não está esclarecida: vários mulheres no puerpério é a perda de peso acumulado durante
mecanismos foram propostos, incluindo hemorragia a gestação. Aproximadamente metade do ganho ponderal
materno-fetal, microembolia amniótica, reação termogênica adquirido durante a gravidez é perdida nas primeiras 6
materna após a separação da placenta e hipotermia materna semanas após o parto. Entretanto, apenas 28% das mulheres
pós-parto e relacionada com a anestesia. Recomenda-se retomarão ao patamar anterior de peso nesse período. A
apenas terapia de suporte, já que se trata de evento perda imediata de 4,5 a 6 kg é atribuída ao feto, placenta,
autolimitado. líquido amniótico e perda sanguínea. O restante dessa perda
PAREDE ABDOMINAL ponderai ocorrerá entre 6 semanas e 6 meses após o pano,
sendo maior nos primeiros 3 meses. Um estudo com 1.423
No período pós-parto, a musculatura da parede abdominal mulheres suecas constatou que houve aumento da proporção
encontra-se frouxa, mas readquire seu tônus normal, na de mulheres com sobrepeso em comparação com os níveis
maioria dos casos, várias semanas depois. Pode haver, no pré-gravídicos. Em outro estudo, a média de peso acumulada
entanto, persistência da diástase do músculo reto do em pelo menos 6 meses após o parto variou de 1,5 a 3,8 kg.
abdome. A pele também pode se manter frouxa, Esse ganho de peso pode ser atribuído a vários fatores:
especialmente se houver rotura extensa de fibras elásticas.
• Ganho excessivo de peso durante a gestação: mulheres SISTEMA URINÁRIO
com ganho ponderai além do recomendado estão duas vezes
mais propensas a acumular 9 kg ou mais após o parto. No puerpério imediato, a mucosa vesical encontra-se
edemaciada em consequência do trabalho de parto e do parto
• Raça negra: mulheres da raça negra tendem a acumular em si. O fundo uterino contraído comprime os ureteres junto
mais peso em comparação com as brancas, mesmo com à sua porção de entrada na pequena pelve. A bexiga
semelhantes índice de massa corporal (IMC) e ganho apresenta, além disso, maior capacidade, havendo
ponderai na gestação. frequentemente distensão excessiva e esvaziamento
incompleto, demonstrado pela presença de urina residual
• Obesidade: o peso acumulado no puerpério está após a micção. Podem contribuir para esse efeito o uso de
diretamente relacionado com o aumento do IMC durante a analgésicos, especialmente durante anestesia epidural e
gestação. bloqueios espinhais. Na maioria das puérperas, por meio de
• Interrupção do consumo de cigarros: mulheres que param exames ultrassonográficos, foi demonstrada dilatação do
de fumar durante a gravidez e que não voltam a fumar sistema pielocalicial até a sexta semana pós-parto. Todas
depois são mais propensas ao ganho de peso no pós-parto. essas condições, no puerpério, constituem fatores
predisponentes para a infecção do trato urinário. A retenção
Outros fatores que podem ter participação em maior urinária é uma complicação também observada no pós-parto
acúmulo de peso após o parto são idade materna imediato. Sua frequência corresponde a cerca de 0,5% dos
(adolescentes têm maior risco), paridade, etnia, estado civil, partos vaginais, com resolução da maior parte dos casos
intervalo entre gestações e tempo de retomo à atividade antes da primeira semana após o parto.
profissional. Apesar de muito difundida para esse fim, a
amamentação pouco contribui para a perda ponderal no Pode ser definida como a ausência de micção espontânea
puerpério. Dieta e exercícios podem ajudar as mulheres a depois de 6 horas do parto vaginal ou de 6 horas da remoção
perder peso posteriormente ao parto, não havendo restrições da sonda vesical de demora posterior à cesárea, e pode ser
mesmo para as lactantes. Um estudo com duração de 10 decorrente da lesão do nervo pudendo durante o parto. Os
semanas, que começou na quarta semana após o parto, fatores de risco incluem primiparidade., parto
selecionou aleatoriamente quarenta mulheres lactantes, todas instrumentado, primeiro e segundo períodos do parto
com sobrepeso, para um programa de restrição calórica e prolongados, cesárea e anestesia epidural. Por outro lado,
exercícios ou dieta usual e exercícios não mais que uma vez também pode ocorrer incontinência urinária no período pós-
por semana. O primeiro grupo apresentou redução ponderal parto. A incidência oscila de 3 a 26%, entre 3 e 6 meses
maior, sem diferença nos parâmetros de crescimento dos após o parto.
recém-nascidos. Existe certa dificuldade de se levantar a incidência exata,
Também a amamentação proporciona maior gasto calórico e dadas as diferentes metodologias dos estudos e até mesmo a
facilita a perda ponderal mas não de forma expressiva. definição empregada de incontinência urinária.

Alterações ósseas Citam-se corno fatores predisponentes a duração do segundo


período do parto, a circunferência cefálica do feto, o peso de
Vários estudos relatam alterações da densidade óssea nascimento e a episiotomia. Partos vaginais também
associadas à lactação e à amenorreia. Após o parto, há contribuem para o aumento do risco de incontinência
diminuição generalizada da densidade do osso, que na urinária, com incidência variável, podendo chegar a 70%.
maioria das mulheres volta aos níveis pré-gravídicos entre
12 e 18 meses do período pós-parto. A prática de exercícios MAMAS LACTAÇÃO
físicos não parece melhorar a perda óssea, tampouco a A amamentação exclusiva é recomendada para todos os
suplementação de cálcio, já que não se trata de deficiência recém-nascidos nos 6 primeiros meses de vida, devendo ser
de cálcio. Para quase todas as mulheres, a perda óssea é parcialmente continuada após esse período, com a inclusão
limitada e reversível. de outros alimentos até pelo menos 12 meses após o parto,
ALTERAÇÕES DERMATOLÓGICAS ou depois desse período, se possível. A Organização
Mundial da Saúde (OMS) recomenda que essa amamentação
Pode haver aparecimento de estrias, variando sua cor de parcial deva estender-se até pelo menos os 2 anos de idade.
vermelha a prateada. O cloasma habitualmente desaparece Apesar dessa recomendação, nos Estados Unidos da
no puerpério, apesar de o período exato em que isso ocorre América (EUA), a amamentação é iniciada por apenas 70%
ser desconhecido. Durante a gravidez, há aumento na das americanas e continuada até o sexto mês por um terço
porcentagem de cabelos na fase anágena ou de crescimento, delas." No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde,
em comparação com a fase telógena ou de repouso. Essa uma a cada duas mulheres amamenta até cerca de 10 meses
taxa se inverte no pós-parto. O eflúvio telógeno é a queda de após o parto." Organizações internacionais estão em
cabelos comumente observada entre 1 e 5 meses após o campanha para que o número de mulheres que iniciam a
parto. Por coincidir com a fase de amamentação, esse amamentação e a prolongam por pelo menos 6 meses atinja
fenômeno deu origem à infundada crença popular de que 75 e 50°, respectivamente.
amamentar leva à queda de cabelos. Esse processo
geralmente é autolimitado, com restauração dos padrões Colostro e leite
normais de crescimento dos cabelos entre 6 e 15 meses após
o parto.
Durante a primeira metade da gestação, há proliferação das Esse mesmo mecanismo de sucção que estimula a liberação
células epiteliais alveolares, formação de novos ductos e de prolactina provavelmente também inibe a dopamina
desenvolvimento da arquitetura lobular. Na segunda metade (fator inibidor da prolactina). No puerpério tardio, a
da gestação, diminui a proliferação e ocorre diferenciação concentração de prolactina iguala aos níveis pré-gravídicos
epitelial para a atividade secretória. O colostro, precursor do e, no caso de interrupção da lactação, isso ocorre em média
leite materno, consiste em uma secreção alcalina e após 2 a 3 semanas. A prolactina modifica a secreção de
amarelada que pode já estar presente nos últimos meses de colostro para leite propriamente dito no período de
gravidez ou, o mais tardar, surge nos primeiros 2 a 5 dias aproximadamente 72 horas. Esse fenômeno também é
após o parto. Em comparação com o leite materno maduro, conhecido como apojadura ou descida do leite e coincide
possui maior teor de minerais, proteínas, vitamina A e com o ingurgitamento mamário típico desse período. Para a
imunoglobulinas e menor concentração de carboidratos e ejeção láctea, também participa um segundo mecanismo
gordura. Além de imunoglobulinas, outros fatores de endócrino (neuro-hipófise), originado pela sucção do recém-
proteção que podem ser encontrados no colostro e no leite nascido, levando à secreção pulsátil de ocitocina, que
são: complemento, macrófagos, linfócitos, lactoferrina, estimula a contração da rede de células mioepiteliais nos
lactoperoxidase e lisozimas. alvéolos e nos pequenos ductos mamários, promovendo a
saída do leite. A produção e a ejeção do leite estão
O leite materno maduro contém 7% de carboidratos intimamente ligadas a fatores externos e emocionais que
(lactose), 3 a 5% de gorduras, 0,9% de proteínas e 0,2% de podem alterar a frequência e a amplitude dos pulsos de
minerais. As principais proteínas do leite humano são a secreção de hormônios neuroendócrinos. A quantidade de
caseína, a alfalactoalbumina, a lactoferrina, a leite também está relacionada à demanda, sendo maior em
imunoglobulina A, a lisozima e a albumina. A maior parte gestações gemelares. Em geral, quanto mais cedo se inicia-
dessas proteínas é única, não sendo encontrada em nenhuma se a amamentação, maior a produção de leite.
outra espécie. O leite materno também contém uma
variedade de enzimas que contribuem para a digestão do Contraindicações à amamentação
próprio leite, além de possuir todas as vitaminas, com
exceção da vitamina K, em concentrações nutricionais Existem poucas contraindicações à amamentação. Mulheres
adequadas. Por esse motivo, recomenda-se a suplementação portadoras do vírus da imunodeficiência humana (HIV) não
de vitamina K ao recém-nascido logo após o nascimento, devem amamentar. O uso de drogas ilícitas também
para a prevenção da doença hemorrágica. A composição do representa uma contraindicação para a lactação, pela
leite humano não é muito afetada por raça, idade, variações concentração dessas drogas no leite materno. A maioria das
normais de dieta, restrição calórica moderada após o parto, drogas administradas para a mãe é excretada no lei1e
perda de peso ou exercícios aeróbios. Essa composição, em materno, mas vários fatores podem influenciar sua excreção,
condições normais, também não apresenta grande variação como a concentração plasmática da droga, a concentração de
entre as mamas. proteínas, o pH do plasma e do leite, o grau de ionização, a
solubilidade dos lípides e o peso molecular. Drogas que não
Endocrinologia da lactação devem ser administra· das para a lactante incluem: agentes
antineoplásicos e antimetabólicos, alguns
A lactação depende de um equilíbrio delicado entre vários anticonvulsivantes, alcaloides do ergot e amiodarona. Outras
hormônios, e a integridade do eixo hipotálamo-hipófise é drogas, como o lítio, devem ter seus níveis monitorizados no
essencial para seu início e manutenção. Participam desse recém-nascido, caso haja necessidade de administrá-las à
processo, além da prolactina, a progesterona, o estrógeno, o mãe. As medicações devem ser revistas caso a caso para a
hormônio lactogênico placentário, o cortisol e a insulina. avaliação de potenciais contraindicações. Como regra, não
A progesterona inibe a biossíntese de lactose e se deve suspender a amamentação quando a lactante fizer
alfalactoalbumina, enquanto o estrógeno antagoniza o efeito uso de alguma medicação. É preciso observar a real
lactogênico da prolactina na glândula mamária, também pela necessidade do uso do medicamento e a menor dose que seja
inibição da secreção de alfa lactoalbumina. O hormônio segura para o recém-nascido e efetiva para a mãe., além de
lactogênico placentário exerce efeito contrário ao da aumentar o intervalo entre a administração da droga e as
prolactina, ligando-se a receptores de prolactina nos alvéolos mamadas e orientar a paciente acerca dos possíveis efei1os
mamários. A lactação não se inicia antes da queda colaterais esperados.
plasmática dos níveis de estrógeno, progesterona e hormônio A galactosemia, um erro inato do metabolismo, consiste em
lactogênico placentário depois do parto, quando o contraindicação absoluta para a amamentação. Recém-
consequente aumento da alfalactoalbumina estimula a nascidos portadores de galactosemia não são capazes de
secreção de lactose, elevando seu teor no leite materno. A metabolizar a galactose., componente da lactose do leite
manutenção da secreção láctea (galactopoese) depende de materno. O acúmulo de galactose leva a sérias
sucção regular do recém-nascido, com esvaziamento dos consequências, como alterações hepáticas, catarata e retardo
ductos e alvéolos mamários. Para esse mecanismo, mental. Para outros erros inatos do metabolismo. a lactação
contribuem o hormônio do crescimento (GH), o cortisol, a não está contraindicada, como no caso da fenilcetonúria,
tiroxina (T4) e a insulina. Os níveis de prolactina não porém, devem-se monitorizar os níveis de fenilalanina
aumentam após o parto, em relação à gravidez, mas sim a desses recém-nascidos.
cada sucção do recém-nascido.
Objetivo 3
Nos últimos vinte anos, tem-se reconhecido que, em
algumas mulheres, a gravidez, o nascimento de um bebê e o
período pós-parto podem ocasionar problemas de humor e,
em particular, a depressão (Zinga, Phillips & Born, 2005;
Saraiva, 2007; Saraiva & Coutinho, no prelo; Saraiva, Vieira
& Coutinho, 2007). Neste sentido, Schwengber e Piccinini
(2003) constataram que a depressão comumente associada
ao nascimento de um bebê refere-se a um conjunto de
sintomas, que incluem irritabilidade, choro freqüente,
sentimentos de desamparo e desesperança, falta de energia e
de motivação, desinteresse sexual, transtornos alimentares e
do sono e sensação de ser incapaz de lidar com novas
situações, além de queixas psicossomáticas.

Também denominada de depressão


puerperal, depressão maternal ou
depressão pós-natal, a depressão pós-parto
consiste numa perturbação emocional,
humoral e reativa, identificada em
mulheres após o seu parto, durante o
período de puerpério (Holmes, 2001).

De acordo com Camacho et al. (2006),


diversas questões ainda estão em aberto
no que se refere a um tema tão amplo
quanto a saúde mental das mulheres no
período de gestação e de puerpério. Nesta
fase, o reconhecimento da depressão
muitas vezes contraria a sabedoria popular,
que acredita ser o período da maternidade
uma época agradável e prazerosa para
todas elas. No entanto, é possível
encontrar, no espaço midiático,
reportagens jornalísticas ressaltando a
divulgação dessa em personalidades
femininas, revelando os problemas do
diagnóstico tardio, assim como a
dificuldade das mães admitirem que não
conseguem dar afeto aos seus bebês,
mesmo em situações ambientais e sociais
presumivelmente acolhedoras (Collucci,
2006). Por conseguinte, a depressão no
puerpério afeta a saúde da mulher, com
repercussões na interação social com o
bebê e toda a família, consistindo um
importante tópico de estudo para os
profissionais envolvidos com o cuidado
humano.

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