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Introdução aos Direitos Humanos

TEMA 01 – Fundamento absoluto dos direitos humanos


 É possível um fundamento absoluto dos direitos humanos?

- Essa é a reflexão de Bobbio em “A Era dos Direitos”, livro em que realiza uma crítica ao
Jusnaturalismo. Um fundamento absoluto, para ele, é aquele que não sofre contestação por
conta de sua perfeição.

- Uma corrente teórica que tentou formular um fundamento absoluto foi o Jusnaturalismo.
Para ela, os direitos humanos são direitos inerentes à condição humana. São, portanto:

a) Imutáveis: Se mantêm em qualquer época.

b) Absolutos: Não cedem a outros.

c) Universais: Estão em todos os lugares.

d) Inalienáveis: Não podemos dispor deles.

e) Oponíveis erga omnes: Oponíveis a todos.

 As três críticas de Bobbio ao conceito juspositivista de direitos humanos (“direitos


inerentes ao homem”):

a) Vagueza- É uma concepção muito abstrata, o que é ainda mais grave frente à
multiculturalidade das sociedades. É, além disso, uma concepção tautológica, na
medida em que parte da própria coisa.
b) Historicidade/Relatividade- Os dh não são imutáveis, mas historicamente relativos.
Dependem do contexto em que estão. Aqui entra aquela concepção de gerações1 de
direitos:
1ª geração: Revoluções Liberais – Europa – Ruptura da estratificação social e
alteração do status monárquico vigente – D. individuais – Ideia de sociedade e Estado
verticalidade – Liberdades negativas: não atuação do Estado – Vida, liberdade (de
contrato e de mercado) e propriedade – Direitos civis e políticos2, além de garantias no
processo penal.
2ª geração: Industrialização – Cooperativismo inglês – Filosofia de Esquerda –
Não basta que Estado se abstenha, tem que atuar para reduzir as desigualdades sociais
– Direitos Laborais/trabalhistas – Welfare State (Estado de bem estar social).

1
O termo geração, na verdade, é bastante criticado pois indica uma evolução ou substituição, o mais
adequado seria falar em dimensões. Há que se destacar, ainda, a crítica de Thomas Marshall.
2
Status de cidadania somente ao homem branco e proprietário.
c) Heterogêneos/ Antinômicos – Os direitos entram em conflito entre si3. Ex.: proteção
à privacidade X direito a informação. E ainda, considerados como um todo, são heterogêneos
(o que o direito de votar tem a ver com o direito à moradia?).

Qual o problema de enxergar os dh como inerentes à natureza humana? É necessário levar


em conta os aspectos sociais como determinantes das relações sociais, e não apenas os
biológicos. Assim, justificativas “conforme a natureza” não são mais suficientes na sociedade
atual. Perigo do Darwinismo Social.

Após a Declaração Universal dos Direitos do Homem, teríamos encontrado um mínimo ético,
um consenso universal. Então, para Bobbio, o problema não mais reside na fundamentação,
mas sim na implementação e eficácia desses direitos.

TEMA 02 – Teorias clássica e crítica dos direitos humanos

Teoria clássica/Tradicional dos DH Teoria Crítica


“direito a ter direitos”: autoreferente e sem Construídos – Pressões – Espaços de Luta –
aplicabilidade Racionalidades de resistência – Força
catalisadora – Natureza impura
Jusnaturalismo e Juspositivismo Influência Escola de Frankfurt
DH como ponto de chegada DH como ponto de partida
Análise no campo jurídico Olhar para política, economia, etc. Perceber a
pressão exercida pelos movimentos sociais.
Universais – neutralidade Produtos culturais – conceito impuro

Teoria Crítica:

 Por que há um abismo entre o direito na Carta e a realidade social?


 Entender os dh de outra perspectiva, que não só aquela pautada no Direito.
 Contextualizar os dh e visibilizar o entorno: não olhar somente o artigo que foi
violado, mas perguntar-se as razões pelas quais ele é violado, visualizando contextos
de opressão e relações de poder.

Herrera Flores:

 Problema de direitos humanos como algo dado -> perda de capacidade de lutar
por eles -> Devemos percebê-los, então, como processos de luta.
 Pressuposto: toda teoria é feita por alguém e para algo (inclusive a crítica!).
 Racionalidade instrumental dos direitos humanos: interiorizar certo dogma sem
se questionar, focando apenas em certo fim. Invisibiliza os motivos
determinantes.
 Historicizar/contextualizar o conceito. DH como produto cultural.
 O que são os dh? Processos de luta. Cada cultura diz quais são os bens (materiais
ou imateriais) necessários para si. Bens-Desigualdade-Disputa.

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Gisele: são de mesma hierarquia e estão sujeitos à ponderação ou há uma tendência de privilegiar os
d. individuais?
 Por que? Por serem bens e a sociedade ser desigual, haverá disputas pelos
mesmos e algumas pessoas ficam vulneráveis. Não é apenas para sobreviver, mas
para viver com dignidade.
 Para que? Pessoas terem acesso a bens e viverem com dignidade. Positivismo não
é rechaçado. Direito como instrumento de acesso a bens (atenção: é, porém, só
um deles).
 Processo de luta é constante e permanente.
 Polêmica do Universalismo X Relativismo. Violação a um direito humano seria
impedir alguém de resistir a uma opressão. Tentativa de composição:
universalismo de chegada. Caminho construído.

TEMA 03 - Evolução Histórica dos Direitos Humanos


Não confundir a história do direito com a história dos direitos humanos. Não é porque o
direito à propriedade surgiu nos primórdios que o direito à propriedade como direito humano
surgiu naquele momento.

Os direitos humanos (pelo menos como seriam percebidos hoje) têm data de nascimento:
Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão. Foi inspirada nas Revoluções
Liberais e Sociais.

DUDH (Declaração Universal dos Direitos do Homem) em 1948 é o ponto de partida do


Direito Internacional dos Direitos Humanos. Para esse campo, três documentos são
importantes: DUDH, o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional
dos Direitos Sociais, Econômicos e Culturais (os três em conjunto são chamados de Carta
Internacional dos DH).

Ainda assim, um estudo da História ajuda a entender os dh. Três perspectivas


Jusnaturalismo:

1. Cosmológico – Logos (lei universal eterna):


- Força da natureza;

- Sófocles: invoca direito não escrito, inerente à condição humana.

2. Teológico – Deus toda a sabedoria do universal

- Patrística / Escolástica

-Três tipos de lei: lei eterna, natural e dos homens.

3. Antropocêntrico (Jusracionalismo) – razão humana determina regras de convivência

- Liberal/ ocidental (1ª geração dos dh)

- Liberdades negativas : direito de pactuar livremente, propriedade. Mito do estado de


natureza/pacto social- individualismo. Status de cidadania limitado.
-Direitos sociais: ruptura. Reforma – Estado de Bem estar Social.

Obs.: destaque-se que utilizamos o termo direitos fundamentais quando nos referimos à
ordem constitucional (interna) e direitos humanos para nos referirmos à sua previsão na
ordem internacional.

TEMA 04- As Três Vertentes de Proteção Internacional dos direitos


humanos
As Três Vertentes do Direito Internacional – após o surgimento de inúmeros instrumentos
internacionais (Tratados, Protocolos, Convenções, etc) e mecanismos a fim de proteger os
direitos humanos, a doutrina passa a dividir o direito internacional dos direitos humanos em
três vertentes: Direito Humanitário, Direito dos Refugiados e Direito Internacional dos Direitos
Humanos. Institucionalidade: organizações internacionais + constituições democráticas >
regras, sanções e surgimento desta “área”

Atenção: O Direito Internacional é regido pelo Princípio da Complementariedade: a regra


geral é que a defesa dos direitos humanos se dê no âmbito interno e os países possuírem um
sistema de proteção nacional com normas, órgãos, sanções, etc. Assim, diante de uma violação
de direitos, a vítima deve buscar proteção/reparação no plano interno e, somente quando há
uma falha deste, buscar no plano internacional.

1. Direito Humanitário

Rege situações de anormalidade: conflitos armados internos ou externos. Contrapõe a frase


popular que diz “na guerra tudo é possível”, visto que estabelece limitações e regras para
essas situações. É paradoxal na medida em que busca minimizar o sofrimento humano
(considerando a guerra uma realidade).

1.1 Jus Ad Bellum (Direito à Guerra)


- Pato Briand Kellog (1928)
- Art. 2º, 4º e 51 da Carta da ONU

Na verdade, no século XX, os países renunciam de seu direito à guerra como instrumento de
política internacional, devendo procurar meios pacíficos para a resolução de suas
controvérsias. Por óbvio, há exceções como a legítima defesa (que inclusive comporta
limitações, como o princípio da proporcionalidade).

Muitas contradições do Direito Humanitário se dão porque este “nasce” no período de


guerra clássica (ex.: países guerreando por território), não se atentando para os modernos
conflitos como as chamadas Guerras Contra o Terror.

1.2 Jus In Bello (Direito na Guerra/ Direito Humanitário estrito senso)

Irá regular a guerra propriamente dita, estabelecendo, por exemplo, limites ao uso da força e
procurando proteger os civis. Se divide em três:
1.2.1 Direito de Genebra (3 Convenções em 1949 e Protocolos Adicionais em 1977) –
Proteção aos combatentes e vítimas

1.2.2. Direito de Haia (14 documentos) – Limitações dos meios de guerra.

1.2.3.Direito de Nova Iorque – Âmbito da ONU, diversas matérias: proteção


mulheres/crianças, proibição de armas biológicas, contrariedade às armas nucleares.

1.3. Jus Pos Bellum (Direito de Roma/Direito Pós Guerra)


- Estatuto de Roma (98/2006)- Criação do T.P.I.
- Crimes: genocídio, contra a humanidade e de guerra
- Princípio da Complementariedade.

O Jus Pos Bellum busca fortalecer o direito humanitário, ao punir as constantes violações de
direitos humanos (e consequentemente as regras dos Jus Ad Bellum e Jus In Bello) durante as
guerras. É relativamente recente, pois seu marco se dá no fim do século XX, com o Estatuto de
Roma, que cria o Tribunal Penal Internacional (TPI). Este é permanente e não ad hoc
(respondendo às críticas que regem o direito penal como irretroatividade das leis penais e
direito a um juiz natural).

O TPI buscará a responsabilização não do Estado, mas do próprio indivíduo violador, se o seu
país reconhece a jurisdição. Exceção: Conselho de Segurança da ONU pode denunciar
individuo de país não signatário ao promotor do TPI (EUA frequentemente coloca uma cláusula
em seus tratados econômicos de que o outro país não poderá entregar um cidadão americano
ao TPI, sobre o qual não reconhece a jurisdição). Por isso, uma crítica feita ao TPI é que aquele
acaba não atingindo as grandes potências (No site vocês podem conferir que a maioria dos
condenados são africanos).

2. Direito dos Refugiados

Criado como tentativa de resolver os problemas do pós 2ª Guerra Mundial, especialmente


os da Europa. Uma crítica feita é que para conseguir proteção de refugiado o indivíduo
deve se enquadrar nos parâmetros restritos estabelecidos na Convenção de Genebraa de
1951, não comportando, por ex, indivíduos que saem do seu país por questões econômicas
ou desastres ambientais. É, então, limitado e os países não tem interesse em modernizá-
lo.

- Princípio da não-devolução- Uma vez que o individuo seja enquadrado como


enquadrado como refugiado o país receptor não pode devolvê-lo ao de origem. O
tratamento também deve ser equitativo com o de seus nacionais (garantindo-se
direito ao trabalho, por ex.)

- Perseguição (raça, religião, nacionalidade, opinião política)


- Convenção de Genebra (1951)- Estatuto dos Refugiados
Tema 05- O Direito Internacional dos direitos humanos (3ª vertente
DIDH)
3. Direito Internacional dos Direitos Humanos

Há dois sistemas: o universal (também chamado de ONUsiano) e o regional (europeu,


africano e interamericano). Cada sistema estará no âmbito de uma organização: universal-
ONU; Europeu- Conselho da Europa; Africano- União Africana; Interamericano- OEA
(Organização dos Estados Americanos).

3.1 Sistema Universal (ONU)

Subdivide-se em convencional (que dependerá da aceitação dos Estados) e


extraconvencional (independe da assinatura de outros tratados, a proteção é feita por
mecanismos já previstos na Carta da ONU).

3.1.1. Convencional (para país membro das nações unidas + signatário de certo
tratado)
- Tratados: Direitos Civis e Políticos; Econômicos, sociais e culturais; Declaração
Universal dos Direitos Humanos, Convenção Contra a Tortura e Outros
Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes; etc.
-Comitês (cada tratado terá um comitê): responsável por verificar a harmonia
do tratado com a legislação nacional, verifica os progressos na matéria, faz
recomendações aos países, recebe denúncias (se o Estado aceitar a competência),
analisando a admissibilidade da mesma.
3.1.2 Extraconvencional (basta que o Estado seja membro da ONU)
- Conselho de Direitos Humanos (47 países)
- Relatório Periódico Universal (RPU)- principal função do Conselho de DH. É
um diagnóstico amplo da situação de DH, feito de 4 em 4 anos.
- Recebimento de denúncias por violações sistemáticas.

3.2 Sistemas Regionais

Diferente do sistema universal4, apresentam órgão de caráter jurisdicional: as chamadas


cortes de direitos humanos, que podem proferir sentenças vinculantes e dotadas de
obrigatoriedade. A função das cortes é responsabilizar os Estados pelas violações de direitos
humanos previstos em tratados dos quais são signatários.

O procedimento é previsto no próprio tratado. O sistema Europeu só possui a Corte e os


africano e interamericano possuem uma comissão e uma corte, por isso são chamados
bifásicos. Ademais, aquele permite que o individuo figure no polo ativo e nestes é a Comissão
quem leva o caso À Corte.

As sentenças são amplas, além de julgar o Estado como culpado e dar indenização à vítima,
podem determinar a mudança da legislação nacional, a adoção de medidas, construção de
memoriais, etc.

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A CIJ (Corte Internacional de Justiça não atua em violações de direitos humanos, mas em conflitos
interestatais.
Tema 06- Sistema Interamericano de proteção do direitos humanos
Sistema Interamericano (OEA)
O sistema intermericano de proteção dos direitos humanos se dá no âmbito de atuação da
OEA (Organização dos Estados americanos). É bifásico, pois possui uma comissão e uma corte.
O primeiro órgão surgiu em 59 com a Convenção de Bogotá e o segundo em 69 com o Pacto de
San José da Costa Rica.

A estrutura regional não se comunica com a universal: a comissão irá velar pelo respeito e
defesa dos direitos previsto na Carta Interamericana de DH e não na Carta da ONU. As
sentenças emanadas pela Corte são vinculantes e inapeláveis, e seu cumprimento é
monitorado.

1. Comissão Interamericana de Direitos Humanos (7 pessoas- 4 anos prorrogáveis por


mais 4)
1.1 Atuação – Em dois subsistemas: a) da declaração americana (todos os estados da
OEA reconhecem; não é um tratado, mas resolução); b) da convenção americana
(apenas para estados-parte).
1.2 Funções- produzir relatórios, visitas in loco, cursos/seminários, medidas cautelares
(gravidade/urgência), função “quase judicial” (processa denún5cia de violação de dh,
condicionada ao prévio esgotamento dos recursos internos,além de fazer
Recomendações aos Estados). Essa última função só poderá ser exercida quando
presentes os seguintes requisitos de competência:
a) Ratione Personae- o individuo pertença a algum estado-parte.
b) Ratione Loci- violação ocorrida no território de algum estado-parte.
c) Ratione Materiae- violação de algum direito previsto no tratado/declaração que
estado-parte assinou.
d) Ratione Temporis- a violação tenha ocorrido após a ratificação pelo estado-parte.
É ela, ainda, quem irá levar o caso À Corte, caso o país reconheça sua jurisdição e não
sejam cumpridas as recomendações feitas na 1ª fase. Ainda assim, a Comissão pode
receber denúncias, processá-las e fazer recomendações à países que não reconhecem
a jurisdição da corte, já que a criação da Comissão decorre da carta da OEA.
2. Corte Interamericana de Direitos Humanos
2.1 Competências- a) consultiva e b) contenciosa
2.2 Responsabilização dos Estados- e não de individuos, mesmo que um particular seja
o violador.
2.3 Juízes (7 juízes, mandado de 6 anos + 6 anos prorrogáveis)
2.4 Medidas provisórias- Gravidade e urgência
2.5 Sentenças são debatidas/decididas coletivamente pelos juízos (voto em separado
apenas se não houver consenso, mas é raro). Se for condenatória é vinculante, porém
sua força é relativa: não há mecanismos para forçar o cumprimento.

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Exceções: demora injustificada no julgamento da lide e inexistência de recurso hábil.
TEXTOS- Perguntas-chave
1. BOBBIO, N. A era dos direitos- Quais as dificuldades para um fundamento absoluto dos
direitos humanos?
2. FLORES, Joaquin Herrera. A reinvenção dos direitos humanos- Qual a proposta de
Herrera Flores para um conceito de direitos humanos?
3. BATISTA, Vanessa Oliveira. Direitos Humanos: o embate entre a teoria tradicional e a
teoria crítica- Quais as principais diferenças entre a teoria tradicional e teoria crítica?
4. TOSI, Giuseppe. História conceitual dos direitos humanos- Como nascem os direitos
humanos em uma perspectiva histórica?
5. RICOBOM, Gisele. Intervenção humanitária: a guerra em nome dos direitos humanos-
Quais são as 3 vertentes de proteção internacional da pessoa humana e quais são suas
principais características?
6. ABAGE, Vera; PRONER, Carol. Convergência e complementaridade entre as três
vertentes da proteção internacional dos direitos humanos- Quais são as 3 vertentes de
proteção internacional da pessoa humana e quais são suas principais características?
7. PIOVESAN, Flavia. Direitos Humanos e o Direito Internacional Constitucional- Como a
proteção dos direitos humanos se dá no âmbito universal (ONU)? E no regional
(Sistema Interamericano)?
8. VENTURA, Deisy; CETRA, Raísa O. O Brasil e o sistema interamericano dos direitos
humanos: de Maria da Penha à Belo Monte- Quais as potencialidades de sistemas
internacionais de controle?

Documentário- Caso Gomes Lund- Olhar os acontecimentos sob outra perspectiva.


Questão dos crimes continuados e competência temporal da Corte.

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