Você está na página 1de 32

ANÁLISE GEO-AMBIENTAL

DA ÁREA DE BREJO NA
SERRA DAS VARAS,
ARCOVERDE-PE

Autor: Luiz Henrique de Barros Lyra

Orientação: Prof. Drª. Cristina Crispim

Universidade Federal da Paraíba / Universidade


Estadual da Paraíba
Programa Regional de Pós-Graduação em
Desenvolvimento e Meio Ambiente
OBJETIVOS
Geral :

 Analisar as condições geo-ambientais da área de brejo na Serra


das Varas.

Específicos :

 Elaborar um diagnóstico geo-ambiental a partir da análise das


condições abióticas (clima, solos, relevo, hidrografia), bióticas
e sócio-econômicas relacionado com a cobertura vegetal;

 Descrever a fitofisionomia predominante da área, enfatizando


as suas alterações e os principais impactos sócio-ambientais;

 Realizar uma compartimentação da paisagem local


destacando a fisionomia vegetal predominante em cada
compartimento e o grau de degradação da mesma;

 Avaliar o nível de percepção ambiental da comunidade em


relação à degradação da vegetação da área;

 Elaborar uma proposta de zoneamento geo-ambiental a partir


das informações analisadas, que contemple a conservação da
cobertura vegetal nativa.
LEV. BIBLIOGRÁFICO LEV. CARTOGRÁFICO

DADOS BIO-FÍSICOS CARTAS TOPOGRÁFICAS

DADOS SÓCIO-ECONÔMICOS FOTOS AÉREAS

IMAGENS DE SATÉLITE

TRABALHO DE
CAMPO
A
N
Á
L OBSERVAÇÃO DOS TIPOS ENTREVISTAS
I DE DEGRADAÇÃO (Uso de
S GPS, Máquina fotográfica,
E mapas, bússola, altímetro) PERCEPÇÃO
AMBIENTAL
G
E
O
S
S ANÁLISE FÍSICO-
I BIÓTICA Produtos
S E ANTRÓPICA, cartográficos
T SOBRETUDO (mapeamento
Ê FITOFISIONÔMICA das condições
M geo-ambientais)
I
C DIAGNÓSTICO INTEGRADO
A DO MEIO AMBIENTE

COMPARTIMENTAÇÃO E
ZONEAMENTO GEO-AMBIENTAL

PROPOSTAS DE
CONSERVAÇÃO E GESTÃO
AMBIENTAL INTEGRADA
Figura 2 - GEOLOGIA DA ÁREA DE BREJO NA SERRA DAS VARAS,
ARCOVERDE-PE

Ny2k
8º 25’ 03”

8º 28’ 52”

37º 02’ 49” 36º 57’ 17”

Escala: original - 1:500.000 / ampliada - 1:250.000

LEGENDA:

Suítes Magmáticas
Curso D’água

Ny2k
Granitóides c/ biotita-anfibólio/
quartzo c/ piroxênio (enclaves dioríticos) Estrada

Nyi
Metagranitóides indiscriminados
Estrada de Ferro
Complexo Belém do São Francisco Magmáticas

Falha ou zona de
gnaisses graníticas, migmatitos, pegmatitos
Mbf Cisalhamento
e esporadicamente de quartzitos

Mo Mineral - Molibidênio Zona de Cisalhamento


Indiscriminada

Área de estudo
Zona de Cisalhamento
Transcorrente Dextral

Fonte: CPRM - Serviço Geológico do Brasil, 2001


Figura - Serra da Cabo do Campo, Buíque-PE -
Ombrotérmico

180 90 P (mm)
160 80 T (º C)
140 70
120 60
P (mm)

T (º C)
100 50
80 40
60 30
40 20
20 10
0 0
Nov
Fev

Abr

Ago
Jan

Jun
Mai

Jul

Out
Set

Dez
Març

Meses

Figura - Serra do Cabo do Campo, Buíque- PE -


Climograma
180 30
160 P (mm)
25
140 T (º C)
120 20
P (mm)

T (º C)

100
15
80
60 10
40
5
20
0 0
Nov
Fev

Abr

Ago
Jan

Jun
Mai

Jul

Out
Set

Dez
Març

Meses
Remanescente arbóreo Cedrela sp. Cedro

Espécie arbórea de mata serrana Strypinodendron guianensa,


“Tambor”.
Fisionomia da mata úmida secundária na Serra Maria Martina

Aspecto de mata seca secundária nas margens do açude do Retiro


População total e Rural de Arcoverde, e da área de brejo
na Serra das Varas estimada pela taxa geométrica de crescimento anual.
70,000

61,600 62,974
60,000
55,776
50,000 total
47,208 Arcoverde
pop. absoluta

40,000 40,162
Rural
30,000
Arcoverde
24,087 Brejos
20,000
Serra das
Varas
10,000
6,079 6,858 6,613 6,311 6,297 6,294
0 892 936 902 901 900 899
1960 1970 1980 1991 2000 2002

anos

 A dinâmica da paisagem brejeira exprime-se sob a função


comercial e cultural da produção hortifrutigranjeira. Esta
abastece a maioria das cidades de seu entorno com seus
produtos nas “feiras livres”.

 A ocupação sócio-econômica, sobretudo agrícola, é sob


sistema de policultura associado à atividade criatória semi-
extensiva
 Principais culturas: milho, feijão, mandioca, batata-doce,
macaxeira, mamona e as hortaliças, associadas à pecuária
bovina e caprina. Sistema de subsistência, comercializando-se
o excedente. A fruticultura, ainda sobressai-se por maior
comercialização: banana, manga, caju, jaca, mamão e
esporadicamente em o abacaxi.

 A condição/distribuição dos estabelecimentos por área


ocupada (ha):
- A maior parte possui entre 4 a 10ha, principalmente nos
sítios distribuídos sobre as chãs na cimeira da serra, como o
caso do Mocó, Lagoa da Porta, Periperi, Brejinho e Pintada.
Predominantemente, pertence a um único proprietário e
foram desmembradas de sítios da mesma família.

 As propriedades com mais de 20 ha considerados


minifúndios. Restringem-se aos sítios hortifrutigranjeiros e
estabelecimentos voltados para o criatório semi-extensivo
bovino e caprino situados sobre as chãs remodeladas na
superfície aplainada.
 Esporadicamente são encontradas propriedades com mais de
100ha consideradas grandes latifúndios voltadas quase que
exclusivamente para a pecuária que se estende para as áreas de
serrote periféricas ocupadas por vegetação de caaatinga.

 Recente redistribuição das terras por parcelamentos em


assentamentos agrícolas. Ex. Pedra Vermelha; Açudinho.

 Os processos de trabalho agrícola caracterizam-seformas


de agricultura itinerante ao modo extensivo de exploração
com técnicas rudimentares e ineficientes de plantio e produção
típica de lavoura cabocla (coivaras).
Cultivo de hortaliças

 A comunidade apresenta, de forma geral, uma certa


percepção ambiental quanto à devastação da cobertura
vegetal, demonstrando afetividade para com as matas,
inclusive mantendo alguns de seus exemplares nativos em
suas propriedades.
 “É muito bonito e alto. Já está aí há muitos anos, desde que
chegamos aqui. Nunca cortei o tronco, a não ser algumas galhas
e partes da raiz que já está entrando por debaixo do terreno e
ameaçando rachar a casa. Aquele mato lá atraz, muita gente fala
pra eu destoucar, cortar a vegetação pra limpar a terra e tentar
plantar, mas não acho que precisa não, já tenho área pra
plantar, deixa a mata no seu lugar”.

 “Ah meu Deus, só ele mesmo. Faz quase 90 anos que moro
aqui e nada mudou. O povo grande só quer ganhar dinheiro e
o pequeno fica cada vez mais pobre”. “tem jeito não, é tanta
coisa que ficaria aqui o ano inteiro falando”. “por exemplo,
crédito e assistência agrícola, pois nem mesmo sementes de
boa qualidade agente têm mais aqui. Tem que comprar tudo na
cidade, onde tudo é mais caro”
Tabela 1 – Distribuição das tipologias de recobrimento
vegetal por área no período 1965-2002
TIPOLOGIA* ANOS

1965 (área m2) 2002 (área m2)

Mata úmida secundária 408.863 821.173

Mata seca secundária 8.706.081 5.681.144

Caatinga arbórea e arbórea- 5.274.935 4.984.299


arbustiva c/ capoeiras e
capoeirão
**Culturas ou pastagens 16.410.121 19.313.384

Área total 30.800.000 30.800.000

*Todas formações vegetais estão desconfiguradas por atividade agropecuária


ou extrativista. ** Englobam áreas habitadas ou descampadas.
Fonte: Digitalização das cartas topográficas, SUDENE; Imagens LANDSAT, INPE.

Clareiras abertas para introdução de culturas ou pastagens


Tabela 2 - Distribuição das áreas de recobrimento vegetal e de
culturas ou pastagens por unidades morfológicas
1965 (Área m2) 2002 (Área m2) UNIDADES
ANOS (Área real
m2)
CULTURAS VEGETAÇÃO CULTURAS VEGETAÇÃO
OU OU
PASTAGENS PASTAGENS

UNIDADES
Cimeira/ porção 6.439.101 5.014.934 8.141.547 3.312.493 11.454.040
central

Sotavento/ porção 4.942.414 7.616.721 6.645.556 5.913.579 12.559.135


norte-ocidental

Barlavento/ 5.028.606 1.758.219 4.526.281 2.260.544 6.786.825


porção sudoeste

* Englobam áreas habitadas ou descampadas


Fonte: Digitalização das cartas topográficas, SUDENE; Imagens LANDSAT, INPE.
Fisionomia de fragmento de mata úmida secundária

Fisionomia de Fragmento de Mata seca secundária


Coivaras acelerando o desmonte erosivo na Mata do Retiro

Desmatamentos em fragmento de mata úmida secundária


Modelado de baixios cultivados nas serras úmidas
(Pedimentos Rochosos Dissecados de Cimeira a Barlavento)

Área aplanada e rebaixada ocupada por culturas


temporárias e pecuária semi-extensiva.
(Pedimentos Rochosos Aplanados Ocidentais e a Sotavento)
Aspecto de forte degradação do recobrimento vegetal
e dos solos (Pedimentos Rochosos Dissecados de Cimeira)

Policultura nas margens do Açude Pintado em superfícies


Mamelonizadas (Pedimentos Detríticos Dissecados de Cimeira )
Fisionomia dos remanescentes arbóreos de mata úmida
nas chãs horizontais (Pedimentos Detríticos Aplanados
de Cimeira)

Formação de Dique com afloramento pegmatito


(Formas Residuais de Cimeira)
RESULTADOS E CONCLUSÕES

 A diversidade ecogeográfica e a riqueza florística, com espécies vegetais


de estimado valor ecológico-econômico e sócio-cultural (madeireiro,
medicinal, ornamental, etc.)

 O agravamento da degradação sócio-ambiental pela crescente


retirada da cobertura vegetal em função da maior demanda de uso e
ocupação desordenada do solo por atividades agrícolas extensivas.

 Carência de uma política agrícola pública e privada mais eqüitativa


quanto à acessibilidade técnico-financeira e ao acompanhamento mais
efetivo do manejo dos recursos ambientais de forma a que gere uma
maior rentabilidade sócio-econômica e relações ecológicas menos
desequilibradas.

 Desestruturação fundiária demarcada pela coexistência de grandes


latifúndios nas áreas mais apropriadas para o incremento agrícola e
assentamentos de pequenos agricultores promovidos pelo Estado ou por
desmembramento de herdeiros em locais inadequados e muito próximos e
até no interior de reservas florestais.

 Percepção positiva dos moradores à medida em que associam os


problemas ambientais com a retirada da cobertura vegetal, reconhecendo
a sua importância para a manutenção do meio natural e as formas de
sustentabilidade sócio-econômica, além de indicar uma predisposição
favorável para a implantação de uma proposta de zoneamento e execução
de um plano de gestão ambiental ecologicamente sustentado

 O zoneamento de unidades da paisagem geo-ambientalmente


caracterizadas em quatro zonas distintas, proporcionou levantar suas
potencialidades e limitações físico-espaciais e sócio-econômicas:
 Medidas de proposições gerais para toda a área de estudo:

• Reordenamento das atividades agro-econômicas e disseminação de


técnicas de plantio e criatório mais saudáveis para o ambiente e que
garantam uma melhor rentabilidade aos agricultores;

• Incentivo para a demarcação de reservas vegetais regulamentadas


pelo Código Florestal e as demais Leis vigentes no país voltadas para a
proteção da flora e da fauna, seja em áreas públicas ou privadas, como
estações Ecológicas ou Reservas Particulares do Patrimônio Natural
(RPPN);

• Promover a reestruturação fundiária de forma co-participativa a


partir da desapropriação de terras ociosas destinadas a agricultura
familiar, sobretudo para a prática da hortifruticultura;

• Criação de centros de reorientação técnica e ambiental que


disponibilizem informações sobre as potencialidades e limitações
geo-ambientais da área de forma prática e objetiva para os
habitantes, estimulando atitudes e valores conservacionistas.

 Medidas de contenção para as zonas de uso controlado


para conservação e recuperação vegetal e as de uso moderado
com limitações restritivas:

• Reativação e introdução de atividades agrícolas compatíveis com o


suporte físico-biótico que sejam capazes de gerar um maior
redistribuição de renda e uma melhoria no padrão de vida das
comunidades humanas. Ex. a fruticultura; a horticultura que vem
perdendo espaço para a pecuária bovina e caprina; a floricultura;
• Reflorestamento de espécies vegetais arbóreas nativas ou
exóticas adaptadas ao meio natural com fins de manejo florestal
em longo prazo;

• Reequipar a infra-estrutura local a fim de despertar o interesse


de empreendimentos ecoturísticos.

 zonas de uso e acesso restrito para a proteção ou recuperação


vegetal, e as de uso livre com diretrizes conservacionistas:

• Demarcação e fiscalização permanente para impedir a


depredação dos recursos naturais, sobretudo em reservas
públicas ou privadas, permitindo apenas atividades
extrativistas rigorosamente monitoradas;

• Consecução de planos de conservação e manejo das áreas de


entorno ou dentro das reservas ou de grandes fragmentos
vegetais;

• Incremento de atividades econômicas alternativas e sustentadas,


como o extrativismo vegetal para uso doméstico, medicinal ou
ornamental, a apicultura, como lavouras e o criatório animal de
pequeno e médio porte semi-intensivo principalmente entre os
pequenos agricultores assentados nas áreas de interior ou borda de
mata que receberiam uma assistência redobrada ou seriam
relocados para impedir a devastação vegetal.
Natureza.
Podemos perdoar a destruição do
passado, causada por ignorância. Agora,
no entanto, temos a responsabilidade de
examinar eticamente o que herdamos e o
que passaremos às gerações futuras.

Dalai Lama

OBRIGADO!!!!!

Você também pode gostar