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Essa postura está alinhada com a manifestação feita pelo Ministro da Economia, depois de
um período em que andava sumido, gozando suas férias. Segundo ele, se for concedido
novo auxilio emergencial os gastos com saúde, educação e segurança pública terão que ser
congelados. Ou seja, coloca os defensores da proposta numa saia justa diante da
necessidade em preservar serviços públicos essenciais ao país. Esquece-se de que há R$
300 bilhões de benefícios tributários a setores favorecidos e também da existência de vários
programas que poderiam ser postergados, como, por exemplo, aqueles associados ao
Ministério da Defesa, sem dizer dos absurdos gastos com alimentação recém divulgados.
Todos os países adotaram ações protetivas para as populações atingidas pela pandemia. O
Brasil também o fez, com o Congresso vencendo a resistência da área econômica e atuando
com lucidez. Os EUA nesse momento relançam um pacote ainda maior do que o inicial, no
valor total de 1,3 trilhão de dólares e a destinação de US$2.000,00 para cada família sem
condições de enfrentar os impactos gerados no mercado de trabalho. Vários outros países
sustentam as ações para atenuar os efeitos em suas sociedades. A pandemia continua e não
há solução de mercado suficiente para absorver os grupos sociais desguarnecidos.
Por aqui, os credores da dívida pública são cidadãos nacionais. Felizmente no 2º governo
Lula o país conseguiu reverter a situação histórica de devedor internacional, passando a
uma posição credora, com reservas internacionais superiores a US$ 370 bilhões. Não há,
portanto, qualquer ameaça de “default”, com descumprimento de contratos. Ademais, uma
parcela significativa – ao redor de 30% – de nossa dívida pública corresponde a lançamento
contábil das operações compromissadasassociadas aos depósitos privados feitos no Banco
Central e também em função da contrapartida em moeda nacional do total de haveres
existentes em moeda estrangeira. Esse aspecto é normalmente omitido pelos analistas
porque não interessa admitir que, de fato, a dívida pública que impacta o orçamento é
menor que os percentuais divulgados ou porque não entendem a contabilidade pública. Na
realidade, a manifestação atemorizante sobre a dimensão da dívida é pura e simplesmente
uma construção feita por elementos bem postados do tal mercado, para avançar na
escalada dos ganhos financeiros. Tal discurso é irradiado em todos os canais comunicantes,
sancionando um senso comum com ares de verdade absoluta.
O mundo dos investidores da esfera financeira não faz concessões morais ou sociais. É
indiferente para eles se o país está com mais de 20 milhões de cidadãos sem ocupação
(desempregados e desalentados) e nem se muitos milhões de famílias voltaram para uma
condição de miséria. Tais aspectos são determinantes nas equações econômicas dos países
democráticos, mas por aqui não; interessa apenas alardear o risco de se ir além de um
anômalo teto de gastos, estabelecido logo após a interrupção também atípica de um
governo legitimamente eleito.
Assim, há que se recorrer à máxima de Kalecki, citado à epígrafe, para relembrar aos
incautos que o dinheiro destinado a socorrer famílias em dificuldade vira integralmente
gastos domésticos que realimentam os ganhos empresariais e fortalece a economia. Essa
dinâmica da economia real está além dos movimentos frenéticos eminentemente
especulativos de mercados bursáteis insaciáveis, que se mantém na crista da onda para
pautar os discursos opacos do dia a dia do país.