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na prática
Corporate Universities: a strategy for Corporate Education in practice
Resumo
As universidades corporativas apresentam-se como uma moderna e importante
estratégia das organizações, na busca de potencializar o desenvolvimento de
seus empregados e assim contribuir para a criação ou manutenção de vantagem
competitiva, por meio de aprendizado permanente. Este artigo apresenta e analisa
os resultados de uma pesquisa de campo realizada na Universidade Corporativa de
uma empresa pública brasileira. Busca-se identificar os motivos para a sua criação,
suas formas de atuação e as dificuldades e desafios enfrentados na implantação e
na implementação desse modelo. Além disso, procura-se estabelecer as relações e
implicações advindas dessa nova configuração de desenvolvimento profissional na
gestão de recursos humanos, até então responsável por este papel.
Abstract
Corporate universities present themselves as a modern and important strategy for
organizations seeking to leverage the development of their employees and thus
contribute to creating or maintaining competitive advantage through lifelong
learning. This article presents and analyzes the results of a field research conducted
in the Corporate University for a public company in Brazil. We tried to identify
the reasons for its creation, its forms of action and the difficulties and challenges
faced in deploying and implementing this model. It also seeks to establish the
relationships and implications arising from this new configuration professional 1 Mestre em Administração
pela FEAD; Pós-Graduada em
development in human resource management, hitherto responsible for this role.
Psicologia Organizacional
pela PUC-SP e em Análise
Keywords: Corporate University; Corporate Education; Strategy.Technology; People de Sistemas de Informações
Management. pela UNA; Psicóloga. cintia_
nerinaw@hotmail.com.
Nessa nova ordem, o modo como os negócios funcionam e a forma de trabalho das
pessoas estão sendo modificados e, também, estão sendo reformulas as expectativas,
necessidades e oportunidades educacionais e de aprendizado (SALERNO, 1993;
HÄMÄLÄINEN; WHINSTON; VISHIK, 1996; URDAN; WEGGEN, 2000). Com isso, um novo
paradigma de competitividade está se evidenciando e trazendo consigo diferentes
desafios relacionados com o negócio, com as relações de trabalho e com as pessoas.
A maior arma para a sobrevivência das empresas, portanto, passa a ser sua capacidade
de aprendizagem e, principalmente, de criar novos conhecimentos. No entanto, é preciso
que as organizações e seus empregados aprendam a aprender. Assim, as empresas
são levadas a realizar várias transformações estruturais e culturais para manterem
sua sustentabilidade em um mercado cada vez mais dinâmico. Entre essas mudanças
encontra-se o comprometimento direto com a educação e o desenvolvimento de seus
empregados (MEISTER, 1999).
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A educação na organização deixa de ser apenas reprodução para passar a ser criação.
Deixa de ser somente o reconhecimento das estruturas existentes, passando a tornar
o trabalhador mais participativo no processo de construção desse conhecimento. A
educação corporativa representa, paradoxalmente, uma mudança de visão, tanto
filosófica quanto pragmática, da função da aprendizagem no âmbito das organizações.
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Tudo isso demonstra a grande importância de as organizações reestruturarem
seu sistema de desenvolvimento de pessoas, buscando promover a renovação e o
crescimento constante do conhecimento (ALPERSTEDT, 2000). A constatação do capital
humano como fator de maior relevância no valor agregado aponta para um processo
de mudança no pensamento administrativo: do sucesso com base na eficiência e na
economia de escala para o sucesso cujo cerne está em trabalhadores com conhecimentos
culturalmente diversos (MEISTER, 1999). Trata-se de um novo paradigma assumido
pelas organizações, que leva à evolução do conceito de treinamento empresarial,
ocorrendo uma transposição da barreira do treinamento para a educação. No novo foco,
a ênfase está no atendimento das necessidades ampliadas do negócio em contribuir
para o alcance dos objetivos estratégicos, por meio da criação e da gestão dos processos
de aprendizagem da organização, promovendo a formação/requalificação profissional
de empregados, fornecedores, clientes e o atendimento de necessidades educacionais
de comunidades de interesse (GERBMAN, 2000; NAJJAR, 2001).
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humanos vem sendo solicitada a atuar de forma holística e com visão sistêmica,
com o reconhecimento de interfaces permanentes com outras áreas, o que demanda
a construção de uma base comum a todos os segmentos da organização e exige o
reconhecimento de particularidades que indicam concepções e ações diferenciadas
de sua parte. Trata-se de uma solicitação que tem sido tão intensa que a área está
adotando, inclusive, novas denominações que possam expressar um novo enfoque,
como Gestão de Pessoas.
Instigadas por necessidades cada vez mais sofisticadas, as empresas reveem seu formato
de educação, desenvolvimento e treinamento, ampliando seu papel de desenvolverem
e formarem seus profissionais, seja diretamente, por meio de conteúdos elaborados
internamente, seja junto a parceiros educacionais. A Universidade Corporativa é
uma expressão contemporânea desse movimento (BRANDÃO, 2006). Por meio das
universidades as empresas tentam superar o modelo estático e reativo de treinamento
e desenvolvimento, adotando amplo sistema educacional corporativo.
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modo sistemático, estratégico e contínuo (EBOLI, 2004). Sua missão consiste em
formar e desenvolver os talentos humanos na gestão de negócios, promovendo a
gestão do conhecimento organizacional, por meio da aprendizagem contínua e ativa.
Para que a UC alcance seus objetivos, tem-se evidenciado a utilização de tecnologia
de ponta acoplada a uma nova metodologia de trabalho que possibilite a todos na
organização não só utilizarem as informações disponíveis, mas também atuarem
como fornecedores de novas informações, alimentando todo o sistema.
Procedimentos metodológicos
A pesquisa foi do tipo qualitativo e descritivo, cuja estratégia foi o estudo de caso
único, na área de educação corporativa, em uma empresa pública. Tendo em vista os
objetivos do estudo, a metodologia qualitativa possibilita compreender e descrever o
fenômeno em sua complexidade, permitindo a análise da interação entre as variáveis
e os processos dinâmicos (RICHARDSON, 1999). A pesquisa foi realizada em uma
organização de grande porte, competitiva, que apresenta parcerias com instituições de
ensino e conta com uma unidade de Universidade Corporativa virtual e presencial. Foi
selecionada uma empresa que explicita pessoas em seus princípios ou valores e para
a qual o desenvolvimento de pessoas necessita ser um foco estratégico em função da
sua atuação em serviços.
Com base nos dados levantados, nos critérios estabelecidos, na definição pela
amostragem intencional de estudo de caso único, definiu-se pela realização da
pesquisa nesta empresa pública de prestação de serviços de informática. A escolha foi
intencional porque a amostragem foi do tipo não-probabilística (VERGARA, 2004). A
amostragem da pesquisa foi composta pelas principais lideranças da empresa, no total
de nove sujeitos envolvidos. Neste estudo, entende-se por liderança aquele profissional
que participa de maneira ativa no sistema de educação corporativa, considerando-se
desde a criação da UC, sua estruturação e implementação, nos seus diversos níveis de
atuação (estratégico, gerencial e técnico-funcional); os indivíduos considerados chaves
na questão da implantação, manutenção e operacionalização da UC.
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identificando os desafios e as dificuldades enfrentadas. Os pontos-chave investigados
foram: motivos para criação e implantação da UC; forma de estruturação da UC,
identificando os princípios e práticas utilizados; direcionamentos estratégicos da
UC; processo de implementação da UC, seus desafios e dificuldades; financiamento
da Universidade Corporativa e os resultados já alcançados pela UC. As variáveis
investigadas na coleta de dados foram estabelecidas com base nos objetivos do
levantamento de dados, por meio do desdobramento em tópicos de cada um deles.
Como ponto de partida, no que compete aos motivos para a criação e a implementação
da UC, como razão principal está a crença de que programas contínuos de educação
corporativa podem conduzir a melhores desempenhos de indivíduos e organizações. A
empresa percebe a UC como um importante elemento de transmissão de seus valores
éticos e culturais e da visão, o que pode contribuir significativamente para melhorar
sua competitividade.
Outro aspecto identificado como motivo que contribuiu para a criação da UC foi a
mudança na empresa que gerou um movimento de reestruturação estratégica dela
como um todo. Esse movimento acarretou a necessidade de modificação dos processos
de treinamento e desenvolvimento, de modo a trabalhar a formação e a capacitação
de forma integrada, com enfoque sistêmico e vinculada ao planejamento estratégico.
Há, também, maior aproximação do setor educativo com a alta direção da empresa,
o que favorece uma política de valorização das pessoas que compõem a organização
(FLEURY; FLEURY, 2001).
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a integração e o alinhamento estratégico das ações educacionais como um todo
se constituem num processo ainda em construção, posto que o treinamento e o
desenvolvimento das pessoas continuam ocorrendo de forma fragmentada, sendo
realizados tanto pela universidade quanto por outras unidades, e a própria UC
encontra-se em processo de estruturação.
Quanto às avaliações dos resultados obtidos pela universidade que contribuem para
a realização da estratégia organizacional, não existe, até o momento, um processo
sistematizado para a mensuração das intervenções da universidade. Ao que tudo
indica, a configuração da UC parece lidar com as mesmas dificuldades que o T&D
tradicional apresenta em relação à mensuração quantitativa de informações sobre os
resultados das ações de desenvolvimento, não avançando nesse sentido.
Considerações finais
Para conseguir um desempenho sustentado, as organizações precisam se abrir para as
forças do aprendizado contínuo. Isso significa que os gestores devem pensar em suas
empresas não apenas como um portfólio de negócios e, em suas pessoas, não como
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meros recursos para a produção. A organização deve ser olhada como uma instituição
voltada para o aprendizado, e a capacidade que as pessoas têm de aprimorar
constantemente seus conhecimentos, suas capacidades e seus talentos devem ser
reconhecidos como a fonte de vantagem competitiva.
Dessa forma, este trabalho procurou analisar a UC de uma grande empresa pública
brasileira, verificando os desafios, as possibilidades e as dificuldades enfrentadas na
implementação desse modelo de desenvolvimento de pessoas. A empresa pesquisada
criou sua Universidade Corporativa acreditando nas possibilidades desse modelo,
que deixa para trás o treinamento e o desenvolvimento, concebidos como um evento
isolado e com pouco foco nos objetivos estratégicos, e implementou um processo
de aprendizagem contínua e permanente relacionado às necessidades do negócio.
Basicamente, a UC pesquisada tem como papéis: o desenvolvimento profissional
interno em consonância com as estratégias organizacionais e o alinhamento com
o ambiente com o qual se relaciona, cadeia de valor e comunidade, via oferta de
desenvolvimento profissional.
Referências
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EBOLI, M. Educação corporativa no Brasil: mitos e verdades. São Paulo: Gente, 2004.
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