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CONTROLE DE
CONSTITUCIONALIDADE
Teoria e Prática
9ª edição
Revista, ampliada e atualizada
2017
Capítulo II
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE:
A GARANTIA DA SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Como já sublinhado, a supremacia da Constituição – enquanto princípio
jurídico que atribui à Constituição uma força subordinante e a eleva à condição
de legitimidade e validade de todas as normas jurídicas positivadas em um dado
Estado – é a base de sustentação do próprio Estado Democrático de Direito,
seja porque assegura o respeito à ordem jurídica, seja porque proporciona a
efetivação dos valores sociais.
Mas essa supremacia constitucional restaria comprometida se não
existisse um sistema que pudesse garanti-la e, em consequência, manter a
superioridade e força normativa da Constituição, afastando toda e qualquer
antinomia que venha agredir os preceitos constitucionais. É nesse contexto
que avulta a importância do controle de constitucionalidade como um meca-
nismo de garantia da supremacia das normas constitucionais delineado pelo
próprio texto constitucional.
Dito d’outro modo: em razão da supremacia constitucional, todas as normas
jurídicas devem compatibilizar-se, formal e materialmente, com a Constituição.
Caso contrário, a norma lesiva a preceito constitucional, através do controle
de constitucionalidade, é invalidada e afastada do sistema jurídico positivado,
como meio de assegurar a supremacia do texto magno.
24
O Controle Judicial de Constitucionalidade das Leis no Direito Comparado, p. 129.
34 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE – Dirley da Cunha Júnior
2.2. Pressupostos
Como sentencia a doutrina26, o controle da constitucionalidade das leis e
dos atos normativos reclama os seguintes pressupostos: a) existência de uma
Constituição formal; b) a compreensão da Constituição como norma jurídica
fundamental e a c) instituição de, pelo menos, um órgão com competência para
o exercício dessa atividade de controle.
25
Pedro Cruz Villalon, op. cit., p. 26.
26
Ver, por todos, Clèmerson Merlin Clève, A fiscalização abstrata da constitucionalidade no
Direito brasileiro, p. 28-34; Celso Ribeiro Bastos, Curso de Direito Constitucional, p. 402-405
e Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, T. II, p. 376-377.
27
É claro que, do ponto de vista sociológico, as Constituições costumeiras ou históricas são
naturalmente rígidas, devido a grande dificuldade de serem alteradas em face da realidade
da vida social. Assim, a Constituição inglesa (não escrita ou costumeira), do ponto de vista
jurídico, é flexível; contudo, do ponto de vista sociológico, ela é, sem sombra de dúvida, mais
rígida do que a Constituição brasileira (escrita).
36 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE – Dirley da Cunha Júnior
28
Clèmerson Merlin Clève, op. cit., p. 31.
29
Ibidem, mesma página.
30
Ibidem, mesma página.
31
J. H. Meirelles Teixeira, Curso de Direito Constitucional, p. 372.
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32
Op. cit., p. 34.
33
Isto em tese, porque, como lembra José de Sousa e Brito, os juízes constitucionais tam-
bém recebem a sua legitimação democrática do sufrágio popular, embora indiretamente,
através da intervenção dos diretamente eleitos no processo de nomeação dos juízes
(‘Jurisdição Constitucional e Princípio Democrático’. In: Legitimidade e Legitimação da
Justiça Constitucional. Colóquio no 10º Aniversário do Tribunal Constitucional, p. 42).
Lembramos que, no caso brasileiro, os juízes do Supremo Tribunal Federal são nomeados
pelo Presidente da República eleito, após a aprovação de seus nomes pelos Senadores,
também eleitos. Embora o sufrágio universal esteja na origem de toda decisão demo-
crática, ele, por si só, não assegura o caráter democrático da decisão, razão porque se
impõe descortinarmos outros elementos legitimadores da jurisdição constitucional,
tarefa que se propõe o texto.
38 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE – Dirley da Cunha Júnior
Executivo também eleito. Para estes autores, a atuação dos juízes no controle de
constitucionalidade das leis (no âmbito da chamada justiça constitucional) pode
causar o que Dieter Grimm34 designou de “risco democrático” (demokratisches
Risiko), agravado pelo fato de que, segundo aponta Gilmar Ferreira Mendes, e
com apoio em Grimm,
34
Verfassungsgerichtsbarkeit – Funktion und Funktionsgrenzen in demokratischem Staat, in Jus-
-Didaktik, Heft 4, Munique, 1977, p. 83, apud Gilmar Ferreira Mendes, Direitos Fundamentais
e Controle de Constitucionalidade: estudos de Direito Constitucional, p. 503.
35
Direitos Fundamentais e Controle de Constitucionalidade: estudos de Direito Constitucional,
p. 503.
36
Ibidem, p. 504.
37
La Constitución como norma y el Tribunal Constitucional, op. cit., p. 175.
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38
Lenio Luiz Streck, Jurisdição Constitucional..., op. cit., p. 100. O autor conclui suas reflexões
afirmando que o “caráter existencial do Estado Democrático de Direito passa a ser, nessa
espiral hermenêutica, a condição de possibilidade do agir legítimo de uma instância encarre-
gada até mesmo – no limite – para viabilizar políticas públicas decorrentes de inconstitucio-
nalidades por omissão e repetidamente, constituir-se tal instância – a justiça constitucional
– como remédio (por vezes amargo, mas necessário) contra maiorias” (p. 106).
39
Essa resistência tem por base a ideia da separação dos poderes e a inoportunidade de qualquer
interferência do Poder Judiciário na atividade legislativa das assembleias populares.
40
Vital Moreira. ‘Princípio da maioria e princípio da constitucionalidade’. In: Legitimidade e
legitimação da justiça constitucional, p. 178 e ss.
41
Reforma constitucional y control de constitucionalidad. Límites a la judiciabilidad de la en-
mienda. 1ª Ed, Buenos Aires: Ediar, 2007, p. 93: “La ‘garantia jurisdiccional de la constitución’
o ‘control o revisión de constitucionalidad’ es el componente del sistema cuyo adecuado fun-
cionamiento es el que mayor aptitud reviste para garantizar que la constitución se mantenga
como disposición suprema del sistema jurídico estatal, respaldando la estructura jerárquica
de éste”.
40 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE – Dirley da Cunha Júnior
42
Jean Rivero salienta que “a ideia de representação da vontade do cidadão pelo eleito, tem
progressivamente diminuído na realidade, mediante a tomada de consciência pelo eleitor
de que, definitivamente, os homens que são eleitos atuam para si mesmos e não para eles. O
cidadão, ante essa avalancha de leis, cada vez mais completas, cada vez mais técnicas, cada
vez mais conformadas com a vontade governamental, não reconhece sua própria vontade”. E
arremata o autor: “essa transformação da lei conduz à tomada de consciência da necessidade
de proteger os direitos fundamentais, inclusive perante a própria lei” (‘A modo de sintesis.
In: Vários Autores. Tribunales constitucionales europeus y derechos fundamentales, p. 667).
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‘Die Verfassungsentwicklung in den Vereinigten Staaten Von Amerika 1939-1946. In: Öes-
terreichische Zeitschrift für Öffentliches Recht, 1946, apud C. A. Lúcio Bittencourt, O Contôle
Jurisdicional da Constitucionalidade das Leis, p. 22.
44
ADI 2.010-MC, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 12/04/02.
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45
Curso de Direito Constitucional, op. cit., p. 375.
46
Alexander Hamilton, James Madison e John Jay, The Federalist Papers, 1981, p. 226, apud
Luís Roberto Barroso, Interpretação e Aplicação da Constituição, op. cit., p. 155-156. Ver
também Jorge Miranda, Contributo para uma Teoria da Inconstitucionalidade, p. 54.