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o.doIlnt~i. de catalopç.

to na PubliClçlo (CIP)
(Cimlitl Br•• iteltl ee Livro. SP, Br8SiI)

i'MIlOO(r2f11.
15H' S~·:lQ-OSJ7-8

(1)1).JI5

I"dlces p.Iltl 1:81.11090 ••• le~llco.

I Llnru!~~lnnW Jl5
2 TulO Lin(\llsu."~ Jl5
Ingedore G. Villaça Koch

DESVENDANDO
OS SEGREDOS
DO TEXTO

5' edição
Dedicatória

Este íivro I dedicado a lodos QJ mrus alunos f' ali.lIIas


quI'. (Joau:uremmru("Jminl,oflt'JIf'S!ul1g0$mwstl,
m(lgislfrjO. muito //tI' NI.J;1UIf(/m r. como t'u. li' .írtsa.
rmnfu.f,i,wr pelos segredos do texto. Mndo jnl'idl'rl
nnmear a lodos, 1'1t'.f ('xliiI) uqui rrpresrntndos IIlj pes-

,f()-(l dO.I' nrt'!lx ,,,"(IS. M(JrjfJna e Marc:f'lo. 11 '1lum. rom


mui/o amar. dedico wmbim Ulf' Irflbalho
Sumário

PrÓlnKO •••

f{a~:!~~II~:IU;lan~:n:::~~~~··;;~~~~·.··~;·lj~;;~~·,,;·~.
..~~;;~~.::::::...
:~(s )
CcIf,ftulo2 T~~M~.............................................. 2[(é/)

c ç;,~;::;~;~~f~:;0~~:2;":'dO":7":,,~'!L~~l
~t"
Parte 11: Levantando a ponta do véu .. 75 AFt-
"I'ft",o 6 A "f",",i~ç,o :....... 77 (6 )
opnuío 7 A prcgressao referencial... 83 ((~ J
(Ipl/U/O 8 A anáfora intlircla.............. 107(4 J
apüulo 9 A concordância associativa III (A.*, 1
'apitulo 10 A~~~~. 121 ( .•..I.)
optndo II Osarticuladorcs textuais c., 133 (1'5'")

~I 080: Llngüistica textual: Quo '·adi.~? 149

ReferéJrcias biM;ognificas 159


Prólogo

- E o texto tem segredos?


Bem. se você achar que \) texto é um artefato lingUCsticn formado pela
combinação de lctrus (ou sons) que formam palavras que rotulam COis..1Sou
estados de coisas do mundo real que formam sentenças que têm um sentido
literal 111.11.'
existem textos totalmente cxplícitll~ dcscontcxtunlizados c autô-
nomos que para produzir c compreender textos hasta dominar o código CIC...
CIC... é cI;ITO4UCa resposta .•,6 poderá ~r negativa.
MAS ... se você pensar n Ic"lo n1l1lO lugar de constitukão c de

t- ~:IJ~;;;~li~;::~~~~;l~;;:~;I~
~~~~{l~; ~n:I~~;t:(;':;:~~~:~~:d~~1I1
pormclodasqualssec()nstrncrnllltcraI1VamCnl~~rso..c

roil~~II.I~~~~c~~~I;:a;n~~~~~~lji~:I~~
~~~~:~L~~
,.ll'xlual que cada lmgualhcs oferece .... ENTÀO voe': cO.l1Irreenderá que o
uxt(l é um. consrruro históric~. extremamente cnmplp:o e
multifacctado. cujos segredos (quase la direndo-lI\{stt'nos) é preciso des-
VCrilJ~COIII rccnderlllelh()reSS{'lIIil<lsr~llul: ~c repete<leadan?vu
inter ocu ao - a IIllcraçao J>Clãlmt-uIl~~ IIlgU<lgelll que, corno dizia
Carlos Prunchi. é rll;I'id(/d(' ("(m.l-ti/mim. -

Este livro pretende ser um pequeno farol a orícntnr essa constante


cnça ao sentido que cnracrerizau espécie humana, um bem que, conforme
Dascul (1992), se encontra para sempre escondido, mas que teimamos
sempre elll encontrar. ..

Campinas, novembro de 2001


tngedore Grunfeld Vil/a(a Kocu
DlSI'(N!lANOOOSSEGREOOSOOTUTO

Parte I

AJUSTANDO A LUPA
COttCtpoçOf:S Df llNGu!.. SUJ[ITD. TEXTO E SENTIDO

CAPiTULO I

CONCEPÇÕES DE lÍNGUA. SUJEITO.


TEXTO E SENTIDO

Enquanto \'ocll~ tl,s


estas palavras. est~ toman<.\(l pMlc numa

:;;;~~~t~~amtl~I~::J~~;li'r;:~;tcnc:~~
latIas
me retirn
noctrebrodoukmiIJs~ui~.ill.iHr_Eunio
com isso à telepatia. o controle mental nu a, !lemais
ob~s,~< das ciência\ ocultas. Ali.:l •. 111' para os cremes mais
con\·icto,. este, in'l",menlo.',!lecomun;nçlo~em
comparação Com urna CJp.>Cld3<lc que \',.]0' ",,~_,ufmo." Est~
caJl~cidadet~Slc,·cn~OlnJl"nwdaUn.
1Iu"!I~m)

Como ponto ele partida para as reflexões que serão feitas nesta primei-
ra pane elo livro. é de suma importância retomar algumas das questões bási-
cas que. no momento, vêm permcandn os estudos sobre texto/discurso: a
concepção de sujeito, de língua. de texto c de (construção do) sentido.

Concepç:io de lingu3 e de sujeito

A concepção de sujeito ela linguagem varia de acordo com a con-

r ~;i~Ct1~~~r~:~,~~>;~;oa~~:;;s~~~;·: ~~I~~Z~~I~i~':'~~
dono de sua vontade e de suas ações. Trata-se de um sujeito visto como
um ego que constr6i uma representação mental e deseja que esta seja "cap-
latia" pelo interlocutor da maneira como foi mcrnalizada.
Na verdade. porém. este t'K" não se acha isolado em seu mundo. mas

~~~~:~~nccj.::/!~~C~:t~~'l~~~::~
; ~~iiWd~~:l:~~i~;c~~
decorre a noção de um sujeito social. mrerauvo. mas que detem n dommlo
de 5U3\ açôes.
A concepção de língua como esmnura, por seu turno, ccrrespondc a
de sujeito determinado. lUsujeitado pelo sistema. caracterizado por 11m3
espécie de "não conscfênõtã . O pnnclpln expliCativo de lodo c qualquer
fenômeno c de todo c qualquer comportamento individual repousa sobre a
consideração do sistema. quer lingüístico, quer social. S~() três. portanto.
as p(l~iZ-~S
dá~~ica_, cnm relação ao sujeito:
;í. domínio, sc~~oe",clusivitl:lde, d~c~dual ~1Ouso
da tw agelll.-:::-G....S CIto da cnuuciaçün c responsável pelo sentido. A

~~~~~l~I::I~~:;:~:l;::~(~~i~~S~~~~~:~:;i~.d~~~~i~ã~I,~~~Iji;~~~\~~~~:;:~~~~
sujeito de consciência. dono de sua \'nn(;ldecdesuaspalanas.lnterpr("tar
é. portanto. descobrir a illlenção do falante. J:í Lockc (16SlJ) dizia <[L1ea
comunicação \"erhal é uma forma (]e tclemcnuuíon, ou seja. ;1 tranxmix-
são exata de pcnsumenros tia mcnte do falantc par;I;\ dn ouvinte. Com-
preendcrulllcnunciad(Jc()nstLtui,assllll.\lmc\"ent()mcntãl~crcali_
za quando u ouvinte deriva do enunciado o pensamento que o falante
pretendia veicular.
UI11:1 característica importante desta concepção é que se acentua o
prf::ili!mínjn rI-[C"mc;ênçb indi\'idllal~j~ O correlato
polítÜ:1l desta concepção seria a ideologia liberal. segundo a qual os sujei-
tes é quc fazcm uhistória.
~ssuj:it;lment(ln - de acordo com esta eorice~ão, como bem
mO~lrdiSsenll (1993). o indivíduo não é dono de seu discurso e de sua
\"ontade:suaeon.~dência,~cpo.)(k
não saber u {IUC faz c o que diz. Qucm fala. nu verdade. é um sUJeTtil
iiiilliiTtiiit~t:r~ual (I indivfduoquc. em dado momento.

~ ;a~~;5~
OCUp;1o papel de locutor é dependente. repetidor. Elo: tem apenas a ilu~ão

em que se encontra. ISIOé. elo: está. de fato. in~eridu numa ideologia. numa
instituição da qual é apenas pona-voz: é um discurso anterior que fala
através dele. Os enunciados nuo tem origem. são em grande parte
CONnpÇOf.SDEt.mGVA.SVJtrTo.rUTO[SUiT!OO

imemoriais, c os sentidos que carregam são conseqüência dos discursos ti


que ~nenceram e pertencem, e não do fato de serem ditos por alguém em
dada Insl5nei'l de enunciação. A fonte tIo sentido é a fomlação discursiva
a que o enunciado pertence. Repudia_se qualquer sujeito psicológico ou
ativo c responsável (o sujeito da pragm,itical. Aqui se pode incluir a con-
ccpcüo de sujeito "inconsciente", que não controla u sentido do que diz.
Quem fala (> o inconsciente, que às vezes rompe as cadeias da censura e
dIZ o que o ego niioquer. E o "iu" qUe fala, niio oego. Comoafinna Lacan:
"o sujeito 1\;10sabe o que dIZ, visto que ele não sabe o que é".
Com relação às teses do assujcitamcnm, Possemi ainda questiona:

"( ... 1é necessário interrogar_se se a descoberta do inconsciente exclui radi-


calmcnte qualquer manobra consciente dos sujeitos, se o sujeito precisa
sabcroqucéparasabcroquc di!., seacxi~lênciadecondiçUesnnubqual_
quer opção ou aç50cons.cienledcsujeil0S( ...j''.

E prossegue:
o outro que doia medida do que soe. A identidade se constrói nessa rebçikJ
dinâmicu comn alteridade.
O texto encena. dramatiza essa relação. Nele, o sujeito divide KU espaço
com (> outro porque nenhum discurso provém de um sujeito adãmico que,
num gesto inaugural. emerge a cada vez que Ialazescrcve como fonte única
dOKudil.er.Sq:undoessapc:rspectiva,ocnneeitndesutJjctividadescdes-
1(~aparaU1~ ~ujcito'lu.eseeindeporqueátomo,p~~
histérico-social no qual mterage com outros discursos. de <luC.'C apossa ou
~ScpoSiciOna(ou6posiCiOnado)parae~

~:?-;e;1 a;;::~;ã~~d~q~~~~~ ~:~~e ;:u~~(~~o ~n~~'~I~:~


;':~:l~~~
cognitiva do S(lCli.l1.Jas estruturas e de tudo aquilo que poderia ser visto
como um dado objetivo "exterior" aos sujeitos. Nestas condições, diz Vion
(1992), nuto pass<I pelo sujeito:

O risco de conceber um sistema sem ator ultrapassa (... ) largamente os


avataresdopcn~all1cntoestruturalistaou sistêmicn.Quundosc pcnsa o su-
jeito como t proJuto) social, sâo cunsidcrdveis os riscos de concebê-tu come
totalrncntc dctenuinado por esta ordem social a ponto de estabelecer urna
rdaç;;ocau-al unidireeionalqucvaidesdeumsoci<tl'totalit:l.rio'aumsu-
jeito totalmente apagado, asscjeitado. compreendendo-se dcnun do seu
campo de ação os pressões desse sistema (r. 59).

Coneepçlio de texto e de sentido

o próprio conceito de texto depende das concepções que se tenha de


línguu e dc sujeito.
Nu concepção de língua como representação do pensamento e de
sujeito corno senhor absoluto de suas ações e de seu dizer, o texto é visto
como um produto - lógico - do pensamento (representação mental) do
autor, nada mais cntendo ao leitor/ouvinte senão "captar" essa rcprcsen-
taçãc mental, juntamente com as intenções (psicológicas) do produtor,
exercendo, pois, um pap<!1cssenci'l)mente pussivo.
Na concepção de língua corno código - portanto. como mero ira-
trnmrnto de comunicação - e de sujeito como (prcxíeterminado pelo
sistema. o texto é visto corno simples produto da codifiruçãc de um emis-
sor a ser decodificado pelo tcnor/ocvtmc. bastando a este, para tanto. o
conhecimento do código. já que () texto, uma vez codificado. é totalmente
explícito. Também nesta concepção o papel do "decodificador" é essen-
cialmente passivo.
CONC!I'COISOfl.t1(;U'-SUJl:ITO.TEXTO!Sf!fl1OO

~l,í I~a concepção i~al (dialôpica) da língua, na qual os sujei.


tos suo Vistos como atorcs/construtores sociais. o texto passa 11 ser consi-
derado o próprio lllga,. da intcruçãc e os imcrtocufôfês, COI!lOsujeuos ati-
""\'"ITS" que lhaloglcal!lenle -lTI!tl! se con~lrocm c são nmstnllilos. Desta
--rtrriií:lhá lugar, no texto, para I/)Ja uma ~ama de implícitos. dos mais
variado ••tipos, somente dClect:heis quando se [em, como pano de fundo, o
contexto sociocoguitivo dos punlcipamcs da interação.
Adotando·se esta última concepção _ de língua, de sujeito. de texto
- a compreensão deixa de ser emcndida corno simples "captação" de
uma representação mental ou como a dccodificaçâo de mensagem rcsul-
tente de unia codificação de um emissor. Ela isto sim. \1111.1
é. tllil'it/adj' _
interativa altamente complexa de produção de sentidos, que se realiza.
eVidentemente. com base nos elementos lingüísticos presentes na superff-
cic textual e na S\lUforma de organização, 1nõlSq\le requer a mohili;r.:lCão
de um vasto conjunto de saberes (enciclopo:Jia) c sua reconstrução no in-
-rertorllo evenlo cOlllu1lleali\·0.
O .I·l'mirro d~ urn tcxto ~. ponllnlO, nmstrufdo na inter<lção texto-
sujeitos (ou tex[o-co-~lIunelallore~) e não algo que prcexlsta a és:!m
lntcrãçii"o. Também u coeréncie deixa de ser vista como mera propriedade
ou qualidade do texto, passando a dizer respeito ao modo como ns ele-
mentes presentes na superfície textual. aliados a lodos Os crememos do
contexto socincopnirivo mobilizados na interlocução, \"':IH a consrituir.
em virtude de lima construção dos interlocutores. uma configuração
~ vciculadoru u<! sentidos.
y;fV Em uns texto denominado "'Moddos de lmcrprcração' . Dascal 992)

rYJt( r ::~:'~l~uUe~S~ilt:'edl~ ~~;:::I:::~I~~~::ter:~~l~~~t;~lt~S~~l:~~~(:l. ~:I.'~~:t:l~


IP
J:::
~~e ce~~Ç~(l~:~lU
:';scondido .. lI;~;;~1;:~~!~~1l~~~~1~1~ czi:»:
tanrcrucntc o scnridc e nosso upctirc paru tanto é insaci.tvcf, como sabe-
~{\ \ J mos nnJ.e parar'! Quais as COI~di~\{>es.e
press,uPOS.'i~'Ú<!~
que regulam nossa

I
procura? Como, em suma. ngtmos ou deveríamos agir nessa UUSC:l?
Dnscat p:lSS:1em revista as teorias que, segundo ele, tentam respon-
der a essas questões:
• modelo -criptolôgicc" - () sentido cstã ubjcrivamcnte "'I~" (no
texto). basta descobri-lo. A língua é um código, um sistema de
signos, c o sentido é um dado a ser inferido deles. Basta usar ()
código e as chaves adequadas ("'textualistas");
C<mCEPCOESDEI~GU_.SUJ(llO.lEXTO(WfTIOO

~Já ~a concepção i~l (dialógica) da língua, na qual os sujei-


tos S:JO VIS!!:" ~omo moreMcnnstrutores sociais, o texlo passa a ser consi-
dcmdo n propno 11l8ar da interação e os interlocu!ores, como sujeuos ali-
-ves que J'<lloglcamen1e lR't!! se cnn~trncm e são eonstm~
~há.lugar, no texto, para toJa uma gama UI' implícitos, dos mais
variados t!p(l~, somcnte detectáveis quando se tem. como pano de fundo, o
contexto soctocogníuvo dos participantes da interação.
AdOl;mdo_se esta última concepção _ de Imgua. de sujeito. de texto
- u compreensão deixa de ser entendida como simples "captação" de
uma represent'lção mental ou como a decodificação de mensagem resul-
tante de uma codificação de um emissor. Ela é, isto sim, uma lIIil'it!tltlc'
interativa altamente complexa de produção de sentidos, que se realiza,
eVidentemente. com base nos elementos ]ingiií,ticm presentes na superfí-
cie textual e na sua forma de organização, lIIas t]lIe n:quer a l1Iobili~,acão
de um vasto conjunto de saberes (encicillpe(]la) e sua recc1nstmção no in-
~o e\"ento comunicativo.
O st'mit!o de um texto é, pon:Jnto. com'rnlÍdo na intewçãn texto-

-;~~eeri&o~~~;Il:~~~:: :(:'~~f~':~~~;:;~~~~:)d~ ,:~~c~.;~~;l~(~~~~1~er~X~:{i,~r1ec~:


ou qualidade do texto. passando a divcr respeito :1\1 modo C0l110 os ele-
mentos presentes na supcrffcic textual, aliados a todos os elementos do
contexto sociocognitivo mohilizndos na interlocução, vem a constituir.

t: ~;::~~~~;::~~~~;~§:~:~~
em virtude de lima construção dos interlocutores, uma confipurução
d vciculadora de semídos. ....
pf'V Em 11mtextodenominado "Modelos de Interpret~ção' .Dnscal 992)

I .k~tant.Clllente o sentido t: nosso.'IPC~ite para tanto ~. i~S.;lCi;í\"e


..1. co.rno sabe-
:Ip,ft \ J mos onde !larar? Quais as condlçc.II.'Sc p,re~s,upOS1\;.c~sql~~ rcgula~\nossa
procura? Corno, em suma. a~rnws ou deveríamos agtr nC~""1 busca?
Duscal passa em revista as teorias que, segundo ele, tentam respon-
dera essas questões:
• modelo "criptológico" - o sentido está objetivamente "1;;·' (no
texto), hast:J descobri-lo. A língua é um código. um sistema de

~~~~~ ; .:: ~~:~~.~~:7d~~I:l~!~~~o(~I:;;U::;:~t:~~.~)):deks.Bastn usar o


• modelo '~" - o sentido não está "lá", mas~,
Ele é um consrruro a ser engendrado no processo interpretativo.
criado pelo intérprete, de acordo com as suas circunstâncias c os
seus propósitos, sua bagagem, seus pontos de vista etc.
("~S"):

• modelo ''amátic~' - o sentido é produzido por um agente. por


meio de ação comunicativa. Uma ação é sempre animada por uma
~ Por isso. na busca pelo sentido. é preciso levarem conta
a intenção do produtor do texto:

• ~~~:i;n:~;::~~~n~~1~~~~n~~I;o(~:~~~~~.n;~~~
precisar levar em conta o sentido do enunciado (vcontextualistas"]:
• modelos de estruturas profund3s causais _ tais estruturas profun-
das podem ser mlm-mdlViduais (o inconsciente) ou supra-indivi-
duais (a ideologia). O sentido é o produto de um jogo de forças
que subjaíCIi1ã'lletennin3da atividade humana. A noção de sujeito
é, portanto, desnecessária e enganadora.

Da~cal se diz adepto do OIQ<!Ç!Q pGlgm;j!ico, Todavia. propõe que os


vários ~I( ·HI vistos como complementares. recorrendo também à
metáfn o iceberg. N topo. está o signo a ser interpretado. Abaixo dele,
várias ca do a ser caçado. Imediatamente abaixo da superfí-
cie, encontra-se o sentido semântico cristalizado, ao qual o modelo
criptológico almeja, Mais :Ibai~intençües (lf'f'(/ker's mraningsí; que
pedem uma interpretação prJ[.mática. Mais ao fundo ainda. as florestas
geladas em que os td,rieosTts cau-;;s profundas exercitam seu jogo favo-
rito. Já os defensores do modelo hcrmcnéutico recusam-se a mergulhar na
água. Alguns deles até negam que o iceberg tenha panes submersas. Nem
mesmo gostam de caçar: preferem criar seus próprios animais de estima-
ção. em castelos perfeitamente adequados, construídos no ar. sobre o topo
da montanhudc gelo.
Evidentemente, os limites entre as camadas são bastante difusos e
cada camada _ que pcxlc ser muito fina - precisa ser protegida e respei-
tada. para evitar () desmoronamento de todo (> iceberg,
Esta metáfora de Dascal é bastante litil para uma reflexão sobre a
leitura e a produção de sentido. Em sua eterna bUSC3.o ouvinte/leitor de
um texto mobilizará todos os componentes do conhecimenlo e estratégias
cognitivas que tem ao seu alcance para ser capaz de interpretar o texto
taNÇ(I'ÇO!:SOlUt«lU.\..SUJlITO.TIX10ESOITlOO

como dotado de sentido. lsro é. espera-se sempre um texto para o qual se


poxsn produzir sentidos c procura-se, ti panir da forma como ele se encon-
tra lingüisticumcnre organizado. construir uma representação coerente.
ativando. para rumo. os conhecimentos pré\'io.~ e/ou tirando as possfveis
conclusões para as quais o texto aponta. O processamento fexlILal. quer
em Tt'rlll11~de-produção. qucr ti", compreensão, depende, assim, essencial-
mente, de urna interação - ainda que latente - entre produtor e
imcrpreTa~

~"~";~;:~~::,::h::~;:~~~~
Pelas Taziks até aqui expostas. o meu ponto de partida para a

~~,~:~;'~~~:E::';"~:::~,:::
dos dessas expressões no próprio 11I<)ll1el11"
da interlocução".
p "'" -
c.
É claro que- esta atividade- compreende. da pane do produtor do tex-

:~~~~;L~~~<~~~~Ol~~i~~z~:'~o~s~~~~n~o ~~n~ril~~l:;~'~~~o(~~T~:~~~~;~~~~
(\ do con.tc:.;:!O(e~ sentid{~ an~plo._c{lnfnrme será conceituado mais adiante).
. a parrir das ~qucotcxto lhe oferec.c, Produtor c
y.,. intcrpretadnr do teXTOsão. portanto. "estrategistas". na medida em que, ao

ç S:~\J ~~~~~:{~;~I~~n'~~ ~,~::~~~:;':~~~'nl~IO:it~~lu:ae~~e\"~s~~~'~~~Od~~;: ~~


. l.-.j.) sentido.
10."-'1,(. Tem-sc,a_~sim.eom~
~ I. li produlor/ptanej~uc procura vinbüiznr o seu "projeto de
dizer", rccorrcndou uma série de estratégias de orpaniznção textual e orien-
tando o interlocutor. por meio de stnanzacõcs te2\luai~ (indfcios, marcas.
pistas) para a construçãodos (fK'ssí\'cis) sentidos;
2. o 11:)(10.org:mizado ~Tej.!icanu:llle de dada forma, em decorrên-
cia das escolhas feitas pelo produtor entre as dÍ\'e'rsas possibilidades de
formulação que a língua lhe oferece. de tal sorte que ele estabelece limites
qunuto às lciruras possíveis;
3. n Icitor/ou\'intc.0lue. a partir do modo como o texto se encontra
Hngüisticanrentc construído, das sinalizações que lhe oferece. bem como
pela mobilização do contexto relevante à interpretação. vai proceder à
construç:10 dos sentidos.
Estas convicções me levam a subscrever a definição de texto propos-
ta por Bcuugrande (1997: 10): "evento comunicativo no qual convergem
ações lingüísticas, cognili\'as c socia,is", Trata-se. necessariamente, de um
evento dialó1,:ico (Bakhlm), de intcnlçao entre suieilo.~ soçiais _ contem-
poranens ou não. co-presentes ou não, do mesmo grupo social ou não, mas
em diálogo constante,
CAPITULO 11

TEXTO E CONTEXTO

Um •.nunciadosó.<cIOInainldigl\"elq,nn<loc<llocadodcn-
(fod<,s<,uconlc;uo<lc5ituaç10.sc met [>Crmilhln<,unhaf
umae"pTc"loqucinuiquc,l""um lauo.quc a concerçJo
de CtlntcUo prcci,,, ,er amplia<la c, por oulrtl. que a.ituaçlo .'
•.m que aS palavra. ,J" usadas j~mai, po,kr! <Cf dc"""r1adJ
como ifT<,lc"antepara a •."prcü1tllingUhlica. I'ndcmnsvcr
oquanwanoçltld •. ,,,nlc,,,onea,,jt:o.,,,,<ub'lanci.lmcnt •.
amplificada se qu", •.,mos qu •. ela lenha plena ulili,bdc. IX
falO, ela dn'c ultrap~"ar o.' limites da mel:' hnglli>tica c se'
al<,3<1a 11 ensuse da.' ~ondiç1'>e. g •.rais sob 3.' quais uma Un-
gua é falada (M~lin"wsl;:i. Thr /',,,blrm vI Ml'u"ill( in
l'rimiti"cLang,m.vs)

o contexto e suas variadas concepções

As concepções de contexto variam cunsidcrnvclmcute não só no tem-


po. como de um autor a outro: c ocorre mesmo que um mesmo autor utifi-
7.C o termo de maneira diferente. em vários momentos. sem disso se dar
conta. Goodwin & Duram! (1992: 2). em suu introdução à obra Rcthinking
COIlII'xl,escrc\"cm:

Nâo parece possí\"el no momento apresentar uma definição única. precisa,


récníca de conrextoe. talvez, tivéssemos de ndmitir que tal defin içõo nemé
mc,mo pnssí\"el. O termo significa coisas hastantc diferentes crn paradigmas
allcmatin,stlcpesl[uisacmcsmnlloinlcrioruclrJdiçiiesparticulólrespare·
ce ser definido mais pela prática. pelo uso do contexto para trabalhar com
problemas analíticos específicos do que por definição rcrmat.

Foi Malinowski (1923) quem criou os termos "contexto de situação"


e "contexto de cultura", embora não tenha proposto um modelo de como o
contexto é dClenmnifdo e do papel que desempenha na interprctnçâo dos
enunciados.
Finh (1957). partindo das idéias de Malinowski, deu grande ênfase
ao "contexto social" Defendia a posição de que palavras e sentenças não
tem sentido em si mesmas. fora de seus contextos de uso.
Mais tarde, vários lingüistas voltados para questões de ordem socio--
lógica (Hallidav, Labov) retomaram essa noção de contexto. Hymcs f 1964).
que larÚt;!m propügiiããnálises bascudas no contexto de silUaçao. propõe
uma mutrí ••.de traços ctnogrãficos - o esquema SPEAKING _ que per-
mitiriamc<lmcteri ••.•
w o contcxro:
S-SitU:lçiio: cenário, lugar
P - Participantes: falante. ouvinte
E - Fins. propósitos. resultados
A - Seqüência de atos: forma da mensagem/forma do conteúdo
K-Código
I - Instrumentais: canal/formas de fala
N - Nurruas: normas de Interaçâc/ncrmas de interpretação
G-GO""", ~
Na visão de Goodwin & Duranti (1992). o contexto é UI [reme
(Goffman, 1974) que envolve o evento Sflh exame e fomece recur. '
suainterprctaç::iuacquada:
Contexto
I
IEH~ntf) focall

Segundo os autores. a noção de Contexto encerra uma justaposição


fundamental de duas entidades: um evento focal e um campo de ação dcn-
tro do qual () evento se encnntru inserido. Nesta perspectiva, deve-se lo-
mar corno ponto de partida para a análise do contexto:
I. a perspectiva doIs) panicipantejsj cuja ação está sendo analisada.
cabendo ao analista descrever corno () sujeito assimila e organiza a per-
cepção dos eventos e situ<l~'õcs pelas quais estã navegando:
2. como aquilo que um participante trata como contexto «!lcvante é
determinado pelas atividades específicas que estão sendo realizadas na-
quele momento.
Silo, pois, segundo estes autores. fenômenos que a análise do comex-
to deve recobrir:
I,~
2. ctuomo sociocu!tura];
3. a própria linguagcm como contexto - o modo como a fala mes-
111:\ simultaneamente invoca contexto c fornece contexto para outra fala;
istu é, .1 própria fala constitui um recurso dos mais importantes para a
orgnnizaçüo do contexto:
4. conhecimentos prévios;

tiIUíd(~:'~~~:~~t~(~~~I~~~::~I~~:rt:l)e~:~l:l~~:~~J~~:.~~~~:I~~~~:~;~enn~~.e()ns.
Todavia, foi preciso percorra um cnrninho bastante longo para che-
gar ii concepção de contexto hoje dominante.
Na rase inicial das pesquisas sobre texto, que se tem denominado a

~::(~:j''~T;::::f5j
fi

~~~~):~~:,I :~', (;e~t::t:~~o(,tl:~\;~;~~~t~d~(~~~,e~~~ ~C~~~~l~~

ou combinação de frases. cuja unidade e coerência seria obtida através da


reiteração dos mesmos referentes ou do uso de elementos de relação entre "
segmentos maiores ou menores do texto. Paralelamente, o~&ITl'l~
chan.\avam a atenção sobre a neccssid:Lde de se considerar a s.iwação co- --
munícativa para a atribuição de sentido a elementos textuais ({mIO os
dêiricos ~ as expressões indiciais de l1U,,[Og~ra1.
--C;:;m o advento da ~os Atos de Fala c da Teoria da Atividade
Verbal. a Prajnuãtica volta-se para o estudo e a Je~cri,';lo das ações que os
~iosda 1111!!lIa,ems~~10,realizam através da lin-
gungcm. c01hilkmda esta, portanto. como atividade intencional e social.
visando a detnminados fins.
A simples inC(lrpor,\(,,:lodo-,~porém. ainda não se mos-
trou suficiente, j:í que eles se movem no interior de um tabuleiro social,
que tem suas con\'eIH':õcs, suas normas de conduta. que lhes impõe condi-
çõcs. lhcx estabelece deveres e lhes limita ;\ liberdade. Além dis~o, toda e
qualquer manifestação de linguagem ocorre no interior de determinada
cultura. cuja- tnldj1ji)e~, cujos usos e costumes. cujas rotinas devem ser
obedecidas c perpetuadas.
Foi cntâu <IUC.aos poucos, outro tipo de contexto passou a ser levado

li,~:II~lC~~:~I~:;~;~;;~;~:~'l;;(:r~·~;~(::~;:;:;~
L;~~~~;:2~~r~I~~~s
o~~~;~~~I!::~~~~lr~~
sejam, pelo menos, parcialmente semelhantes, Em outras palavras. seus
conhecimentos - enciclopédico. socioiureracionnl. procedural CIC. -

~::~I~:~~~a;Op:~~h~:e~~\ ~:7~~~~:~~n~~:~~~s (;'~~~c~~:~c~t::r~~~~~;:

ou seja. jn
é, por si mesmo, um contexto. A cada momento diLmlera~';Lo,
interação. cruta UTTI dos parceiros traz consigo sua bagaJ;crn cognitiva -

esse contexto é alterado. i1mph:LdO, ohrigando, assim. os pnrcciros a se

~~~~cl:~:~~;~,\':~~~~~~e~~(f(l(~'~~,~~ :~~o~~ft.:::~:~~!7;~~·~S~:;:IL;::'II~~'~1;:·r~
dos surgem. CIl] grande parte. de prcssupo,jÇ(":'-s errõncus sobre (l domínio
de certos conhecimentos por pane do{s) intcrlocutorrcx). Poder-se-ia. in.

~j;~:t:~i~;~;~~;~j;:~~i,~;~';':
cuda um deles. isto têm uma representação em sua memória.
é.

tece também com o contexto sócio-histõrico-cultumí.


\'1lII\O acon-

:::,~~~:::~:';~€!~:f;:,~~
SUbSUIllCO"I~osljp()sdeconhccjmclHl),arqui\'a_
dos r.w memória dos :~Lis. que occcsviram ser mohili/adl'., por
ocnsiàn do intercárnhiú verbal (cf K,>('h,IY<)7):('conhec!J])cn~o
propriamente dito, o conhecimento l'Lleiclop.5dicll, quer declarativo, quer
episódico ifral>w.1" • .\"(',i"I.'), (\ conhcdiiiicnto da SilU;I~'ã" <';"I1lUnrl',r!ÍV;1c

;:r~g;I;:~~~~;~
~e~x;~r,~IL: :::~~:~n~~~;:~~~~~;)
adC1luaç;j" tL~sitLLaçÕ<.·~
';r~~ril!:~~~I.ll:~;~;;::s~~~~~r;lí~;:::,
c(ln~\~),
(~L~~:;:
o conhecimento sobre os vnrindoc
!;ênenh alkquaJI" ;LSdiwrs,L~ pr.i!kas spchh bem C"LllOo conhccinn-n,

~O~~I i~~:~~L~~'
Jt~~~l;~' l;'~\~l~~~lll~~~~\)l.~\
~:~~~::ll:~\!lii!":~
cSlratéfias
~l'~SI~a~~I,I,U~~ ~)(·u;~
realiza-se por meio de de diversas ordcns:
• C~Fn!(ivas, como us inferências, a fo\.'a1izaçào, :1 busca da rctc-

• socioimcrucionuis, corno preservação das fuces. polidez, utcnuu-


çuo. atribuição de C:LU~a1>
a (possÍ\'cis) mul·cntcndidos ctc.:
• textuais: conjunto de decisões couccmcntcs tcxlualilaç:l0,
ü

"""j)CTü'ji'rudutur do texto. tendo em vista seu 'projeto de dizer" (pis.


kit;L~
tas. marcas, .~ina1ilaçõl$).
Kleiber (1997), em trabalho denominado "Quand le contexte \'a,IOUI
va et ". invcrserncnt", salienta também a necessidade de se proceder, reta-

:~~';~I~~dn~e
~~i~lil~~~~(:;
~1~~~~1
a(~:'~~n~::~~O;I::~~[~~'~ (;~ ~~!~~~~:i~~:~:~
que recobre. quais os p?ohlema.s que suscita etc. Pura tanto. rastreia deter-
minadas (1p(1siçt")('.~
e dimensões do conceito de contexto presentes na lite-

I. em contexto/fora de contexto;
2. contexto definido como conjunto de elementos que inüucnciam a
signiflraçâo (contexto "acrescentado" à análise lingüística)fcnntcxlo como
entorno:
J. contexto- invcntário/conrexm como quadro ou conjunto estruturado:
4. emprego rcluciunal (diretoYcrnpre[!1l ahsolutu [indireto) do contexto:
5. contexto lingüístico (co-textoj/comcxto extralingiib.ti.co (ou
~siluacional):
T ~ntexto imediato (~onle.~lo)/contexlo distante (~
contexto):
7. situação de enunciação irncdiata/simaçâo mais ampla;
~. contexto esquerdo/contexto direito:
1). contexto csnutcozcomexro dinâmico (ou processual);
W. contexto do an:lli~I;l-oh.,•.-rvador/contcxro de locutor-interlocutor.
11. contexto ti" locutorrcontexto do inrcrlrcmor;
12. l) C0I111:.\I\.determina (1 M:ntiJ(1!" ~en[id" determina o contexto:
13. contexto gloh;ll Oll tcxtcsccuucxto de lima unidade (que pode variar);
1.&.o contexto prccxietc. é dad"!,, contexto é eon'lruído etc.
Há um con,en~~I"IJ sobre t1 faro de' que. sob a noção de contex-
to, se oculta a hipótese de que nenhuma análise lingüística. de qualquer

~~'~~~';~::::;~:~;~';~~:::;::~~~,:~:~;~
~~:~,~J~:~i's::l~~1
~~:et:;:l~.ni~;l(:eé~\~ I~~~ll:~~~;:~~c
l~t;~\:~g~l:;~~~l;~z~~\'~~lll~n:ll~~I~;:
dosl'kmentn~na(JJl'fllTmai.,()lad·ã.Iii:"lsem:l~s,eme(~

~' e~l~i:~J~II~::l:(~:::~~:~
~:11::~
~l~i\~~;l':':.:::n~::,;ç~(l à andllsc fora de con-
texto: uma delas. procedendo a um movimento de descontexlualizaç;!o.
tende a privilegiar esse tipo de análise (análises formais, "languc", siste-
ma): a nutra. que menospreza a primeira. sustenta que nada valem análises
fora de contexto c procede a um movimento de (re}contextuaJizao;;io. j:i
que nfio há discurso efetivo fora de contexto (abordagens emollngütsticas.
interacionistas. análises conversacionais, abordagens enunciativas ou
discursivas etc .. algumas das quais acabam por cair no que se tem chama-
do "comextuahsmo". criticado por Dascal, 1982). Entre ambas. encon-
tram-se poslçfJes intcrrncdiárius. como a defendida por Kleiber: "O con-
ceito nào é toJo-poderoso. nào J)(xle tudo". --
Klcibcr pergunta: Por quais razões uma nnrilise fora de contexto se-
ria insuficiente? Para justificar a necessidade de se levar em conta o con-
texto. vários argumentos relativos aos itens 2 a 14 do levuruamcnro feito
pelo autor costumam ser apresentados. alguns dos quais passo a comentar.
I. Contexto corno entorno X contexto acrescentado li postrrinri: no
primeiro caso. vê-se o contexto corno cocxtcnsivo 11própria ocorrência
lingüística. É neste sentido que se pode dizer que certos enunciados siio
gramaticalmente amhíguns, mas () discurso se ('ncarreta de fomccer cI,n-
dlçocs para sua Interpretaçào ~a. Aqui se concebe as línguas em ~l
como inJetenirinLlJLls, como não fornecendo. cvcutualmcnrc. todas as con-
dições para sua interpretação, Isto é: admite-se ou que 2.E~!!.!~J~rmite
prcnchcr as lacunas da.1C:sto t-o contexto completa". cf Dascal. 1987:
õãrk, 1977, que fala em estabelecer os "elos faltantes - missing Iillk.f-
~~lJ~~i:r:~re{;~~;~~e~~:-~~:~t~~;{~~I:~·iri~~ ..(=-f:t:::~~~ ~:~~;~:~~a!~n:
que tais fatores se incluem entre aqueles que aplicam por que se disse

~~;:~~~~:1~~~; ~·~od~~~~~~r!'~~:~c:~:~~i~r;;'€;:~ cxte~os ~~~n~~'~


alguma coisa o scu cxrcncr.p. a en cu er o qucneu c
seria insuficiente, É este o postulado básico da Análise do Discurso, ape-
sar das diferentes tendências que ela engloba.
Uma das posições quanto à necessidade de recurso ao contexto é de
que não existem frases. apenas enunciados (toke,u). únicos e efetivamen-
te produzidos _ portanto. é impossível faze.r abstração do contexto, das
condições de produção. da situação de enunciação (~31a, com quem.
quando, nllde.e~condiç{JoC~, c(~ropósitoctc.). Trata-sede um
êãriJüi1todcfatores que dcrerrmnam necessariamente a produção de lin-
guagem c que variam :1cada nova cnunciaçâc.
Outro posição é a de que o comcxtc é o conjuntn de fatores pertlncn-
tcs para a análise lingUíslica das unidades sob consideração, fatores esses
que têm influência sobre essas unidades: ou seja, as unidades estão sub-
metidas ao efeito de outros elementos com os quais se combinam e fun-
cionam, de modo que cabe levar em cnnsidcraçân esses elementos exte-
riores para umn descrição satisfatória c completa das unidades em ques-
tão. Assim. ;1 análise contcxtuul é um complemento da análise lingüística
Ioru de contexto. ela vem depois. para complementar (l que ficou por com-
plementar: isto é, o contexto "só se invoca quando necessário". como, por
exemplo, para desfazer ambipüidudes. justifIcar eleitos de sentido
(polisscmia. sentiJu mdlreto etc.i. "salvar" um enunciado que se apresen-
ta como dcsvianre, reuficamto interpretuçõcs n príori anormais. cumple-
tar a intcrprcrnçâc (no caso de expressões indiciais, ~xercen-
do, ussun. o papel de "saturador").
2, O ccmenc.é muita •• veles considerado como inventário ou con-
junto hcteróclito de fatores (contexto "samaritano", onde se pode encon-
trar tudo o que se procura). em oposição il visão de contexto como quadro
ou entorno estruturado. Um dos princípios de estruturação geralmente uti-
lizado é o da IW(lli:a((in, sue se manifesta por várias oposições:
• co-texto/contexto ou situação cxtralingüfsuca:
• co-texto esquerdo/co-texto direilo-' ---
• mlcroconrextc/macrocoutexro.
No interior do contexto exrrulingütstlco. apresentam-se, ainda, fato-
res como llJcut".r/interloculOr,.~, lugar, instrumentos (props) X fato-
res s~encic\lIpédlcos etc. - ~ ---
Essas duas posições com relação ao contexto acabam por se cnuela-
çar para constituir a cO/zn'pçfio standard de contexto: entorno que exerce
influência sobre as unidades Iingüfsticas.
3. Outra distinção muitas vezes postulada é a de emprego relaciona]
(direto)/emprego absoluto (indireto).
Esta dlstinçâo é necessária, por haver ambigüidade no emprego da
expressão "o contexto de .r" ou somente "contexto". I-lá duas interpreta-
çõcs possíveis:
(I. o contexto (de :c) '" o contexto do discurso (ou texto) no qual se
acha a unidade .r (emprego indireto, absoluto). É a posição de quem anali-
sa textos uutênticos.
h, o contexto (de .I) = o contexto espccrüco ou próprio da unidade x
(emprego rclacinnal. direto) - o que está no co-texto. Usada por aqueles
que descrevem de forma bem fina a ação dos elementos cc-textuais sobre
determinada unidade (fonema, morfcma ctc.) sob exame.
OESV[MlMiOOOSS[(iIIEDOSOOnno

o principal defeito de muitas propostas é que o contexto de situação


é visto como algo dado no mundo real. Ninguém traduziu melhor esta
concepção do que Franchi (1977), cujas palavras gostaria de transcrever
na íntegra, ainda que a citação fique um pouco longa:

Procuremos distinguir aqui os dois aspectos que Malinowski inclui na no-

~~~)!!~; ~:~~:C:l~ ::p~~~~~~~:~~~t~~:I~~;';~~~a~~o".~ft~~ç~:t~l:ll~~I~a~~~: ~;::

;:~CcOr~;:~'~;~O~~~/l~~~:;~;\~:e;,:I~~il~)l:~~~'~;;~~;W\~:I~a';;'l~'!!~~~~::::
oril~naila, ~m reLu,.ão au ,uJel1o {para nao usar aqulllt~rmoe.\l·c'Slv'lI!le-n-
te restrito !alame •. usandn as expressões de um modo pOtKO crüico. uma
c:\prc,sãu lingiihlica se toma significativa (como cortespondcudo a modos
de operar concretamente sobre a realidade ou por ahslfa\'ão) não -omemc
por associar-se a "coisas" (objetos. relaçôes, proccssn~, sislema, I. Ill"S por
servir-se de um "referencial" (de "coordenadas") em que essa, ,'''rrl'spon,
dêncías se atualizam (o tempo. o lugar. as imt:lllcia_~ JlC""ah d" discurso. a
indicaçãodcrnonSlrativadO\oojctm.aalitlltledulol'uturfrcnl<'a,;cuprô-

~~ii~ad~~~r~a~'~:/;,~:~i~~: .~~j~~:.'7;~af~II~~~~:~~t~~~I~:~::~~'~:II'~~~~~~;
linguagem ao 13(10 íb percepçilll) ol'gaoizam os "ohjcto~"'ãqü~ .'l' referem.
segundo traços. c.ncgorias e relações, em um "sistema de refert'nci~'''. de
narureza essencíatmcme lingi.iístic;I (podemos dizer que o ",istl'made refe-
rências" é consritufdo pelalinguagem c nada tem a ver com a r.\islt'IH .in
l"l'aldasentidade<(juenalinguagl"mscddirnit.ullca'lucnosr.-fl"rimos).

~:;e ~~~r~:::~~~~"~:i~~ ~:~~~~~ ><~~n~~~~~ie~~~:~"~~~


7<iildi"üesu.:prndllçilodeurnolllrúqllenscgue(oudeqllcantecipaapmJu-
~~l~~~(;t~:~

~!~;'
~~~~~~;~ (~:~~::~I;~;~:~~~~' ~~~:,~:~f~~::~ ep~::l~'~~'ç~ll~:'i ~l;:l~~(:~i~

t ~:'~il~;~::~~:~~~i~~~~~~~~~~::;~~:~~~~~:1~~~~~~~~!~~:~~':f~~~
pliflcu (uté ~ lnterjeiçâo. ou ~ palavra-objcm que se cuja a UI11J caixa de mer-
cadoria: ou <1<rdal,'õesnasitua",'ul1iio,;.eperceb.:l11c .sc dcfiucm suficicnte,
mente. e o ('011l~),t{) toma-se c!!!!lP1CMl..o díscurso nii" se lib.:_r~ da ~;lua<;,;n
( se é que iSM! i: pmSf\T! de modo l'ompldOj, "':11<10 p;rra sujcuur-sc <I um
contexto ,'ada ,·,'1. rnai.., rico c cxigcmc. onde termos e expre'~õ.:~ tornem o,
se us valores exclusivamcruc na l"~~~das deüníçõcs. (I'. J-l_
rodapé. nota 23)

As nbordngens sociocognitivas. por seu lado, vêm postubndo que u


contexto físico nilo afcla a linguagem diretamente mas ~mpre por inter-
médio do.~ conhecimentos (enciclopédia, memória discursiva) do Iatan-
te e Jo ouvinte, de modo que a maior pane das assunçtles contexnmis é
recuperada da memória, isto é, do contexto c01,!niti\"o tios interloculOres.
Isto é, o contexto é um conjunto de suposi,,'ües trazidas para a interpreta-
ção de um enunciado. Cabe. nesse caso. perguntar: como se selecionam os
contextos adequados? Ou seja. corno o interlocutor decide qual contexto
deve ativar"! -
Muitos estudiosos sugerem que o co-texto é que deve desempenhar
o papel principal na interpretação dos enunciados. Sacks (1972) propõe
que. em
(I. nu, IN/hy rricd. (O bebê ehorou.)
b. 711l' "10m)' "ick('tl i/I/I'. (A mamãe U PCl!0u.)
seria normal lnterprctur-sc i/ como referindo-se a /},(' !)(d,)'.

Brown & Yulc t19R3), contudo. mostram que esta não é a única in-
rcrprctaçâo p(lssível. Podem-se imaginar contextos em que it se refira a
um objeto que \\ bebê tenha deixado cair, bem corno .~it\l'I(JI<!Sem que a
mãe não seja a du bebê. mas a mãe de outra pc."SU;I. lmroduvcrn. então.
dois princípios que poderiam levar à seleção do contexto adequado: o da
"íntcrprcração local" e o da "analogia" O primeiro determina que não se
deve cunsrruir UI1Icontexto mais amplo do que o necessário para chegar a
uma intcrprcruçà«. l'"r excrnnto. no t":I~O de um pronome anafõrico. .1 rc-

~~~~~~~~~~~i:l:;<;~:~~e
r~aril~a~~(r:i\;I~,iLn~:I;.~::1
:~~Lr:;:(~~L
/~L:t:~~::~~:I~' f~~'J:~~:;:,
locutores pressuponham que tudo serú comu cru untes (Interpretação por
dl/alllO, :1 não ser que se anuncie claramente que algum aspecto deverá
sofrer uma mudança.
Tanto um corno o outro dcs .scs princípios podem ser contestados,
~sclllpre vnlc o princípio da pro;o;irnidad •..•n,l interpr c ração dos
nnníõríco-, e cxorõrtcos. E se. no exemplo acima. o primeiro enunciado
fosse: O bebê deixou cair o brinquedo e chorou .. seria tão "convencional"
a mãe pegar \1 brinquedo quanto o bebê. Há a considerar ainda os casos de
*"=ironiaed •..•indirctudel.mger:ll.
. Ta1111~111l3Ia:s (1990), após afirmar que o cnnlcxtll é crucial nara a
rmerpremçuo do discurso c quc um texto pode ser interpretado de ma-
ncims basumtc diferentes em ecnrcxtos diferentes tp. 27-l:0. mostra que
não h:\ consenso sobre o qll(, t' contexto c de fim' modo de afeta a inter-
pretação.
A quest!o da contextuaizaç!o na fala. na.scrita

Nystrand & wlemelt distinguem entre contexto de produção e con-


texto de uso. No raso da Intera ão face a face. eles coincidem, mas, no
caso da escrita. não. Aqui, o mais importante o contexto de uso.
~s entre infonn~p1.!cila e conhecimentos pressupostos
como partilhados ~r estabelecidas por mero de cstf3téglas ae "si-
nalização textual", por intermédio das quais o locutor. por ocasiiio do
processamento textual. procura levar o interlocutor a recorrer ao comex
sociocognitlvo (situação comunicativa. scripts sociais. con iecimentos
lOtertextualS c assim por diante). Dascal & wetzman (1987) pocrulam que
um texto pode ser opaco de duas formas. estabelecendo assim urna dístin-
ção entre incomplelmle. que exige o recurso lIO co-texto e ao contexto para
o preenchimento de lacunas (g{/ps). isto é, para introduzir informações
faltantes no texto; e indiretude. responsável pelo desalinham ente
tmismatctú entre o que é expresso tunerance-meaningí e o pretendido
tspeaker:s mraning : cf Gricc. 1975). ou seja. o ~passp entre a in-
formação explícita e fatores como conhecimento de iiiUrido. priii"CiPiõS
L..
~o.f
,. 'I ti>' comunicativos . ~'S de adequação e outros. Segundo eles. o texto
fornece ~s (cut"s) p ~ u.id:ntificaçãod3.necessi~ad~ de rreen~hir~~n-
~...J to de lacunas e p a a disnnçân entre opacidade e indiretudc: c Indícios
!;:!.:!!s),quer~xt~iS,quer~is,paraadepreensãoda~
ção pretendida pelo autor.

. ,,# ão
sentido de um texto. qualquer que seja a situação comunicativa,
d pende tão somente da eSlrul~r:I texlua~ e~ mesma [daf a mctãfcra

~ rênc~~I;~~O;~~e~t~;:;~~:;;;n~;~~~ed~ed;~:~:C~~~~ ;:a~:~;~~e~
muita coisa implícita. O rodutor do texto pressupõe da.pane do. leitor/
• ~Vintc co reei S textuais. situa nuis c enciclopédicos c, oncmun-
'(fi do-se re P~l~nW.. não xplicua as infonnações considc-
ll):1~ radas re dantes. Ou seja. VIStoque. ~ existem lex~~s totalmente e:.plf-
cnos. o produto trrr-text essrra proceder ao balanceamento do
que necessita ser explicitado textualmente e do que pode permanecer im-
\) plícito, por ser recuperável via inferencia 30 (cf. Nystrand & wiemeh,
1991; a se I. . a verdade, é este o grande segredo do locutor
competente.
O leitor/ouvinte. por sua vez, espera sempre um texto dotado de sen-
tido e procura. a partir da Informação contextualmente dada, construir urna
representação coerente, por meio ~ seu conhecimento de
mundo clou de deduções que o levam a estabelecer relações de causallda-
de etc. Le\'ad(l~i()da ComimÚdtu/I'Jc 5('lItido(Hilmlann. 1976),
ele põe em funcion:uncnto ,Údos os componentes e estratégias cognitivas
que [em à dispoviçâo para dar ao texto 11m3 interpretação dotada de senti-
do. Esse princípio se manifesta como uma atitude de expectativa do
interlocutor de que uma seqüência lingüística produzida pelo falante/es-
critor seja coerente.
Portanto. o tratamento da linguagCnl':I~lOs de produção.
quer de recepção, repousa vtsccrahncntc ~illf('raçlio In utor·mwinte/
Idtor que se manifesta por uma amectpação-e.cocr ação recíprocas.
em dado ('0l11e.'(10. de conhecimentos c estratégias cognitivas.

~O(f~~(~;~r~;:~1:~;~~~~~~;t~~j~~t;~:t~:~~~~u~~~~:~~IUo~~;f~~
I ciãy-,.fa.nma
••.. da Retevãncia (6riCc.'l975) c com base em seu modelo do
011erloçutor o falante/escritor vcrhaliza somente as Unidades referenciais
to c .IS rcprcscntaçocs necessárias fi compreensão e que não pOSS:Ull ser
f!!PdUlldJS sem esforço pelo leitor/ouvinte por mero de informações
y1l-ontc:'Itllals e/ou concertuars (Principio l/a ~,I('t/)lIlt~de ~

~ Postula M! que oS~l<Inte:..,d~'~J1~I~cr estr:lIégras,....pll.ra o


plli.e.2;aiUcO!o efi"az do 'âtt~~par.l :I sckçao apropn do comC:'IIO em
I particular. A investigação de tais estratégias. sem dúvida. traz subsídios
importantes quer para a produção. quer para a compreensão dc tC:'Itos.
A explicitudc de\'e~i- avaliada em lermos da reciprocidade

~~;:~~;;';;~~::~I\~t~:~~.:a~~ot~~~~t~~~~~~~:~t;~;r~l~
nados conhecimentos ccutsxnuus. silu~nai:ç'Ol~elopédieos da parte
do interlocutor. de moo~eixãm impf(êitas inrurmaçõc.~ que consi-

~p~:"ILC(~~~~;ilt:~e~(~~~:r~j;~:d~U~\i:r~*~~~!e~~I~~ic~J7o:~~:~
"CijillCi1C'ls-dependc:cnl larga escala. do uso que o produtor do texto faz
dos fatores conrcxruais. Em outras palavras. utão propalada uxplicitudc

~~ ~~~:~)~~~~n:;l~~;:li~~~I~i~I~I~~il~:eO~~p~~t~)I~~~~~:'~5~~~~S~
~ -, [..o}J~ro~aç30 de sentidos. fillc.m uso de u ~tiPli~id:lde de reetlTs( ral?----
V~ I das simples palavras que compõem as estruturas. sto c. exts e o que
~\ Sanford & Gurrod denominam "domínio estendido de referência", Ve-
jum-sc os exemplos:
\. O policial viu o ônibus acelerando em sua direção. Ele levantou a
mõo e parou-o.

I
I,
2. O goleiro viu a bola indo em direção à rede. Ele levantou a mãe e
parou-a.
verifica-se que. em (I). levantar a mão implica um aIO de ordem do
policial ao motorista do ônibus. que. em função disto. faz o vefculo parar.
Em (2). levantar a mão é um movimento do goleiro. com o qual ele impe-
de que a bola penetre na rede.
Segundo Sperbcr & wilson (1986), uma proposição é relevante em
primeira instância não somente em relação ao discurso. mas ao contexto.
ou seja, em relação a um conjunto de propusiçllCs 00 hipóteses derivadas
não apenas do discurso precedente. mas também da memória. da pc~
ção do entorno. através de~3.~. Isto é. a inf~o é relevante
para algutm quando imcrage. de certa forma. com suas suposiçi'>cs pré\'ias
sobre o mundo. quando tem efeitos CO/J1e.rlllllis (reforço ou contrail!ção)
em dado contexto que lhe é ccesstvet.

Conte.tualizadores
~
Ijurnpcrz (1982. 1992). como é sabido. designa por pistas ,11' contes-
fII(llizaçt1oos sinais verbais e não-verbais utilizados por falantes/ouvintes.
na interação fllCo.::
a face. para relacionar o que é dito em dado tempo c em
dado lugar ao conhecimento adquirido através da experiência, com o ub-
[euvo de detectar as pfl!ssuposiç0es em que !.C devem basear para manter
o en\'olvimen.t~rsacional e ter. acesso. "".s.entidn pretendido,
Entre 131~ o autor inclui:~lia (entonação. acento de in-
tensidade, mudanças de clave): sin~rallllguísticlJS como pausas. hcsi-
rações. sobreposiçiíes de turnos. tom e volume de \'Ul: escolha d~igo

~~~JOr:~S)il1f~~~::t~I)~.~~::~~~S~~Ct;I~,i::~;~;:~;~:~~;~c~::
~os, q.l1e(XiJCin sfgnificur ;(POlO. oposrçao. rmrua ou snrcnsmo.
ênfase. ahorn:cnnrnto etc,
As pistas de wntcxtualil:lÇ;"io têm também sua conrrapane na cscri-
la. Nystrand (1987), postulando que os escritores hubilidosov exploram
toda uma escala dXCCUr'll,~ para contextualinr a escrita, modalizando-n.

~~~t~)n:~~ti:~:~:;:~~i:~:ad~e~~
de recursos f.!lill.ços, para distinguir tipos de conteúdo. Também Dascal &
wetaronn. ao nnnlisar textos jornalísticos. mencionam as aspas, a seleção
lexlcal. certas que,~ti)es retóricas. o uso de dadas~amento e
assim por diante como pistas importantcs para a captação do sentido pre-
tendido pelo produtor do (C;I;10. Entre os recursos gráticos cabe ressaltar
também a \liagr:unação. :1 [~ão do texto nn página ou no verculo.
em se tnuandu de jornais ou revist:!!>. o tipo de letra. os Ir~s.lli!!Êl-
~cs. d~~(il:ilic(l. ncgruoj, entre outros mais.
Vau Dijk (1997 I, por sua vez. define contexto como o conjunto de
todas as propriedades da sitll:!ção social que são sistematicamente rele-
vantes para a produção. compreensão ou funcionamento do discurso e de
suascslruturas.

Como se pode verificar a noção de contexto está no nmillx ('tI,!!e e


grande parte d:! pesquisa contemporânea sobre as relações en Te mgua-
gemo cultura e organização social. bem como sobre o estudo de como a
língua(gcm) é estruturada da forma como é.
A$P{CTOSCOG~nvOSOOPllOCtSSAMEIITOTU:ruAl

CAPiTULO 3

ASPECTOS COGNITIVOS DO
PROCESSAMENTO TEXTUAL

Ol1luno.lon~onosto.l;,JO:con'lrufrll\"no"'OmunOOalra,·t_.ua
eaperiência. c1:tS.~ifjçaç~o. memória c t~onhttimo:nlo in~s:;;tn-
tes (o. S"",h, Um al1lropdJog" em Mar!e)

A preocupação central das pesquisas na área de Cognição tem sido a

~::~~:~:~~~:~i~~P~:(~~~::~.~ (,7a l~~~;;!~~~a~,s ad~a~i~t~cea~r~:


questionamentos baslco~ c wurz, 992)~
I, De que conhecimento () ser humano precisa dispor para poder rea-
liznr tarefas tão complexas corno ~lL fular e.!!.ltiLsocialmente? ••...
2. Como este conhecimento está organizado e re~!ado na
memória?
3_ 01110este conhecimcnto é utilizado c que processos e estratégia!!
cogniti\'as são poetas em ação pnr ocasJ5õllõ uso?

Defen~(~t;1 (;~;~;~'~e
isto é, 011-1;1//'
:I~)~t~tl~r~;~~~:a;:~I~tl~rtl(\a:e~~:tr;:;~~~et:\:)
(cf. Rumelha~& ~'IcC1ellallJ, 1986: Mursfcn-Wilson, Levy
(~ªe~\::
&-'-Yl~: Dakhill &. Garnharn. 11)1)2, entre muitos outrosr. sem dei-
xar de reconhecer, porém, que existem hipóteses altcrnativns fones, den-
tro de quadros teóricos distintos daquele que aqui ndotn, em especial. a
hipótese da modularidade - exmrmrul e/ou processual - da mente, <luC
tem como principal representante Fodor (1983, 1985).
\" De qualquer maneira. há um~LJOS10
ll!:SVENOANOOOSSEGII!OOSOOlElTO

central (' comum às drias


teorias: o ue que a mente humana é um roc('SS:luor dC' in () la ',io O,
scja.cla~.~na.r~;1.tr:Jnsfurmac[ransll1itcinfunwl(;iiu;c
tal informação. hem como O~ processos corresrontl~erll ser estu-
dados como padrôc-, c manipu!aç;io de padrões.
De acordo com as teorias c1ás~icas em Ciência Cocníuv«. a cogni-

(y
ção é. baseada em modeles de in(orm:.,ç;in que. podem s~r Trpn:senwdos
por símbolos. os quais podem ser malllpulados ConseqüentemenTe. a.;~
~
quitetura dOImente é similar à dos computadores. Assim. o processamento
i~rlica ~ uso 11('regras ~xrÍí~iiã0illlas ,"ezes l'ógic;Js. dispostas em U~':l
hierarquia. que determina a mampulaçào de símbolos de lima maneira
~aUse9üenciall. Para Fodor c seus seguidores. a mente con'tiWi um
tipo cspccfficn de ~i~IÇJlIa:o de mrmipulaçãosimbóllca. que remtambém.
com{)caractcrístj~. larid;1I.1ec(lproccssamenlo.~eriar.Arnente
seria formada pu módulos . submódulos. cada um dos quais realizaria a
sua tarefa de forma screnre. rápida c obrigatória. como um reflexo.
<n&1~m6d111o.terminaria sua tarefa antes de passar o input ao módulo
segumtc.
~ ~~1I melhor. os vãríos conexionismos. porseuturno.
\ t'~ dfl~~~~lo.j:lqueasrcprl·~cnta-
• são disuibuúlus em unidades ncurrmais. Aalivaç50dc uma rede de
neurônios tspreod octivatiom se dj via entrada de um inflUI que Ie\'ará 11.

~~:-fn=~=~:!~~~~n~l~~~~~jl; ~,~,~~~;
que dependem de um processamento paralelo de subsrmbolos c que fazem
usode.propriedadeSeSLatlsticasemlll~ardc~ló~ ~lI1sfor_
ar a informação. Um neurônio poSSUIseis ropnedadcs funeio! 1.,bjsi·
as: J.éummec;misnlndeentrada(ilJf'IUJqucrC'Cc 'sinal,teseul'ntnr-
~ oe.dellulrosllcllnj.ni(>s:2.l;u~niíiITani'nI(lintcgrad"r ': '1llc~~
~J!jIl:J.eummecaOls!l1o~lor.4I1elrallmlltcarnf(lrma-
ç5 integrada: 4,.é um mecanisn1oJcsaída~.4ueen\'ia i~rUmlJçiio
tIIT\t~neurônios 011ctlulas: 5. é um mccamsmo computacional. que
\ a i.a..1.U!..1
tipo de inruml~çii{) em ~1:.6. é UI~lm.ecaniSn10representa-
• ~dcSTinJd(làformJçiioiTi:repre.\.ClIlUçiíesllllcmaS. ---

V
) Uma evolução do cooexionismo é, entre OUTroS.o mndel~a~
quepartedaconl:cpçàodequeo~c~_utar.de~
é impossível separar claramente o ambiente e o sujeito. A cogniç:l~
é a representação de um mundo pré-dado por uma mente pré-dada. mas
sim a "enaclonação' (tl1uctrmtnt) de um mundo e de uma mente na base
"'V!:C10SCOGIIITlVOSDOl'!lOCrSSA.MtI{fOT!nu.o.t~,
f,",,-<,:-~
de uma hist6ria da variedade de açflCs que um ser executa rn:~u .
vcrcna. nl\11l111~\~n& Rosch (1992) põem a ênfase na noç:ioJc" naç:io"
segundo a qual a~ csmuura •• cognitivas emergem de padrões sens írio-
rno!nTcs3corbrcs que pn~~;biHtam llUC a ação seja pcrccpllIalmente
oricnl'l~a.jA.l!lcnlc humana é. portamo. "embodit'(r. de modo que pa-
drões dmflllHC<l\ agem Como os veicules c.••pacial e ternpcmhncnte es-
tendidos do" conteúdos rcprcscntacionais. Passa-se. pois. da vtsão de
que tais veículo, são estáticos, espacialmente locais c atemporaís. para
uma imagem de paur(")O,'s temporal c espacialmente estendidos como os
principais :l\ores IIc loda uma nO\":I economia imcma da mente (Clark,
1997). A 111l'IHepassa a ser vista apcna-, como um outro participante na
construção \.l'j ação situada. Procede dai o imperativo de se dar uma prl-

:::~~~:~;I~ri~:~~~:'i:I~~~~:;-~ :lil:~a~~;':I~:~~;;~~~:~s~~ã~::;er~~:*'
sim. observar mais profu1ll1amcnte os proccvxos tempowlrnenle estendi-
OL>\ue intcnucdeinm cérebro. corpo e mundo, que são dinâmicos e
)Teracil,nalll\('nlcdeler'ininml;-,s.- __

I De qualquer forma. um princípio Msico da Ciência Cognitiva é

rN!\~ ~~r::)~:~:~~í~~.:~~r:::.~I~e~~~1:t~~~~I~\
:~~I~:n~~\~ ~~::~r~J~a~~ll~e~:~:
minadu~ processos de tratamento, que possibilitam atividades cognitivas
bastante complexas. Isto porque o conhecimento não consiste apenas

~
em lima cokçãn estática de conteúdos de experiência, mas também em
habilidades para operar sobre tais coutcudos c utilizá-los imeraçfu)na
Conforme a hipótese aqui adorada, () "cognitivo" apresenta-se sob
a furrnu de rct.rrsentaçães (conhecimentos ostabülzndns na memória,
acompanhados das interpretações que lhes são as"ociadas) e tratumen-
IVS ou [or/llas ,fi- processamento da in[omwriio (proccs~()s voltados para
a ct~ção. como é o caso. por exemplo, dos processos
,'infrfllCl:11S,. ",~
/
..IV VPoJe_sc. assim, dizer que a mcmona opera en~,ment()s ou
'lI\! r""" _
. estoca 'em em que as infnrmaç[)es pcrcepti\'as são trcnsfonna-
da, em representa õcs mentais. :l~S(JCiatl:i~
:I outras;

~·.ãl)==t?m que se dá o nrrnazennmemo da~ representações:


;-reãli~ em que se opera. entre outras coisas, () reconheci.
mcmo a reprodução. o processamento textual.
IJ
d
;","""" m""óri. \
Uma U1lt~rc {íPaçrilo ~os\estudioSOS da cognição é distinguir o
que é visóriQ..e u que é ~nnancnte no funcionamento da memória.
~I Te -se P05IUI3dl.1.portanto. a existência de uma me",~ria.'l(' ("II~I~Jsim(l
"l(~ ermo ou memória de percepção. onde os estímulos vrsums. auditivos e
outros SãO.retidos por cerca de 250 ~ilésim~-.S...~e-Se&!ill.do:de. urna mrl~ó.

~
? ria de CUrlOlf'nno (MCT), de capacidade limitada. onde as informações
f t são mantidas durante um curto lapso de tempo; c de uma mcmárin de
;- longo termo (MLT). onde os conhecimentos são representados de forma
~ permanente.

vtt/~ ~a7::~~~
mcnto~~ i~~::r:;/~~~~:c~S~~r:~~
~:~~~~~:~c~~t~~~~:::i~~~sd~d~
tr'\.(..( pane delas seria codificada na MCT para, depois de submetidas a um ua-
;; 1-.p enquanto um registro permanente,

Cuntuúo, a concepção tradicional de ~'lcrcomo um ugar passi o


de estocagem de informaçôc~ vem sendo modernamcnte posta rn-ca6sll:
sugere-se que é posxívcl manter um certo número de unidades de informa- -
çâo na MCT_ cnquunro se rcuhzam, ao mesmo tempo, operações compre.

~ xas de aprendizagem. compreensão uu rcctocrnto.tsro se deve iI posslbili-


dade de a~çã~e transferência de unidades armazenadas na MLT para a
MCT. de mudo a permitir o tratamento d :)nmvnãÇãõbela presente para
posterior reenvio à ML T. Há, pois. um ontfnuo ir-e-vir e"'tre ambas as
memórias.
/.'I É também devido à necessidade de tratamento da infoonaçilo que

MY' \'~i chegand~ .(iIl:OITling) .q.u~se tem post.ul,adu a e)(i~tência de unta ~spé-
ele de lltemof/a. IIIler./IIedUlrW ~ a 1~~!!I.,QJI:J(Jcj(~.'t(Jl nu m~/t'

V~ .-/
Á
~
~\mrkll1g m('/lJ()')'). que faria a mediaçâc entrc a MCfc
operando de forma paralela aos processos co~sckntes, porém ~imitadcis
em termos de capacidade. da MCT. A memória de trabalho scna cnnsti,"
a MLT.

\~\
\~'\
{I\. : ~\
tufda de dois subsistemas. um destinado ao tratamento verbal, outro,1 ao ••
tratamento visuo-espacial. complementados por uma espécie de cxeculi_..
voccmrul. 11 ._
I
De toda forma, hoje em dia. a maior parte dos autores considera a 11
MCT corno uma espécie de recorte da MLT. que, em momento deleani_
nado, entra em estado de ativação,
Por ocasião do processamento. uma série de processos tem lugar. a
saber: seleção dos canais de informação da MCT; seleção. pela MCT. das
'~~~~Y~",~,~"nM' H

( ;ofonn"õe\l;."olo" moo",OO,'OOI;" de ;ofonn"õe, na MCT: busca,

l'
\ \1 na M~T, para levar a,u.ma eSlocagem mais elaborada do que aquela
om~c\(l~ pela Mel': atIVidades de raciocínio ou de soluçiio de problemas
, \ ~ q ImplIcam busca na MLT para posterior rccombinação com elementos
~'/\ da MCT c assim por diante.

ti ó...É!cil!ocia de n~u..l1ffiSamcl1lQ.Jiru::u~çào..repous3m
brc a ;~!uaçào cooj ma dos com
processamento
Dentes da memória, Assim sendo, o
textual envolve tanto a ativação e con'~iínelllos da MLT.
so-

como o conjunto de processos c()gniti\'o~ realizados por todos os compo-


nentes da memória. Isto é. paralelamente ao sistema da memória de curto
termo, que tem por função armazenar inforrueçôcs facilmente cvocã ..
em tempo determinado c, na maioria da.~ vezes, limitadas, opera :I
que s~ria Co~lO •.~~' dessa lIIel~lória. com o objetivo e
organtzur as mfonnaçocs para t amemo roste~. . ~

Natureza das representaçôes / . / t,~


Corn(~iP~~1LT~~i?Js~laSSifíCadasa.~repre_
scntaçÕCs"ii1l1ési~EIa.~ incorporam dois sistdmas de conhecimcnm turcto,
nalme~intos. de modo que se costuma fa'larem dois tipos de memória; IJ
I. memória emiilllica que abrange o conhecimento geral
(categorial) sobre o mv ndo as propcsiçêes acerca deste. Seria uma espé-
cie de thesaurus mental, no qual se inclui u léxico da língua. Poderíamos
citar como exemplos de conhecimentos deste tipo:
A fórmula da água é H.o.

2, memória ,'püárlicrI 011 t':cp~~ue c?ntém infonna~s


sobre vivências PCSSO,Ir.t\TTTla7:Cli,1t'l'lsodInJ. Isto e. eventos espácio-
temporalmente situados. portanto. sgW\'eilO-à~'-"Variaçücs..context~
No entanto. os dois tipos de conhecimento inrerngem coruinuamen,
te; utilizamos o conhecimento geral para de.sen\'ol\'er o c()~hecimcnto par-
ticular: este. por sua vez. pode levar à mo •.hfiea~ão ~ ampliação do ~onhe-
cimento geral. Além disso. representações epls6dl~'as d.:, conhecimento
podem, com li tempo, adquirir caráter caregorial. a medida .que se,vão
fazendo abstrações das circunstâncias CspáclO-tempo,rals.e particulares (c~.
modelos generulizados. van Dljk. 191\9). Poder-se-la ~Iler que conheci-
mento~ânticq e epis.Qd~itu~m-nOLpontos extrelllOs de Illl}
.cotrtinUIllI1 de reprcscntaç(~ conhecimento ..:..-...J

.c·f~~
t as representações ep~quanto as semânticas 5:10
~;:âl' s (ainda que se trate de episódios íntimos,ou de imagens mel~-
~ tgnaux. 1991: 2051. EI:L~apresentam, além dISSO.um carétcr mais
ou menos estanco. na medida em que descrevem "estados de coisas' ou
do sujeito. :OT issE;n,c iIUCI~l~h(",imentos decíarçtivos, em oposição
~ oos .conhcCllllent\ 'prun'dl~r~"s. que s:lo.~ais dinã~nicns. cr~\'oln:nd(l ca-
""\y pacidadcs pcrcepuv -cogruu~c"cogmll\'o·motrrzes. AS~lIn. enquanto
na munipulação do conhecimento declarativo intervêm. nece-cmamcntc.
o controle intencional c a aprendizagem. pode-se dizer que os conheci-
ment?~ procedurais são. er~~c parte. automatizados. /I, cOnl["l'l:tência

. ~~~~~~~1':~:~~11:~
~~~;~~~~~
cogmll\'a hU!llana..engl()b;;~) conhecimento declarativo (estrutural).

- ~~~:;::l~::n~~~o~~nstlluem pressupus-

W
·.Xonm::.'se. assim. que a memória deixa de ser vista como um nuxi-
-11 (). ~ ~~~h{'cimenlo. passando a ser considerada pane integrante dele. ou
f'V/ esmo como a f()nna,~e rodo o conhecimento: () conhecimentol\:tda mais
é que estruturas estabilizadas na memória de longo prazo que são utiliza-
UãSp:ml o reconhecimento, a compreensão de situJç(ICS e~ a
ação e a intcmção sociul. Tais conhecimentos (ou "saberes", são forma-

P
dos a partir de e~()\'isórios de conhecimento elaborados pela me-
mÓria oocracional e são resultado das nossas atividades de eonstnlçã~
sentido e interpretação de situações e eventos. Nestes termos é que se
pode falar de aq/lisi((;o ou con.rrru(t;o de conhecimentos.

§unldadescognitivaseestruturas9

Unidades elementares: conceitos

Conceitos silo unidades organizacionais que têm por função armare,


nar conhecimento sobre o mundo. Trata-sed~osistcmacognitiv()
(Schwarz. 1992: 84) que permitem a estocagem econômica e o tratamento
de unidades subjetivas de experiência. por meio da divisão da informação
em classes. com base em determinadas características (Cutcgurização da

cg
expcriência).~. ---- __ ,-- __ :-:-_--:-~
'f h~!!l';/II tem necessidade de ordenar n lIlundo à sua volta, ~ erga-
nizar u varre ãdi!1filusa de estlmuJ~ ~ctos u ares mvanames.
que, por sua vez, serão distributdos em classes de membros equivalentes.
Assim, i~d(" c ("q~a constituem princípios básicos de
As./'{CTOSCOC"'T!VOSD(lP'llOCESSAM!N10TEXTVAl.

~eGori7,aç.fuulQJllund.o..c..~obreo.mIlll.!!0. É o princípio da idcn-


tidadc que nos permite reconhecer um objeto. em diferentes momentos e
situações, COl1l0 lima só e a mesma entidade. O princípio da equivalência.
por sua vez. possjbillm reconhecer dois objetos. com base em suas pro-
pricdadcs comuns. corno dois exemplares ou instâncias de uma mesma
classe.
O reconhecimento de objetos idênticos e equivalentes é possibilita-
do pelos conceitos armazenados na MLT. Os conceitos que encerram in-
formações sobre classes de objetos estabelecem categorias ou "conceitos-
ti~·)..ao p~ue aqueles que representam objetos individuais 550 "con-

cell~~o~~:~~\~~~Sd~~~~~:~"mentais que realizam abstrações


a partir dos exemplares individuais e deles extraem as cnracterrsucas co-

Modemarncnre. os conceitos deixaram de ser vistos como unidades


hem definidas c claramente distintas urnas das outras. para serem conside-
rados u~cs...lk~rrescntacfuLflc;1l;f\ieis. estudadas nas teorias de protó-
t~s e esteTl:óti.ros. S50. portanto. fundamentais para explicar os proces-
sos de aprendizagem e compreensão humanos. Com o passar do tempo.
passaram a ser vistos como altamente flexlvcls e dinâmicos. constantcmcn-
te atualizãvcis. islO é. p;Jssíwis de comPlt:!!~taçau..eLo.u rcfo~
A curacreriznção porprotôtipÔre;llil'1-se(Taylor. 1989: 41) por com-
paração c'o"'"iirm1rmodclo optimnl. que representa 11 exemplar protoupico,
cujos atributos s:1o considerados como propriedades acessíveis ,I
partir de
um conhecimento de mundo. O protótipo contém detalhes culturais. pro--
vindo o efeito de prorotfpicidade do grau de correspondência entre o mo-
delo c as silua,'ilcs reais (Klcibcr. 1990: l7.l). Sendo. pnis. o grau de cor-
rcspondência variável. () J:;TaUde pcrtcncimcruo a uma categoria é deter-
minado pela situação. de modo que os limites da categoria são fluidos
(Taylor. Il)X9: 51).

cstcreonpico.
Mondada & Dubois (1995: 278 e seguintes) postulan~abili.
dadcdasrda~Afirmall14ucascategorias
utilll.allas para descrever o mundu alteram-se tanto sincrônica quanto
diacmnlcnmcntc: quer nos discursos ordinários. qUI!T nos discursos cienu-
ficos, elas são plurais c mutáveis. antes de serem fixadas normativa ou
historicameme. Citam Sacks que, no quadro etnomctodolõgíco. propõe
estudar a cutegorixaçãn como um problema de decisão que se coloca aos
atores sociais, de Iormu que a questão não seria avaliar a adequação de um
rótulo "correio" para um objeto do mundo, mas descrever os procedimen-
tos lingüísticos e cognitivos por r ~s atores sociais se refe-
rem uns aos outros, por excmph carcgnrizamk alguém COI1\O "UI1\ \'C-
lho", "um banquclro". "um judeu" e .
Consideram Mondada c Dubois 0995: 279) que tais variações no
discurso poderiam ser interpretadas como dependendo muito mai.~da prag-
~ cnuncíução , ue da scmânricados objetos, Rebalem70nOldo, a
possibilidade de se pensar que, nesse cns . tes dcverlnm afetar mais os
objetos sociais que os objetos físicos. cuja semântica pudesse ser vista
como algo que escapa il ideologia, como mais precisa, estável. nu mesmo
ligada a valores verdadeiros: argumentam que os objetos sociais nãoc ons-
tituem um desvio da furina "normal" de referir, mas sim que é necessário
considerar a referência aos objetos do mundo físico c natural no seio de
uma concepção geral dos processos de catcgurizaçâo discursiva e cognitiva
tal corno são considerados nas práticas situadas dos sujeitos,
Mondada & Dubois apontam a Teoria dos Prol6tipos de Rnsch (1978)
como urna evolução em direção a urna perspectiva mais eculúgica. que
considera a organização do pcnsamcnfõ1i'ümano 1I10livada por rins
adaptativos, introduzindo fronteira.<1luiJ;is.,entre categorias no lugar de
decisões estanques de pertença catcgorinl. lsto porque. de acordo com Rosch
(1978: 36), "uma outra maneira de asscgurur n disnnrlvidade c a clarcz .•1
de categorias localizadas ao longo de um (.'cmt;mwm consiste em pensar
cada categoria em lermos de casos típicos. muito mais que em termos de
fronteiras".
Muitos outros autores, desde então, têm sublinhado o caráter vago
das categorias organizadas pela tipicalidade em protótipos, bem como sua
insmhifidade e flexibilidade através dos contextos e dos indivíduos.
Bursalou (1983: 214) retere-se à variabilidade de segml'ntaçêic,~ possíveis
do contínuo das experiências humanas. postulando que os sistemas
cognitivos humanos parecem punicularmcmc adaptados à construção de
tais calegnrills flexíveis, od "(Ir e üreis para fins práticos, dependendo
muito mais d•• multiplicidade de pontos de vista que os sujeitos exercem
sobre o mundo do que de restrições impostas pela m••tcrialidade destc.
Cita como exemplo o piano, que pode ser categorizado como um instru.,
mento music u[ no contexto de um concerto, bem como um móvel pesado
e incômodo no contexto de uma mudança, podendo-se. inclusive, imagi-
~SP[CTOS COGIo1TIVOS 00 f>R!XlSSlMnITO n~lVll

nar um contexto discursivo em que a referência ao piano percorra sucesst-


vamcntc uma e outra categoria,
Testes psicol(lgicns têm mostrado como SI.'d;í a recategorização por
meio da an;ifor<t em co-textos diferentes. Em um enunciado como "A ave
caminhava pelo quintal", é mais comum (l encadeamento com "a galinha"
do que com ··0 rouxinol", embora este seja _ sem quaisquer especificações
comcxtuais - mais tipicamente ave que a galinha (Roth & Shobcn. 1983:
349), É ~Crnd~I;11lte (l que ocorre com termos WIIlO ~g!WX'is. nesse
caso, scna nuus esperado encontrar um encadeamento com "a ave" do que
COI11"O mamífero".

No discurso. C01110 dcmonsrrum Mondada & Dubois. quer se trate de


objetos sociais. quer de objetos "naturais", aquilo que é habitualmente
considerado como um ponto estável de referência para a_~categorias pode
ser de-categorizado. tomado instável, evoluir soh o efeito de uma mudan-
ça de contexto ou de pontode vista,
Segundo Rosch (1978: 370).

(...) falar de protótipos t simplesmente uma ficção gramatical cômoda: o


que est:l verdadeiramente em jogo são julgamentos de pau de prctotip [,
cidade,

Mas se. estritamente falando. os protótipos ainda continuariam sen-


do construções psícclópica-, e individuais. a lcxiculização vai contribuir
para SU;1 ulterior cstahilizaçác. Isto é. os nom'Sr. como rónilos. corrcspon-
dcm aos protótipos e contribuem para sua csrabilizaçâu no fio dos proces-
sos discursivos, Prirucirnmcntc. correspondem a unidades lingüísticas dis-
cretas. que permitem uma dcscontextualiznçâo do protótipo segundo os
paradigmas disponíveis na língua. garantindo assim SU:l invariância ntrn-
vés do.~ contextos, Depois, porém. a nomeação do protótipo toma possfvel
seu compartilhamento p(lr inúmeros indivíduos através da comunicação
lingüfstica c faz dele um objeto snCi;llnl('nte distrih\líd~tahilizado nu
~tn..grupo..duujci1os, E. pois. este protótiiXl p;lMdhn(~ que evo-
luiuparJ\lm;lreprescntnçã(lcolctiva,q\le\'aic()nstlluir~
Verifica-se. assim. que us noções de prototipicidadc e de estercotipia
'êrn se aproximando mais c mais do concl'ito~~qucma~-(lu Ilw{]elos
soctocognluvos. isro é. das formas de representação dos conhecimentos
na memória pelos membros dos grupos socÍ;Jis, de acordo com suas prõtl-
cas culturais. suas atitudes rlJ~da~aS práticas e aos atores so-

~i~;~:~l\'~~(~~'~~~(~:;i~c~;(:~,:~;,;:~m~r~t~,~~elt:~~~::;~:~ee~~~~I~~
44 OfS\,(NOJ"NDOCSS[GR.EOO$(XLT~

po constitui parte intcoranlc do que se tem denomin:J~1IifãO sOciay


definida por Van Dijk (IW4, [1)<)7) como o sistema e cSlralégl;irM~~tru-=-
')..1/ turas mentais partilhada'; pelos membros de um grupo. particularmente
-/\ aquelas envolvidas na compreensão. prnduçflo ou rcpreseumção de "obje-
los" sociais tais corno situaçõcs. intemções. xrupos ou instimiçõcs.

falam~!:;/~:~:uUr~i~l.~~
mobilizam
::j:~~.~~~~
~:i~~l~l;~:~
c~~~~ q~~i:
~(>us saberes quer dC' ordem lingÜística. quer de ordem
socloc'ogniti\"L. nu .~eia, seu, m()(lC'!o'ide mundo. Estes. U!ÚJ.yja não são
~s. (rekonstrocrn_sc tanto .'iinCfúnica--Z:;;ll\).Jiarronicameo.rc. den-
tro das dl\"cJ';:l.s ccnas enullclauvas, de moo() que. no rnornCnTOem 1!üi.'SC

(Ir ~s~~~ril\I::~~~~l~~~~JI~~~dot,~~:;i-:~t~~~\~;~~~~cl~;~~~~~t:;~c~
~L'l11rll da~ eontingência_~histórieas. para que sc possa proceder aos
,

encadeamentos diSCUrsiVos.

dades rganizacionaiS~:OS Wmodelos·

Trata-se. pois. de objetos complexos, que reagrupam objcros clcmcn-


tares (conceitos. rclaçôcx, modos de nçno ctc.j L' 'IUL'tõm recebido dcno-
mina-to "a~(eomOUSCmtlifcrCn\'a.StlCUnl~'1 - ·d!~all.cn!rcas
u 's csqUCJlla~ Ianlen, J9]1; Rumelh. IJXOI[remes ( finsky, 1975);
cc rio~ toan ord & Gnrrod. 1985) scnpts Schan - . Abclson. 1(77);
M.O.Ps (Schank. 19R2); modelos mcn :II~ tfohnson-l.ainí, 198]}: modc-
los cxpcncuciui-, cpi-ódicos ou de situação (\':111 Dijk. 1989. 19(7).
Os modelos são. pois. estruturas complexas de conhecimem.e. que
reprcscnuuu as exp(:riêru:ia'; que vivcnciamos em sociedade e que servem
de baSC~at" )Ce~_••os conceituais. Siio frcqül'lI1el11cnte rcpre~entadu~ em
forma c rcd -.,nas quais as unidades conceituais sâo concebidas como
vari;jwh-.\ .i/,JK)Jue denotam .e<lfa:lcríslica~ ~_~lcreolípieas c que, du-
rante os prlJ:9:;.Ssu<de comprecnsao. sao preenchidas com valores concn--
lOS (fí1l/'fl'I.

Assim. por ocasião do processamento da informação. selecionam-se


O~rIllllljUd:t dos quais o atual estado de coisas pode ser inter.
ASP1'('T05COGMHVO$OOP!\OC[S$.W[h'TOT[lIVlL

prelado, As unidades não--ex lícitas no !ex silo illfailll do respectivo

~~~~~;cd:ra
csterconpica.
~~e~~
~~~~~:~~~:imt/~a 1.........:../
o:mse;~.n~ri~~~~~~~:II;:

A concepção elt.~ofrcu também altcruções com o


pass~r elo ,tempo, Devido ,UI grande incremento que teve no interior da
lntcfigêncin Artificial, o modelo foi visto a princípio como algo fixo. cstã-

co
( i. ti~O'.rígido. pu.ucn ade~u:ld(), pl.lnant.{},para explicar os prucessos de apren-
~~Clll e comprecnsuo humanos. Com o passar do tempo. passarJ.m a ser
s~ erad~~ a,liamente fleXíWisedmâm. icos. consranrcmcntc atualizãveis.
.I,lI.lí_ e P;\SSl\'eIS ele complementação cloll rcformulação. --
t-" ls modelos constituem, pois, Ctl11JUnlOS de conhecimentos scclocul-
11 ~ ~\1raln.1C,nte detenninado.~ e vivencialmcntc ,adquiridos, que contêm tanto
i\ rv
r ~
-nnentos (Irdtlmtn'{!l...sohrc cenas, situações c eventos, como co-

~l
IrClllll'I~I{)S I~' sobre c.'om,o,a!-'ircm situações particulares c rea-

~
lzar
atividadcc específicas, S;1o, inicialmente. ~s Uá que resul-
-y1'- um d~s experiências do dia-a,-(~la)Jc:c,:mill~do,~ 'CS'ii3cio-t,emporalme,I~le,
: por~lU-:ado~ll>l-mcmo[l~~Cpc;ódlca, ~pós uma série de expcncn-
( ~ mesmo tipo. lais rnodclcé \'ã(l'~eJYrnando generalizados. com abs-
tração das circunstâncias paniculare'SCSpceíficas (Van Djjk, 1989J c, quan-
do similares aos dos demais membros de um grupo, passam a fazer pane
da lllelT\(íri" semântica, "'--'---..:..---0

~""""m'"tol",",1

• Consoante o ponto de vista por nós adotado, o ~cssamento lexlUal


, é estratégico. ou seja, realiza-se através ,~o, uso ,de estraté ias d em,
.vm-~, Truta-se. segundo un DIJI.:& Kimsch (1983). de estraté-
/) 'gl:lS de tipo procedl1li,11. isto é,l·,~tratégi"s de l~pOS tlc co-
nhecimcmnquc n-mos unnnzcnados na memória,
~OI1(lll\'ClImtc.'(Io,cons-
trói-sc. na III('IIU',ri:1 episódica. uma /'t'I"'t'S"lIfll<,",io 1l',ffllIIl (RT), definida
em lermos de concciu» e pmposiçôcs. Adicionalmente a essa representa-

.* :;::::::~":,~~:::~i::~?~:::':,;~:~~~;:,:2~~,~::~~
~ ção mental do texto. concrrúi.sc 1I111111"ddo t'f'i,fI,dil'(> ou dr ,\'iflla\,,10 ,MS)
~ sobre o qual o texto vorsa. Para tanto, é preciso ativar na memória nossos

'~~:~':;i~:~~~~
tuaçào a que o leXIO se refere, Assim. uma teoria sociocognitiva da ('0111-
prcensão não pode prescindir da noção de modelo de situação (ou modelo
episódico'). Os textos. em última análise .. são coerentes em relação aots)
modclo(s): se os usuários forem capazes de construir ou recuperar na me-
mória um modelo satisfatório. eles dirão que entenderam o texto e que o
texto é coerente. Compreensão e coerência são, desta forma. sJJbjc.fu:as c
~ A cada vivência do mesmo tipo de situação - ou a cada leilUraI
conversa sobre ela - nossos modelos são atualizados erou rcfonnul~ldos.
o que vai implicar o crescimento de nosso conhecimento episódico. Mas,
enquanto as representações são relativamente semelhantes para os vãrios
reitores/ouvintes. os modelos construídos li partir do texto são diferentes.
porque na sue-construção interferem nossas convicções. crenças. aruudes
diante.~ilu:fÇãO apresentada no texto. bem como todos os nossos eonhc-
~~~;~~~:~:~:n~~:~~!~~~tli.VO. quer de tlpo episôdicc. mobili-

São osJ;x1elos de siwaç~uc. segundo van Dijk (1988):


1. fornecem a base referencial (cxlralingUística) para os processos
referenciais [remissão ou cnrreferência textual), conforme será visto mais
adiante. Cognitivamente. a referência é relativa a um modelo de situação:

cita o~' ~~;s7~~~;;ar~~~;x~~J~t~dã:d~~~~~~~~I~~n~~~


partilhados com o interlocutor que nos permitem deixar implfcita a infor-
mação que consideramos conhecida. e o leitor geralmente é capaz. com
b~lil..si~ais lk impllcitudc presentes no texto (como, por exemplo. ar-
figos defiriIdos e outras marcas de pressuposição). de reconstitUIr, por
inferenciaçiiQ. os "elos faltantes". estahe1rc~nJo as ne.cessárias pontes entre
mformaç:H1'cxplicitamente veiculada e informação impllcirada:
J. fornecem infnrmuçõcs importantes sobre a ordenação temporal ou -c,
condicional dos fatos em cada situação. bem corno sobre faros e catego-
rias não-expressas no texto. mas por ele pressupostos:
4. n~. fornecem o ponto de partida para a construção do
plano semiintieo do texto; na compreensão. são o referencial básico para a
construção da coerência; ~
5. permitem. ainda. explicar como se dá a aquisição e o uso de co-
nhecimenws (episódicos). a compreensão e a recordação de textos. a pro-
dução de resumos. bem como a subjetividade na co~stm~ãn.do sentid~.
-...J Dizer que o processamento textual é estratégico significa que os
usuários da lfngua realizam assos inte retativos istic3mente orien-
(
~"~"_'~"""'M' .,

I ~~O~~I~~:;:l::~~;~;~:I;t~~:~.I~acn~;;Sn~li~~:l
~~s, efetivos. eficientes, fle:dveis, em vário _fl(vers simultaneamente"
(\ an Dijk. 198~). proces,sando a informação n.lin~;;f~lemos pequc~os

~ ~~~~~~~~:~
texto SIIOs('(!Ücntc, rcallz:unos operações de reirucrpretaçãe ou outrasope-
rações de "xcluçâo de probrcrnas''

Postula Van Dijk que palavras, grupos de palavras. orações e frases


s;10 cSI~.Jtcgicamcntc analisadas c interpre{ada.~ fli! ~lclI\ória de cun0.J!:.:
~ mlcrprctaçtlCs resultantes - a~ndu provis6nas _ são representa-
das sob a forma de esquemas pruposicionntc, que podem ser relacionados
por meio de processos cstTutégicOS.de estabelecimento da coerência local,
) scando.s . por exemplo. cx~õcs COITcrcrcnciais. articuladurcs rex-
I~is, 11,' o,~do mesmo campo l.cxlCã! etc. No início da leíüi"rãõi:J~
v /~I o~recCr(jue amua não tenhamos presente na memória

1..\
'1."'(1
\,1\
~ ;?:i'~,n~~I~~I~;~~ ~~~e ql~; ~~II;~~i::lf;~7tl~a~~~)lld~I~:~~lt~~ltt~'r
:1~al:I;:~~~
~!.yl!lhw;.flC~ sohrc os ~,ssí\"CIS tópicos ou referentes a .,~rem ene~nt~ados
no texto. ISh' vai permitir a recupcra~iÍt,de modelos de ~llu:l(•.ôcs similares
e a instancwção de/rilmes nu scripts .~llCiais, de modo (IUCa infurrnnção
d (/

~~~e~:~:~~~d;r;;~:~~n~;e;su::~;c~::,~ ~~~:~~re~~~~~~~~~;\e~,l~I~I~a 1I(


mcntar especificar melhor ou modificar, quando nccessãríe, essa esrruru '~
ra hipotética ~

Van DIJk sugere a existência de um sistema de controle global que~


mcrutora () fluxo du infurnmçào entre ,I MCT e a l\ILT Já que como vS) J~
.!!lill......a.J-,1CLtcm-1:"ltp rcidadc limitada de forma que os conteúdos ncki \
uucrprctados ncccssuum conunu uucutc scr sum trizndos c tr.ll\'ifcndos para
me~lón,1 erlS~C I onde grudu rlmcntc vat ser Ctln~trUlda a representa
9 q'v
~
ão rcxtu 1I DC5t.1 forma cad I cadeia l processada C"lchcamcntt: e coY>c
a em seguida na posição udcqu 111I (macro ou nucroj no mtenor da RT,
F).
que tem uma orgumzaçâo hicrárquicn Sirnultane uncme o novn mi\lcki
que cstã sendo criado vai sendo especificado com a infonna(iiío da RT, O
que evidencia que a compreensão r dinâmica: os modelos fazem uso u:,
informação textual. ao mesmo tempo que esta é intcrprctnda com infor-
mação do modelo. É o sistema de controle global que monitura. tal'lbém,
a ativação e a aplicação dos modelos e scrípts,
Todos esses processos que fazem uso dos modelos de siluaçilo silo
controlados ~r lII()dd(l.~~lntu.J.::iill.l Dijk, 199-l). que
COntém os par;i~c\'antes da interação CO!~unicativa c do Contexto
sociaí. São estes modelos que definem (I relevância de cada discurso nos

modo corno
vários contextos c. portanto. também a atenção que lhe deve ser dada c o
a Informação deve ser processada. Além disso, pnnirulur-
mente ~;Lfala. esses, modelos li.!'contexto srl~.jCOS .pcnn;mCJltcmcn.-
te atualizados com informação efrl'tIlJllck novos.
/W .
~
Os modelos de I:.OOIl')(IO são usados para mom.lorar eventos comuni-
couves. Eles representam 'lS mtcnçõcs. propósitos. objetivos. pcrspecu-
vaso expectativas. opiniões c outras crenças dos Interlocutores sobre a
interação ('111CIlr.~Onu sobre o texto que está sendo lido ou escrito. bem
como sobre propriedades do contexto tais como tempo. lugar. circunvân-

alUe~1f<i'"":t.rea!izaçàO
elas. condições. objetos e outros fatores vituacionais que possam ser relc-
adequada do discurso (vnn Dijk. 1Y4-1: 6), São

~ tton':d'~\:~sC~~~7::~o~~~~~~.n:~~:::~:i:i~:~~;:~~~,~;~r::;~~~:
ções
lütivo aos gêllero~ textuais e sua adequação aos múltiplos tipo- Lk situa-
quotidiana

l
sociais. Eles são ";1 conunua e 'aplicação' à siw;l\ào co-
lUnk:Ui\':1 em curso de uma teoria rudimentar e ingênua da comunicação
da interação' (199-1: 11). tendo um papel crucial nn produção e com-
ccnsâo d()~ textos.

~emaSdeconheclmentoaceSSlldO$porOCaSjàOdOprocessamentotextual

~ - Pode-se dízcr quc. par<! o proccssamcnuuc.xtu:ll. concorrem três grun-


dcs sistemas de conhecimento: () lingüístico, tJ ••• ncidop<idicoc_u;inll:'r.t_
~.lIcincmann& viehwegcr. I <)I}I).
{I '- conhecimento linaüístico compr.eende." conhecin~ento grumarical
c }rlexiclll. sendo o responsável pela uniculação som-sentido. É ele () rcs-
pous.ivcl. por exemplo. pela nrgnnizaçâo do ruatcriallingüfxtico na
super-
ffcic textual. p<.'louso dos I11C~ISCflt!SÍI'OS que :1 língua nos põeà dispoxi-

;:~~~~~:;;~~~ ~~~11~1
r~:;::;'~I~~~~J\~:~~i~::~~li~~\~:)~c::~\~~j
~.la ~elcção 1cxical

(1
L f.
"'7 O conhecimento enciclopédico ou conhecimento de mundo é aquele
.• 1 ql;;<e erlTIffifrr~aml;t7.en'.ld~C'·longcn~~ dcno-

l- r ~
f'1f;tca"nad3 semântica ou social.
?~nlo ~oci(linterJcion:l!ên'conhecimenlO sobre as açflCS-

globu os ~()n.hecimcnlOs
, rhaIS,Jstoc.sohre;\s~l11e~vésd3Iingu3gem.En-
do'lirrn-t~:ll.~~<ll.
mct3c~~at,v\J e supcrcstruturnl. /"
o conhecimento ilocucional permite reconhecer os objetivos ou pro-
pósitos que um falante. em dada situação de interação. pretende atingir.
Trata-se de conhecimentos sobre os tipos d,' WOJ de [ala, que costumam
ser verbalizados por meio de enunciuções carucrcnsricac. embora seja tam-
1x!11IFrequente a sua realização por vias indiretas. (I que exige dos inter-
locutores o conhecimento uccessár!o para a cupmção do objetivo
ilocucional.
O conhecimento comunicacional é aquele que diz respeito, por exem-
plo. 11;;nonnus gerais da comunicação humana. corno as...má:rull:LS dcscritij,S
por Gricc (1975); à quantidade de informação necessária numa situação
concreta para que (1 parceiro seja capaz de reconstruir (1 objetivo do produ-
IOf do texto: à seleção du varinmc lingfilsticn adequada a cada ~i(l1açii() de
intcruçâo e ~ adequação dos tipos de texto às situações comunicnuvas.
O conhecimento mctacornunicativo permite ao produtor do texto
e\'it:!rpcrlm~açiiooll sanar çan-ltne ou (/
ptls/aiu";) conflitos efetivamente ocorridos pnr meio da introdução, no
texto. de sinais de uniculuçâo ou apoios textuais. e pela reali/.uçi\o de ati-
vid.ulcs especificas de formuluçâo ou conurução textual. Trate-se do co-
nhecimento sobre os vários tipos de ,u;fx-s lingUistic:ls que. de certa forma.
permitem ao locutor assegurar a elllli]1CCitS:w cI te. I • cun-ccguir a ucci-
mção. pelo parceiro. dos objetivos COI1l que é produzido. mcnltorando com
elas o fluxo verbal.
O conhecimento supcrestrtlmr'L1. istn é. sobre esquemas textuais. per-
mite reconhecer textos como c~cs udcquados :lOS diversos eventos
da vida social: envolve. também. conhecimentos sobre as macrocatel.'orias
0\1 unidades glohais que distinguem o~ vários tipos de textos. sobre a sua
ordcrmçâo ou sequencia\·Jo. bem corno sobre a conexão entre objetivos c
estruturas textuais gfobais.
Salientam, ainda. os autores que. a cada um des~i:>t~~ de co-
nhecimento. cnrrespnnde um conhecimento cspo..}ificT0"ohre ~'n!:l~colocá-

~::'~:;~;:'~;i~:::,:~'~,~:~',~'~:,',';:i.i~::~;:::::
funciona como unia C'I~cil' de "sistema de controle" dos demais siste-
mas. no ccmido de aJ'lpt;i-ln, nu adequá-los às neccssidad •.•. ~ dos inter-
locutores no momento da interação. Tal ronhccuucuto engloba. também.
o saber sobre as pr;ítje:\s fX'culiarcs au lllei.) sociocuhur.LI e111que \"i\'<'111
os íntcrucrurucs. bem corno n domínio das estratégia~ de iurcruçâo. como
1~'açiO(i;s faces. representação positiva do sel], I}olidez. negocia-
ção, atribuição de causas u mal-entendidos ou fracassos na comunicação.
entre outras. Concretiza-se através de estratégias de processamento rex-
tual. de ordem cognitiva. socicintcracionnl c textual. ,..-
N:l acepção de van Diji.: & Kintsch (1983: 65). como \'imo~o
processamento cognitivo de um texto consiste de diferentes estratégias
{jj>roccssuals. entcnJc~o.sc estratégia COIllO 11111(1 in.ç/rurÜo f.:fobal para
/~. . da ('JCOII.U/ (l ser [cita no curso da (/r~Tais CSlratégia.s consistem em
~
hipóteses operacionais eficazes sobre a estrutura e o significado de um

\
VW fragmento de texto ou de um texto inteiro. Falar em processamento estru-
-)/' tégíco ~jl!mfica dizer que os usuários da línguarcalililnl MI.llllllancamcnt.c

::~,\·~~:~~:~~.l·~~~~si.n:~;::~~t:~sv~s ~~I;~:,~~~~~~en~~~rt~~lr~~a~~~~f~~
quencs cortes no material "cntranrc" (illcomin,d, podendo UTilizar somen-
te informação ainda incompleta para chegara uma (hipótese de) inrcrprc-
tação. Em outras palavras, a infonllação é process;\d~
lJIuális.~~ica depende não só dc_c~ticas..lexlUais.co_'!10
também~e~.c1erí:;ticas..dU!i~aiscomo.~-
f""'( ~fu:;.~e conhccimcruodc mundo. quer se trate dccunhecimento
!0.\...d~\ de tipo episódico. quer (lo eon!~mais geral e abstrato. Desta for-

P
ma. as estratégias cognitivas .consistem em cstratéKia.f de uso do conheci-
mento. E es.~e uso. em cada situação. depende dos objetivos do usuário. da
quantidade de conhecimento disponível a partir do texto e do contexto.
bem COIII\Ide suas S!f!!ça." ~s e a~ u que toma possfvcl. no
momento da compreensão. reconstruir não somente o sentido intenciona-
do pelo produtor do texto. mas também outros sentidos, não-previstos nu
. mesmo não-desejados pelo produtor.
Pode-se dizer que as estratégias cognitivas. em sentido restrito. são
aquelas que consistem na execução de algum '~1culo mental" por parte
/. dos interlocutores. Exelllpl~) prototlpico silo Ilt~nferên~ia~.ye. ronfnrm.e
(,.~ &"1)1I0Santeriormente. pcnnucm gerar III~U~lI1:.tÇao s.c:,l11:.tn'):1
nova a part.lr
daquela dada. em certo. contexto. Sendo ti U1fonn~dos dwerso.s nrv.e~s
apenas em parte explicitada no texto. fica;Wõ:"'pôl~. a lmuor.p'lnc l111pllCI-
~ ta, as inferências constitucm estratégias cognitivas por mero das quais o
ouvinte ou leitor. punindo da informação veiculada pelo tCX{(Jc 1c\";111do
em conta (JJ:.QIlt~(em sentido amplo). constrói n~escnl,,~·rlC.~
mentais c/ou estabelece uma ponte entre segmentos textuais. ou entre in-
formação explícita e infoTllla\'ão não explicitada no texto.
As estratégias de ordem cognitiva têm. assim. a função de ~rmitir
ou facilitar o processamento textual. quer em temlOs de produçao. quer
A5ft:C10SCOGN1IJVOSOOf'flOClSSAIotE"IOIEH\JAl

em termos de compreensão. A&lraIf!'ias interJ.cio;Wpor sua '·1'1., ,·i·


-snrrre-razer t.'om-qíiCô"SJõgos de linguagem transcorram sem problemas.
evitando o Irncasso da imera\'[jn. o-
Truta-se aqui d ':I1,! 'ias sociocultur:tlmcntc dctenninada. que
visam a e~tahckecr. manter e levar a III u umu In cruçun verbal.
Entre elas. podem-se mencionar. além daquelas relacionadas iI realização
dos diversos tipos de aios de fala, as cstratégia.~ ~(lr~çJº-das facc~
~t) elou de ~resentaç~o. positiva ~if. (~C cn~ol~' 11o us~ d~.~ (
ljomuudl' /I~j asttr3te~sde Il(.ll;~; d{!!egocla . :llribU." ~ .

~~~~~~o:u~n~~~~t'~l:~iI~;~~~,eX::r~lt~a~~~~;;~::~ ;~~~r~c~~n~;~fV-
c cognitivas em sentido lato _ dizem respeito às escolhas textuais que os
interlocutores realizam, tende em vista a produção de determinados senti-
dos e que serão objeto de estudo na segunda pane desta ohra.
os GflOElIOS DO OI'SCURSO

CAPiTULO 4

OS GÊNEROS DO DISCURSO

A co~a sociocomunicativa dosJalanteslQuvintes leva-os à


detecção do ~1L1n:lllequado_cm_caLla u;;:;;- d~as
~~sa competência leva ainda à diferenciação de dercrminudos gê-
ncros de textos. como saber se se está perante uma anedota. UI~--1!}i.I.
um cuígma. uma exptlcação. uma conversa teleft"íri1Cãctc.Há o conheci-
~Jo menos intuitivo, de estratégias de cons~ruçã(l c interpretação
de um texto. A competência textual de um falante permite-lhe. ainda. ave-
riguar se em um texto predominam seqüéncias de caráter narrativo. des-
critiV(l,CXpositivoc/oua~l. Nii~jficil:-n1t"tll!tiorparte
lIos casos, ãiS'iírígUir um horo~opo de uma anedota ou carta familiar. bem
como. por outro lado, UIII texto real de um texto Fabricado, um texto de
opinião de um texto predominantemente informativo e assim por diante.
O comacto com os textos da vida quotidiana, como an~ncio.~, ~
de toda II ordem, artigos dI.'jornais, ca~ál~~, .rc,"e~las médlca.~, prospec-
los, guias turísticos. Jil~tura de iLI!ciõ1lm~çjiUJle.máquin~
CiCilila ~(/parida(k meunexruat panr a construção e intelecção de
textos
Bakhrin J 1953] ([992: 179) escreve:

Todas as esferas da atividade humana, por m:li~ variadas que sejam, estão
relaci()nadase~Ü1..aç~ua.N~oédc~urprcenderqlLeocar;iter
c os modos dessa utibzação sejam tão variados como ao,próprias esferas da
arlvidadc humana (...). O enunciado refiNe as condiçücs especificas c a.~
finalidades de cada urna dessas esferas, n30 só por seu conteúdo temârico e
por seu estilo verbal. nu seja, pela seleção operada nos recursos da trngua
- recursos lcxicais. Irasenlõgicos e gramaticais _ mas também, e sobre-
tudo, por ~U~ construção composicional.

Assim sendo, todos os nossos enunciados sc baseiam em formas-


padrão e relativamente cstávei~{TU~raçiío de um todo.
Tais formas constituem ~)'liP()S. relativamente estáveis de
enunciados". lIliLrC<ldllSsócio-historicamente. VIsto que estão diretamente
relacionados às diferentes siluaçoes sociais. É cada uma dessas situações
que determina. pois. um gênero, com carnctcrtsticas temáticas, cOI11JXIsi.
cionnls c estilísticas préprins. Sendo as esferas de utilização da língua

~;;~~~l;~~~~~:~~~:l:~~t~S~~~~~:II:~~~o o~ C~-;idi<l:~~~~~::~l~~)~~
esta razão. Bakhtln distingue os gêneros primários dos secundários. En-
quanto os primeiros (diálogo. carta. situações de interação face a face) são
consutufdos cm situaçlloCs de comunicação ligadas a esferas sociais cou-

~~~~~a~e er~;a~~oc~~:~~~~~::sd:e~~t~~~;iÍ~\~~:~~i~I~~~~~ :;;:~a~l~~~~Jàs


~erita e apresentando uma forma composicinnal monolojiizuda. nb-
sOTVendll,JXlis. c transmutandoos gêneros primários.
É importante assinalar. contudo. que a concepção de gênero de
Bakhun não é estática. como poderia parecer à primeira vista. Pelo comrã-
rio. como qualquer outro produto social. os gêneros estilo sujeitos a mu-
danças, decorrentes não SI' das transformações sociais. como oriundas de
novos procedimentos de organização e acabamento da arquitetura verbal.
como também de modificações do lugar atribuído ao ouvinte.
De:~t<lforma. em tennos bakhrinianos, \I~~e ser assim
curactcrfzudo: ~
• são tipos relativamente estáveis de enunciados presentes em cada
esfera de troca: os gêneros possuem uma forma de composiçilo,
um plano composicicnal:
• além du plano com posicional. distinguem-se pelo conteúdo
temático c pclo estilo:
• trata-se de entidades escolhidas tendo em vista as esferas de ne-
cessuladc temática, o conjunto dos participantes e a vontade
enuncuuiva ou intenção do locutor.
Schneuwly (1994) aponta que, nessa concepção, encontram-se os
elementos centrais caracterizadores de uma atividade humana: o sujeito.
OSGtI;U.')SDOOISClRtSQ 55

a :lçã~~SegUndOCIC, gên;:)) pode ser considerado como


ferrah~~IL;:~~-nícdid:l em que um ~ o enunciador -age discur-
vivamente numa situação definida a ação - por uma série de parü-
metros. com a ajuda de um instnn coto scmiótico _ o gênero. A esco-
lha do gênero se dá em função do, purámctros da situaçâo que guiam a
ação c estabelecem a relação meio-fim. que é a estrutura básica de uma
atividade mediada.
~ senvol\"c a metáfora do gênero como "meg~strurm.nIQ.·.
consntutdo de vários su sistemas semióticos. para agir em situações de
linguagem. A construção de esquemas de utilização dos gêneros levaria à
possihilid;ule de adaptá-los a cada situação particular. ao mesmo tempo
que prefiguraria 3S ações lingüísticas possíveis. Entende o domínio
(maestria) do gênero como o próprio domínio da situnçáo comunicativa,
domínio este que se pode dar através do ensino das capacidades de lingua-
gem, isto é. pelo ensino das aptidões exigidas para a produçüo de um gê-
nero determinado. O ensino dos gêneros seria. pois, uma forma concreta
de dar poder de atuação aos edncadorce e, por decorrência, aos seus
educandos. I,to porque a maestria textual requer - muito mais que os
outros tipos de maestria - a intervenção ativa de formadores e o descri-
volvímcnto de uma didática específica.
Scguruh Hronckun (199-1), uma uçno de Iingungcm exige do agente
produtor uma série de decisões. que ele necessita ter competência para
executar. Tais decisflC" referem-se. em primeiro lugar, à escolh:t...iliu~-

~~~:~~~\'~~~(~~~~)~n;:~~tr,~~~I~~e~~:it~~~i~,~'l~::\·1::~c~,rc:;~~~:::::~~:;,),I::~11~ltl:~:.O~
seleção de mcc.mi-mo-, de texrualizaçào e de mecunicmo-, cnunciativos.
Oag('rul' produtor escolhe no imcncxto o gêneTO que lhe parece ade-
quado. U intl"r1cx\(l c l"H1s1ituidu ~unt<, dc g~·ilcrutik.J.<!Xln.~labo:...
rudes por ~eral,'("\:s :lnteri(lre~ e lIe pedem ~l'r uti1i/ados r1urn;, sima fto
"vspccr teu. com evcntuai, trnnsformn -õc-; Esses gêneros. formados por
conjuntos -m dcflnidos de tcxtO\. ,I par de outrns mais "nebulo~lh'·. cons.
tnucm uma espécie de "'re".'rvat6rio de modcluv tc ctuui-,", portadores de
valores J(. u-,o determill:ll]O\ em uma certa formação so c.ial. A c~ctllha do
gênero é. pois. llIl!~_EE.fi~.ãí,Li.:~trat8;ka. que envolve urna cllnfrorttaç50
entre os valores atribuídos pelo :J~ente produtor "<h parâmetros da situa-
ç50 (mundos físico e socinssubjclivo) e os usos atribuídos aus g('neros do
tnrcrtcxtc. A escolha do gênero deverá. como foi dito. levar em conta os
objetivos visados, o lugar social e os papéis dos participantes. Além disso.
o agente deverá adaptar o modelo do gênero a seus valores particulares,
OlSVI'NOltlOOO$S!GII(I)()SOOTOClO

adotando um estilo próprio. ou mesmo contribuindo para a constante trans-


formação dos modelos.

Schneuwly & Dolz (s.d.) desenvolvem a idéia de que ti gênero é


utili7-ado como meio de aniculaçào entre as práticas sociais e os ohjetos
escolares. particulnrmeme no que diz respeito :10 ensino da produção e
compreensão de textos. escritos nu orais. Definindo.se atividade como
um sistema de ações. uma ação de linguupcm consiste em produzir, com-
preendcr. interpretar c/ou memorizar UIII conjunto urganizado de enuncia-
dos orais ou escritos. isto é, um texto. A par disso. roda ação linguagcira
implica diferentes capacidades da pane do sujeito: de adaptar-se à_~ cnrac-
teristicas do contexto c do referente (capacidades de ação). de mobilizar
modelos discursivos (capacidades discursivas) c de dominar as operações
psicnlingü!sticas e as unidades lingüísticas (capacidades lingüístico-
discursivas}.
O problema, portanto. é sabcreomo se articulam 3..~diversas práticas
de linguagem com a atividade do aprendiz. Schneuwly & Doi z hipctetlzam
que é através dos gêneros - vistos como formas relativamente estaveís
tornadas pelos enunciados em situações habituais, entidades culturni s in-
termcdiárias «UI.' permitem estabilizar os elementos furmais c rituais das
práticas de linguagem - que essas práticas se "encarnam" na~ atividades
de aprendizagem. justamente em virtude de seu caráter inrcrrncdiário e
integrador. Por isso, eles são um termo de referência intennediário para a
aprendizagem. uma "mega-fcrramcntn" que fornece um suporte para a ati-
vidade nas situa\''-lCs de cmnunicação e uma referência para ns aprendizes.
De acordo com as postulações de Adam tcspcciatmeme. 1(93),
Schncuwly. Dolz e Hroncknn defendem que todo texto é formado de se-
qüências. esquemas 1ingüí.~ticm M~icos <[UC entram na constitui\'iio dos
divcrcos gêneros e variam menos em função das circunstâncias sociais.
Cabe ao produtur escothcr. dentre as seqüências disponíveis _ descritiva.
narrativa, injuntiva. explicauva. argumcmauva. dialogal - a que lhe pu-
rccer mais adequada. tendo em vista os parâmetros da situação.

Osgéneros na escola

A situação escolar apresenta uma particularidude: nela se opera uma


espécie de desdobramento que faz com que o gênero deixe de ser apenas
ferramenta dC:f9illUl!icilçfio. pa~s~n~o a .ser. ali mesmo tempo, objeto de
~/ap!cmhzaI:.!2!l. I'()dcm'~,e distinguir. na escola. scgundoSchneuwly
& Dolz. três maneiras principais de abordar li ensino da produção textual,
que, evidentemente, não aparecem em estado puro, sendo classificáveis
apenas em termos de dominância:
I. o !!êneTO torna-se uma pum forma lingüística e o objetivo é o seu
domínio: o f.tlo de o gêneffl continuar sendo urna forma particular de co-
rnunicaçâo entre professores e alunos não é absolutamente temarizndo e
os gêneros são estudados totalmente isolados dos parâmetros da situação
de comunicação. Scqüênclns estereotipadas balizam o avanço através das
séries escolares. CIO geral "descrição, narração. di~~enaçãu··. à:. quais. por
vezes. se acrescentam outros tipos, como (I resumo. a resenha. o diálogo.
A produção de textos é concebida como rcprcscmaçâo do real. exatamen-
te como ele é. ou do pensamento. ral corno é produzido. Por isso, os gêne-
ros devem-se ordenar segundo uma seqüência que vai daqueles que des-
crevem as realidades mais simples (dcscriçôes de objetos ou de eventos)
até as mais complexas. que descrevem o pensamento (disvertaçâo crc.).
Os gêneros são "naturalizados": sua forma não depende das práticas so-
ciais, mas são vistos como modelos socialmente valorizados de rcprescn-
ração do real 011do pensamento;
2. a escol:t é tomada CUffiO.3Utê.ntiCO lugar de comunicação e as si-
mações escolares como ocasiÜes dc_produ~·iio/n:cenç~xt()~. As oca-
sincs-de-pi'õÜuç!io de textos se multiplicam: na classe. entre classes. entre
escolas - texto livre. correspondência escolar. jornal da classe. da escola,
murais etc. Os gêneros são, portanto. resultado do próprio funcionamento
da comunicação escolar c sua especificidade é o resultado desse funciona-
mente. l-ti nrmbém uma naturalização. mas de outra ordem: a situação de
cnrnunicação é vista como geradora quase automática dn gênero. que não

~~~~:i;:le~~r~:~~~::;J(;.IJ~:J::~I;::~':'~~~~~:o~~~~~~I~)I;~~~d~
~dcpenJClií(J-snmenlc do processo interno de desenvolvimento;
3. nega-se a escola como lugar particular de comunicação. ou seja,
age-se como se houvesse continuidade absoluta entre o exterior da escola
c o seu interior. A preocupação predominante é a de divcrsiflrur a escrita.
de criar situações autênticas de cnmunicaçâo. de levar n aluno ao domínio
do gênero exatamente da forma l'IJlIIOfunciona nas práticas de linguagem
de referência. Ne.~te caso. torna-se lmpossfvcl pensar numa progressão.
pois é a necessidade de dominar situações dadas que está no ccnuo da
concepçüc.]ã que (l ensino visa. quase que imediatamente. ;10 dommio de
ferramentas ncccssarius P;IT::tfuncionar nestas pniucus.
A reavaliação dessas três abordagens, segundo os autores menciona-
dos. pode ser feita por meio de uma tomada de consciência do papel cen-
tral dos gêneros como objeto e ferramenta de trabalho para o desenvolvi-
mento da linguagem: toda introdução de um gênero na escola é o resulta-
do de uma decisão didática que visa a objetivos precisos de aprendizagem.
Estes objetivos são de dois tipos:
• levar li aluno....a_dUITlinar o gênero, primeiramente pura melhor
conhecê-lo ou aprec~hor saber compreendê-lo. pro-
duzi-lo na escola ou fora dela; para desenvolver capacidades que
ultrapassam fl gênero e são transferíveis para outros gêneros pró-
ximos nu distantes. Para realizar tais nnjetivos, torna-se nccessã-
ria uma transformação, 3U menos parcial. do gênero: simplifica-
çilo.ênfasccmdctcrminadasdimenStlcsetc.:
• colocar os alunos, ao mesmo tempo-em situ3çúcTtlCCtllnunicaçào
o mais pr{",imo possfvcl dns verdadeiras. que tenham para eles um
sentido. pera=que possam dominá-Ias como realmente silo. Isto
porque. corno foi dito. o gôncro, ao funcionar em um lugar social
diferente daquele que csti em SU3 origem. sofre neccv-ariamente
urna trunsformaçãupussamjo a gêncru:l aprenda, ainda que per-
maneça gênero para comunicar. Truta-se do desdobramento men-
cionado acima. que constitui o fator de cumplcxificaçào principal
dos gêneros na escola c de sua relação particular com as prátlcus
de linguagem: I) gênero trabalhado na escola é sempre uma varia-
ção do gênero de referência. construído na dinâmica do ensino/
aprendizagem. para funcionar numa instituição que o tem por ob·
jctivo primeiro.

Os modelosdid.iticos

Os pesquisadores da Faculdade de Psicologia c Ciências da Educa-


ç50 da Universidade de Genebra. entre os quais os acima citados. pro-
põem, p3ra (l t'lbino/al'rendi":lgern dos gént'rn~ nuescola. a elaboração de

~~f:::;:~~~~~~:~~,s~~ura.seeXPliCit3T

• por referência aos conhccuucuros dc especialistas:


• JXlfreferência às capacidades dos alunos. às Ilnalidades e objeu-
vos da escola. aos processes de ensinoJaprendi7.agem:
• por uma junção coerente desses conhecimentos em função dos oh-
jetivos visados.
Desta forma, um modelo didático apresenta duas grandes caractcrís-
ricas:
1. constitui uma síntese com objetivo prático. destinada a orientar as
intervençõcs dos professores;
2. evidencia as dimensões ensináveis a partir das quais as diversas
seqüências didáticas podem ser concebidas.
Assim. quanto mais precisa a definição das dimensões ensináveis de
um gênero. mais a seqüência didática facilitará a sua apropriação como
Irncgajinstrumemo c possibilitará o desenvolvimento de capacidades de
linguagem diversas a ele relacionada. Na medida em que o objeto de tra-
batho é descrito e explicado, etc se loma acessível a todos nas práticas
linguagciras de aprendizagem.

Dois tipos de gêneros escolares?

Há. ainda. uma questão interessante a levantar aqui. apontada por


Schneuwly e desenvolvida por Rojo (1998), sobre a existência de dois .'
tipos de gêneros escolares.
Oi7. Schncuwly que há gêneros escolares e gêneros escolares. Há
gêneros escolares que funeionam na escola para ensinar: trata-se do gêne-
TO escolar como instrumento de comunicação na instuuiçãe escolar. dos
quais a instituição necessita para poder funcionar. Ela. então. cria uma
série destes gêneros negras. explicações. exposições. instruções ctc.). que
devem funcionar porque. sem eles. a própria instituição não teria condi-
ções de funcionar. Scrlum os ghwm.f escolares t , que Rojo vai chamar de
gêneros escolares (propriamente ditos); e há os g,11lf'ms ".f("o/arrs 2, a que
Rujo denomina ghrrms escolarizados, que são objeto de cnsinoraprendl-
zagcm (gêneros secundáriue do discurso, transpostos para a sala de aula);
narração escolar -.descrição escolar. dissertação. Este rüürno seria o protó-
tipo por excelência desse tipo de gêneros, visto que é feito pura a escrita,
p:lra o ensino da escrita. para toda a escolaridade e não existe, evidente-
mente, foruda escola.
Os gêneros do primeiro tipo xão assimilados espontânea l' incons-
cientemente pelo aprendi/ .. pclu expo-içüo a essa-, práticas de linguagem
na situação de comunicação escolar. Se. ,hsegundos é que serão os objc-
tos de ensino/aprendizagem de que falamos uos itens anteriores.
Ressalta. também, no que foi dito acima, a "unificialidadc" de ce nos
gêneros escorares do segundo grupo, particularmente do que se costuma
chamar tmdicionnlmenre de dissertação E, como_l1_enJ~urnaclassificcçücé
estanque. tem-se a presença de determinadas sequcncms ou tipos textuais
em ambos os grupos, corno é o CõlSO da argumcnurção {"dn cxp!iclção.
Acredita-se. pois. corno também cnfanzam os Parâmetros Curricula-
res Nacionaix, que a discussão e a pesquisa sobre os gêneros poderá trazer
importantes contribuições para a mudança da forma de tr.rr.Imenlo.u,;t pro-
dução textual na escola.
CAPiTULO 5

TEXTO E HIPERTEXTO

Como nos demais capüclos. parto também aqui de uma hipótese


~ogni!b'a sobre a linguagem. vista. pois. corno urna j!livldade--
~'JLquc....l~cccs.sariamenle ti uma concepção processual da
construção do sentido.
Adotando esta linha de pensamento c levando em conta a concepção
de texto atualmente adotada pela Lingüística Textual, isto é. que todo te -
ro constituiuma pjjj . ",dese"!i os não cumumcosentido.
c <\UC todo texto é plurilincar na sua construção. er-se.ia;mi'm::rr-qur:
- pelo menus do ponto de vista da recepção todo texto é um hipertexto.
Pensemos. inicialmente. nos textos acadêmicos, po\'o tlo~e-ref~
rôncias, citações. notas de rodapé nu de final de capítulo. Temos aqui um
hipertexto. em que as chamadas p~ ... ~lIa~ ou as referências feitas no
corpo do trabalho funcionam co~ tenor poderá. por exemplo. ler
o texto de maneira cnntfnua c sô concuhar as notas após essa leitura: con-
sultar arenas as que mais lhe irucrcssarcm ()~lUlàaJCL.nenhum.:l..
Poderá. também. interromper sua leitura a cada chamada c integrar n con-
teúdo da nota à leitura que está fazendo. Ao encontrar uma referência.
quer no texto. quer em nota. poucr;í inclusive suspender a leitura rum.
consultar a obra ali referendada. Nesta nova obra. por sua vez, poderá
encontrar nutras referências. que o levem a outros textos. e assim por diante.
A diferença com relação an hipcnext() eletrônico está apenas no sup-Qo.j.s
na forma e rapidez do acessamcmo. --=---
Passemos. agora. ao gênero repoOa~. O corpo da reportagem é.
normalmente. circundado de boxes explicativos, aos ..quais o texto de fun-
do remete. Além dos IJO.H'S, há grãficos. tabelas, fotos, ilustrações. ~
tido nãu é construfdo somcnte com hase no texl!) ceDlral m~mbi-
-mll,ao de todos esses recursos: portanto. pode-se. perfeitamente. falar. nesse
caso. da presença de uma multissemiosc.
No caso da notícia jornalística. mormente em se tratando de fato de
grande relevância nacional ou internacional, o noticiário prupriamcnte dito
é complementado por editoriais. matérias opinativas e outras que. confor-
me mostra Van Dijk (I()X5). apresentam informações M bilckgrmwd,
historiam o fato. Ialum <JlIS perspectivas - otimistas ou pessimistas -
que a partir dele se abrem. apresentam uma rápida biografia dos principais
personagens envolvidos. reações verbais de figuras irnponamcs e/ou cs-
pccialistas/analistas diante do fato etc. Novamente. o leitor que quiser ler
uma visão completa do que realmente está acontecendo terá de incorporar
num só modelo de situação todas essas informações. opiniões e atitudes.

~;~:-d~~~:~:~0~~(:'~~7~~~,;1d~l~i::t~;;~~a~~n~~:~~'e~1l;~~~:l~i~'~~:s~r;al~ .
muitos outros gêneros textuais, aí incluídos os já muito citados dicinunários
e enciclopédias.
Reflitamos. agora. sobre a compreensão de leitura. de modo geral.

u ara realizar tal construção, ele ter{I",-,,,,,,===,,:


ripótcscs. t 'lá-Ias, encontrar hipóteses alternativas em caso de "dcscn-
entre o dito e o não-dito [mismatches, cf. Dasca! &. weizman.
19l-i7; Wei~:tl~-ggTT,ludoissopor meio de ínfcrcnciamcntos
que exigem a mobilização de ~eus conhecilllcnto~ [lr~ de todos os
tipos, dos conhecimentos pressupoStO~ como partilhados. do conbccimcn-

~7)f~~~~~~~~~c~~~~~~aded~:,~~~!. ~(~:~\l~~~~ee~~fJen~~~:d~:
entre muitos outros. Murcuschi c Koch. em vários de seus trabalhos. Admi-
te-se hoje. também. que os objetos de discurso são dinâmicos. ou seja,
uma vez introduzidos, podem ser modificados, dcsauvacos. rcauvados.
transformados, recatcgorizados. construindo-se ou reconstruindo-se. as-
sim. o sentido, no curso da progressão textual, como postula Mondada
(1994: (4):
o objeto de discurso caracteriza-se pejo fato de construir progressiva-
mente uma configuração. enriquecendo-se com nO\'05 avpectos e pro.
priedades. suprimindo aspectos anteriores ou ignorando outros possr-
"eIS, que ele pode ascocínr com outros objeto- ao integrar-se em nO\':l5
configurações, bem COIllOde articular-se em partes suscetíveis de se
autonoruizarern por sua vez em OOVOSobjetos. O objeto se completa
discursivumcnte.

Tudo o que ficou aqui exposto revela que. na construção do sentido.


h~ um con~t;mlc movimento em variada., direções. bem como o recurso
rmeremrpm a U!\ch;ls funtc~ de JIIlorm:tç50, textuais ou cxtratextuais.
Verifica-se que a...!:1!!!!nrecnsão não se dif"'de mafielr.t hnear e ~9!RiiCiãT:-
como Se pensava antigamente. o que vem a constituir um argumento a •
mais para afinnur que todo texto é um hiperte)(to,

Ccnceltuaçâe de hcertextc

o hipertextoconstitui um suporte lim,üíst1co-semjÓljrQ hoje inten-


samente utilizado para estabelecer interações virtuais desrcrritorlulizadas.
Segundo a maioria dos autores. o termo designa uma escritura não-se-

;~il~:~:;:~ ~r~,~:~;~:~~~~~
qi~~~~~~~:~e~,~t~~r~ei~~o:~J ;e~::~~~i~~a~SoC\~~~:~
locais e succsxi vas cm tempo real, Tral;1.se'l;Yi~;-("ríríiÕ?i~L1reusehi
()999: l ). de um processo de lcuura/cscrüúra l1lultilineartz;!Uo!multis.
seqüencial e não ilêiêrminallo, realizado em um novo espaço _ o
ci~o.
O hipertexto é também uma forma de estruturnção textual que faz do
leitor, simultaneamente, um co-autor un texto, oferecendo-lhe a possibili-
dadc de opção entre caminhos diversificados. de modo a permitir diferen-
tes níveis de deseevotvímcuro e aprofundamento de um lema, No
hipertexto. contudo. tais possibilidades sc abrem a partir de elementos
específicos nele presentes, que se encontram intercon"'l't:u~~...cIllZnão
necessariamente corrclacionados - os hipcrlinl:s. Trata-se e •.•10' que
vinculam.mútua e infinitamente pessoas e instiuiiçõcs. ~.nre" o-as em

~::~~~;~~~;, s~:;:r;:;:~~~I~:)::n~~1~21~ ~;:~~i~:


1~\';:I~:~ll~t~
fuga~, saltos instantâneos para outros locais virtuais da rede. de forma
prática. cômoda e econômica. Como diz Xavier. "a distância de um indi-
vfduo a outro. de uma idéia a outra. passa a ser medida por céleres cíicks-
d~ sobre estas inteligentes •.•ngenhoca.~ digitais", -~
oUvrNO.o.HOO OS SfG'lEDOS DO HX10

Entre as principais características que têm sido apresentadas para o


hipertexto encontram-se as seguintes:
l.~e(geralmcnleeonsideradaacaracleristicacentral);
2. volatilidado, devida à própria natureza (\'iuuaU do suporte:
3. e~dade topográfica. por se tratar de um espaço de escritura!
leitura sem limites definidos, não-hierárquico. nemtópico:
4. fragmentariedade visto que não possui um centro regulador
imanente;
• . S. ~ por viabilizar a absorção de diferentes aportes
srgrucos e scnsonars numa mesma superfície de leitura (palavras, ícones.
efeitos sonoros, diagramas, tabelas tridimensionais):
6.in~devidoàre1açãoc()ntfnuado leitor com mutnotcs
autores praticamente em superposição em tempo real:
7. itcrutivldadc, cru decorrência de sua natureza intrinsecamente
polif{)IJ~J;
8. dcscentr..Lção. em virtude de um deslocamento indefinido de tópicos,
embora não se trate. é claro. de um agregado aleatório de fragmentos textuais.

Oshiperlinb

Uma das principais inovações do.!.:!!.oe1etrimk0.s3o,juslamcntc. os


hiprrlinks, dispositivos técnico-infomiiliicos que permitem cfctivur ágeis

~~~~~lil{I~~I~~e~~' a~:::r~~I~lio;~~~~~; ~r~lli;~,~: f:r~


ma corrc1acionados.
Os hiperiiní:s, que podem ser fixos (aqueles que têm um espaço está-
vct c constante no si/r) ou móveis (os que flutuam no site. variando a sua
aparição conforme a conveniência do cnunciador), exercem no 1<!Xlo...di-
vers~s funções ..~entrc as quais gostaria de ressaltar aqui as funçí~.~:~~/
c~~

Funç60déiticB

Os híperlínhs dêiticos têm por função primeira indicar, sugerir cami-


nhos aohipcrleitor: eles funcionamcomo~scn-
do, portanto, focaliz.adores de atenção. A ~ um lugar "concre-
to", utualizâvel no espaço digital. isto o sítio indicado existe virtual-
mente. podend -ser ..•. acessado a qualquer mon o. Possuem um caráter
essencialmc tc cat~ptttiv(J ~istO(IUe ejetam o leitor para fora
do texto que nuque e momento está na tela. remetendo suas expectativas
de complctude de compreensão para outros espaços ali referendados. Des-
ta forma. eles convidam o bipcrlcitor a um movimento de projeção, de
êxodo n:hl-definitivodos limites do lido. sugerem-lhe insistentemente ala-
lhos que o auxiliem na apreensão do sentido, ou seja, apresentam-lhe rotas
alternativas que lhe pcrrnitarn pormenorizar certos aspectos e preencher
on-íinr lacunas de interpretação (Xavier. 2001/20(2). Isto é. da mesma
forma como os dêiticos di~cur:;ivos os linh com função dêitica monitoram
o leitor no sentido da seleção de focos de conteúdo, purçõcs de hi extos
que cvem merecer sua ccnsr cração case esteja Interessa (J em obter uma
leitura mais aprofundada, mais rica em matizes e em pormenores sobre o
tôpico cm tela.

Pode-se IllcsmoafirmarqUe~láticaSdiscurSiva.~
que permitem cercar determinado problema por todos os possíveis ângu-
los c perspectivas, já que a indicação tinkada se dá geralmente entre
.~I!e tratam de um mesmo tópico, eomplcmentando-seou refu-
tando-se, reafirmando-se ou contradizendo-se.
Por outmIado, se um link leva a outro. que, por sua vez.feva a outro
e assim sucessivamente, é possível que venha a formar-se uma grande
conexão em cuxcatn. que, de tão exten-,a. pode perder-se no hnriznntc,
numa vinculação sem fim. Por essa rM.ão. acessar e e;l;plnrar o hipcncx.to
não é tarefa f:ícil, exigindo unI bom controle do hlpcr1eitor na construção
lt~

Funç6ocoesiva

Outra importantefunÇ"ã(Jdo~mdcentrelaçardiscur_
sos no espaço cibernético. é ama~~~~i)('s de mudo a permitir
que os IcilOTCSextraiam delas um conhecimento real e cllnclus{)('s relati-
vamente seguras. "soldando" as peça, esparsas de forma cocrcntc.combt.
nando adequadamente as pedras do mosaico. Atar os hiprríínks de acordo
com cena ordem discursiva e semântica é essencial para garantir a Iluên-
da da leitura e a drenagem da compreensão sem excessivas intelTUp\'ôcS
e/ou rupturas cognitivas, que poderão dispersar a atenção do leitor ou
mesmo levá-lo a abandonar o processo de construção do sentido. Como
bem escreve Xavier (200 In002). o ideal seria que essas peças se asseme-
lhassem às do brinquedo Lego, com aderência perfeita, pois. desta forma.
pelas novas conexões e adequados encaíxarncntos das pcças-Infonuação.
toma-se possível chegar a conclusões amadurecidas como conseqüência
das descobertas feitas pelo leitor, quando de sua competente administra-
ç50doslinl.:s.
Por tudo isso, n50 deve haver links perdulários em termos de infor-
mação. isto é. n50 deve haver espaço para que tais pontes virtuais exis-

::~á::~~~O~I~;:ca\:;;~~o~e;:;p;;;;~~.fd~~~:;~~~~ri~U~I~~~;l:::ra;:n~
vergir. em tomo dcnm texto eletrônico, dados e informações complc-
rnernarcs e umpliadoras e acrescentar aspectos que não tenha sido posst-
vel acondicionar na mesma superfície virtual pela falta de espaço na
janeJadc cristal líqüido.
Para tanto. postula Xavier (2001noo2). cumpre fazê-los funcionar. '
de fato, como operadores da coesão hipcnexlllal, visto que a hipcrlcitura
tanto pode ser orientada no sentIdo de significações coerentes e compatí-
veis com a perspectiva postulada no todo do hipertexto. como pode ser
deslocada e desviada no sentido da incongruência e da insustentabilidade
dos posicionamentos assumidos em um texto eletrônico.

Funções~~

Do ponto de vista cognitivo. pode-se dizer que o hiperlínk: exerce o


papel de um "encapsulador" de cargas de sentido. capaz de gerar no leitor
o desejo de se~nhos indicados. Cabe-lhe acionar os modelos
que o hiperteitor tem ~presentados nallU;:f.nória~'91 u intuito de desafiá-
lo a conferir o quc existe por Irás dclc(já quc..)UltCS de mergulhar nos
Ifiper/illb·.u leitor formula mentalm~crie dchipóle~
qU~n1r:-m:rscJ~n{ês mesmo de acionar o I/WUSf'. o leitor
~crências s bre o conteúdo central eom ue se vai defrontar ao
seguirc~.'tnuals.
Decorre daí a neces.~idade de urna construção estratégica dos
hipcríinks, para viabilizar o encadeamento mental das informações e dos
argumentos na tentativa de construção do sentido. por meio da mobiliza-
ção de conhecimentos. crenças e atitudes durante a operação ininterrupta
de "caça ao sentido", própria do ser humano (Dascal. 1992).
Condiçõl!Sde textulIndlldedo hipenexto
~
I
Ohipertel(foéum texto?
I
.- O hipertexto tem sido apontado como algo radicalmente inovador,
como um novo paradigma de produção textual. Contudo, como bem m~s-
i
I
Ira Marcus.chi (1999: 11). a novidade pro riamcnte dita está na tecnologia,
que lhe permite integrar, de modo eficaz, elementos que, no ex o un rt!r=
so, se apresentam sob a forma de notas, citaçõcs bibliogréficns. referên-
cias, imagens. fotos etc., linearizando o deslinearilado e dcsfinearizandn
o linearizado, ou seja. subvertendo os movimentos e redcfinindo as fun-
ções dos cOlhtituintcs textuais clássicos.
Para Pcrfcni (l99ó). a questão Central n50 está em t..1iscutir.a.rclaçà.2
en~ipertC..\to. n!as em admitir que se trata~prc de texlo~:_..o)
que se deve buscar entender é "como o~ leitores usu~ifcrenfC:"""""'I~
de informaçiío e a ordem em que as informações são usadas". inclusive
C01110os leitures integram aos seus conhecimentos as infonnuçõcs que
vão aet'ssando. 1<;lo·é-:"uJ1!J!blemanão+u~C"eSlIOC~ nem a quantit..1ade

r
decoisasacessa~~itodda.~. istoé.osfuprocessarnento.
Como a Lmguístic~C;OCU~tos singulares. serw---
interessante ver corno os 1cnores operam com textos múltiplID...t esta a
agenda que o hipertexto vem colocar para a Lingü[stic.l em geral e para a
Lingüística Textual. em particular. Conforme foi mencionado acima. já
M mais de uma década a Lingüística Textual vem p-ostulando que ~

.:~~::~:~~::~~~'~:a1~~,:~~:~~é~~~\~ir~~~.:;I~~~
1990.1997. entre vanos ou TOS; ascaí 1l)87; Oa.~cal & Weizmnn, 1992;
Marcuschi. 1998. 1999; Beaugrandc, 1997). Por isso mesmo, a LingUísti.
ca Textual pode auxiliar eficazmente na Compreensão do funcionamento
do hipertexto,

Se: portanto. respondemos afinnativamente 11pergunta que abre


este tÓpICO, 11 hipertexto deverá estar .~ujeito às rncsrnae condiçõcs bõsí,

'~~~'~~~§::::':::~:~t::
cus da textualidade. desde que estas sejam entcnllidas. conforme a su-
gestão de Bcuugrunde (I ':197J. como princípius de uccsso c não de boa

to 111últiplu", funde e sobrepõe inumeros teuos, textos simultaneamente


acessrvels ao simples toque do manse. Como encontro elou entrechoque
das diversas vozes que pcrmeiam esses textos, é essencialmente polif{mieo

~ O hipertexto caracteriza-se também por um alto grau de inforrnarivi-


dadc.já que permite ao hipcrlcitur, de maneira não-trivial. uma busca quase
infinita de inf{)rrll:l~'lles não.previsfveis e não-n:dundantes no universo de
textos que OCUIll(X>C.
~d.adr..,.-aqui entendida como a disposiçâo topogréfica
do inrcrtcxto no espaço virtual. tendo em vista suas inúmcras ramificações
e a sua dis(Xmihilitbde nu espaço virtual para todo e qualquer hipcmavc-
gador - é também um fator determinante da forma como o sentido é
produzido c. portanto. da construção do sentido e da coerência hipcrtextual.
Os princípios da topicidadc c da relevância assumem nu hipertexto
características tão peculiares e dignas de nota. que deverão ser discutidos
num item parte.
â

Hipertexto, lopicidade e relevJncia

Para Sperher & Wilson (1986). uma proposição é relevante. em pri-


meira instância. não somente em relação ao discurso. mas tarnbérn ao con-
texto. ou seja. a um conjunto de proposiç()Cs ou hipóteses derivadas não
apenas do discurso anterior, mas também da memória. da percepção do
entorno. enfim. de todo fl contexto. por intermédio de inferências. Assim.
li lnfonnução é relevante para alguém quando tem efeitos cOlltextulli.f em
dadoconh:xt()g~ÍI"cL-.....
Na visão de Schutz {I 970). a topicalidnde é função da "problemari-
cidade", no sentido de saliência relativamente a determinado background:
tópico é aqui lo que é prohlematizadu em relação a um pano de fundo dado.
Cada tópico carrega consigo um conjunto de relevâncias tópicas. as quais.
ainda que de mudo bem amplo. definem o conjunto de soluções possíveis
ao problema que ele coloca. Uma contrtbuiçêo que pertence a tal conjun-
lo. isto é. que satisfaz as condições de relevância tópica, é sentida como
scqücncladora do mesmo tópico.
Com base nestas considerações.' é claro que, também em se tratando
do hipertexto. os princípios da ropicidadc c da relevância têm sua validade.
Do ponto de vista da produção. os íinks com função dêiuca. como
dissemos. monitoram o leitor no sentido da seleção de focos de conteú-
do, porções hipertcxtuais que devem merecer sua consideração caso esteja
:~c:c:;~~~~r~~:bte~ u~a ldt~r? mais aprofundada, mais rica em maü-
pistas dada, ao l~~~;rs;a;: ~~:~~~ em Icl~_,Elcs servem: portanto, como

ccssárias que lhe pcnnitam detcct:~u{~ (~\~'e~~~e\~1t:t:~~~:o:;:~~~a~e-


problema ~lllC lhe é posto, isto é. aquelas que vão produzir. naquele cun~
~exto. efeitos cOllle_V!mj.~. 4UC são dotadas de saliência relativamente
:Hlllclc !,ad:r.:ro.!i!.!,,d. Como tlpl'radorl'~ de coesão (IIIC sito. cabe ao produ-
tor ~a7_l'-11l~funcionar como orientildnres da hincrlciuira na direção de
seno.dos coerentes e compatíveis com a perspectiva postulada no todo
do hipertexto que: a hospeda. evitando que seja desviada para outros ru-
mos mcompalfvels com ela.

~~~im. e~ termos de sua função cognitiva. é importante que: as palavras


linkndns pelo produtor do texto constituam realmente l'(lfUrfll.l-chal't -.
capa/.esdclcvarolritoraestahclrçcr,aonavcgarpc:lohipcrtcxto.l'rK:I<lca-
mentes com informações mpicamenrc relevantes. de modo a construir uma
progrcsvão textual dotada de sentido. Em nutras palavras. cõlhe:d. ao
hiperlciror, no passar, per intermédio de: tais linh. de um texto a outro,
detectar, alravés da teia formada pclas palavras-chave. quais as informa-
çi'rcstopicamcnte:rclevarne:sparamaDle:racontinuidadc!r!U;\licae...nonaa-
lo. uma prng-rcssãotextu3! coerente (Xavier, 20(0).

Marcuschi (199')) mostra que tais ligações seguem normas e princí-


pios variados. de ordem semântica. cognuivu. cultural, social. histórica.
pragmática, científica c outras. Por esta razão, defende que se trata aqui de
um C:ISO de "relevância mostrada" c que tal mostraçuo é a alma mesma da
navegução hipcrtcxtual. Contudo, tendo em conta que 11 hipertexto cons-
trói relações de variados tipos c permite caminhos não hierarquicamente
condicionados. postula que :1 noção de relevância que preside continul-
à

dadc temática c à progressão referencial no hipertexto não pode ser cxura-


mente a mesma que encontramos nos estudos pragm:ilicos e discul":"ivos
!:i!lhrç os textos f:lladns ç escritos.
110 poutu de vista da leitura. perceber {)que é relevante vai depender
em muito da hnhilidndc do hipcrlcitur não só de seguir as pistas que lhe
são oferecidas. (orno de sahcr at'" onde ir {' onde parar. Além disso. cum-
pro-lhe. corno ncalunuo-, de dívcr.rcr sempre em H.lente n tópico,.o ubjcti-

~~::;:;~~;:~~~~/~~~l::'~;;:'::~~:~~::,~
de um link a outro e. u partir do novo texto acessado. P'" meio de novos
línks, a outros textos. e assim sucessivamente. de correrá o risco de for-
mar. come dissemos, uma grande conexão em cascata. quebrando a conti.
nuidade temática. como c comum acontecer na conversação espontânea.
em que um ussunro puxa outro. que puxa uutro c mais outro, de tal forma
que. 30 final da interação, já não é mais possível nomear o I()pico da
conversa. isto é. dizer sobre o que, afinal, se falou (vfulnruos de tanta
coisa ... n. ~

A",ú"',A,;ru"daMp'nwa M'!'L''''' i!J

Snydcr (1997) afirma que o hipertexto obscurece os limites entre


leitores c escritores, visto ser construído parcialmente pelos escritores,
que criam as ligações. e parcialmente pelos leitores. que decidem os cami-
nhos a seguir. Como () hipertexto oferece uma rnuhiplicidadc de camt-.
nhos. cabendo ao leitor incorporar ainda outros caminhos e inserir infor-
mações novas. ele passa a ter um papel ainda mais atÍ\'o c oportunidades
ainda mais ricas uuc...u.kitor do texto impresso. Como dificilmente dois
íeÍtores tomamo exatamente as mesmas decisões e seguirão (I~ mesmos
caminhos. jamais haverá leituras exatamente iguais (o que. aliás. também
raríssimas vezes acontece - se é que pode acontecer _ com os textos
impressos). Pode-se. portanto. falar. de forma categórica. numa co-auto.
ria. A leitura roma-se simultaneamente urna escritura. pois o autor já não
controla mais o fluxo da informação O leitor decide não só a ordem da
leitura. como também a trajetória a ser seguida c os conteúdos a serem
incorporados. determinando a versão final do texto. que pode diferir sig-
ntficarivarnentc daquela proposta pelos autores dos textos hiperíinkados.

\'iage;:r~~I~l::.CI~~~~~lo:~aq~~i:;I~~~::i~

---
~~ne ~~~~~~~~~~I~~n'!~~:li~ou~~ ~~i(:~:~C:~j~ ;~~~c~~:

-
císamot c ar. de modo que Q hincmave 'ador é submetido a um certo
".flr~.u cognitivo". já que as exigências s50 muito mais sérias c ng

A co~rénciahipertextual

Sabe-se que o leitor de um texto constrói a sua coerência ao ser


capaz de. através da.~ intrincadas leias que nele se tecem durante a pro.
gressão textual. estabelecer mentalmente uma continuidade de !>emitias
O."1n.'~'~:..,":o. por ligar textos diversos. n30 apresenta relações se-
~"':!:> "Poiti\·u imanentes (como ocorre também com o texto
,~ ,..••.
c:::...-r:--.,' »: :l.~~). ~ sempre povslvel ocorrerem relações incoerentes
ea seccce ••:~-j.,~ de unidades textuais. o que pode afetar irremedjayc! •.•
~.t~r ·-·'ia .,
~."il"".:l~! considera a coerência como () processo de incorporação
ó: ;"1""_.1;'0.•••......•.••.
-.:0::-- lo('O texto-base. Para que isto ocorra de forma adequada,
fu::--..!~""~<..r"l" haver algum tipo de integração conceitual e temática,
t,"'t!r~ .•..•,: :-:--.... ;.:
•....1: ~ proposta de organização do produtor e da proposta de
c'''C..'''::-.;l.-.lo.: .;!.., se~udo do Iennr. Cabe a este. do mesmo modo que no texto

~~; :~~~4J)~aU:ii~ed~~;:~~~n~~a~c~~i~~a~:~~)~ ~~~~nnCc~~~:~


i:m..~=,·""e: ;-.z..-aa reformulação das hipóteses abortadas, tomando como
....
case ~:." :-""~!'_",~nt()<;. pr€vioUenciclopé!!icm 0\1 episódicos}, a pres-
~;.:o!;ci: :.:-;'C':lhecimento\ compartilhados, hem como seu modelo
cr:'F-:'::": ::..! cc••..
~\to. que inclui necessariamente o conhecimento do Sê.
;:c-: - -c-.=c:..:.1..l '\'an Dijk, 1994. 1997). ---

c:.~;~r~" ;'~~~e~~~h~~I~i::n:;:~~;~~~;1 i~~~rt~~ad~~:Ji~~;;;~


ar.: ~,J.: ~~~ de leitores. cujos conhecimentos e interesses são difc-
~r~ -, ":'=100 r~doe- segure àe informações desejadas. Não lhes é pos-
,í-.! 1:":f.:::-;..""l;."" ~'4' .•••cn caminhos possíveis que () leitor poderá tomar. O
!.!-.r'-,f" : •..•. lo..:•• '";7 ~:11 '" ~ua disposição uma gallla enorme ,1e possibilida-
(.e; -:.-~r.~:;i!'.JH:~.a partir doe ltnks c dos nós (blocos textuais) por eles
:I"•• ::r..i:••.
:•..•~ ',1:.0": 'J 7yj~;;'o levar ou não a manter-se fiel ãqui!u que é rclc-
?1.::r".! ;,-r."I -. ·.'f•.Wh em tela. O problema é. portanto. corno diz Murcuschi,

;~~;:';;::';;I::'~::~~~~~~~fi3Ções previstas s50 insmnnenms


Ao navegar por toda uma rede de textos. o hiperleiror faz de 5{"US
Interesses c objetivos o fio organizador das escolhas c ligaçücs, proceden-
do por associações de idéias que o impelem a realizar sucessivas opções e
produzindo, assim. um:ltextualidaúl!..L:l!ja coerênci·! acab·, <cor! ) tlnU co",,_

==:;::;:t:;·~;~:s:~~:~=e~~~r<~:en,~.~~~:!

links
dias - uma restriçào: o hipcrleitor somemepodcrã partir para novas liga-
çõe, previstas pelo autor. indiciadas pelos por ele criados para acessar
os nós assim intcrconcctados. ~-c(}mo também o texto "trn-
dicional" - constitui um evento textual.interativo. embora com caracte-
rístiC:IS próprias. Uma dclus é nào ha\"cr Imlltaç:r.; du interlocutor. que

:::;ti~~t~ ~~~!t~~~~ ~~~:11:~~(~~


~~~c~:~e~~~~~_~~~
Marcuschi (1999: I I), contudo. sugere que se inverta essa afirmaçâu. p:ua
";)

dizer que "assim como o hipertexto virtualiza o concreto. de concretiza o .


virtual".

d d:'::/inh h!~!~I~I~~~s~~a~~~~~ ~:I~~i;~:X::~:;[lnl~:~I~~~:~~:~


qUI um trecho da tese de doutorado de Xavier. defendida na
UNICAfo.lP e que, além de inovadora. traz uma contribuição substancial
para a melhor compreensão dos mecanismos ligados uo proccssnmcuro do
hipertexto:

Viabilizar ao usuário uma leitura efetivamente hipcrtcxtual é fazê-lo não


apcnas corrcr os olhns panoramicamente sobre os enunciado, verbais e vi-
suais qU(' emergem da rc!a. mas é:. s<1l1retllllo. fazé-Inrcscanear" detalhada-
mente os recônditos da p,lgina digitaJ.dNcr·se com uma ccrta caurcja em
e •.ula um ou. pele menos. eml1o:! parte do, Itipulillb dcpcnduradov. in;;tiJ;5-
lo incisivamente avcti •.·ar··ne,te,elos I·jrtuai,. a fim de sacia rasual·urin·
sidadec u cstn alrura já maxunamcnrc agcçuda. para saber ° ,!lIC 'c-eou-
dcm': é: pcrvnadi-lo a 1110\"t"r·"t"para outro- ~iti,,,ali al>llntad,,>.1',..1", <lua;'
podn:i dilatar enormemente as chances de compreender pontos ,ilfUSHS do
texto eletrônico principal c. desta maneira. resolver pendências conceituais
que estejam truncando a accitaçâo dc urna certa p<1siç50:[,sumida P"r uma
determinada instituiç:iu.rolllunidade virtual nu indivíduo ljUC se manifesta
em 11111hipertexto.
Para tanto. não bastu dar às 'pontes virtuais' apenas um hum acabamento
estético. vi-ual. 1111l1IrJi.~1Iinovador e caprichado. não é: suficiente cuidar
semente ,1;" nuances harmônicas das COf\"'.da escolha equilibrada das fon-
tcs \' do vcu estilo e tamanho. balancear o grau de sombra e a ilusão de
profundidade.ate volume e efeim de tridimensionahdade. tdesuma im-
ponáncia que l~onsigal1llltr.l.ir a atcnçãodo uscárío, não de
mOdoscmt'lhan~bjeloqllalqucrc~p<l\toàvcndanavitrinec.le
uma loja. mas que tal atraçãu se dê cxpcciclruentc por l'au~a da alia ,.lcnsi.
dadc inf(lf1llalivaqueclespossamçcHldcn~:lrcm.,i.da p'o\,,'ipicidadcque

~'::\~:~~::~n:~~::ln~~.
:!,~:Ofi'::l~~:::(~:~ ~~:~P~~~:
Iu:~::~~~;:~~u
grafia digitalizada. É capital para o /i,,/; evidenciar a sua capacidade de
a~lulinar significaçtocs abrangentes e extensivas a domínios claros do sa-
bcr, para poder operar produtiva e positivamente nn leimra hipenexrual.

gm\,a';:;,
~2emalicamcntc
ores da conuuuí
intcrcuncctados serão,portanto. os
c-~ntidosc da prngr,ess.;111
referencial
-nu1tipcrtextrr;""tl~uc tipem3uta...s".la capaz de seguir. de forma coe-
rente com o projeto e os o a leitura. o percurso assim indiciado.

-
Parte 11

LEVANTANDO A
PONTA DO VÉU
- - "
~ !tH(ROICt.t.C.lO

CAPiTULO 6

A REFERENCIAÇÃO

KIJpar Heusen linguagem, mundo. realidade , ,,",ocepçllo. sig-


niricaçllo,cogniç!o .. , a •• imique. pfocurandodes\'ent!~roJ
enigmas do filme de Hcrzog,fui.endo levado. pouco a pou-
co. a rC\'i,ilar um antign e problem~ticn lema. situado num
entroncamento por onde pasuma ling!i{,lica, a ,cmiologia,
aanllnpolngja.at~orjadoconhecimentoelc,: trata-se da re-
laçãoentre lingua.pcf\samemn,conhecimcntue realidade.
Ali que ponto o uni\'erso d<l~ signos hngIlIsticos coincide
com a realidade MnlralingUisrica"? Como ~ possi\'d conhe-
cer tal realidade ror mein dns signos lingü{sticn,~? Qual o
alcance da língua <ohre o pensamento e acogniçi1o? (I.
Dlibtein. Ku,rpur Hnusrr nu a Fah,iraçtlo do Realidade,
SlIoPaulo. Cultrix.19115)

É com estas indagações que Blikstein inicia sua pequena obra-prima


sobre uma das questões que. através dos tempos. tem ocupado a mente de
filósofos. Iogfcistas. semantieistas. scmiólogns. lingüistas e demais estu-
diosos de questões de significação e de linguagem,
Nessa obra, Blikstein defende a tese de tlUS n que julgamos ser a
realidade não pa.~sa de um pnxJulO de nossa percepção cultural. Ou seja.
percebemos os objetos tal como previamente lIcun!cÍOS ~as práti-
cas culturais: a "realidadc" é fabricada por toda uma rede de ester - ~ tccs,
culturais. que con rcrcnam a pr pna percepção c que. por sua vez. são
-g:rr:mrtcroSe reforçados pela linguagem. de modo qu;,.g.-~~;~r de co-
nhecbnento é regulado por uma interação contínua ent'e percep-
~elin~ ---
Postula o autor que falo de o rdi rente (objeto mental, Imidadl'
cU/111m!) scr extrallngüísti o não significa que deva ser relegado pela Lin-
güística. j;\ que ele está sim ICSl11cnlCsituado atrás ou antes da li" ua-
gem. como um evento cognitivo, pHX uto e nossa percepção. E na di-
ineii'Sào da percepção/cognição que se fabricam os referentes. os quais.
embora destituídos de estatuto lingüístico, vão condicionar Q evcntQ se-
mântico.
Segundo Blikstein, as teorias do signo não têm levado em conta o
referente na explicação dos mecanismos de produção do significado. Ogdcn
& Richards. que, empenhados em situar o significado lingüístico no pro-
cesso cognitivo. lançaram a figura do referente (3 coisa cxtrnlingütstica).
localizado no vértice inferior direito de seu famoso "triângulo" - con-
cepção triãdica que, ali:i.~,tem origem na Grécia, com os estóicos (srmainan.
5cmainólllml'lll25P!!!11!!!a), adotada por~Agostinho(l·t"I"'lIm."""JirihJI',
rt'5), pelos escolásticos (I'lJX, conceptns, re5f e pelos lógicos de Por! Royal
(nom. idée, cI/Ou) - e distinguiram-no nitidamente da referência (o sig-
nificado lingüístico), acabaram por voltar suas atenções excjusivnrncntc
para o lado esquerdo do triângulo, onde estão situados {J sfmbolo c a refe-
rência, tendo o mesmo ocorrido com todos aqueles que o adotaram. repto-
duziram, criticaram, desfiguraram, aperfeiçoaram (Ullmann. Baldinger,
Heger. Eco, Peirce. entre outros). É imperioso considerar que a experiên-
cia perccpriva jã é um processo (não-verbal) de cognição, de construção e
de ordenação do universo ...
Desta forma, aos poucos,

(...) a Lingüística acaba por confessar a necessidade de lncluir a percepç :101


cognição no aparelho teórico da scmânlica. pois evidente que a significa-
é

ç301ingUfsticaétributári'll!ordercntecquecstc.porsuavN.€con.~titurdo
pelaalmensaopc~va(Blihtcin,198S;4S).

Também Greirnas (1966: 8) considera a percepção como o lugar não-


lingüfstico em que se situa a apreensão da significação. E Coseriu (1977:
103) assevera quc

Conseqüentemente. é inútil querer interpretar as estruturações lingürstieas


sob o ponto de vista das pretensas estruturas "objetivas" da realidode: € pre-
ciso começar por estabelecer que não se trata de estruturas da realidade. mas
de estruturações impostas à rraíidade pela íntrrpretaçôo numn/W. (grifo meu).

Assim,segundoBliks[ein,ape~
em referente. ou scj:1,:1 realidade se transforma em referente por meio da
percepção/cognição (conforme Greimas) ou da Interpretação humana (se-
gundo Coserinj. de modo que este deve ser obrigatoriamente levado em
conlanarclaç~
É também nessa direção que o autor interpreta a famosa afirmação
de Saussurc [19161 (1976: 23): "Bem longe de dizer que o objeto precede
o ponto de vista, diríamos que I o ponto de vista qUI' cria o objeto ...",
:rrgumcnt~d(J que o .~pon . VI la" corrcspo!].do-àjlOÇil] de percepção/
~nt~~rClaça(), enquant o objl'l • assim como ~latào. deve co-
incidir com o referem ". icado". Eé. segundo ele. na prática social ou
práxis que reside o mecanismo gerador do sistema perceprual que, a seu
turno, vai "fabricar" o referente.
Pois bem: se o referente é fabricado pela prática social, o que dizer
da atividade sóclo-cognitivo-discursiva de rcferenciação? Esta é a princi-
pai questão de que vou tratar neste capúulo.

aeterêncta e retereneíeçêc

Baseio-me no pressuposto de qUI:"a referencinção constitui uma atí-


vidaâe discursiva (cf. Koch, 19993, b, c; Marcuschi & Koch, 1998; Koch
& Marcuschi, 1998; Marcuschi, 19(8), pressuposto esse que implica uma
visão não-referencial da lfngua e da linguagem, posição também defendi-
da por Mondada & Dubois (1995: 278 e seguintes). que. como vimos no
capítulo anterior. as leva a postular uma instahilldade das re13çõcs cntre as
palavrus e ,IS coisas.
Assim sendo. não se entende aqui a referência no sentido que lhe é
mais tradicionalmente utributdo. como simples representação cxtenslonal
de referentes do mundo extr.uncnrat: li realidade é construída, mantida c
alterada não somente pela forma corno nomeamos o mundu, mas, acima
de tudo. pela forma corno. sociocognitivumcnte. intcragimos com ele: in-
terpretamos e construímos nossos mundos através da intemçãc com o en-
torno ffsico, social c cultural. A referência passa a ser considerada como o
resultado da operação que realizamos quando. para designar. representar
ou sugerir algo, usamos um termo ou criamos uma situação discursiva
referencial com essa finalidade: as entidades designadas são vistas como
ohjetos.de-discurso c não como objetos-do-mundo.
~ou seja. nrnosa maneira de vere: dizer n real n30coincidc:
com o real. Ele reeíabora os dado'! sensoriais para fins de apreensão c:com-
~[cs~a rcelabon..l(;ãu se dá essencialmente no discurso. Também
não se postula uma rcelaboraçâo subjetiva. individual: a reclaboração deve
obedecer ~ rc~!ri~'ocsimpostas pelas condições culturais. sociais. histéricas
c. finalmente, pelas condições de processamento decorrentes tio uso da IIn-
gua ter. Marcuschi & Koch. 1998: S).

Desta forma. adoto as postulações de Apolhel6z & Reichler-Béguelin


(1995: 265) de que:
a. referência diz respeito sobretudo âs oocracões efetuadas pelos su-
jeitos à medida que o discurso se desenvolve;
b, o discurso constrói aquilo a que faz remissão. ao mesmo tempo
que é tributário dessa construção. Isto é, todo discurso constrói uma rcpre- .
sentação que opera como uma memória compartilhada. "publicamente"
alimentada pelo próprio discurso (Apothélol & Rcichler-Bégucfin, 1999:
368). sendo os sucessivos estágios dessa representação respnnsávcis, ao
menos em pane. pelas seleções feitas pelos interlocutores, panicularmcn-
te em se tratando de expressões referenciais. Tal representação - a me-
mária discursiva (Bcrrcndonner & Rcichler-Béguelin. 1989) - tem rece-
bido os mais variados nomes na literatura. como, por exemplo.
esquef1/at;:açâo (Grizc. 1(82). modelo di' contesto (Bcsch. 1983; Van Dijk,
1994, 1997), modetn de discurso (Comish, 1987),jio ou corrente do dis-
curso (Givén, 1983). modelo mel/tal (Johuson-Laird, 1983: Gamham &
Oukhitl. 1990). representação do discursa (Brown & Yule. 19113), entre
outras:
c. eventuais modificações. quer fisicas. quer de qualquer outro tipo,
sofridas "mundanamente" ou mesmo prcdicutivamente por um referente,
não acarretam necessariamente no discurso uma receregorízação lexícnl.
sendo o inverso também verdadeiro:

o enunciador. em função de fatores Intra ou extradiscursivos, pode sempre:


decidir pela homologação ou não. por meio de suas escolhas jexicals, de
uma transformação ou mudança de estado constatada ou predicada. Sime-
tricamente, ele pode também alterar a categcrizaçân de um objeto indepen.
demementc de toda e qualquer transformação asseverada a respeito deste
(Apotbéloz & Reichler-Béguelin, 1995: 2(6),

o que se admite, então. é que os objetos de discurso são dinâmicos.


ou seja. uma vez introduzidos, podem ser modificados, desativados.
reativados, transformados. recategorizados, construindo-se ou reconstruln-
do-se, assim, o sentido, no curso da progressão textual, como postula
Mondada (1994: 64):

o objeto de discurso caracteriu·S(' pelo fato de construir progresaivamernc


umaconngurecae. enriquecendo-se com novos aspectos e propriedades.
supfl,?llndo aspectos anteriores ou ignorando outros possíveis. que ele pode
associar com outros objetos ao integrar-se em novas configurações, bem
como pelo fato de articular-se em panes suscetrvets de se autrmomizarem
por sua \'ez em novos objetos, O objeto se completa dlscursivamente.

d. o processamento do discurso, sendo realizado por sujeitos ativos,


é estratégico, isto é. implica, da pane dos interlocutores, a realização de
escolhas significativas entre as múltiplas possibilidades que a língua ofe-
recc.
Assim sendo. a interpretação de uma expressão anafórica. nominal
ou pronominal, consiste não em localizar um segmento lingüístico (um
"antecedente") ou um objeto específico no mundo, mas sim em estabele-
cer uma ligação com algum tipo de informação que se encontra na memó-
ria discursiva.
Esta posição implica. necessariamente. uma noção de língua que não
se esgota no código. nem seja concebida apenas como um sistema de co-
municação que privilegia (J aspecto infcrmacional ou idcacional. A
discursivização ou tcxtualizaçâo do mundo por via da linguagem não se
dá como um simples processo de elaboração de inforrnacão. mas de
(re)construçâo do ró rio . Ao usar e manipular uma forma sim~
usamos e mampulamos tanto (I conteúdo como a estrutura dessa forma. E,
deste modo. também munipularuos a estrutura da realidade de maneira
significativa, E é precisamente neste ponto que reside a idéia central de
substituir a noção de referência pela noção de referenciaçâo. tal como pos-
tulam Mondada e Dubois (1995).
CAPITULO 7

A PROGRESSÃO REFERENCIAL

Na construção de um modelo textual. estão envolvidos. enquanto


operações básicas, os seguintes princípios de referenciação:
10!W:.ação-- pelo qual um referente textual até então não mencio-
nado é introduzido. passando a preencher um nódulo ("endereço" cognírivo.
locação) na rede conceptual do modelo de mundo textual: a expressão
lingUfslica que o "representa" permanece em foco na memória de curto
termo, de tal forma que (1 referente fica saliente no modelo;
2.~~rn nódulo já introduzido é novamente ativado na
memória de curto termo. por meio de uma forma referencial. de modo que
o referente textual permanece saliente (o nódulo continua em foco);

ção
p~~e~~~~:~~X~::l:
~~:~t~~n~~!~s!:~;~~
que estava em foco anteriormente. Embora fora de foco. porém, este con-
tinua a ter um endereço cognitivo (locação) no modelo textual. podendo a
qualquer momento ser novamente ativado. Seu estatuto no modelo textual
éde iliferíl"d(d. Prince. 1981).
Pela reperiçâo cíclica de tais procedimentos. estabiliza-se, JXIf um
lado, o modelo textual: por outro lado, porém. ele é continuamente elabo-
rado e modificado por meio de novas referenciaçiks (Schwarz, 2001). "En-
dereços" ou locações cognitivas já existentes podem ser constantemente
modlflcados ou expandidos; desta forma, durante o processo de compreen-
são, desdobra-se uma unidade de representação extremamente complexa,
pelo acréscimo sucessivo e intermitente de novas informações dou :1\':1-
li ações acerca do referente,
Conforme se postulou em Kcch & Marcuscht (1998), cumpre, tam-
bém, estabelecer distinção entre categorias como referir, remeter e reto-
mar, que freqüentemente são vistas como idêmlcas, empregando-se os
três termos corno sini'lnimos. Trata-se de algo essencialmente diverso,
podendo-se estabelecer a seguinte relação de subordinação hierárquica entre
os três termos:
• a retomada Implica remtssao c rcre~nclação;
• a remissão implica rdercnciaçiio enio necessariamente re-
tomada:
• a rererencração não Implica remlssân ponlualb..ada nem reto-
mada.
Portanto, sendo a rcfercnciação um caso geral de operação dos ele-
mentos dcsignadorc.~, rodos os ea!\.Osde progressão referencial cão basen-
dos em algum tipo de rl'fl'fcnci:t~-:i(l. 0:\0 import:mllo se são ,,~ mesmos
elementos que recorrem ou não. A dctcnninação refen:ncial SI:' d:!. como
um proccs.~:lmenw da referência na relação com os demais clcrncnros do
co-texto (ou mesmo do contexto), geralmente num inrcrvnlo interfr.hlieo,
mas não nl-cessanamelllc como retomada referencial (eont'ferenciação).
Sucintamente: r••f,'n'r~ uma ativid:nk de designaçãu realizável por meio
da lfn)!ua sem implicar urna relação cspcculur língu:t-munJo: ' ••meter é uma
atividade de processamento indicial na cO·le.\tua!idadc: retomar (: urna ativi-
dade de continuidade de U111 núcleo referencial, seja numa relação de uknlid.:l'
de ou não. Res.'i31tL'·SC.mai-, uma ver, que a continuid.a&: refcrencial não im-
plica referentes sempre cst:'i.\'eis nem identitlaJc.· cntn- rcfcrcrucs.
Na atividade esp<.-cíficill·n\'"I\'id:l r,",:I:1'1'IIIÜX,'j". dc\'c-sc ter em conta
algum ripc dl- relação (de urdem )ol·mântil';1.t:ugniti\'a, associativa, pr:lg_
rnâtica ou de outro tipo). t\ noção de remeter diz respt"it" a um movimente
textual em que SI,'dão relaçÕo.'s não necessariamente (·"TTt'fl'rcnciais. As-
sim. I' raro de se progredir mediante a ali\'id:lde de remeter não envolve
uma retomada, j:!. que r,'/mnllr é uma atividade particular de remissão que
subentende continuidade rrfrrenclat; implicilndo algum tipo de relação
direta, seja de identidade material (caso da cOTTt'ferenciação), seja de não-
idcntidade material (caso da associação).
Ontro aspecto imporlanle a ser C{Iflsider"do é que um rexro não se
constrói corno runtinuidudc progresslva llnear. somando elementos no-
\'OScom outros já postus em etapas anteriures, conto se () texto fusse pro-
cessado numa soma progrt'ssiva de panes. O processamento textual Se.'tlá
numa oscilação entre: vários movimentos: um para frente (projetivo) e outro
para rrés (retrospectivo), rcprescmãvete parcialmente pela catõtora e
anáfora. Além dis.~o, há movimentos abruptos, há fusões, alusões etc. Em
sent~do estrito. pode-se dizer que a progressão textual se dá com base no
jd ,fll~). no que sl'rei dito e no que é sugerido, quese co-determinam pro-
grcsslvarncnte. Essa co-delenn;,wçiio progressiva estabelece as condições
da textuali7,;lçün que. em conseqüência. vão se alterando progressivamen-
te. Assim, muito do que ainda •.ra fI"ssíl'rI em certo ponto x do texto já
não é mais p<l.~.fí\'d num ponto x + 1. Por exemplo. inferências tidas como
hipóteses rossíveis no ponto x já não o silo no ponto x + I c assim por
diante. J\ progressão textual renova as condições da tcxtualização e a con-
sequemo produção de sentido. Portanto, o texto é um universo de relações
scqUenciadas, mas não lineares. Veja-se o exemplo abaixo:

(I) Chega a ser cômico o I'ilS de certos fomw.dor~s tI~ opin;,Ja ao r••/~bra,
as virtudes ri" 1/1(I{ldoneotiberal. Parecem mais interessados em atenuar o des-
gaste causado pela crise glohal a SU:L~ teses dn que em achar meios civilizados de
newralj7.aros eS1ragos que vêm por at,
O "/"Mio do I1I1/agreamuic,mo deixa o lei10r incauto com a impressão de que
a crise tem POUCU a ver com a •.e,momia domil1<mt~no mum/," .. } A conjuntura de
inflação e desemprego baixo não "ai durar para ""mprd ..J O próprio czar do Froe-
rat Reserve, Atan Grcenspan, reclama da exuberância irracional do mercado de
capitais do~ Estado~ Unidos ("Os ganhos dó! bolha". Fol/w d~ S. 1'111//0, 2219198).

Principllis estrll.tégias de progrenio reterenctet

A meu ver, podem-se distinguir as seguintes estratégias de progres-


são referencial. ou seja. aquelas que pcnnitem a construção, no texto, de
cadeias referenciais ror meio das quais se procede à catcgorizaçâo ou
recaregorização discursiva dos referentes:
a. uso de pronomes ou elip,'>Cs(pronome nulo~:
b. uso-ueêxpressõcs nommars Uefinidas;
C.US(l~1S.

Uso de pronomes

A rererencíação. como se sabe, pode rcalizar-;:e por intermédio .~c


fonnas gramaticais que exercem a "função pronome (pronomes propna-
D!SV[NO,I,NI)() OS SE:(;MOOS DO TUlO

mente ditos. numerais. advérbios pronominais, cf. Koch, 1988, 1989, 1997).
Tal operação. que foi sempre descrita na literatura lingUfstica como
pronominalímção (anafóricn ou catafórica) de elementos co-textuais, pos-
sui, contudo, principalmente em se tratando da fala, caracterfsticas pró-
prias, isto é, pode ocorrer sem um referente co-textual explícito, como
ocorre nos exemplos seguintes:

(2) Os dois heróis estão lutando para ver qual tem mais força. De repente,
eles cortam e passam para o quadrinho seguinte. ondejâ se vê um deles nocauteado,
desmaiado no chão.
(3) No nordeste brasileiro, tles têm as mais belas praias do mundo.
(4) Meu filho não está indo bem na escola. Eles dizem que ele é muito desa-
tento c quase nunca faz as tarefas de casa.

Como se pode observar. o pronome eles, nos exemplos. remete a indi-


vfduos não diretamente designados. mas lnfenvcis (no caso. os autores da
história em quadrinhos. os habitantes do nordeste brasileiro e os professo-
res). Adotando a posição de Klcibcr. Schncdccker & ljjma (199-l: 20). po-
demos dizer que nesses casos são poSTOSem ação dois processos cognitivos.
ou seja:
i. cn"struÇ(io (11' limaclasse de indivíduos como uma totalidade de
membros humanos pelo funcionamento coletivo de "eles";
ii. restrição dessa cf(JSsl' (/ 1/111 determinado grupo ou individuo pelo
processo de recuperação do conjunto construído em (I) num contexto es-
pedfico proposto implicitamente pela co-tcxtualidadc.
Isso faz com que os interlocutores facilmente se entendam e saibam
sobre o que se esta falando e a quem estão se referindo em cada caso.
embora n50 haja a cxpllcitaçâo dos referentes no co-texto. Operamos com
processos cognitivos c discursivos. sendo o discurso o espaço de onde
extraímos o conteúdo inferido. Os referentes são induzidos por um con-
junto de informações textualmente construídas.
As elipses (pronome nulo ou categoria vazia) podem ler, também,
função referencial. Existe uma ampla bibliografia sobre o assunto. de modo
que não nos deteremos. neste trabalho. sobre essa questão.

Uso de formas nominais delinidas

Denominam-se expressões 0/1 formas nominais definidas, as for-


mas lingüísticas constituídas, minimamente, de um determinante (üefi-
nido ou demonstrativo), seguido de um nome. Dentre elas, constituirão
objeto desta reflexão as d~.rcriç(;tJ definidas, as nomirw/izaçõt.r e as
rotul:ções me.ra/~ngüíslica.r ou metadíscursivas, bem como aquelas ex-
pressoes nortunais que funcionam no texto como (máforas indiretas (cf.
capitulo B).

Descrições definidas

A dl!scriçiio definida caracteriza-se pelo fato de o locutor operar uma


seleção, dentre as propriedades atribuíveis a um referente, daquelats) que,
em dada situação discursiva, é (são) relcvante(s) para a viabilização de
seu projeto de dizer. Trat3·SC. em geral. da ativação. dentre os conheci-
mentos supostamente partilhados com o(s) interlocutor(es) (isto é. a partir
de um background tido por comum), de características ou traços do refe-
rente que o locutor procura ressaltar ou enfatizar. Veja-se o exemplo a
seguir:

(5) Cientistas da Universidade de xtassactwseus seqüenciaram o genorna de


um microrganismo que pode sobreviver em condições dez vezes mais salgadas
do que li água do mar. Os dados genéticos deverão esclarecer como uu organís-
mo _ Holobacterium - vive em ambientes extremos, como minas de sal ou
lagos salgados. A idéia JO$ pesqui$aJor~j é utilizar UJlI' in!omlllç,;U para o
desenvolvimento de produtos biotecnológieos. como planta de atml, que pos~:un
crescer em solos salinos. OJ JI/dm também servirão para investigar se Marte
pode já ter abrigado formas Jimilar.-s dr vida. O ~SIIlJo foi publicado na edição
desta semana da "Proceedings or lhe National Academy of Scíences" ('"'Grupo
decifra DNA de bactéria que gosta de sal", Falha d~ S. PI/ulo, 41101(0).

São as seguintes as configurações que podem assumir as expressões


referendais definidas em português:
Dct. + Nome
0..::1.+ Modificador(es) + Nome + Modificadortes)

Det. (ArtigO definidO)


Demonstrativo

Modificador (~:jctivo . )

Draçâo relativa
Em se tratando de retomada textual por meio de nominalizaçõcs.
pode ocorrer a ausência do dererminamc, casos em que. em geral. o nome.
núcleo vem acompanhado de um modificador. freqüentemente sob a for-
ma de oração relativa cu. em certos casos. seguido (e não antecedido) do
demonstrativo ou de um indefinido. bem corno. ainda, de Uma estrutura
comparativa.

(6)"Ora,qu31querpe~~oaque lide com estatísticas considera essas variações


inadmissíveis, c levanta qlll'5fMS como ('S/tI; como fui possível. em dois anos,
atender a esta leva extra de milhões de alunos, sem grande tumulto?" (Edunu,ü(),
ano26.n.2H.janciro201.Xl).
(7) O projeto sofreu severas criticas dos assessores. cr[/inu(ns(IS)qurn
fizeram dnistir 11(' /('\"{í-/o ()dinntr.

(8) Tentaram le\':Hu ~ discorrer sohrc os mais variados assuntos, m3S 11"'1(1
algum conseguiu e1llusi~srn:i·lo.
(9) Estou agora temendo resolver estes problemas. problemas l1u',rnrrs. evi-
dentcmentC.(/llf'oqu('lr.rdoin(cir •.

A escolha de determinada descrição definida pode trazer ao leitorl .


ouvinte informações importantes sohre as opiniões. crenças e atitudes do
produtor do texto. uuxiliundo-o 0:\ construção do sentido. Por outro I:H!O.
o locutor pode, por vezes. ter o objetivo de. pelo uso de uma descrição
definida, sob a capa do dado. dar a conhecer ao tmertocutor. com os mais
variados propósitos. propriedades ou fatos relativos ao referente que acre-
dita desconhecidos do parceiro. como no exemplo (10), em que. na vcrdn-
de. o que {I IOCUlur parece fazer é anunciar que o governo vai publicar urn
"pacote";

(10) Têm corrido rumores de que o governo estuda medidas severas para
contornar a crise. Na verdade, opacote fisCl/J a ser editado nos próximos dias irá
aumentar ainda mais o desemprego no país.

Embora se trate de Um ponto pouco discutido na literatura sobre


rcfcrcnciaçâo. esta pode dar-se. também. pelo uso de ••.xpressãcs nominais
indefinidas, com função anafcrica (e nã( •. como é mais característico, tlc
introdução de novos referentes textuais). vejam-se. no exemplo (11). as
expressões; 1/111 }WIIII'IJI de camisa brunca r ca/{"a_f pretas. 11111 chinês IIIlm
OCt!II/IV de 1,1 hill/iin r/f" chineses. 11111 desconhecido. Esse exemplo cvi-
dcncia como n referente principal (protagonista) vai sendo construído tcx-
tualmente. em primeiro lugar com o emprego de descrições indefinidas,
depois de descrições definidas {atente-se para as expressões em itálico):

{li) Um homem sozinho. com uma jaqueta numa das mãos e um embrulho na
oeíra, com um ar de quem ramo I'udi;\ In ~:J.fdo de uma mcnifcstaçâo corno estar a
caminhe do trabalho nu das compras. Um homem de camisa hr;lIlca e calças pretas
Um chinês num occan()uc 1,1 hi!h:iodechincses.Urndc!<Cnnhcci<.lo.

Sobre a moutanhu de cadáveres com a qual o regime chinês reafirmou a SUl


tirania na semana pa"ada. ao reprimir ~'om punho impiedoso os estudantes reu-
nidos em nome da dcmocracin na Praça da 1';1/. Cele~tial. HH' cidadâo anônimo
fjxouulllaimagelllpoderosa.Durante..eisnÜnuln,.nanranh:idalihima segunda,
feira, (I 1)(1/11<"/11 ,I" ..,,,,,1.<11 branca brincou de dançar com a morte. Sozinho. em
plena Avenida da Paz Eterna. ele enfrentou urna coluna de tanques
A ceml foi registrada pelas câmara, da tclcv is~o americana C cstarreceu O mun-
do inteiro. IX frente pera o tanque que liderava a coluna. o cidad,jo ,lrJconlu,citlo
parou uma fileira de 23 1IJ"-'lodonr"J h/im/m/o'. Em seguida. subiu no primeiro
Ianque. "P"r que v "et's cseâoaqui?". gritava. Sem resposta, desceu. E continuou na
frente d" urulU •.11;'1"-'". O tanque tentou desviar para a direita." homem intcrrom-
pcu a P.l,SõJ!!Cm. Voltou para u centro. lá estava ele de OIWO. O 001111'/(11 só termi-
nou quando um grupo de pessoas avançou e Tirou" Im,reim de /(IIIq,,".1 do meio da
avenidaCOdc""nnhecidoU.:r.camis.'br.lnea··. V"jll.14/6189).

Observem-se, também. os exemplos (12)-(14):

(12) Leio no jornala notfcia que um homem morreu de {orne ( ... )


Um homem morre em plella rua, entre centenas de passantes. Um !romt'lll
catdo 1/11 rll". Um "auu/". Um ,'aga/Jlmd". UlIIlIJflllligo. 11111
mwnrlal. 11111 I<lW-

~~;nl;'~./;~::·~;nl::"h::::::~~'~'~·ll:~~~~::~~;:~I~~,~:Ii::~}~~:'~;,::~~:e::}~~/c -;0 p~s~:;


n:eo

(Sabinn, F., ti muI/lu d" ri:jl,!ro. 8. ed .. Rio de Janeiro. Recnrd. 1(62).

Atente-se. também aqui, para 0. modo COI1~O as expressões que


rcfurcucinm (I prolagonist;1 "rio cnnSlnl1ndo. -:: 1)O,)llfonicam~nll;'! -.esse
referente. numa opcraç;10 dupla de re{erenctaça(l c progress<l(l temãucu.

(13) ( ... 1 Se há ftlg;1 de rlivivnc para o exterior e a_~ ações despencam. os

rcüexos lia sociedade ,;in il1lcdi uw~.


Um 1' ••• ·1111'/0 r t.íH;C{J roi a quebra d •• Boba de valores de ~o\"a lonlue em

!~;i~~(~U~~JdS,;I~(i::::':',~I1.~~~;:;:~(:~;;r;;~,::I;~::;,.:~ ;;~;~~\~i~ i...


){··Crr.-c li u Bolsa não
(14) O assassino havia encontrado sua p~óxima vttíma. No dia seguinte, a
policia encontrou uma mullle~ esr~aTlg"/ad(Jno p~rqlle eCnlraJ da cidade ...

Nominalizaçõcs

Por meio da estrategío da nominali-açãa. erigem-se em objetos-de-


discurso. conjuntos de informações expressas no texto precedente etnfor-
muçôcs-snportr. segundo Aporhéloz & Chanct. 1997). que. anrcrionncn-
te. não possuíam tal estatuto.
Quanto às nominalí-oções, de ncordo com Apothéloz (1995: 1..1..1). é
preciso distinguir cmrc a operação de numinalizaçâo pmprimncntc dita
que é de natureza anaforica. e a expressão utilizada para cfctunr t;rl opera-
ção. Enquanto operação. a nomiualização atribui. como disvcmuv. li esta-
tuto de referente IHI objeto-de-discurso a um conjunrodc infunnaçôcs que,
anteriormente. não posvuiarn tal estatuto. ossinal.mdo simultanc.nucnte uma
mudança de nível e uma condcnxaçâo da informaçâo; do p<lIIltl de vista da
dinâmica comunicativa. t:ssa operação retoma. pressupondo ,I sua cxtsiên-
cia. um processo que foi significado prcdicativamcntc. que ucuba de ser
posto. Como expressão anafórica. por sua ver .. a norninafivnçâu é uma
forma lingliístiea - o .Hlh.i111I1/in)·/lredicllliro. Daí () fato de alguns auto-
res preferirem os termos 1I001lt'w,:c1o ou dcnnmínaçâo.

FunçllesdaslormasnominaisrelerenciaisnaprogresslloteKtuaJ:Aspectos
cognitivo«jiscursivos. semântico-pragmáticos. arqumentatlv os e textuals

É preciso deixar crere que os aspectos a serem abordados não são dis-
eretos. Serão apresentados sepnmdamcnte apenas para efeito de exposição.

Funções cognitivo-discursivas
As formas nominais referenciais. em grande pane, respondem. si-
multaneamente. pelos dois grandes processos de construção textual:
rctroação e prospecçâo.
Elas desempenham funções cognitivas de extrema relevância para o
processamento textual:
I. como formas de remissão a elementos anterionncntc apresentados
no texto ou sugeridos pele co-texto precedente. elas possibilitam a sua
(rejauveção na memória do interlocutor. ou seja. a alocação oufocalizaçãn
na memória criva (ou operacional) deste;
2. por outro lado. ao operarem uma recategorização ou refocalização
do referente ou, em se tratando de nomlnalizaçõcs, sumarizando e rotulando
as infonnaçi"lCs.suporte. elas têm. ao mesmo tempo, função predicativa. Trata-
se, pois. de formas hfbridas, rcfercnciadnrns e predicativas. isto é,
vciculadoras tanto de informação dada, como de informação lnfcnvcl e nOV3.
Schwarz (2()(X) denomina essa função de (t'IIla/iwção remática:

(15) A {m., c/a criança não tinha meios para sustentá-la. A mtsrra vr/hi"ha
estava à procura de:alguém que quisesse adotar o recém-nascidocuja miir 1'("("
erra durC/llIeIJparto,
(16) "As duas principais razões apontadas pelo eleitor porto-alegrense para
explicar a permanência dos pctistas no governo municipal são: eficiência admi-
nistrativa (23.4<;;') c honestuíndc (18%). ~fas" cllIll" maiJ JU'I'ff"('I1Jel1lt' <lu
enquetc é o de que boa parte do eleitorado que não \'OU no PT para governo de:
Estado c para Presidência da República deposita, no eruanro. sua confiança nos
petisras para gerir a cidade (... I" (!Jtot. 11I1O/OOj.
(17j "Quats as reais condições para caracterizare pautar a criaç3.o de galinha
caipira? Depois de meses de ucliheração. a Cumi~são ~uf{)péia surgiu com. uma
resposta ofidal, ou '"?" três rcs~sta,. para f'.III1I'"Ii'n"n~ ({['n/do; hj cond.lçõcs
naturais de galinha c~ip,ra. condícõcs tnulicionuis. e condl~'(>Cstotalmente livres.
Os mandarios de Bruxelas criaram a definição tripartite para s:lIi.fa/.eTum Imlvá·
ver desejo para um padrão da Comull.idade Européia. e.nquant.o."' ~ncsmo ,.em-
po. e de forma mais questionável. habilitando todos os upos pnncrpurs de galinha
caipira ao mercado a se qualificarem" (Folha d,. S. I'{lu/v. t lflliO)j.

Paragrafação cognitiva

As formas remissivas nominais têm uma (unção organizacional tm-


ponante (cf Francis. 1994): elas sinalizam q~l' o autor do texto e~t:i pas-
sando a um estágio seguintc de sua Inrmulnçãu. fcchand~ o cstág,~ ante-
rior por meio de seu cncapsulamcnt~ em ul1~a forma nominal. As.sul1. de-
sempenham papel de relevância na introdução. m.udança nu ~es\,]{l ~c tõ-
pico. hem como na ligação entre tópicos c subtõpicos. Ou seja. das 1~\r(~-
uuzem mudanças ou desvios do tópico. preservando. contudo. a ~OnllnUl-
dade tópica. ao alocarem a infonnaçâo nova de~tro do quadro ~a Informa-
ção dada. É por esta razão que. realizam os dOIS grandes movimentos de
construção textual acima mencIOnados.
Também Apoihéloz & Chanct (\997: 170) defendem que as expres-
sões referenciais efetuam a marcação de pnrãgmfos. incrcmemumlo. desta
forma. n estruturação do produto textual. Ressaltam que não se truta de
perõgrafo no sentido tipográfico. mas no sentido cognulvo do rcnno. em-
bom. evidentemente, as duas coisas possum coincidir. Observem-se os
exemplos (IR) c (19):

(111)L.) A gravidade na superfície do amo em contração vai mais c mais


aumentando c. OIpartir de Ul11certo ponto. até mesmo n luz não consegue m:lis
escapar-lhe. Forma-se. \'111;10. 1111\ humn' ne~ro
En!' 110m,' tem sua origem na inrcrprctaçâo criundu da Teoria da Rclarivida-
de sobre a hucraçâo gravitecional. Dentrodl'S.w/<'Oria. a gravidade nada l11:1is é
que o resultado da curvatura do espaço ao redor de um ('orro com macsa.
Num /'11"''''' '''·}lH'. o espaço curvou-se tanto {Iu('ncnbou fechando-se sobre
si mesmo 1...) IR.omildo Póvoa Faria. "Buracos Ncgrus". A Tri/"III(1 dt:' e(//II/,;-
IUls.t7/5198J

(19) Em ncnhum instante ~ contesta que o poder local sob as leis locnis é a
instância legitima P;\r.I <k~'idiluma eleição nacional ('0111 repercussão internacional.
NuUI eCr10 sentido. osa grande (1101"''''1111"do J""kr focal é funte rlc tooa
contusão eleitoral. Se houvesse ummo •dclo de cédula nacional ou aomenos esta-
dual e regra~ gcraiv para de('idir um ,"oto válido - sem mencionar um sistema
informatizado de \"(,la,,50 -. grande parte d,,~ problemas nt'"mrena <x·orridn.
Para o observador .I" fora. f"n-,' •.•·ndrl" ,'m 'IUt' " tncatprcvalc •.•· _",hr.· o
/l(u:ioll(l! é. no numrno . estranho. uma forma confusa de resolver a 1\"':'1;'''. Pu.

rém n50 (kixJ de ser uma forma democrdtica. na qual ,IS cumunidudc locais
exercem sua autonomia c o Poda Jlldiciáriu estabelece cnso a caso amagnitude c
os limites dcvsa alltOlH>mia.É cvtnanhn. m:I' na melhor tr:l\li,'50 dcmocnitica nor-
te-americana (FO/ltlld,'S.I'flIt/o. 1911Jf(XI).

Funções textuais

Função de organização micro e mecroestnnwal

cÇJ
As formas nominais referenciais constituem recursos coesivos dos mais
produtivos na construção da texnmlidade, podendo funcionar tanto C01l\O
nnafóricas (20), quanto como catafõricas (21) e (22). Quando catafõricas. na
maioria dos casos, o referente da expressão nominal é apresentado apenas
de maneira vaga, inespecifica. de forma que, apenas depois de "rebatizado"
lexicalmente. fica claro em que consiste verdadeiramente esse "objeto de
discurso". Ilá casos em que são simultaneamente anefõricas e catafóricas.

(20)"t\s Invclas cariocas são mais antigas que as da periferia de São Paulo.
No Rio. 05 moradores são mais organizados e o tráfico precisa dust apoio. diz.
Vem daí a política a.\sistencialista do tráfico no Rio.
Para conquistar rSJr apoio os traficantes pavsararn a controlar as a.~sociaç~
dernoradores.( ...l
Em 530 Paulo. rnr tipo dr convivénría entre o tr:ifico e os moradores ocorre
com mais freqüência em favelas antigas (Fr>/1m dr S. /'(/u/r>, 2NJ JIfX}).
(21) L., Aléo mar, sem se: apressar, ImUlC (I coi.ra c (/ depositou na
que
areia, surpresa tri-te. um homem mOrl(l (R. Alves. "A aldeia que nunca mais foi a
mesma". Folha d" S. Pau/o. 19105(84).
(22) t\ reforma administrativa do governo f condenãvcl ror deus razões: a
primeira f que vai haver um recrudescimento da ionaç~o: a segunda é que se
eaminhaap~~!K)slatgospataumaprofundarecess.io.

As expressões nominais carafõricas têm também importante papel


na organização macroestrutural. porque predcterminam. em muitos casos,
o número de parágrafos ou seções do texto e. por decorrência, li
paragrafação gráfica.

(23)IUpelomeflo~qualrotipolõdc liberdade.
Primeiro, :I lilxnbde·\.Cgul1lflça. Vivenciada como ausência de opressão ou
de interferência arbitráriaela ( ... )
Segundo.:a liocldaóc·cxpres<.;'io. É a libcnl:ac.le de consciência ,JtI de orioi;\(! 1... )
Terrtiro.a Jiberd:adcIJtllílica.(Jtlscja.ndiO'ilod.:p.micipaçãoemd.x·isU.--:;(...)

Finalmente, extvtc um lip" de liberdade <lU" ,,(,"~hle e~ pcrseg~ir aspir.!·


ções em ~i mcsma~ di.\liotas... [José Guilherme Mcrquior, "Tlpus de liberdade",

OF-SP, 15106181).

~D1O-OU'f>umMilação

Esta é uma funçâo própria paniculnrmenre das ncmmallzações que.


ao encapsularem a_~jnfolTIlaçÕl:s·sUP{\r!ccontidas em segmentos prece-
dentes do texto. sintetizam-nas sob a forma de um suhstantivo-predicarivo.
atribuindo-lhes o estatuto de objetos-de-discurso.
Trata-se. nesses casos. segundo Schwarz (2000). de nnãforns "com-
plexas". que não nomeiam um referente específico, mas referentes 11.'.\-
tuais nbstratns. corno estado. fato. evento. nrividudc. qoestão etc".Tais no-
mcs-núclco são in<.'~r••cclficos. exigindo realiznçâc Icxical no co-texto. Essa
cspcctfícaçso vai constituir uma seleção particular e única dentre uma in-
finidade de lcxicalizaçõcs possíveis. efetuada a partir das Prol)(lsiçúcs
veiculadorus das informações-suporte. A inrcrprctução dessas unaroras
obriga u receptor não só a pôr em ação a estratégia cognitiva de fonnaçâo
de complexos. corno ainda lhe exige a capacidade de interpretação de in-
formação adicional. Essas expressões nominais. que são. em sua maior
parte. introduzida, pelo dcnamsmnivo. ôcscmpcuham duas junções: rntu-
Iam urna pane do co.texto que as precedceestal>l:h:cemum novorcferen-
te que. por sua vez. poderá constituir um tema específico para os enuncio-
dos subseqüentes. É esta a razão por que. freqüentemente. aparecem em.
início de parágrafos. A título de ilustração. veja-se (24):

(24) O Banco Central inter ve-io ontem para segurar a cotação do dólar, na
primeiraopcraçàooncialdesscgênerouesdcuauoç50ualivrcnuw;lç50dod.m·
bio.em 15dejaneim.
,\ 0l'/'raçtio ocorreu quando a moeda havia alcançado RS 2.08 (Fo/l1II dI! S
l'aulo.2612J99).

Aspectos semántico-pragmâricos
Nas formas nominais referenciais as escolhas lcxicais desempenham
papel de extrema importância.

A escolha do nome-núcleo c/ou de seus modificadores vai ser a respon-


sdvel pela orientação argument:lti\'a do texto, conforme veremos a seguir.

Nome-núcleo:

Genérico _ conforme foi dito. nus !lol!lin.llizaçües e também. mui-


tas \·ClCS. nas rotulações de scqilências textuais anteriores. o nome-núcleo
é genérico. mas assim mesmo dotado de carga aV:llialÍva:
(25) (..,) O problema reside no ponto de vista em que da virtude se passa ao
vicio. Procuradores ou promotores por vezes não têm feito" melhor uso de sua
função. Alpm, utilil.alll·se do cargo apenas para ganhar visibilidade na mídia
quando, mesmo desprovidos de indícios consístemcs. lançam acusações que pre-
judicamlerceiros.nãor:Jrodcrnaneirairreversf\"el.lI;lbasicamenledoistipos de
remédios parn rS.lt'.f a/m.ws (Follru de S. Paulo. 27107fOO).

(26)~acun\'crsaqueleriasidogra\"adaem 19 de agosto,/l.lirnndadizquc o
chefe ironizou a proposta. dizendo que não aceitaria como suborno va metade de
um terço do que fora anteriormente acordado". que os empresários caça-níqueis
de Minas calculam em RS (, milhõcs.

O l'sni",la/v ocorreu uma semana depois d~ mais recente ação ostensiva de


apreensão de mãquinns em Belo Horizonte (,.,) USIr>É. 06109100).

Metafórico - em grande mimem de casos, a escolha da metáfora


para a rccategorízaçõo do referente é importante para realizar uma avalia-
ção que permita estabelecer a orientação nrgumcntativa do texto:

(27) Hoje falaremos de dois brasileiros típkos da era do real. 7.f. das Couves.
o primeiro, é pobre. (. .. ) \Valler Moreira S~lIe~." segundo. é milionário, (. .. )
O real cf" nrcfessor CurJ"JO (ui coucebrdo par~ facilitar a vida da tríbo de
Z! das COIIL"n c para infernizar o cotidiano dll trupt' de M(>r/"iru Salll"s (Josias de
SOU7';L, '"De bancos e geladeiras". FolJ.iI d,' S. 1'(11110, 22/11/95).

(28) Em artigo recentemente publicado f".'10 profes~r ~Ian:os Cintra no )or.


I/(I/,/(lT(lrdr(1G/IIIIIOI,nritica-scquco,br.l,ilcirossãoforçadosapagareen:a
de 35~ de impostos nos alimentos que consomem - enquanto a média interna-
cjonaí é de apenas 7<;'.
Isso ~ um verdadeiro absurdo! Um país que tem tantos recursos naturnis c
tanta eapaeiJad~ de produzir safras agrícolas L.)
A J.:u/u /ri/m/lÍrio pare,-'e que não tem fim. Já ultrapassou II casa dos 30% tio
PIR _ quando em patscs de n'llda nunimu como o Brasil e13 n50 passa de 24%. (. .. )

Omaisescandalo,oni~'ollldoésabcrquc,noslÍltim{lSlrCsano<;,arcceita do
Imposto de Renda _ sozinha - saltou de RS 18 bilhões para mais de 34 bilhões
(...
I /Folha cI,' S. 1'",110, 19/11100).

(29) De l:í para cão PT passou a ser atacado por suas belgas internas, mal que
o acomete até hoje.
OIl/fa/wdra/(lI1{"<III{/l/ul"idraç((pt'lisl{/éadequcol'an.idosósalxcriticar,
sempropornad:Lfhrol:',ll110100).
Metcnfmlco ou rneronírnlco _ no C3S0 das anáforas associauvas.
Em muitos C3S0S. inclusive, um novo referente textual a ser introduzido
no texto é construído mctonimicamcntc:

(0) Estávamos lodos, aqui da vizinhança. acostumados a vê-lo. parado em


Irente à casa dos gatos.
Eu o conhecia havia quatro anos.
Quieto. acabrunhado, um farol arrebentado, a pintura que foi gelo adquirio-
do cor macilenta
EstilbJ\'os de ferrugem. 05 pneus duraram algum tempo. murcharam, care-
cas. Os cromados cheios tle pontos negros.
Mas o.~\"I·dro.• misteriosamente intactos.
o Fusquinha acabou UIT\;lespécie de mascote. ( ... ) (Brandâo, Ignácio de
Loyola. "Agora há um vazio na rua", Shopping NCM"5. 25108/89).

Introdutor clandcsttno de referentes -:I rccatcgorizaçãn por meio'


de expressões nominais permite a introdução, no texto, de "referentes clan-
destinos" (cf. Apothélnz, 1995):

OI) ( ... ) no gramado daqueleluxuoso hotel estava montada uma gigante sca
tenda verde. cercada por guarda-costas armados até os dentes. Neb esta"a aloja-
do ninguém menos que: o lodo-poderoso homem fone da l.Ihla. o coronel
Muammur G:ldafi. que se recusara a ficar hos~tl:ldo no Shermon alegando Ilue
este representava um símbolo do imperialismo americano. O gt'Slu circense tio
dirador Irbio não chegou a surpreender ... (/stoÉ. U6/09/(0).

Metadlscurslvo -:I rccarcgorização de referentes pode ser realiza-


da, ainda. por meio de formas lIletalingüísticas ou mewdiscursiv:ls (cf.
Pmncis, 1994). Entre tais formas podem-se mencionar:
a. nomes "ilocucionârios", como; ordem, prmne.ua. conselho, ad-
venéncia, afirmação, (uscrruo. crítica, proposta, alegação, cumpri-

(2) Inf.: ... e se eu puser outra subst5ncia ... que tiver um fON COMUM.
acontece ... se nlo t.il·crum Icn comum não ... se nãotiver íon comum ele não quer
saber ... aqui ... aqur a nossa teoria ... i. baseada nessa ... nessa (ljírl/lm;i1o .•• (EF R1
251: 435·439).
b. nomes de atividades "Iinguageiras": dncrição. t.rplicaçiIo. rda·
to, esclarecimento, rtsumo, hist6ria, debate, exemplo. ilustração, dtfini·
Çfl0, denominação etc.:

(33) Doc.: Por que por que (ele) t chamado de bairro Floresta?
Inf.: rssa d ••nomillUção floresta na reaVrea1idadeeu eu nunca descobri ape-
sar de ter perguntado mas o que me informaram t que antigamente havia mesmo
ali:: ... muito macto uso há muitos anos 3tr:i..nt? ent10 chamavam floresta (010
POA48:58·63).

c. nomes de processos mentais: análise, supo.dçcla, mimd e. opinião,


conceito. ("onv;CÇfio, ol"uliaçcla. ("onJtaftlçcio erc.:

(34) InU ...! porque eu acho ... eu não não estou de acordo com isto - ... eu
não andei pixando muito Lévi-Strauss para vocês porque senão... vocês não o
conhecem mas cu há anos que eu me bato contra o estnnuralismo-« ... em todo
o caso neste nlve! de análise eu creio que nõs podemos utilizarmos data
r••-flexão (EF SP 124: 184-190).

(35) (...) mas o que se viu na última quarta-feita. quando o suposto espe-
tãculo deveria estrear, abrindo o 1° Festival Recife do Teatro Nacional, foi urna
leilUradramatizmla mal concebida c conduzida em cena.
A opinião não é pessoal (...) (""Muitasvaias para Romero A. Lima e Ariano
Suassuna". Iomai do C(!/nmlrdo, 22111/91).

d. nomes metalingUrsticos em sentido ptÚprio:fro.Jt'. ~rgunla, q/lt'.flão. sm·


tença. palavra. termo, fHlráKrofo etc. veja-se o exemplo:

(36) (...)"0 programa mata a fome. mas não ajuda a diminuir a pobreza nem
estimula a economia das regiões mais carentes. diz Terra. a propósito do corte
lIascestabãsicaspar,lasfamí1iasmaispohres.
Tem-se, nessa única Sf'nlf'/lça, os deis lados essenciais do governo Ale.
Primeiro. o aeademicL\mo. Segundo. o eeono!11icismo" (Cl6vis Rossi, -O
retrato de um gon'rno", Folha di' S. t'onío. 2l!lIlfOO).
(37)LI: ... ao(lsatr:íscu bolei um1ivmqucnuneaescrevi...comprccndcu? lá
lodo pronto e jamaix foi escrito CUI quer: se discutia o dcscquillbrioeco lógico não
se falava nem nisso M quinze ou vinte anos utrás ninguém us.ava a t'.\l'rcssrio
dest:quillbrio ecoI6gico ... o livro todo tava bolado (02 REC 05: 821·R26).
Dcnomin:u;ão reportada - por meio da denominação reportada
(citação de termos ou expressões). introduz-se no texto a fala do Outro.
mantendo. com relação a ela, um distanciamento critico, assimilado pelas
aspas de conotação autonímica (Authier, 1981):

(38) Fernando Henrique Cardoso não gosta de ser chamado de neofíbe-


ral. Quando alcançado por C.I5<l "<)fcII-"<I". responde. sempre irritado. que de-
fende um Estado forte, dotado de poder de regulamentação. que não se ccn-
funde com o Estado dcsenvolvimentista, sempre inclinado >I se llIeter onde:
não deveria
Não seria justo chamar esse bate-boca de controvérsia de "nefelibatas". Des·
cendo das nuvens. u panorama, fica mais claro: nos quase seis anos de "política
moderniwdora". o governo FHC executou diligentemente as reformas que estão
no cardápio do Consenso de Wa~hington (Follw de S. Paulo. 19ft 11(0).

(39) Ao analisar os resultados do Sistema Nacional de Avaliação Básica do


MEC. o ministro Paulo Renato SOU7..:1 (Educação) afirmou que ">I escola eSI~
ceda vez mais chata. e:o atuno cada vez mais di~pcrsivo e in<1isciplin"do·'. (...)
Para Paulo Renato. l'.ue "efeito c/'alio:" é provocado por duas razões cen-
trais: a falta de reciclagem das escolas e:a grande oferta de conhecimento fora da
sala de (LUla.principalmente na Internet (Folha d~ S. Paulo. 291111(0).

Qualificadores: modificadores axiológicos positivos/negativos

Também ti seleção dos modificadores uvaliauvos é feita de acordo


com ti orientação argurncntariva que se pretende dar ao texto:

(40) (. .•) De que adianta reclamar da mã distribuiç~o de renda se os brasilei-


ros não têm educação c saúde de qualidade, trabalho condigno e renda suficiente
para fazer-crescer suas fumflias? Não é possível continuar com rssa retórícafaísa
e maldosa, Isso afronta a razão humana c submete o povo e seus produtores ao
sofrimento e iI indignação." (Folha til' S. Paula, 19111100).
(41) O jogo terminou com a vitória do São Paulo. t\ excelrnte rxibiçiio feita
pelo time mereceu o elogio de todos os cronistas desportivos.
Casos hd. evidentemente, em que uma avaliação, aparentemente positiva.
serve como comenmrio altnrucnre irônico:
(42) "O que permanece um mistério são as razões para a generosidade CC/n·
dellte do Ministério da Ciência e Tecnoíogía em sua gestão anterior. Aliãs, diga-
K ~e ~J.~Ul:em, rIJa ~rnrrr}Ja rquipr ~ a meSIll4 4ue coeceõeu o privilégio de.
renuncia fiscal Ilmpostc de Renc:b) p:ara aplicações em pe$qlli~3 (FPlha l/r S.
Paulo,2SfllfOO).

Seleçiodosdeterminantesnasexpressõesrelerenciais

Na re:llivtlção de referenle~ teXlllai~. a M'1eção do determinante de-


sempenha p~pcl de deslaque. dado que otipode delemlin;tÇ.ln da.' e xpres-
sõcs n(lrnlO<lI~Cslll1x'1ecerel;I(;CO{'~rcferenciaiv r'rll'dflca< ISchwau. 2('(10).
Existe uma literatura bastame a1entlul.1 "'''rr n <em;lnlicll e " prnpn:ltica
dos dcrcrminarucs e.spe('l:llmenlr .10 al1ii=" .1eflni.l.l (Valer. !lJi'). 1'JS4.
1986; Hawkins, 1975; Klcibcr. 1')S.l. lQS~; Cornhh. 1'}S7: entre vârioe
outros). mas ns critérioc ar apr cscnradov. tai' CCllll" unicidade.
identiflcahili.!ade. 1'l(;ah7.ahilidadc eu: - - com lll~uma~ uceçüe~. é ctsro
- abarcam apcnav um pequeno ecpcctro do Icoôrneeo.
Quanlo ;1lI\ três u~n., mai~ Ireqücntcruentc <lpOnI3o.l(KpJ.1':Io demons-
tratlvc - d~'UICII, unafórico e cênico memorial _, lIéguelin (lt)Q~) 1.11\-
tinguc as ro"iç"lCs do h'c utor e do alocutãrío. Nll r"..rspecuv J. do ;lJ,-., •.:ul;ino,
os emprc~o, situacionais e anaróríco-, \;"1\)0\ 111:11'f;kei, de pr •••. ·C'~I!. na.
medida em \!UC " referente J~ ...: encontra \·ali.l:l.1o em _U;J mem,'rla (h~·
cursiva. devido <lO.'connecuncnt« que de tem .1•• e,'nlC~h' em -cnudo
amplo. No momento da ,-c,,"<'nCI:l da [llTln:1 uonunal dcmonvtranva. a.
memória discursiva encerra lanho a. mf"rm:I\';lu .10.- •• n~clII pcrccptual 3~·
sccíada ao fl,/lo/(/"ml, quanto ti Illf"r1n:ll:ã •• cunctrufd.r 1"'1 na \edul. Os
pressupostos aSMx'i:ld(,~:'l Iorrua 111I!!IJI'U\.·;J"c ,'<C N" _:i.. a.'~lIn \crifi':a·
dos pelo ~st:II.I(I da memóna .1l'(·Ul~I\:l . .1(' 1110"1,,'IU~ a rtlmpçtêoC1a.
inferenciat do alocutdrio t arcn:., 111\"I(,·'):llTlentl.' .;.{l1icIIlda.
Ao contrário. no caso da di-i.\i~ memortal. o 1<••.. -utor. e):.--.,;cnlriC1lnlCnte .
se exime de adaptar a forma de M"U.Ii'-CUTh<la.' C"latl•• pre-unud •• dc"coube-
cimenroc partilhados. utilizandoa cxprc-, •••;" .ktll<,n_tr;Jti\:I "umlutcrnlmen-
te", de forma que cabe a<l ale'c·ul:ll'H' acom •..L'I <l/~,\urr"'l J. mcmóna dl:s,
cursiva. Entra aqui l'rnJ\I~" um r'IIlIr.lh.dl,l'tIlIlUIII':;lIiJ" Iund.nnentadc nào..l
soore a antl',:ipa,';;" de dificuldade- intcrprrtnuvas , 111."\.' ~11l1••"hle t' ll.pdo:\
cooperação do aíocutãrio. 'lu,' de\cr.i "vcnficru' por ~I UlCl'onlO ," ptessu-
postos iueremcs 11forma d"I1",n51r:I!i\"a. V,·j:H.C o "cmpl\!

(43) O cinema. n:lCinnal rnk ser ecusedo de crímes hroJondo:\. nu_ nlo roi
em nenhum filme brJ..'IlcIIU que Itllud cOl'lh('CiltloC'l'I10tb f,~: ~fn..lll." loÓI ~-.n
depois de morto", An!e~ de descobrir o ~xo, façanha que tardou um pouco. li
cinema americano g:!SIOI1suas melhores energias sobre rnntança de índios. Só
depois llu'I"rla {"('mi'uli" d" st'nml", }.fllC Ctmhy foi descoberto nnvr inimigo
pura n mclhor povo da terra. Antes disso. eram 05 índios (Carlos 11eitnr C<my, O
grnndc roubo do trem, FolhadrS. f'ulI/t>.O:;/0Rl93).

Apothéloz & Chcnet (1997: 167 e seguintes), bem como Apothéloz


& Rcichler-Béguelín (1999) sugerem alguns fatores que favorecem o npa-
recimcmo de um artigo definido ou de 11mpronome demonstrativo como
dctcrmlnnmcs dax Iormns nominais referenciais. embora reconheçam que.
em um mimem considerável de contextos. as duas formas se encontram.
praticamente em variação livre. Contudo. 11 que determina li cnnitcr com-
plementar ou não de ambas. especialmente no que diz rcxpcitn ao portu·
guês - que parece apresentar caructcrrsticas diferentes de algumas outras
línguils qcnnto ao uso do definido ou do demonsmutvo - constitui ohjeto
central de pesquisa n50 so de minha parte. como de outros pesquisadores
como Cavalcante (20QO) e Zarnponi (2001/2002).

Uso 00 DEMONSTRATIVO

De acordo com Apothéloz & Cbancr. os casos em que se privilegia.


ria o emprego do pronome demonstrativo seriam, entre outros:
I. casos em que a expressão referencial opera uma rccarcgoríznçno
mais ou menos metafórica do processo. isto é, sempre que o substantivo
escolhido requnliflca o referente de forma pouco prcdizjvel:

(44) Nestes tempos de crise e de cortes de gastos públicos. (l presidente pia.


ncja dar uma cara mais moderna a seu governo (...)
Mais do que essa operação píástica no w,,·('nw. o que motiva uma queda-
de-braço entre os aliados é a criação de um superminivtério para cuidar tia produ.
çno e comércioexterior L..) (/JwÉ. 411119!!\

2. casos de polifonia (Ducrot. 1980) ou heterogeneidade discursiva


[Amhlcr-Révuz, 1982). como. por exemplo. () discurso indireto livre c a
denominação reportada. ou seja. sempre {Iue () substantiva-núclen da ex-
pressão referencial não é ~ ou não parece ser - totalmente assumido
pelo locutor. ou é empregado ironicamente, isto é, quando colocado crurc
"aspas de conotação autourmíca" (Authicr. 1981: 136), como se pode ver
nos exemplos (38) e (39).
3, casos em que o nome-núcleo do SN vem modificado por um adje-
tivo na função de adjunto adnominal _ não pertinente para a identifica-
ção do referente. mas importante do ponto de vista da argumentação (45)_
Caso se queira de qualquer forma usar o definido. será necessário modifi-
car o seu estatuto sintático. transformando-o em aposto, como em (46):

(45) A Polícia Militar, durante uma Min, prendeu hoje vérios moradores da
favela da Rocínha. Essa dttt'frçiio brutal ~ um mOlil'O âectarodo revoltou os
rncradorcs do lugar.
(46) A Polrcia Militar. durante uma Mil:, prendeu hoje váom; moradores da
favela da Rocinha. A dt'ttnçi1o _ hrutal t' $t'm mo/il'o drcíarado - revohou 05
moradores dn lugar,

4, casos de SNs associativos em que o demonstrativo não seria pus-


slvel de substituição por um definido, visto que. se isto acontecesse, teria
alterado seu valor referencial ou se criariam dificuldades relativamente
sérias para se chegar a uma interpretação adequada. Observe-se o exem-
plo (47):

(47) Os caminhoneiros fizeram uma paralisação, bloqueando totalmente as


principais rodovias do terrítõrío nacional. Considcn:-se que t'S$t'mt'Í()(It'/wnJ'
porttt vital p:tr:l a economia do pais.

5. casos de uso de hipcrônimos, quando se pretende evitar uma refe-


rência genérica:

(48) A antiga Estação Son>cabana. em São Paulo, foi transformada em uma


das mais modernas sala~ de cuncerto do mundo. ESJa arte vinha exigindo maior
incentivo de parte das autoridades públicas.

6. casos de marcação de parágrafo: o fato de ser comum encontrar


expressões referenciais nominais em fronteira de parágrafos decorre de
uma cstmtc!gia que consiste CI11balizar as fases mais importantes do dis-
curso, par.! facilitar não apenas ,I sua recepção. mas também a sua produ-
ção, Nesse cuso. a visibilidade das expressões referenciais é uritizada como
reCUT!;'Oparu incrementar a estruturaçâc textual. A referência dcmcnstrati-
va é justamente um meio de tomar perceptivelmente saliente urna expres-
são. Por esta razão, as nominalizaçõcs demonstrativas são comuns nus
momentos em que se produz uma mudança de ponto de vista e contribuem
para marcar essa transição.
7. cases dc referência problemática: o referente da expressão anafórica
possui. em geral, um alto grau de predlzlbilidade e, portanto. de acessibi-
lidade, isto é, o referente pode ser facilmente inferido com base no co-
texto prévio clou no contexto de uso, de fonna que sua presença na memó-
ria discursiva pode ser considerada latente no momento em que a anáfora
aponta para ele. Contudo, os referentes são, por vezes, menos predizlveis
e até mesmo impredizfvels, obrigando o receptor a introduzir um novo
objeto em sua memória discursiva e construir a informação contcxtual de
modo a permitir que esta introdução seja consistente e compatível com o
estado atual daquela. Neste caso, o uso do demonstrativo seria pratica-
mente obrigatório. como em (49):

(49) A~ lideranças sindicais estão promovendo. em todo o território nccio-


nal, mutirões de esclarecimento da população sobre a afliüva situação do pais e
as alternativas possíveis para enfrentá-la. S6 esta tomada d~ comci,:nciu. que se .
vem f31.c:ndo necessária há 1anto tempo. poderá levar a mudançrls significativas.

Em suma: um dos efeitos produzidos pelo demonstrativo é o de re-


cuperar a informação do co-texto à esquerda. É por isso que os SNs de-
monstrativos podem ser facilmente parafraseados por um SN seguido de
um adjunto adnominal ou de uma oração relativa que venham atualizar tal
informação. Este fenômeno é claramente verificável quando o núcleo no-
minal do SN unafórirc é um nome de processo. por terem estes valor se-
mântico incompleto. sendo. pois. intrinsecamente anafõricos. Quando in-
troduzidos por um determinante demonstrativo, este acarreta a captação
dos argumentos do processo por meio da referência.
A expressão esse N (:: o N que eu mostro, o N de que eufa/o) funcio-
na como um gesto do locutor (dêixis textual). Gary-Prieur & Leonard
(1998), contudo, apontam ainda que, além dessa face do demonstrativo,
existe OUlrJ. voltada para o destinatário. Esse permite apresentar um obje-
to como sendo ligado às pessoas do discurso. o que lhe dá uma dimensão
discursiva. Assim. a autora propõe a seguinte ampliação da definição do
demonstrativo, para incluir também o interlocutor:
Esse N = um x que é um N e sobre o qual eu chama a atenção de tu.
Essa definição mostra que o referente do demonstrativo, classificado
como N. ~ identificado para o locutor e não impõe nenhuma condição de
identificação prévia para o alccutârio. E talvez aí repouse a dificuldade
para a resolução do demonstrativo em relação aos demais determinantes
(ind~finido e defin~do): a instrução semântica dada pelo demonstrativo é
prectsamentc focalizar o referente do SN por ele introduzido, colocando-
o em relação com o par cu/tu constitutivo do discurso.

Uso 00 ARTIGO DEFINIDO

Favoreceriam. entre outros casos, o aparecimento do artigo definido:


1. presença no interior do SN anafóriro de um adjunto adnominal ou
complemento nominal que designa um dos actantcs do processo (mais
freqüentemente o objeto):

(50) O cronômetro corneçou a correr. Quando o ministro da Fazenda. Pedro


Malan, anunciou na quarta-feira 28 o tão adiado pacote fiscal rara desarmar a
bomba que pode detonar o Real, o governo iniciou. mais uma vez. uma corrida
contra o relógio. Em menos de um ano, foi o segundo pacotào em seguida a Utn:1
alta estratosférica de juros.
O palco do anúncio. o auditório do Ministério da Fazenda em Bra.~Clia.foi o
mesmo (l5/oÉ. 4111198).

2. substantivos predicativos morfologicamente derivados de verbo


que figuram na proposição nnminalizada;

(51)"0 Ministério da Saúde adverte: o cig~rro causa impolê~ia-. A odver-


rindo vem acrescentar mais um dano aos que vinham sendo antenorrnente anun-
ciados.

3. nomes predicativos que designam um atributo da enunciação. isto


é nominalizum um processo, mas não aquele denotado pelo conteúd.o
p~oposicional. São nomes metadiscursivos que tipifieam a ação .discu~l-
va que teria sido realizada pelo cnunciador de um segmento discursivo

precedente.

(52) O presidente afirmou em recente cntre\'~sla que não é: ~m neoliberal,


mas que defende um Estado Moderno. (...) A ~;rp/r("açdo nào con~enceu os [l"fe-
4. casos em que o substantivo predicativo é um nome genérico. como
coisa, fato, ~\'l'nlo etc .• especialmente quando não seguido de uma cxpan-
são determinativa e se encontra em posição temática:

(53) Mais um condenado ~ levedo à cadeira elétrica nos EUA. A cena foi
Iilrnada pela Tv americana e chorou os telespectcdores.

Com base em análise prévia. parece ser possfvel nfirrnar quc o portu-
guês tem, em diversos desses casos. um comportamento diferente. pelo
menos relativamente ao francês e ao alemão: poder-se-ia dizer. à primeira
vista. que nossa língua é mais "tolerante" quanto à inrcrrnmbialidade do
demonsmuivo e do definido. Basta. por exemplo. retomar ()~ exemplos
aqui uprcscmados. 4UC permitirão verificar quc.u par de casos categóricos '
de emprego de uma e outra dessas formas. parece haver uma extensa faixa
intermediária em que eles se encontram em variação livre.

Uso DO ARTIGO INDHIN:DO

As expressões nominais introduzidas por artigo indefinido não são


normalmente adequadas para a retomada de referentes já introduzidos no
texto, Contudo. corno fui destacado antcrtonncntc. elas podem. l!!II certas
circunstâncias. desempenhar tal função. São três os principais desses cu-
sos. segundo Schwarv (201)(): 59·60):
I. quando se seleciona um referente no interior de um conjunto já
mencionado:

(54) Um 1:rupo dr cotegíais entrou na sala. Um rapazinho loiro acenou


para ruim.

2. quando se nomeiam partes de um referente previamente mencio-


nado (55) ou. então. conscientemente. não se especifica melhor o referen-
te. para criar 11mefeito de suspense (56):

(55) precisoconsertar otelhado. Umalellm esta quebrada.


(5(,) Assalto a banco: os meliantes atiram no motorista de um C:lITOforte. O
caixa age com a rapidez de um raio: fazcndoodinheirndesapJTCcern5nses3bc
cOIlIo,apresent3i10S3SS31I3ntesdu3seaixas\,a.zias.Ànuile.derccebcurna\lisita
A~OGRfSSÁORfHRlNCIAl

inesperada. No dia seguinte. 11m <"<Idâ\"t"rt retirado de um riacho próximo (exem-


plo adaptadc de Schwarz, 2{X)():59)

3, quando" expressão anafõdca focaliza mais fortemente ti informa-


ção que veicula do que o prosseguimento da cadeia coesiva:

(57)" velha scuhoru desaba sobre a cadeira da cozinha. E quando sua arniga
chega. não encontra a avezinha. ma~ 11111 !Uontinl", dt" inft"liddlldr, 111/1<1 roi!illl",

dunifi,.",f{/ enmfllSll (adaptado de Schwarz. 2000: 59).

Referenciação e argumentação

Por fim. a função de recatcgorização nrgurncmntiva. que. como vi-


mos acima. pode ser também realizada apenas por meio do nome-núcleo
ou pelo acréscimo de modificadores avaliativos (positivos ou negativos),
pode Ser também observada nos exemplos C5K)a (64), que permitem evi-
denciar a relação Intima entre refcrenciação por formas nominais e urgu-
mentação:

(58) O possível uso de


mr~scis cornpnstm dc urânio empobrecido. de alto

derá
teor

tal
csp~lh"r morte e doenças
irradiativo. pela nviac•:.10 none-amcricann ..'ohre" tcmtõri" ,·"lo111hiano.p0-
~ohr~a I'0pu\a,;"u' brasileira e dos vizinhos.
come ocorreu no traque (' em KO~O\'(I, ,e~uml{l pesquisas realizadas após os
p;lhe.,
conflitos. Essas [arOl trrr{l"('j.\ poderão ocorrer ~c se rompruvarcm as suspeitas ...
(Fo/llll de S. PaI/lo. Caderno Dpiniáu, 16IfJ-J/UI)

de
(59) O dossiê Carifc
seu~ amigos tucanos -
f Ol<li~ um fato nebuloso do
governo AIC c de alguns
acu',,(\"" dc rnamer c••ntas M:nC!:1> no ~.\!crior.

deP~h:;~::;·~~:":'~~:~'~'~~:~J;~~ua~;I~::~~.,,::~'~:i~:I'1~~'~~~~:~~
maior parte tio IJtII,,·I,í,w
t';~~~e~~~~~~
fosse I1l~S1ll" fajuta. r.las c" n:,IO? CF,'mando Rodrigues.
"0 do,siê re~uf!.!itado·'tFI)1I1<1 ,,," S. /'al<lo. 05f().lf(Xll.

(6()1,\ in\"~<tig:lf •.àn começou em 12 de novembro de 9~. Terminou abrupta-


mente em 19 de fevereiro de \.1').A l'F havia solicitado mais pr.JZOpara novas
diligências. Um .",IIi/lr,·mo d" ('IWI\"(/mlor-guul dtl H.·p"b/i("(l, Go:r,dduljrindciro,
desconsiderou "p<."<1idnlid. lb.I.
Nctc-vcquc.voru rc!<I\',10 :IOS rrccboe acima, havia sido fe ira rcf••rêucia. no
iniciodotexto. a licraldollrindcirocà mídia:JeOllll..u:ula .• luch<l\"i:l.lncntl."rra-
lIou:,,-,"nlO.
(61) Ilude-se aquele que vê a Área de livre Comércio das Américas apenas
como mais uma imensa zona franca. O proj~w das tlius expansioniuas norte-
americanas vai muito além das medidas de abertura de mercados e c$I<'i focado
nuclearmente na construção de uma msthucionafidadc que consolide o domínio
das grandes redes empresaríaís e financeiras norte-americanas no continente (Luiz
Fernando Garzon. "A A1ca e o absolutismo duradouro sobre a periferia". CC1fUS
Ami8()S, n. 57, dez. 2001, p- 26).

(62) Os termos do Acordo da Alca mais parecem com os de uma procuração


por instrumento público em que a sociedade repassa, definitivamente, plenos e
totais poderes às redes privadas oligopólicas. O l'"dt'r dos Jt'"/r,,rtJ d" capital K
estende,inc1u~ive.aofuturoquandoprocuralllimporc1;íusulasdeiJTe\'ersibilidade.
queimando possíveis portos de partida e naus de sarda Iid. ib.).

(63) Hoje, Lacne desperta ódio e perplexidade. Friamente, confessou 11 as-


sassinatos de crianças. entre quatro e dez anos. Duas outras morte s foramcontcs-
sedas informalmente à polícia. até quinta- feira. 27. O MO/utw d.· Rio Ctoro. corno'
passou a ser conhecido. gostava de registrar num caderno o dia e a cidade onde
passava L.). O f/lrdorilllO da mOrl~ fez questão de dizer que U'IlI profissão: é
engraxador de portas de estabelecimentos (...) (fJtnÉ. OlKl2lOO).

Grande parte dos estudos sobre a referência textual tem-se ocupado


excessivamente com a questão das restrições sobre a anáfora. sem levar
em COnt:1as funções cognitivas, semânticas. pragmáticas e interativas das
diversas formas de expressões referenciais. que precisam ser vistas como
multifuncionais [Apothéloz & Reichler-Béguclin. op. cit., falam em poli-
operadores). Todas elas têm. além disso. uma dimensão simultaneamente
construtiva e Intersubjctiva.
O discurso. à medida que alimenta a memória discursiva, fornece
uma representação de seus estádios sucessivos, particularmente ao
"formatar" as expressões referenciais, que, nesse sentido. operam como
"chaves" (c/ues). Tal representação. sem dúvida. pode ser ela mesma ma-
nipulada e as expressões referenciais são precisamente um dos lugares
onde a manipulação é não só possível. como visível.
Em outras palavras: a função das expressões referenciais não é ape-
nas referir. Pelo contrário, como mulnfuncionais que são. elas contribuem
para elaborar o sentido. indicando pontos de vista. assinalando direções
aegumentauvas. sinalizando dificuldades de acesso ao referente c
rccatcgorizando os objetos presentes na memória discursiva.
CAPITULO B

A ANÁFORA INDIRETA

!' eSlrat~gia refere~cial de associação consiste no emprego de ex-


prcssocs definidas unafôricas. sem referente explícito no texto. mas interfvel
a.partir. de elementos nele explfcitos. isto é. trata-se de uma configuração
discursiva em que se tem um anaféríco sem antecedente literal explfcito
(portanto. não condicionado morfossintaticamenre por um SN anterior),
cuja ocorrência pressupõe um dcnounum implícito, que pode ser
reconstruído. por inferência. a partir do co-texto precedente. Silo as cha-
madas andforas indiretas.
As anáforas indiretas caracterizam-se. assim, pelo fato de n50 existir
no co-texto um antecedente explicito, mas sim um elemento de relação
(por vezes uma estrutura complexa). que se pode denominar ancora (cf.
Schwarz. 2000) c que é decisivo para a imcrprctaçâo: ou seja. truta-se de
formas nominais que se encontram em dependência interpretativa de de-
terminadas expressões da estrutura textual em desenvolvimento. o que
permite que seus referentes sejam ativados por meio de processos cognitivos
inferenciais. possibilitando. assim. a mobilização de conhecimentos dos
mais diversos tipos armazenados na memória dos interlocutores" Tais
anáforas são também rcspons,h"ei"~ pelos dois processos que. como foi dito
inicialmente. s50 fundamentais para a progressão textual: trata-se. no C,lSO.
da introdução de novos referentes. isto é. da inserção de referentes na es-
trutura de refcrcncialização mental (ativação). 11 que vai acarretar uma
ampliação do modelo textual. pela inserção de um novo nódulo informa-
cional; e a retomada (reativ3çãol. responsável pela continuidade referencial.
ou seja. a remissão constante aos mesmos domínios de referência. gamn-
rindo a prosscqüôncia do quadro referencial global. É o que acontece, por
exemplo, com a expressão a manobro em (1):

(I) De acordo com tcgtcmunhns , o a\'iào saiu de sua reta POUl"U depois de
d~olarefezurlló1meia-\"n1t3.quanduMlhrc\"na\'aGonc:ssc.r\lIIlII!IP"rateria sido
uma tentativa do piloto de reconduzir 3.aeronave ao aeroporto (Fo",,, dI' S. Pau-
10.26/07100).

Anáforas deste tipo desempenham um papel extremamente importnn-


te na construção da coerência. Muitas vezes. por ocasião do processamento
textual. existem diversas representações tópicas potenciais e. somente no
co-texto subseqüente. fica claro. por meio do encadeamento referencial efe-
tuado. qual delas deve ser selecionada na interpretação.
As anáfnruc indiretas têm recebido na literatura diversas denomina-
çõcs: infercnciais. mcdiatus. profundas. scmâmícas. associativas. Adoto
aqui a denominação de anáforas indiretas. seguindo li argurnentaçân de
Schwarx (2000). de que existem diferentes tipos dessas anáforav. que po-
dem ser classificadas com base nas operações cognitiva, c representações
de conhecimentos necessárias à SUóI interpretação. Segundo a autora. mui-
tas anáforas indiretas não são explicáveis por simples relaçôe~ de ussociu-
çâo (termo que. inclusive, ainda careceria de melhor esclarecimento). ma"
sim por complexos processos conclusivos. que nâo se resumem ;1 relação
associativa. Defende a posição de que nem [0(\" anáfora indireta depende
de processos tnfcrcnciais. já que estes. paru ela. se resumiriam àqueles
processos cognitivos que ativam inforllla(,'I!C~ representadas na memória
enciclopédica dos interlocutores. Tais inferências seriam de doi.~ tipos:
I. ativação de conhecimentos de mundo armazenados na memória
de longo termo para a desambigüizaçâo. precisão ou complementação de
unidades e cstrunuus textuais:
2. a convtruçáo de infunuuçõcs. ou seja. a formação dinâmica e de-
pendente de contexto (vsituuda"] de represemcções mentais. com vistas à
construção do modelo de mundo textual.
O processamento das anáforas indiretas depende. como já se meu-
cíoncu. da prc~ença no co-texto precedente de determinadas unid,ules ou
estruturas cuja representação semântica c/ou infonn:lçtJOCs conceituais siio
relevantes para a sua interpretação e que podem ser dcnonunadu-, "áncu-
ras". A cxprcs~ão que funciona COIllOâncora ativa ootéxlco mental rcpre-
senrcçõcs nucleares, tornando acessíveis relaçõc.~ sernámicus c conceituais.
bem como um potencial inferencial, possibilitando. assim. a evocação do
contexto relevante.
Um subtipo das anãfoms indiretas são as anáforas associativas: tra-
ta-se também de uma configuração discursiva em que se tem um anafórieo
sem antecedente literal explícito. cuja ocorrência pressupõe vnvâenotatum
implfciro. que pode ser reconstruído. por inferência. a partir do co-texto
precedente. e que apresenta as seguintes caracterfsticas prototfpicas:
a. a expressão em anáfora associativa _ SN2 _ introduz. sob o
modo do conhecido, um referente novo (portanto. não há corrcferência):
supõe-se que IJ interlocumr possua os conhecimentos necessários para "sa-
turar"aintcrprctaçâorcferencial;
b. há menção prévia de um outro referente _ SN I _ que fornece os
elementos necessários para a saturação do referente no\"o;
c. é uma anáfora indireta. isto é. há necessidade de proceder a
inferências para a saturação adcquada doSbrã;
d.SN2 mantém lima relação semântica de meronfmia ou ingrediência
("ser ingrediente de", cf. Lcnicwski. 1989) com SN I.
Observe-se o exemplo (2), em que o encadeamento se dá sem
correfcrenciação, possibilitando, no entanto, a progressão referencial:

(2) A Justiça dos EUA decidiu ontem, em caráter liminar, 5u.~p<'ndera


efetividade de uma lei que previa retirar da Internet sitrs que ofere cessem mate-
ria! pornngráficn gratuitamente (...)
O magistrada, de uma cone de Filadélfia. aceitou os argumentos de:críticos
da Lc:ide Proteção Dn-Line Criança. que:diz••m que da poderia cercear a liber-
à

dade de cxprC~5àona Internet (F()/ha li, S. Pall/O. 3"J99).

Como hem mostra Schwarz (2000). o quadro das anãfuras indiretas é


bastante complexo. "isto que não s(i se podem constatar diferentes tipos,
como também tipos mistos c casos limítrofes. Podem funcionar como ân-
coras representações lingüísticas de complexidade sintática, semântica c
conceitual extremamente variável. A interpretação das anáforas indiretas
baseia-se. coníurme o texto. em conhecimento scrnânnco (verbal e/ou
nominal), e/ou em conhecimento conceimul.wou na infcrenciação.
As anáforas indirctac poderiam ser classificadas em:
I. de tipo scmênuco - baseadas nu tóxico;
2. dc tipo conceitual - baseadas no conhecimento de mundo (es-
qucmas):
3. de tipo infcrencial - infercncialmente baseadas.
Entre os tipos scmnmicarnente baseados e aqueles infcrencialmentc
baseados de forma clara. existem aqueles que constituem degraus inter-
mediários e que rodem ser ordenados gradualmente em uma escala de
referência textual indireta.
Diante desta heterogeneidade, coloca-se a questão de as anáforas in-
diretas poderem ou não ser explicadas de maneira uniforme C01l10 fenô-
menos referenciais e de coerência. e em que medida isso pode ser feito.
Contudo, apesar de toda heterogeneidade. existem. segundo a autora. se-
mclhanças fumlamcntats e princípios supcrordcnados:
Luxlos os tipos de anáforas indiretas são explicáveis como referên-
cia textual dependente (i~lo é, textual e interpretetivamemc dependente)
de domínios. na medida em que os vários tipos são determinados em pane
por um determinado domínio. em parte por vários domínios:
2. os referentes dos SNs definidos que funcionam como anáforas
indiretas são detectados por meio de estratégias constituidoras de rcfcrcn-
tes do tipo (preencha o papel X com o referente R) no modelo textual.
"Papel" significa. assim. "papel no modelo textual";
3. todas as anáforas indiretas são a expressão explícita de relações de
coerência implfcitn em estruturas textuais. A imerprcraçãn de cada anáfora
indireta desencadeia. portanto. um processo de estabelecimento de reta-
ções semámícas ou conceituais:
4. as enãforas indiretas. consideradas do ponto de vista da estrutura
Informacional. constituem tematizaçôes rcmaricas. que acarretam no tex-
to continuidade e progressão no fluxo informucional:
5. as anáforas baseadas no léxico c as dependentes de esquemas apre-
sentam. quase todas, formas de leitura punitivas: pane em sentido restrito
(Icgnlmas relações pane-rodo. que podem ser descritas como inclusões),
parte em somido rnais lato (como relações do tipo atributo de. produto de.
requisito de etc.). Em se tratando de nnnforas indiretas baseadas em
inferências. com referentes concretos. pode-se verificar que também elas
nomeiam panes integrantes. ou seja. componentes passfveis de serem de-
duzidos du modelo textual.
Esta classificação. portanto. não leva a uma delimitação unrvoca dos
vários tipos, mas deve ser vista como um contínuo: entre os tipos há uma
intercomunicação contínua, da mesma forma como acontece com o co-
nhecimento semântico e o conceitual: nem sempre é possível uma delimi-
tação estrita desses dois tipos de conhecimento substancialmente iguais e
estreitamente acoplados na memória de longo termo.
CAPITULO 9

A CONCORDÂNCIA ASSOCIATIVA

Este capítulo se destina ;I discutir o alcance que se vem dando


modemamcntc à noção de anáfora associativa. com o objetivo de explicar
os casos de concordância od sensum ou silcpscs de gênero e número. como
são denominadas nas gramáticas tradicionais.
É o caso dos exemplos a seguir. alguns colhidos em situações reais
de fala ou escrita, outros criados para fins de exemplificação. embora co-
muns em situações concretas:

(I) Uma gmndt' maioria dos brasílrirot ~3(l contrários às privatizações.

(2) Grandt' partr das i/1\"(win di terras ~o provocadas pela absoluta mísé-

ria do povo brasileiro.


(3) Um gnll'Q dl' c/d",!.los protestavam na praça.

(4) Convidei todos os colegas pata c resta, A maioria vieram.

(5) Trata-se de um jot",m casuí que adotaram uma criança abandonada.

(6) Todo <J f}{JI'O aplaudiram o discurso do manifestante.

(7) A dupla chegou de surpresa c assaltaram o motorista tio ônibus.

(8) Cada uma dessas :riwo(';t'j podem ser caracterizadas a partir de quatro
parâmetros.
As gramáticas tradicionais da língua portuguesa aceitam (1), (2) c
(3) como casos particulares de "dupla concordância" e condenam os de-
mais empregos acima atestados, embora registrem, no eapítulo destinado
às figuras de sintaxe. a silepsc de número, em especial se quem a ela recorre
é um autor consagrado, Em Cunha (1979: 330) encontra-se (l exemplo:

(9) "O ca.1/11 não tivera filhos. mas criaram dois ou três meninos. (A, F.
Schmidt.GB,28Sl.

Não é diferente o que ocorre em francês. Segundo Berremlonner &


Reichlcr-Béguclin (1995: 24). ns juigarnentos normativos sobre tais Icnõ-
menos são "rclrnivamcntc arbitrários c historicamente fhnuames": aceitos
com muita liberalidade no francês clássico escrito. as variantes não pa· .
drêo passam praticamente despercebidas no rruncês falado, no qual são
muito freqüentes. embora hoje "condenadas" no francês escrito padrão.
Quando. porém. "saem da pena de um escritor", são atribuídas a unia silcpse
e não a uma inadvertência, 1..,.1como cá, as coisas caminham de forma
semelhante.

Justificativa proposta

Uma das explicações aventadas para a aceitação dos três primeiros


exemplos e "condenação" dos demais é a possibilidade de se proceder a
uma dupla análise do SN complexo SN I de SN2 em (I), (2) e (3):
1. Dct.+ (Mc)(1. Ad].) Núcleo + Mod. SP
2. Del. complexo (quantificador, expressão partitlva ou operador de
medida) + Núcleo
No primeiro caso. a concordância se efetua com o núcleo nominal
maioria: no segundo, o verbo aparentemente herda as marcas de plural de
SN2, considerado como núcleo. Ou seja. pode-se supor que. nesse caso.
um SN complexo tenha mudado de cabeça. tendo sua primeira parte (SNI)
"degenerado" em operador de medida, de forma que os componentes do
SN passam a constituir um todo único. Segundo Bcrrcndonncr & Rclchlcr-
Béguelin (1995: 25). tal processo diacrônico, embora misterioso, está bem
atestado no francês em todos os estágios de seu desenvolvimento. por cu-
sos semigramatic'lli7.ados (In plupart dcs etudíants /'.~t/.\'Onl I'c/mels) ou
inteiramente gramaticalizados (8e(/llcoup detuatams som \'ellllS).
Contudo. visto que é comum encontrarem-se também exemplos como
(4)-(7), sem SN2, mas em que figuram no verbo marcas de número não-
congruentes COIll as do sujeito (portanto, não-ruorfossíntaticamente con-
dicionudus por ele), poder-se-ia postular que. a partir de um nome coletivo
singular (maioria. casal. povu, dupla), constrói-se por inferência um re-
ferente implíóto (no co-texto ou no contexto sociocognitivo] concebido
como classe. que vai determinar as concordâncias ulteriores no plural.
Isto é. a natureza das marcas de numero depende, com muita probabilida-
de. de uma dcnominaçãn lcxlcal implícita. calculada a partir do SN sujeito
c tacitamente atribufda a seu referente, Segundo ücrrcnucnncr ê Rcichler-
Béguetín. a freqüência de tais concordâncias seria um dos fatores da
rean:ilisc sintática acima evocada, que converte SNs coletivos da fonna
[SNI de SN2] em [Quantificador de SN[, Para dar conta desses fatos.
passa-se. pois. de uma explicação puramente sint:itica a Unia explicação
semântico'pragm:itica,

A-concordância associativa-

Ilerrcndonncr & Rclchler-Béguelin batizaram tal fenômeno de con-


cordãncia associativa taccords ossocíatífss. denominação que preferem li.
tradicional. de sílepse ou concordância ad sensum, com o propósito de
suhlinhar um parentesco empírico; tais "fultus" de concordância
tdesaccordsi, bem como as chamadas andfoms associaril'(u 111/ inftrtrlciais
põem em jogo as mesmas operações de infcrenciaçâo. sendo, assim, pas-
srvc!s de descrição no quadro de um mesmo modelo geral.
Como vimos no capitulo anterior. a anáfora associativa consiste numa
configuração discursiva em que se tem um anafórico sem antecedente [i-
temi explícito (portanto, não condicionado morfossintaticarncnte por um
SN anterior), cuja ocorrência pressupõe um denotatum implícito. infcrfvel
do co-texto precedente.
Os autores que se dedicam ao estudo da anáfora associativa divi-
dem-se entre duas principais concepções:
J, a concepção estreita (sfaflt!(ml) ou semântica, que postula a neces-
sidade de uma relação de natureza tcxícc-cstcrcorrptca entre um SN I e um
SN2 de caráter anafórico e que leva em conta. para a cnractcrizaçâo da
anáfora associativa. outros fatores, como o tipo de expressão unafórica e a
natureza da relação indireta, postulando que a mudança de categoria lin-
gursrtca acarreta mudança de configuração. Tem corno principal represen-
tante Kleiber (1994), autor do mole: "L'anaphore assoctauve roule sur des
steréotypes":
2. a concepção ampla. que admite a possibilidade de uma suturaçâo
discursivo-cognitiva do SN2. No interior desta concepção. há um" ten-
dência dtscursiva bem lata (é o caso de 8em:ndnnner & Rcichler-Béguclin.
propositores do conceito de concordância associativa) c outra que se
autcdenomtna tcndênc!u discursiva moderada (M. Charclles. por exemplo).
Vejamos alguns exemplos. A versão léxico-csrercnrfpica limita n
anáfora associativa a casos como:

(10) Chegamos a uma cidadr:inlla. A igrrja ücava no alto Jc um monte.


(1 I) A polícia encontrou o carro roubado. O.• !>rUIU estavam furados.

As versões discursivo-cognitivas. tomadas em conjunto. j;1 que não


caberia aqui discutir dc forma mais aprofundada as diferenças entre elas.
admitem. por sua vez. exemplos do tipo:

(12) É verdade que. quando lemos. n50 nos damos conta de que esta hislIÍ ria
estejaaconlecendo.eslejalOmandofornlag.raçasanós.

(13) Sofia dormia. O jornal estava caído aos pés da cume. o l'in:l'iro CSI.;I\'a
cheio até a borda.

(14)JoãofoiaSS:lSsinadonoparque.Afilcafoiencontr:wJ.an:lSproúmidaJes.

(15) A guerra f uma boa época para Saint Mala. Eles não conhecem festa
mais animada.
(16) O casal de milionários decidiu adotar um menino. que viria a herdar sua
fortuna. O orfanato, por engano. entregou-lhes uma linda menina.

(17) Alerril-ar na Praça VenTIclha! Cert~nlente, ojOl·tm "iloto ~ um louco ...

o objetivo dessa perspectiva ampliada é. justamente. "favorecer a


emergência de generalizações. april.ximanoo. sob o termo aS.HJcituims
'(portanto. indiretos na acepção de Schwarz apresent~da no capítulo unte-
rior), todas as l'xpressõcs Tefcrenci;lis cuja interpre1ação P(I(' em jO!!() opc
rações de raciocínio. bta<; operações lógicas naturais. freqüentemente bem
.complexas. consistem não apenas em inferir um objeto de discurso a par-
tir de um outro objeto de discurso, mas também em inferir um atributo de
objeto a partir de um outro atributo de objeto. Uma dessas generalizações
é. exatamente, a explicação, por recurso à noção de concordância
associativa. de concordâncias irregulares do tipo aqui ilustrado.
A tendência ainda muito presente de extrapolar para as seqüências
tmnsfrãsticas as noções sintática~ operatórias no domínio da frase tem
levado a generalizar para o nível do texto a imposição de que os pronomes
devem concordar com um SN presente no co-texto precedente. isto é. ado-
tar-lhe as marcas morfológicas de gênero e numero. Esta concepção. p0-
rém, é empírica e teoricamente indefensavel No domínio dos fatos. ela é
constantemente desmentida. podendo-se encontrar uma grande quantida-
de de dados empíricos que a falsifiquem. como se pode verificar em (I) a
(8), bem como nos exemplos abaixo. extraídos de Berrendonncr & Retchler- "
Béguelin (1995: 27), em que se comprova que um pronome anafôrtco não
implica ncccssaríameme a presença, no co-texto, de um antecedente com
o qual estabeleça uma relação de concordância:

(18) Qualquer menção do termo "siecrônico" deveria ser-evitada por razões


diplomáticas, dadas as re3ÇÕCsalérgicas que t'l111susciltlm naqueles que só co-
nhecem Saussure por ouvir falar.

(19) Tenho 17 anos, sofro de acne. e na minha Iamffia ninguém leva a sério
meu problema. EIl'1 me:di:em que não t nada.

Nesses exemplos, a ocorrência de cada pronome anafórico é semân-


tica e pragmaticamente condicionada. Ela depende da possibilidade de
inferir, a partir do co-texto informacional explícito, um objeto de discurso
implícito. ainda não mencionado. E é com este pronome ou o seu \'esl(gio
que vai !>C efetuara concordância verbal.
Os autores citados explicam o exemplo (18) dizendo que, a partir do
valor contruíactual da forma verbal deveria, e por meio de um raciocínio
do tipo "Se nem toda menção é evitada, então. ocorrem menções". é que
se pode validar a pressuposição de existência que institui o referente do
pronome c/tIS. Recordam que. segundo as descrições lógicas, todo N não
comporta absolutamente u pressuposto de que existam realmente Ns, de
modo que não se pode considerar que toda mt'IIÇtio seja aqui o antecedente
de elas, Além disso. essas duas expressões não são correferenciais.
O exemplo (19), muito comum. é clássico: ele supõe uma dedução
lógica que, tomando por premissa a existência de um indivíduo coletivo
(famnia, classe, grupo, bando, regimento), conclui pela existência de um
DESVf.~NOOOSSE(il\fDOSOOHX10

outro objeto. necessariamente implicado por todo e qualquer coletivo: a


classe de seus membros. Isto é. a interpretação de plural SU(>lIcque seja
cataliznda urna classe. que deve ser unificada. por atxtucão. com a classe
co-extensiva que se pode deduzir do coletivo já conhecido. Explicam-se.
desta forma. os exemplos (4) e (6) anteriomlcnte apresentados.
É importante relembrar que, por "objeto de discurso". não se deve
entender as "coisas" do mundo real. mas representações de ordem cognhivo-
discursiva. Assim. um indivíduo coletivo e a classe de seus membros cons-
tituem. sem dúvida, duas representações da mesma realidade. mas sob for-
mas lógico-cognitivas diferentes. sendo. pois. objetos-de-discurso distintos.
Pois bem: partindo do que foi exposto. toma-se possível distinguir
dois tipos de ocorrências pronominais: aquelas que são morfoxsint.uicnmcme
condicionadas e aquelas que são condicionadas única e exclusivamente
por um estado corrente de informação compartilhada. Elas resultam. por-
tanto. de duas ordens de combinatória espccfficax, irredutíveis urna à ou-
tra. Para explicar esta distinção. pode-se recorrer. como postulam
8errendonner & Rcichlcr-Béguclin. às noções de micro e macrossintaxe.

Microssintaxeemllerossintllle

A rnicrossinmxe diz respeito à combinatória de unidades no inte-


rior de uma proposição, determinada por relações de concatenação (vin-
culação) e de rccçâo (regência). A concordância morfológica pertence a
esse tipo.
Já a combinatória macrosslnrâtica aquela segundo a qual se organi-
é

zam as grandes unidades discursivas (seqüências de dimensão Iransfrástica),


sendo de natureza bastante diferente. já que suas unidades são uros de
linguagem c estados sucessivos de infonnação partilhada. Nesse caso. ,IS
regularidades observáveis estão na dependência de (;ondi(;ionall\entos se-
rnãnticos. como pressuposições e regras de inferência.
Portanto. no nível macrossimútíco, O~ pronomes. hem como suas
marcas de gênero e número. não podem ser corretamente caracterizados
em termos de concordância ouligaçân: sua função é apontar para um objeto-
de-discurso já conhecido. sinalizando-o ao destinatário, São contcxtunl.
mente dependentes apenu- no plano scmãntico-pragmático. devido à relu-
ção de pressuposição que subordina seu emprego à presença desse objeto
no conhecimento panilhado dos interlocutores. isto é. na sua memória
discursiva.
Tanto a anáfora associativa, como grande parte dos casos de concor-
dância associativa seriam nesses termos. questões de macrossintnxe. como
se pode verificar nos exemplos (4), (5). (7), (9). (18) e (19). visto que é
numa segunda proposição que vai aparecer o pronome ou a elipse (catego-
ria vazia). que vai possibilitar a concordância não com u antecedente ex-
plícito na proposição anterior, mas com um nbjetu-dc-discurso implícito,
inferido do conhecimento partilhado entre os interlocutores. Essa segunda
proposição é. com freqüência. justaposta. como em (4) e (]9): coordena-
da, como em (7) e (9); ou relativa aposiriva, como em (5). Além de ser
comum em coordenações (por meio de e. mas. "(li.I"). em relativas apositivas
e em enunciados justapostos. este tipo de concordância é também freqüente
no caso de cláusulas circunstanciais. hem com no de parcméticas que cons-
tituem expansões do SN sujeito c que operam. explicitamente, uma
rccatcgonznçõo do objeto. comoern:

(20) A multidão. no meio da qual havia grande número de descontentes.


avançaram contra o palácio do governo.

Mais complexa é a análise do exemplo (18). em que o pronome que


vaia~rretaraconenrdãnciaassociativaencontra-senllmarelati\'a.encaj.
xada Jm outra proposição. através da qual se realiza um utu de justificati-
va em relação à proposição anterior c que contém o SN que permite "satu-
rar" a interpretação referencial.
Por outro lado. exemplos como (6) e (8) n50 podem a priori ser ex-
plicados como furos J<, macrossintaxe. jã que ocorrem no interior de uma
só proposição. Em exemplos como estes. é comum que o núcleo nominal
venha determinado por um quantificador universal. em geral o quantificador
rodo, como ocorre em t6l. que parece "reforçar" a idéia de pluralidade.
acarretando aconcon.l5nda asso•.ciativa no plural.
Note-se. porém. que II presença do quantificador não é obrigatória.
Na língua falada. como tumbém na linguagem infantil c em variedades
não-padrão de português. esse tipo de ~oncurd~ncia é extr~rnamente co-
mum, como se atesta nos exemplos nhai x ll. coletados em snuuções reais:

(21) A gente vamos viajar? (fala de criança)

(2210 pessoal gostaram da festa. (varietla<Jedo português não-padrão)

(23) Toda a rua chor~rnm a morte de SC1I mais ilustre morador (ilkm).
DES'ffiIIl .•••moosS!GRtOOOOO1!XTO

c Registre-se, em (23), a metonímia (conlineme pelo contendo: ma-


d:s~~ ~nuoa~~~~e:J~~.uedá ao termo nw uma conotação coletiva. reforça.

Estas observaçücs coincidem com a afirmação feita por Bcrrendonncr


& Reichler-Béguelin a respeita do francês, acima mencionada. Verifica-
se, inclusive, que muitos desses processos se encontram semigrcmauccu-
zados ou em vias de gramaticalização, como é o caso, além do exemplo
(4) - ainda condenado pela gramática da língua padrão-de ocorrências
com ,SN.s introduzidos por expressões como I/ma série de, em que a con-
cordâneln no plural parece estar-se gramaticalizando:

(24) Uma série de reflexões levaram-me (Ievcu-me'r) a questionar esta hipó-


tese. que acabou me parecendo dificilmente defensável.

Parece-me que a presença de expressões partitivas (a maioria de, 11111


bom número de. nenhum de, boa parte de, metade de. ou introdutnras de
conjuntos de elementos seriados (111IIa série de. lima cadeia de, uma SI/'
cessão de), além do quantificador universal fodo(a). favorecem essa
grarnaucalização em curso. Vejam-se ainda mais alguns exemplos, os dois
últimos ainda não "autorizados" pela gramática normativa. mas que fa-
zem parte do uso corrente, especialmente - mas não s6 _ nas variedades
de menor prestígio:

(25) Boa parte dos ingressos estão esgotados.

(26) Uma sucessão de desatinos acabaram levando-a à bancarrota.

(27) Nem a metade dos inscritos se apresentaram.

(28) Nenhum dos meus colegas conseguiram média cinco na prova.

(29) Todo o exército apresentaram armas ao presidente.

Todos estes exemplos mostram que também as proposições simples


estão sujeitas a uma meIa-análise, ou seja. que. a p~.~o ~~menlO sfa/UI~rd
como sintugmas conexos e concordantes, as sequenc!a~ SN.-SV, muitas
vezes. são tratadas pelos falantes como períodos macrossinráricos. em que
se processa 11 concon.lância associativa. rode-se afirmar. ~rtanto, COIIIO o
fazem Berrendonner & Reichler-Béguelin pata o rra~ces.atual,. qu~, no
português contemporâneo, as relações de concordância mlcrossintáticas,
ern pani~lar
desestabilizadas,
de: combin:lIória:
3.de: concordância sujeito-verbo, se encontram Irugihzadas,
de:vido às tensões que se exercem entre as duas ordens
as regularidades de ordem rnacrossintética
ampliar cada vez mais seu domfnio às expensas dos condicionamentos
microssinláticos.
Segundo esses autores. esse fenômeno admite duas explicações
tendem 3.

al-
l
ternativas. mas não mutuamente exclusivas:
1. tratar-se-ia de um começo de gramaticalização de certas estrutu-
ras discursivas: alguns esquemas da concordância associaüva estariam se "
ritualizando. de fonna que. se a evolução prosseguir no mesmo sentido.
elas acabarão por se transformar em relações gramaticais. levando ao de-
saparecimento da.s normas de concordância e ligação existentes, pelo me-
nos no nível dialetal;
2. estaria ocom:ndo um rompimento, em duas panes, da unidade-
cláusula: SN c SV, ao se tomarem micruxsintaticarnente desconexos. po-
deriam estar evoluindo para o estatuto de cláusula s rnacrossintaticamente
autônomas, em razão da discursivizaçãc da estrutura sujeito-predicado.
Daí a freqüéncia de períodos hinários do tipo: "Minha famüiurcstâo feli-
zes", isto é. considerados como estruturas de tópico, que. como se tem
mostrado. vêm-se tomando dia-a-dia mais freqüentes no português falado
e estendendo-se. inclusive, para a Hngua escrita. Seria este o caso dos
exemplos (6) e (8).
A con<>eqüência teórico-metodológica .im~rtante qu~ sc. pode tirar
destes fatos é a da Imbricaçâo. mesmo no l~ten~r da mms. Simples da.••
f . d n.ncíonemcmos micro- c macTIlsslOtál1cos, ou seja, a co-ocor-
r~S~:' d: ~~gularidadcs morfossintâticas c pra~má!iclJ-dis.c~rsi\'a.s: o que
comprova que stntaxe e pragmática não c~nstltucm domínios disjuntos.
mas sim cncontram-.~ profundamente interligadas na construção dos enun-
ciados lingüísticos.
CAPÍTULO 10

A PROGRESSÃO TEXTUAL

Já foi mencionado anteriormente que, na construção de um texto,


procede-se a dois grandes movimentos, um de retroação e outro de
prospecção. Como imperativos de ordem cognitivo-discursiva que são,
esses mo\'~c avanço c recuo -tal como acontece. por exemplo,
naaçãod~prcsidcmàcriaçãodat~.
Neste capítulo. passamos a tratar mais especificamente do segundo.
A progressão tCJ;tu;L1(scqllenciaçào) diz respeito ao<; procedimentos
lingUfsticos por meio dos quais se estabelecem, entre segmentos do texto
(enunciados. panes de enunciados. parágrafos c mesmo seqüências rextu-
ais), diversos tipos de relações semânticas e/ou pragmático-discursivas. à
medida que se faz o texto progredir. O rexto corno díz wetnrích (\9(4),
é,

uma "estrutura determinativa" cujas panes são interdependentes. sendo cada


uma necessãna par.t a compreensão das demais. Esta irucrücpcndêncta é
garantida. em pane. pelo uso dos diversos mccanisrnns de scqücnciaçâo
existentes na língua c. em pane. pelo que sc denominacncadeamO:nlo tópico.
A progressão textual pode realizar-se por meio de atividades
formulunvas em que o locutor opta por introduzir no texto recorrências de
variados tipos. entre :\s quais se podem destacar: reiterução de itens lcxicals,
paralelismos. paráfrases. recorrência de elementos fonológicos. de tem-
pos verbais etc.
A reiteração ou repetição de itens lexlcais tem por efeito trazer ao
enunciado um acréscimo de sentido. que ele não teria se o item fosse usa-
do someme uma vez:
(I) A pobre louca cantava, cantava, cantava ...

Ressalte-se, pois, que não existe jamais uma idcmldade total de


sentido entre os elementos recorrentes, ou seja, cada um deles traz con-
sigo novas inslruções de sentido que se acrescentam às do termo
anterior.

No caso do paralelismo, o enunciado constrói-se com a utilização


das mesmas estruturas .~intáticas. preenchidas com itens lcxlcuís difcrcn-
teso O paralelismo sintático é, freqüentemente, acompanhado de um
paralelismo rítmico ou similicadência:

(2) Co) "Se os olhos vêem com amor, o corvo é branco; se com (>di\>.o cisne
é negro-sc com amor. o demônio ~ fnnnoso: se com ódio. o anjo é feio: se com
amor. o pigmeu é gigante; se com ódio, o gigante é pigmeu (...I" (t'c. Antônio
Vieira, "Sermão da Quarta-Feira", Trechos t'scollridos. Ed. Agir).

Se, no paralelismo, M recorrência dc estruturas sintátiC3s preenchi-


das com elementos lcxicais diferentes, tem-se, na paráfrase. um mesmo
conteúdo semântico apresentado sob formas estruturais diferentes.
Cabe ressaltar, porém. corno na recorrência de termos. que, a cada
reapresentação do conteúdo, ele sofre alguma alteração, que pode consis-
tir, muitas vezes. em ajustamento. refonnulação, desenvolvimento, stnre-
se ou precisão maior do sentido primeiro. Cada língua possui lima série de
expressões lingüísticas introdutoras de paráfrases. como: isto l, OI/ seja.
quer diirr. 01/ melhor. rm ollfras palavras, em síntese, em resionoac. Por
exemplo:

(3) (...) Atribuir características negativas aos que nos cercam signiflca res-
saltar nossas qualidades. reais ou imaginárias. Quando passamos da idéia à ação.
isto I, quando não apenas dizemos que o outro é inferior. mas agimos como se de
fato ele o fosse. estamos discriminando as pessoas c os grupos por conta de uma
característica que atribuímos a eles.

Em se tratando da recorrência de recursos fonológicos scgmentais cl


ou suprassegmentais, tem-se a existência de uma invariante Ionulôgica.
como igualdade de melro, ritmo, rima, assonãncias. aliterações etc.:
(4) O teu silêncio é uma nau com todas os velas pandas .
Brandas, os brisas brincam nas Ilâmulas. teu sorriso .
Eo tco sorríso no reu silêncio é as escadas e as andas
Comqucmcfinjomaisoltoeaopédequolqucrparaíso. [···1
(Fernando Pessoa. Hora AhJllrd(l)

Por fim. a recorrência. na progressão textual. de um mesmo tempo


verbal pode trazer indicações ao teítor/ouvtntc sobre se a seqüência deve
ser interpretada como comentário ou como relato. se a perspectiva é re-
trospectiva. prospectiva ou zero, ou ainda. se se trata de primeiro ou se-
gundo plano. no relato. Veja-se o exemplo (5). em que o primeiro parágra-
fo estabelece o segundo plano da narrativa c. no segundo parágrafo, ocor-
re a mudança para o primeiro plano:

(51 Tinha um negócio oe uma sede, ai no JO.1U Carlos. c. toda vez que I;nho
festadançantc.quanuof"raassim ... uma certa hora da noite.quase já pra banda da
meia-noite. Ilf'íIrl-c;tI aquele camarada, lá na festa: lodo mctidJo. todo úe branco.
lodo no pitose.
Ai,c1e se agraüau de Ull1adona (...)
{Santarém Conta.... O cara IIIclidào, pp. 95·96).

A presença de elementos de recorrência num texto produz quase


sempre um efeito de intensificação. de ênfase. isto é. tem função retóri-
ca. -xturtcta-sc" na cabeça do ouvinte/leitor, repetindo palavras. estru-
mras. conteúdos semânticos. recursos sonoros etc .. de tal modo que a
mensagem se torne! mais presente em sua memória - n30 é o quc faz a
propaganda'?-e ele acabe por criar um hãbiro ou aceite sua orientação
argumcruanva.
Por nutro lado. pode haver progressão textual sem recorrências estri-
tas, na qual a continuidade de sentido é parantida por outros recursos ou
procedimcmos lingüísticos. Tais recursos constituem-se em fatores de
coesão textual e interferem de maneira direta na construção da coerência
namedidacmqllcg<lrantcmamanutcnçàndntclll:l,ol·stah.:lecimcntorlc
relações semânticas e/ou pr.lgm:ític:t~ entre segmentos maiores ou meno-
res do texto. a nrdenaçâoc i! articulação de seqüências textuais (para um
aprofundamento dessa~ questões. cf. Koch. 1989, 1997). Passamos 11exa-
minar os mais irnportanrcs desses procedimentos.
As relações entre segme
vcis: no interior do enunciado. o relacionamento se dá em termos da arti-
culação tema-rema. que foi objeto central de estudo da Escola de Praga
(l'erspecIÊI-u Funcional da Frase). fi informaçào temática é normalmente
dada. enquanto a rcmãricn constitui, em geral. infonn:ll,ão nova. O uso de
um ou outro tipo de articulaçãn tema-rema (progressão com terna cons-
tante. progressão linear. progressão tom tema derivado, progressão por
subdivisão do rema. progressão com salto temático ~ cf Danes. 1974)
tem a ver com o tipo de texto, com a modalidade (ural uu escrita), com os
propósitos c atitudes do produtur. Vejamos alguns exemplos:
Tcmaeonstante:

(6) A vaca é um animal vertebrado, mamífero c quatlnípetlc. Eta nu",fornece


a carne e o leite. Seu couro é aproveitado na fcbricnção de bol,a~ c calçados. (O)
É um dos animais mais lÍtei.\ ao homem.

Com progressão linear:

(7) Era uma vez um velho pescador. O pescador tinha três filhos. O filho
maisnovolÍnhaumhurrico.Obumcoeramuitoesperto.

Por subdivisão (t'explosão". conforme Mainguencau, 1996) de um


hipertcma:

(8) O Brasil (: I) maior país da Arnéríca do Sul. A região norte f ocupada pela
Bacia Amazônica c pelo Planalto das Guicnax. A região nordeste possui. em par-
te, o clima semi·árido. A região sudeste é ahnmentc industrializada. A região sul
recebeu grande número de imigrantes europeus. A região centro-oeste abriga,
além da capital- Brusflia -. o famoso Pantanal.

Por subdivisão do rema:

(9) Os prenomes ditos pessoais dividem-se em dois grupos. O primeiro t


constituído pelos pronomes da pessoa. que nomeiam os sujeitos da enunciaçân; o
segundo é o dos pronomes da não-pessoa. que designam os seres a que:os sujeitos
fazem referência.
A P'!IOGRESsJ.O TE~T\JAl

Com salto t~mático:

(lO) Era uma vez um velho pescador. O pescador tinha três filhos. O mals
~\'o era José. Dono de um talento invulgar, sempre conseguia tudo o que dese-
java. Até que um dia.,.

É preciso re~sa1tar que dificilmente se encontra em um texto um úni-


co tipo de articulação tema-rema. Eles se combinam para dar ao texto a
organização desejada.

Contudo, haveria certas "preferências" de determinados tipos de se-


qüênciu textual por determinado tipo de progressão temática: a progressão
com tema constante adapta-se com pcrfciçân às seqüências descritivas: a
progressão com subdivisão do tema uu du rema c h••stantc apropriada à.~
sequcncias expositivas ou argumentativus (.I/rir/o .wnsu). J;j a progressão
linear (inclusive a com salto temático) t comum a todos os tipos de texto,
exercendo, como veremos a seguir, importante papel de estruturação tex-
tual.
Interessante para a construção de textos é, por exemplo. pensar a
progressão temática linear em níveis mais amplos de análise, como o faz
Giora (1910), ou seja, entre períodos, parágrafos. estrofes de poemas, se-
qüêncius textuais e capltulus inteiros de romances,
Giora mostra que u segmentação em vários níveis do texto -c-Hnha,
sentença. parágrafo. capítulu. estrofe - pode afetar as relações de figumf
fundo em dado segmento c distingue os seguintes {':L'iOS:
I. segmentação do poema em vef"MlSe estrofes, que permite introdu-
zir material novo na posição Final: o tema do segmento n+ I é repetição de
informação já introduzida na parte remãüca n (portanto, emfur('gmuntfJ
do enunciado anterior:

(I I) Cheguei. Cheg3slc. Vinhas fatigada c triste


E triste e Iatigndo cu vinha
TInhas a alrna de sonhos]lO\'ooda.
A alma de sonhos povoada eu unha

(Olal"OHilac. "Nel meazo dei camin ,s./T(UJ d(' J"K").

2, segmentação no nível do verso ou construção simultâne •• rema-


tema (t'njamblllt'IIt):
IllSVENDANOOOSS!:GREOOSOOllXTC

(12) Sou caipira Pirapora Nossa


Senhora de Aparecida
Que ilumina a mina escura e funda
O Irem da minha vida

(Renato Teixeira, 'Romaria")

3, concatenaç1io via remas concorrentes na prosa:

(13) A trâgica notícia não abalou as pessoas presentes e, certamente. não a


Maria, que continuou a fazer seu trabalho, cantando alegremente.

Maria funciona simultaneamente como rema novo, isto é, o elemen-


to final do rema, dotado de maior dinamismo comunicativo (N-Rcma, cf.
Fries, 1994) do segmento iniciai. e como tema concorrente do segmento
seguinte do texto.

4, introdução de um novn tema em posição final de parãgmfo ou


estrofe: o último verso de uma estrofe repete-se como o primeiro da estro-
fe seguinte ou o enunciado final de um parágrafo repete-se como o seg-
mento inicial do parágrafo seguinte. A recorrência, aqui, serve Como re-
curso coesivo. É o que acontece no poema "The Load of Sugar Cane'', de
Wallace Stevens, citado por Giora (1983: 164):

(14) The soingoflheslade bnal


IslikewalerfIowing

Like water flowing


Through the grccn grass
Under the ruinbows

Under lhe rainbows


That are likebirds
Tuming,bedizened(. ..)

5. introdução de um personagem em posição remâtica no final de um


capítulo, que vai tomar-se o tema do capítulo seguinte (recurso bastante
utilizado. por exemplo, por Lewis Ccrroll. emAlict.l1O pais das maravi,
lhas). Veja-se o final do capítulo 4 e o infeto do capítulo 5:
(15) Ela (Alice) esticou-se na ponta.dos pés e espiou sobre a bordado cogu-
melo. e seus olhos imediatamente encontraram os de lima gramlt' lagana awl
que estava sentada sobre ele. com os braços dohrados. fumando tranqüilamente
um longo ''''''!.:a .. ~m tomar o menor conhecimento dela ou do que quer que seja.

Observe-se, também, o final do segundo capítulo e o Início do tercei-


ro capítulo do conto "A Igreja do Diabo", de Machado de Assis:

(16) O Diabo sentiu, de repente. que se ncbava no ar; dobrou l1S asas e, como
um raio. caiu na terra.

Uma vez na terra, o Diabo não perdeu um minuto.

Uma ouuu acepção de progressão temática diz respeito ao avanço do


texto por meio de novas predicações sobre os elementos temáticos (dados
ou inferívcis do cu-texto). É nesse sentido que, lia refcrenciação por meio
de anáforas indiretas (inclusive as anáforas assocíuuvas). bem como nos
casos de encapsulamento por nomlnalização, ocorre o que Schwarz (2000)
denomina 'rcnunizaçâo rcmática".
Contudo, cabe incluir também aqui os diversos tipos de encadea-
mentos entre enunciados. quer por justaposição (parataxc), quer por cone-
xão, nos quais o primeiro enunciado é tomado como tema para a enuncia-
ção do segundo, que vai constituir o rema. O encadeamento por conexão
de segmentos textuais de qualquer extensão (pcrtodos. parágrafos, partes
inteiras do texto) realiza-se por intermédio dos articuladnres textuais, Tais
artlculadorcs. conforme será visto mais adiante, podem não .'16relacionar
elementos de contendo ou ter funções de organização textual, como tam-
bém exercer papel meta-enunciativo,

Continuidadetemáticl

Por ocasião da progressão temática, faz-se necessário garantir a


continuidade de sentidos do texto. Isto se realiza. em pane, por meio da
colocação (Halliday & Hcsan. 1976: Hasun, 1984): is.to é, pel~ u~o de
itens lextcaís pertencentes a um mesmo campo sernunuco (conugUldade
semântica), ou. falando em termos cognitivos. de itens que designam
elementos integrantes de um mesmo modelo mental (freme, esquema.
scrípt, cenário).
O emprego adequado dos artlculadores é também garantia de conti-
nuidade temática. na medida em que ficam explicitadas as rcluçôcs entre
os segmentos textuais que interligam, quer as de tipo Iégtco-scmãuüco.
quer as de caráter diseursivo·argumentativo.

Progressliolcontinuidade tópica

Progressão t6pica

Um texto compõe-se de segmentos tópicos. direta ou indiretamente


relacionados com o tema geral ou rõpico discursivo. Um segmento tópico.
quando introduzido. mamem-se JX)r um determinado tempo, após o qual,
com ou sem um intervalo de transição (transition 51'(111. cf. Goursos. 1996),
vai ocorrer a introdução de um novo segmento tópico.
A progressão tópica pode ser feita de maneira contínua ou descontí-
nua. Isto é. após o fechamento de uma seqüência tópica. tem-se continui-
dade quando ocorre a manutenção do tópico em andamento ou. então.
mudança tópica (shift); caso OCOrT'.l uma quebra ou ruptura antes do fecha-
mento dc um segmento tópico. tem-se a descontinuidade tópica. provocada
pelo que se costuma denominar de segmentos ruptorcs ou uigr~·ssivos.
A equipe responsável pelo estudo da organizução textual-interativa,
no bojo do Projeto "Gramática do Pnrtuguêx Falado" (cf. Juhr:m ct nl.,
1992), descreveu o tópico como porçân textuul que se caracteriza por:
J. centração - primeira propriedade definidora do tópico. que abran-
gc os seguintes traços:
O. conccmêncin - relação de interdependência semântica entre os
enunciados - implicauva. associativa. exemplific:l\i\"a ou de qualqucr
outra ordem - pela qual se dá sua inserção num conjunto de referentes
explícitos ou infcriveis que se encontram ativados em detcnninado mo.
mente do discurso:

b. relevância - proeminência desse conjunto de referentes em de-


terminado segmento textual. em virtude da posição focal assumida pelos
seus elementos;
c. poetualização ou dclirnitabllidade - possibilidade de localização
desse conjunto tido em dado momento como focal em detenninado ponto
do texto. através de marcas lingüístico-discursivas:
2. orvnnicidade - rmmifcstada pela natureza das articulações que
um tópico tem com outros na seqüência discursiva. hem como pelas rela-
ções hier:\rquicils entre tópicos mais ou menos abrangentes: supcrtôplccs.
quadros túpicos, subtópicos. segmentos tópicos. segmentos de tópico. Desta
forma. (l tópico é concebido como uma unidade abstrata. rclacional.
O que se postula. portanto, é que a organização tópica se d:'í em dois
níveis interligados: o linear (horiznnralj c o hierárquico (vertical), de tal
modo que. por vezes. particularmente r!11 textos falados. segmentos que,
no nível linear. poderiam ser sentidos como digressivos. vêm a integrar- "
se. no nível vertical. em umquadrl,ltõpicnhicrarquicamentC' superior.dentro
do qual dcixum de ser uigressivos. de forma que a cocrêncí 'c r
:'l medida que se sobe na hierarquia tópica,
Como disse acima. a noção de tópico. segundo ubran et nl. (1992), é
definida pelas propriedades de c/'lIlraçfio e OfR(mid S~() essas pro-
priedades que. na opinião desses autores. viabilizam :1 idcnti • e-
limitação dos segmentos tópicos c de sua organi7.ação hierárquica, Afir-
mam que a ccmrcção está vinculada iI Interdependência semântica de
segmentos que ocupam uma posiçilo focal de relevância e sã!' pontuais.
Sendo assim, a centração refere-se 11 dimensão do conteúdo ou assunto em
pauta. cnracrcrtznndo-sc pelo foco e111um determinado assunto. Jâ a
orgunicidadc. segundo el~~, está ligada iI estrutura tópic~. a qual pode ser
analisada em função da hierarquia c da urricufação temática. Dessa forma.
cada nível hierárquico é recoberto por um superior e constituído por um
inferior. sendo que os limites dos diversos ntveis são dados pelo grau de
abrangênciaio nro cm Iocu.
"7Jlille diz respc 111 distribuição de t6pi.co.~na linearidade ~i~ursi.
v Jubran (19')3) cscln -ce as noções de conünuídad e e desconttnuídad •••
tó ·caJ. Nos termos . sa autor;!, fi cnlllinllit/odl' decorre de lima organi-
wçr1o. os s/'g/llnlfo.f tópicos. de fOn/m f/I/I' III1/1Nlllr(1 d~ 1111/
apenas sr dri f/(llis o fedwlII/'/!/O d/' Vllln!. !,r~cedt'l~IC (p. 3(~). Ass~n:,.a

~~~~~nJ: ~~s:~~i~;::il~~~:(i)t:)I~Ç:-:~~~n~u~;~~;: ~~:~;~~~~~:~~~~!~~l~~


continuidade.
A descontinuidade tópica. segundo Jubran.

(...) decorre de uma petturtJaçàodJ seqüenci~ljdJde.liru'a:, verificada na


seguinte situação: um tópico introduz-se na linha discursiva antes de ter
sido esgotado o precedente. podendo haver ou não o retomo deste. após a
interropção. Nos casos em que h5 retorno. temos os fenômenos de inser-
ção e alternância: nos casos em que n50 hã retomo, ternos a ruptura ou
cone Ip. 365).

A inserção é Vista, portanto. como ti interpolação. no tópico em de-


senvolvimento. de segmentos conversacionais de natureza e extensões
variadas. nao-atincntes ao assunto em pauta naquele ptH11l1da conversa.
çâo. Vestígios de tópicos já abordados ou a projeção de tópicos posterio-
res são também considerados inserçf)Cs. Já as alrcrnânclnv. que para Juhran
são a divisão de um tópico em partes intercaladas. são variantes da inser-
ção. uma vez que têm. como esta, a propriedade de serem uma interpolação
no tópico que se desenvnlve, pro' ando urna descontinuidade provisória
e indicando. também e-revezamcn«, • dois tópicos.
De acordo c m Jubran el .11. (1992 . a mudança de tópico pode ocor-
rer de três fonnas.· )S a finalil.ação ti anterior. dc forma gradativa: por
meio de tópicos de tmrn - - ) se encaixam. portamo, em nenhum
outro (nesse caso a uxsociação entre tópicos é explicada peln falante); e
pela ruptura. sem que haja. dessa forma, esgotamento do anterior.
Vê-se. assim. que a progressão tópica S(" realiza pelo encadeamento
dos tópicos nos diversos níveis de organização tópica (cf., também. Koch,
1992).

Continuidade tópica

Para que um texto possa ser considerado coerente. é preciso que apre-
sente continuidade tópica. ou seja. que a progressão tópica - no nível
seqüencial ou no hierárquico - se realize de forma que não ocorram rup-
turas definitivas ou interrupções excessivamente longas do tópico em an-
damcnto: inserções e digressões desse tipo necessitam de algum tipo de
justificação, para que a construção do senti.do ~. portanto .. d~ coerê~cia.
não venham a ser prejudicadas. Isto é, ri topicalidade consnnn um princí-
pio rganizador do i. O.
Goutsos (1996: 504) salic que uma tarefa importante do produtor
do cxto é indicar a descontinui de dentro da continuidade mais ampla
que s 'S ra do texto J;I. cumpre-lhe monito.rar a interação disc~irs~-
va em termos e seqUencia1i:r.ação e segmentar o discurso em blocos, indi-
cando suas fronteiras, isto é. sinalizar a descontinuidade porventura exis-
tente entre eles.
o autor pergunta ainda se haveria necessidade de sina1i ambém a
COntinUidad.c. especialmente por se trnt~aso defauít na inte taçâo,
de acorde com o Princípio da Analog~{~,:",n & Yule. 1983). Se undo
ele. a sinalização da continuidade cria rcdundftncill- exro. o que uz o
esforço exigido do leitor. assegurando-lhe que está no ca' certo e
possibili1ando-lhe ir adiante. Além disso, I) reforço da continuidade faria
ressaltar a dt'scontinuidadc, quando ela ocorresse.
É IX)Ttodas essas razões que se faz necessário ao produtor do texto
mobilizar. na sua construção, estratégias de continuidade e estratégias de
mudança (.fhift).
Continuidade. portanto. envolve progressão. A progressão textual.
por sua vez. necessita garantir ti continuidade de sentidos. o constante ir-
e-vir entre (l que foi dito c o vir-a-ser dito responsável pelo entretecimento
dos rios do discurso. E, para viabilizar o constante movimento de progres-
são c rctroação. n produtor do texto dispõe de uma série de estratégias.
entre as quais desempenham papel de relevância as destinadas a assegurar:
1. continuidade referencial - a continuidade dos referentes ("obje-
tos de discurso"). obtida por meio das cadeias referenciais. não permite
que estes sejam "arquivados" na memória de longo termo, mantendo-se
em estado de ativação - em foco - na memória de trabalho. durante o
processamento textual. mesmo quando "encapsulados" ou recaregorizcdos:
2. continuidade temática - o emprego de termos de um mesmo cam-
po semàntíco/lexical mantém ativado (J trame de que tais termos são re-
presentantes: por outro lado, em SI: tratando da progressão por encadea-
mento. o tipo de relacionamento que estabelece entre segmentos textuais e
a explicitação de tais relações sempre que necessário permitem ao
interlocutor verificar que não se trata apenas de um agtnrncradc de frases
isoladas. mas de um contínuo textual dotado de sentido:
3. continuidade rõplca-c- o uso destas estratéglus garante a manuten-
ção do supcrtopicc c dos q~adros tópicos em desen,\'olvimento, embora
com a po~sibilidade de desvIOS.o~ n~udilnças (.1'hifts),Já que os tóp~cos nà,o
são entidades estáticas. mas dtnãmrcas. podendo ocorrer alterações tôpi-
cas ou mesmo a introdução de novos sUht?piCOS ou ~g~lcntos t6~icos.

~~~ ~~~i~~~ :'~I~~~:~~p;~j~~:l~::a~~~~~~~c~~:~~~~·,cE~~i~~I~sc:r-


casos. não produzem rupturas de monta. mas, ~Econtril.~IO. ~~T\(,IJI ~re-
qucntcmcnrc para garantir a construção da cocrcn 'ta (cf Dilxal 8.: Kat~cl.
1979: Kocb. 1999). a não ser nos raros casos de aO. m'-fHtal-dv-tópit.'o
D[SVUlC.IJ«IODS$.I'GREOOSOOT[XIO

Em conclusão. pode-se afirmar que. entre os procedimentos aqui dis-


cundos, há uma relação de inclusão: a progressão textual é garantida. em
parte. pela progressão/continuidade tópica; esta engloba a progressão/con-
tinuidade temática que. por sua vez. repousa fortemente na pro,gTcsSl101
continuidade referencial.
CAPiTULO "

OS ARTICULADORES TEXTUAIS

o encadeamento de segmentos textuais. de qualquer extensão (peno-


dos, parágrafos. subtópicos. seqüências textuais ou panes inteiras do texto),
é estabelecido, em grande número de casos. por meio de recursos lingüísticos
que se denominam artlculadores textuais (al. Gliedernllf.:$5ignale) ou opera-
dores de discurso.
Tais unicutadorcs POde~lcmenlos de conteúdo, ou seja,
situar os estados de " s de que o <:Ilunciado fala no espaço e/ou no
tempo, bem com ~tahclecc nne eles relações de tipo lógico-sernânrl,

~~~:~;l~~~i~~x:~~r;:~JE~
i :~~~~~
Desta forma, os ai rladorcs textuais podem ser divididos em três
grandes classes: os ~c Ionteüdo Prupos~ci~na os@unciativos ou
discursivo-argumemativok c os§cta.cnunClullv0::j

f Articuladoresde conteúdo prepeslccne!

I. Marcadores de relações espácio-temporuls:

(1).tI J'rim ••im I"'~ qu •••• /•• a l'IICUm",,., fui à porta da loja Paula Brito, no
Rócio. E~tava au, ~'1U UllIa hlamel I",'nna. e esperou, já: alvoroçado. porque ele
tinha em alto gruu a paixão da_~mulheres. Marocas vinha andando, parando e
olhando como quem procura alguma casa, Defronte da loja, deteve-se um instan-
te; depois, envergonhada e a medo, estendeu um pedacinho de papel ao Andrade,
e perguntou-lhe onde ficava o número ali escrito (Machado de Assis, "Singular
Ocorrêncta'', in Contos, p. 37),

2, Indicadores de relações lôgico-sernânncas (condicionalidade. cau-


~de. fi~c ou mc~ão, oposição/contraste. disiuncãol: Obser-
ve-sc como, no excerto ã'bãIi"o. se entrelaçam. relações causais, finais.
condicionais e disjuntivas:

(2) Fiquei triste por cmaa do dano ('ousado a lia MarcoUr",; fiquei também
um pouco perplexo, não sabendo se devia ir ter com ela. para llu: dar li /risu
nolreia, ou ficur Wllw.ndo como da CIIS<!,segundo alvitre. para mio desamparar a
casa, I' porqul', se a minha prima enferma estava mll/, l'u.l6 ia aumentar a dor ({li
mill'. sem remédio nenhum (Machado de Assis, "O Espelho", Comas. p, 31 ).

9:> Articuladolesenuncia.fu:psoudiscursivo·argumentltivos

São os que encadeiam atos de fala distintos. introduzindo. entre eles.


relações di scursivo-argumentativas: contrajunção (oposição/com mstc/ccn-
cessão). justificativa. explicação. generalização, disjunção urgumcntauva.
especificação, comprovação, entre outras (para maior aprofundamento.
consulte-se Koch, 1984, 1989. 1992, 1997);

(3) A coluna vermelha Fica com o governo Ou. I' prl'ferir, com o contrí-
buinte (Josias de Souza, "De bancos e geladeira' olha dI' S. Pau/o. 22111195)

(4) O silêncio era o mesmo que de dia~- noite era o sombra, era a
saUdão ainda mais estreita, 011 mais larga (~de Assis, "0 Espelho". op.
cit., p. 32).
(.5) _ Oh! FOfa bom se se pudesse: ter medo! Viveria, Mas o caractertníco
daquela siluação I quI' rll nem sequer podia ter medo. isto i, o medo \'ulgannen·
11' I'nll'nditlo (Machado de Assis, ido ib., p. 32)

(6) Para avaliar o meu isolamento. hasta saber que eu nem lia os jornais;
salvo alguma noticia mais importante que levavam ao coronel, eu nada sabia do
o. Enrl'ndi, portanto, 1'0//01' para a cone. nll prímeíra ocasião,
qut: ti $$1' dr brigar com o vigário (Machado de Assis, "O Enfermeire'',
2).
osm!CUl.l[)()Ol[STEXTU.rs IH

(7) (.êl)Q{ qUI! temermos enxergar o século 20 a partir dessa óptica


aurocrnic só ire . encontrar três ou quatro grandes reações importantes a essa
democracia êtbecida, travestida, adulterada e demagógica que ai estã, no Bra-
sil e 110 mundo (Jarbas Medeiros, "Democracia defunta", Caros Amigos, nO54,
se:lembm2(01).

(8) (...) Varíola ou ínlluenza, outro vfrus di~ronfvel no paiol biológico _ cau-
sadordeumOlpnc:umoniaqueprogridc:driblandoosistemaimullOlógicoat<!TT131ar
_, são as duas possibilidades mais temidas. Afinal. um terrorista suicida precisa
apenas contaminar-se: e passar duas semanas viajando pelos aeroportos do globo
para causar urna epidemia de proporções mundiai~ (Vl!ja on-line, 27/101(1),

(9) É curioso como um sistema que promete o infinito _ o império da liber-


dade - exige de cada um de nós um tal grau de focalização. que corremos o risco
de reduzir nosso vínculo social apenas e uo-somenre a uma atividade rotineira.
especializada c estúpida. A.IUis, <!bom lembrar que Marx, ao deschavnr com seu
agudo bisturi as mumunhas da sociedade capitalista. já apontava para essa ten-
dência progressiva de alienação do sujeito (Mcrcellc Manzano. 'Eu e o mundo".
Caros Amigos, n'' 54, setembro 20(H).

Aniculadoresmeta-enunciativos

Estes aniculadores "comentam", de alguma forma, a própria enun-


ciação. Subdividem-se nos seguintes grupos:
1. delimitadores de domfnio (hedflrs) - que expliclram o âmbito-"
dentro do qual o conteúdo do enunciado se verifica:

(10) G~t~,? Brasil t .u.mdos mJi~res países do mll.ndo: I!COIlO-


micamflllr,<!umpa(sendLvldaoo:I'{,!mCl.lmNLIf,amtl3nlloconsc:guLU3suaple-
na Independência. ----

2. organizadores textuais - Mainguencau (1996: 170) descreve os


artlculadores de organização textual como "marcadores de integração li-
near", cuja função é "estruturar a linearidade do texto, organizá-lo em
uma sucessão de fragmentos complementares que facilitam o tratamento
interpretativo",
Observa que tais marcadores se inscrevem em séries, das quais a
mais clássica é: primeiro(amMU)/depoiJlem uguida/enfim, ao lado de
outras como por um lado/por outro lado, à.f vezes/outras vrtrs. em pri-
IVID.o.NDOOS$lGRE!lOSOOTUTO

3. wmll1lh/(lnr('J epiJtêmjoJ[, que assinalam o grau de compro-


metimento/engajamento do locutor com relação ao seu enunciado, (1 grau
de certeza com relação aos fatos enunciados:

(,t~:-?di~isaOSOCiatdotraha!hO,aSSOCi3daaoSdirdto5de
prnpne~ pelodmheirn. é uma maneira um tantoengenhosa de or-
ganizar a produção. Na medida em que caua indivíduo subordina sua cxivtência à

tarefaquclhccat>cncssugigantescaorganiz.açãosocialchamauasocicdaueeapi·
talista, é de esperar que, 'no conjunto da obra' esse arranjo parc~'a bastante Iun-
cíonal. Nilo há como m'x"r que. excluindo todas as demai, uimcll'~' da "ida ,
humana, o capitalismo é um eficiente sistema produtor de mcrt3,lorias. N50 por
acaso, desde Adam Smhh, muita gente boa (e muita gente s:lfadal tem exaltado
essa eficiência corno forma de alcançarmos ()bem-estar geral (Marcelo Manzano,
"Eu e o Mundo", CaroIAmi,li'o.r. 1\" 54. setembro 2001).

(!-2~,cocstáscndOfeit"parasedeS"endarde\'e1.{)"miS.
tério" ~~i~-tla Costa Santos, prefeito da cidade de Campinas.
cruelmcmeassassinado no infcio de setembro.

4.atitud~c encenam a atitude psicológica com


que o enunciador se representa diante dos eventos de que fala o enunciado:

5. axioíõgíco - que expressam a valoração atribuída aos eventos,


aç~'s e situo ~ s a que o enunciado faz menção. Veja-se o articulador não
por JSO, no exemplo (11), bem como o trecho em (15), que aparece
mais adiante na mesma matéria:

(15) (...) CuriOJcJmrn/r, ao mesmo tempo em que proliferam alternativas de


consumo e Jeleite através dessa potente máquina produtora lit: Iodo e qualquer
tipo de mercadoria, nossos interesses tendem a convergir para atividades cada
vez mais especializadas e descoladas das outras esferas da vida. Com a vista
ofuscada, dedicamos nossos dias a ConqUiSIMum horizonte de sonhos que já não
sabemos como desfrutar.
Mais uma W'Z,o capital demonstra sua maestria na arte do ilusionismo. ore-
randoain,·ersãocnt~oqucéumeiocoqucédeverefaLend".noscrcrquenos
libertamos quando nO'Ssujeitamos (Marcelo Manzano. "Eu e o Mundo". Caros
Amigo.f, n· 54, setembro 2001).

6. de canuer JeÔntjco _ que indicam o grau de impcratividade/


facuhutivldadc atribuído ao conteúdo pmposicional:

(16) ÉJndiJ~que se lenha em vista que. sem moralidade, n30 pode


haver justiça social.

(17) As normas para a seleção ao doutorado prevêem a apresentsçac de um


~:~~~:~~et;~~~a~:i:d~:::i~:~rãoanexaroUlros lra-

7. llft'.lUwJores, com vista à preservação das faces:

(18) al,·t'~jj ut' mdhor pensar em modificar o atual estatuto. que, a" que
mt'[>(lre senta algumas lacunas que poderão criar problemas futuros.
(19) No meu modl'.fto modo Je entenda, (rrio que deveríamos ~nctir um
pouc(lmajs~rcessaquestjo.

8. l/IetajOmTUlllti),(J$:
a. comentadorcs da rorma como o enunciador se repr~.'iCnta perante
o outro no ato de enunciação (francamente. honestamente, sinceramente):
c. nomeadores do tipo de ato ilocucionário que o enunciado pretende
realizar (eis a questão. a título de garantia. minha crítica é que. cabe per-
guntar~ ... ):

(22) O juiz não considerou as provas suficientes para ,I condenaç;io do réu.


Cabe agora l'ergun/(Ir se o rapaz. quando posto cru liberdade. serâ ressarcido dos
danos morais e financeiros acarretados pela detenção indevida.

d. comcntadores da adequação do tema ou dos termos utilizados (por


assim dizer, como se diz habitualmente, na acepção ampla do termo. para
falar de modo que todos me entendam ctc.):

(23) Inf: porque ... a assistência odontológica ... implica evidentemente ... em
custos ... demasiadamente elevados para o: ... u público ou !"Ir .• a coletividade ...
ou a grande massa ("("'''' nós ... chamamos "(jhilll,,II/l/'nl~ s~hcmu~ por cxem-
pio ... que ... toda e qualquer cirurgia ... no campo médico prupriarnente dite ...
implica ... obrigatoriamente ... em despesas ... as mais elevadas ... despes:L~ essa~
que os associados não têm realmente condiç{lCs... de: ... conseguir um meio ou
uma m31'lElra ... diJ.:amo.! assim de levar adiante aquela coisa ( )
(...) sabemos pore!templo que o sindicato dns eomerei:iriosfX"(jfolard~
um assunto '1rl~nos 10m... fX11i1l'ortiru/unnmlt' possui uma gr.•nja na cidade
de Curpina ... e que proporciona ... àquela iMENsa LEva de associados ... UOl
lazer realmente magnífico ... UOl momento de: ... descanse um momento de:
feliciOAde ... I,m/emns dizer assim ... a todos aqueles ... que vão ... até lé em busca
de PAZ de sossego e de tranqüilidade ... INURC·}{E. 010 131:18·~).

e. introdutores de reformulações ou correções:

f introdutores de tópico:

(25) A respeito da questão raciaí no Rmsil. 8os~aria de dizer que ...

g. interruptores c reintrodutores de tópico (marcadores de digressão.


brackettng devices):
No exemplo 126). pode-se verificar rm que medida os nrticuladorcs
utilizados são responsáveis pela organi7:lr,>liotópica L10trecho em questão:
o tópico é introduzido pelo nniculudor QmmlO (/.... interrompido por É
interessante lembrar qlle ... e. em seguida. retomado por Voltando (/O 05'

li. marcadores cnnversacionals que operam o -umarramento" de por-


ções textuais (ai, daí. então. agora. aí então). extremamente freqüentes em
textos falados, embora com muitas ocorrências também em textos escri-
tos. especialmente quando se deseja dar a estes urna Ieição semelhante à
da fala. como é comum IIJ. literatura infamo-juvenil (para um maior apro-
fundamento. nesse caso. consulte-se L. W. dos Santos, 2001):

(27)(. ..)ncssaçasaminhamlietC'\"cinfcçr,·JodcmáriatC'\"ereumatisola ficou

:~~::,~:;:::~~~~:~;:::~:~~~~~;;~:",':;~;:
dois meses parnlític:I de cama ... dai 'I"'. !1ll'lI pai (chamou- nos (') rdi"ej "ah o

i~~:~~~~.
mais ... ( ) ninguém queria tr.lhalhar ... por~uc vra QUATRO .\IOLEQUES EN-

.;i;:~:;~~:'.:,~:j:::::~';::::::f::::~:::~,,~~::;,:,i;~:~;'
filiada culta 1/(1cidade dr S,},. I'<lu!o. Entrevietuv. São Paulo. T. A. Queiroz. 19l!1I.
v, 111,pp. 90-92).

A freqUência de muilOs do), ,articu.ladorcs aqui discutidos é bastante


alfa em [ex tos orais, como fica evidenciado no exemplo que segue:
podi~2~~I:f~:~11::I(:j~i~e::t~r:~:'L·.· ..a~ c:~~ ~~r;~On~t~~~~~h!~~~~~:,nn~;(~
~na atrapalhar mais né? .. em .wmu vocês todos têm lima idéia
\~~:I~
~<.T;'!. .. dn oega-

~~~mé~::'l:~::~ ~l~ll~:\i~a~.od:~~~:~~-~~:;;~X:~~;:~~~~~~~i~~li.~.()~~g::;i;l:I~~n:~:~
responde a e~~c~ cstlnlll]os com passividade vocês sabem divso ... n organismo é
essencialmente atividade ... t'/1/ào a percepção não !\.C f;]l.... p"r U1!lasérie de
sensações qUt: ferem o organismo todas elas se juntam ~ dJ.o a percepção ... a

~:~;~~:t~~ ~;)I:J~;~;r:~~~~~Ji·~;eé:1.1 d~~g;~;~~I;~.~.t:P~~~~'·;;l~:~~I~~:~~~~~ ..d:


SELEÇAo ... «tosse)) daqueles estímulos que tem importância pam " organls-
mo vocês compreendem isso? .. l'or t'.H'ml,I" ... bom ... deixe cu dar um e.••em.
1'[0 bom ... um cxcmptoclãssíco; um Indio ... que foi trazido ... dc uma reserva ...
do none do Canadá .., para Ottawa Sf" mio mt' t'n!:an() ... uma da.' cidades canadcn_
.<cs... levaram este índio para ver tudo pela primeira vezque c1c tinha comacm
com uma cidade ... do mundo do Ocidente qurr dizer ele p.e.sou por aquilo
olhando ... de repente- ele parou embasbacado ficou olhando ... ()qu~·.'... UI1I indi-
vfduu subindo num poste elétrico ... para consertar ... fios 1"i'11llcqllll"ll/~nr' •... esse
indivíduo tinha um cinturõin de couro ... não sei se vocês já viram isso n:1<ruas de
S. Paulo ... não é? .. tem um cinturão de-couro que tem nos calcanhare, lima espé-
cie de esporão ... "nliio de- finca 1.1esporão 00 ... no _ Clt acho 'fW' i"o não há
mais em S. Paulo r..:)I"(\UC não h5 mais postes de madeira os poSle-Stodos silo dc
cimcnro, nãl.1t"!,.. de CUllcrelO e... vcz em quando ... vocês pcredlCUl que sou um
individuo de outra geração já sou um quadrado mesmo, não é?... 1II11J c"lifim isso
também te um:: ... é um e x emplo bastante antigo ... é de Franz Boa~. n~oé"!... "iXa-
mos mil novecentos e vinte - «risos)) CRIá" havia o poste de mad•..ira com esse
esporão ... foi isso que () índio percebeu ... vocês cmnprcendem':' ... porque ... na
cidade de Ouawa.. tudo oque existia ... era de t:ll modo novo ... 'jUC não podia ser
relacionado com a experiência antcrior de,~c fndio. cenu? .. qurr di:a imagine
que ele visse pela primeira "cza locomotiva aquclacoi,airnens:I que ,e movc ...
com quc ele relaciona? Com nada de preciso am;lquina ... um univ 'crso estra,
é

nho a ele mas ele viu um indivíduo subindo num poste de uma maneira muito
f;lcil... nra cm toda esta região os índios sobem em certas árvores ... por exem-
1'10... certas formas de ( ) ... qUi' c/rama·si' .•. em português chama-se boldo l'(/rrC"t'
é uma planta que dá uma seivaaçucarada da qual K faJ.uma rapadura que aliãs
é deliciosa e um uma espécie de melado então eles sobem até certa altura da
árvore c talham subir numa árvore por metes relativamente eunples como seja

tiu ...
~~:l~::~~~:
~:~~
~:~ã~~··á~~,~;~~~."r~
~:5;~~:c~:i:~~e~~U~~) i:~ii~(~::n~
que ele compreendesse ele tinha u~ esquema anterior ~() qual os tstímulos
novos podiam ser enquadrados certo? .. ssto I...para que haja percepção ... ~ ne-
cessário antes ... que já haja uma organização do campo perceptivo ... claro? ...
qUl'r diur.,. Il'rtciso ... qUt haja .., um ceno modo de estruturar este mundo por_
que senão a~ cuisus não fazem sentido... n30 sei se vocês ... ahn conheceram na
época em q~e eu era e\tudante n~ Estados Unidos havia uma voga muito grande
de certas CUEsas ... certas piadas... o que ~ i~tu? .. alguém mo: diz?
1.lJ(.·.Aâdf'nla/: moa al·e...
Inj:.uma J\"c.".' quem me dá OUtropalpite? O que f isto? «vuze.~JJ vamos
fazer maIs.:. é nsetm ((I'o/es)) f uma cantora de ópera italiana vista dn caixa do
pomo ... «rISOS.c I'OUS)) a caixa do ponto... «(vozes»)quer ver havia uma outra
que era uma girafu passando na janela de uma catedral como era? ... bom mas

;::~:<~:S~~~~E;<;::::~~;f::'<~L::";<>i~
chctcs ... as noticias ... de repente há uma fotografia vocês olh~m... c à prirneir.t
vista aparece um cmbara1t\Jdo de massas... de repente nx:ê, olham c percebem
as coisas ... já tiveram essa experiência? (Castilho e Prcti (orgs.). A IirlKuugf'm .'
falada ("li/til na ri/lm/f' df' S. Pau/o. São Paulo. T. A. Quciwl .. 19Mb.pro 63.65).

Os urticuladores são. como se pode facilmente verificar, multifunclo-


nais. já que desempenham no texto funçilCs das mais variadas. de ordem
cognitiva. discun.ivO-3rgument3tiva, organizacional, mcta-enuuciuriva c
imcraclonal Desta forma. não apenas silo resp(IO.~:h-cis.em grande parte,
pela coesão textual, como também por um grande número de indicações ou
sinatiz ..ações destinadas a orientar 3 construção interacional do sentido.

ADENDO: um caso singular de seleção lexical em redação de vestibular

São pressupostos básicos da reflexão que aqui proponho:


I. caprepdo de'? bistóriC"t de linguagem corno lugar de interação
humana. de interlocução. de mabalho de sujeitos:
2. conrcrcão de estilo como esculha, como marca do trabalho do
sujeito com nlinguagcrn:
3. fecundidade do paradigma indiciário de investigação (Ginsburg.
196R)em Ctencms/lumanas:
4. adoção de uma ~ (Peirce, 1965) diante dos fetos a
serem explicados.
De wnfonnidatle com o ponto de vista ecíma enunciado, procura-se
identificar eventos singulare.~ p:l<,sí~'e!sde se.rem lnmadns como marcasõndr-
cios da complexa relação entre o sUJctto.e a Itn.guag~Jll, isto é, acredita-se que
ocorrências eJlis{)dica.~c ap;m:ntemcnlc tnexpltcávels, 11:1mcdidi em que pos-
sibilitam reflexões rcéricas estimulantes, "são importantes indícios do proces-
so geral através do qual o sujeito se vai continuamente construindo" (Ab<lUITC,
1993: 2), pelo faro de darem maior visibilidade a alguns aspectos desse pro-
cesso, podendo ser reveladoros. muitas vezes, de um estilo em construção.
Dessa forma. através de um exame mais acurado de ocorrências sin-
gulares. podem-se Iorrnular hipóteses interessantes sobre n processo de
aquisição de escrita do sujeito que produziu a ocorrência em questão. bem
como, tendo em vista a concepção de sujeito historicamente situado por
nós adotada. chegar a possfveis generalizações no que diz respeito a ou-
tros sujeitos que tenham vivenciado processo de aquisição semelhante.

o dado singular em quest50

A ocorrência a ser aqui discutida foi retirada de um texto que


tcrnatlzcva o problema do menor socialmente desfavorecido em nosso país.
Trata-se de um caso singular de seleção lexical. que envolve aspectos de
ordem simãrlco-semnnuca e textual. contido no fragmento seguinte:

Na década de 80 cerca dc: 3 milhõc:sde menores trabalhavam nos centros


urbanos. Hoje esse número cresceu cerca de 50% enquanto o número de jovens
cresceu apenas I décimo. qual seria a c()nuqüincia que levou o jovem a traba-
Ihar? (Ali (73)

Fixemos nossa atenção na inadequação encontrada nesse segmento


textual. A abdução consiste. justamente, em. diante de um fato surpreen-
dente, formular uma hipótese explicativa com base na qual ele deixaria de
ser surpreendente. Procuramos, pois. levantar uma hipótese possível para
explicar a ocorrência em questão.
À primeira vista, a seleção do termo conseqüência causa perplexida-
de, pois nada levaria a prever que esse item lexical viesse a ocorrer de tal
forma nesse contexto.
Procuramos, então, levantar hipóteses que permitissem explicar sua
ocorrência: o que teria levado o vestibulando a selecionar o item conse-
quêncía em lugar de outro cabível, como causa. motivo, razãot

Uma hipótese explicariva

. A relação semântica que subjaz ao segmento textual em exame é,


evidentemente, a relação bimembre de causalidade (causa/razão_ efeito/
~~~:;ü~nc~a). o candidato se pergUntava. no caso, sobre o primeiro ter-
' rc açao, ou seja. sobre a ('(IUSa que leria levado o jovem a trabalhar.
di . O'cuc acontece é que as l;r;Im:ítka\ tradicionais do ponugu,;s fazem
d~~~:~I~·r~~oexem~.lo, entre nraçüe~ '~bordinadas causais (dependentes
bordi ç: matm: que encerra a H.I~I:S de {"Onseqilêncial c nraçiíes suo
rdmadas consecutivas (dcf'l.'ndentes de uma principal que encerra a idéia
d~ c~usa). al~mdcconsiderar, no período simples, a possibilidade de ocor-
rencla de aUJuntos adverbiais de causa.

Desta torrna. nas aulas de gT:lmátiea no ensino fundamental c médio,


o aluno, fre(!ilentemente, é levado a ver, de maneira artificial, as noções de
causa c cOnseqüência como estanques _ c não como os dois membros
necessários do binómio atrav~s do qual se estabelece a relação de causali-
dade. O que se lhe exige é que seja capaz de reconhecer adjuntos adver-
biais de causa, bem como distinguir oraçõcs causais de uraçücs consccutl,
vas, muitas vezes Com base apenas no elemento concctor que as introduz.
E o aluno nem sempre consegue fazê-tn.j:í que. do ponto de vista cognitivo.
o que ele apreende. de forma global. isto é, como um s6 todo, é a relação
de causnlid:sdc: uma causa ou razão que dá origem a um efeito ou conse,
qüência.

Formas de expressão da noção de causalidade

Na ordem natural dos acontecimentos. a causa antecede a conseqüên,


da. Portanto. a fnrrna lingüística que iconicamente espelharia essa r:la-
çno seria aquela em que se enuncia primeiramente a causa e. aseg~1r:.a
conseqüência. Contudo, a língua nus ofe.Tece lodo .um leque de ~Slbl~l-
dedes para expressar a relação ~e ca~s;Jlldade. várias dcJ~s .c~~ IOve~ao
da ordem natural. Passamos a discutir algumas dessas possibilidades:
A. estrutura Icônlca ao real (a causa antecedendo a conseqüência):
AI. frase simples cujo verbo expressa a noção de causa:

(I) A extrema pobreza acarrt'/()u ((,OUJou. mu/i'·oll. <lCa.tionuu) o trabalho


prematuro dojuvern-
(2) ~D''';dO' .. ~ pobreza da família, o jovem teve éc trabalhar
Em virtude da desde cedo.
Por causa da

Em decorrência da
Em conseqüência da

AJ. estruturas complexas, com a idéia de causa. no primeiro membro


e a de conseqüência no segundo:

(3a) A Famíliaera tão pobre que o jovem foi obrigado 3 trahnlhar dcsde cedo.

(3b) A famâia era muito pobre. de sorte que o jovem foi obrigado a trabalhar
desde cedo.

(3e) A Iamüía era muito pobre. por isso o jovem foi obrigado a trabalhar
desde cedo.

(3d) Por ser a família muito pobre. o jovem foi obrigado a trabalhar desde cedo.

8. ordem Inversa à natural (a conseqüência antecedendo a causa)


Bl. frase simples cujo verbo expressa a idéia de conseqüência:

J
(4) O trabalho prematuro ~ecorreu d extrema pobreza da família.
deveu-se à

derivou da

82. estruturas simples, com adjunto adverbial de causa posposto:

(!5)O jovem teve de trabalhar desde: ecôo. ~e\.idO ti ., pobreza


em virtude da dafumflia,
em conseqüência da
em decorrência da
por causa da

1J3. estrutura complexa. com a idéia de consequêncía no primeiro


membro e a de causa no segundo:
(~) o jovem trabalhava desde cedo. porque (visto que. já que etc.r 11 Iamílin
era muuo pobre.

(60) O jovem truoolhava desde cedo por ser a famíli a muito pobre.

Alente-~ melhor aos exemplos (2) e (5). O que diferencia esses exem-
plos é. tân somente. a posiÇão do adjunto adverbial veiculador da idéia de
causa. A hipótese que se pode levantar a partir deles é que o sujeito. ao
produzir o texto. operou um "cruzamento' entre o item testcat conse-
qüêllcia f! lima das formas dI! expressão da noçào umântica dI! causa,
aquela em que se antepõe ou pospõe o mljunto adverbial de causa. Ressal-
te-se. também. o que parece ser um dado interessante. que nào se cncon-
tra. na descrição gramatical. um adjunto adverbial dt' conuqüincia. isto
é. as locuções em decorrência de, ,'//I conseqüência de etc. introduzem a
causa do evento de que fala o enunciado:
• a pobreza foi a causa do trubulho prematuro do jovem:
• o trabalho prematuro do jovem deu-se em conseqüência da pobre-
za. isto é. a pobreza (causa) teve como conseqüência o trabalho
prematuro.
A naturalidade de perguntas do tipo: "0 jovem foi obrigado a traba-
lhar cm conseqüência do quê? "Em conseqüência do que (J jovem foi
obrigado a trabalhar?". em que o objeto da pergunta é justamente a causa.
pode ter influenciado tal "cruzamento", levando () candidato escolha à

feita, ao perguntar: "qual seria a conseqüência que levou o jovem a traba-


lhar?",
Observe-se. também, este outro exemplo, criado para efeito de ilus-
tração:

(7a) Etc morreu t"mcmutqiirndu de uma lesão no eérehro.


, '
conseqüência

(7h)A Ic~ãonoeérebrofoiacaumdesuamorte.

(7e) A morte sobreveio em ('Q1lu/fiiênda da lesão, isto é, a lesão (causa) teve


corno con.u'/fii"nôa a morte.

São perguntas possíveis (entre outras): "Qual foi a causa de sua


rnone?" ou "Ele morreu em conseqttincíc do quê?",
Fato bastante significativo é que. em 1995. deparamo-nos com uma
nova ocorrência do mesmo caso de sdt'çiio lesical. desto feíta em traba-
lho final apresentado por uma aluna di' uma disciplina de pós-/:raduação.
que então ministrávamos. A ocorrência é a seguinte:

Este item está diretamente relacionado ao anterior. uma vez que a forma
como se processa o fluxo de informações no texto provém de conuqüências
nlnantts do contexto. ou seja. t"ltmrr!lOJdo plano cognitivo I' tntrratívo quI'
,.ao t'ltar rrflt'/idOJ dirrtamentr n.o tt'XIO(grifo nosso).

Consideraç6esfinais

o dado singular do primeiro sujeito acima analisado - acrescido do


produzido pelo segundo sujeito. que foi posteriormente coletado - revela
a dificuldade encontrada por ouuos sujeitos. alunos do ensino fundamen-
tai e médio (e que. muitas vezes. os acompanha pela vida afora) em esta-
bclecer no texto relações semânticas aparentemente simples, como é o
caso da relação de causa/conseqüência. pelo fato de poderem ser veicula-
das através de diferentes tipos de estruturas lingüísticas e poderem vir
introduzidas por uma grande variedade de articuladores de tipo semântico
ou discursivo.
Veja-se, a título de ilustração. este outro trecho, extraído do mesmo
corpus de redações de vestibular. em que o aluno usa um conecror pouco
adequado para. estabelecer a relação desejada:

Segundo a Organização Mundial de Saúde (Que. aliâs, apenas constata o


Iato). a população jovem deste país é sedenta de conhecimentos, pois abarulona
seus estudos, sendo obrigada a fazer por si e por seus familiares pane daquilo que
seus pais não puderam propordon:lr.

Embora O enunciado assim construído não seja de todo inaceitável,


parece-me que um mas no lugar do pois seria o mais indicado: a população
jovem não é sedenta de conhecimentos porque abandona os estudos: ela
gostaria de adquirir conhecimentos /lUH abandona seus estudos, por ser
obrigada aja:,i-{o. (Para que, mantendo o pois, o enunciado se tornasse mais
aceitável. poder-se-ia acrescentar a expressão i obrigado: ... a população jo-
vem deste país é sedenta de conhecimentos. pois é obrigada a abandonar ...).
,Uma das hip6t~scs que se vêm levantando com freqüência é que es-
sas dIficuldades encornmdas pelos alunos _ e não só por eles. evidente-
mente - decorrem, em grande parte. de um ensino centrado precipua-
mente no .aprendido de urna II1ctalinguagem gramatical. em detrimento
das .rellexocs sobre o funcionamento efetivo da língua em teXTOS e sobre
'". npos d~ relações semrlnlica~ c discursivas que suas estruturas nos per-
ml.tc,m veicular, ou seja. em detrimento da atividade epilingüística dos
sujeuos (cf. Gcraldi. 1991).
. A falta de habilidade em detectar, nos textos que lêem, os diversos
tipos de relações semânticas c/ou discursivas. e em recorrer, nos próprios
textos. às difcrcmcx maneiras de texrualizã-Ias, vai acarretar sérios pro-
blemas na produção textual desses sujeitos. problemas que, à primeira
vista. podem parecer idiosxincrãticos c difíceis de explicar. como é o caso "
da ocorrência aqui discutida.
? Fica. assi~cado o procedimento metodol6gico~o-
tado: pane-se de um dado singular - mas não trivial -, Isro é, aquerc
(jUC, embora pareça, a princípio, surpreendente c mesmo dcsnortcador,
permite desencadear reflexões teóricas estimulantes e serve de indício para
a formulação de hipóteses explicativas sobre u processo de aquisição da
escrita de um sujeito. Tais hipóteses. por SUl! vel., poderão revelar-se cdc-
quadas à explicação de outros dados semelhantes. de outros sujeitos inse-
ridos no mesmu contexto sócio-histórico.
Ainda mais, ao darem maior visibilidade a alguns aspectos desse
processo, tais dados podem, COnlU defende Abaurre (1993: 2), "contribuir
de forma significativa para uma discussão mais proffcua da natureza da
relação sujeitollinguagem no âmbito da teoria lingUfstica".
..•..•

EPílOGO

UNGÜiSnCA TEXTUAl: QUO VAOtS?

"QUI) \'aJIS, Tc.\llinguislikT ~ com e.\tas palan:t~ que.' Heinemann


& Vleh\o.·cgc:r (1991) encerram o Cllpítuhl inrroduI(lrio de seu livro
Turlmg,.;s,il:; Eint' EifolrNng. intnul:wJo "O que t: e " que pretende li

LmgUí~hca Tt'lIlUal'.'''
Por seu rumo. ,\ru", (1'J97, prupõe: que. par •• obter uma n:SpolSlU 3
e~~ I.j~\tlio. <,epana da pt'l'lOunt .• : "O que deve' e I) que pode c.\plicar a
LlngOí~llca TC:\Iual"" St-gulklo,-]c, par.! se chegar 11uma n:'p'lStll concluo
vrva, importa saber o que 11UnguislIClI Tc,\Iu:1I tem-se pn'fK~rn C'.\plk:u
desde o seu _urgltnen!o. ou melhof. corn qual conceito dt- tCUn \'('111trabll.
Ih:mdo. O que pôde venücar é que \:1rHl~cooccrcõe, dto h::.\h, têm acom,
panhndo 11 hislóna <k••;.a dl.S4'Ilum. kl'allllo-a a as'unllf (1JO~~s
dl\cl').õL\. entre a~ qUlll.) se 1\.,io:lI1 ru:\I:N.'ar:
1. IC.\IO como fl:;~ complcJ.a tfunüalllcnt:.1,,'1iu gl'arnõdll'al!;

2. IC':\IO corno c:\IJan •••'Iu IcmlllU::uncnlc cemr:",!:, uc mõtChlt'SlnntJra_~


ffundõlllW:nlõtÇJ.o M'mJilluca),

3.1(110 como ~Igno COll1plt:\(. trun<.laull'nt:tç:io '>("1I11<'o1,C;,,:

4. IC\IO C"OIl\O:aIU de faJa cOlllpk:\ •• lfundalllcnt;,~'àf, pragmáTIca I:


S. IC':o.IO C",'IIIO ÜlloÇUrMJ "congelado". I'n:dllloJ :acaba.J •• Jc \11113 loÇM
d'M."uf]i,va (fund31ltC'ntaÇ"Jou dl<;cuI",o-plaglllállca;:

4. le:>.w C"01l1OmC'i' C"J)('dfiro ele realll.açi\o da COtn\lnlcaç50 '.erbaJ


IrundamClll:aç:kJ COOlUnlCllu,·aj.
c> __ .....,I""am,bém. dizem Antes & Tietz (1997),
se. ncs cs trinta anos de cxistênci Lingüística Textual desempenhou
apenas 1 a I de .. pede da Lingüística. tnlvez um modismo como
tantos outros, ou. então, se ela se tomou uma ciência intcgrativa de vãrias
outras ciências (Retórica, Estilística. Teoria dos Gêneros. Teoria da Argu-
mentação. Narratologia crc.). vindo a constituir uma "Ciência ou Teoria
da Linguagem" {Vnn Dijk. 1978). Ou se ela faz parte integrante do domí-
nio estabelecido da Lingüfstica, quem sabe até do seu núcleo central. E. se
for assim, quais seriam os prognósticos que se podem fazer quanto ao seu
futuro? Ou, ainda, será que todas essas perguntas surgem apenas porque a
Lingüística Textual entrou numa fase de consolidação de tal forma espe-
tacular que questões sobre a justificação de sua existência estariam tão
fora de propósito quanto, por exemplo, questões sobre a Semântica. fi
Fonologia ou a Sintaxe?
O que se pôde, com efeito, verificar é que, na época do surgimento
da Lingüística Textual. em função do conceito de texto então majoritário,
a maioria dos estudiosos se dedicava i'l análise tr~/ou à constru-
U cão de gramáticas do t~xto. de modo que o objeto precípuo d~
?~oesão (isto é. a propriedade de hang sogether, de cohere). por ISSO. mui-
tas vezes equiparada à cocrêncía.jã que ambas eram vistas como qualida-
::::::=~_
des ou propriedades do tex:::lo,-:,
Uma das tônicas da écada de K() foi' amente a ampliação signi-
ficotiva do conceito de coe ~ h luando. adotando-se uma perspectiva
p'ragmático.enunti;!tiva, passou-se a postular que não se trata de mera
propriedade ou qualidade do texto em si. mas de um rcnômcnc muito

~~E:!i.~;:~71~:~~~;~~
públiCO dIversas coletâneas so re o tema (Charolles. erõrt & SÜ1.er,
1983: Neubauer. 1983; petõfi. 1986: Sõzcr, 1985: Conte, Pctõf & Sõzer.
1989. entre várias outras), além de artigos e obras individuais. Também
no Brasil, as pesquisas sobre coesão c coerência textuais tiveram grande
desenvolvimento, frutificando em uma série de obras sobre o assunto.
Podem-se mencionar, entre muitos outros, os trabalhos de Marcuschi
(1983), Koch (1987,1989, 1992), Koch & Travaglill (1989.1990), Fãvero
(1991) e Bastos (1985). Além disso, outros critérios de textualidade pas-

J
saram a ser objeto das pesquisas sobre o texto, tais como Informatividede,
,""'"
~~ade. inteneXlualidadc, intencional idade, aceitabilldadc (cf.
tê~~~I:~1~el:vin~~~o~ocati7.açãO, consis·

'-:~ni taiiioeiniic~~cada que se delineou com vigor ri abordagem


cogmtlva do ICltIO,especialmente a partir dos estudos de Van DijkeKiiii:Sêh.
~ue. OI gan vez mais terreno e passou a dominar-a a no
IOfCIO da cada de 90, ag " porém, com fone tendê ---a sociocognitivistâ;

Situação atual

~~:::';~:;~~::;~;~b
A partir desse momento. com o desenvolvimento cada vez maior das

~~~~~;~7:~~~~~:.
P'"
~cnln .ocasla" llo proccssumcnto. às c~lnl!égia" sociocounitivas e '
mtcr:lcmoills nele envolvidas, entre muitas outras. passaram a ocupar u
centro do.' interesses de diversos estudiosos do campo. ,\ título de caem-
pio. rodeio-se destacar as obras de Hcincmnnn & Vichwcgcr (1991), Koch
& ücsterrcichcr(I990), Nusshuumcr (1991), Adam (1990c 19(3), c van
Dijk (199·1,1995, 1997),cntrc várias outra" No Brasil. pode-sediar uma
série de trabalhos desenvolvidos por Marcusctu e por Koch (Marcuschi &
Koch, ICJI)8:Kcch & Marcuschi, 199R: Marcuschi. 1998. 1999; Koch. 1997.
1998, 1999), para citar apenas alguns,
Além da ênfase que se \'CIlI dando :lOS processos de organiza o glo-
hal dos textos, ssumem importância particular as questões d ordem

~~,ii~;:~~a~~~:::~=r~~,:i:::~n,~;tt~:~:
este a~~b-6I.ltras luzes~l@1irda perspectiva
bnkhtiniana. voltando. assim, a questão df1çgcncf(1'~,a(lÇ~arlu~
taqu~ pesquisas sohre li tex!O e rcvcla'nil~hoJc-niillcrrcnoextrcma.
mente r,.mm~
~ questão da r;fsrcnciação te~lUa!. por, excmpl~, vem sc~d~ objeto
de pesquisa de um gnlpodc autores tranco-surços (Pr\lJet~)Cogfllsclences),
entre os quais se podem destacar A,r0thélnz, Kluibcr , Ch,an)~les,
Berrcmlon,!er. Reichler-B (~n. Chanêr. ~lond_ada e D. DU~lIs~ Estes
• ores têln de I ud espceial mtere~:~\~t()es como ,a cn~çao dos
bietos-de-disc ", iUlnáfora~ss.OCI:l;?; sua con~enuaç',tO e ~lIa
ab~ . opcrJ - de nonllnahza' , suas funções, entre vãnas
outras com elas de algum forma rclacion das. O principal pressuposto
destas pesquisas é o da re re/l(';a -iío cm ,atil'ic/at/e discursiva, como é
postulado também em Marcuschi & Koch Y\)H; Koch & Marcuschi. 1998;
Marcuschi. lWK; Koch. 191)S), Desta f a, deconfonllidadc com Mon-
dada & Dubois (1995) e 1 Reichler-Béguclin (1995: 228 e
seguintes), postula-se {lU , rcferênci. é sobretudo um problema que diz
respeito às operações de adas s sujeitos à medida que () di'>Curso ,se
desenvolve: e que odiscursô ('{iiiW'õfõK:õfij@s"aquef:!zrcmiss,:lo("obJe-
tos-de-discurso"), ao mesmo tempo que é tributário dessa constnlç:io,
O estudo do texto falado, que envolve também questões de ordem
sociocognitiva e imcmcional, ganha. neste momento. uma projeção cada
vez maior c torna rumos (Jll'Crentes dos da Análise da Conversação, como
se pode verificar na obra de Koch & Oesterreíchcr (191)0) e em inúmeros
projetos voltados para a descrição da modalidade ora! da língua. tanto na
Europa, como na América, É o c lJD 'I. do Projeto dc....Grilm:í!ic;1
do Português falado. idealizado r Castilho. ue tem como urna de suas
,,~rr~mt!~~1'iüã"(lr!!ani7.(l~· li) textual-i I rutiva no português (alado
no Brasil. esta coordenada por Koc I, :{)easo.t:!mbém,d(l~~ ,
SP. coordenado pur Prcu. e do NELfE - Núcleo de Estudos Lingüísticos
sobre Fala e E~rita. coordenado por Marcuschi.
Quanto à questão dos gêneros, acima menclonãlL1. cabe ressaltar a
releuura que vem sendo feita da obra de Bakhtin (1953). na qual () autor
apresenta a sua conceituação de gêneros do discurso, Além da imponante
obra de Swalcs (1990). na Inglaterra, e de autores da Escola Nonc-arncri-
cana. como Bathiu. Miller. Freedman, Coe e Bnzerman. bem como, na
França, a de Jean-Michel Adam (1993), destacam-se, nesse domínio. os
trnbafhos da equipe de Ciências da Educação d;l Universidade de Gene-
bra. conduzidos por Bcmaní Schncuwly, Joachirn Dolz e Jean-Pau!
Bronckart. que procedem a essa rclcuura com finalidades didática. .•• isto é,
do~ta..dc-lõull~plicaç.-íc.'H!{]~ais.
, Este grupo, que considera o gênero como suporte das atividades de
linguagem. define-o com base em três dimensões essenciais: I) os conteú-
dos e os conhecimentos que se tomam dizfveis a partir dele; 2) os elemen-
tos das estruturas comunicativas e scmtõtícas partilhadas pelos textos re-
conhecidos como pertencentes a determinado gênero: 3) as configurações
específicas de unidades de linguagem. traços, principalmente. da posição
enuncíattva do enunciador. bem como dos conjuntos particulares de se-
qüências textuais e de tipos discursivos que fonnam sua estruturo. Esrabe-
lece,portanlo.distin~~ros.tipo~eseqüência.~tex_

i:
I
,,'''''
tuais (n~rrati\'as. expositivas, crgumenunivas), estas vistas como esque-
mas básIcos que entram na constituição dos diversos gêneros e variam
menos que estes em função das circunstâncias sociais. O gênero. assim
defini~o. atravessa a heterogeneidade das práticas de linguagem e faz
erucrgtr toda uma série de regularidades no uso, São as dimensões parti-
lhadas pelos textos pertencentes ao gênero que lhe conferem uma estebili-
dade de facto. o que não exclui. evidentemente, evoluções. por vezes. im-
ponantes.

Perspectivas futuras

Retomemos, agora. a que ~r.i o futuro dos estudos sobre o


texto? Ou, colocando a queSlã~C~ais pessimista. pode-se dizer
que a Llngüfstica Textuat tem algum futuro?
Verificou-se que, desde seu aparecimento até hoje. a Lingüística .
Textual percorreu um longo caminho c vem ampliando e modificando a
cada passo seu espectro de preocupações. De uma disciplina de inclinação
p~irament~atical
pois prãgm:nico-dlscursiva.
(análise nansfrãsrica. gram~ticas textuais). de-
ela rrausrormou.se em disciplina com furte
gJ
tendência soclocofmllvi~ta: as =r»: que ela se coloca. no fi o sé-
culo XX. são as relacionadas com ~essamcnto sociocognitivo c tex-
tos escritos e falados.
Uma primeira questão que se coloca é corno ela se irá posicionar
diante de novas perspectivas. c. em especial, com relação a novos meios
de representação do conhecimento. como é o caso, por exemplo, do
hipertexto. suporte lingüisticn.semi(nico hoje intensamente utilizado para
estabelecer inlerar,{>Cs virtuais destcrrnorm!lladas. caracterizado funda-

~~~~~~r.II~~I:
:~:;~~~~~:~dl;~:~:· ~r::~~l:~~',:~~;~~~;;~;
~.os prrlCcdimentos metodológicus ela deverá desenvolver?
Com relação a todas essas questões referentes ao futuro da discipfl-
na. gostaria aqui de menci~nar duas obras que, ~o ~nal do século XX.
apontam aberturas que considero de grande relevância:
I. A ohra mais reecn1e de Rnbcrt de Beaugr~~\·os Funda-
mentos partltmla Ciêllcia do Tolo e do J)i.\·nlrs'~O/lUlllicC/_
{ciQ r Liberdade ele" Ares.fI! no Canhecimrnto t' ,I Sodec/aclf" - pnhlicada
em 1997, em que o autor. além de fazer urna excelente retrospectiva da
Lingilfsliea Textual desde SU3S origcus até os nossos dias, aponta as suas
!~
í o) 5( OESVENOAJfOOO'SSE~R(DOSOOn:l10

r/~perspccti\'as e tarefas futuras. Afirmando que "hoje. a lingüística de texto


provavelmente melhor definida como ~núnio...linsilisticu.de....lJ.QJa
~çjpJinar do texto e do discurso", o autor pa.~sa a definir o

d:S~~;~:':~~~::
extu como "um c-vemo.comuniCil~o quaT convergem ;'~'iics ljngüf~ti-

~.~:i~!::o
~;~u~:~~~
~:~~ ~~~~~~(i~Sl:~
;:::~
processe como tal" Desta forma. os princípios de textualizaçâo deixam
de ser vistos como critérios ou padrões que um texto deve satisfazer. mas
como um conjunto de condições que conduz cognjtivamen1C~J
de um (','cnto ;nteracionalmcn\C comunicativo. Isro é, os sete padrões de
'TêiiuaHdade propostos em Bcaugrande & [)rc~slcr (19R I) não são crité-
rios que permitem identificar as fronteiras entre UIlIICXIIJ c um não- texto,
mas sim as condições para uma ação lingüística, cognitiva e social na qual
eles operam como modos de conectividade em níveis diversos, mas inter-
relacionados.
Uma Lingüística Textual como ciência do discurso e do texto deve-
ria, pois, montar seus modelos com base em uma agenda mínima
(Beaugrande. 1997: 144-145), que consiste em:
a, definição dos objetivos (por exemplo, "liberdade de acesso ao co-
nhecimento e n socIedade através do discurso");
b. definição dos lemlOs-cha\'c c conceitos numa terminologia siste-
mática. com um uso cOnSIMCnlC ucrmos vistos como ccmrus de controle
para a ativação glohal de conhecimentos sociais. discursivos c cognitivos):
c. .;Icesso às ::lth·jshll!cs..impIK...!as pela construção do modelo como
ações cognitivas. discursivas e sociais (ações de identificação, conexão.
expcricnciação. temporalização, espaciallzação. observação. mensuração.
predição etc.).
2. Q trabalho recente de GerdArun.~ - "Texto ais Konstltutionsformcn
von Wisscn" -c-rambém publicado em 1997. in Antos & Tictz (nrgs.). Die
Zukwift der Tealínguistik, no qual {I autor defende a posição de que textos
são. lingüística. conccprual c perceptualrneme.fimn/lJ de ('08I1iriio social c
que seu papel. no contexto da evolução do conhecimento. é II de constituir-
se cm ponto de punida e de chegada para a ancoragem da Lingüística de
Texto no quadro de uma teoria da evolução cultural. Amos. em sua argu-
mentação, parte das seguintes premissas:
a) a moderna evolução do conhecimento, com sua multiplicidade
cultural, histórica e funcional. seria impossível sem a existência de textos,
formas Ilngülsticas da constituição e organização do conhecimento com-
plexo. Esquece-se. muitas vezes, que todo conhecimento coletivamente

l.
tl'lLOGO

válido é sempre um conhecimento lingüisticamcnte constitufdo c, só desta


Iorma. sociocngnitivamente existente, como também o fato de que as for-
mas de constituição textual ncccssuam elas mcsrnav descn\"ol\"er·se no
curso da evolu~·tlo da sociedade: ou seja. o que ~e pode [ou se permite)
representar. por quais meios. gônerus, variedades ou estilos. de que ma-
neira (entorno temporal ou espacial. modo ctc.) está na dependencia de
tradições históricas e socicculrurais:
!J) os textos não s.ân apenas meiosd~~annazenamento
(a~.u.h'.os)deconh~ciment\l_portant~a!izaç~s"lin.
güisticas de conccuos, estruturas e rmces~()~ c()cmtl\"o~ mas snn for-
mas básicas de constituição individual e social do conhecimento. ou seja.
textos são lingüística. conceitual e pcrccprualmcntc tonnas de cognição
~nclucm.se aí todos os modos de uso comunicnivô de tunnas cote·>'
uvas do conhecimento. que necessitam ser considerados como formas de
distribuição comunicativa do conhecimento: somente assim. nas socieda-
desmodcmas.o(llnl:!..e~t~~poUt.:..-rui",ilk..lit.'IH"-Io'ólli..
dadc c relevância ~ Isto é. os textos süo. por um 1;1(.10.formas de
ela6í)"fãÇão. diferenciação e estruturação de conhecimento e. por outro,
forrnns de controle. crítica e transformação. bem como de"constituiçân e
apresentação (vrctoricamente' orientada) do conhecimento. visando ao que,
em termos bukhrinlanos. se denominaria uma comunicação r•... sponsiva ati-
va. Todo o conuccim cnto dcclunnivo de nossa sociedade é (com exclusão
daquele que se traduz em números ou fórmulas). primariamente lingüísti-
co. ou melhor. conhecimento textualmente fundado.
c) Pressupondo~se uma \'b:"IO roce~, ãmiea do conceito de
texto. os textos. pelo furo de sr poderem estruturar o conhecimento e
forma sele\J\·a. suo. por um lado. apenas "estações intcnnediãrins" para a
criação de outros textos: c. por outro lado. pontos de partida para a asslmt-
lação tt'xlUalmcnte buscada do conhecimento {vtcxto na memória"). É por
isso que. com plenacol1sciência. Antos prefere falar de textos. no plural,
ressaltando que o plural deve sinalizar que cada texto individual. apesar
de -\lU just:lmente em razão de - sua força constitutiva do conhectmen-
to. depende da ativação de outros domínios deste (precllllcehidos. utiva-
ção de pressupásl~·()cs. Illkrencias. saber Intertcxtual de.).
-A parti me tais premissas. Ann», apresenta doze teses. dentre as quais
gostaria de dcsl;.!car a..; seguintes:
l , os tC;I;!OS
constituem formas de organização do conhecimento com-
plexo pelo fato de forneeeremfomllllO.l" para l/ arquítemm Iingíustica (ver·
1Ja/) doconhecitnentosqsjoco~c. A arquitetura formal dos
textos constitui a orgnntzação lingüfstica, conceitual e pcrcepumt do co-
nhecimento. É por esta razão que os textos. de uma perspectiva consunuíva
do conhecimento - ainda que em sentido fraco podem ser concebidos

~E~~:;,;?:,:;::::,~::~:::::'~~~~:~:;:~:','~;:;'::~;,~i;~:i
como teorias sobre (UP('CIOS do mundo, Compreendidos corno Iormns <lo:

estadosde coisas estruturados e selecionados sob dada perspectiva. Em


OUlr;ISpalavras, é por meio de textos que tais mundos ~iio criados (ou ;1
cada nova recepção e reprodução, recriados);
2. determinados aspectos da realidade social são criados por meio da
representação dessa realidade c s.í assim ganha.m validade e relevância
~

~:::;;:~~i~~:S~z~~;::',:;~::~~~:o;~~~~~~;
meio, da pcrspecrivn. da foculiznçào ou da ()rganila~';'iíl figura/fundo,
balanceamento entre dito e não-dito (ou seja. a relação entre prl'.""Up(lSIO~,
explícitos c infcrfveic], escolha da modalidade (verdade, vcrossimilh.mça,
ficcionalidade),lxm como emprego de recursos estilísticos etc. Todos estes
aspectos se inter-relacionam com a urquitctônica rextual:

men!(;l·c~~I;~:~~:S(!~l~C~~lrll~!r~;:~;.~cuir:;;:~ii;:~11~~CI;~rl~~n~:~~~~~
er~tos,pennilirsu;lrea!i\'ar •.iío.tL·.o.,t:í·lo.a\·ali:í_lo.l'llrrlj,:i·lo,

sltuaclonais
rcesmnurã-lo. tirar novas conclusões :1 partir daquilo <jUC jd é comparti-
lhado. e representar Iingüisticnmcntc, de forma novu. novas relações
e sociais.

Q
\lS ressalta tre.~ aspectos decisivos da concepção I.••.
'r ele proposta:
cxtos como modelos de mundos d:l0 origem, por uefiniçiin, cn-
qua nodclos de algo", 11 concnrcnnçõcs (Zus:ullmenh;ingc) de Sl,rttido
coerentes:
2. corno modelos. eles Incorporam "conhecimento sobre algo", C:lSO
contrário. permaneceriam pruposicionahncnre vazios;
3, textos como modelos precisam ser. via de regra. formulados lin-
gulsrícamentc. para poder preencher pressupostos cognitivos e comunica-
uvos.
Daí resulta que. tomando por base o conceito de texto assim csmbc-
lecido. é possível pleitear uma Lingüfsticu de Texto fundamentada numa
• Teoria da Evolução Cultural, cujo objeto será explicitar a evolução culta-
rul da geração (c:ré-geração I, organização e transmissão de formas de cogni-
ção social c:de formas de uso social do conhecimento (inclusive formas de
distrihuiçãn comunicativa). Ou seja. cabe-lhe por tarefa explicitar todo c
qualquer aspecto da evolução (hoje universal) tio conhecimento que diga
respeito a modelos e formas lingüístlcas. conccptuais e perccptuais do
conhecimento, hem comu aos rnoJos de seu emprego comumc.llL\o.
_~ [ ?s textos: .como formas de cognição social. permitem a~ homem
orgaurzur cogmnvamente 11 mundo. E é em razão dessa capacidade que
são também excelentes meios de intercornunicaçâo. hem como de ~

-fci~Ú~:~:~~~(}~
:~~~~~~
~~r {~:;;isn~::::;;~~':c~~7
~t;~. r~~l~~:~~
c só assim adquirem validade c relevância social. de tu! modo que os tex-
tos não apenas tornam o conhecimento visível, mas , na realidade.
sociccognitivameme existente. A revolução e evolução do conhecimento .
necessita c exige. permanentemente. formas de representação notoriamente
novas c eficientes.
Assim. a Lingllf~tica Tcxuw..com esta nova cEI pç~to.
parece ter-se tomado um entroncamentoõfllrn~a convergem muitos
caminhos, mas que é também o ~nto de partida d ml' O!Wl.cles~ di-
versas direções. Esta metáfora d'i't:ingüíMica.dc cxto corno c~
partida c de p~m ~e muitos ~ inclusive novos - desenvolvimentos
abre perspccnvas otimistas quanto a seu futuro. como parte integrante não
~6.da Ciência da Linguilscm. mas das demais ciências que têm co~
jelto cemralo scr hujgg .
A iência ou Lingüística de Texto sente necessidade de intensificar
sempre mais (J diálogo que já há muito vem travando com as demais Ciên-
cias - e não sõ as H~manils! ~. transformuudo-se num~~
integruti va" CAntos & Tietz, 1997). E li caso. por exemplo, do diálogo
conr.rFitm-ofia da Linguagem. a Psicologia Cognitiva c Social. a Sociolo-
gia InterprüJ1lt'a. a Antrupologia, ~aCnm\lmcação. a~
a Ernomet o ógia. ;1 Etnograna da, ma l.T. temente. com a

~~:o~~:~~{) ac.l":~;~:~~::~I:
.Ia_~
~a '~~(l~~ ~~gni~'ã\l" :l'~:~
assim~uda vez mais, um domíni~lidi.sciplinar_~l que se
busca compreender e explicar essa entidade muhifncctada que é o texto-c.
fruto de um processo extremamente complexo de interação e construção
social de conhecimento e de linguagem.
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