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1. Apresentação ...........................................................................................03
2. Objetivos ..................................................................................................03
2.1 Objetivos gerais ................................................................03
2.2 Objetivos específicos ........................................................03
3. Justificativa ..............................................................................................04
4. Violência sexual: um instrumento de guerra e um breve panorama de sua
origem histórica regional .........................................................................06
5. O comércio ilegal de recursos minerais no leste da RDC .........................07
6. Leis congolesas sobre a violência sexual .................................................08
7. Violência sexual no Brasil: a mulher negra ..............................................09
8. Representação de vítimas e perpetradores em tribunais ........................10
9. Obstáculos para a acusação .....................................................................10
10. A vergonha ..............................................................................................11
11. Visão prospectiva .....................................................................................13
12. Referências .............................................................................................15
1. Apresentação
Esta trabalho busca, através da análise de dados e a reflexão moral e histórica acerca
das vítimas de violência sexual na República Democrática do Congo, compreender o
ambiente em que as mesmas vivem e se isso contribui para a persistência de tais atos
no país trazendo também brevemente uma perspectiva do cenário brasileiro de violência
contra a mulher. Buscando possíveis respostas e uma elaborando uma visão
prospectiva otimista que finde tal problema que assola tantas mulheres através da
vergonha, medo, e pressão principalmente por parte dos grupos armados que acabou
se tornando algo sistemático, estrutural na República Democrática do Congo.
Onde a Constituição da República de certa forma contribui para o difícil acesso da
população a recursos jurídicos para formalizar acusações criminosas contra os seus
violentados, além da falta de informação sobre o processo penal, dada a falta de
educação formal do povo ali inserido.
2. Objetivos
2.1. Geral
2.2. Específicos
São objetivos específicos deste trabalho:
Diante de tudo isso é necessário que analisemos todos esses obstáculos enfrentados
pelas vítimas de violência sexual e observar não somentesob um prisma jurídico, mas
principalmente humano, os danos que esses eventos traumáticos causam nas
mulheres, que são obrigadas a conviverem com a vergonha e o medo todos os dias,
pois podem sofrer represálias e algumas até são levadas de volta às suas famílias pelos
seus próprios maridos, ou entregues pelos mesmos ao seu violador. A chacota,
vergonha, depressão, todas essas chagas nos dizem respeito, e através desse projeto
a busca por justiça para as vítimas é enviesada, onde estigmas sejam quebrados e
medidas eficientes sejam implantadas e a sociedade educada acerca dos crimes
sexuais.
o primeiro menino que me beijou
primeira bicicleta
e meu deus
O início do conflito armado na região congolesa remonta a 1998, quando ocorreu a chamada
'Guerra Mundial da África'. O entendimento deste conflito pode ser melhor interpretado no
contexto de conflitos locais, como o genocídio de Ruanda, bem como as guerras civis do Sudão,
Uganda e Angola. Alianças foram formadas entre as forças rebeldes e grupos governamentais
que criaram uma dimensão interna e internacional do conflito.16 Especificamente, no ano de
1996 Laurent Kabila derrubou o presidente Mobutu e foi apoiado pelo Exército Patriótico de
Ruanda e pela Força de Defesa do Povo de Uganda. Trabalhando a partir de uma posição de
poder, Kabila "deu as costas a Ruanda e Uganda e, em 1998, começou a remover ruandeses de
cargos de alto escalão dentro de seu governo". Esse ostracismo criou antagonismo e cisma entre
governos vizinhos e produziu várias tentativas de remover Kabila de sua posição de poder.
Devido à incapacidade de removê-lo do poder, Ruanda e Uganda apoiaram as forças rebeldes
antigovernamentais na luta contra Kabila no leste da República Democrática do Congo. A
violência continuou a se expandir, com a transferência de poder entre o exército congolês, as
FDLR e vários outros grupos rebeldes, como os MayiMayi no leste da RDC.
No início da década de 2001, um acordo de paz foi assinado, instituindo um governo de transição
e eleições gerais em 2006. No entanto, a violência continuou, como resultado de tal
acontecimento, um segundo acordo de paz foi redigido em 2008 e assinado por 22 grupos
armados. Este acordo continha instruções para o governo congolês proteger os civis, além de
demonstrar respeito pelo direito internacional humanitário e pelo direito internacional dos
direitos humanos. No entanto, uma série de organizações, como a Human Rights Watch,
relataram que a agressão sexual não cessou mesmo após o acordo ter sido assinado. O UNJHRO
relatou que mulheres estavam sendo estupradas sistematicamente enquanto realizavam tarefas
domésticas, trabalhavam nas fazendas, iam ao mercado e buscavam água potável, em
praticamente todas as tarefas do seu dia a dia. De maneira alarmante, de janeiro de 2010 a
dezembro de 2013, mais de 3635 casos de violência sexual foram denunciados na RDC, sendo a
maioria destes casos vítimas das Forças Armées de La République Démocratique du Congo
(FARDC). Mais de 1200 violações foram cometidas no contexto de operações militares contra
rebeldes armados no Norte e no Sul de Kivu.
A banalidade do estupro grita no Congo, assombra a mulher, assim como diz Evaristo Costa:
“A noite não adormece, nos olhos das mulheres a lua fêmea, semelhante nossa, em vigília atenta
vigia a nossa memória. A noite não adormece, nos olhos das mulheres, há mais olhos que sono,
onde lágrimas suspensas virgulam o lapso de nossas molhadas lembranças.”
As riquezas minerais do norte de Kivu afloraram a atenção de milícias armadas dali, através da
exploração por meios ilegais, aqueles grupos se fizeram mais presentes naquela área, os
minerais se tornaram uma via de sustento para eles, enquanto continuavam em sua insaciável
busca pelo controle político. Tal atividade ilegal gerou milhões de dólares, com a venda do ouro,
coltan etc.
A cassiterita começou a ter uma maior demanda mundial no início dos anos 2000, fazendo com
que grupos armados disputassem, gerando até guerras civis, que consequentemente geram
mais violência naquela região, gerando milhões de mortos já desde o final da década de 90 por
conta dessas disputas.
E a violência contra a mulher mais uma vez se torna um instrumento de dominação das minas e
das mulheres, “um cabresto para controlar a sua vontade própria”, um dos rastros que mostram
que o colonialismo não é uma chaga do passado, onde ainda em 2021, é uma perfeita
representação da “banalidade do mal”, assim como dizia a filósofa Hannah Arendt.
Apesar da constituição congolesa afirmar que a violência sexual é um crime contra os direitos
humanos, através de alguns artigos constitucionais citados acima, no entanto, não são o
suficiente para findar essa problemática, até porque a lei por si só é o primeiro obstáculo que as
mulheres enfrentam na acusação, pois, de acordo com a lei no Código de Família, uma mulher
casada deve ter a autorização de seu marido antes de iniciar qualquer processo, acusação legal
na justiça. O antagonismo em relação ao discurso da igualdade de gênero na África vem de
homens e mulheres que veem o feminismo com maus olhos. Entre as mulheres, a ideia de
igualdade de gênero também é extremamente mal compreendida. Isso ocorre por exemplo,
porque elas não compreendem a sua importância e os ideais do conceito, também por conta da
internalização sociocultural formada por ideais patriarcais, que passaram a ser aceitos como
algo banal. Infelizmente, esta oposição contra a igualdade de gênero tem horríveis
consequências para as mulheres na África, particularmente na RDC, onde as mulheres
continuamente sofrem exclusão, repressão e subjugação nas esferas doméstica e pública,
perdendo a sua dignidade em sociedades com leis que deveriam protegê-las, mas na prática,
acabam por não trazerem isso à realidade.
“Você
cresceu ouvindo
disposto a
ficar”
“Seu corpo, historicamente destituído de sua condição humana, coisificado, alimentava toda
sorte de perversidade sexual que tinham seus senhores. Nesta condição eram desejadas, pois
satisfaziam o apetite sexual dos senhores e eram por eles repudiadas pois as viam como
criaturas repulsivas e descontroladas sexualmente. [...] Ainda que hoje a mulher negra encontre
outras condições de vida não é fácil livrar-se desse lugar, principalmente no que se refere à
sexualidade. Mesmo que aparentemente mais assimilados na cultura brasileira, o negro, em
particular a mulher negra, se vê aprisionado em alguns lugares: a sambista, a mulata, a
doméstica, herança desse passado histórico (p. 44).”
quando respondi
gentis comigo”
De acordo com a Iniciativa Conjunta de Prevenção da Violência Sexual eResposta dos Direitos e
Necessidades das Vítimas / Sobreviventes (Iniciativa Conjunta), dos 2.288 casos notificados,
apenas 152 casos - representando 7% de perpetradores - foram encaminhados a um tribunal.
Este número representa um porcentagem muito pequena de todos os perpetradores de
violência sexual, quando é lembrou que muitos casos de violência sexual não são relatados.
Dados do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) mostram que apenas 44 decisões
civis e 10 militares sobre crimes sexuais foram transmitido durante o primeiro trimestre de 2008
para todo o Sul Província de Kivu, região com centenas de milhares de habitantes.
O processo, as acusações legais são algo tomado pelo povo congolês como um conceito
estrangeiro, que não os pertence. A acusação deveria ser universalmente aceita e empregada
pelo povo congolês se o estado incorporasse as leis consuetudinárias e tradições em sua
definição e aplicação de acusação. Contudo, qualquer incorporação de leis e tradições
consuetudinárias deve incluir salvaguardas eficazes para as mulheres, para evitar que as leis
sejam um meio para discriminar as mulheres ou manter um equilíbrio de gênero desigual,
piorando as já alarmantes discrepâncias sistêmicas.
• Não faz distinção entre direito público e direito civil de um ponto de vista orgânico, funcional
e normativo.
• Sua estrutura judicial é modelada após paternal, familiar e tribal estratificações sociais.
• É baseado na sabedoria ancestral, passada de geração em geração através da tradição oral por
provérbios, frases, histórias, canções etc.
e seu corpo”
O UNFPA estima que apenas 24% dos meninos e 12% das meninas frequentam o ensino médio,
e que a taxa de analfabetismo para mulheres maiores de 15 anos é de 42%.
10. A vergonha
Numa sociedade ainda tão patriarcal, onde a figura feminina é desprovida de respeito, a
vergonha ainda se estende para os homens, os maridos, a psicóloga Sidonie, do sul de Kivu,
explicou que, após um estupro as pessoas perguntam ao homem se ele ficaria com aquela
mulher, e ele também se envergonharia. Alguns homens até dariam suas esposas para os
violentadores, se eles não aceitassem, ele a mandaria de volta para a casa de sua família.
O juiz Solomon do Tribunal Militaire de Garnison de Goma disse que a percepção acerca do
estupro é o principal problema para que as mulheres iniciem um processo legal: "É a cultura que
deve ser mudada", afirma ele, ‘Que diz que sexo é tabu, estupro é desonroso e que se deve
escondê-lo.’
“A agressão sexual é uma das coisas mais difíceis de denunciar por causa do contexto sócio-
cultural do Congo. Em quase todas as sociedades, uma mulher, um homem ou uma criança
fazendo alegações de estupro, violência sexual ou mutilação, tem muito perder e correr o risco
de ser objeto de tremenda pressão e ostracismo por parte de seus familiares imediatos e da
comunidade em geral.”
As mulheres, também, temem represálias - que a mesma coisa aconteça novamente, e que da
próxima vez, a morte seja o seu destino.
A diretora da SOFAD (Solidarity of Activist Women for Human Rights), uma ONG que faz
campanhas contra a violência sexual e fornece aconselhamento e ajuda para as sobreviventes
de estupro sumarizou: “Elas não trazem as acusações de estupros porque não existe a cultura
de trazer isso para a justiça”.
O nosso dever como cidadãos e críticos do sistema é buscar mostrar essa cruel realidade e
buscar novos caminhos para que ideários obsoletos acerca do papel feminino e a violência
sexual mudem. É necessário que haja uma busca de estratégias e co-coordenação na assistência
internacional no campo da justiça de gênero, por exemplo, e a criação de programas eficientes
de proteção às vítimas de violência sexual, assim como a proposta de uma reforma no setor de
segurança congolês, promovendo recursos financeiros para o setor judiciário, a proposta de um
modelo transacional de corte especial de justiça para casos de violência sexual e atentados
contra os direitos humanos; criação de projetos de educação sobre a violação sexual que pode
acometer mulheres e crianças, assim como um programa de proteção às vítimas.
Todas essas medidas demandam recursos financeiros para que funcionem efetivamente, então
o problema de corrupção no sistema, tanto internacional quanto regional deve ser
rigorosamente combatida, afinal recursos desviados são um dos maiores problemas em países
onde o colonialismo ainda é fortemente presente.
Não é uma realidade inalcançável, porém enquanto estamos em silêncio estamos permitindo
que esse fungo continue a se espalhar, abrir os olhos, ouvir a voz das mulheres, e desmascarar
o sistema é uma tarefa para hoje e agora, arrancar do seio do mundo essa imundice violenta.
“você pregava
minhas pernas
no chão
aos chutes
para depois pedir
que eu parasse em pé”
“tentar me convencer
de que tenho permissão
para ocupar espaço
é como escrever com
o punho esquerdo
quando nasci
para usar meu direito”
KAUR, Rupi. Outros jeitos de usar a boca. 1° edição. São Paulo: Planeta, 2017.
RATTS, ALEX. Gomes, BETHANIA. Todas (as) distâncias: poemas, aforismos e ensaios de Beatriz
Nascimento. 1° edição. Ogum’s Toques Negros. 2015
MANGU B. André Mbata. Law, religion and human rights in the Democratic Republic of Congo.
African Human Rights Law Journal.
Rape as a weapon of war: Accountability for sexual violence in conflict: Hearing before the Sub-
Committee on Human Rights and the Law of the Committee on the Judiciary’ 110 th Congress,
segunda sessão, 1° de abril de 2008.
PRENDERGAST, John. Enough Project Can you hear Congo now? Cell phones, conflict minerals,
and the worst sexual violence in the world. 2009.
Código da Família art. 448: "A esposa deve obter a autorização do marido para todos atos
jurídicos em que se compromete com um serviço que deve prestar em pessoa. "Código da
família art. 450:" Com as exceções abaixo e aquelas previstas por o regime matrimonial, a
mulher não pode processar em matéria civil, adquirir, alienar-se ou obrigar-se sem a permissão
do marido.
Tribunal Militar, Mbandaka, 12 de abril de 2006 (RDC). Tradução do próprio autor. Chá a versão
original em inglês diz: ‘… agressão sexual é uma das coisas mais difíceis difícil de relatar devido
ao contexto sociocultural. Em quase todas as sociedades, uma mulher, homem ou criança que
faz alegações de estupro, violência ou a humilhação tem muito a perder e corre o risco de sofrer
uma enorme pressão. ções ou ostracismo de membros de sua família imediata e da sociedade
no geral.'
Ministere de la Justice. A versão original em francês diz: ‘Além disto, custas judiciais oficiais
(depósito, custas judiciais, taxas proporcionais, etc.) que são pesados para suportar por um
grande número de litigantes por causa do baixo nível de renda, se deve notar que o litigante
congolês está sujeito a outros custos mais ou menos não oficial (custos de notificação de
documentos por oficiais de justiça, custos de depósito reclamação, compra de material impresso
para as atas, etc.) que completam a justiça inacessível aos mais desfavorecidos que constituem
a maioria da população. "