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Saúde
Coletiva
DRA. MARCELA DEMITTO FURTADO
DRA. RAQUEL GUSMÃO OLIVEIRA
Híbrido
GRADUAÇÃO
Saúde Coletiva
Dra. Marcela Demitto Furtado
Dra. Raquel Gusmão Oliveira
DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor e
Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos
Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William
Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de
Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação da Mantenedora Cláudio Ferdinandi.
a Distância; FURTADO, Marcela Demitto; OLIVEIRA, Raquel
Gusmão.
NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Saúde Coletiva. Marcela Demitto Furtado; Raquel Gusmão Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James
Oliveira. Prestes e Tiago Stachon; Diretoria de Graduação
Maringá-PR.: Unicesumar, 2019.
152 p.
e Pós-graduação Kátia Coelho; Diretoria de
“Graduação - EAD”. Permanência Leonardo Spaine; Diretoria de
Design Educacional Débora Leite; Head de
1. Saúde. 2. Coletiva. 3. EaD. I. Título.
ISBN 978-85-459-1725-0
Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza
Filho; Head de Metodologias Ativas Thuinie Daros;
CDD - 22 ed. 610 Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie
CIP - NBR 12899 - AACR/2
Fukushima; Gerência de Projetos Especiais Daniel
F. Hey; Gerência de Produção de Conteúdos
Impresso por: Diogo Ribeiro Garcia; Gerência de Curadoria
Carolina Abdalla Normann de Freitas; Supervisão
do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de
Almeida Toledo; Supervisão de Projetos Especiais
Yasminn Talyta Tavares Zagonel; Projeto
Gráfico José Jhonny Coelho e Thayla Guimarães
Cripaldi; Fotos Shutterstock
13
História da Saúde
Pública no Brasil
41
Vigilância em Saúde
67
Políticas Públicas
de Saúde no Brasil
95
Política Nacional de
Humanização (PNH)
125
55 Redes de Atenção à Saúde
Utilize o aplicativo
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para visualizar a
Realidade Aumentada.
Dra. Raquel Gusmão Oliveira
PLANO DE ESTUDOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Discutir as mudanças e a evolução do conceito de saúde • Compreender o conceito da determinação social na saúde.
e doença. • Apresentar os principais determinantes sociais da saúde
• Conhecer os modelos de saúde preventivista e de pro- e seu impacto na realidade brasileira.
moção à saúde. • Conhecer os modelos de Atenção à saúde no Brasil.
Conceito de Saúde
e Doença
UNIDADE 1 15
A Multicausalidade
Um novo paradigma surge diante da crise de Para que uma população possa ser saudável,
desenvolvimento das sociedades modernas: o no paradigma da história social da saúde, é ne-
reconhecimento de que tudo o que existe é pro- cessário: paz (contrário de violência); habitação
duto da ação humana. adequada em tamanho por habitante, em condi-
A saúde de um indivíduo, de um grupo de indi- ções adequadas de conforto térmico; educação,
víduos ou de uma comunidade, depende, também, pelo menos fundamental; alimentação imprescin-
de coisas que o homem criou e faz, das interações dível para o crescimento e desenvolvimento das
dos grupos sociais, das políticas adotadas pelo go- crianças e necessária para a reposição da força de
verno, inclusive os próprios mecanismos de aten- trabalho; renda decorrente da inserção no mer-
ção à doença, do ensino voltado para os cursos da cado de trabalho, adequada para cobrir as neces-
área da saúde, da educação e das intervenções sobre sidades básicas de alimentação, vestuário e lazer;
o meio ambiente (SANTOS; WESTPHAL, 1999). ecossistema saudável preservado e não poluído;
Nesse sentido, Santos e Westphal (1999) res- justiça social e equidade, garantindo os direitos
saltam que ter saúde não pode ser apenas não fundamentais dos cidadãos (DE OTAWA, 1986).
estar doente, significa, também, a possibilidade No Brasil, o movimento de Reforma Sanitária,
de atuar, de produzir a sua própria saúde, quer articulado nos anos 80, formulou um “conceito
mediante cuidados tradicionalmente conheci- ampliado de saúde” e passou a entendê-la como
dos, quer por ações que influenciam o seu meio um estado resultante das condições de alimenta-
– ações políticas para a redução de desigualdades, ção, habitação, educação, renda, meio ambiente,
educação, cooperação intersetorial, participação trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade,
da sociedade civil nas decisões que afetam sua acesso à terra e aos serviços de saúde, apontan-
existência – para, usando uma expressão bem do, assim, para a determinação social e cultural
conhecida, o exercício da cidadania. da saúde e da doença.
Para operar com o conceito ampliado de saúde, precisamos pensar na saúde como um processo em
detrimento da concepção de saúde como um atributo (tenho/não tenho).
(Stela Nazareth Meneghel)
UNIDADE 1 17
O Modelo
Preventivista
e o Modelo de
Promoção à Saúde
O Modelo Preventivista
Recuperação,
Período pré-patogênese Patogênese precoce Patogênese avançada
incapacidade ou morte
UNIDADE 1 19
O Modelo de Promoção
à Saúde
A teoria da transição epidemiológica, proposta por Omran (1971), foca nas complexas mudanças
dos padrões saúde-doença e nas interações entre eles, determinantes demográficos, econômicos e
sociais, e suas consequências. As ideias a seguir destacam em sua teoria:
I. O processo de mudanças nos padrões de mortalidade e adoecimento são longos, as pandemias
por doenças infecciosas são gradativamente substituídas pelas doenças degenerativas e agravos.
II. As mais profundas mudanças nos padrões de saúde-doença ocorrem nas crianças e nas mu-
lheres jovens.
III. As mudanças são fortemente associadas às transições demográfica e socioeconômica que cons-
tituem o complexo da modernização.
IV. As variações peculiares no padrão, no ritmo, nos determinantes e nas consequências das mu-
danças na população diferenciam três modelos básicos de transição epidemiológica: o modelo
clássico ou ocidental, o modelo acelerado e o modelo contemporâneo ou prolongado.
Fonte: Duarte e Barreto (2012).
UNIDADE 1 21
Fatores Condicionantes
e Determinantes do
Processo Saúde-Doença
de Trabalho
ais e Comun
s Soci itár Água e
d e ias Esgoto
Re a dos Ind
Educação
de Vid iv íd
los Serviços
uo
ti
Sociais de
Es
Produção
s
Saúde
Agrícola de
Alimentos Idade, Sexo e Habitação
Fatores hereditários
O modelo entende que a saúde compreende três ções concretas da existência que irão resultar nas
dimensões: a biológica, a social e cultural (BA- manifestações fenotípicas, como a idade/sexo e
RATA, 2012). fatores hereditários X estilo de vida. Na dimen-
A dimensão biológica compreende as caracte- são social, inclui os grupos sociais e as formas
rísticas biológicas marcadas pela interação genó- de consciência e condutas resultantes de suas
tipo-fenótipo, ou seja, a genética e a modulação interações, bem como a forma de constituição
das potencialidades são herdadas pelas condi- dessas comunidades.
UNIDADE 1 23
A dimensão cultural inclui as condições de biente de poluição, acesso à informação e
vida e de trabalho e suas formas de organização serviços de saúde e seu impacto nas con-
que compreende as condições socioeconômicas, dições de saúde dos diversos grupos da
culturais e ambientais gerais. população.
O relatório da Comissão Nacional de determi- 4. Redes sociais, comunitárias e saúde:
nantes sociais de saúde (COMISSÃO NACIONAL, inclui evidências sobre a organização co-
2008, on-line)2, ao analisar a situação de saúde de munitária e redes de solidariedade e apoio
uma população, relacionando os Determinantes para a melhoria da situação de saúde, des-
sociais de saúde, considera os seguintes itens: tacando, particularmente, o grau de de-
1. Situação e tendências da evolução de- senvolvimento dessas redes nos grupos
mográfica, social e econômica do país: sociais mais desfavorecidos.
traça um panorama geral de referência 5. Comportamentos, estilos de vida e saú-
para a análise da situação de saúde, des- de: inclui evidências existentes no Brasil
crevendo a evolução desses macrodeter- sobre condutas de risco, como hábito de
minantes, particularmente nas últimas fumar, alcoolismo, sedentarismo, die-
quatro décadas. Inclui dados sobre cresci- ta inadequada, entre outros, segundo os
mento populacional, fecundidade, morta- diferentes estratos socioeconômicos da
lidade, migrações, urbanização, estrutura população.
do mercado de trabalho, distribuição de 6. Saúde materno-infantil e saúde indí-
renda e educação. gena: por sua importância social e por
2. A estratificação socioeconômica e a saú- apresentarem necessidades específicas de
de: apresenta a situação atual e tendências políticas públicas, são dedicadas seções
da situação de saúde no país, destacando especiais sobre saúde materno-infantil e
as desigualdades de saúde segundo va- saúde indígena.
riáveis de estratificação socioeconômica,
como renda, escolaridade, gênero e local Além disso, podem ser incluídos: saúde e am-
de moradia. biente nas grandes cidades; seguridade social e
3. Condições de vida, ambiente e traba- saúde; cultura e promoção da saúde; distribuição,
lho: apresenta as relações entre situação acesso e utilização de serviços de saúde em áreas
de saúde e condições de vida, ambiente urbanas; violência e saúde; iniciativas comunitá-
e trabalho, com ênfase nas relações entre rias de promoção e proteção da saúde; desempre-
saneamento, alimentação, habitação, am- go e saúde, entre outros.
A COMISSÃO NACIONAL SOBRE OS DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE foi criada, em 2006, para
produção de conhecimentos e informações sobre os determinantes sociais e de saúde (DSS), bem
como revisão e análise de políticas e programas de intervenção sobre os DSS e comunicação sobre
a importância e possibilidades de atuação sobre eles.
Fonte: Comissão Nacional (2008, on-line)2.
UNIDADE 1 25
1. Tendências demográficas, social e 2006, é 9 anos inferior ao do Japão, país com a maior
econômica expectativa de vida ao nascer em todo o mundo.
O crescimento rápido do peso relativo dos ido-
A urbanização foi apontada como um fator impor- sos tem um impacto importante na economia e
tante de mudanças, em que, a partir da década de na sociedade, obrigando a definição de políticas
70, influenciada pela industrialização, promoveu públicas que possam fazer frente a esse fenômeno
mudanças no setor econômico e na forma de viver sem paralelo na experiência mundial.
das pessoas que, saindo do campo para viver na ci- O Brasil gasta 7% do Produto Interno Bruto
dade, buscavam trabalho e melhores condições de (PIB) em saúde, cerca de 530 dólares per capita,
vida; no entanto, a oferta de infraestrutura e servi- abaixo de Argentina (US$ 1.045), Chile (US$ 827)
ços urbanos não acompanhou a grande demanda, e Uruguai (US$ 781), para citar alguns países do
a tal ponto que, em 1980, havia 38,2 milhões de Cone Sul.
moradores em domicílios urbanos inadequados.
O PIB per capita passou de 2.060 dólares, em 2. Redes sociais
1960, para 5.250, em 2000 e 5.720, em 2006. En-
tretanto, esse extraordinário aumento da riqueza Diversos estudos mostram que não são as socie-
produzida e a modernização da economia não dades mais ricas que possuem melhores níveis
significaram melhoria na distribuição e urbaniza- de saúde, mas as que são mais igualitárias e com
ção; o crescimento do transporte e das indústrias, alta coesão social. Nessas sociedades, as pessoas
assim como a expansão da fronteira agrícola, cria- são mais envolvidas com a vida pública, vivem
ram as condições propícias para uma permanente mais, são menos violentas e avaliam melhor sua
exposição de contingentes populacionais, pro- própria saúde.
gressivamente maiores à poluição atmosférica e Um importante indicador da riqueza do ca-
dos corpos hídricos. pital social é relação de confiança entre as pes-
Alterações na fecundidade: a taxa média geo- soas. Segundo dados da Pesquisa Social Brasileira
métrica de crescimento anual da população pas- (PSB), que realizou 2.363 entrevistas entre julho
sou de 2,89%, no período 1960/1970, para 1,64%, e outubro de 2002, as relações de confiança, no
no período 1991/2000. A taxa de fecundidade, que Brasil, são extremamente débeis, praticamente
se mantinha estável desde 1940, passou a cair de limitando-se à confiança em familiares; enquanto
maneira acelerada a partir de 1960. 84% das pessoas confiam na família, apenas 15%
Envelhecimento da população e aumento da confiam na maioria das pessoas.
expectativa de vida: a proporção de jovens de 0 a
14 anos que era de 42,6%, em 1960, passou para 3. Condições de vida e de saúde
30%, em 2000, e deverá atingir 18% em 2050, en-
quanto que a de idosos maiores de 65 anos, que Os índices de cobertura dos serviços de água e
era de 2,7%, em 1960, passou para 5,4%, em 2000, esgoto, no período de 1999 a 2004, têm aumentado.
e no ano de 2050 deverá superar a de jovens, al- Entretanto, enquanto nas regiões Sul e Sudeste, res-
cançando 19%. pectivamente, 83% e 91% da população estava co-
Quanto à esperança de vida ao nascer, houve um berto pela rede geral de abastecimento de água, na
ganho de mais de 20 anos, entre 1960 e 2006, para região Norte, a cobertura desses serviços alcançava
o Brasil como um todo. O valor de 72,4 anos, em apenas 54,8% da população, e no Nordeste 72%. Es-
UNIDADE 1 27
drão alimentar, baseado no consumo de cereais, sequências contribuem para o agravamento dos
feijões, raízes e tubérculos, por uma alimentação problemas sociais que o país enfrenta.
mais rica em gorduras (especialmente hidroge- No Brasil, verifica-se a presença de algumas
nadas) e açúcares, além da crescente ingestão de doenças já controladas em países desenvolvidos,
ingredientes químicos, aumentando o risco de como a silicose e outras pneumoconioses, enve-
sobrepeso e obesidade, aparecimento de doenças nenamento por chumbo, asbestose, síndrome do
crônicas e incapacidades. túnel do carpo, doenças dermatológicas causadas
Os fatores relacionados a comportamentos e por compostos químicos, além dos sintomas e
estilos de vida, como tabagismo, baixo consumo desordens mentais relacionadas ao stress, como
de frutas, de legumes e de verduras e o consumo a síndrome do Burnout.
de álcool são os principais fatores de risco para A poluição também é uma preocupação, devi-
morte por câncer em países de baixa e média ren- do aos efeitos adversos sobre a saúde das popula-
da, o que é o caso brasileiro. ções expostas. Estima-se que o número de mortes
Estima-se que o tabagismo seja responsável causadas por problemas decorrentes da poluição
por 18% das mortes por câncer; o baixo consumo atmosférica no mundo é de cerca de 3 milhões por
de frutas, legumes e verduras por 6%; e o consumo ano, o que representa 5% do total de 55 milhões
de álcool por 5%. de mortes que ocorrem anualmente no mundo.
A saúde do trabalhador também é uma preo- Em algumas populações, cerca de 30% a
cupação, pois os problemas de saúde dos traba- 40% dos casos de asma e 20% a 30% de todas as
lhadores estão intimamente relacionados com o doenças respiratórias podem ser relacionadas à
grau de desenvolvimento alcançado por um país poluição atmosférica. Outros efeitos referem-se
ou uma região. a perdas econômicas, aumento no absenteísmo
A esses problemas se associam o deteriora- escolar, dias de trabalho perdidos e nebulizações.
mento das condições de trabalho e crescentes da- Busque saber sobre os membros da Comis-
nos ambientais. Os acidentes de trabalho são um são Nacional de Determinantes Sociais de Saú-
dos subprodutos dessas tendências, juntamente de (CNDSS) e reflita sobre a importância da
com uma grande carga de doenças profissionais diversidade de olhares sobre os determinantes
e doenças relacionadas ao trabalho, cujas con- de saúde.
Para saber mais e se inteirar, acesse o relatório da comissão nacional sobre os determinantes sociais
da saúde, intitulado “As causas sociais das iniquidades em saúde no Brasil”.
Fonte: Comissão Nacional (2008, on-line)2.
UNIDADE 1 29
1. Sanitarismo Campanhista de trabalhadores e empregados da gestão pela cres-
cente influência da indústria farmacêutica, médico
Tal tendência vigorou no país do início do século hospitalares e os proprietários de hospitais.
XX até 1945 e recebeu esse nome porque tinha,
nas campanhas sanitárias, sua principal estratégia 3. Modelo médico assistencial privatista
de saneamento.
O Brasil tinha sua economia baseada na agri- O modelo médico assistencial privatista marca o
cultura e na exportação do café; o comércio e o es- período entre 1960 a 1980, caracterizado pela prá-
paço nos portos era prioridade, devendo ser livre tica médica curativa, individual, assistencialista e
de doenças e saneados. Devido a isso, o sistema de especializada em detrimento da saúde pública e
saúde adotado foi o modelo das campanhas sanitá- a criação com intervenção estatal de um comple-
rias, com foco no combate das endemias urbanas e xo médico privado, organizando o estado como
rurais. A assistência individual era privada, hospitalar financiador, o setor privado nacional como pres-
com caráter de assistência social e as Santa Casas de tador de serviços e o setor privado internacional
Misericórdia atendiam quem não podia pagar. como produtor de insumos.
Em 1923, com a Lei Elói Chaves, surge a as- O Brasil vivia o período da ditadura militar,
sistência previdenciária no país e a criação das marcado por atos institucionais e decretos pre-
Caixas de Aposentadoria e Pensão nas empresas sidenciais de cunho arbitrário e que alteravam
de estradas de ferro para os empregados, as quais direitos de cidadania, informação, organização
ofereciam benefícios de aposentadorias e pen- social e política.
sões, assistência médica e farmacêutica; logo em A saúde, que estava ligada à assistência social,
seguida, os portuários e marítimos criaram seus tem sua ampliação na década de 70, com a cober-
Institutos de Previdência, nascendo uma nova tura para os trabalhadores rurais, as empregadas
estrutura de previdência social por categoria de domésticas e os trabalhadores autônomos domés-
trabalhadores, denominadas de Institutos de Apo- ticos. Em 1974, cria-se o Ministério da Previdência
sentadorias e Pensão (IAP). e Assistência Social, que atua no atendimento mé-
Em 1930, o ministério da Educação e Saúde dico assistencial individualizado e o Ministério da
passa a coordenar as ações de saúde coletiva. Saúde se volta ao atendimento coletivo e vigilância
sanitária.
2. Período de Transição Com a crise econômica no final da década de
70, foi impulsionado o Movimento da Reforma
Esse período é compreendido entre 1945 a 1960, Sanitária que discutia reformas nas políticas de saú-
marcado pelo pós-guerra e a crise previdenciária. de, surgindo as ideias de medicina comunitária e
Nesse período, a previdência social passa a ter o conceito de Atenção Primária à Saúde (OMS).
grande importância e a ser utilizada como instru- O Movimento da Reforma Sanitária ajuda a
mento político; também foi nesse período que o fortalecer o processo de Transição democrática,
Ministério da Saúde foi criado (1953). ocorrido em 1984 com a 8° conferência Nacional
Ocorre, também, a unificação dos Institutos de Saúde, em 1986, em que se discutiu a criação
(IAPs), em 1967, e a criação do Instituto Nacional do Sistema Único de Saúde (SUS) e culminou
de Previdência Social (INPS), marcada pela exclusão com sua promulgação na Constituição em 1988.
A partir de 1988, o Sistema Único de Saúde (SUS) Em síntese, gostaria de trazer o pensamento de
foi incluído ao sistema de saúde brasileiro privado, Cohn (2012) acerca da política de saúde brasileira,
garantindo acesso universal e igualitário às ações e o qual considera que tanto sua configuração e
serviços de saúde a todos os brasileiros, colocando implementação são processos complexos de jo-
a saúde como direito de todos e dever do estado. gos de interesses e valores múltiplos existentes
O setor lucrativo privado de atenção médica na sociedade e que, em nossa sociedade desigual,
supletiva, que iniciou-se em 1954, fortalece na dé- as políticas sociais e de saúde devem priorizar os
cada de 80 pela precariedade dos serviços públicos, segmentos socialmente mais vulneráveis, com a
criando, assim, a medicina de grupo, as cooperati- lógica da universalização, integralidade e da equi-
vas médicas, e os seguro saúde. Regulamentados dade da atenção à saúde, o que depende tanto
e fiscalizados pelo Estado, aliado ao setor não lu- da vontade política dos governantes quanto da
crativo, as instituições filantrópicas (Santas Casas) sociedade, para que os direitos sociais se consti-
configuram o sistema de saúde atual brasileiro. tuam como uma realidade marcada com maior
justiça social.
Ao prestar a assistência ao indivíduo, à família
ou à comunidade, deve ser considerado quem é
Para saber mais da história do sistema brasileiro ou quem são os usuários, como se apresentam na
de saúde, leia o texto de Paim et al(2011) “O situação de necessidade de saúde, seus direitos,
sistema de saúde brasileiro: história, avanços deveres, valores e prerrogativas. O ser humano é
e desafios”, disponível em: <http://download. complexo e não há como abranger sua totalidade
thelancet.com/flatcontentassets/pdfs/brazil/ por uma única definição. Mesmo que a pessoa seja
brazilpor1.pdf>. Acesso em: 19 out. 2018. considerada um ser biopsicossocial e espiritual,
O artigo, publicado em 2011 pelo periódico The não consegue expressar toda sua individualidade
Lancet, faz parte de uma série de publicações que e singularidade. Os profissionais da saúde apren-
analisam as melhorias nas condições de saúde e dem sobre estrutura e função humana por meio
na expectativa de vida da população brasileira. do estudo da anatomia, da fisiologia, da psicolo-
Nesse artigo, é apresentado um panorama das gia, da sociologia e da patologia, além das várias
principais conquistas e desafios relativos às maneiras de assistir, de abordar e se relacionar
políticas públicas de saúde no Brasil, com especial profissionalmente com o indivíduo, a família ou
destaque ao Sistema Único de Saúde (SUS). a comunidade.
UNIDADE 1 31
Não podemos nos esquecer de que o am- de parte significativa da sociedade para assegu-
biente é o local onde a pessoa se encontra com rar a dignidade da vida humana.
as coisas ao seu redor e que exercem nela in- Cabe aos profissionais da saúde rever em sua
fluências, afetando-a de várias maneiras. É ne- prática, buscando entender que não basta traba-
cessário compreender as condições impostas lhar com as doenças, é necessário compreender
como passíveis de interferência e atentar para o indivíduo no todo como alguém que vive a ex-
não culpar os indivíduos quando tais condições periência da necessidade, do adoecimento, carre-
forem insalubres e interferirem em seu estilo gada de valores e significados subjetivos, únicos,
de vida. Trabalhar com as condições de vida capazes de interferir na qualidade do cuidado
impostas requer um trabalho interdisciplinar prestado. Assim, resta-nos, como profissionais da
e intersetorial. A área da saúde, sozinha, não saúde, enfrentar o desafio de construir estratégias
consegue assegurar qualidade de vida e, conse- para conceber a saúde no âmbito da atenção bá-
quentemente, de saúde. É na esfera da ética que sica de forma mais solidária e menos punitiva na
compreenderemos a necessidade do empenho convivência com os estilos de vida individuais.
2. Procure uma música ou um filme que traga uma percepção da situação de saú-
de ou noção de saúde, ou que retrate a “cara” da sociedade em que vivemos,
registre em seu caderno e justifique a escolha com base nos determinantes
sociais de saúde.
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LIVRO
WEB
34
FILME
35
BACKES, M. T. S. et al. Conceitos de saúde e doença ao longo da história sob o olhar epidemiológico e antro-
pológico. Rev. enferm. UERJ, v. 17, n. 1, 2009.
BARATA, R. B. Desigualdades sociais e saúde. In: CAMPOS, G. W. S. et al. Tratado de saúde coletiva. São
Paulo: Hucitec, 2012.
BUSS, P. M.; PELLEGRINI FILHO, A. A saúde e seus determinantes sociais. Physis, v. 17, n. 1, p. 77-93, 2007.
CARVALHO, B. G.; MARTIN, G. B.; CORDONI JR., L. A organização do sistema de saúde no Brasil: Bases
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COHN, A. O estudo das políticas de saúde-implicações e fatos. In: CAMPOS, G. W. S. et al. Tratado de saúde
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DE OTTAWA, C. Primeira conferência internacional sobre promoção da saúde. Ottawa: novembro de 1986.
SANTOS, J. L. F.; WESTPHAL, M. F. Práticas emergentes de um novo paradigma de saúde: o papel da univer-
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SCLIAR, M. Do mágico ao social: trajetória da saúde pública. 2. ed. São Paulo: SENAC, 2005.
______. História do conceito de saúde. Rev. Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, v. 17, n. 1, p. 29-41, 2007.
WESTPHAL, M. F. Promoção da saúde e prevenção de doença. In: CAMPOS, G. W. S. et al. Tratado de saúde
coletiva. São Paulo: Hucitec, p. 635-668, 2012.
REFERÊNCIA ON-LINE
36
1. C.
2. O aluno é livre na escolha, mas deve justificá-la relacionando os determinantes sociais de saúde (biológico,
social e cultural).
3.
Bem-estar biopsicossocial.
Conceitos de saúde
Necessidades de saúde.
Determinantes de
Condições de riscos diversas.
saúde
Ação política, espaços saudáveis, empoderamento
Estratégias da população, desenvolvimento de habilidades, reo-
rientação de serviços.
Desenvolvimento Comunidade em diálogo crítico com profissionais
de programas e agências.
4. O modelo entende que a saúde compreende três dimensões: a biológica, a social e cultural.
5. “E um sistema público de saúde dual, políticas de saúde centralizadas e verticalizadas, tradição histórica
da saúde vinculada ao mercado de trabalho, o sistema privado prestador com origem na década de 20
como fruto da política previdenciária, distribuição de equipamentos de saúde altamente desigual, modelo
de atenção comandado pela lógica médica e hospitalocêntrico, duplo comando da previdência social que
prestava serviços de assistência à saúde e o Ministério da Saúde relativos a ações coletivas, dualidade
na assistência dos trabalhadores por categorias (década de 30), e na diferenciação do acesso segundo a
posição no mercado de trabalho (década de 70), herança de um setor privado de produção de assistência
médica que se constituiu sob as sombras e financiamento do Estado”.
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Dra. Marcela Demitto Furtado
História da Saúde
Pública no Brasil
PLANO DE ESTUDOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Conhecer brevemente a história que antecedeu o SUS. • Descrever as diretrizes contidas nos pactos intergestores:
• Identificar os interesses, conflitos e necessidades sociais Pacto pela vida, Pacto em defesa do SUS e Pacto de gestão.
que deram origem ao SUS. • Compreender o conceito de rede de atenção e seus com-
• Conhecer os objetivos e princípios do SUS. ponentes.
Antecedentes do SUS
Você sabia que a lepra é uma das doenças mais antigas do mundo, mas que hoje tem tratamento e cura?
A lepra, também conhecida como hanseníase, é uma doença infecciosa, contagiosa, causada por uma
bacilo chamado Mycobacterium leprae, que afeta nervos e pele. A transmissão se dá pelas vias aéreas,
como secreções nasais, gotículas da fala, tosse e espirro de pacientes considerados bacilíferos, ou
seja, sem tratamento. Antigamente, as pessoas doentes ficavam nos leprosários, isoladas da socie-
dade. Hoje, todos os casos têm tratamento e cura. Os pacientes podem ser tratados gratuitamente
no Sistema Único de Saúde.
Fonte: Brasil (2008).
UNIDADE 2 43
A partir do século XIX, com a vinda da família transmite a doença, o que gerou insatisfação e re-
real ao Brasil, é que se começou a pensar em po- volta da população. Esse modelo de intervenção
líticas públicas de saúde; afinal, era preciso uma ficou conhecido como campanhista (SINGER;
estrutura sanitária mínima que pudesse dar su- CAMPOS, 1978).
porte ao poder que se instalava na cidade do Rio Somado a isso, em 1904, a Lei federal n° 1.261
de Janeiro (POLIGNANO, 2001). instituiu a vacinação obrigatória anti-varíola para
Até meados de 1850, a saúde pública estava todo o território nacional, o que culminou com
limitada às juntas municipais e ao controle de na- vários conflitos entre a população e as forças do
vios e saúde dos portos (BERTOLOZZI; GRECO, governo (policiais e militares). Essa manifestação
1996). popular ficou conhecida como Revolta da Vacina
Com a Proclamação da República, em 1889, o (SINGER; CAMPOS, 1978).
país adotou uma forma de organização capitalista. Mesmo permeado por abusos, o modelo cam-
O período compreendido entre 1889 e 1930, deno- panhista obteve conquistas no controle das epide-
minando de Primeira República, foi marcado pelo mias, conseguindo, por exemplo, erradicar a febre
surgimento das primeiras indústrias e investimen- amarela do Rio de Janeiro. Ainda nesse período,
to estrangeiro (BERTOLOZZI; GRECO, 1996). foi incorporado o registro demográfico que per-
Com a falta de um modelo sanitário, a saúde mitiu conhecer a população e suas necessidades,
tornou-se caótica, caracterizada pelo predomínio o laboratório para auxiliar no diagnósticos das
de diversas doenças graves, como tuberculose, sífi- doenças e a fabricação de produtos profiláticos
lis, varíola, febre amarela, entre outras. Tal situação (BERTOLLI FILHO, 1996).
gerou sérias consequências, tanto para a saúde Com a 1° Guerra Mundial (1914-1918), envol-
coletiva quanto para o setor do comércio exterior, vendo as grandes potências do mundo, o Brasil so-
já que os navios estrangeiros não queriam mais freu consequências na sua economia, o que gerou
atracar no porto do Rio de Janeiro (POLIGNA- desemprego, redução de salários e elevação do cus-
NO, 2001). to de vida. Atrelado a isso, as péssimas condições
Nesse período, Rodrigues Alves, o atual pre- de trabalho e a falta de direitos trabalhistas deram
sidente do Brasil, nomeou Oswaldo Cruz como origem às greves gerais (BERTOLLI FILHO, 1996).
Diretor do Departamento Federal de Saúde Pú- A partir de então, os trabalhadores passam a
blica, com a finalidade de erradicar a epidemia da conquistar alguns direitos sociais que, a princípio,
febre amarela. Assim, várias condutas arbitrárias relacionam-se apenas ao trabalho e depois abran-
e que não haviam sido esclarecidas à população gem a questão da saúde.
foram tomadas para combater o mosquito que Discutiremos esse assunto no próximo tópico!
UNIDADE 2 45
cipar da sua administração, controle e financia- Em 1977, foi criado o Instituto Nacional de As-
mento (ANDRADE; PONTES; JUNIOR, 2000). sistência Médica e Previdência Social (INAMPS),
Nesse período, ainda se mantinha o formato do grande órgão governamental que prestava assis-
vínculo contributivo formal do trabalhador para a tência médica apenas aos trabalhadores da eco-
garantia do benefício, ou seja, aquele que não con- nomia formal, com carteira assinada, e seus de-
tribuísse estava excluído do sistema de proteção, o pendentes. Tal assistência à saúde estava atrelada
que se configurava como uma injustiça social, já basicamente à custa de compra de serviços médi-
que não havia o mesmo direito para todos. co hospitalares e especializados do setor privado
Em 1966, com a unificação dos IAPs, foi criado (BAPTISTA, 2003).
o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), A década de 80 foi marcada por movimentos
que permitia que todo trabalhador urbano com de contestação ao sistema de saúde. Um evento
carteira assinada se tornasse, automaticamente, que marcou a história foi a realização da VIII
contribuinte e beneficiário do sistema. Tal órgão Conferência de Saúde, que aconteceu em março
gerou uma certa insatisfação nos contribuintes de 1986, presidida pelo médico Sérgio Arouca,
dos institutos com mais benefícios, pois, com a contudo, pela primeira vez, com a participação
unificação, os mais pobres iriam receber mais be- da comunidade (ANDRADE; PONTES; JU-
nefícios (ANDRADE; SOARES; JUNIOR, 2001). NIOR, 2000).
UNIDADE 2 47
Entendendo o SUS
UNIDADE 2 49
Os princípios que regem a organização do SUS gerenciamento dos serviços de saúde (BARATA;
são chamados de Organizacionais ou Operati- TANAKA; MENDES, 2004).
vos, são eles: Regionalização, Hierarquização, E, por fim, a participação da comunidade re-
Resolubilidade, Descentralização e Participação fere-se à valorização da população nos processos
comunitária (BRASIL, 2001a). decisórios do país, o que refletiu no chamado
O entendimento dos princípios de regiona- “movimento sanitário”, o qual contou com a par-
lização e hierarquização diz respeito à forma de ticipação de intelectuais, usuários e trabalhadores
organização dos serviços entre si e com a popu- de saúde na luta pela reforma do sistema de saúde.
lação. A regionalização vai além da delimitação Com o objetivo de colocar em prática a par-
rígida de uma base territorial, usuários e serviços; ticipação social na saúde é que a lei 8.142 (Lei
leva-se em conta, também, a divisão político-ad- Complementar da Saúde) propôs a formação dos
ministrativa do país (OLIVEIRA et al., 2009). Conselhos de Saúde, os quais devem acontecer
A hierarquização significa que a organização nas três esferas do governo e contar com a pre-
do sistema de saúde deve acontecer em níveis sença de representantes do governo, prestadores
crescentes de complexidade, considerando as ca- de serviços, profissionais de saúde e usuários
racterísticas específicas de cada área geográfica e (BRASIL, 8.142/1990).
de cada cliente (OLIVEIRA et al., 2009). A organização operacional do SUS se deu pela
Sabendo que o usuário do serviço de saúde criação das Normas Operacionais Básicas (NOB),
pode percorrer por vários níveis de atenção du- as quais possuem três edições (1991, 1993 e 1996),
rante seu atendimento é que se faz necessário devido à necessidade de aperfeiçoamento ao lon-
incorporar o sistema de referência e contrarre- go dos anos (BRASIL, 2000b).
ferência, a fim de integrar as redes de saúde e, as- Para atender ao princípio de descentralização,
sim, obter maior eficiência no cuidado ao usuário as negociações e pactuações acerca da saúde se
(SERRA; RODRIGUES, 2010). dão nos três níveis de governo (nacional, esta-
A resolubilidade diz respeito à necessidade do dual e municipal). Nesse sentido, em 1991, foram
serviço de saúde apresentar-se resolutivo até o criadas a Comissão de Intergestores Tripartite
nível de sua competência para aquilo que é pro- (CIT) – com representação do Ministério da Saú-
posto (BRASIL, 1990). de (MS), do Conselho Nacional de Secretários
O princípio de descentralização pode ser Estaduais de Saúde (CONASS) e do Conselho
entendido como uma forma de redistribuir as Nacional de Secretários Municipais de Saúde
responsabilidades sobre a saúde da população (CONASEMS) – e a Comissão Intergestores Bi-
entre as três esferas do governo, acreditando que partite (CIB), representada por integrantes da
quanto mais perto a solução estiver do problema, Secretaria Estadual de Saúde (SES) e do Conse-
maior serão as chances de acerto. lho Estadual de Secretários Municipais de Saúde
De acordo com Palha e Villa (2003), a des- (COSEMS) ou órgão equivalente (BRASIL, 2000).
centralização dos serviços de saúde tem sido Buscando colocar em prática os princípios
o eixo norteador para a operacionalização dos do SUS, várias estratégias foram formuladas,
princípios organizativos e diretivos do SUS. Nesse como a criação dos distritos sanitários, dos sis-
sentido, a descentralização tem ênfase na munici- temas locais de saúde e do Programa de Agentes
palização, ou seja, os municípios assumindo um Comunitários de Saúde (PACS) (ESPÍNOLA;
papel cada vez mais importante na prestação e COSTA, 2006).
UNIDADE 2 51
Pactos pela Saúde
O Pacto em Defesa do SUS busca discutir o sis- Cabe destacar que, no Pacto de Gestão do SUS,
tema a partir dos seus princípios fundamentais, é reafirmada a importância da participação da
além de ampliar o diálogo com a sociedade, fa- comunidade na maneira de gerir o sistema. As
zendo com que a população se aproxime mais decisões sobre a saúde não devem mais estar cen-
do SUS (CEAP, 2009). As diretrizes desse Pacto, tralizadas na “mão” dos gestores.
“
“
segundo o Ministério da Saúde foram:
““
Para que a participação da comunidade te-
1. Repolitização da saúde, como um movi- nha melhores condições de atuação, o Pacto
mento que retoma a Reforma Sanitária Bra- propõe um conjunto de ações e reconhece
sileira aproximando-a dos desafios atuais o dever dos gestores de destinar orçamento,
do SUS; 2. Promoção da Cidadania como cooperando técnica e financeiramente para
estratégia de mobilização social tendo a sua qualificação (CEAP, 2009, p. 14).
questão da saúde como um direito; 3.Ga-
rantia de financiamento de acordo com as Assim, acredita-se que o Pacto pela Saúde, consi-
necessidades do Sistema (BRASIL, 2006). derando as suas três dimensões, representa mais
uma luta no sentido de reafirmar a saúde como
Na dimensão do Pacto de Gestão, são aborda- um direito de todos e dever do Estado, buscando
das as seguintes diretrizes: Descentralização; garantir as conquistas do SUS até o momento.
Regionalização; Financiamento; Planejamento;
Programação Pactuada e Integrada – PPI; Regu-
lação; Participação e Controle Social; Gestão do
Trabalho e Educação na Saúde (BRASIL, 2006).
UNIDADE 2 53
Redes de Atenção
à Saúde
“
“
[...] uma nova forma de organizar o sistema
de atenção à saúde em sistemas integrados
que permitam responder, com efetividade,
eficiência, segurança, qualidade e equidade,
às condições de saúde da população brasi-
leira (MENDES, 2011, p. 18).
Nesse momento, você pode estar se perguntando: Assim, a noção hierárquica e piramidal deve ser
afinal como se organiza uma RAS? substituída pelas redes, as quais permitem relações
De acordo com a World Health Organization, horizontais, possuindo como centro de comuni-
os serviços que dependem de menor aporte tec- cação a atenção primária à saúde, como pode ser
nológico, a exemplo da atenção primária à saúde, ilustrado pela figura a seguir (MENDES, 2011).
devem apresentar-se dispersos; ao contrário, os Dos Sistemas Fragmentados para as Redes de Atenção à Saúde
serviços mais complexos, como hospitais e uni-
dades diagnósticas, tendem a estar mais concen-
trados (WHO, 2000). Alta
““
Complexidade
APS
UNIDADE 2 55
São três os elementos que constituem as RAS: meio de sistema de informações de alta qualidade
uma população, uma estrutura operacional e um (BRASIL, 2014).
modelo de atenção à saúde. A presença de uma Diante do exposto, percebe-se que, para a efetiva
população é a razão de ser da RAS. Esta precisa implementação das RAS, faz-se necessário o esforço
ser devidamente conhecida (condições de saú- de todos: gestores (em todas as esferas do governo),
de, fatores de riscos), registrada e cadastrada em profissionais da saúde e população em geral.
sistemas de informação. O segundo elemento é a Nesta unidade, conseguimos relembrar alguns
estrutura operacional, a qual é constituída pela marcos importantes da história do Brasil, além de
atenção primária à saúde; os pontos de atenção rever alguns elementos marcantes da economia,
à saúde secundários e terciários; os sistemas de da política e da sociedade de forma geral ao longo
apoio; os sistemas logísticos; e o sistema de go- de cada época.
vernança (MENDES, 2011). Entendemos que a história das políticas públi-
Em relação ao terceiro elemento, que é o mo- cas de saúde no nosso país sempre esteve atrelada
delo de atenção, este pode ser definido como: ao contexto histórico e social do momento em
“
“
que ocorreu e, por isso, foi necessário voltarmos
[...] um sistema lógico que organiza o fun- no tempo e vermos tudo o que aconteceu no de-
cionamento das RASs, articulando, de for- correr dos anos.
ma singular, as relações entre a população Compreendemos o cenário em que se deu a
e suas subpopulações estratificadas por ris- criação de um dos maiores sistemas públicos de
cos, os focos das intervenções do sistema saúde do mundo, o Sistema Único de Saúde (SUS),
de atenção à saúde e os diferentes tipos de um momento marcante em nosso país, de desper-
intervenções sanitárias, definido em função tar democrático, de lutas e de muitas conquistas.
da visão prevalecente da saúde, das situa- Conhecemos seu processo de construção, seus
ções demográfica e epidemiológica e dos principais objetivos e princípios doutrinários e
determinantes sociais da saúde, vigentes organizativos.
em determinado tempo e em determinada Observamos que, para a operacionalização do
sociedade (MENDES, 2011, p. 209). SUS, foram necessárias algumas pactuações entre
os gestores das esferas governamentais. Assim,
São muitos os desafios a serem superados para estudamos o Pacto pela Saúde e as três dimensões
a implementação das RAS, os quais vão desde o que ele englobou: Pacto pela Vida, em Defesa do
financiamento, orientação dos serviços com base SUS e de Gestão.
nas necessidades sanitárias da população, bem Discutimos sobre a necessidade de mudan-
como a valorização da atenção primária à saúde ça de um modelo de assistência à saúde hierar-
por parte de todos (BRASIL, 2012). quizado e fragmentado para uma assistência em
De acordo com o Ministério da Saúde, outros rede. Nesse sentido, abordamos sobre as Redes de
entraves ainda podem ser elencados: falha na cul- Atenção à Saúde (RAS), seus conceitos, elementos
tura e na prática de trabalho em rede; pactos com que a compõem e sua forma de organização, acre-
foco maior na captação de recurso do que em ditando que as RAS, por permitirem relações ho-
intervenções nas práticas assistenciais; ineficiente rizontais, tendo como centro a atenção primária,
capacitação e qualificação profissional; e restrito, podem contribuir para a integralidade no cuidado
monitoramento e avaliação dos resultados por à saúde – um dos princípios do SUS.
UNIDADE 2 57
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.
58
Assinale a alternativa correta.
a) Apenas I e II estão corretas.
b) Apenas II e III estão corretas.
c) Apenas I está correta.
d) Apenas II, III e IV estão corretas.
e) Nenhuma das alternativas está correta.
59
LIVRO
LIVRO
FILME
60
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4. O Pacto pela Vida refere-se a um dos pactos que compõe o Pacto pela Saúde, sendo os outros dois: em
Defesa do SUS e de Gestão do SUS. O Pacto pela Vida foi constituído a partir da análise da situação de
saúde do país e das necessidades prioritárias que geram impacto na saúde da população brasileira. São
seis as prioridades pactuadas: Saúde do Idoso; Controle do câncer do colo do útero e da mama; Redução
da mortalidade infantil e materna; Fortalecimento da capacidade de resposta às doenças emergentes e
endemias, com ênfase na dengue, hanseníase, tuberculose, malária e influenza; Promoção da Saúde; e
Fortalecimento da Atenção Básica.
5. As RAS são sistemas organizativos de ações e serviços de saúde que se articulam, atendendo diferentes
níveis de complexidade e necessidades tecnológicas que, de forma integrada, permitem atender, com
qualidade, a saúde da população brasileira. A noção hierárquica e piramidal deve ser substituída pelas
redes, as quais permitem relações horizontais e de interdependência entre os pontos da rede, possuindo
como centro de comunicação a atenção primária à saúde. A organização das RAS estrutura-se com base nos
seguintes fundamentos: economia de escala, disponibilidade de recursos, qualidade e acesso; integração
horizontal e vertical; processos de substituição; territórios sanitários; e níveis de atenção.
64
65
66
Dra. Raquel Gusmão Oliveira
Vigilância em Saúde
PLANO DE ESTUDOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Compreender o conceito de vigilância em saúde e os prin- • Conhecer os sistemas de informação de interesse na saúde.
cipais sistemas de vigilância em saúde. • Apresentar os principais indicadores de saúde.
• Conhecer o Sistema de Vigilância Epidemiológica. • Discutir os desafios atuais da Vigilância em Saúde.
Vigilância
em Saúde
UNIDADE 3 69
Nesse sentido, vale destacar que, para a operacio- Atenção Primária, urgência e emergência, atenção
nalização da Vigilância em Saúde, é necessária a psicossocial, atenção ambulatorial especializada e
colaboração e a coparticipação de todos os gestores, hospitalar.
técnicos, trabalhadores de todos os níveis e atores A Portaria n° 104, de 25 de janeiro de 2011, do
sociais, e a adaptação aos inovadores modelos de Ministério da Saúde, define as terminologias adota-
gestão dos serviços públicos e privados, principal- das em legislação nacional, conforme o disposto no
mente aqueles de cunho social, sem perder suas Regulamento Sanitário Internacional de 2005, a rela-
características inerentes (BOCATTO, 2012). ção de doenças, agravos e eventos em saúde pública
Atualmente, o Decreto 7508 (2011) estabelece de notificação compulsória em todo o território na-
que a Vigilância em Saúde faz parte da rede regio- cional e estabelece fluxo, critérios, responsabilidades
nalizada e hierarquizada de serviços junto com a e atribuições aos profissionais e serviços de saúde.
Quadro 1 - Áreas de atuação da Vigilância em Saúde
“Doenças reemergentes” são doenças já conhecidas que haviam sido controladas, mas que voltaram a
representar ameaça à saúde humana; registra-se no Brasil a dengue, a cólera e a leishmaniose visceral.
(Francisco Antônio Zancan Paz e Marilina Assunta Bercini)
70 Vigilância em Saúde
Vigilância
Epidemiológica
“
“
[...] um conjunto de ações que proporcio-
nam o conhecimento, a detecção ou a pre-
venção de qualquer mudança nos fatores
determinantes e condicionantes de saúde
individual ou coletiva, com a finalidade
de recomendar e adotar medidas de pre-
venção e controle de doenças ou agravos
(BOCCATTO, 2012).
UNIDADE 3 71
gilância de traumas e lesões, vigilância das doenças missíveis (DCNT) no país.
crônicas e vigilância global para respostas rápidas • Vigilância global para respostas rápi-
a doenças emergentes (WALDMAN et al., 2012). das às doenças emergentes: em resposta
Vejamos um pouco a respeito delas: à rápida urbanização, consumo de alimen-
• Vigilância de doenças infecciosas: ana- tos industrializados, novas técnicas de cria-
lisa o comportamento das doenças (impre- ção intensiva de animais, uso inadequado
visível e impacto global), influenciada pelo de antibióticos, alterações ambientais, cor-
comportamento humano. rentes migratórias e intercâmbio mundial
• Farmacovigilância: aplica-se à identi- e transportes de massa intercontinental,
ficação, análise, compreensão de eventos elaborou-se o Regulamento Sanitário In-
adversos associados ao uso de medica- ternacional com respostas a possíveis epi-
mentos, com a finalidade de estabelecer demias com rápida disseminação.
as bases técnicas para a sua prevenção
(medicamentos, vacinas, hemoderivados, Os diferentes sistemas de vigilância têm suas es-
produtos biológicos, plantas medicinais, pecificidades, no entanto, têm em comum os se-
medicina tradicional e complementar e guintes objetivos (WALDMAN et al., 2012):
equipamentos médicos). • Identificar novas doenças ou eventos ad-
• Vigilância ambiental: coleta, analisa e versos à saúde.
dissemina informações sobre exposições • Detectar epidemias e documentar a disse-
ambientais potencialmente de risco e des- minação de doenças.
fechos, estabelece associação entre os des- • Estimar a magnitude da morbidade e da
fechos e especificas exposições ambientais mortalidade causadas por determinados
potencialmente de risco. agravos.
• Vigilância de traumas e lesões: moni- • Identificar grupos e fatores de risco en-
tora a incidência, causas e circunstâncias volvendo a ocorrência de doenças, assim
em que ocorrem casos fatais e não fatais, como resíduos de fonte de infecção e de
intencionais e não intencionais – classifi- suscetíveis.
cação internacional de doenças por cau- • Recomendar, com base objetivas e cientí-
sas externas (um dos maiores e relevantes ficas, as medidas necessárias para prevenir
problemas de saúde pública - 10ª causa de ou controlar a ocorrência de específicos
morte no mundo). agravos à saúde.
• Vigilância de doenças crônicas: o siste- • Avaliar o impacto de medidas de interven-
ma de vigilância de fatores de risco e pro- ção e a adequação das táticas e estratégias
teção para doenças crônicas por inquérito aplicadas.
telefônico (VIGITEL) faz parte das ações • Revisar práticas antigas e atuais de sistema
do Ministério da Saúde para estruturar a de vigilância, com o objetivo de propor no-
vigilância de doenças crônicas não trans- vos instrumentos metodológicos.
72 Vigilância em Saúde
A Vigilância Epidemiológica
atualizou, em 2016, a lista na-
cional de notificação compul-
Os termos doença, agravo e evento são muito utilizados no con- sória referente a doenças, agra-
texto da saúde, você conhece o significado deles? vos e eventos de importância
• Doença: significa enfermidade ou estado clínico, independente- para a saúde pública, por meio
mente de origem ou fonte, que represente ou possa representar da Portaria 204/2016. Essa lista
um dano significativo para os seres humanos. tem abrangência nacional em
• Agravo: significa qualquer dano à integridade física, mental toda a rede de saúde, pública e
e social dos indivíduos, provocado por circunstâncias nocivas, privada e, obrigatoriamente, as
como acidentes, intoxicações, abuso de drogas e lesões auto ou doenças devem ser registradas
heteroinfligidas. e notificadas no Sistema de In-
• Evento: significa manifestação de doença ou uma ocorrência formação de Agravos de Notifi-
que apresente potencial para causar doença. cação (SINAN), obedecendo às
Fonte: Brasil (104/2011). normas e rotinas estabelecidas
pela Secretaria de Vigilância em
Saúde do Ministério da Saúde
(BOCCATTO, 2012).
Quadro 2 - Lista Nacional de Notificação Compulsória
UNIDADE 3 73
Notificação Semanal
- Acidente de trabalho com expo- - HIV/Aids - Infecção pelo vírus da Imu- - Óbito
sição a material biológico nodeficiência Adquirida a. Infantil
- Dengue - casos - Infecção pelo HIV em gestante, partu- b. Materno
- Doença aguda causadas pelo riente ou puérpera e criança exposta
- Sífilis
vírus Zika ao risco de transmissão vertical do HIV
a. Adquirida
- Doença de Creutzfeldt-jacob - Infecção pelo vírus da imunodeficiên-
cia humana (HIV) b. Congênita
(DCJ)
- Intoxicação exógena (por substâncias c. Em gestantes
- Esquistossomose
químicas, incluindo agrotóxicos, gases - Toxoplasmose gestacional
- Febre de Chikungunya
tóxicos e metais pesados e congênita
- Hanseníase
- Leishmaniose Tegumentar Americana - Tuberculose
- Hepatites Virais
- Leishmaniose Visceral - Violência: Doméstica e/ou
- Malária na região Amazônica outras violências
A notificação compulsória, como o nome diz, é obrigatória a todos os profissionais de saúde: enfer-
meiros, médicos, odontólogos, médicos veterinários, biólogos, biomédicos, farmacêuticos e outros
no exercício da profissão, bem como os responsáveis por organizações e estabelecimentos públicos e
particulares de saúde e ensino.
74 Vigilância em Saúde
Sistema de
Informação
em Saúde
UNIDADE 3 75
• Serem utilizados por todos os envolvidos Nesse sentido, o processo dos sistemas de in-
no planejamento, gestão e avaliação dos formação em saúde são organizados nas seguintes
serviços de saúde. etapas:
• Utilizar a informação como meio para
melhorar o nível de saúde das populações. Decisão e
Coleta Processamento
Controle
• Disponibilizar, aos usuários dos serviços, as
informações obtidas. Figura 1 - Etapas de organização do processo dos sistemas
de informação em saúde
A operacionalização dos sistemas de saúde deve
ser sistematizadas e organizadas; os procedi- Os dados coletados são armazenados em um
mentos de coleta devem estar normatizados; os banco de dados, em que ocorre o registro e onde
manuais de operação devem prever todas as si- é possível fazer a sua recuperação para que pos-
tuações; as pessoas responsáveis devem conhecer sam ser processados, analisados e, assim, gerar
a importância do que fazem e deve haver super- informações para a tomada de decisão e o con-
visão e assessoria adequada. trole de ações.
Existem inúmeros sistemas de informações, mas • Pesquisa Nacional por Amostra de Do-
queremos destacar os sistemas de informação de micílio (PNAD) que obtém informações
interesse à saúde e os Sistemas Nacionais de In- anuais sobre características demográficas
formação em Saúde. e socioeconômicas da população, como
Dentre os sistemas de interesse à saúde, pode- sexo, idade, educação, trabalho e rendi-
mos relacionar, entre outros: mento, características dos domicílios e,
• Instituto Brasileiro de Geografia e Estatís- com periodicidade variável, informações
tica (IBGE), que tem atribuições ligadas sobre migração, fecundidade, nupciali-
às geociências e estatísticas sociais, demo- dade, entre outras, tendo como unidade
gráficas e econômicas, o que inclui realizar de coleta os domicílios. Temas específicos
censos e organizar as informações obtidas abrangendo aspectos demográficos, sociais
nesses censos para suprir órgãos das esferas e econômicos também são investigados
governamentais federal, estadual e muni- (BRASIL, [2018], on-line)2.
cipal, e para outras instituições e o público • Ao Instituto de Pesquisa Econômica Apli-
em geral (BRASIL, [2018], on-line)2. cada (IPEA), que é uma fundação pública
76 Vigilância em Saúde
federal, vinculada ao Ministério do Plane- Sistema Nacional de Informação, dando suporte
jamento, Desenvolvimento e Gestão, o qual aos órgãos do SUS no processo de planejamento,
realiza pesquisas que fornecem suporte operação e controle.
técnico e institucional às ações governa- O quadro, a seguir, sintetiza os principais Sis-
mentais para a formulação e reformulação temas de Informação: Sistema de informação de
de políticas públicas e programas de desen- mortalidade (SIM), Sistema Nacional de nascidos
volvimento brasileiros (BRASIL, [2018], vivos (SINASC), Sistema Nacional de notificação
on-line)3. (SINAN), Sistema de Informação hospitalar (SIH)
e Sistema de informação ambulatorial (SIA), bem
O departamento de Informática do Sistema Único como os dados referenciais, forma de coleta, sua
de Saúde (DATASUS), criado em 1991, organiza o origem e algumas observações.
Quadro 3 - Características dos principais sistemas de informação em saúde
FORMA DE
SISTEMA REFERÊNCIA ORIGEM OBS.
DADOS
UNIDADE 3 77
FORMA DE
SISTEMA REFERÊNCIA ORIGEM OBS.
DADOS
Além desses bancos de dados, podemos destacar: Existe uma grande necessidade de ampliar a uti-
• SISVAN - Sistema de Vigilância Alimentar lização de dados produzidos pelos sistemas de
e Nutricional de crianças e gestantes. informação, no sentido de subsidiar a tomada de
• SIAB - Sistema de Informação da Atenção decisão de gestores e ações dos profissionais de
Básica -, consolida dados da população ads- saúde, acreditando que as informações, se ade-
crita nos Programa de Saúde da Família. quadamente utilizadas, podem contribuir para
• SISCAT - Sistema de Informação Sobre a redução de desigualdades e melhoria das ações
Acidentes de Trabalho -, acidente no local de saúde em nosso país.
ou no trajeto ou adoecem devido ao tra- É de responsabilidade de todo profissional
balho (CAT). zelar pela qualidade da informação prestada em
• SI-PNI- Sistema de Informação do Pro- seus atendimentos, orientar a equipe na coleta,
grama Nacional de Imunização - avalia a no processamento, na tomada de decisão e no
cobertura das diferentes vacinas em todos controle dos dados produzidos.
os municípios brasileiros.
A publicação de documentos com os indicadores brasileiros tem como objetivo subsidiar, com
informações relevantes, os processos de formulação, estruturação e avaliação de políticas e ações
públicas de importantes estratégias para o sistema de saúde.
(Ministério da Saúde)
78 Vigilância em Saúde
Indicadores
de Saúde
UNIDADE 3 79
• O dado tem que estar disponível. didade e a esperança de vida ao nascer. Já os in-
• A técnica de manejo e entendimento deve dicadores negativos quantificam e descrevem
ser simples. a ocorrência de determinados agravos à saúde,
• Deve ser uniforme. doença e morte, para conhecer quantos adoecem
• Ter a capacidade de ser sintético. e quantos morrem.
• Ter poder discriminatório. Quando queremos saber quantos adoecem
Quanto à natureza dos indicadores, eles po- (morbidade), ou seja, como se dá a manifesta-
dem ser positivos ou negativos. ção de doença nas populações, a epidemiologia
Os indicadores positivos de saúde são os ín- utiliza duas medidas principais: a prevalência e a
dices de vida, ou seja, as condições demográficas, incidência.
alimentação e nutrição, educação, alfabetização, A incidência considera os casos novos das
condições de trabalho, situação de emprego, trans- doenças ou ocorridos recentemente em determi-
porte, consumo e economias gerais, habitações nada região, já a prevalência refere-se ao total de
e condições de moradia com inclusão de sanea- casos de uma região (novos e antigos), contados
mento básico, vestuário, lazer, segurança social e em um tempo limitado.
liberdade humana. No entanto, esses dados são Ambas são calculadas em termos de coeficien-
mais difíceis de mensurar. tes, que determina o risco do evento ocorrer e
Os indicadores positivos mais utilizados na auxilia na comparação entre regiões, seguindo
saúde são a taxa de natalidade, a taxa de fecun- a fórmula:
Coeficiente de Incidência Coeficiente de Prevalência
C.I = nº casos novos da doença X 1000 C.I = nº casos conhecidos de uma doença X 1000
________________________________________
________________________________
população sob risco população
Vale ressaltar que existem outros fatores que de incidência e o impacto das políticas públicas
podem aumentar a prevalência dos casos, tais e emigração de casos e imigração de sadios (ME-
como a melhora na detecção de novos casos NEGUEL, 2015).
(aprimoramento diagnóstico), a maior duração Outro coeficiente que se calcula a partir do
da doença e aumento da sobrevida (melhora no número de casos de uma doença é a letalidade
tratamento, como o caso da AIDS), a imigração (CL), expressa pela fórmula a seguir, que mede
dos casos e emigração dos sadios; mas, por outro o risco de uma pessoa morrer quando acometi-
lado, alguns fatores podem diminuir a prevalên- da por uma doença, ou seja, a gravidade de uma
cia, como o aumento da letalidade, diminuição doença ou agravo.
C.L =___________________________________
nº óbitos por determinada doença/período
nº de casos da doença/período
Quando queremos saber quantas pessoas mor- infantil, mortalidade segundo causas, mortalidade
reram por determinada causa, utilizamos indi- materna, mortalidade por grupo etário).
cadores de mortalidade proporcional (MP) e O coeficiente geral de mortalidade (CGM)
coeficientes de mortalidade (geral, mortalidade calcula o risco de óbito em uma comunidade,
80 Vigilância em Saúde
podendo ser possível relacionar o nível de saúde hab, se o cálculo fica abaixo disso, indica pou-
de diferentes áreas, no tempo. O CGM, em uma ca fidedignidade dos dados. A fórmula para o
população, fica em torno de 6-12 óbitos/1000 cálculo é:
CMG = ___________________________________
Total de óbitos registrados na área e período
x 100
População total na área e período
Também é possível fazer o cálculo de mortalidade proporcional dentro de um grupo determinado, tal
como por grupos etários, sexo ou por causa de morte. Vejamos a seguir.
Quando se calcula a mortalidade segundo os grupos etários, é possível observar a distribuição percen-
tual dos óbitos por faixa etária na população residente em determinado território no ano considerado.
Ela é calculada com a seguinte expressão:
40 60
Porcentagem
50
Porcentagem
30
40
20 30
10 20
10
0 0
<1 1 a 4 5 a 19 20 a 49 ≥50 <1 1 a 4 5 a 19 20 a 49 ≥50
Idade Idade
50 80
Porcentagem
Porcentagem
40 60
30
40
20
10 20
0 0
<1 1 a 4 5 a 19 20 a 49 ≥50 <1 1 a 4 5 a 19 20 a 49 ≥50
Idade Idade
Figura 2 - Curva de Nelson de Moraes - mortalidade proporcional por idade em diferentes situações de saúde
Fonte: Medronho (2008).
UNIDADE 3 81
• Curva 1 - nível de saúde muito baixo: Outro índice de referência para análise da propor-
óbitos de adultos, jovens e menores de 1 ano. ção de óbitos acima de 50 anos é o ÍNDICE DE
• Curva 2 - nível de saúde baixo: óbito na SWAROOP E UEMURA, em que os altos valores
faixa infantil e pré-escolar. estão relacionados a regiões mais desenvolvidas:
• Curva 3 - nível de saúde regular: au- maior de 75% - típico de países desenvolvidos;
mento da mortalidade de 50 anos e dimi- 50-74% - certo desenvolvimento e regular orga-
nuição de óbitos infantis. nização dos serviços de saúde; 25-49% - estágio
• Curva 4 - nível de saúde elevado: predo- atrasado de desenvolvimento; abaixo de 25% - alto
mínio quase absoluto de óbitos de pessoas grau de subdesenvolvimento. Calculado por meio
mais velhas. da fórmula:
Outro coeficiente muito utilizado é o de mor- condições de vida e de saúde, em que as altas taxas
talidade infantil (CMI), que estima o risco de refletem condições de vida e de saúde precárias.
crianças nascidas vivas morrerem antes de 1 ano, Considerado um dos melhores indicadores de
em uma certa área e período, sendo sensível às saúde de uma população, sua fórmula é:
Valores abaixo de 20 por mil nascidos vivos são dade infantil foi calculado 14 para cada mil nas-
considerados baixos, e acima de 60 por mil são cidos vivos, sendo que a queda foi de 77%, uma
considerados altos. das mais significativas do mundo nesse período
No Brasil, em 2014, o coeficiente de mortali- (MENEGUEL, 2015).
As taxas de mortalidade infantil (TMI) podem ser subdivididas em neonatal ou precoce e pós-
-neonatal ou tardio.
A mortalidade neonatal verifica óbitos de 0-27 dias, podendo ser, ainda:
precoce: 0-6 dias - em que as causas estão relacionadas a problemas na gestação e ao parto.
tardia: 7-27 dias - causas relacionadas a anomalias e afecções.
A mortalidade pós neo-natal ou infantil tardia acontece entre o 28-364 dias e tem suas causas relaciona-
das ao meio ambiente, condições de vida e acesso aos serviços de saúde, nutrição, agentes infecciosos,
gastroenterites, infecções respiratórias e desnutrição, em que a melhoria no indicador está relacionada
ao aumento de saneamento, do nível educacional materno e aumento da atenção à saúde da criança.
A mortalidade perinatal ou óbito fetal (CID 10) acontece entre 22a semana de gestação e a 1a
semana de vida.
Fonte: adaptado de Medronho et al. (2008).
82 Vigilância em Saúde
A mortalidade proporcional por causas de registrado no atestado de óbito, sendo que pode
morte específicas auxilia a identificação das ser utilizada no delineamento de prioridades na
principais causas de morte em uma certa lo- área de saúde. Seu cálculo é feito da seguinte
calidade, é baseada na causa básica do óbito, forma:
UNIDADE 3 83
Alguns Desafios da
Vigilância em Saúde
84 Vigilância em Saúde
Vejamos três desafios que permeiam as vigilâncias É de responsabilidade de todo profissional
e que precisam ser enfrentados, considerando que zelar pela qualidade da informação prestada em
existem muitos outros, destacamos os que seguem: seus atendimentos, orientar a equipe na coleta,
no processamento, na tomada de decisão e no
1. A tomada de decisão com base controle dos dados produzidos.
na informação
2. Estruturação e qualificação das
Apesar dos avanços da tecnologia de informação equipes
e o imenso benefício dos sistemas nacionais de
informação na vigilância epidemiológica, ainda se A colaboração e a coparticipação de gestores,
faz necessário o aperfeiçoamento desses sistemas, técnicos, trabalhadores de todos os níveis e ato-
bem como o relacionamento e compatibilidade res sociais é essencial para o desenvolvimento
entre as bases de dados e o desenvolvimento de do trabalho na Vigilância em saúde, bem como
alguns sistemas específicos. ter pessoal suficiente e com qualificação para
Quando se desenvolve um sistema de vigilân- o desenvolvimento das ações. Tal necessidade
cia, implica-se o acesso à elevada gama de infor- se dá devido à dinâmica do processo de traba-
mações, especialmente as relativas à morbidade, à lho da Vigilância, exigindo, também, educa-
mortalidade, à estrutura demográfica, ao estado ção permanente dos profissionais envolvidos,
imunitário e nutricional da população, à situação que deve ser planejada de forma estratégica e
socioeconômica e ao saneamento ambiental, sendo integral, visando à melhoria da promoção da
que a saúde, atualmente, tem sido a porta de entra- saúde, à prevenção das doenças, ao diagnós-
da para vários sistemas, tendo íntima relação com tico, ao tratamento e a medidas de controle,
a situação social regional. Dessa forma, é necessá- debelando surtos e epidemias e melhorando a
rio integrar todas as Unidades de Atendimento à qualidade de vida e de saúde da comunidade
Saúde – também intersetorialmente e intersecre- (BOCATTO, 2012).
tarialmente (SETA; REIS; DELAMARQUE, 2010). Nesse sentido, o profissional da saúde deve
A utilização das informações para tomada da desenvolver uma dinâmica de aprendizagem e
decisão requer que todo o processo de Vigilância, inovação, cujo primeiro passo deve ser a capa-
da coleta, consolidação, planejamento, controle e cidade crescente de adaptação às mudanças,
disseminação de informações seja monitorado e comprometimento, busca de trabalho integrado,
conte com um sistema de informação consistente saber propor e desenvolver projetos, bem como
e integrado. competência técnica e disciplina.
Ainda existe uma grande necessidade de am-
pliar a utilização de dados produzidos pelos sis- 3. A pesquisa e a produção do
temas de informação, no sentido de subsidiar a conhecimento
tomada de decisão de gestores e ações dos profis-
sionais de saúde, acreditando que as informações, A cooperação entre serviços, universidades e ins-
se adequadamente utilizadas, podem contribuir titutos de pesquisa no desenvolvimento de pes-
para a redução de desigualdades e melhoria das quisas e na formação de recursos humanos para
ações de saúde em nosso país. a vigilância em saúde constitui um desafio.
UNIDADE 3 85
A pesquisa em saúde mobiliza muitos atores car, entre os diversos sistemas de vigilância, o
de origens diversas, com visões, interesses e lin- contexto da Vigilância epidemiológica, pois ela
guagens distintas; nesse sentido, construir uma sistematiza inúmeras ações, com a finalidade de
agenda de prioridades para pesquisa na área de subsidiar e proporcionar conhecimento, detec-
saúde é uma tarefa árdua, que pressupõe estabe- tar ou prevenir qualquer mudança nos fatores
lecer consensos e compartilhar recursos; mas, por determinantes e condicionantes de saúde indi-
outro lado, um campo rico de possibilidades, em vidual ou coletiva e, ainda, com a finalidade de
que o profissional pode articular saberes, pessoas recomendar e adotar medidas de prevenção e
e instituições, buscando a melhoria do serviço e controle de doenças ou agravos.
da qualidade de vida das pessoas. Para que as ações propostas pela Vigilância
Ao pontuar esses desafios, queremos que estes sejam concretizadas, é necessário acesso a um
sejam encarados de forma estratégica pelo ges- elevado e complexo conjunto de informações:
tor, no sentido de que estes possam ser encarados relativas à morbidade, mortalidade, situação so-
como novas oportunidades, e que os momentos cioeconômica e demográfica das pessoas, entre
de crise podem e devem ser vistos como espaços muitas outras. Dessa forma, o Ministério da Saú-
de crescimento e desenvolvimento dos serviços de conta com o Departamento de Informática
e das pessoas. do SUS (DATASUS).
Você conhece o modelo atual das práticas em O DATASUS reúne diversos sistemas de infor-
Vigilância adotado em seu município? Que de- mações, como diferentes informações de saúde, com
safios eles enfrentam? Quais as fragilidades dos a finalidade de fornecer dados aos gestores para
sistemas de Vigilância de seu município? que estes possam subsidiar a tomada de decisão.
A Vigilância em Saúde, como parte da Rede de Entretanto, não basta apenas ter acesso aos dados, o
Atenção à Saúde, está incluída no campo de ação profissional deve ser capaz de transformar os dados
do SUS, desenvolvendo uma série de ações e pro- em informações, bem como desenvolver uma dinâ-
gramas relevantes para a prevenção e controle de mica de aprendizagem e inovação, cujo primeiro
doenças e agravos, contribuindo para o trabalho do passo deve ser a capacidade crescente de adaptação
gestor no estabelecimento de prioridades, na alo- às mudanças, comprometimento, busca de trabalho
cação de recursos, nas orientações programáticas, integrado, saber propor e desenvolver projetos.
entre outras, em várias áreas do trabalho na saúde. Essa tarefa é um grande desafio para todos os
Quando consideramos o contexto da atuação profissionais envolvidos no trabalho da Vigilância
do profissional da saúde, é fundamental desta- em Saúde!
86 Vigilância em Saúde
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.
Estão corretas:
a) Apenas I e II estão corretas.
b) Apenas II e III estão corretas.
c) Apenas I está correta.
d) Apenas II, III e IV estão corretas.
e) Nenhuma das alternativas está correta.
87
3. Analise os indicadores de saúde, a seguir, que têm como base de divisão o nú-
mero de habitantes do local.
I) Mortalidade geral.
II) Coeficiente de incidência acumulada.
III) Mortalidade infantil.
IV) Mortalidade materna.
88
5. Observe a curva de mortalidade por idades e, de acordo com seu formato, in-
dique em que nível de saúde está a população.
89
LIVRO
FILME
Yesterday
Ano: 2004
Sinopse: Filme sul africano, no qual as questões de gênero, raça e classe acom-
panham a jornada de uma mulher afetada pelo HIV, em busca de um tratamento
digno para sua enfermidade.
90
BOCCATTO, M. Vigilância em saúde. São Paulo: Unifesp, 2012.
BRASIL. Decreto n° 7.508, de 28 de junho de 2011. Regulamenta a Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990,
para dispor sobre a organização do Sistema Único de Saúde - SUS, o planejamento da saúde, a assistência à saúde
e a articulação interfederativa, e dá outras providências. Brasília: Presidência da República, 2011.
______. Diretrizes Nacionais da Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância
à Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, 2010.
______. Guia de Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde,
Coordenação-Geral de Desenvolvimento da Epidemiologia em Serviços, 2016.
______. Indicadores e dados básicos para saúde. Ministério da Saúde. Secretaria Técnica da Ripsa, 2001.
______. Portaria nº 104, de 25 de janeiro de 2011. Define as terminologias adotadas em legislação nacional,
conforme o disposto no Regulamento Sanitário Internacional 2005 (RSI 2005), a relação de doenças, agravos e
eventos em saúde pública de notificação compulsória em todo o território nacional e estabelece fluxo, critérios,
responsabilidades e atribuições aos profissionais e serviços de saúde. Brasília: Presidência da República, 2011.
SETA, M. H.; REIS, L. G. C.; DELAMARQUE, E. Gestão da Vigilância à Saúde. Especialização em Gestão em
Saúde. Florianópolis: Departamento de Ciências da Administração/UFSC, 2010.
WALDMAN, E. A. et al. (Orgs). Vigilância como prática de saúde pública. Tratado de saúde coletiva. Rio
de Janeiro: Fiocruz, 2012.
REFERÊNCIAS ON-LINE
1
Em: <http://www.rio.rj.gov.br/dlstatic/10112/4364979/4155726/SVS_NotifCompulsoria.pdf>. Acesso em:
22 out. 2018.
2
Em: <http://www.ibge.gov.br/home/default.php>. Acesso em: 22 out. 2018.
3
Em: <http://www.ipea.gov.br/portal/>. Acesso em: 22 out. 2018.
91
1. A.
2. A.
3. C.
4. C.
5. C.
92
93
94
Dra. Marcela Demitto Furtado
Políticas Públicas
de Saúde no Brasil
PLANO DE ESTUDOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Compreender as principais políticas públicas de saúde • Estudar as políticas públicas com foco na saúde do adulto
voltadas à saúde da mulher. e da pessoa idosa.
• Entender as políticas públicas de atenção à saúde da • Compreender a organização do sistema de saúde na aten-
criança. ção à populações vulneráveis.
• Debater sobre as políticas públicas voltadas à saúde mental.
Atenção à Saúde
da Mulher
“
“
sos em cada tópico, assim, abasteça-se de muito
ânimo, determinação e vontade de seguir em frente. O PAISM incorporou como princípios e
Para iniciar este tópico, precisamos recordar diretrizes as propostas de descentralização,
que, ao longo da história da humanidade, a mu- hierarquização e regionalização dos servi-
lher exerceu, por muito tempo, o papel social de ços, bem como a integralidade e a equidade
mãe e cuidadora dos afazeres domésticos. A visão da atenção, num período em que, paralela-
restrita sobre a mulher, considerando-a apenas mente, no âmbito do Movimento Sanitário,
como reprodutora, acabava por gerar uma ima- se concebia o arcabouço conceitual que em-
gem frágil, delicada. A subordinação da mulher basaria a formulação do Sistema Único de
ao homem, o qual era o provedor do lar e possuía Saúde (SUS) (BRASIL, 2004a, p. 16).
a sua figura associada à autoridade, também foi
outra característica bastante presente na história Em 2004, foi elaborada a Política Nacional de
e que deu origem às sociedades patriarcais. Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM),
Com relação à saúde, apenas nas primeiras a fim de atender às reais necessidades das mulhe-
décadas do século XX é que a saúde da mulher res brasileiras e, nesse sentido, reduzir índices de
recebeu um olhar diferenciado dos gestores e, en- morbidade e mortalidade por causas evitáveis.
“
“
tão, passou a fazer parte das políticas nacionais
de saúde. No entanto, até a década de 70, os pro- Esta nova política foi formulada tendo por
gramas ainda possuíam como embasamento esse base a avaliação das políticas anteriores e, a
conhecimento limitado e fragmentado da mulher partir de então, buscou preencher as lacu-
e sua saúde. O enfoque central dos programas nas deixadas, como: climatério/menopausa;
era a saúde da criança e da gestante (materno- queixas ginecológicas; infertilidade e repro-
-infantis), por considerá-las grupos com maior dução assistida; saúde da mulher na ado-
vulnerabilidade (BRASIL, 2004a). lescência; doenças crônico-degenerativas;
Com o movimento feminista brasileiro, em mea- saúde ocupacional; saúde mental; doenças
dos da década de 60, que propunha, entre outras infecto-contagiosas, bem como a atenção
coisas, a igualdade de gênero, foi possível ampliar o às mulheres rurais, com deficiência, negras,
conceito de saúde da mulher, entendendo a saúde se- indígenas, presidiárias e lésbicas (FREITAS
xual e reprodutiva como um direito (GIFFIN, 2002). et al., 2009, p. 427).
UNIDADE 4 97
As mudanças no papel social da mulher, sua in- A epidemiologia do câncer em mulheres no
serção no mercado de trabalho atrelada a novos Brasil, especialmente o câncer de mama e colo
hábitos e estilo de vida, sobrecarga de responsa- uterino, e sua magnitude social também são focos
bilidades e estresse da vida moderna, acabou por importantes quando se discute sobre a saúde da
provocar mudanças no perfil epidemiológico das mulher. Por isso, muitas estratégias são pensadas
mulheres (BRASIL, 2004a). e implementadas no sentido de controlar essas
Doenças antes com pouco significado passam doenças. Sabe-se que quando diagnosticadas pre-
a chamar a atenção devido a sua elevada preva- cocemente, possuem grandes chances de cura, o
lência, como é o caso das doenças crônicas não que destaca a importância do rastreamento e ado-
transmissíveis (DCNT), como Diabetes Mellitus, ção de condutas terapêuticas em tempo oportuno
Hipertensão Arterial e o Câncer. (BRASIL, 2013a).
UNIDADE 4 99
Políticas de Atenção
à Saúde da Criança
UNIDADE 4 101
Ainda em 2000, foi criado o Programa Nacio- a qual apresenta sete eixos estratégicos (BRASIL,
nal de Humanização do pré-natal e nascimento, 1.130/2015):
buscando assegurar a integralidade da assistência • Atenção humanizada e qualificada à ges-
desde o pré-natal, incluindo gestantes de baixo e tação, parto, nascimento e recém-nascido.
alto risco, parto, transcorrendo pelo puerpério até • Aleitamento materno e alimentação com-
o período neonatal. plementar saudável.
Em 2004, foi lançada a Agenda de compro- • Promoção e acompanhamento do cresci-
missos para a saúde integral e redução da mor- mento e desenvolvimento integral.
talidade infantil, a qual destacou a importância • Atenção a crianças com agravos prevalen-
de ações que fortaleçam o nascimento saudável, tes na infância e com doenças crônicas.
contribuam para o crescimento e desenvolvi- • Atenção à criança em situação de violên-
mento e combatam os principais agravos nu- cias, prevenção de acidentes e promoção
tricionais e doenças mais comuns na infância da cultura de paz.
(SILVA et al., 2009). • Atenção à saúde de crianças com defi-
Seguindo a proposta das Redes de Atenção em ciência ou em situações específicas e de
Saúde (RAS), tema já abordado na Unidade 2, é vulnerabilidade.
que em 2011 foi implantada a Rede Cegonha e, • Vigilância e prevenção do óbito infantil,
em 2012, a Rede Mãe Paranaense. Essas RAS têm fetal e materno.
como proposta a organização da atenção mater-
no-infantil, à medida que permitem a integração Percebe-se que, ao longo da história, as políti-
de ações e serviços de saúde. cas públicas de saúde voltadas à criança foram
Em agosto de 2015, o Ministério da Saúde ins- se transformando, adequando-se tanto ao papel
tituiu a Política Nacional de Atenção Integral à social exercido pela criança como ao perfil epide-
Saúde da Criança (PNAISC) no âmbito do SUS, miológico e às demandas de saúde de cada época.
As políticas públicas de saúde da criança estão em constante construção. Buscam uma assistência integral
que inclua a família, migrando do modelo centrado na doença para o modelo de construção de redes.
(Juliane Pagliari Araújo)
UNIDADE 4 103
Em 2008, foi criada a Política Nacional de Fazem parte do Plano os quatro principais gru-
Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH), pos de DCNT, os quais são: circulatórias, câncer,
a fim de reconhecer os determinantes sociais respiratórias crônicas e diabetes. Os fatores de
que expõem essa parcela da população a riscos risco em comum modificáveis para essas doenças
de adoecer, evidenciando os principais fato- são: tabagismo, álcool, inatividade física, alimen-
res que contribuem para a morbimortalidade tação não saudável e obesidade; sobre os quais
(BRASIL, 2008). busca-se ações integradas, visando a melhoria das
““
DCNT em geral (BRASIL, 2011).
Um dos principais objetivos desta Política Melhorar as condições de vida do adulto é
é promover ações de saúde que contribuam pensar em idosos mais saudáveis, com maior
significativamente para a compreensão da qualidade de vida.
realidade singular masculina nos seus diver- O envelhecimento pode ser considerado como
sos contextos socioculturais e político-eco- um processo natural da vida que, em condições
nômicos; outro, é o respeito aos diferentes normais, não acarreta nenhum tipo de problema
níveis de desenvolvimento e organização (senescência). Já a senilidade refere-se à exposição
dos sistemas locais de saúde e tipos de ges- do indivíduo a doenças, por exemplo, o que exige
tão. Este conjunto possibilita o aumento da assistência de saúde (BRASIL, 2007).
expectativa de vida e a redução dos índices Todos nós estamos envelhecendo a cada dia,
de morbimortalidade por causas prevení- logo, hoje somos mais velhos do que ontem. E
veis e evitáveis nessa população (BRASIL, pensar no envelhecimento suscita uma série de
2008, p. 3). ações de promoção da saúde – grande foco das
políticas públicas.
No cenário atual, referente à saúde do adulto, no- O termo “envelhecimento ativo” passou a ser
ta-se que as políticas públicas estão alinhadas a utilizado no final dos anos 90, com o intuito de
uma busca pela assistência integral do indivíduo. expandir os fatores que afetam o envelhecimento
Para isso, muito se discute sobre a reorganização para além da saúde. As políticas públicas passa-
das Redes de Atenção em Saúde (RAS), de forma ram, então, a pensar em ações que abordassem a
que elas se articulem/comuniquem-se para aten- alimentação saudável, prática de atividade física,
der as demandas dessa população. Aliado a isso, combate às situações de violência familiar e ur-
o Ministério da Saúde tem investido na linha do bana, redução do consumo do tabaco e álcool etc.
cuidado voltado às doenças crônicas (GARCIA; (BRASIL, 2007).
FONSÊCA, 2014). Em 1994, é criada a Política Nacional do Idoso,
As doenças crônicas não transmissíveis a qual propõe ações em diversas áreas, como traba-
(DCNT) configuram-se como sério problema lho, lazer, habitação e saúde. Nesta última, a política
de saúde pública. Considerando sua magnitude busca garantir ao idoso a assistência nos diferentes
em todo o território brasileiro, foi elaborado o níveis de atenção à saúde (BRASIL, 8.842/1994).
Plano de Ações Estratégicas para o Enfrenta- No ano de 2003, por meio da lei n° 10.741, foi
mento das Doenças Crônicas Não Transmissí- instituído o Estatuto do Idoso, o qual dispõe sobre
veis (DCNT), 2011-2022. o papel da família, da comunidade, bem como
““
[...] recuperar, manter e promover a autono-
mia e a independência dos indivíduos idosos,
direcionando medidas coletivas e individuais
de saúde para esse fim, em consonância com
os princípios e diretrizes do Sistema Único
de Saúde (BRASIL, 2.528/2006, p. 3).
UNIDADE 4 105
Políticas de Saúde e
Populações Vulneráveis
“O Bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem”.
O poema de Manuel Bandeira retrata a triste realidade das PSR, grupo que ganhou visibilidade nos
últimos anos, o que permitiu uma série de avanços na área.
Fonte: Bandeira (1993).
UNIDADE 4 107
A invisibilidade desse grupo é um problema que entre a População em Situação de Rua e
impede que seus direitos enquanto cidadãos se- os demais grupos sociais.
jam reconhecidos e garantidos. • Implantar centros de defesa dos direitos hu-
Nesse sentido, em 2009, instituiu-se a Política manos para a População em Situação de Rua.
Nacional para População em Situação de Rua, a • Criar meios de articulação entre o Sistema
partir da qual: Único de Assistência Social (SUAS) e o Sis-
“
“
tema Único de Saúde (SUS) para qualificar
considera-se população em situação de rua o a oferta de serviços.
grupo populacional heterogêneo que possui • Implementar ações de segurança alimen-
em comum a pobreza extrema, os vínculos tar e nutricional suficientes para propor-
familiares interrompidos ou fragilizados e a cionar acesso permanente à alimentação
inexistência de moradia convencional regu- pela População em Situação de Rua, com
lar, e que utiliza os logradouros públicos e as qualidade.
áreas degradadas como espaço de moradia • Disponibilizar programas de qualificação
e de sustento, de forma temporária ou per- profissional para as pessoas em situação
manente, bem como as unidades de acolhi- de rua, com o objetivo de propiciar o seu
mento para pernoite temporário ou como acesso ao mercado de trabalho.
moradia provisória (BRASIL, 2014b, p. 11).
Na área da saúde, um grande avanço aconteceu,
São vários os objetivos dessa política, entre eles também, em 2009, com a criação do Comitê Téc-
(BRASIL, 2014b): nico de Saúde para a população em situação de
• Assegurar o acesso amplo, simplificado rua, por meio da Portaria MS/GM n° 3.305.
e seguro aos serviços e programas que Em 2013, foi publicado o Plano Operativo para
integram as políticas públicas de saúde, Implementação de Ações em Saúde da População em
educação, previdência, assistência social, Situação de Rua. Nesse plano, as ações de promoção
moradia, segurança, cultura, esporte, lazer, da saúde voltadas a essa população foram agrupadas
trabalho e renda. em cinco eixos, os quais são (BRASIL, 2014b):
• Garantir a formação e a capacitação per- 1. Inclusão da PSR no escopo das redes de
manente de profissionais para atuação atenção à saúde.
no desenvolvimento de políticas públicas 2. Promoção e Vigilância em Saúde.
intersetoriais, transversais e intergoverna- 3. Educação Permanente em Saúde na abor-
mentais direcionadas às pessoas em situa- dagem da Saúde da PSR.
ção de rua. 4. Fortalecimento da Participação e do Con-
• Desenvolver ações educativas permanen- trole Social.
tes que contribuam para a formação de 5. Monitoramento e avaliação das ações de
cultura de respeito, ética e solidariedade saúde para a PSR.
Em 2009, o Ministério da Saúde instituiu a Política Na 13º Conferência Nacional de Saúde, realizada
Nacional de Saúde Integral da População Negra, em 2013, muito se discutiu sobre orientação se-
em resposta às desigualdades em saúde que aco- xual e identidade de gênero como determinantes
metem essa população, que grande parte se deve sociais de saúde. Nesse sentido, foram elencadas
ao contexto histórico desse grupo no Brasil. algumas estratégias:
““
• O desenvolvimento de ações interseto-
Seu propósito é garantir maior grau de riais de educação em direitos humanos e
equidade no que tange a efetivação do di- respeito à diversidade, efetivando campa-
reito humano à saúde, em seus aspectos de nhas e currículos escolares que abordem
promoção, prevenção, atenção, tratamento e os direitos sociais.
recuperação de doenças e agravos transmis- • A sensibilização dos profissionais a respei-
síveis e não transmissíveis, incluindo aque- to dos direitos de LGBT, com inclusão do
les de maior prevalência nesse segmento tema da livre expressão sexual na política
populacional (BRASIL, 2013b, p. 7). de educação permanente no SUS.
• A inclusão dos quesitos de identidade de
Essa política tem um caráter transversal das ações gênero e de orientação sexual nos formulá-
de saúde da população negra, à medida que reali- rios, prontuários e sistemas de informação
za articulações entre as secretarias do Ministério em saúde.
da Saúde, cuja intencionalidade é a promoção de • A ampliação da participação dos movimen-
equidade – um dos princípios do SUS. tos sociais LGBT nos conselhos de saúde.
UNIDADE 4 109
• O incentivo à produção de pesquisas cien-
tíficas, inovações tecnológicas e comparti-
lhamento dos avanços terapêuticos.
• A garantia dos direitos sexuais e reprodu-
tivos e o respeito ao direito à intimidade e
à individualidade.
• O estabelecimento de normas e protocolos
de atendimento específicos para as lésbicas
e travestis.
• A manutenção e o fortalecimento de ações
da prevenção das DST/aids, com especial
foco nas populações LGBT.
• O aprimoramento do Processo Transexua-
lizador.
• A implementação do protocolo de atenção
contra a violência, considerando a iden-
tidade de gênero e a orientação sexual
(BRASIL, 2013c, p. 12).
““
[...] promover a saúde integral de lésbicas,
gays, bissexuais, travestis e transexuais, eli-
minando a discriminação e o preconceito
institucional, bem como contribuindo para
a redução das desigualdades e a consolida-
ção do SUS como sistema universal, integral
e equitativo (BRASIL, 2013c, p. 18).
UNIDADE 4 111
Quem já ouviu a expressão “ficou pinel”? Ela significa “ficou louco” e faz referência ao sobrenome de
um médico que marcou a história da saúde mental.
No contexto da Revolução Francesa, Philippe Pinel, médico psiquiatra, foi considerado o primeiro
reformador da assistência psiquiátrica. Por muitos é considerado o pai da psiquiatria. Em 1798, in-
dignado com as péssimas condições de tratamento, ele liberou asilados presos há mais de 30 anos.
Seus pensamentos e atitudes influenciaram a revolução psiquiátrica em diversos países.
Fonte: Foucault (1995).
“
“
A Reforma Psiquiátrica, propriamente dita, [...] oferecer atendimento à população de sua
iniciou-se internacionalmente. O médico italiano área de abrangência, realizando o acompa-
Franco Basaglia foi seu precursor na década de 60, nhamento clínico e a reinserção social dos
lutando por melhores condições das instalações usuários pelo acesso ao trabalho, lazer, exer-
que atendiam as pessoas com transtornos men- cício dos direitos civis e fortalecimento dos
tais, melhor tratamento clínico e, mais para frente, laços familiares e comunitários. É um serviço
criticando o modelo hospitalocêntrico. de atendimento de saúde mental criado para
Em 1978, aconteceu, no Rio de Janeiro, o I ser substitutivo às internações em hospitais
Simpósio Internacional de Psicanálise, Grupos psiquiátricos (BRASIL, 2004c, p. 13).
e Instituições, o qual contou com a presença do
Dr. Basaglia. A partir desse Simpósio, a luta an- Em 1987, acontece a I Conferência Nacional de
timanicomial e a reforma psiquiátrica no Brasil Saúde Mental, a qual contou com membros de
se fortaleceu. diversos segmentos da sociedade.
“
“
Na década de 70, inicia-se o processo de Re-
forma Psiquiátrica no Brasil. A partir desse pe- A realização da I Conferência Nacional
ríodo, vários acontecimentos marcam a história de Saúde Mental, em desdobramento à 8ª
da saúde mental. Conferência Nacional de Saúde, representa
Em 1978, o Movimento dos Trabalhadores de um marco histórico na psiquiatria brasilei-
Saúde Mental (MTSM) mostra seu desconten- ra, posto que reflete a aspiração de toda a
tamento com a assistência prestada ao paciente comunidade científica da área, que entende
com transtorno mental, criticando o modelo cen- que a política nacional de saúde mental ne-
trado nos hospitais, além de destacar as péssimas cessita estar integrada à política nacional de
condições de trabalho e a privatização da atenção desenvolvimento social do Governo Federal
psiquiátrica. (BRASIL, 1988, p. 9).
Esse movimento social foi um dos responsá-
veis pela criação, em 1986, do primeiro Centro No mesmo ano, na cidade de Bauru-SP, ocorre
de Atenção Psicossocial (CAPS), localizado no o I Encontro Nacional do Movimento de Traba-
município de São Paulo. lhadores de Saúde Mental. O lema criado nesse
O objetivo do CAPS é: período – “Por uma sociedade sem manicômios”
UNIDADE 4 113
A articulação dessa Rede, com valorização em cada época, tanto pela sociedade como pelos
para os CAPS como serviço estratégico em saú- profissionais envolvidos. Os modelos de assistên-
de mental, é um dos pontos importante para a cia à saúde, por exemplo, apresentaram grandes
garantia de acesso, integralidade do cuidado, além mudanças ao longo da história. Atualmente, é
de resolutividade e qualidade no serviço prestado. enfatizada a busca por uma assistência que preze
Assim, faz-se necessário um olhar avaliativo pela integralidade do indivíduo, considerando-o
para as políticas de saúde vigentes. Elas corres- um ser biopsicossocial e, nesse sentido, as políti-
pondem aos motivos pelos quais foram criadas? cas foram sendo (re)construídas.
O Brasil apresenta inúmeras políticas públi- É um grande desafio para os profissionais
cas de saúde. Nesta unidade, abordamos alguns da saúde, em todas as esferas de governo, cum-
marcos importantes e características de algumas prirem com as propostas pactuadas por meio
políticas voltadas a grupos específicos, como: das políticas públicas. É necessário que elas as-
mulher, criança, adulto e idoso, saúde do idoso e segurem, na prática, os direitos constitucionais
populações vulneráveis. do cidadão.
É importante destacar que as políticas públi- Por isso, é importantíssimo um bom preparo
cas de saúde buscam atender às necessidades da do aluno na academia para o exercício da pro-
comunidade em determinado momento, por isso fissão. As bases teóricas, no caso desta unidade,
elas não são estáticas, pelo contrário, são dinâ- embasadas pela política e marcadas pela história,
micas, estão em constante transformação. Afinal, são relevantes para a compreensão da atualidade.
a sociedade, de forma geral, vive em constante Logo, a capacitação profissional de qualidade
transformação, seja ela econômica, cultural ou é fundamental na área da saúde, a fim de formar
política. Assim, o estudo sobre a temática tem um profissionais que implementem políticas públicas
começo, mas não um ponto final! de saúde de acordo com as reais demandas da
Além disso, as políticas públicas de saúde população, além de garantir, na prática, a opera-
vão se adequando às discussões que emergem cionalização dos princípios do SUS.
115
2. As políticas públicas voltadas à saúde da criança avançaram ao longo da história.
Buscam uma assistência à saúde por meio da construção de redes e que garanta
a integralidade do cuidado. Sobre o assunto, assinale a alternativa correta.
a) Desde os primórdios da humanidade, a figura da criança sempre foi permeada
de afeto, especialmente dentro do contexto familiar.
b) O Programa de Assistência Integral à Saúde da Criança (PAISC) criado em 1984,
possuía como objetivo promover ações de saúde, priorizando crianças com
maior risco de adoecer.
c) A Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância (AIDPI) buscou for-
talecer e organizar a atenção primária à saúde, tendo como foco o cuidado e
tratamento das doenças mais frequentes em crianças até 10 anos.
d) As Redes de Atenção em Saúde é uma realidade em diversas áreas da saúde,
exceto na saúde materno-infantil.
e) Os eixos estratégicos da Política Nacional de Atenção Integral à saúde da Criança
(PNAISC), desconsidera os determinantes sociais e condicionantes da saúde
da criança.
116
3. O envelhecimento da população é uma realidade mundial. Nesse sentido, é
necessário criar estratégias de promoção da saúde e prevenção de doenças
ao longo da vida, a fim de possibilitar uma velhice com maior qualidade de
vida. Sobre as políticas públicas de saúde voltadas ao adulto e idoso, analise as
questões abaixo.
I) Um dos objetivos da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem
(PNAISH) é aproximar a população masculina do serviço de saúde, tendo a
atenção primária como porta de entrada, já que muitos adentram o sistema
de saúde pela atenção especializada.
II) O Estatuto do idoso representou uma grande conquista da população idosa
brasileira, garantindo a eles direitos em diversas áreas, inclusive o direito à
saúde por meio do SUS.
III) O processo de transição epidemiológica que acontece no Brasil é marcado pelo
aumento das mortes por doenças infectocontagiosas e queda progressiva das
mortes por doenças crônicas, a exemplo das neoplasias e hipertensão arterial.
IV) A Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI), criada pelo Ministério
da Saúde, em 2006, destaca a necessidade de se considerar essa população
igual às demais, sem distinção de grupos ou estratos, a fim de não gerar
discriminação.
117
4. Sobre as políticas públicas de saúde mental, assinale a alternativa correta:
a) A Reforma Psiquiátrica no Brasil ainda está em processo de consolidação, visto
que muitos hospitais psiquiátricos ainda não aumentaram o número de leitos.
b) São objetivos dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS): acolher os pacientes
com transtornos mentais, auxiliá-los na sua integração familiar e na sociedade,
além de encorajá-los na busca pela autonomia.
c) A Política Nacional de Saúde Mental propõe uma série de mudanças direciona-
das à saúde das pessoas com transtorno mental; no entanto, mantém o mesmo
modelo assistencial praticado no século XVIII.
d) A Declaração de Caracas, divulgada em 1990, fortaleceu a ideia de que pessoas
com transtorno mental eram perigosas e precisavam ser tratadas em institui-
ções psiquiátricas.
e) A Rede de Atenção Psicossocial para pessoas com sofrimento ou transtorno
mental possui como ponto estratégico os hospitais psiquiátricos.
118
LIVRO
FILME
Ilha do Medo
Ano: 2010
Sinopse: Trata-se de um suspense que acontece em uma prisão psiquiátrica
para detentos de alta periculosidade, a qual fica localizada em uma ilha. Leo-
nardo DiCaprio representa um agente federal que é encaminhado a essa ilha
para investigar a morte de uma interna. O personagem faz críticas à instituição,
dado a forma como os pacientes psiquiátricos eram tratados.
FILME
119
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1. C.
2. B.
3. A.
4. B.
5. C.
123
124
Dra. Marcela Demitto Furtado
Política Nacional de
Humanização (PNH)
PLANO DE ESTUDOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Compreender a criação da PNH, seus objetivos e princípios. • Entender as políticas de saúde voltadas ao trabalhador.
• Conhecer as diretrizes e dispositivos da PNH. • Discutir os principais desafios para a humanização nos
• Estudar sobre a segurança e direito do paciente. serviços de saúde.
Conhecendo
a PNH
De acordo com o Dicionário da Língua Portuguesa, humanização significa o “ato ou efeito de huma-
nizar”. E humanizar é “tornar humano, tornar tratável, civilizar” (BUENO, 2007).
Na área da saúde, o termo “humanização” começou a ser utilizado a partir do século XXI, partindo
de discussões e recomendações realizadas pelo Ministério da Saúde. Humanizar a saúde é bastante
complexo, pois envolve uma série de questões, como: respeito à unicidade de cada indivíduo; políti-
cas públicas, no sentido de garantir igualdade de acesso aos serviços; envolve processo de trabalho;
competência profissional; cuidado voltado àquele que cuida, como uma das formas de valorizar o
trabalhador etc. (BERMEO, 2008).
Fonte: adaptado de Bueno (2007) e Bermeo (2008).
Em 2000, o Ministério da Saúde instituiu o Pro- saúde, que impacte na qualidade da assistência
grama Nacional de Humanização da Atenção prestada pelas instituições vinculadas ao SUS.
Hospitalar (PNHAH), cujo objetivo principal Em 2003, a humanização, antes considerada
é aprimorar as relações entre usuários e profis- programa, passa a ser uma política – A Política
sionais, entre os próprios profissionais e entre o Nacional de Humanização da atenção e gestão
serviço hospitalar e a comunidade. A intenção do do SUS (PNH), também conhecida como Hu-
Programa é promover uma nova forma de “fazer” manizaSUS.
UNIDADE 5 127
A humanização, enquanto A PNH propõe uma nova forma de gerir e cuidar a partir de três
política do SUS, não se relacio- princípios básicos:
na apenas a pessoas (usuários, • Transversalidade. O caráter transversal da PNH refere-se
trabalhadores, gestores) e suas ao fato de que ela deve estar inserida em todas as políticas
ações, mas também envolve a e programas do SUS, ampliando a comunicação dentro dos
relação existente entre elas e grupos e entre eles;
o ambiente em que atuam. A • Indissociabilidade entre atenção e gestão. A gestão e a forma
PNH suscita modos de ser e de gerir saúde está intimamente ligada à atenção prestada.
fazer saúde. Tanto os usuários como os trabalhadores, além de conhecer
De acordo com o Ministério a forma de gestão dos serviços de saúde, precisam ser ativos
da Saúde, a humanização pode no processo de tomada de decisão.
ser compreendida como: • Protagonismo, corresponsabilidade e autonomia dos sujeitos
“
“
e coletivos. No SUS humanizado, cada um (usuário, traba-
[...] valorização dos lhador e gestor) tem o seu papel bem definido, seus direitos
diferentes sujeitos im- e suas responsabilidades na construção da saúde.
plicados no processo
de produção de saúde: A PNH pode ser implantada em qualquer serviço de saúde: uma
usuários, trabalhadores Unidade Básica de Saúde, Unidade de Pronto Atendimento, hos-
e gestores; Fomento da pitais e secretarias de saúde, ou seja, em toda a rede pública, desde
autonomia e do prota- que seja firmado um compromisso entre gestores, trabalhadores e
gonismo desses sujeitos; usuários para a reorganização das práticas de saúde, aceitando as
Aumento do grau de propostas da PNH.
corresponsabilidade na Dentro desta reorganização das práticas de saúde, podemos
produção de saúde e de observar a inserção pelo Ministério da Saúde, de novas propostas
sujeitos; Estabelecimen- de tratamentos, com a criação da Política Nacional de Práticas In-
to de vínculos solidários tegrativas e Complementares (PNPIC) no SUS, com a aprovação
e de participação coleti- da Portaria Nº 971, de 03 de maio de 2006, que visava garantir a
va no processo de gestão; população condições de bem-estar físico, mental e social, ofertando
Identificação das neces- cinco procedimentos na área de tratamentos holísticos (Medicina
sidades sociais de saúde; Tradicional Chinesa/Acupuntura, Homeopatia, Plantas Medici-
Mudança nos modelos nais e Fitoterapia, Medicina Antroposófica e Termalismo Social/
de atenção e gestão dos Crenoterapia).
processos de trabalho, Em 2017, foram incluídos ao SUS mais 14 terapias, somando 19
tendo como foco as ne- práticas disponíveis à população, sendo estas: ayurveda, arteterapia,
cessidades dos cidadãos biodança, dança circular, meditação, musicoterapia, naturopatia,
e a produção de saúde; osteopatia, quiropraxia, reflexoterapia, reiki, shantala, terapia co-
Compromisso com a munitária integrativa e yoga.
ambiência, melhoria das Com o aumento da procura destas técnicas de tratamento, devi-
condições de trabalho e do a evidências científicas dos benefícios do tratamento integrado
de atendimento (BRA- entre medicina convencional e práticas integrativas e complemen-
SIL, 2004, p. 15). tares, em 21 de março de 2018, foram acrescentadas mais dez novas
Inclusão de
fenômenos que
Inclusão dos Inclusão do
promovam o
gestores, usuários coletivo, seja dos
pensamento
e trabalhadores trabalhadores de
crítico e analítico
na produção saúde, quando em
sobre os modelos
de autonomia trabalho grupal,
de atenção
protagonismo e seja do movimento
e gestão, no
corresponsabilidade. social organizado.
sentido de gerar
mudanças.
UNIDADE 5 129
Diretrizes e
Dispositivos
da PNH
A Ambiência na saúde é um termo bastante usado no contexto da humanização dos serviços, pois
refere-se ao tratamento do espaço/território físico de modo que ele seja acolhedor, confortável.
Nesse sentido, é fundamental valorizar os componentes do ambiente, como cor, cheiro, luz, texturas
e sons, por acreditar que um bom espaço físico possa otimizar o encontro entre pessoas e ser um
facilitador do processo de trabalho.
Vale destacar que a ambiência extrapola a ideia de uma estruturação físico-funcional. Envolve as-
pectos culturais e de modo de vida, como, por exemplo, a privacidade do indivíduo; acessibilidade e
acesso sem discriminação; aspectos relativos à ergonomia, conforto térmico e acústico.
Fonte: Brasil (2010).
UNIDADE 5 131
Segurança e Direito
do Paciente
UNIDADE 5 133
Modelo de causa de acidente - Queijo Suiço
Alguns buracos
devido a falha
ativa (erro, Perigos
violações de
procedimento)
Outros buracos
devido às condições
Perdas latentes (falha de
equipamento, falta
Sucessivas camadas de defesas, de treinamento ou
barreiras e proteções experiência da
Figura 1 - Modelo do Queijo Suíço
Fonte: Reason (2006).
Pensando no Modelo do Queijo Suíço aplicado trabalho, cansaço e estresse do profissional (DOS
à área da saúde, que estratégias poderiam ser im- SANTOS et al., 2014).
plementadas para evitar o desencadeamento de Independentemente de qualquer situação, é
um evento adverso? sabido que o paciente tem o direito de receber
Donabedian (1980) tenta explicar a ocorrência uma assistência em saúde segura, o que consiste
dos eventos adversos por meio da tríade – estrutu- em um desdobramento do direito à vida, já que a
ra - processo - resultado. A estrutura relaciona-se falta de segurança pode ocasionar a morte.
a aspectos mais estáveis, como os profissionais, os Em 2009, o Conselho Nacional de Saúde
instrumentos de trabalho, os locais e modelos de aprovou a Carta dos Direitos dos Usuários da
organização dos serviços. O processo envolve as Saúde, a qual apresenta seis princípios básicos
ações realizadas pelos profissionais em direção ao (BRASIL, 2011):
paciente, bem como as respostas destes àquilo que • Todo cidadão tem direito ao acesso or-
foi realizado. O resultado pode ser representado denado e organizado aos sistemas de
pela efetividade e eficiência das atividades pratica- saúde.
das, bem como pelo grau de satisfação do paciente. • Todo cidadão tem direito a tratamento
Existem muitos estudos de campo que buscam adequado e efetivo para seu problema.
investigar as causas dos eventos adversos na área • Todo cidadão tem direito ao atendimento
da saúde. Muitos deles relacionados a erros de humanizado, acolhedor e livre de qualquer
medicação. discriminação.
Estudo de revisão sobre erros de medicação • Todo cidadão tem direito a atendimento
entre profissionais de enfermagem mostrou que que respeite a sua pessoa, seus valores e
entre as principais causas estão a sobrecarga de seus direitos.
UNIDADE 5 135
Atenção à Saúde
do Trabalhador
“
“
A gente não quer só comer
A gente quer prazer pra aliviar a dor
A gente não quer só dinheiro,
A gente quer dinheiro e felicidade
A gente não quer só dinheiro,
A gente quer inteiro e não pela metade
(Arnaldo Antunes)
“
“
de sua inserção nos processos de trabalho. Logo,
o setor da saúde necessita incorporar esses indi- Um modelo de atenção integral à saúde dos
víduos em estratégias de promoção, prevenção e trabalhadores implica em qualificar as prá-
recuperação da saúde. ticas de saúde, envolvendo o atendimento
Foi apenas a partir da década de 80 que a visão dos acidentados do trabalho, dos trabalha-
em relação ao trabalhador começou a se modifi- dores doentes, das urgências e emergências
car; ele passa a ser reconhecido como sujeito e não às ações de promoção e proteção da saúde
apenas como consumidor dos serviços de saúde. e de vigilância, orientadas por critério epi-
A própria Constituição Brasileira de 1988, demiológico. Para que isso ocorra de modo
na seção de Direitos à Saúde, artigo 200, des- efetivo, faz-se necessária abordagem inter-
taca como competência do SUS, entre outras disciplinar e a utilização de instrumentos,
atribuições, “executar as ações de vigilância sa- saberes, tecnologias originadas de diferentes
nitária e epidemiológica, bem como as de saúde áreas do conhecimento, colocados a serviço
do trabalhador”. das necessidades dos trabalhadores (BRA-
Em 1990, a Lei Orgânica de Saúde (Lei n° SIL, 2006, p. 17).
8080) regulamentou o SUS e suas competências
no campo da Saúde do Trabalhador, reconhecen- Em 2011, a partir do Decreto 7.602, foi criada a
do o trabalho como um importante determinante Política Nacional de Segurança e Saúde no Tra-
de saúde. balho (PNSST), na busca de articular ações de
Nesta mesma década, muitas iniciativas foram diferentes setores, como Trabalho, Previdência
registradas no sentido de consolidar a área de saú- Social, Saúde e Meio Ambiente.
de do trabalhador, como: As diretrizes que regem a PNSST são:
“
“
• 1994 - 2ª Conferência Nacional de Saúde
do Trabalhador. [...] inclusão de todos trabalhadores brasi-
• 1998 - Elaboração da Norma Operacional leiros no sistema nacional de promoção e
de Saúde do Trabalhador (NOST). proteção da saúde; harmonização da legis-
• 1998 - Instrução Normativa de Vigilância lação e a articulação das ações de promoção,
em Saúde do Trabalhador. proteção, prevenção, assistência, reabilitação
• 1999 - Listagem de Doenças Relacionadas e reparação da saúde do trabalhador; ado-
ao Trabalho. ção de medidas especiais para atividades
UNIDADE 5 137
laborais de alto risco; estruturação de rede O Ministério da Saúde, em 2012, instituiu a Política
integrada de informações em saúde do tra- Nacional de Saúde do Trabalhador e da Traba-
balhador; promoção da implantação de sis- lhadora (PNST), por meio da Portaria GM/MS
temas e programas de gestão da segurança e n° 1.823. Esta se alinha a todas as outras políticas
saúde nos locais de trabalho; reestruturação de saúde do SUS, o que confere a ela o caráter de
da formação em saúde do trabalhador e em transversalidade.
segurança no trabalho e o estímulo à capaci- A saúde do trabalhador, enquanto área do co-
tação e à educação continuada de trabalha- nhecimento, encontra-se em construção. Muitas
dores; e promoção de agenda integrada de conquistas foram alcançadas, mas ainda há um
estudos e pesquisas em segurança e saúde longo caminho pela frente.
no trabalho (BRASIL, 2011, p. 1). A integralidade da assistência à saúde do traba-
lhador precisa ser colocada em prática e, para isso,
entre outras coisas, é preciso extrapolar a esfera
biológica e individual, interferindo nas questões
relativas ao processo de trabalho.
A Previdência Social garante uma série de be- Com a globalização; aumento da competiti-
nefícios a trabalhadores com carteira assinada vidade; crise financeira em diversos setores, que
vítimas de acidentes e doenças relacionadas ao acaba por culminar em elevadas taxas de desem-
trabalho, desde que comprovada a incapacidade prego; crescimento dos trabalhadores informais e
para o trabalho por parte da perícia médica. temporários ocorre uma série de transformações
São exemplos de benefícios previstos pela legis- na vida do trabalhador que, com certeza, impac-
lação previdenciária: auxílio-doença, aposenta- tam em sua saúde (SILVEIRA, 2009).
doria por invalidez, auxílio-acidente, pensão por As reais condições de trabalho precisam ser
morte e reabilitação profissional. identificadas e analisadas profundamente, a fim
Em casos de acidentes ou doenças relaciona- de “reverter a cultura de que o trabalho é bom
das ao trabalho, mesmo que esses eventos não independentemente das condições em que é rea-
tenham gerado incapacidades, faz-se necessá- lizado” (LOURENÇO; BERTANI, 2007, p. 125).
rio o preenchimento de uma ficha denominada
“Comunicação de Acidente de Trabalho” (CAT), a
qual é utilizada para fins estatísticos e epidemio-
lógicos, bem como para assegurar alguns direitos
previstos em lei.
Fonte: adaptado de Silveira (2009).
UNIDADE 5 139
Uma pesquisa qualitativa, realizada em uma enfermaria de Pediatria de um instituto de referência
no cuidado da Saúde da Mulher, Criança e Adolescente, tendo como sujeitos a equipe de enferma-
gem, usuários e acompanhantes, identificou que os princípios fundamentais da humanização não
ocorrem de forma efetiva na relação entre os sujeitos.
Destacou-se como princípios da humanização: acolhimento, autonomia, protagonismo e correspon-
sabilidade. O estudo apontou, ainda, a presença de lacunas na compreensão da proposta de um
projeto de humanização para o serviço.
Para a equipe de saúde, a humanização está atrelada a prestar uma assistência de qualidade, no
entanto sem refletir sobre como ela pode ser prestada, nem tampouco se indagar sobre quais as
possibilidades de mudanças na prática. O estudo destaca, como estratégia para essa situação, a cria-
ção de um projeto de Educação Continuada, de modo a preparar profissionais e usuários a construir
coletivamente o cenário de práticas.
Fonte: Alves, Deslandes e Mitre (2009).
Considerando que a humanização envolve tam- Os desafios da humanização podem ser supe-
bém o relacionamento entre usuários e profis- rados, desde que os problemas e soluções sejam
sionais de saúde, faz-se necessário romper com construídos de forma coletiva entre usuários, pro-
o mecanicismo, muito vezes inerente às relações fissionais e gestores.
“
“
de trabalho. Nesse sentido, é preciso repensar em
novas formas de interação entre os atores (gesto- O trabalho multidisciplinar, a participação
res, usuários e profissionais), de forma que estes efetiva do usuário, a democratização da ges-
atuem como sujeitos ativos de um processo e não tão, as ações de educação permanente, as re-
sendo submissos a ele (BRASIL, 2010). flexões sobre os processos de trabalho, dentre
A literatura destaca como desafio o exercício várias outras ofertas da PNH, demonstram
de não colocar a PNH como verdade absoluta, que há estratégias para melhorar as relações
imutável, mas que ela possa ser uma forma de de trabalho, aumentar o diálogo entre seus
pensar e fazer saúde, que ela sirva para fazermos atores e criar novos modos de produção do
uma reflexão crítica e, a partir dela, tornar o pro- cuidado (MARTINS, 2010, p. 92).
cesso dinâmico e inovador (HECKERT; PASSOS;
BARROS, 2009). Continuamente, faz-se necessária a realização de
Estudo aponta como dificuldades para se colo- cursos, oficinas de formação, a fim de discutir
car em prática a proposta da humanização aspec- os processos de trabalho, as diretrizes e dispo-
tos como: influência direta do modelo organiza- sitivos da PNH. A partir da vivência no dia a
cional, dos desenhos da missão institucional, do dia de trabalho, é preciso se reinventar, criando
envolvimento e aderência dos gerentes à proposta, espaços coletivos que valorizem a autonomia e a
da capacitação e sensibilidade dos profissionais corresponsabilidade dos profissionais de saúde
(DIAS; DOMINGUES, 2005). no trabalho e dos usuários no cuidado de si, ex-
UNIDADE 5 141
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.
142
3. De acordo com o Ministério da Saúde, “a Política Nacional de Humanização (PNH)
busca pôr em prática os princípios do SUS no cotidiano dos serviços de saúde,
produzindo mudanças nos modos de gerir e cuidar”. Sobre o tema, assinale a
alternativa incorreta.
a) A “Transversalidade” é um dos princípios da PNH que significa ampliar a co-
municação entre os sujeitos envolvidos nos processos de produção de saúde,
quebrando paradigmas do poder e do saber.
b) Uma das diretrizes da PNH é a “Clínica Ampliada”, seu conceito está relaciona-
do à ampliação e garantia de acesso ao usuário a todos os níveis de atenção.
c) O termo “ambiência” não refere-se apenas à criação de espaços saudáveis,
acolhedores e confortáveis, mas também de um ambiente social e de relações
interpessoais.
d) O “Acolhimento”, diretriz da PNH, sustenta a relação entre equipes/serviços e
usuários/populações, devendo ser construída de forma coletiva.
e) A PNH possui, como um dos eixos de ação, a integração de seus princípios aos
processos de Educação Permanente nos serviços de Saúde.
143
5. Quanto à Política de Saúde do trabalhador, é correto afirmar:
a) Fazem parte da melhoria do ambiente de trabalho e controle das condições
de risco para a saúde: identificação no trabalho das condições de risco para
a saúde; caracterização da exposição e quantificação das condições de risco;
discussão e definição das alternativas de eliminação ou controle das condições
de risco; implementação e avaliação das medidas adotadas.
b) Produtos vendidos sob nomes comerciais, sem informação detalhada quanto
à composição química. Geralmente, criam problemas para o reconhecimento
de riscos. Essas informações não cabem ser exigidas dos fabricantes e for-
necedores, devendo-se solicitar a análise das amostras, que garante maior
confiabilidade e menor custo.
c) O profissional encontra, com facilidade, os dados para o estabelecimento do
nexo ou da relação trabalho-doença, principalmente pela precisão na identi-
ficação de fatores de risco e/ou situações a que o trabalhador está ou esteve
exposto a condições potencialmente lesivas para sua saúde.
d) O médico e a equipe de saúde, responsáveis pelo atendimento do trabalhador,
devem buscar um relacionamento de cooperação com os colegas do paciente.
Considerando a natureza harmoniosa dessas relações, torna-se desnecessário
que os procedimentos sejam registrados e documentados.
e) Estabelecida a relação causal ou o nexo entre a doença e o trabalho desempe-
nhado pelo doente, o profissional ou a equipe responsável pelo atendimento
deve passar a responsabilidade ao profissional adequado, isentando-se de
demais responsabilidades.
144
LIVRO
Humanização na saúde
Fernanda Reis
Editora: DOC
Sinopse: o livro aborda a humanização, em todas as suas vertentes, nas insti-
tuições voltadas aos cuidados da saúde, como questão prioritária para o trata-
mento do doente.
WEB
145
ALVES, C. A.; DESLANDES, S. F.; MITRE, R. M. A. Desafios da humanização no contexto do cuidado da enfer-
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1. A.
2. C.
3. B.
4. A.
5. A.
149
150
151
CONCLUSÃO
Prezado(a) aluno(a)! Esperamos que este livro tenha contribuído para uma
boa compreensão do cenário da Saúde Coletiva no contexto brasileiro.
O destaque aos pontos principais dessa trajetória passa pela evolução do
conceito de saúde ao longo dos tempos e a influência histórica cultural nos
modelos de atenção à saúde, culminando na determinação social e cultural
da saúde e doença.
Enfatizamos a importância do profissional da saúde conhecer o Sistema
Único de Saúde (SUS), a rede de saúde e os serviços oferecidos, no intuito
de ajudar na orientação e intervenção contextualizada, bem como dar
subsídios e ferramentas para atuar no contexto da Vigilância em Saúde.
Igualmente, destaca os principais aspectos das políticas de saúde voltadas
ao ciclo de vida e as orientações aos profissionais de saúde no sentido da
necessidade de humanização nos serviços de saúde.
Conforme enfatizamos, no decorrer do livro, a definição do processo saú-
de doença e da organização de serviços e políticas públicas da população
brasileira é influenciado pela compreensão do momento histórico, político
e social do tempo em que ocorre.
Dessa forma, o indivíduo deve estar atento aos condicionantes e deter-
minantes de saúde que, no caso do Brasil, apesar de muitos avanços na
qualidade de vida e da saúde da população, o país ainda enfrenta grandes
desafios na área de distribuição de renda, recursos e estrutura.
São muitos os desafios do trabalho no contexto da Saúde Pública: a constru-
ção histórica e coletiva, as mudanças sociais e tecnológicas, a administração
de recursos e, principalmente, a compreensão da importância de humanizar
os serviços e acolher as necessidades da população.
Muitas mudanças ocorreram e muitas ainda estão por vir. Esperamos que o
estudo proposto neste livro tenha ajudado na compreensão e na melhoria
da qualidade do seu trabalho e que você possa abrir novos horizontes e
fazer a diferença na sua trajetória profissional. Sucesso!