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GRADUAÇÃO

Saúde
Coletiva
DRA. MARCELA DEMITTO FURTADO
DRA. RAQUEL GUSMÃO OLIVEIRA

Híbrido
GRADUAÇÃO
Saúde Coletiva
Dra. Marcela Demitto Furtado
Dra. Raquel Gusmão Oliveira
DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor e
Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos
Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William
Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de
Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação da Mantenedora Cláudio Ferdinandi.
a Distância; FURTADO, Marcela Demitto; OLIVEIRA, Raquel
Gusmão.
NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Saúde Coletiva. Marcela Demitto Furtado; Raquel Gusmão Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James
Oliveira. Prestes e Tiago Stachon; Diretoria de Graduação
Maringá-PR.: Unicesumar, 2019.
152 p.
e Pós-graduação Kátia Coelho; Diretoria de
“Graduação - EAD”. Permanência Leonardo Spaine; Diretoria de
Design Educacional Débora Leite; Head de
1. Saúde. 2. Coletiva. 3. EaD. I. Título.
ISBN 978-85-459-1725-0
Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza
Filho; Head de Metodologias Ativas Thuinie Daros;
CDD - 22 ed. 610 Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie
CIP - NBR 12899 - AACR/2
Fukushima; Gerência de Projetos Especiais Daniel
F. Hey; Gerência de Produção de Conteúdos
Impresso por: Diogo Ribeiro Garcia; Gerência de Curadoria
Carolina Abdalla Normann de Freitas; Supervisão
do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de
Almeida Toledo; Supervisão de Projetos Especiais
Yasminn Talyta Tavares Zagonel; Projeto
Gráfico José Jhonny Coelho e Thayla Guimarães
Cripaldi; Fotos Shutterstock

Coordenador de Conteúdo Lilian Rosana dos


NEAD - Núcleo de Educação a Distância Santos Moraes.
Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação Designer Educacional Amanda Peçanha dos
CEP 87050-900 - Maringá - Paraná Santos e Janaína de Souza Pontes.
unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Revisão Textual Érica Fernanda Ortega.
Editoração Isabela Mezzaroba Belido.
Ilustração Mateus Calmon.
Realidade Aumentada Kleber Ribeiro, Leandro
Naldei e Thiago Surmani.
PALAVRA DO REITOR

Em um mundo global e dinâmico, nós trabalha-


mos com princípios éticos e profissionalismo, não
somente para oferecer uma educação de qualida-
de, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão
integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-
-nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emo-
cional e espiritual.
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois
cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos
mais de 100 mil estudantes espalhados em todo
o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá,
Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de
300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de
graduação e pós-graduação. Produzimos e revi-
samos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil
exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo
WILSON DE MATOS SILVA MEC como uma instituição de excelência, com
REITOR IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os
10 maiores grupos educacionais do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos
educadores soluções inteligentes para as ne-
cessidades de todos. Para continuar relevante, a
instituição de educação precisa ter pelo menos
três virtudes: inovação, coragem e compromisso
com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para
os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as
quais visam reunir o melhor do ensino presencial
e a distância.
Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é
promover a educação de qualidade nas diferentes
áreas do conhecimento, formando profissionais
cidadãos que contribuam para o desenvolvimento
de uma sociedade justa e solidária.
Vamos juntos!
BOAS-VINDAS

Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Co-


munidade do Conhecimento.
Essa é a característica principal pela qual a
Unicesumar tem sido conhecida pelos nossos alu-
nos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é
importante destacar aqui que não estamos falando
mais daquele conhecimento estático, repetitivo,
local e elitizado, mas de um conhecimento dinâ-
mico, renovável em minutos, atemporal, global,
democratizado, transformado pelas tecnologias
digitais e virtuais.
De fato, as tecnologias de informação e comu-
nicação têm nos aproximado cada vez mais de
pessoas, lugares, informações, da educação por
meio da conectividade via internet, do acesso
wireless em diferentes lugares e da mobilidade
WILLIAM DE MATOS SILVA dos celulares.
PRÓ-REITOR EXECUTIVO DE EAD As redes sociais, os sites, blogs e os tablets ace-
leraram a informação e a produção do conheci-
mento, que não reconhece mais fuso horário e
atravessa oceanos em segundos.
A apropriação dessa nova forma de conhecer
transformou-se hoje em um dos principais fatores de
agregação de valor, de superação das desigualdades,
propagação de trabalho qualificado e de bem-estar.
Logo, como agente social, convido você a saber
cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e
usar a tecnologia que temos e que está disponível.
Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg
modificou toda uma cultura e forma de conhecer,
as tecnologias atuais e suas novas ferramentas,
equipamentos e aplicações estão mudando a nossa
cultura e transformando a todos nós. Então, prio-
rizar o conhecimento hoje, por meio da Educação
a Distância (EAD), significa possibilitar o contato
com ambientes cativantes, ricos em informações
e interatividade. É um processo desafiador, que
ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores
oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida
sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que
a EAD da Unicesumar se propõe a fazer.
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você
está iniciando um processo de transformação,
pois quando investimos em nossa formação, seja
ela pessoal ou profissional, nos transformamos e,
consequentemente, transformamos também a so-
ciedade na qual estamos inseridos. De que forma
o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabe-
lecendo mudanças capazes de alcançar um nível
de desenvolvimento compatível com os desafios
que surgem no mundo contemporâneo.
O Centro Universitário Cesumar mediante o
Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompa-
nhará durante todo este processo, pois conforme
Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na
transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem
dialógica e encontram-se integrados à proposta
pedagógica, contribuindo no processo educa-
cional, complementando sua formação profis-
sional, desenvolvendo competências e habilida-
des, e aplicando conceitos teóricos em situação
de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado
de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como
principal objetivo “provocar uma aproximação
entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita
o desenvolvimento da autonomia em busca dos
conhecimentos necessários para a sua formação
pessoal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de
crescimento e construção do conhecimento deve
ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos
pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar
lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Stu-
deo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendiza-
gem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas
ao vivo e participe das discussões. Além disso,
lembre-se que existe uma equipe de professores e
tutores que se encontra disponível para sanar suas
dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de apren-
dizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquili-
dade e segurança sua trajetória acadêmica.
APRESENTAÇÃO

Caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a)!


Este material foi cuidadosamente preparado para você! Tendo como ob-
jetivo introduzir alguns temas da Saúde Coletiva em uma perspectiva
atualizada, buscando ajudá-lo(a) na compreensão acerca da temática e
subsidiar sua prática como Profissional da Saúde.
Este material está dividido em cinco Unidades:
A Unidade 1 busca discutir o binômio saúde-doença, em uma perspectiva
atualizada, discutindo as mudanças e a evolução do conceito de saúde ao
longo dos tempos e os modelos de saúde preventivista e de promoção à
saúde; também discute os fatores condicionantes e determinantes no pro-
cesso saúde-doença e seu impacto na realidade brasileira; e, ainda nesse
sentido, apresenta os modelos de Atenção à saúde no Brasil.
A Unidade 2 trata da História da Saúde Pública no Brasil, tendo como marco
o Sistema Único de Saúde (SUS), descrevendo seu período antecedente, seus
processos de construção, destacando interesses, conflitos e necessidades
sociais que deram origem ao SUS, seus princípios e diretrizes, bem como
as diretrizes do pacto pela Saúde e as Redes de Atenção à saúde.
A Unidade 3 discute Vigilância em saúde, os sistemas de informação em
saúde, indicadores de saúde e os desafios atuais diante do trabalho no
contexto da vigilância.
A Unidade 4 sintetiza as principais políticas de saúde no Brasil, relaciona-
das à Saúde da mulher, da criança, do adulto e idoso, bem como políticas
voltadas às populações vulneráveis e à saúde mental.
Finalmente, a Unidade 5 destaca os objetivos e princípios da Política Na-
cional de Humanização (PNH), bem como suas diretrizes e os dispositivos,
relacionando-os aos direitos e a segurança do paciente, à saúde do traba-
lhador e aos desafios de sua operacionalização no contexto hospitalar.
Nossa intenção não é esgotar o assunto, mas abrir as portas para a ampliação
do seu conhecimento, estimulando novas buscas para que possa enriquecer
sua área de atuação e torná-lo(a) um profissional mais crítico e reflexivo,
capaz de atuar de forma eficiente em seu contexto de trabalho.

Um grande abraço e uma ótima leitura!


CURRÍCULO DOS PROFESSORES

Dra. Marcela Demitto Furtado


Doutora pelo Programa de Pós-Graduação do Departamento de Enfermagem da UEM. Mestre
pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UEM. Pós-graduada em Enfermagem
Pediátrica pelo Departamento de Enfermagem da Universidade Estadual de Londrina - UEL
(modalidade: Residência em Enfermagem em Saúde da Criança). Enfermeira graduada pela
Universidade Estadual de Maringá - UEM (2007). Atualmente é professora adjunta do depar-
tamento de enfermagem da UEM, na área de saúde de criança.
Currículo Lattes disponível em: <http://lattes.cnpq.br/8007832036059597>.

Dra. Raquel Gusmão Oliveira


Doutora pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (2018).
Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Maringá (2005). Graduada em
Enfermagem pela Universidade Estadual de Maringá (2000). Docente do Curso de Medicina
do Unicesumar - Maringá. Tem exercido docência no ensino superior nos últimos 10 anos,
com ênfase em Saúde Coletiva, Saúde da Família e Gestão de Serviços de Saúde.
Currículo Lattes disponível em: <http://lattes.cnpq.br/7567016444404983>.
Saúde e Doença -
uma Perspectiva
Atualizada

13

História da Saúde
Pública no Brasil

41
Vigilância em Saúde

67

Políticas Públicas
de Saúde no Brasil

95

Política Nacional de
Humanização (PNH)

125
55 Redes de Atenção à Saúde

Utilize o aplicativo
Unicesumar Experience
para visualizar a
Realidade Aumentada.
Dra. Raquel Gusmão Oliveira

Saúde e Doença - uma


Perspectiva Atualizada

PLANO DE ESTUDOS

O modelo preventivista e o Os principais determinantes


modelo de promoção à saúde sociais de saúde no Brasil

Conceito de Fatores condicionantes e Organização dos serviços


saúde e doença determinantes no processo de saúde no Brasil
saúde-doença

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Discutir as mudanças e a evolução do conceito de saúde • Compreender o conceito da determinação social na saúde.
e doença. • Apresentar os principais determinantes sociais da saúde
• Conhecer os modelos de saúde preventivista e de pro- e seu impacto na realidade brasileira.
moção à saúde. • Conhecer os modelos de Atenção à saúde no Brasil.
Conceito de Saúde
e Doença

Quando decidimos ser profissionais da área da saú-


de, muitas preocupações vem a nossa mente, nos
preocupamos com as ações de saúde que podemos
realizar, que recursos temos disponíveis, como me-
lhorar a vida das pessoas e como contribuir para
um mundo melhor e com saúde. Isso é muito im-
portante!
Contudo, muito além de nos preocuparmos
com tudo isso, precisamos estar cientes e com-
preender, antes de realizar ou propor qualquer
ação, que por trás de toda ação existe um conceito
ou um modo de entender a realidade, tendo como
pressuposto básico que ela é dinâmica, sujeita a
modificações, influenciadas pela cultura, política
e momento histórico.
Vamos observar, nesta unidade, que, ao longo
da história humana, a saúde das pessoas sempre foi
alvo de preocupação, por isso convidamos você para
dar uma volta na história, tanto antiga quanto atual,
e reconhecer pensamentos e ações acerca da saúde.
O conceito de saúde sofreu mudanças no decor-
rer dos tempos, várias explicações foram dadas e,
ainda hoje, vários entendimentos coexistem quando
buscamos entender o processo saúde-doença.
Entretanto, queremos destacar no texto dois
modelos explicativos acerca do processo saúde-
-doença: um com características biologicistas e partiam do princípio de que ela era resultado de
outro buscando compreender o ser humano de ação de forças alheias ao organismo, eram conse-
forma integral, considerando sua história, cultura, quência de pecado ou de maldição, um sinal de
contexto e estilos de vida. desobediência ao mandamento divino. Tal ideia
Buscamos, também, ampliar o entendimento perdurou por muito tempo e teve seu ápice na
do conceito de saúde e os seus determinantes so- Idade Média (SCLIAR, 2007).
ciais (estilos de vida, rede sociais e comunitárias e Na Idade Média europeia, a influência da reli-
as condições de vida e de trabalho), visando uma gião cristã manteve a concepção da doença como
compreensão da evolução do cenário da saúde da resultado do pecado e a cura como questão de fé; o
população brasileira e da estruturação e organização cuidado de doentes estava, em boa parte, entregue
dos serviços de saúde ao longo dos anos. a ordens religiosas, que administravam, inclusive,
Vamos juntos, então, nos aproximar desse uni- o hospital, o qual era visto não como um lugar de
verso de conhecimento tão fundamental para o cura, mas de abrigo e de conforto para os doentes
trabalho de um profissional da saúde. (SCLIAR, 2007).
Para começar, gostaria de fazer uma pergunta:
– O que significa ter saúde para você? Pense nisso
por alguns minutos… A Unicausalidade
Pergunte para algumas pessoas próximas a você:
o que é ter saúde? No início da modernidade, a concepção religiosa
Agora, compare as respostas. Você, certamente, foi superada devido ao desenvolvimento do co-
vai perceber que a ideia de saúde entre as pessoas é nhecimento na época. A evolução da mecânica
diferente, cada uma possui um entendimento acerca influenciou as ideias de René Descartes (1596-
do que é ter saúde. 1650), no século XVII, que postulava um dualismo
Ao longo da história, muitas explicações foram mente-corpo e o funcionamento do corpo como
dadas acerca do que é ter saúde ou estar doente: as uma máquina. Com o desenvolvimento da ana-
explicações mágico-religiosas, a explicação natu- tomia, identificou-se que a doença era localizada
ralística, o olhar bacteriológico, a explicação mul- nos órgãos (SCLIAR, 2007). No final do século
ticausal e a produção social da saúde e da doença. XIX, os estudos de Louis Pasteur (1822-1895) e a
Vejamos um pouco dessas explicações. descoberta do microscópio revelou a existência de
micro-organismos causadores de doença, possibi-
litando a introdução de soros e vacinas.
As Explicações Foi uma revolução, pois, pela primeira vez, fa-
Mágico-religiosas tores causais, até então desconhecidos, estavam
sendo identificados; as doenças, agora, poderiam
Na Antiguidade, acreditava-se que as doenças ser prevenidas e curadas. Para cada doença, um
poderiam ser causadas por elementos naturais agente etiológico deverá ser identificado e com-
ou sobrenaturais. Nesse período, a compreensão batido por meio de vacinas ou produtos químicos
das doenças era por meio da filosofia religiosa, (SCLIAR, 2007).

UNIDADE 1 15
A Multicausalidade

A insuficiência da formulação unicausal só ficou evidente no início


do séc. XX, devido ao processo de mudanças ocorridas na sociedade
e na insuficiência de dar explicações sobre a saúde e a doença das
pessoas e das comunidades, bem como o efeito da transição epide-
miológica - fenômeno no qual evidencia a diminuição de doenças
infecciosas e o aumento de doenças crônicas degenerativas, em que
o homem passa a ser considerado como um ser biopsicossocial.
Nesse sentido, a saúde e a doença são reconhecidas como o
equilíbrio e/ou desequilíbrio entre o ambiente, o agente e o hos-
pedeiro, envolvendo dimensões subjetivas e não apenas biologica-
mente científicas e objetivas. No entanto, a crítica a tal explicação
se dá ao fato de não considerar as variações das doenças verificadas
historicamente, em relação ao seu aparecimento e desaparecimen-
to, aumento ou diminuição de sua frequência, da menor ou maior
importância, que adquirem nas variadas formas de organização
social (BACKES et al., 2009).
Uma nova proposta de consenso sobre saúde ocorreu em 7 de
abril de 1948 (desde então, o Dia Mundial da Saúde), implicando
o reconhecimento do direito à saúde e da obrigação do Estado na
promoção e proteção da saúde. “Saúde é o estado do mais com-
pleto bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de
enfermidade” (SCLIAR, 2007).
O conceito da Organização Mundial da Saúde (OMS) reflete,
de um lado, uma aspiração nascida dos movimentos sociais do
pós-guerra: o fim do colonialismo, a ascensão do socialismo. Saúde
deveria expressar o direito a uma vida plena, sem privações, um
conceito amplamente difundido, mas que carrega em si um estado
inatingível de equilíbrio em um cenário de neutralidade, que o
torna pouco operacional e prático (BACKES et al., 2009).

O livro de Moacyr Scliar, intitulado Do Mágico ao Social: trajetória da


saúde pública, apresenta, de uma forma mais detalhada, os caminhos
percorridos pela condição humana no contexto da saúde e da doença,
em uma perspectiva histórica, apontando olhares e características das
matrizes do pensamento sobre o paradoxo saúde-doença.

16 Saúde e Doença - uma Perspectiva Atualizada


A Produção Social
da Saúde e da Doença

Um novo paradigma surge diante da crise de Para que uma população possa ser saudável,
desenvolvimento das sociedades modernas: o no paradigma da história social da saúde, é ne-
reconhecimento de que tudo o que existe é pro- cessário: paz (contrário de violência); habitação
duto da ação humana. adequada em tamanho por habitante, em condi-
A saúde de um indivíduo, de um grupo de indi- ções adequadas de conforto térmico; educação,
víduos ou de uma comunidade, depende, também, pelo menos fundamental; alimentação imprescin-
de coisas que o homem criou e faz, das interações dível para o crescimento e desenvolvimento das
dos grupos sociais, das políticas adotadas pelo go- crianças e necessária para a reposição da força de
verno, inclusive os próprios mecanismos de aten- trabalho; renda decorrente da inserção no mer-
ção à doença, do ensino voltado para os cursos da cado de trabalho, adequada para cobrir as neces-
área da saúde, da educação e das intervenções sobre sidades básicas de alimentação, vestuário e lazer;
o meio ambiente (SANTOS; WESTPHAL, 1999). ecossistema saudável preservado e não poluído;
Nesse sentido, Santos e Westphal (1999) res- justiça social e equidade, garantindo os direitos
saltam que ter saúde não pode ser apenas não fundamentais dos cidadãos (DE OTAWA, 1986).
estar doente, significa, também, a possibilidade No Brasil, o movimento de Reforma Sanitária,
de atuar, de produzir a sua própria saúde, quer articulado nos anos 80, formulou um “conceito
mediante cuidados tradicionalmente conheci- ampliado de saúde” e passou a entendê-la como
dos, quer por ações que influenciam o seu meio um estado resultante das condições de alimenta-
– ações políticas para a redução de desigualdades, ção, habitação, educação, renda, meio ambiente,
educação, cooperação intersetorial, participação trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade,
da sociedade civil nas decisões que afetam sua acesso à terra e aos serviços de saúde, apontan-
existência – para, usando uma expressão bem do, assim, para a determinação social e cultural
conhecida, o exercício da cidadania. da saúde e da doença.

Para operar com o conceito ampliado de saúde, precisamos pensar na saúde como um processo em
detrimento da concepção de saúde como um atributo (tenho/não tenho).
(Stela Nazareth Meneghel)

UNIDADE 1 17
O Modelo
Preventivista
e o Modelo de
Promoção à Saúde

É possível verificar que o conceito de saúde foi


influenciado, no decorrer dos tempos, por ques-
tões sociais, culturais e econômicas. Vale destacar
que as ações de saúde e a forma de organização da
assistência também acompanham as mudanças
do conceito de saúde.
Na tentativa de explicar essas mudanças, di-
versos autores propuseram modelos explicativos
do processo saúde-doença. Vejamos dois deles:
o modelo de Atenção à Saúde Preventivista e o
Modelo da Promoção à Saúde.

O Modelo Preventivista

O modelo preventivista surge devido à crise do


capitalismo e à incapacidade dos governos de ar-
carem com os custos da saúde no contexto médi-
co hospitalar, com base na proposta de Leavell e
Clarck do modelo da história natural da doença
(evolução natural da doença).

18 Saúde e Doença - uma Perspectiva Atualizada


Quadro 1 - Modelo da História Natural da Doença

Recuperação,
Período pré-patogênese Patogênese precoce Patogênese avançada
incapacidade ou morte

Doença subclínica Doença com manifes-


Interação entre agente e tação clínica
Horizonte clínico
hospedeiro Ultrapassagem do ho-
Alterações celulares rizonte clínico
Prevenção primária Prevenção secundária Prevenção terciária
Promoção Proteção
Diagnóstico Precoce Limitação do dano Reabilitação
à saúde específica

Fonte: Meneghel (2015).

O modelo pressupõe que toda doença tem um percurso natural


de pré-patogênese, patogênese e de recuperação, e que, para cada
momento da história natural da doença, preconiza ações sanitárias
que correspondem aos três níveis de prevenção: primário, secun-
dário e terciário (MENEGHEL, 2015).
No período pré-patogênico, os agentes causadores de doenças
e o indivíduo vivem em equilíbrio com o ambiente. No perío-
do patogênico, inicialmente, não há sinais e sintomas da doença,
também chamado de período de incubação, só então aparecem
as manifestações clínicas da doença, que podem evoluir para re-
cuperação, incapacidade ou morte.
As intervenções nos diferentes estágios da doença são chama-
das de prevenção primária, secundária e terciária e têm como obje-
tivo prevenir doenças ou seu agravamento. As ações de prevenção
primária podem ser medidas gerais e educativas de resistência
e bem-estar geral dos indivíduos; as de prevenção secundária
buscam a redução de fatores de risco; e as de prevenção terciária
reduzem e intervêm nas sequelas de doenças.
A crítica a esse modelo se dá pelo fato dele não considerar os
efeitos positivos e negativos das condições de vida e de trabalho e
a inserção social dos indivíduos nos níveis de saúde da população,
o que reduz o conceito de saúde como estritamente biológico, ig-
norando a dimensão social que envolve o processo saúde-doença
(MENEGHEL, 2015).

UNIDADE 1 19
O Modelo de Promoção
à Saúde

Com as mudanças ocorridas na sociedade pós- destacar a I Conferência Internacional de Pro-


-guerra, os estudiosos descreveram um fenômeno moção à Saúde, realizada no Canadá, em 1986,
denominado de transição demográfica e epidemio- que redigiu a Carta de Otawa, a qual propõe um
lógica no mundo todo. conceito amplo de saúde, relacionando-a ao bem-
Tal fenômeno apontou para incapacidade do -estar dos indivíduos e na ampla causalidade do
Modelo da história natural da doença dar expli- processo saúde doença, em que a saúde é consi-
cações para várias doenças e agravos, como as derada um recurso para a vida e não objetivo de
doenças crônicas, os acidentes, a crescente violên- vida (WESTPHAL, 2012).
cia, entre outros. Diante disso, diversas propostas Em uma visão ampliada da saúde, considera-se
foram elaboradas no sentido de buscar uma visão os fatores socioambientais na produção e determi-
e atenção mais integral da saúde. nação da saúde e da doença, sendo que a promoção à
Discussões acerca do tema “saúde integral” saúde prevê uma visão holística e socioambiental do
foram realizadas no cenário Internacional. A mesmo processo, colocando-se como uma prática
Conferência realizada em Alma-Ata, em 1978, é emancipatória e um imperativo ético, com foco no
considerada um marco para a discussão de uma cidadão, na família, na coletividade, nas condições
visão de saúde integral, pois reconhece, em seu de vida, nas iniquidades e potencialidades do territó-
relatório, que a saúde é um direito; também vale rio em que vivem e trabalham (WESTPHAL, 2012).

A teoria da transição epidemiológica, proposta por Omran (1971), foca nas complexas mudanças
dos padrões saúde-doença e nas interações entre eles, determinantes demográficos, econômicos e
sociais, e suas consequências. As ideias a seguir destacam em sua teoria:
I. O processo de mudanças nos padrões de mortalidade e adoecimento são longos, as pandemias
por doenças infecciosas são gradativamente substituídas pelas doenças degenerativas e agravos.
II. As mais profundas mudanças nos padrões de saúde-doença ocorrem nas crianças e nas mu-
lheres jovens.
III. As mudanças são fortemente associadas às transições demográfica e socioeconômica que cons-
tituem o complexo da modernização.
IV. As variações peculiares no padrão, no ritmo, nos determinantes e nas consequências das mu-
danças na população diferenciam três modelos básicos de transição epidemiológica: o modelo
clássico ou ocidental, o modelo acelerado e o modelo contemporâneo ou prolongado.
Fonte: Duarte e Barreto (2012).

20 Saúde e Doença - uma Perspectiva Atualizada


Quadro 2 - Visão socioambiental da saúde, determinantes
e estratégias e programas de saúde
Conceitos Bem-estar biopsicossocial.
de saúde Necessidades de saúde.
Determi-
nantes de Condições de riscos diversas.
saúde
Ação política, espaços sau-
dáveis, empoderamento da
Estratégias população, desenvolvimento
de habilidades e reorientação
de serviços.
Desenvol-
vimento Comunidade em diálogo crítico
de progra- com profissionais e agências.
mas
Fonte: Westphal (2012).

A agenda 2030 da ONU prevê 17 medidas para


a transformação do mundo, a terceira trata da
saúde - Assegurar uma vida saudável e promover
o bem-estar para todos, em todas as idades.
A promoção de saúde é considerada uma estra-
tégia fundamental para enfrentar as iniquidades
sociais e de saúde. Juntamente com outras 16
medidas, dando a ideia de um conceito ampliado
de saúde.
(Organização das Nações Unidas)

UNIDADE 1 21
Fatores Condicionantes
e Determinantes do
Processo Saúde-Doença

Porque as pessoas adoecem?


Desde as primeiras investigações acerca da saú-
de de grupos e populações, foi possível identificar as
diferenças sociais existentes das condições de vida
e da situação de trabalho, dentre estas destacam-se
Engels, que investigou os trabalhadores ingleses;
Snow, que descobriu a cólera em Londres; Louis,
trabalhadores na França; e Virchow, o Tifo na Si-
lésia, ressaltando o excesso de risco de adoecer e
morrer entre as camadas mais pobres da população
(BARATA, 2012).
Na América Latina, estudos sobre desigualdades
sociais e saúde são recentes, datam da segunda meta-
de do século XX, surgindo devido às consequências
da globalização sobre as condições de vida e a situa-
ção de saúde dos povos sob a ótica da exclusão social.
O Processo Saúde Doença – está diretamente
atrelado à forma como o ser humano, no decor-
rer de sua existência, apropria-se da natureza para
transformá-la, buscando o atendimento às suas ne-
cessidades, representando um conjunto de relações
e variáveis que produz e condiciona o estado de
saúde e doença de uma população, que se modifica
nos diversos momentos históricos e do desenvol-
vimento científico da humanidade; não sendo um

22 Saúde e Doença - uma Perspectiva Atualizada


conceito abstrato, ele varia segundo a época em que vivemos, assim como os interesses dos diversos grupos
sociais (GUALDA; BERGAMASCO, 2004).
Diante disso, é necessário conhecer os determinantes mais complexos do comportamento humano,
além das condições materiais de vida, para que seja possível a efetivação das práticas de promoção e
prevenção da saúde e a diminuição das desigualdades, visto que o Brasil ocupa a 11ª posição entre os
lugares mais desiguais do mundo (COMISSÃO NACIONAL, 2008, on-line)2.
Há uma vasta literatura sobre aspectos concei-
tuais e modelos de referência relacionados aos de-
terminantes sociais e iniquidades em saúde.
A Comissão Nacional de Determinantes So-
ciais de Saúde os define como “fatores sociais, eco- Desigualdades sociais em saúde
nômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e Diferença na inserção social dos indivíduos, re-
comportamentais que influenciam a ocorrência partição do poder e propriedade.
de problemas de saúde e seus fatores de risco na Positiva = valores de cooperação e solidariedade.
população” (BUSS; PELLEGRINI FILHO, 2007, p. Negativa = exploração, dominação e produção
78). E adotou o modelo de determinação social de doença.
da saúde proposto por Dahlgren e Whitehead (Rita Barradas Barata)
(WESTPHAL, 2012).
as, Culturais e A
e co nômic mbi
cio ent
o ais
esS Condições de Vida eG
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d e de Trabalho a
on Ambiente Desemprego i
s
C

de Trabalho
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s Soci itár Água e
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Re a dos Ind
Educação
de Vid iv íd
los Serviços
uo
ti

Sociais de
Es

Produção
s

Saúde
Agrícola de
Alimentos Idade, Sexo e Habitação
Fatores hereditários

Figura 1 - Modelo de determinação social da saúde proposto por Dahlgren e Whitehead


Fonte: Comissão Nacional (2008, on-line)2.

O modelo entende que a saúde compreende três ções concretas da existência que irão resultar nas
dimensões: a biológica, a social e cultural (BA- manifestações fenotípicas, como a idade/sexo e
RATA, 2012). fatores hereditários X estilo de vida. Na dimen-
A dimensão biológica compreende as caracte- são social, inclui os grupos sociais e as formas
rísticas biológicas marcadas pela interação genó- de consciência e condutas resultantes de suas
tipo-fenótipo, ou seja, a genética e a modulação interações, bem como a forma de constituição
das potencialidades são herdadas pelas condi- dessas comunidades.

UNIDADE 1 23
A dimensão cultural inclui as condições de biente de poluição, acesso à informação e
vida e de trabalho e suas formas de organização serviços de saúde e seu impacto nas con-
que compreende as condições socioeconômicas, dições de saúde dos diversos grupos da
culturais e ambientais gerais. população.
O relatório da Comissão Nacional de determi- 4. Redes sociais, comunitárias e saúde:
nantes sociais de saúde (COMISSÃO NACIONAL, inclui evidências sobre a organização co-
2008, on-line)2, ao analisar a situação de saúde de munitária e redes de solidariedade e apoio
uma população, relacionando os Determinantes para a melhoria da situação de saúde, des-
sociais de saúde, considera os seguintes itens: tacando, particularmente, o grau de de-
1. Situação e tendências da evolução de- senvolvimento dessas redes nos grupos
mográfica, social e econômica do país: sociais mais desfavorecidos.
traça um panorama geral de referência 5. Comportamentos, estilos de vida e saú-
para a análise da situação de saúde, des- de: inclui evidências existentes no Brasil
crevendo a evolução desses macrodeter- sobre condutas de risco, como hábito de
minantes, particularmente nas últimas fumar, alcoolismo, sedentarismo, die-
quatro décadas. Inclui dados sobre cresci- ta inadequada, entre outros, segundo os
mento populacional, fecundidade, morta- diferentes estratos socioeconômicos da
lidade, migrações, urbanização, estrutura população.
do mercado de trabalho, distribuição de 6. Saúde materno-infantil e saúde indí-
renda e educação. gena: por sua importância social e por
2. A estratificação socioeconômica e a saú- apresentarem necessidades específicas de
de: apresenta a situação atual e tendências políticas públicas, são dedicadas seções
da situação de saúde no país, destacando especiais sobre saúde materno-infantil e
as desigualdades de saúde segundo va- saúde indígena.
riáveis de estratificação socioeconômica,
como renda, escolaridade, gênero e local Além disso, podem ser incluídos: saúde e am-
de moradia. biente nas grandes cidades; seguridade social e
3. Condições de vida, ambiente e traba- saúde; cultura e promoção da saúde; distribuição,
lho: apresenta as relações entre situação acesso e utilização de serviços de saúde em áreas
de saúde e condições de vida, ambiente urbanas; violência e saúde; iniciativas comunitá-
e trabalho, com ênfase nas relações entre rias de promoção e proteção da saúde; desempre-
saneamento, alimentação, habitação, am- go e saúde, entre outros.

A COMISSÃO NACIONAL SOBRE OS DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE foi criada, em 2006, para
produção de conhecimentos e informações sobre os determinantes sociais e de saúde (DSS), bem
como revisão e análise de políticas e programas de intervenção sobre os DSS e comunicação sobre
a importância e possibilidades de atuação sobre eles.
Fonte: Comissão Nacional (2008, on-line)2.

24 Saúde e Doença - uma Perspectiva Atualizada


Os Principais
Determinantes
Sociais de Saúde
no Brasil

E a saúde do Brasil, como vai?


A situação de saúde, vida e trabalho da po-
pulação brasileira vem passando por grandes
transformações nas quatro últimas décadas, in-
fluenciadas pelas mudanças econômicas, sociais
e demográficas ocorridas no país, é o que mostra
o Relatório elaborado pela Comissão Nacional
sobre os Determinantes Sociais da Saúde.
A seguir, elaboramos uma síntese com base
no Relatório, destacando os principais aspec-
tos que marcam a evolução demográfica, social
e econômica relacionadas à saúde, questões de
vida, ambiente e trabalho, as redes sociais e o
comportamento e estilo de vida dos brasileiros,
agrupados em três grandes itens: 1) Tendências
demográfica, social e econômica; 2) Redes socias,
e 3) Condições de vida e de saúde (COMISSÃO
NACIONAL, 2008, on-line)2.

UNIDADE 1 25
1. Tendências demográficas, social e 2006, é 9 anos inferior ao do Japão, país com a maior
econômica expectativa de vida ao nascer em todo o mundo.
O crescimento rápido do peso relativo dos ido-
A urbanização foi apontada como um fator impor- sos tem um impacto importante na economia e
tante de mudanças, em que, a partir da década de na sociedade, obrigando a definição de políticas
70, influenciada pela industrialização, promoveu públicas que possam fazer frente a esse fenômeno
mudanças no setor econômico e na forma de viver sem paralelo na experiência mundial.
das pessoas que, saindo do campo para viver na ci- O Brasil gasta 7% do Produto Interno Bruto
dade, buscavam trabalho e melhores condições de (PIB) em saúde, cerca de 530 dólares per capita,
vida; no entanto, a oferta de infraestrutura e servi- abaixo de Argentina (US$ 1.045), Chile (US$ 827)
ços urbanos não acompanhou a grande demanda, e Uruguai (US$ 781), para citar alguns países do
a tal ponto que, em 1980, havia 38,2 milhões de Cone Sul.
moradores em domicílios urbanos inadequados.
O PIB per capita passou de 2.060 dólares, em 2. Redes sociais
1960, para 5.250, em 2000 e 5.720, em 2006. En-
tretanto, esse extraordinário aumento da riqueza Diversos estudos mostram que não são as socie-
produzida e a modernização da economia não dades mais ricas que possuem melhores níveis
significaram melhoria na distribuição e urbaniza- de saúde, mas as que são mais igualitárias e com
ção; o crescimento do transporte e das indústrias, alta coesão social. Nessas sociedades, as pessoas
assim como a expansão da fronteira agrícola, cria- são mais envolvidas com a vida pública, vivem
ram as condições propícias para uma permanente mais, são menos violentas e avaliam melhor sua
exposição de contingentes populacionais, pro- própria saúde.
gressivamente maiores à poluição atmosférica e Um importante indicador da riqueza do ca-
dos corpos hídricos. pital social é relação de confiança entre as pes-
Alterações na fecundidade: a taxa média geo- soas. Segundo dados da Pesquisa Social Brasileira
métrica de crescimento anual da população pas- (PSB), que realizou 2.363 entrevistas entre julho
sou de 2,89%, no período 1960/1970, para 1,64%, e outubro de 2002, as relações de confiança, no
no período 1991/2000. A taxa de fecundidade, que Brasil, são extremamente débeis, praticamente
se mantinha estável desde 1940, passou a cair de limitando-se à confiança em familiares; enquanto
maneira acelerada a partir de 1960. 84% das pessoas confiam na família, apenas 15%
Envelhecimento da população e aumento da confiam na maioria das pessoas.
expectativa de vida: a proporção de jovens de 0 a
14 anos que era de 42,6%, em 1960, passou para 3. Condições de vida e de saúde
30%, em 2000, e deverá atingir 18% em 2050, en-
quanto que a de idosos maiores de 65 anos, que Os índices de cobertura dos serviços de água e
era de 2,7%, em 1960, passou para 5,4%, em 2000, esgoto, no período de 1999 a 2004, têm aumentado.
e no ano de 2050 deverá superar a de jovens, al- Entretanto, enquanto nas regiões Sul e Sudeste, res-
cançando 19%. pectivamente, 83% e 91% da população estava co-
Quanto à esperança de vida ao nascer, houve um berto pela rede geral de abastecimento de água, na
ganho de mais de 20 anos, entre 1960 e 2006, para região Norte, a cobertura desses serviços alcançava
o Brasil como um todo. O valor de 72,4 anos, em apenas 54,8% da população, e no Nordeste 72%. Es-

26 Saúde e Doença - uma Perspectiva Atualizada


tudos apontam para o fato que 53% da população No entanto, o relatório aponta que, apesar des-
brasileira ainda não teria acesso a um saneamento ses inegáveis avanços na produção de serviços e
adequado, e no atual ritmo de ampliação do acesso dos princípios de universalidade e equidade que
à universalização só se daria em 115 anos. regem o SUS, ainda se observam importantes de-
Quanto à educação, em 1940, 56% da popula- sigualdades na oferta de recursos e serviços, assim
ção brasileira era analfabeta, percentual que cai como uma forte influência da posição social dos
para 40%, em 1960, e 13,6%, no ano 2000. No nível indivíduos no acesso, utilização e qualidade dos
fundamental, a cobertura é quase universal, en- serviços de saúde.
tre 7 a 14 anos em todas as regiões, tanto na área Quanto à situação de saúde, a taxa de mor-
urbana como rural; já no ensino médio, a taxa talidade infantil (TMI), que era de 124 óbitos no
de frequência entre 15 a 17 anos ainda é bastan- primeiro ano de vida para cada mil nascidos vivos,
te baixa para o Brasil como um todo; no ensino em 1960, caiu para 48,3, em 1990; 35,26, em 2000;
superior, é possível observar que quanto maior a e 25,1, em 2006.
renda, maior é o acesso ao ensino superior público A proporção de mortes de menores de um
em todas as regiões. ano de idade, sobre o total de óbitos, reduziu-se
Os efeitos do nível de instrução se manifestam de 24%, em 1980, para 5%, em 2005, variando de
das mais diferentes formas: na percepção dos 11,3%, na Região Norte, a 3,4%, na Região Sul. Em
problemas de saúde; na capacidade de entendi- 2003, 58% dos óbitos informados ocorreram na
mento das informações sobre saúde; na adoção faixa de 60 ou mais anos de idade, com variações
de estilos de vida saudáveis; no consumo e uti- de 43%, na Região Norte, a 62%, na Região Sul.
lização dos serviços de saúde; e na adesão aos Quanto à mortalidade masculina e a feminina,
procedimentos terapêuticos. entre 1960 e 2006, a sobremortalidade masculina
O acesso equitativo aos serviços de saúde é de cresceu acentuadamente, principalmente na faixa
grande importância para a qualidade de vida e de dos 20 aos 24 anos de idade: em 1960, a chance de
saúde de um país; os números do SUS impressio- um homem com 20 anos de idade morrer antes
nam pela magnitude. No ano de 2005, foram reali- de passar para o grupo etário seguinte (25 a 29
zadas cerca de 450 milhões de consultas médicas; anos) era 1,1 vez maior que a de uma mulher do
11,8 milhões de internações; 2,6 milhões de partos; mesmo grupo etário.
250 milhões de exames laboratoriais; 40 milhões Em 2006, a chance masculina, na mesma com-
de vacinações; 80 mil cirurgias cardíacas e 20 mil paração com a chance feminina, no mesmo grupo
transplantes de órgãos. etário (20 a 24 anos), aumentou para 4,1 vezes. A
O Programa de saúde da família, iniciado em principal causa do aumento da sobremortalidade
1994, conta, em 2008, com cerca de 27,5 mil equi- masculina são os óbitos por causas externas (ou
pes (mais de 150 mil profissionais) atuando em violentos).
5.131 municípios (92% do total de municípios Nas regiões Sudeste e Sul, pela primeira vez, a
brasileiros, com cobertura de 44% da população). mortalidade por doenças cardiovasculares superou
O Programa Nacional de Imunização (PNI) al- a mortalidade por doenças infecciosas, o que viria
cançou uma cobertura praticamente universal a ocorrer nas Regiões Norte, Nordeste e Centro-
em menores de um ano de idade, a partir de 1999, -Oeste duas décadas depois, durante os anos 80.
quando chegou a 94,7%, enquanto que, em 1978, Observa-se um processo de transição nutri-
atingia somente 40% das crianças. cional, que consiste na substituição de um pa-

UNIDADE 1 27
drão alimentar, baseado no consumo de cereais, sequências contribuem para o agravamento dos
feijões, raízes e tubérculos, por uma alimentação problemas sociais que o país enfrenta.
mais rica em gorduras (especialmente hidroge- No Brasil, verifica-se a presença de algumas
nadas) e açúcares, além da crescente ingestão de doenças já controladas em países desenvolvidos,
ingredientes químicos, aumentando o risco de como a silicose e outras pneumoconioses, enve-
sobrepeso e obesidade, aparecimento de doenças nenamento por chumbo, asbestose, síndrome do
crônicas e incapacidades. túnel do carpo, doenças dermatológicas causadas
Os fatores relacionados a comportamentos e por compostos químicos, além dos sintomas e
estilos de vida, como tabagismo, baixo consumo desordens mentais relacionadas ao stress, como
de frutas, de legumes e de verduras e o consumo a síndrome do Burnout.
de álcool são os principais fatores de risco para A poluição também é uma preocupação, devi-
morte por câncer em países de baixa e média ren- do aos efeitos adversos sobre a saúde das popula-
da, o que é o caso brasileiro. ções expostas. Estima-se que o número de mortes
Estima-se que o tabagismo seja responsável causadas por problemas decorrentes da poluição
por 18% das mortes por câncer; o baixo consumo atmosférica no mundo é de cerca de 3 milhões por
de frutas, legumes e verduras por 6%; e o consumo ano, o que representa 5% do total de 55 milhões
de álcool por 5%. de mortes que ocorrem anualmente no mundo.
A saúde do trabalhador também é uma preo- Em algumas populações, cerca de 30% a
cupação, pois os problemas de saúde dos traba- 40% dos casos de asma e 20% a 30% de todas as
lhadores estão intimamente relacionados com o doenças respiratórias podem ser relacionadas à
grau de desenvolvimento alcançado por um país poluição atmosférica. Outros efeitos referem-se
ou uma região. a perdas econômicas, aumento no absenteísmo
A esses problemas se associam o deteriora- escolar, dias de trabalho perdidos e nebulizações.
mento das condições de trabalho e crescentes da- Busque saber sobre os membros da Comis-
nos ambientais. Os acidentes de trabalho são um são Nacional de Determinantes Sociais de Saú-
dos subprodutos dessas tendências, juntamente de (CNDSS) e reflita sobre a importância da
com uma grande carga de doenças profissionais diversidade de olhares sobre os determinantes
e doenças relacionadas ao trabalho, cujas con- de saúde.

Para saber mais e se inteirar, acesse o relatório da comissão nacional sobre os determinantes sociais
da saúde, intitulado “As causas sociais das iniquidades em saúde no Brasil”.
Fonte: Comissão Nacional (2008, on-line)2.

28 Saúde e Doença - uma Perspectiva Atualizada


Organização dos Serviços
de Saúde no Brasil

É possível observar as mudanças ocorridas nas


condições de vida e de saúde da população bra-
sileira, condicionadas aos fatores econômicos,
socioculturais e políticos, ao longo dos anos.
Agora, quando tomamos como foco os servi-
ços de saúde no Brasil, é possível observar mudan-
ças significativas no decorrer dos anos, do mesmo
modo, influenciados por fatores econômicos, so-
cioculturais e políticos.
Diversos autores fazem análises e escrevem
sobre o sistema de saúde brasileiro, mas tomamos
por referência a análise de Carvalho, Martin e
Cordoni Jr (2001), os quais identificaram quatro
tendências: Sanitarismo Campanhista, período de
Transição, Modelo médico assistencial privatista
e o Modelo plural.
Vejamos um pouco de cada uma dessas ten-
dências.

UNIDADE 1 29
1. Sanitarismo Campanhista de trabalhadores e empregados da gestão pela cres-
cente influência da indústria farmacêutica, médico
Tal tendência vigorou no país do início do século hospitalares e os proprietários de hospitais.
XX até 1945 e recebeu esse nome porque tinha,
nas campanhas sanitárias, sua principal estratégia 3. Modelo médico assistencial privatista
de saneamento.
O Brasil tinha sua economia baseada na agri- O modelo médico assistencial privatista marca o
cultura e na exportação do café; o comércio e o es- período entre 1960 a 1980, caracterizado pela prá-
paço nos portos era prioridade, devendo ser livre tica médica curativa, individual, assistencialista e
de doenças e saneados. Devido a isso, o sistema de especializada em detrimento da saúde pública e
saúde adotado foi o modelo das campanhas sanitá- a criação com intervenção estatal de um comple-
rias, com foco no combate das endemias urbanas e xo médico privado, organizando o estado como
rurais. A assistência individual era privada, hospitalar financiador, o setor privado nacional como pres-
com caráter de assistência social e as Santa Casas de tador de serviços e o setor privado internacional
Misericórdia atendiam quem não podia pagar. como produtor de insumos.
Em 1923, com a Lei Elói Chaves, surge a as- O Brasil vivia o período da ditadura militar,
sistência previdenciária no país e a criação das marcado por atos institucionais e decretos pre-
Caixas de Aposentadoria e Pensão nas empresas sidenciais de cunho arbitrário e que alteravam
de estradas de ferro para os empregados, as quais direitos de cidadania, informação, organização
ofereciam benefícios de aposentadorias e pen- social e política.
sões, assistência médica e farmacêutica; logo em A saúde, que estava ligada à assistência social,
seguida, os portuários e marítimos criaram seus tem sua ampliação na década de 70, com a cober-
Institutos de Previdência, nascendo uma nova tura para os trabalhadores rurais, as empregadas
estrutura de previdência social por categoria de domésticas e os trabalhadores autônomos domés-
trabalhadores, denominadas de Institutos de Apo- ticos. Em 1974, cria-se o Ministério da Previdência
sentadorias e Pensão (IAP). e Assistência Social, que atua no atendimento mé-
Em 1930, o ministério da Educação e Saúde dico assistencial individualizado e o Ministério da
passa a coordenar as ações de saúde coletiva. Saúde se volta ao atendimento coletivo e vigilância
sanitária.
2. Período de Transição Com a crise econômica no final da década de
70, foi impulsionado o Movimento da Reforma
Esse período é compreendido entre 1945 a 1960, Sanitária que discutia reformas nas políticas de saú-
marcado pelo pós-guerra e a crise previdenciária. de, surgindo as ideias de medicina comunitária e
Nesse período, a previdência social passa a ter o conceito de Atenção Primária à Saúde (OMS).
grande importância e a ser utilizada como instru- O Movimento da Reforma Sanitária ajuda a
mento político; também foi nesse período que o fortalecer o processo de Transição democrática,
Ministério da Saúde foi criado (1953). ocorrido em 1984 com a 8° conferência Nacional
Ocorre, também, a unificação dos Institutos de Saúde, em 1986, em que se discutiu a criação
(IAPs), em 1967, e a criação do Instituto Nacional do Sistema Único de Saúde (SUS) e culminou
de Previdência Social (INPS), marcada pela exclusão com sua promulgação na Constituição em 1988.

30 Saúde e Doença - uma Perspectiva Atualizada


4. Modelo plural

A partir de 1988, o Sistema Único de Saúde (SUS) Em síntese, gostaria de trazer o pensamento de
foi incluído ao sistema de saúde brasileiro privado, Cohn (2012) acerca da política de saúde brasileira,
garantindo acesso universal e igualitário às ações e o qual considera que tanto sua configuração e
serviços de saúde a todos os brasileiros, colocando implementação são processos complexos de jo-
a saúde como direito de todos e dever do estado. gos de interesses e valores múltiplos existentes
O setor lucrativo privado de atenção médica na sociedade e que, em nossa sociedade desigual,
supletiva, que iniciou-se em 1954, fortalece na dé- as políticas sociais e de saúde devem priorizar os
cada de 80 pela precariedade dos serviços públicos, segmentos socialmente mais vulneráveis, com a
criando, assim, a medicina de grupo, as cooperati- lógica da universalização, integralidade e da equi-
vas médicas, e os seguro saúde. Regulamentados dade da atenção à saúde, o que depende tanto
e fiscalizados pelo Estado, aliado ao setor não lu- da vontade política dos governantes quanto da
crativo, as instituições filantrópicas (Santas Casas) sociedade, para que os direitos sociais se consti-
configuram o sistema de saúde atual brasileiro. tuam como uma realidade marcada com maior
justiça social.
Ao prestar a assistência ao indivíduo, à família
ou à comunidade, deve ser considerado quem é
Para saber mais da história do sistema brasileiro ou quem são os usuários, como se apresentam na
de saúde, leia o texto de Paim et al(2011) “O situação de necessidade de saúde, seus direitos,
sistema de saúde brasileiro: história, avanços deveres, valores e prerrogativas. O ser humano é
e desafios”, disponível em: <http://download. complexo e não há como abranger sua totalidade
thelancet.com/flatcontentassets/pdfs/brazil/ por uma única definição. Mesmo que a pessoa seja
brazilpor1.pdf>. Acesso em: 19 out. 2018. considerada um ser biopsicossocial e espiritual,
O artigo, publicado em 2011 pelo periódico The não consegue expressar toda sua individualidade
Lancet, faz parte de uma série de publicações que e singularidade. Os profissionais da saúde apren-
analisam as melhorias nas condições de saúde e dem sobre estrutura e função humana por meio
na expectativa de vida da população brasileira. do estudo da anatomia, da fisiologia, da psicolo-
Nesse artigo, é apresentado um panorama das gia, da sociologia e da patologia, além das várias
principais conquistas e desafios relativos às maneiras de assistir, de abordar e se relacionar
políticas públicas de saúde no Brasil, com especial profissionalmente com o indivíduo, a família ou
destaque ao Sistema Único de Saúde (SUS). a comunidade.

UNIDADE 1 31
Não podemos nos esquecer de que o am- de parte significativa da sociedade para assegu-
biente é o local onde a pessoa se encontra com rar a dignidade da vida humana.
as coisas ao seu redor e que exercem nela in- Cabe aos profissionais da saúde rever em sua
fluências, afetando-a de várias maneiras. É ne- prática, buscando entender que não basta traba-
cessário compreender as condições impostas lhar com as doenças, é necessário compreender
como passíveis de interferência e atentar para o indivíduo no todo como alguém que vive a ex-
não culpar os indivíduos quando tais condições periência da necessidade, do adoecimento, carre-
forem insalubres e interferirem em seu estilo gada de valores e significados subjetivos, únicos,
de vida. Trabalhar com as condições de vida capazes de interferir na qualidade do cuidado
impostas requer um trabalho interdisciplinar prestado. Assim, resta-nos, como profissionais da
e intersetorial. A área da saúde, sozinha, não saúde, enfrentar o desafio de construir estratégias
consegue assegurar qualidade de vida e, conse- para conceber a saúde no âmbito da atenção bá-
quentemente, de saúde. É na esfera da ética que sica de forma mais solidária e menos punitiva na
compreenderemos a necessidade do empenho convivência com os estilos de vida individuais.

32 Saúde e Doença - uma Perspectiva Atualizada


Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.

1. O grande desafio do conceito ampliado de saúde é a operacionalização de suas


particularidades pelos trabalhadores da saúde, em especial aqueles que lidam
diretamente com a população. Diante disso, em relação às premissas a seguir,
assinale a alternativa que possibilita a concretude e expressão do conceito nas
práticas cotidianas dos serviços.
a) Criando ambientes favoráveis à saúde, reforçando a ação comunitária, aumen-
tando o número de serviços de saúde.
b) Reforçando a ação comunitária, desenvolvendo habilidades pessoais e forman-
do um maior número de profissionais de saúde.
c) Criando ambientes favoráveis à saúde, reforçando a ação comunitária, desen-
volvendo habilidades pessoais.
d) Reforçando a ação comunitária, educando a população e formando um maior
número de profissionais de saúde.
e) Aumentando o número de serviços de saúde, formando mais profissionais de
saúde e criando ambientes favoráveis à saúde.

2. Procure uma música ou um filme que traga uma percepção da situação de saú-
de ou noção de saúde, ou que retrate a “cara” da sociedade em que vivemos,
registre em seu caderno e justifique a escolha com base nos determinantes
sociais de saúde.

3. De acordo com a Visão Socioambiental da saúde, descreva o conceito de saúde,


seus determinantes, as estratégias e os programas de saúde.

4. Explique o modelo de determinação social da saúde proposto por Dahlgren e


Whitehead.

5. Qual a crítica ao Modelo Plural de saúde brasileiro?

33
LIVRO

Tratado de Saúde Coletiva


Gastão Wagner de Sousa Campos
Editora: Hucitec
Sinopse: o livro apresenta um panorama dos principais assuntos de que se
ocupa a saúde coletiva, estabelecendo um diálogo com docentes e discentes
de graduação e pós-graduação das profissões de saúde.

WEB

Visite o portal da saúde do Ministério da Saúde. Você encontrará: Blog da saúde,


Web rádio saúde e Canal saúde, que contribuem com informações e notícias
sobre a saúde, aberto a todos os cidadãos, trabalhadores e gestores de saúde
e Ministério da Saúde.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

34
FILME

Políticas de saúde no brasil: Um século de luta pelo direito à saúde


Ano: 2006
Sinopse: O documentário conta a história das políticas de saúde em nosso país,
mostrando como ela se articulou com a história política brasileira, destacando
os mecanismos que foram criados para sua implementação, desde as Caixas
de Aposentadorias e Pensões até a implantação do SUS. Sua narrativa central
mostra que a saúde era considerada, no início do século XX, um dever da po-
pulação, com as práticas sanitárias implantadas autoritariamente pelo Estado,
de modo articulado aos interesses do capital, e como, no decorrer do século,
por meio da luta popular, essa relação se inverteu, passando a ser considerada,
a partir da Constituição de 1988, um direito do cidadão e um dever do Estado.
Toda essa trajetória é contada por meio de uma narrativa ficcional, vivida por
atores, com reconstrução de época, apoiada por material de arquivo. Para tor-
nar a narrativa mais leve e atraente, o filme se vale da linguagem dos meios de
comunicação dominantes em cada época, como o jornal, o rádio, a TV Preto e
branco, a TV colorida e, por fim, a internet.
O filme foi realizado por iniciativa da Secretaria de Gestão Estratégica e Partici-
pativa, do Ministério da Saúde, em parceria com a Organização Pan-Americana
da Saúde - OPAS e a Universidade Federal Fluminense/UFF. A obra, de caráter
formativo, terá distribuição gratuita em todo o país, dirigida especialmente aos
Conselhos de Saúde, instituições de ensino e movimentos sociais ligados à saúde.
Estimula-se que o filme seja utilizado nas etapas municipais e estaduais da 13ª
Conferência Nacional de Saúde. Uma versão legendada em espanhol e inglês
está sendo discutida com a OPAS, para divulgação junto a países da América
Latina, Caribe e África, que buscam no SUS uma referência. O documentário
é composto por 5 capítulos, que podem ser assistidos em sequência, com 60
minutos de duração, ou separadamente; cobrindo os seguintes períodos: 1900
a 1930; 1930 a 1945; 1945 a 1964; 1964 a 1988; e 1988 a 2006.

35
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______. História do conceito de saúde. Rev. Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, v. 17, n. 1, p. 29-41, 2007.

WESTPHAL, M. F. Promoção da saúde e prevenção de doença. In: CAMPOS, G. W. S. et al. Tratado de saúde
coletiva. São Paulo: Hucitec, p. 635-668, 2012.

REFERÊNCIA ON-LINE

Em: <https://nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030/>. Acesso em: 18 out. 2018.


1

Em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/causas_sociais_iniquidades.pdf>. Acesso em: 18 out. 2018.


2

36
1. C.

2. O aluno é livre na escolha, mas deve justificá-la relacionando os determinantes sociais de saúde (biológico,
social e cultural).

3.

Bem-estar biopsicossocial.
Conceitos de saúde
Necessidades de saúde.
Determinantes de
Condições de riscos diversas.
saúde
Ação política, espaços saudáveis, empoderamento
Estratégias da população, desenvolvimento de habilidades, reo-
rientação de serviços.
Desenvolvimento Comunidade em diálogo crítico com profissionais
de programas e agências.

4. O modelo entende que a saúde compreende três dimensões: a biológica, a social e cultural.

A dimensão biológica compreende as características biológicas marcadas pela interação genótipo-fenótipo,


ou seja, a genética e a modulação das potencialidades são herdada pelas condições concretas da existência
que irão resultar nas manifestações fenotípicas, como exemplo, a idade/sexo e fatores hereditários X estilo
de vida. Na dimensão social, inclui os grupos sociais e as formas de consciência e condutas resultantes de
suas interações, bem como a forma de constituição dessas comunidades. A dimensão cultural inclui as
condições de vida e de trabalho, suas formas de organização que compreende as condições socioeconô-
micas, culturais e ambientais gerais.

5. “E um sistema público de saúde dual, políticas de saúde centralizadas e verticalizadas, tradição histórica
da saúde vinculada ao mercado de trabalho, o sistema privado prestador com origem na década de 20
como fruto da política previdenciária, distribuição de equipamentos de saúde altamente desigual, modelo
de atenção comandado pela lógica médica e hospitalocêntrico, duplo comando da previdência social que
prestava serviços de assistência à saúde e o Ministério da Saúde relativos a ações coletivas, dualidade
na assistência dos trabalhadores por categorias (década de 30), e na diferenciação do acesso segundo a
posição no mercado de trabalho (década de 70), herança de um setor privado de produção de assistência
médica que se constituiu sob as sombras e financiamento do Estado”.

37
38
39
40
Dra. Marcela Demitto Furtado

História da Saúde
Pública no Brasil

PLANO DE ESTUDOS

O processo de construção do SUS Pactos pela saúde

Antecedentes do SUS Entendendo o SUS Redes de atenção à saúde

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Conhecer brevemente a história que antecedeu o SUS. • Descrever as diretrizes contidas nos pactos intergestores:
• Identificar os interesses, conflitos e necessidades sociais Pacto pela vida, Pacto em defesa do SUS e Pacto de gestão.
que deram origem ao SUS. • Compreender o conceito de rede de atenção e seus com-
• Conhecer os objetivos e princípios do SUS. ponentes.
Antecedentes do SUS

Olá, caro(a) aluno(a). Já demos o primeiro passo


na compreensão do processo saúde-doença quan-
do estudamos, na unidade anterior, um pouco
sobre alguns conceitos, os fatores determinantes
e condicionantes do processo saúde-doença e a
realidade brasileira, bem como os modelos de
Atenção à Saúde.
Para compreendermos um pouco mais como
esse processo se dá na atualidade, é fundamen-
tal resgatarmos um pouco de história, afinal, to-
dos nós somos frutos de um passado e de uma
história, sofremos influências ao longo da vida,
fazemos escolhas, e tudo isso contribuiu para a
formação da pessoa que somos hoje.
Da mesma forma, o setor saúde também foi
construído com base na história. O contexto po-
lítico-social, a economia, o desenvolvimento da
ciência e pesquisa e a situação geral do Brasil, bem
como acontecimentos a nível mundial, ao longo
dos anos, refletiram diretamente na saúde e cons-
trução das políticas públicas.
Nesta unidade, estudaremos a história e a evo- país, já que os acontecimentos sociais, políticos e
lução da saúde pública no Brasil, destacando a cria- econômicos refletiram diretamente na construção
ção do Sistema Único de Saúde (SUS), que é um da saúde pública.
dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo. Como é de conhecimento de todos, em meados
Abordaremos seus objetivos e suas diretrizes fi- de 1500, a saúde retratava a brutalidade imposta
losóficas e organizativas, bem como as reformas pela colonização portuguesa: abandono social do
institucionais que deram origem aos Pactos pela homem livre, extermínio de bandeirantes e civili-
Saúde, além de discutirmos sobre as mudanças no zações indígenas, escravidão dos negros africanos,
modelo de atenção com a implantação das Redes os quais viviam em senzalas, sob tortura e sem con-
de Atenção à Saúde. dições mínimas de higiene.
O conhecimento adquirido aqui será funda- As doenças, nesse período, eram vistas, muitas
mental para a compreensão das demais unidades, vezes, como castigos divinos pelo pecado do ho-
além de permitir uma visão mais ampliada e crítica mem. Para o tratamento, as pessoas procuravam
sobre a organização dos serviços de saúde no Brasil, por feiticeiros, curandeiros, boticários e, também,
contexto no qual o profissional da saúde irá atuar. pelas Casas de Saúde filantrópicas ligadas à Igreja
Vamos, então, mergulhar nessa linha do tempo, Católica ou aos militares. Tudo isso custava di-
buscando entender um pouco mais desse uni- nheiro, logo, quem não podia pagar ficava sem
verso tão vasto de informações no contexto da assistência. A estratégia de controle adotada nessa
Saúde Pública. época para as doenças pestilenciais, como lepra e
Para conhecer a história da saúde no Brasil pre- varíola, era o confinamento, tratando-se, portanto,
cisamos entender um pouco da história do nosso de uma medicina de exclusão.

Você sabia que a lepra é uma das doenças mais antigas do mundo, mas que hoje tem tratamento e cura?
A lepra, também conhecida como hanseníase, é uma doença infecciosa, contagiosa, causada por uma
bacilo chamado Mycobacterium leprae, que afeta nervos e pele. A transmissão se dá pelas vias aéreas,
como secreções nasais, gotículas da fala, tosse e espirro de pacientes considerados bacilíferos, ou
seja, sem tratamento. Antigamente, as pessoas doentes ficavam nos leprosários, isoladas da socie-
dade. Hoje, todos os casos têm tratamento e cura. Os pacientes podem ser tratados gratuitamente
no Sistema Único de Saúde.
Fonte: Brasil (2008).

UNIDADE 2 43
A partir do século XIX, com a vinda da família transmite a doença, o que gerou insatisfação e re-
real ao Brasil, é que se começou a pensar em po- volta da população. Esse modelo de intervenção
líticas públicas de saúde; afinal, era preciso uma ficou conhecido como campanhista (SINGER;
estrutura sanitária mínima que pudesse dar su- CAMPOS, 1978).
porte ao poder que se instalava na cidade do Rio Somado a isso, em 1904, a Lei federal n° 1.261
de Janeiro (POLIGNANO, 2001). instituiu a vacinação obrigatória anti-varíola para
Até meados de 1850, a saúde pública estava todo o território nacional, o que culminou com
limitada às juntas municipais e ao controle de na- vários conflitos entre a população e as forças do
vios e saúde dos portos (BERTOLOZZI; GRECO, governo (policiais e militares). Essa manifestação
1996). popular ficou conhecida como Revolta da Vacina
Com a Proclamação da República, em 1889, o (SINGER; CAMPOS, 1978).
país adotou uma forma de organização capitalista. Mesmo permeado por abusos, o modelo cam-
O período compreendido entre 1889 e 1930, deno- panhista obteve conquistas no controle das epide-
minando de Primeira República, foi marcado pelo mias, conseguindo, por exemplo, erradicar a febre
surgimento das primeiras indústrias e investimen- amarela do Rio de Janeiro. Ainda nesse período,
to estrangeiro (BERTOLOZZI; GRECO, 1996). foi incorporado o registro demográfico que per-
Com a falta de um modelo sanitário, a saúde mitiu conhecer a população e suas necessidades,
tornou-se caótica, caracterizada pelo predomínio o laboratório para auxiliar no diagnósticos das
de diversas doenças graves, como tuberculose, sífi- doenças e a fabricação de produtos profiláticos
lis, varíola, febre amarela, entre outras. Tal situação (BERTOLLI FILHO, 1996).
gerou sérias consequências, tanto para a saúde Com a 1° Guerra Mundial (1914-1918), envol-
coletiva quanto para o setor do comércio exterior, vendo as grandes potências do mundo, o Brasil so-
já que os navios estrangeiros não queriam mais freu consequências na sua economia, o que gerou
atracar no porto do Rio de Janeiro (POLIGNA- desemprego, redução de salários e elevação do cus-
NO, 2001). to de vida. Atrelado a isso, as péssimas condições
Nesse período, Rodrigues Alves, o atual pre- de trabalho e a falta de direitos trabalhistas deram
sidente do Brasil, nomeou Oswaldo Cruz como origem às greves gerais (BERTOLLI FILHO, 1996).
Diretor do Departamento Federal de Saúde Pú- A partir de então, os trabalhadores passam a
blica, com a finalidade de erradicar a epidemia da conquistar alguns direitos sociais que, a princípio,
febre amarela. Assim, várias condutas arbitrárias relacionam-se apenas ao trabalho e depois abran-
e que não haviam sido esclarecidas à população gem a questão da saúde.
foram tomadas para combater o mosquito que Discutiremos esse assunto no próximo tópico!

44 História da Saúde Pública no Brasil


O Processo de
Construção do SUS

Uma série de eventos, cujas datas serão apresen-


tadas a seguir, contribuíram para a construção do
SUS como a principal política pública de saúde
do Brasil.
Em 1923, foi criada a lei Eloy Chaves – que
estabelece as Caixas de Aposentadoria e Pensões
(CAPs) –, marco inicial da Previdência Social no
Brasil. Tal lei visava garantir pensão aos trabalha-
dores em caso de algum acidente ou afastamento
do trabalho por doença, e uma futura aposenta-
doria. Com as CAPs, inicia-se o debate sobre a
importância de atender às necessidades dos traba-
lhadores (ANDRADE; SOARES; JUNIOR, 2001).
Na Era Vargas, foram criados o Ministério da
Educação e da Saúde Pública e o Ministério do
Trabalho; este último com o intuito de atender os
direitos dos trabalhadores, o que, até o momento,
era inexistente (BERTOLLI FILHO, 1996).
Em 1932, buscando ampliar o papel das CAPs,
foram criados os Institutos de Aposentadoria e
Pensões (IAPs), os quais eram organizados por
categoria profissional. Assim, foram criados o Ins-
tituto de Aposentadoria e Pensões dos Marítimos
(IAPM), dos Bancários (IAPB), dos Comerciários
(IAPC), dentre outros; e o Estado passou a parti-

UNIDADE 2 45
cipar da sua administração, controle e financia- Em 1977, foi criado o Instituto Nacional de As-
mento (ANDRADE; PONTES; JUNIOR, 2000). sistência Médica e Previdência Social (INAMPS),
Nesse período, ainda se mantinha o formato do grande órgão governamental que prestava assis-
vínculo contributivo formal do trabalhador para a tência médica apenas aos trabalhadores da eco-
garantia do benefício, ou seja, aquele que não con- nomia formal, com carteira assinada, e seus de-
tribuísse estava excluído do sistema de proteção, o pendentes. Tal assistência à saúde estava atrelada
que se configurava como uma injustiça social, já basicamente à custa de compra de serviços médi-
que não havia o mesmo direito para todos. co hospitalares e especializados do setor privado
Em 1966, com a unificação dos IAPs, foi criado (BAPTISTA, 2003).
o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), A década de 80 foi marcada por movimentos
que permitia que todo trabalhador urbano com de contestação ao sistema de saúde. Um evento
carteira assinada se tornasse, automaticamente, que marcou a história foi a realização da VIII
contribuinte e beneficiário do sistema. Tal órgão Conferência de Saúde, que aconteceu em março
gerou uma certa insatisfação nos contribuintes de 1986, presidida pelo médico Sérgio Arouca,
dos institutos com mais benefícios, pois, com a contudo, pela primeira vez, com a participação
unificação, os mais pobres iriam receber mais be- da comunidade (ANDRADE; PONTES; JU-
nefícios (ANDRADE; SOARES; JUNIOR, 2001). NIOR, 2000).

46 História da Saúde Pública no Brasil


ao INAMPS, agora, era repassado às secretarias
estaduais de saúde (ANDRADE; SOARES; JU-
Sérgio Arouca é considerado um dos principais NIOR, 2001).
teóricos e líderes do movimento da reforma O SUDS possuía como principais diretrizes a
sanitária. Falecido em agosto de 2003, aos 61 universalização e equidade no acesso aos serviços
anos, devido a um câncer no intestino, Arouca de saúde; a descentralização das ações de saúde,
é reconhecido por sua importante participação como citado anteriormente; a integralidade do
na construção do Sistema Único de Saúde (SUS). cuidado; e a implementação de distritos sanitários
Internacionalmente, foi consultor da Organização (ANDRADE; SOARES; JUNIOR, 2001).
Pan-Americana de Saúde (Opas), atuando em Em 1988, é promulgada a Constituição da Re-
vários países da América Latina. pública, denominada Constituição Cidadã, a qual
Fonte: adaptado de Fiocruz ([2018], on-line)1. foi fundamental na definição de ações prioritárias
na área de saúde pública (BRASIL, 2000a). Vamos
relembrar que foi nessa Constituição que ficou
estabelecido que “a saúde é direito de todos e dever
A VIII Conferência Nacional de Saúde difundiu do Estado”.
a proposta da reforma sanitária, consagrando um A criação do Sistema Único de Saúde (SUS)
conceito ampliado de saúde e reconhecendo esta se deu em 19 de setembro de 1990, por meio da
como direito universal e dever do Estado. lei 8.080, que “dispõe sobre as condições para a
promoção, proteção e recuperação da saúde, a
organização e o funcionamento dos serviços cor-
respondentes” (BRASIL, 8.080/1990). De forma
geral, essa primeira lei do SUS detalha sobre os
A Reforma Sanitária diz respeito a “…um processo objetivos e diretrizes do SUS, os quais serão dis-
de transformação da norma legal e do aparelho cutidos no próximo tópico.
institucional que regulamenta e se responsabiliza Logo em seguida, em dezembro de 1990, foi
pela proteção à saúde dos cidadãos”. criada a lei 8.142, que “dispõe sobre a participação
(Sonia Fleury Teixeira ) da comunidade na gestão do Sistema Único de
Saúde (SUS) e sobre as transferências intergover-
namentais de recursos financeiros na área da saúde
e dá outras providências” (BRASIL, 8.142/1990).
Em 1987, ocorreu a implantação do Sistema Uni- Essas duas leis (8.080 e 8.142), denominadas
ficado e Descentralizado de Saúde (SUDS), um “Leis Orgânicas de Saúde”, foram objeto de muita
convênio entre o INAMPS e os governos esta- disputa política.
duais. O SUDS avançou na política de descentra- Assim, finalmente estava construído o arca-
lização da saúde, bem como na descentralização bouço jurídico do Sistema Único de Saúde. Po-
orçamentária, ocorrendo o que chamamos de rém, novas lutas ainda estavam por vir e, claro,
“estadualização”, ou seja, todo o poder conferido inúmeras conquistas também!

UNIDADE 2 47
Entendendo o SUS

Nesse tópico, vamos abordar, especialmente, os


objetivos e princípios do SUS, bem como alguns
marcos importantes que irão facilitar a sua com-
preensão acerca dessa política pública de saúde.
De acordo com a lei 8.080, já abordada ante-
riormente, os objetivos do SUS são: a identificação
e divulgação dos fatores condicionantes e determi-
nantes da saúde; a formulação de políticas de saú-
de; a assistência às pessoas por intermédio de ações
de promoção, proteção e recuperação da saúde,
com realização integrada das ações assistenciais e
das atividades preventivas (BRASIL, 8.080/1990).
Em relação aos princípios do SUS, os que com-
põem a sua base, referindo-se aos objetivos fina-
lísticos do sistema de saúde, são denominados de
doutrinários (ou éticos), sendo eles: universalida-
de, equidade e integralidade (PAIM; SILVA, 2010).
O princípio de universalidade reafirma o que
já foi previsto na Constituição de 1988, que a saú-
de é um direito de todos e dever do Poder Público;
é a garantia de atenção à saúde de todos os cida-
dãos.“No SUS, universalidade supõe que todos os
brasileiros tenham acesso igualitário aos serviços
de saúde e respectivas ações, sem qualquer barrei-
ra de natureza legal, econômica, física ou cultural”
(PAIM; SILVA, 2010, p. 114).

48 História da Saúde Pública no Brasil


““
A integralidade diz respeito a atender as a redução deste nem à doença, nem ao aspecto
necessidades específicas de cada indivíduo biológico. Além do atendimento integral, envolve
ou grupo de pessoas, de modo a garantir e a valorização do cuidado e o acolhimento (FON-
promover ações de prevenção, promoção, TOURA; MAYER, 2006, p. 532-533).
assistência e reabilitação. De certa forma, O princípio de equidade está atrelado à ne-
é, também, compreender o homem como cessidade de diminuir as desigualdades, sejam
um ser integral, biopsicossocial, o que irá elas sociais e/ou econômicas, muito presentes em
proporcionar um atendimento holístico nosso país quando, por exemplo, comparamos
(MACHADO et al., 2007). diferentes regiões. Porém, a equidade não é o mes-
mo que igualdade, visto que as pessoas, por serem
A Integralidade é o próprio caminho que vai diferentes, possuem necessidades diferentes. Logo,
transformando as pessoas e construindo algo esse princípio busca suprir a necessidade de as-
melhor. Busca uma assistência ampliada, trans- sistência de saúde de acordo com a igualdade de
formadora, centrada no indivíduo e não aceita condições (PAIM; SILVA, 2010).

Figura 1 - Igualdade e Equidade


Fonte: Marta - O meu canto (2017, on-line)2.

UNIDADE 2 49
Os princípios que regem a organização do SUS gerenciamento dos serviços de saúde (BARATA;
são chamados de Organizacionais ou Operati- TANAKA; MENDES, 2004).
vos, são eles: Regionalização, Hierarquização, E, por fim, a participação da comunidade re-
Resolubilidade, Descentralização e Participação fere-se à valorização da população nos processos
comunitária (BRASIL, 2001a). decisórios do país, o que refletiu no chamado
O entendimento dos princípios de regiona- “movimento sanitário”, o qual contou com a par-
lização e hierarquização diz respeito à forma de ticipação de intelectuais, usuários e trabalhadores
organização dos serviços entre si e com a popu- de saúde na luta pela reforma do sistema de saúde.
lação. A regionalização vai além da delimitação Com o objetivo de colocar em prática a par-
rígida de uma base territorial, usuários e serviços; ticipação social na saúde é que a lei 8.142 (Lei
leva-se em conta, também, a divisão político-ad- Complementar da Saúde) propôs a formação dos
ministrativa do país (OLIVEIRA et al., 2009). Conselhos de Saúde, os quais devem acontecer
A hierarquização significa que a organização nas três esferas do governo e contar com a pre-
do sistema de saúde deve acontecer em níveis sença de representantes do governo, prestadores
crescentes de complexidade, considerando as ca- de serviços, profissionais de saúde e usuários
racterísticas específicas de cada área geográfica e (BRASIL, 8.142/1990).
de cada cliente (OLIVEIRA et al., 2009). A organização operacional do SUS se deu pela
Sabendo que o usuário do serviço de saúde criação das Normas Operacionais Básicas (NOB),
pode percorrer por vários níveis de atenção du- as quais possuem três edições (1991, 1993 e 1996),
rante seu atendimento é que se faz necessário devido à necessidade de aperfeiçoamento ao lon-
incorporar o sistema de referência e contrarre- go dos anos (BRASIL, 2000b).
ferência, a fim de integrar as redes de saúde e, as- Para atender ao princípio de descentralização,
sim, obter maior eficiência no cuidado ao usuário as negociações e pactuações acerca da saúde se
(SERRA; RODRIGUES, 2010). dão nos três níveis de governo (nacional, esta-
A resolubilidade diz respeito à necessidade do dual e municipal). Nesse sentido, em 1991, foram
serviço de saúde apresentar-se resolutivo até o criadas a Comissão de Intergestores Tripartite
nível de sua competência para aquilo que é pro- (CIT) – com representação do Ministério da Saú-
posto (BRASIL, 1990). de (MS), do Conselho Nacional de Secretários
O princípio de descentralização pode ser Estaduais de Saúde (CONASS) e do Conselho
entendido como uma forma de redistribuir as Nacional de Secretários Municipais de Saúde
responsabilidades sobre a saúde da população (CONASEMS) – e a Comissão Intergestores Bi-
entre as três esferas do governo, acreditando que partite (CIB), representada por integrantes da
quanto mais perto a solução estiver do problema, Secretaria Estadual de Saúde (SES) e do Conse-
maior serão as chances de acerto. lho Estadual de Secretários Municipais de Saúde
De acordo com Palha e Villa (2003), a des- (COSEMS) ou órgão equivalente (BRASIL, 2000).
centralização dos serviços de saúde tem sido Buscando colocar em prática os princípios
o eixo norteador para a operacionalização dos do SUS, várias estratégias foram formuladas,
princípios organizativos e diretivos do SUS. Nesse como a criação dos distritos sanitários, dos sis-
sentido, a descentralização tem ênfase na munici- temas locais de saúde e do Programa de Agentes
palização, ou seja, os municípios assumindo um Comunitários de Saúde (PACS) (ESPÍNOLA;
papel cada vez mais importante na prestação e COSTA, 2006).

50 História da Saúde Pública no Brasil


O agente comunitário de saúde é aquele pro-
fissional que faz o acompanhamento das famílias
que vivem no seu território de abrangência; ele faz
uma ponte entre o serviço de saúde e a população,
auxiliando nas ações de prevenção e promoção da
saúde (BRASIL, 2001b).
Outro marco muito importante que buscou
reorganizar o SUS no âmbito da atenção básica de
saúde foi a criação, em 1994, do Programa de Saúde
da Família (PSF), posteriormente intitulado Estra-
tégia de Saúde da Família (ESF) (SOUZA, 2000).
A operacionalização dos objetivos e princípios
do SUS, bem como das diversas políticas criadas
no decorrer da sua história, não é uma tarefa fácil
e encontra inúmeros obstáculos, como: dificulda-
de de financiamento, burocracia no gerenciamen-
to público, perfil profissional incompatível com o
exigido pelo sistema, dentre muitos outros. Porém,
o SUS também é motivo de muitas conquistas que
repercutiram em melhores condições de vida para
o brasileiro.
O SUS ainda está em processo de construção
e isso se dá a cada dia. De acordo com Cunha J. e
Cunha R. (1998, p. 11), o SUS “se constrói no coti-
diano de todos aqueles interessados na mudança
da saúde no Brasil. Entendê-lo é uma boa forma
de fortalecer a luta pela sua construção”.

O SUS depende da atuação concreta dos


trabalhadores para que as ações de saúde
em defesa da vida tornem-se realidade para
a sociedade. É preciso que você, enquanto
profissional da saúde, pense sobre o que está ao se
alcance para a concretização dos princípios do SUS.

UNIDADE 2 51
Pactos pela Saúde

Como já discutimos anteriormente, a gestão do


SUS é de responsabilidade dos três níveis de go-
verno (União, Estados e Municípios), e as Normas
Operacionais Básicas (NOB) é que vinham regu-
lamentando as relações entre eles até 2006. Nesse
ano, foi instituído o Pacto pela Saúde como um
conjunto de normas institucionais, com o objetivo
de fortalecer a gestão do SUS (BRASIL, 2006).
O Pacto pela Saúde se dá num cenário em que se
busca a operacionalização do SUS, especialmente
no que tange à consolidação da equidade social.
Nesse sentido, os profissionais assumiram com-
promissos em três dimensões: Pacto pela Vida, em
Defesa do SUS e de Gestão, os quais serão aborda-
dos brevemente neste tópico (FADEL et al., 2009).
No Pacto pela Vida, as metas são firmadas em
torno das necessidades prioritárias que geram im-
pacto na saúde da população brasileira. São seis as
prioridades pactuadas: Saúde do Idoso; Controle
do câncer do colo do útero e da mama; Redução
da mortalidade infantil e materna; Fortalecimento
da capacidade de resposta às doenças emergentes e
endemias, com ênfase na dengue, hanseníase, tuber-
culose, malária e influenza; Promoção da Saúde; e
Fortalecimento da Atenção Básica (BRASIL, 2006).

52 História da Saúde Pública no Brasil


A Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS) foi aprovada, em 2006, como estratégia que visa
a organização da gestão e das práticas de saúde.
Em 2015, a PNPS foi revisada, visando destacar a necessidade de articulação com outras políticas
públicas, incluindo a participação social e movimentos populares, no sentido de se fortalecer para
o enfrentamento dos determinantes sociais de saúde.
Dentro da PNPS, foram elencados temas transversais, que auxiliam na formulação de agendas de
promoção da saúde e adoção de estratégias, os quais são: Determinantes Sociais da Saúde (DSS),
Equidade e respeito à diversidade; Desenvolvimento sustentável; Produção de saúde e cuidado;
Ambientes e territórios saudáveis; Vida no trabalho; e Cultura da paz e direitos humanos.
Para concretizar as ações de promoção da saúde, foram estabelecidos eixos operacionais: Territoria-
lização; Articulação e cooperação intrassetorial e intersetorial; Rede de Atenção à Saúde; Participação
e controle social; Gestão; Educação e formação; Vigilância, monitoramento e avaliação; Produção e
disseminação de conhecimentos e saberes; e Comunicação social e mídia.
Fonte: Brasil (2015).

O Pacto em Defesa do SUS busca discutir o sis- Cabe destacar que, no Pacto de Gestão do SUS,
tema a partir dos seus princípios fundamentais, é reafirmada a importância da participação da
além de ampliar o diálogo com a sociedade, fa- comunidade na maneira de gerir o sistema. As
zendo com que a população se aproxime mais decisões sobre a saúde não devem mais estar cen-
do SUS (CEAP, 2009). As diretrizes desse Pacto, tralizadas na “mão” dos gestores.



segundo o Ministério da Saúde foram:

““
Para que a participação da comunidade te-
1. Repolitização da saúde, como um movi- nha melhores condições de atuação, o Pacto
mento que retoma a Reforma Sanitária Bra- propõe um conjunto de ações e reconhece
sileira aproximando-a dos desafios atuais o dever dos gestores de destinar orçamento,
do SUS; 2. Promoção da Cidadania como cooperando técnica e financeiramente para
estratégia de mobilização social tendo a sua qualificação (CEAP, 2009, p. 14).
questão da saúde como um direito; 3.Ga-
rantia de financiamento de acordo com as Assim, acredita-se que o Pacto pela Saúde, consi-
necessidades do Sistema (BRASIL, 2006). derando as suas três dimensões, representa mais
uma luta no sentido de reafirmar a saúde como
Na dimensão do Pacto de Gestão, são aborda- um direito de todos e dever do Estado, buscando
das as seguintes diretrizes: Descentralização; garantir as conquistas do SUS até o momento.
Regionalização; Financiamento; Planejamento;
Programação Pactuada e Integrada – PPI; Regu-
lação; Participação e Controle Social; Gestão do
Trabalho e Educação na Saúde (BRASIL, 2006).

UNIDADE 2 53
Redes de Atenção
à Saúde

Com base em tudo que já foi explanado até aqui,


ainda observa-se, na gestão de saúde, a presença de
sistemas hierarquizados, fragmentados e medicaliza-
dos, o que não atende adequadamente às demandas
de saúde da população. Nesse sentido, o SUS propõe
a estratégia de Redes de Atenção em Saúde (RAS),
a fim de operacionalizar todos os seus princípios,
especialmente o da integralidade no cuidado à saúde.
De acordo com Eugênio Vilaça Mendes, as
RAS significam:



[...] uma nova forma de organizar o sistema
de atenção à saúde em sistemas integrados
que permitam responder, com efetividade,
eficiência, segurança, qualidade e equidade,
às condições de saúde da população brasi-
leira (MENDES, 2011, p. 18).

A discussão sobre as RAS já é de longa data em


países como Estados Unidos e Canadá. No Brasil,
o tema vem sendo abordado a partir do final dos
anos 90 e, mesmo recente, já é possível vislumbrar
avanços decorrentes desse modelo de atenção,
como é o caso do Programa Mãe Paranaense,
Rede Cegonha, Rede de Atenção à Urgência e
Emergência, entre outras (BRASIL, 2012).

54 História da Saúde Pública no Brasil


Curitiba implantou o Programa Mãe Curitibana, em 1999, sendo um exemplo de rede de atenção
voltada à saúde materno-infantil, que apresenta resultados positivos na assistência à saúde com
queda nas taxas de mortalidade infantil e aumento dos índices de aleitamento materno.
Fonte: Mendes (2011).

Nesse momento, você pode estar se perguntando: Assim, a noção hierárquica e piramidal deve ser
afinal como se organiza uma RAS? substituída pelas redes, as quais permitem relações
De acordo com a World Health Organization, horizontais, possuindo como centro de comuni-
os serviços que dependem de menor aporte tec- cação a atenção primária à saúde, como pode ser
nológico, a exemplo da atenção primária à saúde, ilustrado pela figura a seguir (MENDES, 2011).
devem apresentar-se dispersos; ao contrário, os Dos Sistemas Fragmentados para as Redes de Atenção à Saúde
serviços mais complexos, como hospitais e uni-
dades diagnósticas, tendem a estar mais concen-
trados (WHO, 2000). Alta

““
Complexidade
APS

A organização das RASs, para ser feita de


forma efetiva, eficiente e com qualidade, Média
Complexidade
tem de estruturar-se com base nos seguintes
fundamentos: economia de escala, disponi- Atenção
Básica
bilidade de recursos, qualidade e acesso; in-
tegração horizontal e vertical; processos de
Figura 2 - Dos sistemas Fragmentados para as Redes de
substituição; territórios sanitários; e níveis Atenção à Saúde
de atenção (MENDES, 2011, p. 71). Fonte: Mendes (2011).

Cabe, aqui, discutir brevemente sobre os níveis de


complexidade. Erroneamente, a população, bem
como gestores e profissionais da saúde, muitas ve-
zes, possuem uma visão distorcida sobre o assunto,
supervalorizando os níveis terciário e secundário
em detrimento do nível primário.
A atenção primária não é menos complexa que
os outros níveis. Na verdade, é ela que pode resol-
ver em torno de 85% dos problemas de saúde da
população, ofertando serviços de alta complexi-
dade, por exemplo as atividades grupais, as quais
buscam a promoção e reabilitação da saúde e pre-
venção de doenças. Os níveis secundário e terciá-
rio constituem-se pela necessidade de tecnologia,
mas não são mais complexos (MENDES, 2011). Redes de Atenção à Saúde

UNIDADE 2 55
São três os elementos que constituem as RAS: meio de sistema de informações de alta qualidade
uma população, uma estrutura operacional e um (BRASIL, 2014).
modelo de atenção à saúde. A presença de uma Diante do exposto, percebe-se que, para a efetiva
população é a razão de ser da RAS. Esta precisa implementação das RAS, faz-se necessário o esforço
ser devidamente conhecida (condições de saú- de todos: gestores (em todas as esferas do governo),
de, fatores de riscos), registrada e cadastrada em profissionais da saúde e população em geral.
sistemas de informação. O segundo elemento é a Nesta unidade, conseguimos relembrar alguns
estrutura operacional, a qual é constituída pela marcos importantes da história do Brasil, além de
atenção primária à saúde; os pontos de atenção rever alguns elementos marcantes da economia,
à saúde secundários e terciários; os sistemas de da política e da sociedade de forma geral ao longo
apoio; os sistemas logísticos; e o sistema de go- de cada época.
vernança (MENDES, 2011). Entendemos que a história das políticas públi-
Em relação ao terceiro elemento, que é o mo- cas de saúde no nosso país sempre esteve atrelada
delo de atenção, este pode ser definido como: ao contexto histórico e social do momento em



que ocorreu e, por isso, foi necessário voltarmos
[...] um sistema lógico que organiza o fun- no tempo e vermos tudo o que aconteceu no de-
cionamento das RASs, articulando, de for- correr dos anos.
ma singular, as relações entre a população Compreendemos o cenário em que se deu a
e suas subpopulações estratificadas por ris- criação de um dos maiores sistemas públicos de
cos, os focos das intervenções do sistema saúde do mundo, o Sistema Único de Saúde (SUS),
de atenção à saúde e os diferentes tipos de um momento marcante em nosso país, de desper-
intervenções sanitárias, definido em função tar democrático, de lutas e de muitas conquistas.
da visão prevalecente da saúde, das situa- Conhecemos seu processo de construção, seus
ções demográfica e epidemiológica e dos principais objetivos e princípios doutrinários e
determinantes sociais da saúde, vigentes organizativos.
em determinado tempo e em determinada Observamos que, para a operacionalização do
sociedade (MENDES, 2011, p. 209). SUS, foram necessárias algumas pactuações entre
os gestores das esferas governamentais. Assim,
São muitos os desafios a serem superados para estudamos o Pacto pela Saúde e as três dimensões
a implementação das RAS, os quais vão desde o que ele englobou: Pacto pela Vida, em Defesa do
financiamento, orientação dos serviços com base SUS e de Gestão.
nas necessidades sanitárias da população, bem Discutimos sobre a necessidade de mudan-
como a valorização da atenção primária à saúde ça de um modelo de assistência à saúde hierar-
por parte de todos (BRASIL, 2012). quizado e fragmentado para uma assistência em
De acordo com o Ministério da Saúde, outros rede. Nesse sentido, abordamos sobre as Redes de
entraves ainda podem ser elencados: falha na cul- Atenção à Saúde (RAS), seus conceitos, elementos
tura e na prática de trabalho em rede; pactos com que a compõem e sua forma de organização, acre-
foco maior na captação de recurso do que em ditando que as RAS, por permitirem relações ho-
intervenções nas práticas assistenciais; ineficiente rizontais, tendo como centro a atenção primária,
capacitação e qualificação profissional; e restrito, podem contribuir para a integralidade no cuidado
monitoramento e avaliação dos resultados por à saúde – um dos princípios do SUS.

56 História da Saúde Pública no Brasil


Assim, terminamos a nossa
viagem no tempo! Espero que
você possa ter compreendido
melhor e um pouco mais sobre
o nosso sistema público de saú-
de, seus avanços e desafios.
Muitos desafios ainda temos
pela frente, quando trabalhamos
no contexto do SUS, e você fará
parte dele como profissional da
saúde, ajudando a construir um
pouco mais na história do SUS.
Bons estudos! E continue...

UNIDADE 2 57
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.

1. No início do século XX, o Rio de Janeiro se deparou com a epidemia da febre


amarela e varíola, doenças que fizeram milhares de vítimas. Nesse período, a
obrigatoriedade da vacina contra a varíola e a remodelação da região portuária
e do centro da cidade geraram descontentamento na população. Considerando
esse contexto histórico, assinale a alternativa correta.
a) O alargamento das ruas da área central contribuiu para um ambiente mais
arejado, com vistas a reduzir os casos de febre amarela, que é uma doença
transmitida pelo ar.
b) A população pobre se revoltou, pois tinha consciência da necessidade da vacina
para a erradicação da varíola.
c) A reforma não aconteceu apenas nas regiões dos portos e área central, mas
também nas moradias populares e cortiços, a fim de eliminar os focos de
transmissão das doenças.
d) A Revolta da vacina ocorreu no governo de Rodrigues Alves em um contexto de
reurbanização do centro do Rio de Janeiro e da necessidade de saneamento básico.
e) A insatisfação da população não estava relacionada com a modernização urbana
autoritária, e sim com as péssimas condições sanitárias.

2. Sobre os princípios doutrinários e organizacionais do Sistema Único de Saúde


(SUS), analise as afirmativas a seguir.
I) O princípio da equidade no SUS tem seu maior foco na atenção primária à
saúde, por ser este um serviço de menor complexidade e baixo custo.
II) A integralidade da assistência à saúde refere-se a um conjunto de ações e
serviços voltados para a promoção, prevenção e reabilitação, individuais e
coletivos, em todos os níveis de complexidade.
III) São princípios organizacionais: Regionalização, Hierarquização, Resolubilidade,
Descentralização e Participação comunitária.
IV) A valorização da população em questões decisórias sobre a saúde e a for-
mação dos Conselhos de Saúde dizem respeito ao princípio de Participação
comunitária.

58
Assinale a alternativa correta.
a) Apenas I e II estão corretas.
b) Apenas II e III estão corretas.
c) Apenas I está correta.
d) Apenas II, III e IV estão corretas.
e) Nenhuma das alternativas está correta.

3. Sobre os principais objetivos do Sistema Único de Saúde, assinale a alternativa


correta.
a) Formulação de políticas de saúde destinadas a ações curativas, especialmente
nas áreas de endemia.
b) Assistência às pessoas por intermédio de ações de promoção, proteção e
recuperação da saúde, com realização integrada das ações assistenciais e das
atividades preventivas.
c) Promover ações de alta complexidade nas regiões de maior vulnerabilidade
social.
d) Assistência às pessoas, com base nas diretrizes do sistema privado.
e) Identificar, em cada região, os fatores determinantes das doenças, considerando
o processo patológico o foco para a prestação da assistência à saúde.

4. O Pacto pela Saúde, firmado em 2006, refere-se ao compromisso assumido entre


as três esferas de gestão (União, Estados e Municípios), com o objetivo de estabe-
lecer ajustes e promover inovações no processo de gestão, para, assim, atender
com maior qualidade às demandas do SUS. Explique o que foi o Pacto pela Vida.

5. Um sistema de saúde hierarquizado, “estilo piramidal”, não consegue suprir as


demandas de saúde da população. É nesse sentido que surgem discussões sobre
as Redes de Atenção à Saúde (RAS). Explique o que são as RAS e como elas se
organizam.

59
LIVRO

Caminhos da Saúde Pública no Brasil


Jacobo Finkelman
Editora: FIOCRUZ
Sinopse: o livro traz a evolução das políticas públicas de saúde, contextualizando
com a história do Brasil. Destaca os principais acontecimentos que contribuíram
para o desenvolvimento de ações e programas voltados para a melhoria da
saúde do povo brasileiro.

LIVRO

História da saúde pública no Brasil


Cláudio Bertolli Filho
Editora: Ática
Sinopse: o livro apresenta a história da saúde pública no Brasil, suscitando que
o leitor faça uma reflexão sobre a relação da saúde com as políticas sociais de
cada período.

FILME

SICKO - SOS Saúde


Ano: 2007
Sinopse: O documentário descreve o sistema de saúde americano e o compara
com o de outros países, como Cuba, Canadá, França e Inglaterra. Apesar de
não mostrar o Sistema de Saúde do Brasil – o SUS – é possível compará-lo com
relação ao que é apresentado no filme.

60
ANDRADE, L. O. M.; PONTES, R. J. S.; JUNIOR, T. M. A descentralização no marco da reforma sanitária no
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1. D.

2. D.

3. B.

4. O Pacto pela Vida refere-se a um dos pactos que compõe o Pacto pela Saúde, sendo os outros dois: em
Defesa do SUS e de Gestão do SUS. O Pacto pela Vida foi constituído a partir da análise da situação de
saúde do país e das necessidades prioritárias que geram impacto na saúde da população brasileira. São
seis as prioridades pactuadas: Saúde do Idoso; Controle do câncer do colo do útero e da mama; Redução
da mortalidade infantil e materna; Fortalecimento da capacidade de resposta às doenças emergentes e
endemias, com ênfase na dengue, hanseníase, tuberculose, malária e influenza; Promoção da Saúde; e
Fortalecimento da Atenção Básica.

5. As RAS são sistemas organizativos de ações e serviços de saúde que se articulam, atendendo diferentes
níveis de complexidade e necessidades tecnológicas que, de forma integrada, permitem atender, com
qualidade, a saúde da população brasileira. A noção hierárquica e piramidal deve ser substituída pelas
redes, as quais permitem relações horizontais e de interdependência entre os pontos da rede, possuindo
como centro de comunicação a atenção primária à saúde. A organização das RAS estrutura-se com base nos
seguintes fundamentos: economia de escala, disponibilidade de recursos, qualidade e acesso; integração
horizontal e vertical; processos de substituição; territórios sanitários; e níveis de atenção.

64
65
66
Dra. Raquel Gusmão Oliveira

Vigilância em Saúde

PLANO DE ESTUDOS

Vigilância epidemiológica Indicadores de saúde

Vigilância em saúde Sistema de informação Alguns desafios da


em saúde vigilância em saúde

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Compreender o conceito de vigilância em saúde e os prin- • Conhecer os sistemas de informação de interesse na saúde.
cipais sistemas de vigilância em saúde. • Apresentar os principais indicadores de saúde.
• Conhecer o Sistema de Vigilância Epidemiológica. • Discutir os desafios atuais da Vigilância em Saúde.
Vigilância
em Saúde

Temos visto que a saúde e o cuidado à saúde têm


sido uma grande preocupação de toda a huma-
nidade ao longo da história e dos tempos, a busca
da compreensão do fenômeno saúde e doença
tem desafiado estudiosos no sentido de superar
os desafios de ter uma sociedade mais saudável.
No Brasil, a criação do Sistema Único de Saúde
(SUS) é considerada um marco positivo no con-
texto da saúde em nosso país, buscando, por meio
de princípios e diretrizes, a organização de ações
e serviços que efetivamente atendam às necessi-
dades de saúde de todos os brasileiros.
Recentemente, a criação das Redes de Atenção
à Saúde contextualiza que a Vigilância em saúde
deve ser organizada em forma de rede, como uma
estratégia na organização dos serviços na atenção
e promoção à saúde, estabelecendo, assim, dire-
trizes e orientações aos profissionais de saúde, na
busca de auxiliar na organização e operacionali-
zação da rede de Vigilância.
Nesse sentido, acreditamos que é fundamen-
tal aos profissionais de saúde compreenderem os
principais conceitos e os diferentes sistemas que
abrangem o Sistema de Vigilância brasileiro.
Dentre os diversos Sistemas de Vigilância, des- • A observação da situação de saúde.
tacamos, nesta unidade, o Sistema de Vigilância • A análise dessa situação.
Epidemiológica, pois acreditamos que ele tem um • O conjunto de ações destinadas a controlar
amplo impacto nas ações dos profissionais de saúde. os determinantes das doenças e dos agravos.
Também apresentaremos os principais sistemas
de informações de interesse na saúde e os indicado- A vigilância em saúde deve estar cotidianamente
res de saúde mais utilizados, considerando que, tanto inserida em todos os níveis de atenção da saúde. A
um quanto outro são fundamentais para subsidiar a partir de suas específicas ferramentas, as equipes
tomada de decisão no contexto dos serviços de saúde. de saúde da atenção primária podem desenvolver
Finalmente, buscamos discutir alguns desafios habilidades de programação e planejamento, de
atuais da Vigilância em saúde, acreditando que tais maneira a organizar os serviços com ações progra-
desafios constituem espaços de crescimento e de- madas de atenção à saúde das pessoas, aumentan-
senvolvimento para os profissionais de saúde. do o acesso da população a diferentes atividades e
Então, vamos começar... ações de saúde (BRASIL, 2010).
A doença sempre esteve presente na história da Nesse sentido, o conceito de vigilância em saú-
humanidade, como, por exemplo, a peste, a varíola, de inclui: a vigilância e o controle das doenças
a cólera e muitas outras que foram registradas ao transmissíveis, a vigilância das doenças e agra-
longo dos tempos em diferentes contextos. Você já vos não transmissíveis, a vigilância da situação de
ouviu falar delas? saúde, vigilância ambiental em saúde, vigilância
E na atualidade? De Quais doenças você pode da saúde do trabalhador e a vigilância sanitária
lembrar? Dengue, zika, H1N1 etc. (BRASIL, 2010).
Essas doenças causam um grande impacto na O Quadro 1, a seguir, explica um pouco das par-
saúde e na vida da população, sem falar em outros ticularidades de cada uma delas; mas, apesar das
agravos que parecem atingir a sociedade e prejudi- diferenças, Boccatto (2012) indica alguns princípios
car a vida das pessoas, como é o caso da violência. norteadores comuns, tais como:
O que fazer para evitar que essas doenças se • A manutenção da qualidade na coleta de
espalhem ou afetem negativamente a vida das pes- dados.
soas? Como reconhecê-las ou, até mesmo, barrá- • A consolidação desses dados em informa-
-las? Que ações devem ser feitas? ções fidedignas.
Nesse contexto, surge o termo “vigilância em • A ampla disseminação dessas referidas in-
saúde” que tem por objetivo a observação e análise formações a todos aqueles que as geraram e
permanente da situação de saúde da população, que delas necessitam tomar conhecimento,
articulando-se em um conjunto de ações destinadas servindo de ferramenta para:
a controlar determinantes, riscos e danos à saúde de »» A elaboração de programas, a identifi-
populações que vivem em determinados territórios, cação de fatores de risco e a aplicação de
garantindo a integralidade da atenção – o que inclui medidas de controle.
tanto a abordagem individual como coletiva dos • A capacitação e o aprimoramento de
problemas de saúde (BRASIL, 2010). pessoal.
Vamos entender um pouco mais desse conceito. • A aquisição de equipamentos e tecnologias.
Quando falamos de Vigilância em saúde, três • O desenvolvimento de produções cien-
ações estão implícitas (BOCCATTO, 2012): tíficas.

UNIDADE 3 69
Nesse sentido, vale destacar que, para a operacio- Atenção Primária, urgência e emergência, atenção
nalização da Vigilância em Saúde, é necessária a psicossocial, atenção ambulatorial especializada e
colaboração e a coparticipação de todos os gestores, hospitalar.
técnicos, tra­balhadores de todos os níveis e atores A Portaria n° 104, de 25 de janeiro de 2011, do
sociais, e a adaptação aos inovadores modelos de Ministério da Saúde, define as terminologias adota-
gestão dos serviços públicos e privados, principal- das em legislação nacional, conforme o disposto no
mente aqueles de cunho social, sem perder suas Regulamento Sanitário Internacional de 2005, a rela-
características inerentes (BOCATTO, 2012). ção de doenças, agravos e eventos em saúde pública
Atualmente, o Decreto 7508 (2011) estabelece de notificação compulsória em todo o território na-
que a Vigilância em Saúde faz parte da rede regio- cional e estabelece fluxo, critérios, responsabilidades
nalizada e hierarquizada de serviços junto com a e atribuições aos profissionais e serviços de saúde.
Quadro 1 - Áreas de atuação da Vigilância em Saúde

Realiza um conjunto de ações que proporcionam o conhecimento, a detecção ou


a prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes
de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar medidas
Vigilância de prevenção e controle de doenças ou agravos. Trabalha com doenças sexual-
Epidemiológica mente transmissíveis agudas e crônicas; doenças transmissíveis agudas; doenças
transmissíveis crônicas; doenças imunopreveníveis; investigações e respostas a
casos e surtos e epidemias; doenças emergentes; agravos inusitados; inclui, tam-
bém, o Programa Nacional de Imunização (PNI), descentralizado aos municípios.
Desencadeia um conjunto de atividades relativas às zoonoses e questões sa-
Vigilância nitárias ligadas ao meio ambiente e riscos à saúde (água, ar e solo), com ações
Ambiental integradas com as subprefeituras e outras secretarias, devendo participar na
formulação da política e na execução de ações de saneamento básico.
Desencadeia um conjunto de atividades que, por meio das ações de vigilância epi-
Vigilância da
demiológica e vigilância sanitária, destinam-se à promoção e à proteção à saúde
Saúde do
dos trabalhadores, assim como visa recuperação e reabilitação da saúde dos tra-
trabalhador
balhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho.
Realiza um conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à
Vigilância
saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da
Sanitária
produção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde.
Desenvolve ações de monitoramento contínuo do país/estado/região/município/
Vigilância da
território, por meio de estudos e análises que revelem o comportamento dos
Situação de
principais indicadores de saúde, priorizando questões relevantes e contribuindo
Saúde
para um planejamento de saúde mais abrangente.

Fonte: Boccatto (2012).

“Doenças reemergentes” são doenças já conhecidas que haviam sido controladas, mas que voltaram a
representar ameaça à saúde humana; registra-se no Brasil a dengue, a cólera e a leishmaniose visceral.
(Francisco Antônio Zancan Paz e Marilina Assunta Bercini)

70 Vigilância em Saúde
Vigilância
Epidemiológica

Quando falamos em Vigilância epidemiológica,


adotamos o conceito:



[...] um conjunto de ações que proporcio-
nam o conhecimento, a detecção ou a pre-
venção de qualquer mudança nos fatores
determinantes e condicionantes de saúde
individual ou coletiva, com a finalidade
de recomendar e adotar medidas de pre-
venção e controle de doenças ou agravos
(BOCCATTO, 2012).

Vamos conhecer um pouco mais sobre a


VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA.
O Sistema Nacional de Vigilância Epidemioló-
gica (SNVE) foi criado, no Brasil, em 1975, junto
ao Ministério da Saúde, abrangendo, exclusiva-
mente, doenças infecciosas de notificação com-
pulsória e agravos inusitados à saúde. Em 1990,
implantou-se o sistema de vigilância de eventos
adversos pós vacinação e, a partir daí, outros siste-
mas de vigilância foram sendo incorporados, tais
como a farmacovigilância, sistema de informação
de agravos de notificação, vigilância ambiental, vi-

UNIDADE 3 71
gilância de traumas e lesões, vigilância das doenças missíveis (DCNT) no país.
crônicas e vigilância global para respostas rápidas • Vigilância global para respostas rápi-
a doenças emergentes (WALDMAN et al., 2012). das às doenças emergentes: em resposta
Vejamos um pouco a respeito delas: à rápida urbanização, consumo de alimen-
• Vigilância de doenças infecciosas: ana- tos industrializados, novas técnicas de cria-
lisa o comportamento das doenças (impre- ção intensiva de animais, uso inadequado
visível e impacto global), influenciada pelo de antibióticos, alterações ambientais, cor-
comportamento humano. rentes migratórias e intercâmbio mundial
• Farmacovigilância: aplica-se à identi- e transportes de massa intercontinental,
ficação, análise, compreensão de eventos elaborou-se o Regulamento Sanitário In-
adversos associados ao uso de medica- ternacional com respostas a possíveis epi-
mentos, com a finalidade de estabelecer demias com rápida disseminação.
as bases técnicas para a sua prevenção
(medicamentos, vacinas, hemoderivados, Os diferentes sistemas de vigilância têm suas es-
produtos biológicos, plantas medicinais, pecificidades, no entanto, têm em comum os se-
medicina tradicional e complementar e guintes objetivos (WALDMAN et al., 2012):
equipamentos médicos). • Identificar novas doenças ou eventos ad-
• Vigilância ambiental: coleta, analisa e versos à saúde.
dissemina informações sobre exposições • Detectar epidemias e documentar a disse-
ambientais potencialmente de risco e des- minação de doenças.
fechos, estabelece associação entre os des- • Estimar a magnitude da morbidade e da
fechos e especificas exposições ambientais mortalidade causadas por determinados
potencialmente de risco. agravos.
• Vigilância de traumas e lesões: moni- • Identificar grupos e fatores de risco en-
tora a incidência, causas e circunstâncias volvendo a ocorrência de doenças, assim
em que ocorrem casos fatais e não fatais, como resíduos de fonte de infecção e de
intencionais e não intencionais – classifi- suscetíveis.
cação internacional de doenças por cau- • Recomendar, com base objetivas e cientí-
sas externas (um dos maiores e relevantes ficas, as medidas necessárias para prevenir
problemas de saúde pública - 10ª causa de ou controlar a ocorrência de específicos
morte no mundo). agravos à saúde.
• Vigilância de doenças crônicas: o siste- • Avaliar o impacto de medidas de interven-
ma de vigilância de fatores de risco e pro- ção e a adequação das táticas e estratégias
teção para doenças crônicas por inquérito aplicadas.
telefônico (VIGITEL) faz parte das ações • Revisar práticas antigas e atuais de sistema
do Ministério da Saúde para estruturar a de vigilância, com o objetivo de propor no-
vigilância de doenças crônicas não trans- vos instrumentos metodológicos.

72 Vigilância em Saúde
A Vigilância Epidemiológica
atualizou, em 2016, a lista na-
cional de notificação compul-
Os termos doença, agravo e evento são muito utilizados no con- sória referente a doenças, agra-
texto da saúde, você conhece o significado deles? vos e eventos de impor­tância
• Doença: significa enfermidade ou estado clínico, independente- para a saúde pública, por meio
mente de origem ou fonte, que repre­sente ou possa representar da Portaria 204/2016. Essa lista
um dano significativo para os seres humanos. tem abrangência nacional em
• Agravo: significa qualquer dano à integridade física, mental toda a rede de saúde, pública e
e social dos indivíduos, provocado por cir­cunstâncias nocivas, privada e, obrigatoriamente, as
como acidentes, intoxicações, abuso de drogas e lesões auto ou doenças devem ser regis­tradas
heteroinfligidas. e notificadas no Sistema de In-
• Evento: significa manifestação de doença ou uma ocorrência formação de Agravos de Notifi-
que apresente potencial para causar do­ença. cação (SINAN), obedecendo às
Fonte: Brasil (104/2011). normas e rotinas estabelecidas
pela Secretaria de Vigilância em
Saúde do Ministério da Saúde
(BOCCATTO, 2012).
Quadro 2 - Lista Nacional de Notificação Compulsória

Notificação Imediata (≤ 24 horas)


- Acidente de trabalho: grave, fatal - Doenças Exantemáticas: - Febre Tifóide
e em crianças e adolescentes a. Sarampo - Hantavírus
- Acidente por animal peçonhento b. Rubéola - Influenza humana produzida
- Acidente por animal potencial- - Doenças Febris Hemorrágicas por novo subtivo viral
mente transmissor da raiva - Leptospirose
Emergentes/Reemergentes:
- Botulismo - Malária na região Extra Ama-
a. Arenavírus
- Cólera zônica
b. Ebola
- Coqueluche - Poliomielite por poliovírus sel-
c. Marburg
- Dengue - óbitos vagem
- Eventos adversos graves ou
- Difteria - Peste
óbitos pós-vacinação
- Doença aguda pelo vírus Zika - Raiva humana
- Evento de saúde pública (ESP)
em gestantes que se constitua ameaça à saú- - Síndrome da Rubéola Congênita
- Doença de chagas aguda de pública (ver definição no ar- - Síndrome da paralisia flácida
- Doença invasiva por: “haemo- tigo 2º desta portaria) aguda
philus influenzae” - Febre amarela - Síndrome respiratória aguda
- Doença meningocócica e outras - Febre de Chikungunya em grave associada a coronavírus
meningites áreas sem transmissão a. Sars- Cov
- Doenças com suspeita de disse- - Óbito com suspeita de febre b. Mers- Cov
minação intencional: de Chikungunya - Tétano:
a. Antraz pneumônico - Febre no Nilo ocidental e ou- a. Acidental
b. Tularemia tras Arboviroses de importância
b. Neonatal
em saúde pública
c. Varíola - Varicela - caso grave internado
- Febre Maculose e outras Ri-
ou óbito
quetisioses
- Violência sexual e tentativa de
suicídio

UNIDADE 3 73
Notificação Semanal
- Acidente de trabalho com expo- - HIV/Aids - Infecção pelo vírus da Imu- - Óbito
sição a material biológico nodeficiência Adquirida a. Infantil
- Dengue - casos - Infecção pelo HIV em gestante, partu- b. Materno
- Doença aguda causadas pelo riente ou puérpera e criança exposta
- Sífilis
vírus Zika ao risco de transmissão vertical do HIV
a. Adquirida
- Doença de Creutzfeldt-jacob - Infecção pelo vírus da imunodeficiên-
cia humana (HIV) b. Congênita
(DCJ)
- Intoxicação exógena (por substâncias c. Em gestantes
- Esquistossomose
químicas, incluindo agrotóxicos, gases - Toxoplasmose gestacional
- Febre de Chikungunya
tóxicos e metais pesados e congênita
- Hanseníase
- Leishmaniose Tegumentar Americana - Tuberculose
- Hepatites Virais
- Leishmaniose Visceral - Violência: Doméstica e/ou
- Malária na região Amazônica outras violências

Fonte: Prefeitura do Rio - Portaria GM/MS 204/2016 (2016, on-line)1.

A notificação compulsória, como o nome diz, é obrigatória a todos os profissionais de saúde: enfer-
meiros, médicos, odontólogos, mé­dicos veterinários, biólogos, biomédicos, farmacêuticos e outros
no exercício da profissão, bem como os responsáveis por organizações e estabelecimentos públicos e
particulares de saúde e ensino.

O Guia de Vigilância em Saúde dissemina procedimentos de fluxos, prazos, instrumentos, defini-


ções de casos suspeitos e confirmados, funcionamento dos sistemas de informação em saúde,
condutas, medidas de controle e demais diretrizes técnicas para operacionalização do Sistema
Nacional de Vigilância em Saúde.
Fonte: Brasil (2016).

74 Vigilância em Saúde
Sistema de
Informação
em Saúde

O aperfeiçoamento do Sistema de Vigilância em


Saúde, na década de 90, acompanhou o desen-
volvimento das tecnologias de informática em
nosso país, tornando possível o acesso ágil a bases
de dados com informações variadas e desagre-
gadas sobre diversos registros, sendo esses dados
utilizados em pesquisas científicas, avaliação e
planejamento dos serviços de saúde e no ensino.
A informação na saúde é imprescindível para
que se tomem as decisões corretas para melhorar
o nível de saúde de uma determinada população.
Nesse sentido, surgem os sistemas de informa-
ção em saúde, definidos, por Medronho (2008),
como um conjunto de componentes que atuam
integrada e articuladamente e que tem como pro-
pósito obter e selecionar dados e transformá-los
em informação entendida como necessária para
o processo de decisão, próprio das organizações e
indivíduos que planejam, financiam, administram,
provêm, medem e avaliam os serviços de saúde.
Tais sistemas devem ter como característica:
• Serem articulados nos três níveis de gestão:
sistemas municipais, estaduais e federais.

UNIDADE 3 75
• Serem utilizados por todos os envolvidos Nesse sentido, o processo dos sistemas de in-
no planejamento, gestão e avaliação dos formação em saúde são organizados nas seguintes
serviços de saúde. etapas:
• Utilizar a informação como meio para
melhorar o nível de saúde das populações. Decisão e
Coleta Processamento
Controle
• Disponibilizar, aos usuários dos serviços, as
informações obtidas. Figura 1 - Etapas de organização do processo dos sistemas
de informação em saúde
A operacionalização dos sistemas de saúde deve
ser sistematizadas e organizadas; os procedi- Os dados coletados são armazenados em um
mentos de coleta devem estar normatizados; os banco de dados, em que ocorre o registro e onde
manuais de operação devem prever todas as si- é possível fazer a sua recuperação para que pos-
tuações; as pessoas responsáveis devem conhecer sam ser processados, analisados e, assim, gerar
a importância do que fazem e deve haver super- informações para a tomada de decisão e o con-
visão e assessoria adequada. trole de ações.

Dados - é a matéria-prima da informação, ou seja, são valores ainda não trabalhados.


Indicadores - quantificação da realidade, permitem comparar níveis de saúde entre diferentes po-
pulações; ao longo do tempo, derivam dos dados e geram informações.
Informações - tradução dos dados após eles serem trabalhados, de forma a permitir alterar o co-
nhecimento de outras pessoas, descreve uma situação real associada a um referencial explicativo.
Fonte: Cordoni Jr. (2001).

Existem inúmeros sistemas de informações, mas • Pesquisa Nacional por Amostra de Do-
queremos destacar os sistemas de informação de micílio (PNAD) que obtém informações
interesse à saúde e os Sistemas Nacionais de In- anuais sobre características demográficas
formação em Saúde. e socioeconômicas da população, como
Dentre os sistemas de interesse à saúde, pode- sexo, idade, educação, trabalho e rendi-
mos relacionar, entre outros: mento, características dos domicílios e,
• Instituto Brasileiro de Geografia e Estatís- com periodicidade variável, informações
tica (IBGE), que tem atribuições ligadas sobre migração, fecundidade, nupciali-
às geociências e estatísticas sociais, demo- dade, entre outras, tendo como unidade
gráficas e econômicas, o que inclui realizar de coleta os domicílios. Temas específicos
censos e organizar as informações obtidas abrangendo aspectos demográficos, sociais
nesses censos para suprir órgãos das esferas e econômicos também são investigados
governamentais federal, estadual e muni- (BRASIL, [2018], on-line)2.
cipal, e para outras instituições e o público • Ao Instituto de Pesquisa Econômica Apli-
em geral (BRASIL, [2018], on-line)2. cada (IPEA), que é uma fundação pública

76 Vigilância em Saúde
federal, vinculada ao Ministério do Plane- Sistema Nacional de Informação, dando suporte
jamento, Desenvolvimento e Gestão, o qual aos órgãos do SUS no processo de planejamento,
realiza pesquisas que fornecem suporte operação e controle.
técnico e institucional às ações governa- O quadro, a seguir, sintetiza os principais Sis-
mentais para a formulação e reformulação temas de Informação: Sistema de informação de
de políticas públicas e programas de desen- mortalidade (SIM), Sistema Nacional de nascidos
volvimento brasileiros (BRASIL, [2018], vivos (SINASC), Sistema Nacional de notificação
on-line)3. (SINAN), Sistema de Informação hospitalar (SIH)
e Sistema de informação ambulatorial (SIA), bem
O departamento de Informática do Sistema Único como os dados referenciais, forma de coleta, sua
de Saúde (DATASUS), criado em 1991, organiza o origem e algumas observações.
Quadro 3 - Características dos principais sistemas de informação em saúde
FORMA DE
SISTEMA REFERÊNCIA ORIGEM OBS.
DADOS

(1975)- DO- causa básica baseado no Códi-


go Internacional de Doenças CID 10 (2007).
1990- implantou DO na Secretaria de esta-
Declara- Hospitais do de saúde em 3 vias (1 Serviço de saúde,
SIM Óbitos ção de Médicos 1 cartório, 1 unidade notificadora).
óbito (DO) IML Indicadores: mortalidade proporcional por
causa, faixa etária, taxa geral, causas es-
pecíficas, mortalidade infantil, mortalidade
materna.
3 vias DNV (branca, serviço de saúde; ama-
Declara- rela, cartório; e rosa, unidade de saúde.
ção de Hospitais
Nascidos Indicadores: taxa bruta de fecundidade e
SINASC nascidos
vivos Cartórios natalidade, taxa de mortalidade infantil e
vivos
(DNV) materna, proporção de mães adolescentes
e partos cesáreos.
(1990-1993) Doenças de notificação obri-
gatória, incidência, prevalência e letalidade,
áreas de risco, tendência dos agravos.
Perfil epidemiológico dos agravos.
Lista de doenças de notificação obrigatória,
estados e municípios podem acrescentar
Fichas de UBS, hospi- na lista.
Agravos notificação tais, clínicas, Doenças crônicas transmissíveis (AIDS, es-
SINAN
notificáveis e investi- ambulatórios e quistossomose, hanseníase e tuberculose)
gação consultórios e não transmissíveis (desnutrição grave),
agudas transmissíveis (cólera, dengue e
imunoprevenível) e não transmissíveis
(acidentes com animais peçonhentos e
intoxicações por agrotóxico).
Ficha individual de notificação (suspeita
clínica) e de investigação (serviço de VE).

UNIDADE 3 77
FORMA DE
SISTEMA REFERÊNCIA ORIGEM OBS.
DADOS

(1990) AIH preenchida para toda internação


do SUS - 90% das internações, reembolso
Autoriza - realizado pelo mecanismo de pagamento fixo
ção de in- Hospitais con- por procedimento realizado.
Informação
SIH ternação veniados ao Indicadores - tempo médio de permanência
hospitalar
hospitalar SUS geral ou específica, valor médio da interna-
(AIH) ção, proporção de internação por causa ou
procedimento, mortalidade hospitalar geral
ou causa ou procedimento.
Boletim de
Informação produção Serviços ambu- Não verifica morbidade e sim procedimentos,
SIA ambulato- de serviços latoriais cadas- auxiliando no controle, auditoria, avaliação e
rial ambulato- trados pelo SUS planejamento.
riais (BPA)

Fonte: adaptado de Cordoni JR (2001).

Além desses bancos de dados, podemos destacar: Existe uma grande necessidade de ampliar a uti-
• SISVAN - Sistema de Vigilância Alimentar lização de dados produzidos pelos sistemas de
e Nutricional de crianças e gestantes. informação, no sentido de subsidiar a tomada de
• SIAB - Sistema de Informação da Atenção decisão de gestores e ações dos profissionais de
Básica -, consolida dados da população ads- saúde, acreditando que as informações, se ade-
crita nos Programa de Saúde da Família. quadamente utilizadas, podem contribuir para
• SISCAT - Sistema de Informação Sobre a redução de desigualdades e melhoria das ações
Acidentes de Trabalho -, acidente no local de saúde em nosso país.
ou no trajeto ou adoecem devido ao tra- É de responsabilidade de todo profissional
balho (CAT). zelar pela qualidade da informação prestada em
• SI-PNI- Sistema de Informação do Pro- seus atendimentos, orientar a equipe na coleta,
grama Nacional de Imunização - avalia a no processamento, na tomada de decisão e no
cobertura das diferentes vacinas em todos controle dos dados produzidos.
os municípios brasileiros.

A publicação de documentos com os indicadores brasileiros tem como objetivo subsidiar, com
informações relevantes, os processos de formulação, estruturação e avaliação de políticas e ações
públicas de importantes estratégias para o sistema de saúde.
(Ministério da Saúde)

78 Vigilância em Saúde
Indicadores
de Saúde

Como você já viu, os Indicadores são a quanti-


ficação da realidade, permitem comparar níveis
de saúde entre diferentes populações ao longo
do tempo, os quais derivam dos dados e geram
informações de saúde.
Em uma linguagem mais técnica, eles são des-
critos como medidas de razões (frequências re-
lativas) em forma de proporções (fatia do total
de casos ou morte), coeficientes/taxas (risco do
evento ocorrer) ou índice (não expressa risco),
sintetizando o efeito de determinantes de natureza
variada sobre o estado de saúde de uma população.
Os indicadores têm como objetivo prover
dados necessários ao planejamento e avaliação
dos serviços; identificar os fatores determinantes
das doenças e permitir sua prevenção; avaliar os
métodos usados no controle das doenças; des-
crever as histórias das doenças e classificá-las;
colocar à disposição do homem conhecimento
e tecnologia que possam promover a saúde indi-
vidual por meio de medidas de alcance coletivo
(CORDONI JR., 2001).
Para que sejam considerados um bom indi-
cador, algumas características são necessárias,
tais como:

UNIDADE 3 79
• O dado tem que estar disponível. didade e a esperança de vida ao nascer. Já os in-
• A técnica de manejo e entendimento deve dicadores negativos quantificam e descrevem
ser simples. a ocorrência de determinados agravos à saúde,
• Deve ser uniforme. doença e morte, para conhecer quantos adoecem
• Ter a capacidade de ser sintético. e quantos morrem.
• Ter poder discriminatório. Quando queremos saber quantos adoecem
Quanto à natureza dos indicadores, eles po- (morbidade), ou seja, como se dá a manifesta-
dem ser positivos ou negativos. ção de doença nas populações, a epidemiologia
Os indicadores positivos de saúde são os ín- utiliza duas medidas principais: a prevalência e a
dices de vida, ou seja, as condições demográficas, incidência.
alimentação e nutrição, educação, alfabetização, A incidência considera os casos novos das
condições de trabalho, situação de emprego, trans- doenças ou ocorridos recentemente em determi-
porte, consumo e economias gerais, habitações nada região, já a prevalência refere-se ao total de
e condições de moradia com inclusão de sanea- casos de uma região (novos e antigos), contados
mento básico, vestuário, lazer, segurança social e em um tempo limitado.
liberdade humana. No entanto, esses dados são Ambas são calculadas em termos de coeficien-
mais difíceis de mensurar. tes, que determina o risco do evento ocorrer e
Os indicadores positivos mais utilizados na auxilia na comparação entre regiões, seguindo
saúde são a taxa de natalidade, a taxa de fecun- a fórmula:
Coeficiente de Incidência Coeficiente de Prevalência

C.I = nº casos novos da doença X 1000 C.I = nº casos conhecidos de uma doença X 1000
________________________________________
________________________________
população sob risco população

Vale ressaltar que existem outros fatores que de incidência e o impacto das políticas públicas
podem aumentar a prevalência dos casos, tais e emigração de casos e imigração de sadios (ME-
como a melhora na detecção de novos casos NEGUEL, 2015).
(aprimoramento diagnóstico), a maior duração Outro coeficiente que se calcula a partir do
da doença e aumento da sobrevida (melhora no número de casos de uma doença é a letalidade
tratamento, como o caso da AIDS), a imigração (CL), expressa pela fórmula a seguir, que mede
dos casos e emigração dos sadios; mas, por outro o risco de uma pessoa morrer quando acometi-
lado, alguns fatores podem diminuir a prevalên- da por uma doença, ou seja, a gravidade de uma
cia, como o aumento da letalidade, diminuição doença ou agravo.

C.L =___________________________________
nº óbitos por determinada doença/período
nº de casos da doença/período

Quando queremos saber quantas pessoas mor- infantil, mortalidade segundo causas, mortalidade
reram por determinada causa, utilizamos indi- materna, mortalidade por grupo etário).
cadores de mortalidade proporcional (MP) e O coeficiente geral de mortalidade (CGM)
coeficientes de mortalidade (geral, mortalidade calcula o risco de óbito em uma comunidade,

80 Vigilância em Saúde
podendo ser possível relacionar o nível de saúde hab, se o cálculo fica abaixo disso, indica pou-
de diferentes áreas, no tempo. O CGM, em uma ca fidedignidade dos dados. A fórmula para o
população, fica em torno de 6-12 óbitos/1000 cálculo é:
CMG = ___________________________________
Total de óbitos registrados na área e período
x 100
População total na área e período

Também é possível fazer o cálculo de mortalidade proporcional dentro de um grupo determinado, tal
como por grupos etários, sexo ou por causa de morte. Vejamos a seguir.

Mortalidade Proporcional Segundo Grupo Etário

Quando se calcula a mortalidade segundo os grupos etários, é possível observar a distribuição percen-
tual dos óbitos por faixa etária na população residente em determinado território no ano considerado.
Ela é calculada com a seguinte expressão:

Número de óbitos especificados (por causa, idade, etc)


x 100
Número total de óbitos (ou também especificados)

Na análise da mortalidade do conjunto dos grupos etários, utiliza-se a CURVA DE NELSON DE


MORAES, construída a partir da distribuição proporcional dos óbitos por grupos etários: menor de
1 ano; 1 a 4 anos; 5 a 19; 20 a 49 anos; e 50 anos ou mais, em que é possível observar 4 tipos de curvas.

40 60
Porcentagem

50
Porcentagem

30
40
20 30
10 20
10
0 0
<1 1 a 4 5 a 19 20 a 49 ≥50 <1 1 a 4 5 a 19 20 a 49 ≥50
Idade Idade

50 80
Porcentagem

Porcentagem

40 60
30
40
20
10 20
0 0
<1 1 a 4 5 a 19 20 a 49 ≥50 <1 1 a 4 5 a 19 20 a 49 ≥50
Idade Idade
Figura 2 - Curva de Nelson de Moraes - mortalidade proporcional por idade em diferentes situações de saúde
Fonte: Medronho (2008).

UNIDADE 3 81
• Curva 1 - nível de saúde muito baixo: Outro índice de referência para análise da propor-
óbitos de adultos, jovens e menores de 1 ano. ção de óbitos acima de 50 anos é o ÍNDICE DE
• Curva 2 - nível de saúde baixo: óbito na SWAROOP E UEMURA, em que os altos valores
faixa infantil e pré-escolar. estão relacionados a regiões mais desenvolvidas:
• Curva 3 - nível de saúde regular: au- maior de 75% - típico de países desenvolvidos;
mento da mortalidade de 50 anos e dimi- 50-74% - certo desenvolvimento e regular orga-
nuição de óbitos infantis. nização dos serviços de saúde; 25-49% - estágio
• Curva 4 - nível de saúde elevado: predo- atrasado de desenvolvimento; abaixo de 25% - alto
mínio quase absoluto de óbitos de pessoas grau de subdesenvolvimento. Calculado por meio
mais velhas. da fórmula:

ISU = Número de óbitos em 50 anos de idade


x 1.000
Total de óbitos

Outro coeficiente muito utilizado é o de mor- condições de vida e de saúde, em que as altas taxas
talidade infantil (CMI), que estima o risco de refletem condições de vida e de saúde precárias.
crianças nascidas vivas morrerem antes de 1 ano, Considerado um dos melhores indicadores de
em uma certa área e período, sendo sensível às saúde de uma população, sua fórmula é:

CMI = Óbitos em menores de 1 ano, numa área e ano


x 1.000
Número de nascidos vivos na área e ano

Valores abaixo de 20 por mil nascidos vivos são dade infantil foi calculado 14 para cada mil nas-
considerados baixos, e acima de 60 por mil são cidos vivos, sendo que a queda foi de 77%, uma
considerados altos. das mais significativas do mundo nesse período
No Brasil, em 2014, o coeficiente de mortali- (MENEGUEL, 2015).

As taxas de mortalidade infantil (TMI) podem ser subdivididas em neonatal ou precoce e pós-
-neonatal ou tardio.
A mortalidade neonatal verifica óbitos de 0-27 dias, podendo ser, ainda:
precoce: 0-6 dias - em que as causas estão relacionadas a problemas na gestação e ao parto.
tardia: 7-27 dias - causas relacionadas a anomalias e afecções.
A mortalidade pós neo-natal ou infantil tardia acontece entre o 28-364 dias e tem suas causas relaciona-
das ao meio ambiente, condições de vida e acesso aos serviços de saúde, nutrição, agentes infecciosos,
gastroenterites, infecções respiratórias e desnutrição, em que a melhoria no indicador está relacionada
ao aumento de saneamento, do nível educacional materno e aumento da atenção à saúde da criança.
A mortalidade perinatal ou óbito fetal (CID 10) acontece entre 22a semana de gestação e a 1a
semana de vida.
Fonte: adaptado de Medronho et al. (2008).

82 Vigilância em Saúde
A mortalidade proporcional por causas de registrado no atestado de óbito, sendo que pode
morte específicas auxilia a identificação das ser utilizada no delineamento de prioridades na
principais causas de morte em uma certa lo- área de saúde. Seu cálculo é feito da seguinte
calidade, é baseada na causa básica do óbito, forma:

MPCM = Número de óbitos por grupo de causa


x 1.000
Número total de óbitos residentes

Outro cálculo importante, possível de realizar, é Quanto à mortalidade materna, considera-se


o de Mortalidade por causas evitáveis, que são morte obstétrica direta aquela que provém de
classificadas segundo a possibilidade de interven- complicações obstétricas, devido a intervenções,
ção e existência de tecnologia, independentemen- omissões e tratamento incorreto. Já a morte obs-
te dos procedimentos estarem disponíveis ou não: tétrica indireta ocorre quando resulta de doen-
os redutíveis por imunoprevenção, o adequado ças desenvolvidas durante ou agravadas pelo efei-
controle da gravidez, a atenção ao parto, o diag- to da gravidez.
nóstico e tratamento médico precoce. Vale ressaltar que a validade das medidas de
Dentre as causas evitáveis, destaca-se o coefi- mortalidade segundo a causa depende da quali-
ciente de mortalidade materna (CMM), que cal- dade de informações registradas nas declarações
cula o risco de óbito por causas ligadas à gestação, de óbito e da cobertura do registro de óbitos; a
parto ou puerpério (período de 42 dias após o proporção de óbitos por causa mal definidas é
parto). O CMM é um importante indicador da um indicador da qualidade de informações sobre
qualidade de assistência à gestação e ao parto. a mortalidade.

UNIDADE 3 83
Alguns Desafios da
Vigilância em Saúde

As transformações ocorridas no campo da Saúde


Pública, nos últimos anos, impulsionaram mu-
danças estru­turais e a proposição de modelos
inovadores de gestão, objetivando a melhoria da
qualidade dos serviços e da assistência destinados
à população, em sintonia com os princípios do Sis-
tema Único de Saúde (SUS) (BOCCATTO, 2012).
Mudanças ainda podem ser vistas. Em 2011,
o Decreto nº 7508 estabeleceu que Vigilância em
Saúde é parte de uma rede regionalizada e hie-
rarquizada de serviços, trabalhando junto com a
Atenção Primária; urgência e emergência; atenção
psicossocial; atenção ambulatorial especializada
e hospitalar.
Contudo, nem tudo se resolve com um decre-
to, ainda mais quando se trata de seu campo de
atuação, o qual é complexo, atuando em:
1. Ações diretas (coleta, consolidação, pla-
nejamento de programas de acordo com
a prioridade e ações de controle e disse-
minação).
2. Capacitação de recursos humanos e su-
porte de recursos tecnológicos.
3. Divulgação para a sociedade.

84 Vigilância em Saúde
Vejamos três desafios que permeiam as vigilâncias É de responsabilidade de todo profissional
e que precisam ser enfrentados, considerando que zelar pela qualidade da informação prestada em
existem muitos outros, destacamos os que seguem: seus atendimentos, orientar a equipe na coleta,
no processamento, na tomada de decisão e no
1. A tomada de decisão com base controle dos dados produzidos.
na informação
2. Estruturação e qualificação das
Apesar dos avanços da tecnologia de informação equipes
e o imenso benefício dos sistemas nacionais de
informação na vigilância epidemiológica, ainda se A colaboração e a coparticipação de gestores,
faz necessário o aperfeiçoamento desses sistemas, técnicos, tra­balhadores de todos os níveis e ato-
bem como o relacionamento e compatibilidade res sociais é essencial para o desenvolvimento
entre as bases de dados e o desenvolvimento de do trabalho na Vigilância em saúde, bem como
alguns sistemas específicos. ter pessoal suficiente e com qualificação para
Quando se desenvolve um sistema de vigilân- o desenvolvimento das ações. Tal necessidade
cia, implica-se o acesso à elevada gama de infor- se dá devido à dinâmica do processo de traba-
mações, especialmente as relativas à morbidade, à lho da Vigilância, exigindo, também, educa-
mortalidade, à estrutura demográfica, ao estado ção permanente dos profissionais envolvidos,
imunitário e nutricional da população, à situação que deve ser planejada de forma estratégica e
socioeconômica e ao saneamento ambiental, sendo integral, visando à melhoria da promoção da
que a saúde, atualmente, tem sido a porta de entra- saúde, à prevenção das doenças, ao diagnós-
da para vários sistemas, tendo íntima relação com tico, ao tratamento e a medidas de controle,
a situação social regional. Dessa forma, é necessá- debelando surtos e epidemias e melhorando a
rio integrar todas as Unidades de Atendimento à qualidade de vida e de saúde da comunidade
Saúde – tam­bém intersetorialmente e intersecre- (BOCATTO, 2012).
tarialmente (SETA; REIS; DELAMARQUE, 2010). Nesse sentido, o profissional da saúde deve
A utilização das informações para tomada da desenvolver uma dinâmica de aprendizagem e
decisão requer que todo o processo de Vigilância, inovação, cujo primeiro passo deve ser a capa-
da coleta, consolidação, planejamento, controle e cidade crescente de adaptação às mudanças,
disseminação de informações seja monitorado e comprometimento, busca de trabalho integrado,
conte com um sistema de informação consistente saber propor e desenvolver projetos, bem como
e integrado. competência técnica e disciplina.
Ainda existe uma grande necessidade de am-
pliar a utilização de dados produzidos pelos sis- 3. A pesquisa e a produção do
temas de informação, no sentido de subsidiar a conhecimento
tomada de decisão de gestores e ações dos profis-
sionais de saúde, acreditando que as informações, A cooperação entre serviços, universidades e ins-
se adequadamente utilizadas, podem contribuir titutos de pesquisa no desenvolvimento de pes-
para a redução de desigualdades e melhoria das quisas e na formação de recursos humanos para
ações de saúde em nosso país. a vigilância em saúde constitui um desafio.

UNIDADE 3 85
A pesquisa em saúde mobiliza muitos atores car, entre os diversos sistemas de vigilância, o
de origens diversas, com visões, interesses e lin- contexto da Vigilância epidemiológica, pois ela
guagens distintas; nesse sentido, construir uma sistematiza inúmeras ações, com a finalidade de
agenda de prioridades para pesquisa na área de subsidiar e proporcionar conhecimento, detec-
saúde é uma tarefa árdua, que pressupõe estabe- tar ou prevenir qualquer mudança nos fatores
lecer consensos e compartilhar recursos; mas, por determinantes e condicionantes de saúde indi-
outro lado, um campo rico de possibilidades, em vidual ou coletiva e, ainda, com a finalidade de
que o profissional pode articular saberes, pessoas recomendar e adotar medidas de prevenção e
e instituições, buscando a melhoria do serviço e controle de doenças ou agravos.
da qualidade de vida das pessoas. Para que as ações propostas pela Vigilância
Ao pontuar esses desafios, queremos que estes sejam concretizadas, é necessário acesso a um
sejam encarados de forma estratégica pelo ges- elevado e complexo conjunto de informações:
tor, no sentido de que estes possam ser encarados relativas à morbidade, mortalidade, situação so-
como novas oportunidades, e que os momentos cioeconômica e demográfica das pessoas, entre
de crise podem e devem ser vistos como espaços muitas outras. Dessa forma, o Ministério da Saú-
de crescimento e desenvolvimento dos serviços de conta com o Departamento de Informática
e das pessoas. do SUS (DATASUS).
Você conhece o modelo atual das práticas em O DATASUS reúne diversos sistemas de infor-
Vigilância adotado em seu município? Que de- mações, como diferentes informações de saúde, com
safios eles enfrentam? Quais as fragilidades dos a finalidade de fornecer dados aos gestores para
sistemas de Vigilância de seu município? que estes possam subsidiar a tomada de decisão.
A Vigilância em Saúde, como parte da Rede de Entretanto, não basta apenas ter acesso aos dados, o
Atenção à Saúde, está incluída no campo de ação profissional deve ser capaz de transformar os dados
do SUS, desenvolvendo uma série de ações e pro- em informações, bem como desenvolver uma dinâ-
gramas relevantes para a prevenção e controle de mica de aprendizagem e inovação, cujo primeiro
doenças e agravos, contribuindo para o trabalho do passo deve ser a capacidade crescente de adaptação
gestor no estabelecimento de prioridades, na alo- às mudanças, comprometimento, busca de trabalho
cação de recursos, nas orientações programá­ticas, integrado, saber propor e desenvolver projetos.
entre outras, em várias áreas do trabalho na saúde. Essa tarefa é um grande desafio para todos os
Quando consideramos o contexto da atuação profissionais envolvidos no trabalho da Vigilância
do profissional da saúde, é fundamental desta- em Saúde!

86 Vigilância em Saúde
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.

1. Conjunto de ações que proporcionam o conhecimento, a detecção ou prevenção


de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde
individual e coletiva. Tem como finalidade recomendar e adotar as medidas de
prevenção e controle das doenças ou agravos. Assinale a alternativa correta.
a) Vigilância Epidemiológica.
b) Vigilância Sanitária.
c) Vigilância da Saúde.
d) Vigilância Ambiental.
e) Vigilância Cultural.

2. Quanto às afirmações a seguir, assinale a alternativa correta.


I) As ações da vigilância epidemiológica são desenvolvidas nos sistemas locais de
saúde para agilizar a identificação e o controle dos eventos adversos à saúde.
II) A vigilância epidemiológica constitui importante instrumento para planejar,
organizar e operacionalizar serviços de saúde.
III) Informações oriundas da imprensa sobre possíveis surtos de doenças não
devem ser consideradas para investigação, pois a mídia, constantemente, faz
sensacionalismo sobre o caso, alarmando a comunidade.
IV) Durante o período de investigação de caso de doença, independentemente
do tipo da doença, devem-se adotar medidas rigorosas de isolamento.

Estão corretas:
a) Apenas I e II estão corretas.
b) Apenas II e III estão corretas.
c) Apenas I está correta.
d) Apenas II, III e IV estão corretas.
e) Nenhuma das alternativas está correta.

87
3. Analise os indicadores de saúde, a seguir, que têm como base de divisão o nú-
mero de habitantes do local.
I) Mortalidade geral.
II) Coeficiente de incidência acumulada.
III) Mortalidade infantil.
IV) Mortalidade materna.

Assinale a alternativa correta.


a) I, II, III e IV estão corretas.
b) Apenas I e II estão corretas.
c) Apenas I e III estão corretas.
d) Apenas I, III e IV estão corretas.
e) Nenhuma das alternativas está correta.

4. No conjunto dos sistemas de notificação e vigilância epidemiológica e sanitária


no Brasil, o responsável por coletar e processar dados sobre agravos de notifi-
cação em todo o território nacional é o:
a) Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM).
b) Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica (SNVE).
c) Sistema Nacional de Agravos de Notificação (Sinan).
d) Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB).
e) Sistema de Informação em Vigilância Sanitária (SIVISA).

88
5. Observe a curva de mortalidade por idades e, de acordo com seu formato, in-
dique em que nível de saúde está a população.

a) Tipo I: nível de saúde muito baixo.


b) Tipo II: nível de saúde baixo.
c) Tipo III: nível de saúde regular.
d) Tipo IV: nível de saúde elevado.
e) Tipo V: nível de saúde muito elevado.

89
LIVRO

Epidemiologia: exercícios indisciplinados


Stela Nazareth Meneghel
Editora: Tomo
Sinopse: o livro “Epidemiologia: exercícios indisciplinados” é uma obra que
objetiva discutir alguns dos principais temas da epidemiologia no contexto da
saúde coletiva e das políticas públicas de saúde. Destina-se a estudantes da
graduação dos diferentes cursos do campo da saúde e a trabalhadores de ser-
viços e instituições, motivados pelo estudo da epidemiologia e pela aplicação de
seus métodos. O texto traz o cinema, a arte e a literatura como coadjuvantes do
conhecimento epidemiológico e mistura textos teóricos com exercícios (indiscipli-
nados) pautados em dados reais, nos sistemas de informação de saúde do país;
mas, também, em notícias de jornal e da Internet. Espera que se possa auxiliar
os leitores a problematizar algumas das questões epidemiológicas do cotidiano
dos cursos e serviços, assim como ajudar a organização de indicadores de saú-
de e elaboração de perfis de saúde/doença e de estudos epidemiológicos. Em
suma, contribuir para a análise da situação de saúde da população (Rede Unida).

FILME

Yesterday
Ano: 2004
Sinopse: Filme sul africano, no qual as questões de gênero, raça e classe acom-
panham a jornada de uma mulher afetada pelo HIV, em busca de um tratamento
digno para sua enfermidade.

90
BOCCATTO, M. Vigilância em saúde. São Paulo: Unifesp, 2012.

BRASIL. Decreto n° 7.508, de 28 de junho de 2011. Regulamenta a Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990,
para dispor sobre a organização do Sistema Único de Saúde - SUS, o planejamento da saúde, a assistência à saúde
e a articulação interfederativa, e dá outras providências. Brasília: Presidência da República, 2011.

______. Diretrizes Nacionais da Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância
à Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, 2010.

______. Guia de Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde,
Coordenação-Geral de Desenvolvimento da Epidemiologia em Serviços, 2016.

______. Indicadores e dados básicos para saúde. Ministério da Saúde. Secretaria Técnica da Ripsa, 2001.

______. Portaria nº 104, de 25 de janeiro de 2011. Define as terminologias adotadas em legislação nacional,
conforme o disposto no Regulamento Sanitário Internacional 2005 (RSI 2005), a relação de doenças, agravos e
eventos em saúde pública de notificação compulsória em todo o território nacional e estabelece fluxo, critérios,
responsabilidades e atribuições aos profissionais e serviços de saúde. Brasília: Presidência da República, 2011.

CORDONI JR., L. Bases da Saúde Coletiva. Londrina: Uel, 2001.

MEDRONHO, R. et al. Epidemiologia. São Paulo: Atheneu, 2008.

MENEGHEL, S. N. Epidemiologia: exercícios indisciplinados. Porto Alegre: Tomo, 2015.

SETA, M. H.; REIS, L. G. C.; DELAMARQUE, E. Gestão da Vigilância à Saúde. Especialização em Gestão em
Saúde. Florianópolis: Departamento de Ciências da Administração/UFSC, 2010.

WALDMAN, E. A. et al. (Orgs). Vigilância como prática de saúde pública. Tratado de saúde coletiva. Rio
de Janeiro: Fiocruz, 2012.

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Em: <http://www.rio.rj.gov.br/dlstatic/10112/4364979/4155726/SVS_NotifCompulsoria.pdf>. Acesso em:
22 out. 2018.
2
Em: <http://www.ibge.gov.br/home/default.php>. Acesso em: 22 out. 2018.
3
Em: <http://www.ipea.gov.br/portal/>. Acesso em: 22 out. 2018.

91
1. A.

2. A.

3. C.

4. C.

5. C.

92
93
94
Dra. Marcela Demitto Furtado

Políticas Públicas
de Saúde no Brasil

PLANO DE ESTUDOS

Políticas de atenção Políticas de saúde e


à saúde da criança populações vulneráveis

Atenção à saúde Políticas públicas de saúde Políticas públicas


da mulher do adulto/idoso de saúde mental

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Compreender as principais políticas públicas de saúde • Estudar as políticas públicas com foco na saúde do adulto
voltadas à saúde da mulher. e da pessoa idosa.
• Entender as políticas públicas de atenção à saúde da • Compreender a organização do sistema de saúde na aten-
criança. ção à populações vulneráveis.
• Debater sobre as políticas públicas voltadas à saúde mental.
Atenção à Saúde
da Mulher

Olá, caro(a) aluno(a), estudamos, até aqui, aspectos


fundamentais para a compreensão da saúde públi-
ca brasileira, abordando desde conceitos de saúde e
doença, marcos históricos que antecederam o Sis-
tema Único de Saúde e que levaram a sua criação,
assistência à saúde no modelo de Redes de Atenção,
até a operacionalização da vigilância em saúde.
Entendemos que é a partir do levantamento
das reais necessidades da população que se criam
as políticas públicas, as quais devem elaborar pla-
nos de ação com o objetivo de minimizar e/ou
resolver os problemas da sociedade.
Nesta unidade, discutiremos as políticas pú-
blicas de saúde, separando-as de acordo com o
seu público alvo, como: mulher, criança, adulto
e idoso, populações vulneráveis e saúde mental.
Assim, em cada tópico, você irá se deparar com
uma área da saúde, as quais compõem eixos im-
portantes da saúde pública brasileira.
O conhecimento das políticas públicas de saú-
de específicas para cada público a ser assistido é
extremamente relevante quando se deseja analisar
a situação da saúde atual, além de permitir uma
visão mais ampliada sobre as conquistas alcança-
das, desafios e rumos a serem trilhados.
Iremos perceber que as políticas públicas de Outros assuntos também relacionados à mu-
saúde buscam atender as demandas de cuidado da lher, e não apenas àqueles ligados à vida reprodu-
população, levando em consideração o contexto tiva, começaram a ser discutidos, como prevenção
do momento e indicadores de resultado, além de das doenças sexualmente transmissíveis, métodos
buscar o cumprimento dos objetivos e princípios contraceptivos, sexualidade, excesso de trabalho
do SUS em suas ações. e desigualdades (BRASIL, 2004a).
Enquanto futuro profissional da saúde, você Foi nesse cenário que, em 1983, o Ministério
poderá se deparar com situações que envolvam da Saúde lançou o Programa de Assistência Inte-
clientelas diversas, por isso a importância de de- gral à Saúde da Mulher (PAISM), buscando in-
bater sobre as políticas públicas de saúde separa- tegralizar a assistência a essa clientela com ações
damente para cada área. educativas, de promoção, prevenção, diagnóstico
Nota-se que abordaremos assuntos bem diver- e tratamento.



sos em cada tópico, assim, abasteça-se de muito
ânimo, determinação e vontade de seguir em frente. O PAISM incorporou como princípios e
Para iniciar este tópico, precisamos recordar diretrizes as propostas de descentralização,
que, ao longo da história da humanidade, a mu- hierarquização e regionalização dos servi-
lher exerceu, por muito tempo, o papel social de ços, bem como a integralidade e a equidade
mãe e cuidadora dos afazeres domésticos. A visão da atenção, num período em que, paralela-
restrita sobre a mulher, considerando-a apenas mente, no âmbito do Movimento Sanitário,
como reprodutora, acabava por gerar uma ima- se concebia o arcabouço conceitual que em-
gem frágil, delicada. A subordinação da mulher basaria a formulação do Sistema Único de
ao homem, o qual era o provedor do lar e possuía Saúde (SUS) (BRASIL, 2004a, p. 16).
a sua figura associada à autoridade, também foi
outra característica bastante presente na história Em 2004, foi elaborada a Política Nacional de
e que deu origem às sociedades patriarcais. Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM),
Com relação à saúde, apenas nas primeiras a fim de atender às reais necessidades das mulhe-
décadas do século XX é que a saúde da mulher res brasileiras e, nesse sentido, reduzir índices de
recebeu um olhar diferenciado dos gestores e, en- morbidade e mortalidade por causas evitáveis.



tão, passou a fazer parte das políticas nacionais
de saúde. No entanto, até a década de 70, os pro- Esta nova política foi formulada tendo por
gramas ainda possuíam como embasamento esse base a avaliação das políticas anteriores e, a
conhecimento limitado e fragmentado da mulher partir de então, buscou preencher as lacu-
e sua saúde. O enfoque central dos programas nas deixadas, como: climatério/menopausa;
era a saúde da criança e da gestante (materno- queixas ginecológicas; infertilidade e repro-
-infantis), por considerá-las grupos com maior dução assistida; saúde da mulher na ado-
vulnerabilidade (BRASIL, 2004a). lescência; doenças crônico-degenerativas;
Com o movimento feminista brasileiro, em mea- saúde ocupacional; saúde mental; doenças
dos da década de 60, que propunha, entre outras infecto-contagiosas, bem como a atenção
coisas, a igualdade de gênero, foi possível ampliar o às mulheres rurais, com deficiência, negras,
conceito de saúde da mulher, entendendo a saúde se- indígenas, presidiárias e lésbicas (FREITAS
xual e reprodutiva como um direito (GIFFIN, 2002). et al., 2009, p. 427).

UNIDADE 4 97
As mudanças no papel social da mulher, sua in- A epidemiologia do câncer em mulheres no
serção no mercado de trabalho atrelada a novos Brasil, especialmente o câncer de mama e colo
hábitos e estilo de vida, sobrecarga de responsa- uterino, e sua magnitude social também são focos
bilidades e estresse da vida moderna, acabou por importantes quando se discute sobre a saúde da
provocar mudanças no perfil epidemiológico das mulher. Por isso, muitas estratégias são pensadas
mulheres (BRASIL, 2004a). e implementadas no sentido de controlar essas
Doenças antes com pouco significado passam doenças. Sabe-se que quando diagnosticadas pre-
a chamar a atenção devido a sua elevada preva- cocemente, possuem grandes chances de cura, o
lência, como é o caso das doenças crônicas não que destaca a importância do rastreamento e ado-
transmissíveis (DCNT), como Diabetes Mellitus, ção de condutas terapêuticas em tempo oportuno
Hipertensão Arterial e o Câncer. (BRASIL, 2013a).

De acordo com o Ministério da Saúde, o rastreamento refere-se à realização de um exame em um


indivíduo saudável, não doente, cujo objetivo é identificar sinais indicativos/sugestivos de câncer e,
quando necessário, encaminhá-lo para uma investigação mais aprofundada e/ou tratamento. Para
o câncer de mama, a principal forma de rastreamento é a mamografia, e para o câncer de colo de
útero o exame citopatológico/Preventivo/Papanicolau.
Fonte: Brasil (2013a).

A operacionalização da PNAISM se deu, na prá- • Garantia do direito ao acompanhante e ao


tica, por meio da elaboração de diversas ações alojamento conjunto.
consideradas prioritárias no atendimento à saúde • Resolutividade à atenção ao parto e ao nas-
dessa clientela. Nesse sentido, foram estabelecidos cimento.
Pactos, Programas e Políticas. Algumas delas serão • Garantia de atenção humanizada ao aborto.
apresentadas em seguida. • Organização de acesso e adequação da
Primeiramente, podemos citar o Pacto Nacio- oferta de serviços.
nal pela Redução da Mortalidade Materna e Neo- • Qualificação do atendimento às urgências/
natal, realizado em 2004, cuja meta estabelecida foi emergências.
a redução anual de 5% da mortalidade materna • Melhoria da rede hospitalar e ampliação
e neonatal. Para tanto, foram estabelecidas uma dos centros de parto normal.
série de ações estratégicas, como (BRASIL, 2004b): • Expansão da atenção à saúde da mulher
• Efetivação de pactos municipais e esta- e da criança.
duais. • Ampliação das ações de planejamento
• Qualificação e humanização da atenção à familiar.
saúde da mulher e da criança. • Redução da transmissão vertical do
• Acolhimento ao parto. HIV/aids.

98 Políticas Públicas de Saúde no Brasil


• Proteção à saúde da mulher trabalhadora. Único de Saúde (SUS), buscando reduzir os ín-
• Atenção às mulheres e recém-nascidos ne- dices de mortalidade e incapacidades provocadas
gros e indígenas, respeitando as suas parti- pelo câncer, além de melhorar a qualidade de vida
cularidades étnicas e culturais. dos usuários com a doença (BRASIL, 2014a).
• Acompanhamento de planos e seguros pri- Atualmente, é possível verificar que a po-
vados de saúde. pulação de mulheres é superior a dos homens,
• Promoção à educação permanente dos com maior expectativa de vida e que adoecem
profissionais envolvidos com a atenção com maior frequência, o que justifica a saúde da
obstétrica e neonatal. mulher ser entendida como prioridade no Brasil
• Garantia à vigilância ao óbito materno e (BRASIL, 2004a).
infantil. Nesse sentido, é fundamental pensarmos em
• Fortalecimento dos projetos de premiação ações de saúde, no âmbito da promoção, prevenção
de serviços exemplares. e tratamento, que compreendam a mulher como
um todo, entendendo-a como um ser biopsicos-
Em 2005, foi lançada a Política Nacional de social inserido num contexto e não mais de forma
Atenção Obstétrica e Neonatal com o obje- fragmentada como no início do século passado.
tivo de desenvolver ações voltadas à atenção
pré-natal, parto, recém-nascido, acompanha-
mento no pós-parto imediato, atendimentos às
principais intercorrências obstétricas e neona-
tais e atenção no puerpério no âmbito do SUS É importante que se pense em um modelo de
(BRASIL, 1.067/2005). atenção à saúde que possua uma efetiva comu-
Em 2013, o Ministério da Saúde instituiu a Po- nicação e articulação nos diferentes níveis de
lítica Nacional para a Prevenção e Controle do atenção. A garantia de acesso aos serviços e as-
Câncer na Rede de Atenção à Saúde das Pessoas sistência integral à mulher é fundamental.
com Doenças Crônicas no âmbito do Sistema

UNIDADE 4 99
Políticas de Atenção
à Saúde da Criança

Para iniciarmos este tópico, faço a seguinte per-


gunta: você já ouviu dizer ou mesmo já disse que
a criança é um adulto em miniatura?
Na área da saúde, por muito tempo, as crianças
foram tratadas como adultos ou, conforme colo-
cado na pergunta, como “adultos em miniatura”,
ignorando aspectos específicos da infância, tais
como seu crescimento e desenvolvimento, além
de características individuais presentes nessa fase.
Isso se deve ao fato de que, ao longo da história,
a criança ocupou diferentes posições na socie-
dade. No período colonial, muitas crianças eram
vistas, pela própria família, como mão de obra
barata; submetidas a castigos/torturas ou, ainda,
abandonadas em casas de caridade ou hospitais
(RIBEIRO, 2006).
As condições sanitárias da época eram pés-
simas, atreladas à má alimentação; e a falta de
assistência qualificada no parto fazia as taxas de
mortalidade infantil crescerem cada vez mais.

100 Políticas Públicas de Saúde no Brasil


No século XVII, a criança passou a ter repre- O PAISC possuía como objetivo promover
sentatividade nas famílias, as quais começaram a ações de saúde, de modo a priorizar as crianças
demonstrar afeto por elas. No entanto, no século com maior risco de adoecer. As ações de saúde
XVIII, muitas crianças continuam sendo abando- englobavam: acompanhamento do crescimen-
nadas, uma situação ainda aceita pela sociedade to e desenvolvimento; incentivo ao aleitamento
(ARIÈS, 2011). materno; controle das doenças diarreicas e das
A separação das crianças de seus pais ainda Infecções Respiratórias Agudas (IRAs) e a imu-
acontecia no século XIX, quando elas eram en- nização (BRASIL, 1984).
viadas para os colégios internos ou internatos e Em 1990, foi aprovada a lei 8.069, que dispõe
lá eram cuidadas e educadas (RIBEIRO, 2006). sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente
A família não entendia qual o seu papel na (ECA), o qual garante amplos direitos de proteção
vida da criança. Apenas quando ela começou a à vida e à saúde destes.
compreender a sua importância para a formação Em 1991, foi instituído o Programa de Assis-
e desenvolvimento de um indivíduo e os serviços tência à Saúde Perinatal (PROASP), com vistas a
públicos assumiram a sua responsabilidade assis- uma assistência de maior qualidade voltada ao
tencial é que a criança começou a ser respeitada e binômio mãe-feto e recém-nascido. Nesse pe-
valorizada. Foi então que começaram a ser criadas ríodo, muito se discutiu sobre a importância do
as políticas públicas de atenção à saúde da criança alojamento conjunto e do aleitamento materno
(ARAÚJO et al., 2014). (COSTA et al., 2010).
Na década de 20, surgem os primeiros deba- Na busca por uma assistência humanizada à
tes sobre o aleitamento materno, na busca de es- criança no âmbito hospitalar e que valorizasse a
tratégias para a sua promoção, já que bebês não amamentação é que, em 1995, o Ministério da
amamentados adoecem mais frequentemente e Saúde implantou a Iniciativa Hospital Amigo da
isso representava maior absenteísmo de mulheres Criança (IHAC).
no trabalho. Nos próximos anos, foram criados Já em 1996, foi adotada a Atenção Integrada às
programas cujo foco era a maternidade, infância Doenças Prevalentes na Infância (AIDPI), uma es-
e adolescência; no entanto, todos ainda com um tratégia que buscou fortalecer e organizar a aten-
olhar fragmentado e curativo acerca da criança ção primária à saúde, capacitando os profissionais
(SILVA, 2006). para o cuidado e tratamento das doenças mais
Mesmo com a implantação, em 1970, do Pro- frequentes em crianças menores de cinco anos.
grama Nacional de Saúde Materno-Infantil, que Considerando o número significativo de nas-
possuía como objetivo principal reduzir a mor- cimentos prematuros e com baixo peso, o Minis-
bimortalidade de mães e bebês, o panorama geral tério da Saúde lançou, em 2000, o Método Mãe
de saúde das crianças mantinha-se crítico (SILVA, Canguru - Atenção Humanizada ao recém-nas-
2006). cido de baixo peso.
Pensando em uma assistência integral à saúde O método propicia o contato pele a pele entre
da criança, ou seja, que considerasse suas diversas a mãe ou outro membro da família e o recém-
dimensões, valorizando-a como um ser único e -nascido, contribuindo para o estabelecimento e
que não pode ser dissociado de sua família, é que, fortalecimento do vínculo afetivo, além de outros
em 1984, foi criado o Programa de Assistência inúmeros benefícios já comprovados na literatura
Integral à Saúde da Criança (PAISC). (PINHEIRO et al., 2014).

UNIDADE 4 101
Ainda em 2000, foi criado o Programa Nacio- a qual apresenta sete eixos estratégicos (BRASIL,
nal de Humanização do pré-natal e nascimento, 1.130/2015):
buscando assegurar a integralidade da assistência • Atenção humanizada e qualificada à ges-
desde o pré-natal, incluindo gestantes de baixo e tação, parto, nascimento e recém-nascido.
alto risco, parto, transcorrendo pelo puerpério até • Aleitamento materno e alimentação com-
o período neonatal. plementar saudável.
Em 2004, foi lançada a Agenda de compro- • Promoção e acompanhamento do cresci-
missos para a saúde integral e redução da mor- mento e desenvolvimento integral.
talidade infantil, a qual destacou a importância • Atenção a crianças com agravos prevalen-
de ações que fortaleçam o nascimento saudável, tes na infância e com doenças crônicas.
contribuam para o crescimento e desenvolvi- • Atenção à criança em situação de violên-
mento e combatam os principais agravos nu- cias, prevenção de acidentes e promoção
tricionais e doenças mais comuns na infância da cultura de paz.
(SILVA et al., 2009). • Atenção à saúde de crianças com defi-
Seguindo a proposta das Redes de Atenção em ciência ou em situações específicas e de
Saúde (RAS), tema já abordado na Unidade 2, é vulnerabilidade.
que em 2011 foi implantada a Rede Cegonha e, • Vigilância e prevenção do óbito infantil,
em 2012, a Rede Mãe Paranaense. Essas RAS têm fetal e materno.
como proposta a organização da atenção mater-
no-infantil, à medida que permitem a integração Percebe-se que, ao longo da história, as políti-
de ações e serviços de saúde. cas públicas de saúde voltadas à criança foram
Em agosto de 2015, o Ministério da Saúde ins- se transformando, adequando-se tanto ao papel
tituiu a Política Nacional de Atenção Integral à social exercido pela criança como ao perfil epide-
Saúde da Criança (PNAISC) no âmbito do SUS, miológico e às demandas de saúde de cada época.

As políticas públicas de saúde da criança estão em constante construção. Buscam uma assistência integral
que inclua a família, migrando do modelo centrado na doença para o modelo de construção de redes.
(Juliane Pagliari Araújo)

102 Políticas Públicas de Saúde no Brasil


Políticas Públicas de
Saúde do Adulto/Idoso

Neste tópico, iremos abordar alguns aspectos


das políticas públicas de saúde voltadas ao adul-
to e ao idoso.
Mas quem é o adulto?
Podemos considerar o adulto aquele que en-
contra-se na faixa etária entre 18 e 60 anos de
idade. De acordo com o Estatuto do Idoso, con-
sidera-se pessoa idosa aquela com idade igual
ou superior a 60 anos (BRASIL, 1.074/2003), e
para o Estatuto da Criança e do Adolescente, a
adolescência se encerra aos 18 anos (BRASIL,
8.069/1990).
Já é conhecido que na atualidade ocorre uma
queda das taxas de fecundidade e de mortalidade
infantil, bem como um aumento da expectativa de
vida. Assim, os adultos representam uma porção
significativa da população e, portanto, merecem
atenção por parte das políticas públicas de saúde.
Para o planejamento de ações de saúde, tanto
individuais como coletivas, voltadas ao adulto, é
fundamental conhecer o perfil epidemiológico
dessa população. Nesse sentido, podem ser desta-
cadas algumas condições específicas, como: hiper-
tensão arterial, diabetes mellitus, tuberculose, han-
seníase e a saúde do homem (PERALBA, 2012).

UNIDADE 4 103
Em 2008, foi criada a Política Nacional de Fazem parte do Plano os quatro principais gru-
Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH), pos de DCNT, os quais são: circulatórias, câncer,
a fim de reconhecer os determinantes sociais respiratórias crônicas e diabetes. Os fatores de
que expõem essa parcela da população a riscos risco em comum modificáveis para essas doenças
de adoecer, evidenciando os principais fato- são: tabagismo, álcool, inatividade física, alimen-
res que contribuem para a morbimortalidade tação não saudável e obesidade; sobre os quais
(BRASIL, 2008). busca-se ações integradas, visando a melhoria das

““
DCNT em geral (BRASIL, 2011).
Um dos principais objetivos desta Política Melhorar as condições de vida do adulto é
é promover ações de saúde que contribuam pensar em idosos mais saudáveis, com maior
significativamente para a compreensão da qualidade de vida.
realidade singular masculina nos seus diver- O envelhecimento pode ser considerado como
sos contextos socioculturais e político-eco- um processo natural da vida que, em condições
nômicos; outro, é o respeito aos diferentes normais, não acarreta nenhum tipo de problema
níveis de desenvolvimento e organização (senescência). Já a senilidade refere-se à exposição
dos sistemas locais de saúde e tipos de ges- do indivíduo a doenças, por exemplo, o que exige
tão. Este conjunto possibilita o aumento da assistência de saúde (BRASIL, 2007).
expectativa de vida e a redução dos índices Todos nós estamos envelhecendo a cada dia,
de morbimortalidade por causas prevení- logo, hoje somos mais velhos do que ontem. E
veis e evitáveis nessa população (BRASIL, pensar no envelhecimento suscita uma série de
2008, p. 3). ações de promoção da saúde – grande foco das
políticas públicas.
No cenário atual, referente à saúde do adulto, no- O termo “envelhecimento ativo” passou a ser
ta-se que as políticas públicas estão alinhadas a utilizado no final dos anos 90, com o intuito de
uma busca pela assistência integral do indivíduo. expandir os fatores que afetam o envelhecimento
Para isso, muito se discute sobre a reorganização para além da saúde. As políticas públicas passa-
das Redes de Atenção em Saúde (RAS), de forma ram, então, a pensar em ações que abordassem a
que elas se articulem/comuniquem-se para aten- alimentação saudável, prática de atividade física,
der as demandas dessa população. Aliado a isso, combate às situações de violência familiar e ur-
o Ministério da Saúde tem investido na linha do bana, redução do consumo do tabaco e álcool etc.
cuidado voltado às doenças crônicas (GARCIA; (BRASIL, 2007).
FONSÊCA, 2014). Em 1994, é criada a Política Nacional do Idoso,
As doenças crônicas não transmissíveis a qual propõe ações em diversas áreas, como traba-
(DCNT) configuram-se como sério problema lho, lazer, habitação e saúde. Nesta última, a política
de saúde pública. Considerando sua magnitude busca garantir ao idoso a assistência nos diferentes
em todo o território brasileiro, foi elaborado o níveis de atenção à saúde (BRASIL, 8.842/1994).
Plano de Ações Estratégicas para o Enfrenta- No ano de 2003, por meio da lei n° 10.741, foi
mento das Doenças Crônicas Não Transmissí- instituído o Estatuto do Idoso, o qual dispõe sobre
veis (DCNT), 2011-2022. o papel da família, da comunidade, bem como

104 Políticas Públicas de Saúde no Brasil


dos gestores públicos, em garantir os direitos da
pessoa idosa. O Estatuto do Idoso vem somar com
a Política Nacional do Idoso e vai além no sentido
de oferecer punições quando os direitos não são
assegurados (BRASIL, 2003).
Em outubro de 2006, é aprovada a Política Na-
cional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI), cuja
finalidade principal é:

““
[...] recuperar, manter e promover a autono-
mia e a independência dos indivíduos idosos,
direcionando medidas coletivas e individuais
de saúde para esse fim, em consonância com
os princípios e diretrizes do Sistema Único
de Saúde (BRASIL, 2.528/2006, p. 3).

Como já foi abordado em outra unidade, a saúde do


idoso foi uma das seis prioridades pactuadas em 2006
entre as três esferas do governo – Pacto pela Vida.

A discussão sobre a saúde do idoso dentro do


contexto do Sistema Único de Saúde é ampla e
se insere em outras políticas públicas de saúde,
como as Políticas Nacionais de:
• Atenção Básica.
• Promoção da Saúde.
• Humanização no SUS.

Percebe-se que as políticas públicas de saúde vol-


tadas ao adulto e ao idoso respondem ao pano-
rama epidemiológico de cada período, buscando
atender as necessidades de saúde da população
alvo e, assim, permitir um envelhecimento cada
vez mais saudável.

UNIDADE 4 105
Políticas de Saúde e
Populações Vulneráveis

Para começar esse tópico, pergunte-se: o que sig-


nifica estar vulnerável? Vulnerável em relação a
que? Qual a relação entre vulnerabilidade e saúde?
Quais são as populações vulneráveis?
Mas o que é vulnerabilidade?
Para Bertolozzi et al., (2009, p. 1327) “o termo
vulnerabilidade é comumente empregado para
designar suscetibilidades das pessoas a problemas
e danos de saúde”.
Na saúde, a utilização do termo “vulnerabilida-
de” se deu no contexto da epidemia da AIDS/HIV,
quando percebeu-se que a utilização de “grupos
de risco” possuía um caráter restritivo e, por vezes,
preconceituoso. Logo, o conceito de vulnerabili-
dade parecia ser mais amplo e, no caso da AIDS,
demonstrava que todos os indivíduos sociais es-
tavam vulneráveis à doença.
De forma geral, uma pessoa vulnerável é aque-
la que está exposta a riscos. Nesse contexto, é pos-
sível destacar condições que favorecem maior ou
menor risco para o indivíduo, como, por exemplo:
aspectos comportamentais do indivíduo e/ou do
coletivo, além da possibilidade e formas para o
seu enfrentamento.
Assim, conhecer as vulnerabilidades de uma

106 Políticas Públicas de Saúde no Brasil


determinada população permite a realização de (Portaria 793, de 24/04/12), estabelecendo dire-
diagnósticos, com vistas à elaboração de ações trizes para o cuidado às pessoas com deficiência
específicas voltadas às necessidades do grupo. temporária ou permanente; progressiva; regressi-
Atualmente, inserem-se nos grupos de popula- va ou estável; intermitente ou contínua.
ções vulneráveis: pessoas com deficiência, pessoas A organização e funcionamento dos servi-
em situação de rua, pessoas negras, pessoas idosas ços de saúde, com comunicação entre as redes
e grupo LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis de atenção, articulando prevenção, promoção e
e transexuais). reabilitação, é fundamental para uma assistência
Iremos abordar, de forma pontual, alguns as- de qualidade a esse grupo vulnerável.
pectos importantes das políticas públicas de saúde Em julho de 2015, foi criada a Lei Brasileira de
para cada grupo, exceto para as pessoas idosas, Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da
visto que o tema já foi discutido em outro tópico. Pessoa com Deficiência), a qual prevê uma série
de direitos, entre eles o direito à saúde.

Pessoas com Deficiência


Pessoas em Situação de Rua
Diante da necessidade de incluir as pessoas com
deficiência na rede de serviços do SUS, de forma O número de Pessoas em Situação de Rua (PSR)
a atender integralmente suas complexas deman- cresce a cada ano no Brasil e isso é reflexo das con-
das de saúde, é que, em 2002, foi criada a Política dições sociais da população, como: desemprego,
Nacional de Saúde da Pessoa com Deficiência. pobreza, formação de grandes centros urbanos,
Em 2012, é instituído no âmbito do SUS a Rede rápida urbanização de algumas localidades, entre
de Cuidados à Saúde da Pessoa com Deficiência outras (BRASIL, 2014b).

“O Bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem”.
O poema de Manuel Bandeira retrata a triste realidade das PSR, grupo que ganhou visibilidade nos
últimos anos, o que permitiu uma série de avanços na área.
Fonte: Bandeira (1993).

UNIDADE 4 107
A invisibilidade desse grupo é um problema que entre a População em Situação de Rua e
impede que seus direitos enquanto cidadãos se- os demais grupos sociais.
jam reconhecidos e garantidos. • Implantar centros de defesa dos direitos hu-
Nesse sentido, em 2009, instituiu-se a Política manos para a População em Situação de Rua.
Nacional para População em Situação de Rua, a • Criar meios de articulação entre o Sistema
partir da qual: Único de Assistência Social (SUAS) e o Sis-



tema Único de Saúde (SUS) para qualificar
considera-se população em situação de rua o a oferta de serviços.
grupo populacional heterogêneo que possui • Implementar ações de segurança alimen-
em comum a pobreza extrema, os vínculos tar e nutricional suficientes para propor-
familiares interrompidos ou fragilizados e a cionar acesso permanente à alimentação
inexistência de moradia convencional regu- pela População em Situação de Rua, com
lar, e que utiliza os logradouros públicos e as qualidade.
áreas degradadas como espaço de moradia • Disponibilizar programas de qualificação
e de sustento, de forma temporária ou per- profissional para as pessoas em situação
manente, bem como as unidades de acolhi- de rua, com o objetivo de propiciar o seu
mento para pernoite temporário ou como acesso ao mercado de trabalho.
moradia provisória (BRASIL, 2014b, p. 11).
Na área da saúde, um grande avanço aconteceu,
São vários os objetivos dessa política, entre eles também, em 2009, com a criação do Comitê Téc-
(BRASIL, 2014b): nico de Saúde para a população em situação de
• Assegurar o acesso amplo, simplificado rua, por meio da Portaria MS/GM n° 3.305.
e seguro aos serviços e programas que Em 2013, foi publicado o Plano Operativo para
integram as políticas públicas de saúde, Implementação de Ações em Saúde da População em
educação, previdência, assistência social, Situação de Rua. Nesse plano, as ações de promoção
moradia, segurança, cultura, esporte, lazer, da saúde voltadas a essa população foram agrupadas
trabalho e renda. em cinco eixos, os quais são (BRASIL, 2014b):
• Garantir a formação e a capacitação per- 1. Inclusão da PSR no escopo das redes de
manente de profissionais para atuação atenção à saúde.
no desenvolvimento de políticas públicas 2. Promoção e Vigilância em Saúde.
intersetoriais, transversais e intergoverna- 3. Educação Permanente em Saúde na abor-
mentais direcionadas às pessoas em situa- dagem da Saúde da PSR.
ção de rua. 4. Fortalecimento da Participação e do Con-
• Desenvolver ações educativas permanen- trole Social.
tes que contribuam para a formação de 5. Monitoramento e avaliação das ações de
cultura de respeito, ética e solidariedade saúde para a PSR.

108 Políticas Públicas de Saúde no Brasil


O consultório na rua (CnaR) é uma estratégia voltada ao atendimento dessa população, que vive
“sem endereço, e nem moradia fixa”.
As equipes que atuam nos CnaR são formadas por profissionais de diversas áreas, que atuam de
forma itinerante, buscando garantir o acesso dessa população à saúde. Destaca-se que essa não é
a única “porta de entrada” da PSR no SUS. Sua entrada pode se dar, também, por meio das Unidade
Básica de Saúde e Unidades de Pronto Atendimento.
Fonte: Brasil (2014b).

Pessoas Negras Grupo LGBT

Em 2009, o Ministério da Saúde instituiu a Política Na 13º Conferência Nacional de Saúde, realizada
Nacional de Saúde Integral da População Negra, em 2013, muito se discutiu sobre orientação se-
em resposta às desigualdades em saúde que aco- xual e identidade de gênero como determinantes
metem essa população, que grande parte se deve sociais de saúde. Nesse sentido, foram elencadas
ao contexto histórico desse grupo no Brasil. algumas estratégias:

““
• O desenvolvimento de ações interseto-
Seu propósito é garantir maior grau de riais de educação em direitos humanos e
equidade no que tange a efetivação do di- respeito à diversidade, efetivando campa-
reito humano à saúde, em seus aspectos de nhas e currículos escolares que abordem
promoção, prevenção, atenção, tratamento e os direitos sociais.
recuperação de doenças e agravos transmis- • A sensibilização dos profissionais a respei-
síveis e não transmissíveis, incluindo aque- to dos direitos de LGBT, com inclusão do
les de maior prevalência nesse segmento tema da livre expressão sexual na política
populacional (BRASIL, 2013b, p. 7). de educação permanente no SUS.
• A inclusão dos quesitos de identidade de
Essa política tem um caráter transversal das ações gênero e de orientação sexual nos formulá-
de saúde da população negra, à medida que reali- rios, prontuários e sistemas de informação
za articulações entre as secretarias do Ministério em saúde.
da Saúde, cuja intencionalidade é a promoção de • A ampliação da participação dos movimen-
equidade – um dos princípios do SUS. tos sociais LGBT nos conselhos de saúde.

UNIDADE 4 109
• O incentivo à produção de pesquisas cien-
tíficas, inovações tecnológicas e comparti-
lhamento dos avanços terapêuticos.
• A garantia dos direitos sexuais e reprodu-
tivos e o respeito ao direito à intimidade e
à individualidade.
• O estabelecimento de normas e protocolos
de atendimento específicos para as lésbicas
e travestis.
• A manutenção e o fortalecimento de ações
da prevenção das DST/aids, com especial
foco nas populações LGBT.
• O aprimoramento do Processo Transexua-
lizador.
• A implementação do protocolo de atenção
contra a violência, considerando a iden-
tidade de gênero e a orientação sexual
(BRASIL, 2013c, p. 12).

Em 2011, foi definida a Política Nacional de Saúde


Integral dos LGBT, visando a inclusão social desse
grupo vulnerável.
De acordo com o Ministério da Saúde, a Polí-
tica tem como principal objetivo:

““
[...] promover a saúde integral de lésbicas,
gays, bissexuais, travestis e transexuais, eli-
minando a discriminação e o preconceito
institucional, bem como contribuindo para
a redução das desigualdades e a consolida-
ção do SUS como sistema universal, integral
e equitativo (BRASIL, 2013c, p. 18).

A garantia de atendimento à saúde é um direito


de todo cidadão, devendo-se respeitar as suas es-
pecificidades, sejam elas quais forem. Para tanto,
foram criadas as políticas públicas de saúde para
as populações vulneráveis.

110 Políticas Públicas de Saúde no Brasil


Políticas Públicas
de Saúde Mental

Antes de iniciar este tópico, é importante nos per-


guntarmos: o que é saúde mental? Quem são os
doentes mentais? Por que a criação de políticas
públicas direcionadas à saúde mental?
Mais uma vez, precisamos retomar a história para
compreendermos todas essas questões. Vamos lá!
Considerando que a loucura existe desde o
princípio da humanidade, vários eram os locais
destinados para se tratar os loucos: igrejas ou tem-
plos, domicílio e asilos. As instituições psiquiátri-
cas, propriamente ditas, surgiram em meados do
século VXIII (FOUCAULT, 1995).
A abordagem ao indivíduo com doença mental
era autoritária, agressiva, violenta e totalmente ex-
cludente. O indivíduo era mantido em hospícios
ou manicômios, longe dos familiares. Muito se
falava em choques como método de tratamento e
as famosas “camisas de força” para contenção nos
momentos de crise, quando não eram acorrenta-
dos e trancados em salas escuras.
O descontentamento da comunidade psiquiá-
trica, indivíduos com transtorno mental, familia-
res e a sociedade de forma geral, com o modelo
de assistência na área de saúde mental, é que fo-
mentou o processo de Reforma.

UNIDADE 4 111
Quem já ouviu a expressão “ficou pinel”? Ela significa “ficou louco” e faz referência ao sobrenome de
um médico que marcou a história da saúde mental.
No contexto da Revolução Francesa, Philippe Pinel, médico psiquiatra, foi considerado o primeiro
reformador da assistência psiquiátrica. Por muitos é considerado o pai da psiquiatria. Em 1798, in-
dignado com as péssimas condições de tratamento, ele liberou asilados presos há mais de 30 anos.
Seus pensamentos e atitudes influenciaram a revolução psiquiátrica em diversos países.
Fonte: Foucault (1995).



A Reforma Psiquiátrica, propriamente dita, [...] oferecer atendimento à população de sua
iniciou-se internacionalmente. O médico italiano área de abrangência, realizando o acompa-
Franco Basaglia foi seu precursor na década de 60, nhamento clínico e a reinserção social dos
lutando por melhores condições das instalações usuários pelo acesso ao trabalho, lazer, exer-
que atendiam as pessoas com transtornos men- cício dos direitos civis e fortalecimento dos
tais, melhor tratamento clínico e, mais para frente, laços familiares e comunitários. É um serviço
criticando o modelo hospitalocêntrico. de atendimento de saúde mental criado para
Em 1978, aconteceu, no Rio de Janeiro, o I ser substitutivo às internações em hospitais
Simpósio Internacional de Psicanálise, Grupos psiquiátricos (BRASIL, 2004c, p. 13).
e Instituições, o qual contou com a presença do
Dr. Basaglia. A partir desse Simpósio, a luta an- Em 1987, acontece a I Conferência Nacional de
timanicomial e a reforma psiquiátrica no Brasil Saúde Mental, a qual contou com membros de
se fortaleceu. diversos segmentos da sociedade.



Na década de 70, inicia-se o processo de Re-
forma Psiquiátrica no Brasil. A partir desse pe- A realização da I Conferência Nacional
ríodo, vários acontecimentos marcam a história de Saúde Mental, em desdobramento à 8ª
da saúde mental. Conferência Nacional de Saúde, representa
Em 1978, o Movimento dos Trabalhadores de um marco histórico na psiquiatria brasilei-
Saúde Mental (MTSM) mostra seu desconten- ra, posto que reflete a aspiração de toda a
tamento com a assistência prestada ao paciente comunidade científica da área, que entende
com transtorno mental, criticando o modelo cen- que a política nacional de saúde mental ne-
trado nos hospitais, além de destacar as péssimas cessita estar integrada à política nacional de
condições de trabalho e a privatização da atenção desenvolvimento social do Governo Federal
psiquiátrica. (BRASIL, 1988, p. 9).
Esse movimento social foi um dos responsá-
veis pela criação, em 1986, do primeiro Centro No mesmo ano, na cidade de Bauru-SP, ocorre
de Atenção Psicossocial (CAPS), localizado no o I Encontro Nacional do Movimento de Traba-
município de São Paulo. lhadores de Saúde Mental. O lema criado nesse
O objetivo do CAPS é: período – “Por uma sociedade sem manicômios”

112 Políticas Públicas de Saúde no Brasil


– sugere a necessidade de discutir sobre a saúde V. ter direito à presença médica, em qualquer
mental e uma nova assistência psiquiátrica por tempo, para esclarecer a necessidade ou
parte da sociedade. não de sua hospitalização involuntária;
Um fato importante foi a intervenção na Casa VI. ter livre acesso aos meios de comunicação
de Saúde Anchieta, localizada em Santos-SP. A disponíveis;
intervenção foi o fechamento do hospício, pela VII. receber o maior número de informações a
prefeitura, e a criação de centros de atenção psi- respeito de sua doença e de seu tratamento;
cossocial. VIII. ser tratada em ambiente terapêutico pelos
Em 1990, foi divulgado, pela Organização Pan- meios menos invasivos possíveis;
-Americana de Saúde e a Organização Mundial IX. ser tratada, preferencialmente, em serviços
da Saúde, um documento intitulado: “a reestru- comunitários de saúde mental (BRASIL,
turação da atenção psiquiátrica na América La- 10.216/2001, p. 1).
tina: uma nova política para os serviços de Saúde
Mental”, mais conhecido como Declaração de Ca- Com base na Lei 10.216 é se que se deu a criação
racas, cuja proposta central é a reestruturação da da Política Nacional de Saúde Mental.
assistência psiquiátrica. De acordo com a Portaria do Ministério da
Nesse contexto, acreditava-se que o modelo Saúde nº 399/GM, de 22 de fevereiro de 2006,
de assistência vigente não conseguiria atender destaca-se que a saúde mental foi incluída como
o indivíduo com transtorno mental em sua in- prioridade no Pacto pela Vida, em 2007.
tegralidade. O modelo hospitalocêntrico, como É claro que ainda há um longo caminho a ser
única alternativa de cuidado, acaba por provocar percorrido na área de saúde mental, de modo que
isolamento social e da própria família. as políticas públicas de saúde realmente consigam
Em 2001, a Lei nº 10.216, conhecida como a atender esse público de forma integral em todas
Lei da Reforma Psiquiátrica, apresenta uma nova as demandas. No entanto, é notório as conquistas
direção para o modelo assistencial em saúde men- alcançadas ao longo da história.
tal, garantindo proteção e direitos às pessoas por- Com a desinstitucionalização, busca-se inserir
tadoras de transtornos mentais. a pessoa com transtorno mental na sociedade,
De acordo com a lei, são direitos da pessoa permitindo sua (re)inserção no mercado de tra-
portadora de transtorno mental: balho, nos estudos, nas práticas de lazer, além de
I. ter acesso ao melhor tratamento do sis- permitir seu convívio com a família e a sua de-
tema de saúde, consentâneo às suas ne- sestigmatização.
cessidades; Nesse novo modelo de assistência em saúde
II. ser tratada com humanidade e respeito e mental, a família é considerada coparticipante
no interesse exclusivo de beneficiar sua no processo de reabilitação do indivíduo com
saúde, visando alcançar sua recuperação transtorno mental, precisando ser amparada e
pela inserção na família, no trabalho e na capacitada pelos profissionais de saúde.
comunidade; Em 2011, foi instituída a Rede de Atenção Psi-
III. ser protegida contra qualquer forma de cossocial para pessoas com sofrimento ou trans-
abuso e exploração; torno mental e com necessidades decorrentes do
IV. ter garantia de sigilo nas informações uso de crack, álcool e outras drogas, no âmbito do
prestadas; Sistema Único de Saúde (SUS).

UNIDADE 4 113
A articulação dessa Rede, com valorização em cada época, tanto pela sociedade como pelos
para os CAPS como serviço estratégico em saú- profissionais envolvidos. Os modelos de assistên-
de mental, é um dos pontos importante para a cia à saúde, por exemplo, apresentaram grandes
garantia de acesso, integralidade do cuidado, além mudanças ao longo da história. Atualmente, é
de resolutividade e qualidade no serviço prestado. enfatizada a busca por uma assistência que preze
Assim, faz-se necessário um olhar avaliativo pela integralidade do indivíduo, considerando-o
para as políticas de saúde vigentes. Elas corres- um ser biopsicossocial e, nesse sentido, as políti-
pondem aos motivos pelos quais foram criadas? cas foram sendo (re)construídas.
O Brasil apresenta inúmeras políticas públi- É um grande desafio para os profissionais
cas de saúde. Nesta unidade, abordamos alguns da saúde, em todas as esferas de governo, cum-
marcos importantes e características de algumas prirem com as propostas pactuadas por meio
políticas voltadas a grupos específicos, como: das políticas públicas. É necessário que elas as-
mulher, criança, adulto e idoso, saúde do idoso e segurem, na prática, os direitos constitucionais
populações vulneráveis. do cidadão.
É importante destacar que as políticas públi- Por isso, é importantíssimo um bom preparo
cas de saúde buscam atender às necessidades da do aluno na academia para o exercício da pro-
comunidade em determinado momento, por isso fissão. As bases teóricas, no caso desta unidade,
elas não são estáticas, pelo contrário, são dinâ- embasadas pela política e marcadas pela história,
micas, estão em constante transformação. Afinal, são relevantes para a compreensão da atualidade.
a sociedade, de forma geral, vive em constante Logo, a capacitação profissional de qualidade
transformação, seja ela econômica, cultural ou é fundamental na área da saúde, a fim de formar
política. Assim, o estudo sobre a temática tem um profissionais que implementem políticas públicas
começo, mas não um ponto final! de saúde de acordo com as reais demandas da
Além disso, as políticas públicas de saúde população, além de garantir, na prática, a opera-
vão se adequando às discussões que emergem cionalização dos princípios do SUS.

114 Políticas Públicas de Saúde no Brasil


Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.

1. Sobre as políticas públicas de saúde, no Brasil, voltadas à mulher, analise as


questões a seguir.
I) As políticas públicas de saúde direcionadas a esse público iniciaram nas
primeiras décadas do século XIX.
II) Por um longo período, os programas de saúde materno-infantis refletiram a
visão limitada da sociedade em relação à mulher, destacando o biológico e
seu papel social de mãe e doméstica.
III) O Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM) foi lançado
pelo Ministério da Saúde em 1983 e incorporou os princípios que nortearam
a reforma sanitária.
IV) A humanização e a qualificação da atenção em saúde são princípios norteado-
res da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher, criada em 2004.

Assinale a alternativa correta.


a) Somente as afirmativas I, II e III são verdadeiras.
b) Somente as afirmativas I e IV são verdadeiras.
c) Somente as afirmativas II, III e IV são verdadeiras.
d) Todas as afirmativas são verdadeiras.
e) Nenhuma das afirmativas são verdadeiras.

115
2. As políticas públicas voltadas à saúde da criança avançaram ao longo da história.
Buscam uma assistência à saúde por meio da construção de redes e que garanta
a integralidade do cuidado. Sobre o assunto, assinale a alternativa correta.
a) Desde os primórdios da humanidade, a figura da criança sempre foi permeada
de afeto, especialmente dentro do contexto familiar.
b) O Programa de Assistência Integral à Saúde da Criança (PAISC) criado em 1984,
possuía como objetivo promover ações de saúde, priorizando crianças com
maior risco de adoecer.
c) A Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância (AIDPI) buscou for-
talecer e organizar a atenção primária à saúde, tendo como foco o cuidado e
tratamento das doenças mais frequentes em crianças até 10 anos.
d) As Redes de Atenção em Saúde é uma realidade em diversas áreas da saúde,
exceto na saúde materno-infantil.
e) Os eixos estratégicos da Política Nacional de Atenção Integral à saúde da Criança
(PNAISC), desconsidera os determinantes sociais e condicionantes da saúde
da criança.

116
3. O envelhecimento da população é uma realidade mundial. Nesse sentido, é
necessário criar estratégias de promoção da saúde e prevenção de doenças
ao longo da vida, a fim de possibilitar uma velhice com maior qualidade de
vida. Sobre as políticas públicas de saúde voltadas ao adulto e idoso, analise as
questões abaixo.
I) Um dos objetivos da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem
(PNAISH) é aproximar a população masculina do serviço de saúde, tendo a
atenção primária como porta de entrada, já que muitos adentram o sistema
de saúde pela atenção especializada.
II) O Estatuto do idoso representou uma grande conquista da população idosa
brasileira, garantindo a eles direitos em diversas áreas, inclusive o direito à
saúde por meio do SUS.
III) O processo de transição epidemiológica que acontece no Brasil é marcado pelo
aumento das mortes por doenças infectocontagiosas e queda progressiva das
mortes por doenças crônicas, a exemplo das neoplasias e hipertensão arterial.
IV) A Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI), criada pelo Ministério
da Saúde, em 2006, destaca a necessidade de se considerar essa população
igual às demais, sem distinção de grupos ou estratos, a fim de não gerar
discriminação.

Assinale a alternativa correta.


a) Apenas I e II estão corretas.
b) Apenas II e III estão corretas.
c) Apenas I está correta.
d) Apenas II, III e IV estão corretas.
e) Nenhuma das alternativas está correta.

117
4. Sobre as políticas públicas de saúde mental, assinale a alternativa correta:
a) A Reforma Psiquiátrica no Brasil ainda está em processo de consolidação, visto
que muitos hospitais psiquiátricos ainda não aumentaram o número de leitos.
b) São objetivos dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS): acolher os pacientes
com transtornos mentais, auxiliá-los na sua integração familiar e na sociedade,
além de encorajá-los na busca pela autonomia.
c) A Política Nacional de Saúde Mental propõe uma série de mudanças direciona-
das à saúde das pessoas com transtorno mental; no entanto, mantém o mesmo
modelo assistencial praticado no século XVIII.
d) A Declaração de Caracas, divulgada em 1990, fortaleceu a ideia de que pessoas
com transtorno mental eram perigosas e precisavam ser tratadas em institui-
ções psiquiátricas.
e) A Rede de Atenção Psicossocial para pessoas com sofrimento ou transtorno
mental possui como ponto estratégico os hospitais psiquiátricos.

5. Conhecer a vulnerabilidade de determinada população faz-se necessário para


a elaboração de estratégias assertivas de promoção da saúde e prevenção de
doenças. Sobre as políticas públicas de saúde direcionadas às populações vul-
neráveis (pessoas com deficiência, pessoas em situação de rua, pessoas negras,
pessoas idosas e grupo LGBT), assinale a alternativa correta.
a) O Estatuto da Pessoa com Deficiência garante, entre outros fatores, o direito
à saúde, sem, contudo, abordar sobre o acesso aos serviços de habilitação e
de reabilitação.
b) Uma estratégia encontrada para a assistência à saúde das pessoas em situação
de rua foi a criação do Consultório na Rua, o qual está vinculado a uma assis-
tência exclusivamente curativa.
c) A Política Nacional de Saúde Integral dos LGBT tem muitos objetivos, entre
eles destacam-se: a eliminação da discriminação e preconceito, bem como
contribuição para a redução das desigualdades e a consolidação do SUS como
sistema universal, integral e equitativo.
d) As desigualdades sociais observadas na população negra em nada se relacionam
com o acesso desse grupo às questões relativas à saúde.
e) O termo vulnerabilidade pode ser entendido como sinônimo de incapacidade
quando se aborda o processo de envelhecimento da pessoa idosa.

118
LIVRO

Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher


Princípios e Diretrizes
Editora: Ministério da Saúde
Sinopse: o manual do Ministério da Saúde apresenta a Política Nacional de Aten-
ção Integral à Saúde da Mulher, com destaque para seus objetivos e princípios.

FILME

Ilha do Medo
Ano: 2010
Sinopse: Trata-se de um suspense que acontece em uma prisão psiquiátrica
para detentos de alta periculosidade, a qual fica localizada em uma ilha. Leo-
nardo DiCaprio representa um agente federal que é encaminhado a essa ilha
para investigar a morte de uma interna. O personagem faz críticas à instituição,
dado a forma como os pacientes psiquiátricos eram tratados.

FILME

Nise, o coração da loucura


Ano: 2016
Sinopse: Filme nacional que conta a história da psiquiatra Nise da Silveira, inter-
pretada pela atriz Glória Pires. A médica propõe uma nova forma de tratamento
aos pacientes que sofrem da esquizofrenia, eliminando o eletrochoque e loboto-
mia. Seus colegas de trabalho discordam do seu meio de tratamento e a isolam,
restando a ela assumir o abandonado Setor de Terapia Ocupacional, em que dá
início a uma nova forma de lidar com os pacientes, por meio do amor e da arte.

119
ARAÚJO, J. P. et al. História da saúde da criança: conquistas, políticas e perspectivas. Rev Bras Enferm. v. 67,
n. 6, p. 1000-7, 2014.

ARIÈS, P. História social da criança e da família. 2. ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 2011.

BANDEIRA, M. O bicho. In: BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira. 20. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.

BERTOLOZZI, M. R. et al. Os conceitos de vulnerabilidade e adesão na Saúde Coletiva. Rev. esc. enferm. USP.
v. 43, n. 2, p. 1326-1330, 2009.

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______. Controle dos cânceres do colo do útero e da mama. Brasília: Ministério da Saúde, Secretaria de
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______. Envelhecimento e saúde da pessoa idosa. Brasília: Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à
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______. Implantação das Redes de Atenção à Saúde e outras estratégias da SAS. Brasília: Ministério da
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______. Lei n° 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras
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______. Lei n° 8.842, de 4 de janeiro de 1994. Dispõe sobre a política nacional do idoso, cria o Conselho
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122
1. C.

2. B.

3. A.

4. B.

5. C.

123
124
Dra. Marcela Demitto Furtado

Política Nacional de
Humanização (PNH)

PLANO DE ESTUDOS

Diretrizes e Atenção à saúde


dispositivos da PNH do trabalhador

Segurança e direito Desafios para a


Conhecendo a PNH
do paciente humanização nos
serviços da saúde

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Compreender a criação da PNH, seus objetivos e princípios. • Entender as políticas de saúde voltadas ao trabalhador.
• Conhecer as diretrizes e dispositivos da PNH. • Discutir os principais desafios para a humanização nos
• Estudar sobre a segurança e direito do paciente. serviços de saúde.
Conhecendo
a PNH

Olá, caro(a) aluno(a), estamos quase chegando


na reta final. Percorremos um longo caminho até
aqui. Nesse percurso, acredito que você conseguiu
compreender os diversos aspectos que tornam a
saúde pública tão ampla e complexa e, ao mesmo
tempo, tão fascinante.
Conseguimos preparar uma bagagem bastan-
te vasta de conhecimento, a qual será de grande
relevância para o melhor entendimento do tema
que abordaremos.
Nesta unidade, iremos discutir sobre a huma-
nização, um termo bastante utilizado na área da
saúde atualmente, mas que ainda gera dúvidas
quanto ao seu significado e operacionalização.
Talvez porque o assunto ultrapasse as questões
técnicas e instrumentais, alçando dimensões po-
lítico-filosóficas.
A humanização é um aspecto fundamental
nas políticas de saúde, por isso foi criada a Políti-
ca Nacional de Humanização (PNH), que surgiu
para reconstruir o modelo de assistência à saúde,
bem como a gestão dos processos de trabalho.
Assim, uma das propostas de estudo para esse e Complementares, Psicólogos, Nutricionistas, Fo-
momento é conhecer a PNH, seus objetivos, prin- noaudiólogos, Terapeutas Ocupacionais e outros).
cípios, diretrizes e dispositivos. Iremos abordar, Então, sugiro que você aproveite esse momento
também, aspectos relativos à segurança e direitos não só para se apropriar da temática, mas também
do paciente, saúde do trabalhador, bem como os para repensar sobre o profissional que você deseja
principais desafios para que a humanização acon- ser. Precisamos ser a mudança que queremos ver
teça, de fato, nas instituições de saúde. nos serviços de saúde.
A reflexão sobre a humanização na prática as- Dessa forma, desejo força de vontade, dedi-
sistencial em saúde, desde a elaboração de políti- cação e organização para aproveitar ao máximo
cas públicas, gestão e cogestão, nos processos de essa oportunidade.
trabalho, até a realização do cuidado ao usuário, Antes de conhecermos a Política Nacional de
extrapolando as relações e afetando também as Humanização (PNH), é importante refletirmos
estruturas, sejam elas físicas ou não, é um exercício sobre o significado da palavra humanização.
muito importante para todos os profissionais na Pare um instante e tente responder às seguintes
área da saúde (Médicos, Dentistas, Tecnólogos em questões: o que é humanização? Como huma-
Estética e Cosmética, Biomédicos, Enfermeiros, nizar o humano? O que eu entendo sobre hu-
Podólogos, Fisioterapeutas, Terapeutas Integrativos manização na saúde?

De acordo com o Dicionário da Língua Portuguesa, humanização significa o “ato ou efeito de huma-
nizar”. E humanizar é “tornar humano, tornar tratável, civilizar” (BUENO, 2007).
Na área da saúde, o termo “humanização” começou a ser utilizado a partir do século XXI, partindo
de discussões e recomendações realizadas pelo Ministério da Saúde. Humanizar a saúde é bastante
complexo, pois envolve uma série de questões, como: respeito à unicidade de cada indivíduo; políti-
cas públicas, no sentido de garantir igualdade de acesso aos serviços; envolve processo de trabalho;
competência profissional; cuidado voltado àquele que cuida, como uma das formas de valorizar o
trabalhador etc. (BERMEO, 2008).
Fonte: adaptado de Bueno (2007) e Bermeo (2008).

Em 2000, o Ministério da Saúde instituiu o Pro- saúde, que impacte na qualidade da assistência
grama Nacional de Humanização da Atenção prestada pelas instituições vinculadas ao SUS.
Hospitalar (PNHAH), cujo objetivo principal Em 2003, a humanização, antes considerada
é aprimorar as relações entre usuários e profis- programa, passa a ser uma política – A Política
sionais, entre os próprios profissionais e entre o Nacional de Humanização da atenção e gestão
serviço hospitalar e a comunidade. A intenção do do SUS (PNH), também conhecida como Hu-
Programa é promover uma nova forma de “fazer” manizaSUS.

UNIDADE 5 127
A humanização, enquanto A PNH propõe uma nova forma de gerir e cuidar a partir de três
política do SUS, não se relacio- princípios básicos:
na apenas a pessoas (usuários, • Transversalidade. O caráter transversal da PNH refere-se
trabalhadores, gestores) e suas ao fato de que ela deve estar inserida em todas as políticas
ações, mas também envolve a e programas do SUS, ampliando a comunicação dentro dos
relação existente entre elas e grupos e entre eles;
o ambiente em que atuam. A • Indissociabilidade entre atenção e gestão. A gestão e a forma
PNH suscita modos de ser e de gerir saúde está intimamente ligada à atenção prestada.
fazer saúde. Tanto os usuários como os trabalhadores, além de conhecer
De acordo com o Ministério a forma de gestão dos serviços de saúde, precisam ser ativos
da Saúde, a humanização pode no processo de tomada de decisão.
ser compreendida como: • Protagonismo, corresponsabilidade e autonomia dos sujeitos



e coletivos. No SUS humanizado, cada um (usuário, traba-
[...] valorização dos lhador e gestor) tem o seu papel bem definido, seus direitos
diferentes sujeitos im- e suas responsabilidades na construção da saúde.
plicados no processo
de produção de saúde: A PNH pode ser implantada em qualquer serviço de saúde: uma
usuários, trabalhadores Unidade Básica de Saúde, Unidade de Pronto Atendimento, hos-
e gestores; Fomento da pitais e secretarias de saúde, ou seja, em toda a rede pública, desde
autonomia e do prota- que seja firmado um compromisso entre gestores, trabalhadores e
gonismo desses sujeitos; usuários para a reorganização das práticas de saúde, aceitando as
Aumento do grau de propostas da PNH.
corresponsabilidade na Dentro desta reorganização das práticas de saúde, podemos
produção de saúde e de observar a inserção pelo Ministério da Saúde, de novas propostas
sujeitos; Estabelecimen- de tratamentos, com a criação da Política Nacional de Práticas In-
to de vínculos solidários tegrativas e Complementares (PNPIC) no SUS, com a aprovação
e de participação coleti- da Portaria Nº 971, de 03 de maio de 2006, que visava garantir a
va no processo de gestão; população condições de bem-estar físico, mental e social, ofertando
Identificação das neces- cinco procedimentos na área de tratamentos holísticos (Medicina
sidades sociais de saúde; Tradicional Chinesa/Acupuntura, Homeopatia, Plantas Medici-
Mudança nos modelos nais e Fitoterapia, Medicina Antroposófica e Termalismo Social/
de atenção e gestão dos Crenoterapia).
processos de trabalho, Em 2017, foram incluídos ao SUS mais 14 terapias, somando 19
tendo como foco as ne- práticas disponíveis à população, sendo estas: ayurveda, arteterapia,
cessidades dos cidadãos biodança, dança circular, meditação, musicoterapia, naturopatia,
e a produção de saúde; osteopatia, quiropraxia, reflexoterapia, reiki, shantala, terapia co-
Compromisso com a munitária integrativa e yoga.
ambiência, melhoria das Com o aumento da procura destas técnicas de tratamento, devi-
condições de trabalho e do a evidências científicas dos benefícios do tratamento integrado
de atendimento (BRA- entre medicina convencional e práticas integrativas e complemen-
SIL, 2004, p. 15). tares, em 21 de março de 2018, foram acrescentadas mais dez novas

128 Política Nacional de Humanização (PNH)


práticas na Política Nacional de Práticas Integrativas e Complemen-
tares – PNPIC, através da Portaria N° 702, alterando a Portaria de
Consolidação nº 2/GM/MS, de 28 de setembro de 2017.
Estas dez técnicas introduzidas (aromaterapia, apiterapia, bioe-
nergética, constelação familiar, cromoterapia, geoterapia, hipnote-
rapia, imposição de mãos, ozonioterapia, terapia de florais), fez do
Brasil o país líder na oferta dessa modalidade na atenção básica,
pois passa a contar com 29 práticas integrativas pelo SUS.
Mas qual é o caminho/método a ser percorrido para a opera-
cionalização da PNH?
O Ministério da Saúde propõe que a PNH deva caminhar no
sentido da inclusão de diferentes agentes nos processos de produção
da saúde, denominado “método de tríplice inclusão” (BRASIL, 2008).
Quadro 1 - Método de tríplice inclusão

Inclusão de
fenômenos que
Inclusão dos Inclusão do
promovam o
gestores, usuários coletivo, seja dos
pensamento
e trabalhadores trabalhadores de
crítico e analítico
na produção saúde, quando em
sobre os modelos
de autonomia trabalho grupal,
de atenção
protagonismo e seja do movimento
e gestão, no
corresponsabilidade. social organizado.
sentido de gerar
mudanças.

Fonte: Brasil (2008).

A valorização do sujeito pela PNH implica em incluí-lo no processo


de trabalho como um agente capaz de identificar lacunas e construir
estratégias para saná-las. Cuidar do cuidador/trabalhador de saúde
é possibilitar a construção conjunta de estratégias para “aliviar as
dores”/sofrimentos, muitas vezes ocasionados pela forma de gestão e
organização do trabalho (PASCHE; PASSOS; HENNINGTON, 2011).

UNIDADE 5 129
Diretrizes e
Dispositivos
da PNH

As diretrizes da PNH referem-se às orientações


gerais acerca dessa política pública de saúde,
que serão apresentadas brevemente no quadro 2
(BRASIL, 2008).
Os dispositivos da PNH são meios de colocar
em prática as diretrizes que serão apresentadas a
seguir. São eles (BRASIL, 2008):
• Acolhimento e Classificação de Risco (ACR).
• Colegiado Gestor.
• Contrato de Gestão.
• Equipe Transdisciplinar de Referência e de
Apoio Matricial.
• Grupo de Trabalho de Humanização
(GTH) e Câmara Técnica de Humaniza-
ção (CTH).
• Programa de Formação em Saúde e Tra-
balho (PFST) e Comunidade Ampliada de
Pesquisa (CAP).
• Projeto memória do SUS que dá certo.
• Projeto Terapêutico Singular (PTS) e Pro-
jeto de Saúde Coletiva.
• Projetos cogeridos de ambiência.
• Sistemas de escuta qualificada para usuá-
rios e trabalhadores da saúde: gerência de
porta aberta, ouvidorias, grupos focais e
pesquisas de satisfação.
• Visita aberta e direito à acompanhante.

130 Política Nacional de Humanização (PNH)


Quadro 2 - Diretrizes da PNH

Envolve uma abordagem clínica da doença e do sofrimento que vai além do


patológico. Isso permite uma visão ampliada do sujeito, pois considera suas ou-
Clínica tras dimensões dentro do processo saúde-doença. Considera o indivíduo como
ampliada único, busca pela integralidade, combate o modelo fragmentado de assistência
em saúde. Por meio do diálogo, entre os sujeitos é possível a construção de deci-
sões compartilhadas e comprometidas com a autonomia.
Refere-se à inclusão de novos sujeitos no modo de gerir, bem como a ampliação
Cogestão de tarefas da gestão. Envolve a interação de pessoas e recursos para se alcançar
os objetivos e metas.
Remete ao reconhecimento da legitimidade da necessidade do outro, o que envol-
ve escuta ativa e qualificada, criação de vínculo. O acolhimento realizado a partir da
Acolhimento
necessidade do sujeito permite o acesso àquilo que ele realmente precisa, além de
permitir que situações de maior vulnerabilidade sejam atendidas com prioridade.
Valorização do
Destaca a importância do trabalhador na tomada de decisão; considerando sua
trabalho e do
capacidade de análise crítica, reflexiva e de geração de mudanças.
trabalhador
Defesa dos Os usuários possuem uma série de direitos e cabe aos profissionais e serviços
Direitos do de saúde divulgar esse conhecimento, bem como contribuir para que eles sejam
Usuário cumpridos.
Considera o grupo não apenas como um conjunto de indivíduos, é muito mais
do que isso. O grupo é de um coletivo que está em constante transformação,
Fomento das compondo uma rede na qual o processo de produção de saúde se realiza.
grupalidades,
A reorganização da gestão e assistência à saúde só faz sentido se partir do cole-
coletivos e
tivo, ou seja, dos atores do processo; é o que o torna democrático.
redes
A construção das redes foi uma das estratégias para ampliar a comunicação
entre os serviços, de modo a melhorar a qualidade da assistência prestada.
Construção da
A história do SUS revela inúmeros desafios, porém muitas conquistas foram
memória do
alcançadas e devem ser divulgadas. Buscar a memória do SUS, os pontos-chaves
SUS que dá
e marcos importantes podem auxiliar a repensar o presente e planejar o futuro.
certo

Fonte: adaptado de Brasil (2008).

A Ambiência na saúde é um termo bastante usado no contexto da humanização dos serviços, pois
refere-se ao tratamento do espaço/território físico de modo que ele seja acolhedor, confortável.
Nesse sentido, é fundamental valorizar os componentes do ambiente, como cor, cheiro, luz, texturas
e sons, por acreditar que um bom espaço físico possa otimizar o encontro entre pessoas e ser um
facilitador do processo de trabalho.
Vale destacar que a ambiência extrapola a ideia de uma estruturação físico-funcional. Envolve as-
pectos culturais e de modo de vida, como, por exemplo, a privacidade do indivíduo; acessibilidade e
acesso sem discriminação; aspectos relativos à ergonomia, conforto térmico e acústico.
Fonte: Brasil (2010).

UNIDADE 5 131
Segurança e Direito
do Paciente

A preocupação em discutir sobre a segurança do


paciente nas instituições de saúde acontece em
nível global. Trata-se de um componente impor-
tantíssimo para a qualidade da assistência; logo,
é um indicador de saúde que deve ser analisado
criteriosamente pelos profissionais de saúde e
gestores nesta área.
Quando um erro acontece, infringindo a segu-
rança do paciente, os prejuízos podem ser diversos
para ele, podendo se estender para sua família;
na maioria das vezes, prolonga-se o tempo de in-
ternação, o que também pode gerar novos riscos,
além de elevar os custos hospitalares; a morte,
infelizmente, pode ser também uma consequên-
cia. Diante de um erro praticado, destacam-se,
ainda, os efeitos psicológicos traumáticos na vida
dos profissionais de saúde que prestam o cuidado
(DE CARVALHO; VIEIRA, 2002).
Foi nos Estados Unidos, a partir do relatório
do Institute of Medicine, no final do século XX,
que se iniciou um movimento sobre a segurança
do paciente. O relatório mostrou dados sobre a
assistência à saúde no país, identificando taxas
alarmantes de eventos adversos que culmina-
ram em mortes após a internação de pacientes
(KOHN; CORRIGNAN; DONALDSON, 2001).

132 Política Nacional de Humanização (PNH)


A partir do ano 2000, o mundo todo passa a dos pacientes hospitalizados sofreram algum tipo
reconhecer a segurança do paciente como uma de evento adverso, sendo que 58,9% poderiam ter
dimensão da qualidade da assistência em saú- sido evitados (ANVISA, 2013).
de. Nesse sentido, surgem muitas pesquisas, bem Em relatório realizado em mais de 30 mil hos-
como a criação de institutos e associações voltadas pitais da Europa, em 2013, foi evidenciado que
à segurança do paciente (CASSIANI, 2005). um em cada 18 pacientes apresenta infecção as-
Frente à magnitude do problema, a Organização sociada à assistência em saúde, o que alerta para
Mundial de Saúde estabeleceu, em 2004, a Aliança a necessidade urgente de estratégias que tentem
Mundial para a Segurança do Paciente (World Al- sanar esse sério problema de saúde pública (FA-
liance for Patient Safety). Trata-se de um compro- RIA; MOREIRA; PINTO, 2013).
misso firmado entre diversos países, com o intuito De acordo com Silva (2010), o grande desafio
de definir e identificar prioridades acerca da segu- dessa temática está na compreensão de que as
rança do paciente (WHO, 2008). causas dos eventos adversos são multifatoriais e
Em 2013, o Ministério da Saúde, por meio da que todos os profissionais de saúde são suscetíveis
portaria GM/MS nº 529, instituiu o Programa a cometer erros, especialmente quando o proces-
Nacional de Segurança do Paciente (PNSP), cujo so de trabalho é complexo e/ou encontra-se mal
objetivo principal é melhorar a qualidade do cui- organizado.
dado em saúde nos estabelecimentos nacionais. Quantas vezes já ouvimos na mídia sobre casos
Ainda em 2013, foram aprovados seis proto- de pacientes que foram lesados devido a erros
colos básicos de segurança do paciente: provocados por profissionais de saúde? Erros na
• Identificação do Paciente. administração de medicação, troca de pacientes
• Prevenção de úlcera por pressão. submetidos a um procedimento cirúrgico, falhas
• Segurança na prescrição, uso e administra- na prescrição médica, entre muitos outros.
ção de medicamentos. James Reason, professor de psicologia da
• Cirurgia segura. Universidade de Manchester, Reino Unido, ten-
• Prática de higiene das mãos em serviços tou explicar o caráter multifatorial das falhas
de saúde. de segurança por meio da teoria sobre o erro
• Prevenção de quedas. humano, também conhecida como “queijo suíço”.
Ele compara as fragilidades do sistema de saú-
Mesmo com tantas ações mundiais em prol da de aos buracos do queijo. O alinhamento entre
segurança do paciente, ainda há muito o que fazer. vários furos do queijo suíço é que irá culminar
Uma pesquisa realizada em cinco países da amé- em perdas ou danos (REASON; CARTHEY; DE
rica latina, entre 2007 e 2009, mostrou que 10,5% LEVAL, 2001).

UNIDADE 5 133
Modelo de causa de acidente - Queijo Suiço
Alguns buracos
devido a falha
ativa (erro, Perigos
violações de
procedimento)

Outros buracos
devido às condições
Perdas latentes (falha de
equipamento, falta
Sucessivas camadas de defesas, de treinamento ou
barreiras e proteções experiência da
Figura 1 - Modelo do Queijo Suíço
Fonte: Reason (2006).

Pensando no Modelo do Queijo Suíço aplicado trabalho, cansaço e estresse do profissional (DOS
à área da saúde, que estratégias poderiam ser im- SANTOS et al., 2014).
plementadas para evitar o desencadeamento de Independentemente de qualquer situação, é
um evento adverso? sabido que o paciente tem o direito de receber
Donabedian (1980) tenta explicar a ocorrência uma assistência em saúde segura, o que consiste
dos eventos adversos por meio da tríade – estrutu- em um desdobramento do direito à vida, já que a
ra - processo - resultado. A estrutura relaciona-se falta de segurança pode ocasionar a morte.
a aspectos mais estáveis, como os profissionais, os Em 2009, o Conselho Nacional de Saúde
instrumentos de trabalho, os locais e modelos de aprovou a Carta dos Direitos dos Usuários da
organização dos serviços. O processo envolve as Saúde, a qual apresenta seis princípios básicos
ações realizadas pelos profissionais em direção ao (BRASIL, 2011):
paciente, bem como as respostas destes àquilo que • Todo cidadão tem direito ao acesso or-
foi realizado. O resultado pode ser representado denado e organizado aos sistemas de
pela efetividade e eficiência das atividades pratica- saúde.
das, bem como pelo grau de satisfação do paciente. • Todo cidadão tem direito a tratamento
Existem muitos estudos de campo que buscam adequado e efetivo para seu problema.
investigar as causas dos eventos adversos na área • Todo cidadão tem direito ao atendimento
da saúde. Muitos deles relacionados a erros de humanizado, acolhedor e livre de qualquer
medicação. discriminação.
Estudo de revisão sobre erros de medicação • Todo cidadão tem direito a atendimento
entre profissionais de enfermagem mostrou que que respeite a sua pessoa, seus valores e
entre as principais causas estão a sobrecarga de seus direitos.

134 Política Nacional de Humanização (PNH)


• Todo cidadão também tem responsabili-
dades para que seu tratamento aconteça
da forma adequada.
• Todo cidadão tem direito ao comprome-
timento dos gestores da saúde para que os
princípios anteriores sejam cumpridos.

É importante destacar que a Carta dos Direitos


dos Usuários da Saúde é um dos dispositivos da
Política Nacional de Humanização, tema discutido
nos tópicos anteriores. Acredita-se que promover
uma assistência de qualidade a todos os cidadãos,
com alta resolutividade, em ambiente acolhedor,
faça parte de um atendimento humanizado.
Embora exista a constituição que garanta os
direitos do paciente, é notório o distanciamento
entre o que está em lei e a prática dos serviços de
saúde. Muitos pacientes desconhecem seus direi-
tos, e outros, por medo de represália das institui-
ções e/ou profissionais de saúde, negam-se a exi-
gi-los, omitem-se (VELOSO; SPINDOLA, 2005).
Nesse sentido, a criação de espaços democrá-
ticos criados pela sociedade são importantes para
exigir dos gestores políticas públicas e uma admi-
nistração que busque por medidas de proteção aos
direitos do paciente (CHAUÍ, 2006).
De acordo com Gomes et al. (2008, p. 774) “a
educação mostra-se como uma possibilidade de
acesso à informação e consciência política em
direção a uma mudança nas práticas de saúde que
ferem a dignidade humana”.
É relevante, também, que os profissionais de
saúde se sintam responsabilizados em fornecer
informações aos pacientes sobre os seus direi-
tos. A partir da apropriação desse conhecimento,
é possível maior controle social e participação
coletiva nas ações e processos de gerir a saúde.
Lembrando que aspectos relativos à autonomia
e corresponsabilidade fazem parte da PNH, pro-
posta pelo Ministério da Saúde.

UNIDADE 5 135
Atenção à Saúde
do Trabalhador

Sabemos que, na nossa sociedade, o trabalho não diz


respeito apenas a uma fonte de renda que permite
que as pessoas possuam coisas, mas relaciona-se,
ainda, com reconhecimento, honra e realizações.
Além disso, é preciso considerar que o trabalho
também pode gerar problemas que afetam a saú-
de, ocasionados pelo estresse ou pela exposição a
condições perigosas, entre muitas outras situações.
Este esgotamento causado pelo estresse em um
grande número na população é que incentivou
o aumento da oferta das Práticas Integrativas e
Complementares (PICS), pelo SUS.
Nesse tópico, iremos tratar sobre a saúde do
trabalhador; mas, o que significa esse termo? E
por que discutir esse assunto na saúde pública?
De acordo com o Ministério da Saúde, o termo
Saúde do Trabalhador refere-se “a um campo do sa-
ber que visa compreender as relações entre o traba-
lho e o processo saúde/doença” (BRASIL, 2001, p. 7).



A gente não quer só comer
A gente quer prazer pra aliviar a dor
A gente não quer só dinheiro,
A gente quer dinheiro e felicidade
A gente não quer só dinheiro,
A gente quer inteiro e não pela metade
(Arnaldo Antunes)

136 Política Nacional de Humanização (PNH)


O trecho da música “Comida”, de Arnaldo Antu- Dada a dispersão das ações voltadas à saúde do
nes, interpretada pela banda Titãs, é quase que trabalhador é que, em 2002, foi criada a Rede Na-
uma reivindicação para um olhar mais atento cional de Atenção Integral à Saúde do Trabalha-
ao trabalhador, que possui múltiplas dimensões dor (RENAST), cujo objetivo principal é realizar
e, consequentemente, necessidades distintas, as a articulação das ações em saúde do trabalha-
quais precisam ser valorizadas. dor no contexto do SUS. Para tanto, existem os
Os trabalhadores estão expostos a uma série Centros de Referência em Saúde do Trabalhador
de riscos ambientais e organizacionais em função (CEREST).



de sua inserção nos processos de trabalho. Logo,
o setor da saúde necessita incorporar esses indi- Um modelo de atenção integral à saúde dos
víduos em estratégias de promoção, prevenção e trabalhadores implica em qualificar as prá-
recuperação da saúde. ticas de saúde, envolvendo o atendimento
Foi apenas a partir da década de 80 que a visão dos acidentados do trabalho, dos trabalha-
em relação ao trabalhador começou a se modifi- dores doentes, das urgências e emergências
car; ele passa a ser reconhecido como sujeito e não às ações de promoção e proteção da saúde
apenas como consumidor dos serviços de saúde. e de vigilância, orientadas por critério epi-
A própria Constituição Brasileira de 1988, demiológico. Para que isso ocorra de modo
na seção de Direitos à Saúde, artigo 200, des- efetivo, faz-se necessária abordagem inter-
taca como competência do SUS, entre outras disciplinar e a utilização de instrumentos,
atribuições, “executar as ações de vigilância sa- saberes, tecnologias originadas de diferentes
nitária e epidemiológica, bem como as de saúde áreas do conhecimento, colocados a serviço
do trabalhador”. das necessidades dos trabalhadores (BRA-
Em 1990, a Lei Orgânica de Saúde (Lei n° SIL, 2006, p. 17).
8080) regulamentou o SUS e suas competências
no campo da Saúde do Trabalhador, reconhecen- Em 2011, a partir do Decreto 7.602, foi criada a
do o trabalho como um importante determinante Política Nacional de Segurança e Saúde no Tra-
de saúde. balho (PNSST), na busca de articular ações de
Nesta mesma década, muitas iniciativas foram diferentes setores, como Trabalho, Previdência
registradas no sentido de consolidar a área de saú- Social, Saúde e Meio Ambiente.
de do trabalhador, como: As diretrizes que regem a PNSST são:



• 1994 - 2ª Conferência Nacional de Saúde
do Trabalhador. [...] inclusão de todos trabalhadores brasi-
• 1998 - Elaboração da Norma Operacional leiros no sistema nacional de promoção e
de Saúde do Trabalhador (NOST). proteção da saúde; harmonização da legis-
• 1998 - Instrução Normativa de Vigilância lação e a articulação das ações de promoção,
em Saúde do Trabalhador. proteção, prevenção, assistência, reabilitação
• 1999 - Listagem de Doenças Relacionadas e reparação da saúde do trabalhador; ado-
ao Trabalho. ção de medidas especiais para atividades

UNIDADE 5 137
laborais de alto risco; estruturação de rede O Ministério da Saúde, em 2012, instituiu a Política
integrada de informações em saúde do tra- Nacional de Saúde do Trabalhador e da Traba-
balhador; promoção da implantação de sis- lhadora (PNST), por meio da Portaria GM/MS
temas e programas de gestão da segurança e n° 1.823. Esta se alinha a todas as outras políticas
saúde nos locais de trabalho; reestruturação de saúde do SUS, o que confere a ela o caráter de
da formação em saúde do trabalhador e em transversalidade.
segurança no trabalho e o estímulo à capaci- A saúde do trabalhador, enquanto área do co-
tação e à educação continuada de trabalha- nhecimento, encontra-se em construção. Muitas
dores; e promoção de agenda integrada de conquistas foram alcançadas, mas ainda há um
estudos e pesquisas em segurança e saúde longo caminho pela frente.
no trabalho (BRASIL, 2011, p. 1). A integralidade da assistência à saúde do traba-
lhador precisa ser colocada em prática e, para isso,
entre outras coisas, é preciso extrapolar a esfera
biológica e individual, interferindo nas questões
relativas ao processo de trabalho.
A Previdência Social garante uma série de be- Com a globalização; aumento da competiti-
nefícios a trabalhadores com carteira assinada vidade; crise financeira em diversos setores, que
vítimas de acidentes e doenças relacionadas ao acaba por culminar em elevadas taxas de desem-
trabalho, desde que comprovada a incapacidade prego; crescimento dos trabalhadores informais e
para o trabalho por parte da perícia médica. temporários ocorre uma série de transformações
São exemplos de benefícios previstos pela legis- na vida do trabalhador que, com certeza, impac-
lação previdenciária: auxílio-doença, aposenta- tam em sua saúde (SILVEIRA, 2009).
doria por invalidez, auxílio-acidente, pensão por As reais condições de trabalho precisam ser
morte e reabilitação profissional. identificadas e analisadas profundamente, a fim
Em casos de acidentes ou doenças relaciona- de “reverter a cultura de que o trabalho é bom
das ao trabalho, mesmo que esses eventos não independentemente das condições em que é rea-
tenham gerado incapacidades, faz-se necessá- lizado” (LOURENÇO; BERTANI, 2007, p. 125).
rio o preenchimento de uma ficha denominada
“Comunicação de Acidente de Trabalho” (CAT), a
qual é utilizada para fins estatísticos e epidemio-
lógicos, bem como para assegurar alguns direitos
previstos em lei.
Fonte: adaptado de Silveira (2009).

138 Política Nacional de Humanização (PNH)


Desafios para a
Humanização nos
Serviços da Saúde

Como já foi abordado anteriormente, o tema hu-


manização tem conquistado um espaço signifi-
cativo na área da saúde e tem sido considerado
como um dos caminhos para transformações no
SUS, com vistas à melhora na qualidade assisten-
cial e nos processos de trabalho e gestão.
A humanização visa romper com a fragmenta-
ção do cuidado, do trabalho e da rede de assistên-
cia à saúde. Não refere-se a uma maquiagem nos
serviços de saúde, como utilizar cores e desenhos
nas paredes, ser gentil e educado com o usuário
ou, ainda, bonificar o profissional por bom de-
sempenho. Vai além.
Por tudo isso, percebe-se que a operaciona-
lização da humanização no SUS possui uma
série de desafios.
Um deles, segundo Martins (2010), refere-se a
desconstruir os processos hierárquicos para, então,
trabalhar em redes. As redes de atenção à saúde
são formadas por diversos pontos (serviços), que
se conectam/se comunicam na construção da in-
tersetorialidade e da integralidade. No entanto,
as redes também podem ser compostas de afetos,
vivências, políticas, um emaranhado de aspectos
de grande relevância para a produção de saúde.

UNIDADE 5 139
Uma pesquisa qualitativa, realizada em uma enfermaria de Pediatria de um instituto de referência
no cuidado da Saúde da Mulher, Criança e Adolescente, tendo como sujeitos a equipe de enferma-
gem, usuários e acompanhantes, identificou que os princípios fundamentais da humanização não
ocorrem de forma efetiva na relação entre os sujeitos.
Destacou-se como princípios da humanização: acolhimento, autonomia, protagonismo e correspon-
sabilidade. O estudo apontou, ainda, a presença de lacunas na compreensão da proposta de um
projeto de humanização para o serviço.
Para a equipe de saúde, a humanização está atrelada a prestar uma assistência de qualidade, no
entanto sem refletir sobre como ela pode ser prestada, nem tampouco se indagar sobre quais as
possibilidades de mudanças na prática. O estudo destaca, como estratégia para essa situação, a cria-
ção de um projeto de Educação Continuada, de modo a preparar profissionais e usuários a construir
coletivamente o cenário de práticas.
Fonte: Alves, Deslandes e Mitre (2009).

Considerando que a humanização envolve tam- Os desafios da humanização podem ser supe-
bém o relacionamento entre usuários e profis- rados, desde que os problemas e soluções sejam
sionais de saúde, faz-se necessário romper com construídos de forma coletiva entre usuários, pro-
o mecanicismo, muito vezes inerente às relações fissionais e gestores.



de trabalho. Nesse sentido, é preciso repensar em
novas formas de interação entre os atores (gesto- O trabalho multidisciplinar, a participação
res, usuários e profissionais), de forma que estes efetiva do usuário, a democratização da ges-
atuem como sujeitos ativos de um processo e não tão, as ações de educação permanente, as re-
sendo submissos a ele (BRASIL, 2010). flexões sobre os processos de trabalho, dentre
A literatura destaca como desafio o exercício várias outras ofertas da PNH, demonstram
de não colocar a PNH como verdade absoluta, que há estratégias para melhorar as relações
imutável, mas que ela possa ser uma forma de de trabalho, aumentar o diálogo entre seus
pensar e fazer saúde, que ela sirva para fazermos atores e criar novos modos de produção do
uma reflexão crítica e, a partir dela, tornar o pro- cuidado (MARTINS, 2010, p. 92).
cesso dinâmico e inovador (HECKERT; PASSOS;
BARROS, 2009). Continuamente, faz-se necessária a realização de
Estudo aponta como dificuldades para se colo- cursos, oficinas de formação, a fim de discutir
car em prática a proposta da humanização aspec- os processos de trabalho, as diretrizes e dispo-
tos como: influência direta do modelo organiza- sitivos da PNH. A partir da vivência no dia a
cional, dos desenhos da missão institucional, do dia de trabalho, é preciso se reinventar, criando
envolvimento e aderência dos gerentes à proposta, espaços coletivos que valorizem a autonomia e a
da capacitação e sensibilidade dos profissionais corresponsabilidade dos profissionais de saúde
(DIAS; DOMINGUES, 2005). no trabalho e dos usuários no cuidado de si, ex-

140 Política Nacional de Humanização (PNH)


tinguindo atitudes e práticas desumanizadoras Discutimos, ainda, sobre a segurança e direitos
(BRASIL, 2013). do paciente, aspectos de grande relevância para
Nesta unidade, foi possível abordar sobre a a saúde pública. A segurança do paciente é um
humanização e como esse termo vem sendo em- importante indicador de saúde, que reflete a qua-
pregado na área da saúde. Discutir sobre a Política lidade da assistência prestada. Quanto aos direitos
Nacional de Humanização (PNH), seus objeti- do paciente, estes devem ser assegurados em toda
vos, diretrizes e dispositivos é fundamental para e qualquer situação.
a compreensão do tema. A saúde do trabalhador também foi discutida
A proposta da PNH é bastante ousada por pro- nesta unidade e mostra-se uma área em constru-
por uma nova forma de fazer saúde, rompendo ção. O trabalho pode ser uma fonte de desgaste
com o modelo de assistência fragmentado, cen- da saúde, acarretando inúmeros problemas que
trado na doença e hierarquizado. Busca fomentar devem ser valorizados pelos serviços públicos.
a autonomia e protagonismo dos usuários, traba- A partir da discussão de todos esses assuntos,
lhadores e gestores, de modo que estes construam, conseguimos visualizar um aspecto muito impor-
coletivamente, modos de assistir e gerir em saúde. tante da PNH, que é a transversalidade, caracte-
Essa discussão permite a reflexão sobre onde rizada pela inserção dessa política em todas as
estamos e aonde desejamos chegar! outras existentes no âmbito do SUS.
Assim como nas outras unidades, nesta tam- A implantação de um novo modelo de assistên-
bém foi necessário, em alguns momentos, fazer cia, o qual exige uma nova perspectiva de cuidado,
um resgate histórico acerca das políticas públicas, sem dúvida é um grande desafio. Para tanto, é pre-
a fim de nos situarmos no tempo e entendermos ciso continuar caminhando, vislumbrando alterna-
que muitos obstáculos foram ultrapassados para tivas para que a humanização realmente aconteça
chegarmos até aqui. na prática assistencial e nos processos de gestão.

UNIDADE 5 141
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.

1. De acordo com os princípios do HumanizaSUS, definidos pelo Ministério da


Saúde, a transversalidade trata-se de:
a) Corresponsabilidade entre gestores, usuários e a participação coletiva nos
processos e na gestão.
b) Concepções e práticas que atravessam as diferentes ações e instâncias que
aumentam o grau de abertura de comunicação intra e intergrupos.
c) Práticas interdependentes e complementares que precisam ser entendidas
para que ocorra a humanização.
d) Participação do Município e do Estado, em conjunto com a União, buscando
um SUS melhor.
e) Práticas interdependentes e complementares, corresponsabilidade entre ges-
tores, usuários.

2. Sobre a cultura de segurança descrita na Política Nacional de Segurança do


Paciente, assinale a alternativa correta.
a) Cultura que prioriza as metas financeiras e operacionais acima de segurança.
b) Comprometimento da estrutura ou função do corpo e/ou qualquer efeito dele
oriundo, incluindo doenças, lesão, sofrimento, morte, incapacidade ou disfun-
ção, podendo, assim, ser físico, social ou psicológico.
c) Cultura na qual todos os trabalhadores, incluindo profissionais envolvidos no
cuidado e gestores, assumem responsabilidade pela sua própria segurança,
pela segurança de seus colegas, pacientes e familiares.
d) Evento ou circunstância que poderia ter resultado, ou resultou, em dano des-
necessário ao paciente.
e) Promoção de processos de capacitação de gerentes, profissionais e equipes
de saúde em segurança do paciente.

142
3. De acordo com o Ministério da Saúde, “a Política Nacional de Humanização (PNH)
busca pôr em prática os princípios do SUS no cotidiano dos serviços de saúde,
produzindo mudanças nos modos de gerir e cuidar”. Sobre o tema, assinale a
alternativa incorreta.
a) A “Transversalidade” é um dos princípios da PNH que significa ampliar a co-
municação entre os sujeitos envolvidos nos processos de produção de saúde,
quebrando paradigmas do poder e do saber.
b) Uma das diretrizes da PNH é a “Clínica Ampliada”, seu conceito está relaciona-
do à ampliação e garantia de acesso ao usuário a todos os níveis de atenção.
c) O termo “ambiência” não refere-se apenas à criação de espaços saudáveis,
acolhedores e confortáveis, mas também de um ambiente social e de relações
interpessoais.
d) O “Acolhimento”, diretriz da PNH, sustenta a relação entre equipes/serviços e
usuários/populações, devendo ser construída de forma coletiva.
e) A PNH possui, como um dos eixos de ação, a integração de seus princípios aos
processos de Educação Permanente nos serviços de Saúde.

4. O credenciamento dos serviços, como Sentinela de Notificação Compulsória


de Acidentes e Doenças Relacionados ao Trabalho, será feito de acordo com as
diretrizes e orientações referentes à(ao):
a) Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (RENAST).
b) Lei Orgânica da Saúde (LOS).
c) Norma Operacional de Saúde do Trabalhador (NOST).
d) Constituição Federal Brasileira (CFB).
e) Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST).

143
5. Quanto à Política de Saúde do trabalhador, é correto afirmar:
a) Fazem parte da melhoria do ambiente de trabalho e controle das condições
de risco para a saúde: identificação no trabalho das condições de risco para
a saúde; caracterização da exposição e quantificação das condições de risco;
discussão e definição das alternativas de eliminação ou controle das condições
de risco; implementação e avaliação das medidas adotadas.
b) Produtos vendidos sob nomes comerciais, sem informação detalhada quanto
à composição química. Geralmente, criam problemas para o reconhecimento
de riscos. Essas informações não cabem ser exigidas dos fabricantes e for-
necedores, devendo-se solicitar a análise das amostras, que garante maior
confiabilidade e menor custo.
c) O profissional encontra, com facilidade, os dados para o estabelecimento do
nexo ou da relação trabalho-doença, principalmente pela precisão na identi-
ficação de fatores de risco e/ou situações a que o trabalhador está ou esteve
exposto a condições potencialmente lesivas para sua saúde.
d) O médico e a equipe de saúde, responsáveis pelo atendimento do trabalhador,
devem buscar um relacionamento de cooperação com os colegas do paciente.
Considerando a natureza harmoniosa dessas relações, torna-se desnecessário
que os procedimentos sejam registrados e documentados.
e) Estabelecida a relação causal ou o nexo entre a doença e o trabalho desempe-
nhado pelo doente, o profissional ou a equipe responsável pelo atendimento
deve passar a responsabilidade ao profissional adequado, isentando-se de
demais responsabilidades.

144
LIVRO

Humanização na saúde
Fernanda Reis
Editora: DOC
Sinopse: o livro aborda a humanização, em todas as suas vertentes, nas insti-
tuições voltadas aos cuidados da saúde, como questão prioritária para o trata-
mento do doente.

WEB

Portaria nº 1.820, de 13 de agosto de 2009. Dispõe sobre os direitos e deveres


dos usuários da saúde.

145
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148
1. A.

2. C.

3. B.

4. A.

5. A.

149
150
151
CONCLUSÃO

Prezado(a) aluno(a)! Esperamos que este livro tenha contribuído para uma
boa compreensão do cenário da Saúde Coletiva no contexto brasileiro.
O destaque aos pontos principais dessa trajetória passa pela evolução do
conceito de saúde ao longo dos tempos e a influência histórica cultural nos
modelos de atenção à saúde, culminando na determinação social e cultural
da saúde e doença.
Enfatizamos a importância do profissional da saúde conhecer o Sistema
Único de Saúde (SUS), a rede de saúde e os serviços oferecidos, no intuito
de ajudar na orientação e intervenção contextualizada, bem como dar
subsídios e ferramentas para atuar no contexto da Vigilância em Saúde.
Igualmente, destaca os principais aspectos das políticas de saúde voltadas
ao ciclo de vida e as orientações aos profissionais de saúde no sentido da
necessidade de humanização nos serviços de saúde.
Conforme enfatizamos, no decorrer do livro, a definição do processo saú-
de doença e da organização de serviços e políticas públicas da população
brasileira é influenciado pela compreensão do momento histórico, político
e social do tempo em que ocorre.
Dessa forma, o indivíduo deve estar atento aos condicionantes e deter-
minantes de saúde que, no caso do Brasil, apesar de muitos avanços na
qualidade de vida e da saúde da população, o país ainda enfrenta grandes
desafios na área de distribuição de renda, recursos e estrutura.
São muitos os desafios do trabalho no contexto da Saúde Pública: a constru-
ção histórica e coletiva, as mudanças sociais e tecnológicas, a administração
de recursos e, principalmente, a compreensão da importância de humanizar
os serviços e acolher as necessidades da população.
Muitas mudanças ocorreram e muitas ainda estão por vir. Esperamos que o
estudo proposto neste livro tenha ajudado na compreensão e na melhoria
da qualidade do seu trabalho e que você possa abrir novos horizontes e
fazer a diferença na sua trajetória profissional. Sucesso!

152 Política Nacional de Humanização (PNH)

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