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ARTIGO

A PATERNIDADE E FATORES ASSOCIADOS AO


ENVOLVIMENTO PATERNO

PATERNITY AND FACTORS ASSOCIATED WITH PATERNAL INVOLVEMENT

MARIANA SCHUBERT RESUMO: No cenário atual, pode-se observar ABSTRACT: Currently, there is a change in the
BACKES uma mudança nos papéis desempenhados pe- roles played by parents in interacting with their
los pais e mães na interação com seus filhos. A children. For example, paternity has become the
paternidade, por exemplo, passou a ser alvo das target of scientific research recently, in view of
ANA PAULA SESTI pesquisas científicas recentemente, tendo em vis- the father’s greater participation in the lives of his
BECKER ta a maior participação do pai na vida dos filhos. children. Thus, this research aimed to identify the
Dessa forma, esta pesquisa teve como objetivo factors that interfere in the paternal involvement
MARIA APARECIDA identificar os fatores que interferem no envolvi- of parents (men) of children between four and
CREPALDI mento paterno de pais (homens) de crianças en- six years. It is an exploratory descriptive study,
tre quatro a seis anos. Trata-se de um estudo ex- of qualitative nature, whose data were collected
ploratório descritivo, de natureza qualitativa, cujos through a semi-structured interview; which was
MAURO LUÍS VIEIRA dados foram coletados através de uma entrevista analyzed by the thematic categorical content anal-
semiestruturada, a qual foi analisada pela técni- ysis technique, using Atlas.ti software. From the
Programa de Pós- ca da análise de conteúdo categorial temática, analysis of the interviews emerged four catego-
Graduação em Psicologia, utilizando-se o software Atlas.ti. Da análise das ries: Paternity experience; Responsibility; Parent-
Universidade Federal de entrevistas emergiram quatro categorias: Vivên- child interaction and Factors that interfere with
Santa Catarina (UFSC), cia da paternidade; Responsabilidade; Interação parental involvement. In this article the results of
Florianópolis, SC, Brasil. pai-filho e Fatores que interferem no envolvi- the last category will be presented, because they
mento paterno. Neste artigo serão apresentados are directly related to the objective of this study.
os resultados da última categoria, por estarem The results indicate that the participants’ pater-
diretamente relacionados com o objetivo deste nity model of their own parents, in addition to the
estudo. Os resultados apontam que o modelo de relationships established with the child’s mother,
paternidade que os participantes tiveram de seus the personal characteristics of the parents and the
próprios pais, além das relações que estabelecem children, and the support network they have, were
com a mãe da criança, as características pesso- constituted aspects that had repercussions on pa-
ais dos pais e dos filhos e, ainda, a rede de apoio rental involvement.
que possuem, constituíram-se em aspectos que
repercutiram no envolvimento paterno. KEYWORDS: father; fatherhood; paternal involve-
ment; child; family.
PALAVRAS-CHAVE: pai; paternidade; envolvi-
mento paterno; criança; família.

INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, importantes mudanças no funcionamento e na estru-


tura familiar têm se apresentado e papéis sociais atribuídos a homens e mu-
lheres estão em constante transformação; o que implica novas definições e ex-
pectativas sobre que funções pais e mães devem desempenhar e compartilhar
Recebido em: 30/12/2017 no contexto familiar (Grzybowski & Wagner, 2010; Matos, Magalhães, Féres-
Aprovado em: 15/04/2018 -Carneiro, & Machado, 2017; Silva & Piccinini, 2007) quanto ao cuidado dos

http://dx.doi.org/10.21452/2594-43632018v27n61a04
filhos e à divisão de tarefas domésti- Lamb, 2000; Dubeau, Devault, & Pa- A paternidade e
cas (Wagner, Predebon, Mosmann, & quette, 2009; Paquette, 2004; Silva & fatores associados ao 2
envolvimento paterno
Verza, 2005). Piccinini, 2007). Mariana Schubert Backes

Tais mudanças são observadas nas Nesta pesquisa, adota-se o conceito Ana Paula Sesti Becker
Maria Aparecida Crepaldi
funções desempenhadas pelos pais e proposto por Lamb (2000) para a defi-
Mauro Luís Vieira
mães na interação com seus filhos, nição de envolvimento paterno, o qual
o que pode ser explicado por alguns compreende três dimensões: intera-
fatores, dentre os quais a valorização ção, disponibilidade e responsabilida-
da mulher no mercado de trabalho. de. Entende-se por interação o tempo
Portanto, as tarefas domésticas e o em que o pai está com a criança, seja
cuidado com as crianças passaram no auxílio nas tarefas escolares, ali-
a ser compartilhados entre o casal e mentando-a ou brincando. A disponi-
o pai começou a participar de modo bilidade refere-se a níveis de interação
mais efetivo nas atividades com menos intensos, por exemplo, quando
seu(a) filho(a) e a compartilhar res- o pai está em um cômodo da casa e a
ponsabilidades na educação (Bossar- criança em outro, mas o mesmo está
di, Gomes, Vieira, & Crepaldi, 2013; acessível ao(a) filho(a) caso este preci-
Bueno & Vieira, 2014; Dessen & Ri- se. Por último, a responsabilidade rela-
beiro, 2013). ciona-se às atitudes do pai para garan-
Ao se considerarem as transforma- tir o bem-estar dos seus filhos (Lamb,
ções no âmbito familiar, alguns traba- 1997; Lamb et al., 1985). É importante
lhos de pesquisa têm investigado o en- destacar que o envolvimento paterno
volvimento paterno e os impactos deste é um fenômeno psicológico, mas
fenômeno sobre o desenvolvimento que tem estreita  inter-relação  com o
infantil (Cia, Pamplin, & Williams, contexto  social,  histórico e  cultural.
2008; D’Avila-Bacarji, Marturano, & Ou seja, assume-se, no presente arti-
Elias, 2005; Ferreira, & Triches, 2009; go, a perspectiva epistemológica de
Gomes, 2015; Grzybowski, & Wagner, que o envolvimento paterno é enten-
2010; Lamb, Pleck, Charnov, & Levine, dido como um processo construido
1985; Paraventi, Bittencourt, Schulz, socialmente.
Souza, Bueno, & Vieira, 2017). Turcotte e Gaudet (2009) apresen-
A partir da década de 1970 emer- tam três diferentes domínios que in-
giu o interesse pela temática do en- fluenciam no envolvimento paterno:
volvimento paterno e, segundo Lamb as características pessoais do pai, o
(2000), o panorama geral das pesqui- contexto familiar e o ambiente social.
sas indica que o pai tem se envolvido Apesar de existirem controvérsias,
de diferentes formas nos cuidados resultados da literatura indicam que
com os filhos e que isso reflete posi- os homens que tiveram uma relação
tivamente no desenvolvimento das e imagem mais positiva de seus pais
crianças de diferentes formas. Ele na infância estão mais propensos a
pode auxiliar nos cuidados básicos participar ativamente no cuidado e
com o(a) filho(a), estabelecer limites e na relação emocional com a crian-
estimular o desenvolvimento da crian- ça. Isso denota a importância das
ça, pode auxiliar no controle da agres- relações intergeracionais na transi-
sividade, competitividade, habilidades ção para a paternidade e na forma
sociais, bem como no seu desenvolvi- de exercê-la (Bolze, 2016; Bouchard,
mento motor (Backes, 2015; Cabrera, 2012; Cabrera et al., 2000; Turcotte
Tamis-LeMonda, Bradley, Hofferth, & & Gaudet, 2009).

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As atitudes e crenças sobre os pa- sujeito desenvolveu em sua vida, e suas
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péis de gênero são características que experiências cooperam para moldar
podem influenciar nas condutas e res- suas opiniões e suas atitudes. Confor-
ponsabilidades assumidas pelos pais, me afirmam Gergen e Gergen (2010),
de acordo com sua concepção das a construção social não é de autoria de
funções que se devem ao pai ou à mãe um único indivíduo, pois ela pressupõe
(Paraventi et al., 2017). Além disso, um compartilhamento significativo en-
observa-se que o sentimento de com- tre diferentes comunidades. Assim sen-
petência parental é um determinante do, a linguagem adquire total impor-
importante na motivação dos homens tância para o construcionismo social,
para investir mais na relação com a já que é através dela que se constrói o
criança. As características sociodemo- mundo, e não o representa em sua to-
gráficas, como a idade do pai e o ní- talidade. Dessa forma, neste trabalho
vel socioeconômico, também exercem são abordados os múltiplos discursos
influência no envolvimento paterno dos participantes a respeito da paterni-
(Cabrera & Bradley, 2012). Entretanto, dade, como cada um dos entrevistados
para Souza e Benetti (2008), verificou- vivenciou essa experiência e como cada
-se que a idade do pai não interfere no um enxerga os fatores que podem in-
envolvimento paterno, mas sua escola- fluenciar no processo de ser pai. 
ridade sim, ou seja, quanto maior sua Por considerar que o fenômeno
formação no ensino, mais este partici- do envolvimento paterno represen-
pa nos cuidados de seus filhos. ta uma temática emergente e multi-
Considerando o tema estudado dimensional, pois explora de modo
neste artigo, adota-se uma visão socio- específico os diferentes aspectos da
construcionista do fenômeno, ou seja, relação entre pai e criança, bem como
admite-se que cada sujeito significa o busca aprofundar o impacto do en-
mundo a partir da sua própria expe- volvimento do pai sobre o desenvol-
riência, o que indica que há diversas vimento infantil, este estudo apresen-
concepções de realidade construidas ta como objetivo identificar os fatores
por diferentes observadores. Neste que interferem no envolvimento pa-
processo de descrição dos fenômenos terno de pais (homens) de crianças
a narrativa de cada indivíduo adquire entre quatro a seis anos.
fundamental importância, já que é por
meio das narrativas que o homem se
expressa no mundo. O construcionis- MÉTODO
mo social situa a linguagem no papel
central de sua teoria, pois, conforme A pesquisa se caracteriza como um
Grandesso (2000), a linguagem refere- estudo de abordagem qualitativa, ten-
-se a um processo interativo, elaborado do em vista a finalidade de aprofundar
nos espaços compartilhados de pesso- os fatores que influenciam o envolvi-
as em relação umas com as outras.  mento paterno, uma vez que a aborda-
Neste contexto, o construcionismo gem qualitativa possibilita ter acesso às
social busca encontrar nos discursos experiências, produções de sentido em
dos sujeitos as respostas para as inda- como as pessoas constroem o mundo
gações sobre os aspectos investigados. à sua volta, crenças e atitudes dos su-
Assim, considera-se que o discurso não jeitos dentro do seu contexto (Flick,
se constitui em algo separado, mas que 2009). Em relação à temporalidade,
é construído nas relações sociais que o trata-se de um estudo transversal, visto

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que foi realizado em um momento de- realizada em uma Instituição de Edu- A paternidade e
terminado, no espaço e no tempo atual, cação Infantil, a qual atua na educação fatores associados ao 4
envolvimento paterno
da trajetória de vida dos participantes. de crianças na faixa etária delimitada. Mariana Schubert Backes
1
Esta pesquisa apresentou um delinea- A criança focal teve idade entre 4 e 6 Ana Paula Sesti Becker
Maria Aparecida Crepaldi
mento exploratório-descritivo, pois se anos e a escolha por essa faixa etária
Mauro Luís Vieira
propôs a conhecer com maior profun- se justificou pelo fato de que após os 3
didade a temática proposta e descrever anos de idade, as crianças demonstram
as características do fenômeno estuda- maior abertura para estabelecerem ou-
do (Sampieri, Collado, & Lucio, 2013). tras relações além da relação materna.
Utilizou-se como critério de exclusão
pais cujo filho(a) tivesse algum tipo de
Participantes deficiência, uma vez que a deficiência
se caracterizaria como uma variável
Participaram do estudo 20 pais
interveniente no estudo.
(homens) de crianças entre 4 a 6 anos
de idade. Os pais, biológicos ou não,
moravam ou já haviam morado com Instrumentos
a criança por pelo menos um ano.
Alguns participantes moravam com Utilizou-se a entrevista Semiestru-
a mãe da criança e outros eram sepa- turada de Envolvimento Paterno, ela-
rados. Foi incluído na amostra apenas borada por Bueno, Vieira e Crepaldi
o pai que, quando do nascimento da (2012)2 com perguntas adaptadas de
criança focal, já havia completado 18 Bossardi e Vieira (2012), sendo com-
anos. Metade dos participantes era posta por perguntas que estão dividi-
pais de meninas e a outra metade de das nos seguintes itens norteadores: ex-
meninos. A média de idade dos pais periência de ser pai, responsabilidade,
foi 37,60 (DP= ±8,33); o mais novo disponibilidade, interação e, por últi-
tinha 26 anos e o mais velho, 60. Ve- mo, fatores que interferem no envolvi-
rificou-se que quatro pais possuíam mento paterno. As perguntas, de forma
Ensino Superior Incompleto, seis ha- geral, investigaram questões referentes
viam concluído o Ensino Superior e a como o pai avalia sua participação na
10 possuíam nível de pós-graduação, vida do filho(a), quais tarefas ele de-
gerando uma média de 17,55 (DP: sempenha com ele, quanto tempo fica
±3,42) anos concluídos de estudo. As junto com a criança, o que faz quando
profissões dos pais foram variadas, está com ela, que tipo de brincadeiras,
sendo que a maioria era professor uni- sobre o que conversa; se, na percepção
versitário ou servidor público de cargo do pai, a companheira (mãe) ajuda ou
administrativo. A média de renda do atrapalha sua participação no cuidado
1 O termo criança focal
pai foi 6315,00 (DP: ± 3277,19), com da criança e sobre aspectos que facili-
é utilizado para definir
mínimo de 2000,00 reais e máximo de tam ou dificultam seu envolvimento sobre qual dos filhos o pai
paterno, entre outras. respondeu a entrevista.
15000,00 reais. De acordo com as res-
postas obtidas, 13 dos pais trabalha- 2 Bueno, R. K., Vieira, M.
vam 40 horas semanais e cinco traba- L., & Crepaldi, M. A. (2012).
Procedimentos e coleta de dados Entrevista semiestruturada
lhavam 30 horas, um relatou 10 horas de envolvimento paterno.
semanais e outro 44 horas semanais. O projeto de que derivou este artigo Instrumento não publicado.
A coleta de dados aconteceu entre foi oriundo de uma pesquisa de dis- Universidade Federal de
Santa Catarina: Núcleo de
os meses de abril e maio de 2014, em sertação, sendo apresentado e apro-
Estudos e Pesquisas em
uma cidade do sul do Brasil, tendo sido vado pela Instituição de Educação In- Desenvolvimento Infantil.

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fantil (IEI), que convidou as famílias interação pai-filho(a) e fatores que
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enviando-lhes uma Carta-Convite. O interferem no envolvimento paterno.
projeto foi aprovado pelo Comitê de Escolheu-se a quarta categoria, refe-
ética em Pesquisa com Seres Huma- rente aos fatores que interferem no
nos, sob o parecer consubstanciado envolvimento paterno, para o deta-
nº 447.932. Procedeu-se um contato lhar e aprofundar a análise apresen-
telefônico com os pais que assinaram tada nesse artigo.
as cartas-convite e confirmaram o in-
teresse na participação, agendando-se
um encontro para a coleta de dados. RESULTADOS
Na data marcada realizou-se a entre-
vista, mediante a assinatura do Termo Esta categoria engloba todos os
de Consentimento Livre e Esclarecido elementos que podem influenciar o
(TCLE), após a explicação dos obje- envolvimento paterno de alguma for-
tivos da pesquisa. A entrevista teve ma, ou seja, aspectos que facilitam ou
duração de aproximadamente 75 mi- dificultam o engajamento e a partici-
nutos e foi realizada nas dependências pação do pai na vida da criança. Está
da Universidade, em sala adequada composta por seis subcategorias (fa-
para tal procedimento. A entrevista tores ligados à mãe, fatores ligados ao
foi gravada e, posteriormente, trans- próprio pai, fatores ligados à criança,
crita para análise. rede social de apoio, modelo do pró-
prio pai e o que faz de diferente do
próprio pai).
Análise de dados Na subcategoria fatores ligados à
mãe, o pai identifica como influência
Os dados foram analisados com relevante no seu envolvimento com a
base na técnica de análise de conteúdo criança a presença têm sido da mãe e
categorial temática proposta por Bar- sua relação conjugal. Os pais relata-
din (2011). Tal análise, por meio da ram que a criança opta pela presença
busca dos eixos temáticos, propõe-se da mãe quando essa se mantém por
a desvendar os núcleos de sentido do perto, portanto, o pai se mantém mais
discurso do entrevistado. A análise foi afastado do filho(a), dedicando-se
organizada a partir de: a pré-análise; a menos aos cuidados e brincadeiras
exploração do material; e o tratamento com a criança. Apenas dois pais rela-
dos resultados, pela inferência e inter- taram que a ausência da mãe facilita
pretação. A categorização empregou o o envolvimento deles com a criança,
processo de acervo, em que o corpus pois na falta dela o(a) filho(a) interage
é decomposto em microelementos e e obedece mais à figura do pai.
reconstruído em subcategorias e ca-
tegorias temáticas mais amplas. Para A ausência da mãe da minha filha,
melhor visualização e organização dos por incrível que pareça... Quan-
dados, utilizou-se o software ATLAS.ti do eu resolvo tomar a iniciativa e
5.13. Os pais foram nomeados de P01 quero fazer alguma coisa, eu tenho
a P20. atenção. Se a mãe da minha filha
Da análise de conteúdo, emergi- está junto eu não tenho. Ela (crian-
ram quatro categorias temáticas: vi- ça) desvia toda a atenção pra mãe
3 Software utilizado para vência da paternidade, responsabili- dela. Por isso a gente tem se apro-
análise de dados qualitativos dade pela necessidade do(a) filho(a), ximado ultimamente. A mãe dela

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está trabalhando, eu tenho que ficar suas vidas, em que conseguem admi- A paternidade e
com ela e com a priminha aí está nistrar o tempo para estar com o(a) fatores associados ao 6
envolvimento paterno
agilizando muito o processo. (P06) filho(a), apesar de que gostariam de Mariana Schubert Backes

ter mais disponibilidade, mas a car- Ana Paula Sesti Becker


Maria Aparecida Crepaldi
Os participantes afirmam que a re- ga horária de trabalho não permite.
Mauro Luís Vieira
lação que estabelecem com a mãe de No que diz respeito à personalidade,
seus(as) filhos(as) reverbera na inte- os pais admitiram serem bastante co-
ração com a criança. Mesmo os pais municativos e espontâneos, e que isso
separados relataram ter um relacio- ajuda na relação com o(a) filho(a),
namento bom com a mãe da criança. pois constroem com ele um relaciona-
Eles mencionaram tentar separar as mento aberto, em que ambos se sen-
questões conjugais e parentais, bem tem muito à vontade um com o outro.
como evitar discutir na frente dos fi- Emergiram também relatos de pais
lhos para não afetar o relacionamento que disseram ser muito estressados e
com eles. Mas, houve casos em que, acabavam “descontando” nos(as) fi-
quando existiu conflito com a par- lhos(as) quando estão nervosos, sendo
ceira, o pai relatou afastamento do que essa característica foi considerada
filho(a) ou aproximação demasiada, como dificultadora do seu envolvi-
dando mais atenção com o intuito de mento com a criança: “Eu sou muito
compensar por sentir-se culpado pela estressado, acho que isso me prejudica,
desavença conjugal. porque daí eu não tenho cabeça sabe,
não tenho cabeça pra entrar muito em
Já aconteceu de eu ter menos paci- contato com meu filho” (P08).
ência com a minha filha, realmente Na subcategoria fatores ligados à
assim, de a gente ter menos paci- criança foram apontados os aspectos
ência, de não querer brincar... Sim, da criança que interferem no envolvi-
me afasto um pouco. Já aconteceu mento. No geral, os pais descreveram
também de eu me apegar mais a ela, seus(as) filhos(as) de maneira bas-
brincar mais... tem os dois lados as- tante positiva, ressaltando qualidades
sim, tem um lado que eu me afasto, que os motivavam a querer ficar perto
e tem um lado que eu consigo me deles. O amor que os pais sentem pela
aproximar mais com ela e faz bem criança, a admiração que o(a) filho(a)
pra mim. E ela assim, no mundo tem pelo pai, o gostar de estar com
dela, não hum, não percebe tanto o(a) filho(a) são ressaltados pelos par-
quando brigamos. Porque eles per- ticipantes como fatores que facilitam
cebem, mas, quando alguma coisa seu envolvimento nos cuidados com
tá diferente. (P03) o(a) filho(a).

Na subcategoria fatores ligados ao Se não tiver amor, não tem como


próprio pai, identificaram-se caracte- a pessoa descer ao nível, entender
rísticas do pai que afetam o envolvi- o que está se passando na cabeça
mento paterno. Esses atributos estão deles, entender os desafios e os me-
relacionados ao temperamento e à dos que eles também... vivem né?
personalidade do pai e ao momento E as fases também, acima de tudo,
de vida no qual se encontra, que pos- cada fase vem definida, saber que
sibilita ou não maior participação na eles estão construindo uma facul-
vida da criança. Os pais afirmaram dade mental, construindo um pen-
estar vivendo uma fase tranquila de samento, construindo uma... Uma

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referência de segurança, de afeto, de você, era sempre senhor... Então
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é... de super-herói, da figura de su- ele era um cara severo, na realida-
per-herói, então tudo isso. (P16) de... Ele sempre me cobrou muito,
eu sempre fui um moleque muito
Na subcategoria rede social de relaxado. (P06)
apoio é destacado o papel da rede de
relacionamentos do pai e da família Também houve casos em que o pai
como algo que contribuiu no envolvi- era carinhoso e presente na vida do fi-
mento paterno no sentido de fornecer lho. Prevaleceu o modelo de pai prove-
apoio emocional e auxílio nos cuida- dor, que trabalhava fora de casa e cuja
dos com a criança, desde a época do preocupação central era o sustento da
nascimento até hoje. Os pais relata- família.
ram que o fato de poder contar com
alguém, seja da família ou um amigo, Bem, eu quero dar o carinho e a
lhes dava a sensação de alívio, de não atenção que ele me proporcionava.
se sentirem sozinhos nessa etapa, e ter A gente sempre sabia que tinha al-
pessoas para lhes escutar era algo que guém pra ajudar na hora que estra-
os tranquilizava, como exemplo: “Eu gasse tudo, desde a primeira batida
conversava muito com meu irmão, me no carro. (P04)
fazia muito bem, não me sentia sozinho
nessa parada” (P15). A vida dele era muito trabalho, era...
Ainda a respeito da rede social de Assim, eu vejo que ele se esforçou
apoio, os pais afirmam que à medida bastante... Do jeito dele, do jeito de
que o(a) filho(a) foi crescendo, suas prover as coisas em casa, naquele
vidas ficaram muito centradas nas modelo assim de não deixar faltar,
relações familiares e sua vida social de correr atrás e por isso não tinha
reduzida às interações dentro do con- tempo e deixava tudo pra minha
texto familiar, de modo que os en- mãe, os cuidados assim. (P05)
trevistados assumiam sentir falta do
convívio com os amigos. Os participantes disseram que a
A subcategoria modelo do próprio referência que tiveram para exercer a
pai mostrou como os pais dos parti- paternidade foi o próprio pai, toman-
cipantes agiram como pais, ou seja, do como base as condutas boas e ques-
como seus próprios pais exerciam a tionando as ruins, criando seu próprio
paternidade. Os entrevistados ressal- jeito de exercer a paternidade.
tam que seus pais eram mais ausen-
tes, algumas vezes agressivos e pouco Eu acho que é uma referência do
afetivos. O relato a seguir ilustra tal bem e do mal, entendeu? Não uma
apontamento: referência do tipo “Ai o meu pai era
maravilhoso, eu quero ser igual a
Meu pai era um pai bem rígido. Ele ele”, isso não. Mas sim, eu tinha um
era um cara bem, bem quadradão pai que tinha coisas boas e coisas
assim, sabe? Até agressivo às vezes. ruins, é o meu modelo, e as coisas
Mas é normal, filho homem... Mas boas eu tento reproduzir e as coisas
era assim, ele era rígido, me ensinou ruins eu tento largar... (P01)
coisas de moleque, empinou pipa
comigo, me levou pra pescar... Ele Na última subcategoria, o que faz
nunca admitiu que eu chamasse ele de diferente do próprio pai, apresen-

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tam-se condutas, valores e sentimentos envolvimento paterno. Aponta-se a A paternidade e
que o entrevistado afirma reproduzir relevância mencionada pelas heran- fatores associados ao 8
envolvimento paterno
de outra forma com seus próprios(as) ças intergeracionais na construção de Mariana Schubert Backes

filhos(as). Salienta-se a participação sua paternidade, oriundas da própria Ana Paula Sesti Becker
Maria Aparecida Crepaldi
nas tarefas da casa, tendo em vista que relação afetiva que manteve com o seu
Mauro Luís Vieira
os participantes relataram que seus pais pai na infância; o que permite refletir
não se encarregavam dos cuidados da sobre os padrões de continuidades e
casa, cujo dever era função exclusiva descontinuidades que os entrevistados
da mãe. Um entrevistado afirmou que relataram, a partir da parentalidade
seu pai o tratava de uma maneira to- que vivenciam com seus(as) filhos(as)
talmente diferente da irmã, destacando ao se tornarem pais. Além desses as-
que trata seus(as) filhos(as) de manei- pectos, as características pessoais e
ra igualitária, independente do gênero as relações que estabelece com a mãe
as cobranças são iguais. Outros pais da criança, bem como a compreensão
relataram que valorizam muito a con- quanto ao estágio desenvolvimental
vivência em família e, ao contrário de do filho(a) e a rede de apoio que pos-
seu pai, que estava sempre fora de casa, suem, constituíram-se em fatores im-
priorizam os momentos com a esposa portantes para a manutenção do en-
e filhos. Por último, os entrevistados volvimento paterno.
reconheceram que, apesar de seus pais
serem muito preocupados com o tra-
balho e sustento da casa, no intuito DISCUSSÃO
de não deixar faltar nada e oferecer à
família uma vida mais confortável, a Em relação aos fatores que podem
relação pai-filho(a) careceu da parte interferir no envolvimento paterno,
afetiva. Esses pais afirmaram que bus- citam-se a relação com a mãe da crian-
caram ser mais carinhosos com seus ça, fatores relacionados ao pai, aspec-
filhos por acharem que foi um aspecto tos ligados ao temperamento da crian-
que faltou com seus próprios pais e que ça, à rede social de apoio e ao modelo
significa algo importante para estabe- de paternidade. A forma como os pais
lecerem com seus próprios filhos. negociam e se relacionam com a mãe
da criança é importante e influencia
Eu sempre fui um pai presente. Eu no envolvimento paterno. Quando
acho que o modelo, eu olhei pra ele existe alguma discordância ou con-
e vi tudo aquilo que não era neces- flito entre o casal, os entrevistados
sário e não deveria se repetir. Então revelam dois comportamentos distin-
eu procurei trabalhar pra fazer as- tos, afastamento ou aproximação dos
sim. Talvez o erro de um é o preço filhos. Alguns interagem menos com
pros outros aprenderem, não culpo a criança porque ficam impacientes
ele por isso. Provavelmente os pais e, ao contrário, outros confessam dar
dele nunca conseguiram fazer isso mais atenção aos filhos por sentirem-
com ele e ele acabou sem um norte, -se culpados, tentando compensar
assim. Mas isso fez com que eu me sendo mais presentes.
obrigasse a ser um pai melhor. (P02) Bueno (2013), em entrevista com
quatro pais, constatou que dois dos
Pode-se constatar nesta categoria participantes não atribuíram diferença
alguns atributos que o pai considera em seu envolvimento quando houve
como fatores que interferem no seu algum tipo de conflito com a mãe da

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criança; outro alegou não ter conflito criança ou tirando sua autoridade, ele
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com a companheira e apenas um des- declara que se sente desmotivado e se
ses pais admitiu envolver-se mais com envolve menos com os(as) filhos(as).
o(a) filho(a). Os estudos sobre a rela- No estudo de Oliveira (2017), cuja te-
ção entre envolvimento paterno e rela- mática norteou o envolvimento pater-
cionamento conjugal verificam que o no no processo de separação conjugal,
pai se envolve menos quando há uma verificou-se que a falta de autonomia
relação conjugal problemática (Bolze, como pai, relacionada à intromissão
2011; Bossardi, 2011; Cabrera & Brad- materna, constituiu-se como um dos
ley, 2012; Falceto, Fernandes, Baratojo, fatores negativos associados ao envol-
& Giugliani, 2008; Schober, 2012; Si- vimento paterno antes do divórcio.
mões, Isabel, & Maroco, 2010; Wagner Essa influência da mãe no envolvi-
et al., 2005). mento do pai com a criança pode ser
O maior envolvimento paterno explicada pelo predomínio do modelo
pode ser pensado, segundo Andolfi, tradicional sobre a divisão dos papéis
Claudio, e Saccu (1995) e Gabriel e de gênero e de socialização da pater-
Dias (2012), como uma resposta para nidade. As mulheres foram criadas
o conflito conjugal. Destaca-se que para assumirem primeiramente a res-
uma relação conjugal caracterizada ponsabilidade sobre os filhos (Wagner
como harmônica não se refere, neces- et al., 2005). Assim, a função paterna
sariamente, a uma relação conjugal é menos definida e codificada do que
sem conflitos (Schmidt, 2012); o con- o papel materno, pois, de acordo com
flito é inerente aos relacionamentos a cultura ocidental, os homens foram
humanos e pode ser positivo, uma vez menos preparados para assumir o cui-
que pode servir como oportunidade e dado de uma criança (Turcotte & Gau-
transformação aos envolvidos (Bolze, det, 2009). Entretanto, essa dinâmica
2011). As estratégias de resolução de tem se alterado com o passar dos anos,
conflitos adotadas pelos pais devem tendo em vista uma nova configura-
ser consideradas à medida que os pais ção de paternidade e de maternidade
que resolvem seus desentendimentos que tem surgido, em que a criança não
de forma mais construtiva promovem pertence exclusivamente à responsa-
a estabilidade da família e seguran- bilidade feminina quanto às praticas
ça emocional da criança, reduzindo a educativas e de cuidado (Dessen &
ansiedade (Bolze, 2016; Davies, Cum- Oliveira, 2013; Goetz & Vieira, 2009;
mings, & Winter, 2004). Piccinini, Levandowiski, Gomes, Lin-
A maior parte dos pais participantes denmeyer, & Lopes, 2009).
concordou que a mãe influencia na re- A crescente inserção da mulher no
lação com seus filhos, seja incentivan- mercado de trabalho tornou-se um
do-o a participar dos cuidados ou di- dos fatores notórios que contribuiu
ficultando e, até mesmo, impedindo a para o pai compartilhar mais as ta-
interação do pai com a criança. Quan- refas domésticas e a se engajar mais
do a mãe motiva o pai a cuidar e a in- no cuidado com os filhos (Dessen
teragir com a criança, o pai diz se sen- & Oliveira, 2013; Staudt & Wagner,
tir valorizado e encorajado exercendo 2008;  Wagner et al., 2005). Contu-
seu papel. Quando, por outro lado, a do, embora as atividades domésticas
mãe coloca obstáculos na interação estejam sendo cada vez mais desem-
pai-filho(a), por exemplo, proibindo- penhadas pelos homens, a literatura
-o de realizar certas atividades com a aponta que ainda são as mulheres as

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principais responsáveis pelos cuida- envolvimento paterno. Entre os prin- A paternidade e
dos dos filhos e da casa (Bossardi, Go- cipais atributos facilitadores apontam fatores associados ao 10
envolvimento paterno
mes, Vieira, & Crepaldi, 2013; Bueno, a comunicação e espontaneidade e, Mariana Schubert Backes

2014; Genesoni & Tallandini, 2009). como dificultadores, o fato de serem Ana Paula Sesti Becker
Maria Aparecida Crepaldi
Com relação a esse tema, alguns estressados e descontarem nos filhos.
Mauro Luís Vieira
autores (McBride, Brown, Bost, Shin, De acordo com os participantes, o
Vaughn, & Korth, 2005; Pimenta, Ve- temperamento da criança também in-
ríssimo, Monteiro, & Costa, 2010; fluencia no seu envolvimento. Os pais
Schoppe-Sullivan, Brown, Cannon, relataram que o fato de seus filhos se
Mangelsdorf, & Sokolowski, 2008; mostrarem, na maior parte do tempo,
Turcotte & Gaudet, 2009) fazem alu- tranquilos e obedientes, reforçou a sua
são ao conceito do gatekeepers, uma proximidade nas interações e cuida-
vez que as mães possuem uma posi- dos com eles.
ção familiar privilegiada no sentido de A rede social de apoio também é
tomar conta dos filhos e do lar; estas evidenciada como um fator que auxi-
podem ficar receosas de que os pais to- lia na criação dos filhos, pois quando
mem o lugar delas e, portanto, acabam os pais podem contar com a ajuda de
praticando um papel de vigilantes na outros familiares ou amigos próximos,
dinâmica familiar, coordenando o en- sentem-se mais seguros, apoiados e
volvimento dos pais com seus filhos, tranquilos. Desse modo, quando não
para garantir o seu poder. há presença de pessoas da família ex-
Esse fato assemelha-se a um para- tensa por perto auxiliando nos cuida-
doxo, visto que deflagra uma conduta dos das crianças (Bustamante & Trad,
contraditória das mães que, ao mesmo 2005), os pais podem ser mais solicita-
tempo em que exigem uma participa- dos, o que parece ter ocorrido com os
ção mais ativa dos homens nas tarefas pais desta pesquisa.
domésticas, nos cuidados e educação As particularidades do pai e do con-
dos filhos, parecem sentir que essa texto que facilitam seu envolvimento
cooperação paterna pode interferir na com a criança podem ser pensadas,
dinâmica relacional familiar. Tais re- por meio da teoria bioecológica do
ceios maternos podem fazer com que desenvolvimento humano, como uma
as mães não estimulem tanto os pais a característica pessoal do tipo “disposi-
se esforçarem para ter um papel mais ção”, pois parece favorecer os proces-
ativo na educação dos filhos, ocasio- sos proximais e, consequentemente,
nando, assim, um menor envolvimen- o envolvimento paterno. Esses fatores
to paterno. Logo, a maior participação relacionados à personalidade do pai
do pai nos cuidados com a criança está vão ao encontro do que Lamb, Pleck,
relacionada a características da mãe e Charnov e Levine (1985), Lamb (1997)
ao quanto ela permite e abre espaço e Pleck (1997) afirmam: que o envolvi-
para isso (Backes, 2015; Lamb, Frodi, mento paterno é construído e influen-
Hwang, & Frodi, 1983; McBride et al., ciado pela história dos pais com seus
2005; Monteiro, Fernandes, Veríssimo, próprios cuidadores, características da
Costa, Torres, & Vaughn, 2010; Pi- personalidade e crenças do pai.
menta et al., 2010). A respeito da relação que os parti-
Em se tratando dos fatores relativos cipantes possuíam com seus próprios
ao pai, encontrou-se que os pais asso- pais, constatou-se, de maneira ge-
ciam algumas características pessoais ral, que os pais dos entrevistados não
suas que facilitam ou dificultam o participavam muito dos cuidados dos

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filhos nem da casa, havendo um pre- co que seus pais vivenciaram, ou seja,
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domínio no padrão de pai provedor, o os filhos relativizam algumas práticas
qual trabalhava fora para provimento levando em consideração a época em
de bens materiais à família, com res- que seus pais viveram (Gabriel & Dias,
trito envolvimento no âmbito afetivo. 2011). Tal fato foi reafirmado nesta
Conforme Balancho (2004), os resul- pesquisa, corroborando também os
tados estão de acordo com a percep- achados de Bueno (2013), nos quais os
ção social do pai da geração anterior, pais entrevistados reconheceram que a
menos envolvido diretamente com as forma de ser pai antigamente era dife-
crianças e exercendo sua autoridade rente do ser pai nos dias atuais, devido
como chefe de família. às mudanças sociais e econômicas que
Dessa forma, os respondentes des- ocorrem na contemporaneidade.
sa pesquisa adotavam como modelo A respeito disso, Gabriel e Dias
de paternidade um misto de condutas (2011) verificaram que ser filho(a) em
que se baseavam em aspectos que jul- um modelo tradicional, no qual, na
gavam ser positivos ou negativos, em maioria dos casos, o pai demonstra
relação aos próprios pais. Ou seja, re- menos afeto e é mais distante, instiga
produziam com os filhos as influências os homens a desejarem ser um pai
positivas e ressaltaram fazer diferente diferente. Destaca-se, então, a impor-
do que não aprovaram de seus pais. tância e influência que os pais têm no
Tais achados estão em consonância processo de construção da paternida-
com os resultados do estudo de Bolze de que seu filho(a) desempenhará fu-
(2016) que, ao investigar a transgera- turamente. Pode-se pensar, assim, que
cionalidade, observou que as táticas de a vivência da paternidade e do envol-
resolução de conflito conjugal utiliza- vimento paterno é construída através
das pelo casal provinham de modelos das relações familiares desenvolvidas
familiares de seus pais ou anteceden- e, também, por meio das relações so-
tes, que eram mantidas ou descartadas ciais e contextuais que o sujeito realiza
nas relações familiares. Tais modelos em sua vida, o que contribui para dire-
eram retransmitidos na relação paren- cionar suas opiniões e atitudes sobre o
tal, o que parece indicar padrões de que é ser pai e como exercer essa fun-
continuidades e descontinuidades na ção no ciclo vital familiar. Portanto, de
dinâmica familiar. maneira geral, constatou-se que os pais
Diante disso, pode-se constatar que estão repensando questões acerca da
a maneira com que os pais tratavam paternidade e isso é positivo ao passo
seus filhos parece estar relacionada que vão se conscientizando a respeito
aos modelos de criação que recebe- de diferentes possibilidades de exercer
ram de seus pais. Conforme Gabriel e a paternidade, já que as condutas pa-
Dias (2011), a forma como o pai per- rentais vêm se alterando atualmente
cebe seu próprio pai demonstra certa (Bornholdt, Wagner, & Staudt, 2007).
ambiguidade e, ao mesmo tempo, re-
vela que os filhos entendem que seu
genitor pode ter tido algumas falhas, CONSIDERAÇÕES FINAIS
mas nem por isso seu modelo de pai
se torna totalmente desprezível. Essa De modo geral, os pais relataram as-
compreensão de possíveis erros co- pectos que podem repercutir no envol-
metidos pela figura paterna vem da vimento paterno, no sentido de facilitar
contextualização do momento históri- ou dificultar o engajamento e a partici-

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pação que mantêm na vida de seus fi- Dessa forma, podem ser planejadas A paternidade e
lhos. A presença materna pareceu cons- ações no âmbito dos setores da saúde, fatores associados ao 12
envolvimento paterno
tituir-se em um fator que interfere na educação e assistência social, com vis- Mariana Schubert Backes

díade pai-filho(a) na medida em que, tas a desenvolver programas de inter- Ana Paula Sesti Becker
Maria Aparecida Crepaldi
na ausência da mãe, os pais demonstra- venção que atentem para a inclusão do
Mauro Luís Vieira
ram interagir mais com os filhos e obter pai na atenção à criança. Isto porque,
deles maior obediência. Além disso, o neste espaços, o interlocutor principal
modelo de paternidade que receberam ainda tem sido a figura materna.
de seus próprios pais apresentou-se No âmbito acadêmico, sugerem-
como aspectos importantes no envolvi- -se pesquisas futuras que englobem
mento paterno ao se tornarem pais. o acompanhamento longitudinal dos
Destaca-se, portanto, a importân- pais pesquisados quanto às semelhan-
cia em se considerar os padrões de ças e diferenças no envolvimento pa-
relacionamento transmitidos interge- terno e estrutura familiar ao longo do
racionalmente, por exemplo, entre a tempo. Recomenda-se, ainda, investi-
relação do pai com o seu próprio pai. gar a participação do pai em diferentes
Essa é a base sobre a qual ele irá cons- faixas etárias do(a) filho(a), haja vista
truir seu jeito particular de exercer a que a criança apresenta diferentes de-
paternidade, por meio da reprodução mandas ao longo do tempo. Por fim, é
de condutas que considerava adequa- importante apontar que estudos sobre
das e reavaliação de práticas que, na a paternidade possibilitam dar voz ao
sua opinião, poderiam ser diferentes. público masculino por oportunizar a
É nessa reavaliação de modelos que o maior visibilidade e participação da
sujeito tem a possibilidade de atribuir figura paterna em diferentes contextos
significado aos fatos que vivencia. da sociedade.
Assim, esses significados que os par-
ticipantes foram construindo em seu
modo de experienciar a paternidade REFERÊNCIAS
tornam-se o alicerce em sua forma de
agir, pensar e sentir sobre as relações Andolfi, M., Claudio, A., & Saccu,
passadas e presentes que constituem a C. (1995). O casal em crise. São Pau-
parentalidade. Os pais dessa pesquisa lo: Summus. 
afirmam demonstrar mais afetividade Backes, M. S. (2015). A relação entre o
e participação nas atividades de seus envolvimento paterno e a abertura
filhos, do que os seus próprios pais fo- ao mundo em pais de crianças entre
ram com eles, o que caracteriza um es- quatro a seis anos. Dissertação de
tilo de pai emergente, o qual se envolve Mestrado, Programa de Pós-gradu-
emocionalmente e de forma ativa nos ação em Psicologia, Universidade
cuidados do(a) filho(a). Acerca disto é Federal de Santa Catarina, Floria-
importante, também, considerar que nópolis, SC.
o contexto temporal e social entre as Balancho, L. S. F. (2004). Ser pai:
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Oportuniza-se, portanto, salientar São Paulo: Edições 70.
as especificidades sobre a relação pai- Bolze, S. D. A. (2011). A relação en-
-filho(a) no contexto contemporâneo. tre engajamento paterno e conflito

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24(4), 561-573. gmail.com

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MARIA APARECIDA CREPALDI A paternidade e
fatores associados ao 16
Doutora Docente. Programa de Pós- envolvimento paterno
-Graduação em Psicologia. Univer- Mariana Schubert Backes

sidade Federal de Santa Catarina Ana Paula Sesti Becker


Maria Aparecida Crepaldi
(UFSC). Florianópolis, SC, Brasil. Mauro Luís Vieira
E-mail: maria.crepaldi@gmail.com

MAURO LUÍS VIEIRA


Doutor Docente. Programa de Pós-
-Graduação em Psicologia. Univer-
sidade Federal de Santa Catarina
(UFSC). Florianópolis, SC, Brasil.
E-mail: maurolvieira@gmail.com

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