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Defeitos Estruturais

Tópicos a abordar...

• Que tipos de defeitos existem em estruturas sólidas?

• É possível controlar o número e tipo de defeitos?

• Como é que os defeitos afectam as propriedades do material?

• Serão os defeitos indesejáveis?

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Defeitos em Sólidos
•  Ordem perfeita a longa distância pode não
existir em todo o sólido
•  Os defeitos cristalinos têm um efeito profundo
no comportamento dos materiais
•  Controlando os defeitos existentes nos
materiais é possível produzir:
•  Metais e suas ligas mais resistentes
•  Magnetos com maior magnetização
•  Vidros de cores interessantes, etc.

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Tipos de Defeitos
• Lacunas
• Intersticiais
Defeitos Pontuais
•  Substitucionais
•  Schotky
•  Frenkel

• Deslocações Defeitos Lineares

• Limites de Grão
•  Falhas de Empilhamento Defeitos Planares
•  Maclas ou Bidimensionais
•  Interface sólido/vapor

• Inclusões
•  Poros Defeitos em volume
•  Fissuras ou tridimensionais(3-D)
•  Desordem
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Defeitos pontuais
•  Defeitos pontuais – Imperfeições que se localizam
em posições atómicas de um cristal.
Lacuna – Falta de um átomo ou de um ião numa
posição cristalográfica regular.
Intersticial – Presença de um átomo numa
posição que não é uma posição cristalográfica
regular.
Substitucional – Substituição de um átomo de
uma posição cristalográfica regular por outro tipo
de átomo.
Defeitos pontuais: Lacunas

•  Defeitos mais simples.


•  Todos os sólidos cristalinos contêm lacunas.
•  A termodinânica explica a existência de lacunas em
sólidos cristalinos.
•  A presença de lacunas aumenta a entropia
(desordem) dos cristais.
•  A concentração de lacunas em equilíbrio depende
da temperatura segundo uma lei de Arrhenius.
Defeitos Pontuais: lacuna e auto-intersticial
• Lacunas:
- posição atómica livre na estrutura

Lacuna
distorção
dos planos

• Auto-Intersticiais:
-átomos "extra" posicionados entre as posições atómicas

auto-intersticial

distorção
dos planos

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Defeitos pontuais: Intersticiais e Substitucionais

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Defeitos pontuais:
Concentração de Equilíbrio
• A concentração de equilíbrio varia com a temperatura!

Nº de defeitos por m3 Energia de


activação para a
Nº de posições
Nv ⎛ -

E ⎞ formação

do defeito
potenciais para os =
exp ⎜⎜

v ⎟⎟


defeitos por m3 = N ⎝
k T ⎠

nº posições atómicas Temperatura (K)
por m3 constante Boltzmann
(1.38 x 10 -23 J/(átomo.K))
(8.62 x 10 -5 eV/(átomo.K))

Cada posição atómica é


uma posição potencial
para o defeito 8
Defeitos pontuais:
Medindo a Energia de Activação
• Ev pode ser determinada ⎛ -

E ⎞

experimentalmente Nv ⎜

v ⎟⎟


= exp ⎜
N ⎝
k T ⎠

• Medindo... • Representando...

Nv Nv declive
ln
N N
-E v /k
Dependência
exponencial!

T 1/ T
fracção de defeitos
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Defeitos pontuais:
Estimar a Concentração de Lacunas
• Estimar a concentração de equil. de lacunas em 1 m3 de Cu a 1000°C
• Sabendo:
ρ
= 8.4 g
/
cm
3
M
Cu
= 63.5 g/mol

EV
=0.9 eV/átomo
N
A
= 6.02 x 1023
átomos/mol

0.9 eV/átomo
Nv = ⎛ - E ⎞
v
exp ⎜⎜ ⎟⎟ = 2.7 x 10-4
N ⎝ k T ⎠
1273K
8.62 x 10-5 eV/(átomo.K)
NA
Em 1 m3 , N= ρ x x 1 m3 = 8.0 x 1028 locais
M Cu
• Resposta:
N v = (2.7 x 10-4)(8.0 x 1028) locais = 2.2 x 1025 lacunas
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Defeitos pontuais em ligas
Formação de uma sólução líquida de água e álcool. A mistura
ocorre à escala molecular.

Esta   mistura   (solução)   pode  


ser   descrita   numa   base  
ponderal   ou   atómica.   O  
mesmo   conceito   pode   ser  
aplicado   a   soluções   sólidas,  
denominadas  ligas.  
Defeitos pontuais em ligas
Solução sólida de Ni em Cu observada perpendicularmente
ao plano (100) É uma solução sólida substitucional com os
átomos de Ni a substitutir os de Cu em posições atómicos
fcc.
Defeitos pontuais em ligas
Os átomos de C formam soluções intersticiais de, ferro-α. O
átomo é pequeno mas não cabe no espaço intersticial
deixado livre pelos átomos de Fe, distorce portanto a
estrutura do Fe.

A solubildade intersticial é moderada devido ao facto de os áromos de C não caberem


perfeitamente nos interstícios do Fe.
Defeitos pontuais em ligas
Átomo de B adicionados à estrutura de A:
• Solução sólida de B in A (i.e., distribuição aleatória de defeitos pontuais

OU

Solução sólida Solução sólida


substitucional (e.g., Cu in Ni) interstitial (e.g., C in Fe)
• Composto estequeométrico embebido numa matriz de solução
sólida de B em A.

Segunda fase:
- Composição diferente
- Em geral, estrutura cristalina diferente
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Defeitos pontuais em cerâmicos

• Defeito de Frenkel
Catião deslocado.
• Defeito de Shottky
Par de lacunas de catião e anião

Shottky

Frenkel

!QD / kT
• Concentração de equilíbrio detes defeitos: ~e
Defeitos lineares
Deslocações:
–  Defeitos uni-dimensionais: região em torno da qual
os átomos estão fora das posições de equilíbrio
–  Defeito caracterizado pela linha de deslocação e pelo
vector de Burgers b (medida da distorção da rede).
–  A linha de deslocação e o vector de Burgers definem
um o plano de escorregamento

•  deslocação
!Cunha
•  deslocação Parafuso
•  deslocação Mista
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Defeitos lineares: Deslocação cunha

–  semi-plano extra de átomos inserido na estrutura cristalina


–  b ⊥ linha de deslocação, determinado a partir do circuito de Burgers

Linha de
Deslocação
Plano de
escorregamento

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Defeitos lineares:
Movimento de uma deslocação cunha

•  Semelhante ao movimento de uma lagarta ou


ao de uma ruga num tapete

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Defeitos lineares:
Deslocação parafuso
–  rampa em espiral de planos resultante de deformação ao corte
–  b || linha de deslocação, determinado a partir do circuito de Burgers

Plano de
! escorregamento

Linha de
deslocação vector de
Burgers

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Defeitos linares: Deslocação parafuso
–  Circuito de Burgers:

A direcção do vector, o sentido do circuito e se é realizado primeiro no cristal


perfeito ou no cristal defeituoso é uma questão deo convenção 20
Defeitos lineares: Deslocação Mista
Mista

Cunha

Parafuso

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Defeitos lineares: Circuito de Burgers

Convenção RHFS (Right-Hand Finish-Start)

Determinação do Vector de Burgers, b, de


uma deslocação cunha: (a) num cristal
perfeito faz-se um circuito com m×n
segmentos que acaba no ponto inicial. (b)
Na região de uma deslocação, o mesmo
circuito não fecha, sendo b o vector de
fecho. Numa deslocação cunha b é
perpendicular à linha da deslocação.
Defeitos lineares: Circuito de Burgers
Convenção RHFS (Right-Hand Finish-Start)

Na deslocação parafuso a espiral de planos resulta num b


paralelo à linha da deslocação.
Defeitos lineares: Deformação plástica
Deslocações e deformação plástica
•  Metais cúbicos e hexagonais - deformação plástica
dá-se por escorregamento de um plano de átomos
sobre outro por movimento de deslocações.

Sem movimento de deslocações, não há deformação plástica!


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Defeitos lineares: Deformação plástica
•  Deslocação move-se no seu plano de escorregamento na
direcção de escorregamento (direcção do vector de Burgers)

Deslocação Cunha

Deslocação Parafuso

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Defeitos lineares: Deformação plástica
Sistema de Escorregamento
–  Plano de escorregamento - plano de fácil deslizamento
Distâncias interplanares grandes (índices baixos)
Planos de maxima compacidade (densidade atómica planar elevada)
–  Direcção de escorregamento - direcção de movimento
Direcções de maior compacidade (densidade atómica linear elevada)

–  CFC escorregamento ocorre em planos {111} (compactos) em direcções


<110> (compactas) => total de 12 sistemas de escorregamento
–  CCC: (não há planos ou direcções compactos, mais compactos: planos
{110} e direcções <111>
–  HC: planos basais e direcções prismáticas (1 plano, 3 direcções)
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Defeitos lineares: Deformação plástica
Comparação entre estruturas cristalinas
(efeito do nº de sistemas de escorregamento):

provetes após ensaio de tracção

Mg (HCP)

Al (FCC)

tensile direction

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Defeitos lineares: Deformação plástica

• quando as deslocações se movem ocorre deslizamento


entre planos cristalinos,
• produzindo deformação permanente (plástica).

Deformação de um monocristal de Zinco (HC):


• antes da deformação • após deformação por tracção

degraus de
escorregamento

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Defeitos lineares: Deformação plástica
Escorregamento em monocristais:
Direcção de aplicação
da força

Planos de
escorregamento

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Defeitos lineares:
Tensão e Movimento de Deslocações
• Escorregamento ocorre por acção de uma tensão de corte
resolvida, τR
• Uma tensão de tracção aplicada (σ) ao cristal pode gerar τR

Tensão de tracção
Tensão de corte Relação entre σ e τR

aplicada: σ = F/A resolvida: τR=FS /AS

F Normal ao plano de
τR
= FS /AS
A escorregamento, ns
τR

F cos λ
A /cos φ

AS
FS F nS φ

λ
A
FS AS
τR

F

Lei de Schmid τR = σ cos λ cos φ Factor de Schmid 30


Defeitos lineares:
Tensão de Corte Resolvida Crítica
• Condição para movimento de deslocações: " R > " TCRC
• Orientação cristalina: pode ser mais fácil
ou mais difícil mover uma deslocação tipicamente
10-4 GPa a 10-2 GPa
$R = # cos " cos ! !
σ
σ
σ

τR
= 0 τR
= σ
/2 τR
= 0
λ
=90° λ
=45° φ
=90°
φ
=45°

τ máxima para λ = φ = 45º 31


Defeitos lineares:
Tensão e Movimento de Deslocações
a) Irá o monocristal ceder para a tensão aplicada?
b) Se não, que tensão seria necessário aplicar?
φ=60°

τTCRC = 20 MPa
λ=35°

" = # cos $ cos %
# = 45 MPa

" = ( 45 MPa) ( cos 35! )(cos 60! )


! = ( 45 MPa) ( 0.41)
" = 18, 45 MPa < " TCRC = 20 MPa
σ = 45 MPa

A tensão aplicada de 45 MPa não causa a cedência do cristal.
! 32
Defeitos lineares:
Tensão e Movimento de Deslocações
Que tensão seria necessário aplicar (i.e.,
qual é a tensão de cedência, σced)?

" TCRC = 20 MPa = # ced cos $ cos % = # ced ( 0.41)

$ TCRC 20 MPa
" # ced = = = 48, 8 MPa
! cos % cos & 0, 41

Para ocorrer deformação a tensão aplicada teria


que ser igual ou superior a σced
!
" # " ced = 48, 8 MPa
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Defeitos lineares: Escorregamento em Policristais
σ

• Mais resistentes - limites de grão
limitam a deformação
• Planos & direcções de
escorregamento (λ, φ) variam de
cristal para cristal
• τR varia de cristal para cristal.
• O cristal com maior τR cede
primeiro.
• Outros cristais (com orientações
menos favoráveis) cedem mais
tarde. 300 µm

34
Find the defect
Find the defect
Defeitos planares: Limites de grão

•  regiões entre os cristais


•  transição entre a rede de
uma região e a de outra
•  ligeiramente desordenada
•  densidade é baixa nos
limites de grão
–  mobilidade atómica elevada
–  difusividade elevada
–  reactividade química elevada

Estrutura em grãos
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Defeitos planares: Limites de grão

•  Solidificação – resultante do vazamento de metal fundido


–  2 passos
•  Formam-se núcleos cristalinos no líquido
•  Os cristais crescem até tocarem noutros cristais – estrutura em gãos.

núcleos cristais a crescer estrutura em grãos


líquido

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Defeitos planares: Limites de grão
Solidificação
- Grãos equiaxais de (tamanho aproximadamente igual em todas as direcções)
- Grãos columnar (grãos elongados)~ 8 cm

Condução
de calor

Camada de grãos
Colunar no equiaxiais devico
centro devido a ao rápido
arrefecimento arrefecimento
mais lento junto da parede

Refinar o grão - adição de inoculantes torna o grão mais fino, uniforme e equiaxial.
Defeitos planares: Interface sólido-vapor

Superfície de uma material cristalino


Defeitos planares: Falhas de empilhamento

Falhas de empilhamento
–  Em metais CFC: erros na sequência de
empilhamento dos planos ABCABC
–  Ex: ABCABABC

Maclas
–  Essencialmente uma reflexão das posições
atomicas atraves do plano de macla

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Defeitos a 3 –D: Ordem/desordem
Ordem a longa distância Apenas ordem a curta distância
Observação Microscópica de Defeitos

• Vista desarmada para grãos de elevadas dimensões (mm)


• Microscopia óptica e microscopia electrónica de varrimento
para grãos da ordem dos µm
• Microscopia electrónica de transmissão para grãos da
ordem dos nm, deslocações, falhas de empilhamento, maclas

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Microscopia Óptica
Contraste de limites de grão...
• defeitos,
• mais susceptiveis
de ataque,
• revelados como linhas escuras, superfície polida

Sulco
Limite de grão
(a)

Liga Fe-Cr

(b)

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Microscopia Óptica
Contraste cristalográfico

Planos cristalográficos

Latão (liga Cu-Zn)

0.75mm
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Observação de Deslocações
Deslocações são visíveis em imagens de
microscopia electrónica de transmissão

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Sumário
•  Nos materiais exitem defeitos pontuais, lineares,
planares e volúmicos.
•  O tipo e número de defeitos depende de
–  Temperatura (controla a concentração de lacunas
–  A quantidade de deformação plástica imosta ao material
condiciona o número de deslocações
•  Os defeitos condicionam as propriedades dos
materiais e podem ser desejáveis ou indesdejáveis

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