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Poder Judiciário da União

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS

Órgão 3ª Turma Criminal

Processo N. APELAÇÃO CRIMINAL 0000225-20.2006.8.07.0008


APELANTE(S) MINISTERIO PUBLICO DO DISTRITO FEDERAL E DOS
TERRITORIOS,GILBERTO DUARTE RIVAROLI FILHO e SILVIO BUENO DOS
REIS
APELADO(S) GILBERTO DUARTE RIVAROLI FILHO,SILVIO BUENO DOS REIS e
MINISTERIO PUBLICO DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITORIOS
Relatora Desembargadora NILSONI DE FREITAS CUSTODIO
Revisor Desembargador JESUINO RISSATO

Acórdão Nº 1332665

EMENTA

APELAÇÃO CRIMINAL. TRIPLO HOMICÍDIO DUPLAMENTE QUALIFICADO. POLICIAIS


MILITARES. MOTIVO CRUEL. RECURSO QUE DIFICULTA OU TORNA IMPOSSÍVEL A
DEFESA DA VÍTIMA. RECURSOS DO MINISTÉRIO PÚBLICO E DAS DEFESAS. NULIDADE
POSTERIOR À PRONÚNCIA. JUNTADA DE DOCUMENTO FORA DO PRAZO PREVISTO
NO ART. 479 DO CPP. CONCORDÂNCIA DAS DEFESAS. OITIVA DE CORRÉU COMO
TESTEMUNHA. IMPOSSIBILIDADE. DECISÃO CONTRÁRIA À PROVA DOS AUTOS.
INEXISTÊNCIA. TESE DA ACUSAÇÃO AMPARADA NO ACERVO PROBATÓRIO. ERRO
OU INJUSTIÇA NO TOCANTE À APLICAÇÃO DA PENA. CULPABILIDADE. CONDUTA
SOCIAL. QUANTUM DE ACRÉSCIMO. ADEQUADO. CONCURSO FORMAL PRÓPRIO.
MANTIDO. PERDA DO CARGO. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. EXCLUSÃO PARA O RÉU
REFORMADO.

I - Não há que se falar em nulidade se o documento juntado fora do prazo previsto no art. 479 do CPP não
tem relação com os fatos sob apuração, a Defesa anuiu com a juntada do documento e, além disso, não
demonstrou a ocorrência de qualquer prejuízo.

II - A jurisprudência consagra a impossibilidade de corréu ser ouvido em Juízo, seja na qualidade de


testemunha ou de informante, exceto se figurar como colaborador ou delator. Precedentes.

III - A nulidade posterior à pronúncia deve ser arguida logo que anunciado o julgamento e apregoadas as
partes, sob pena de preclusão (art. 571, V, do CPP).

Número do documento: 21041616520284900000024142552


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IV - Nos procedimentos submetidos ao Júri Popular, a decisão do Conselho de Sentença é soberana,
somente se configurando contrária à prova dos autos quando totalmente isolada do acervo angariado.
Estando a decisão que condenou o réu respaldada em prova constante dos autos, deve ser mantida.

V - A prática do crime por policiais militares, agentes públicos que tem o dever de atuar na garantia da
segurança pública, torna a conduta ainda mais reprovável e autoriza a valoração desfavorável da
culpabilidade.

VI - Mantém-se a avaliação negativa da conduta social, pois baseada em elementos concretos,


consubstanciados em depoimentos que comprovam que os réus eram temidos na região em que prestavam
serviço.

VII - Considerando a ausência de critério legal, a jurisprudência tem mantido a pena fixada com a devida
fundamentação, estabelecendo como quantum norteador a fração de 1/8 (um oitavo) sobre o intervalo
entre os limites mínimo e máximo abstratamente cominados no tipo legal, para aumento da pena-base em
razão da análise desfavorável de cada uma das circunstâncias judiciais do art. 59 do CP.

VIII - Se o agente pratica o crime por meio de ação única, fracionada em diversos atos executórios, não
havendo prova da existência de desígnios autônomos, deve ser aplicada a regra do concurso formal
próprio para a unificação das penas.

IX - Mantém-se o efeito da condenação relativo à perda de cargo, previsto no art. 92, I, “b”, do CP,
quando o réu, policial militar, em lugar de resguardar a segurança pública, comete triplo homicídio
qualificado, conhecido na comunidade onde exercia o labor como “policial bandido”, não havendo
compatibilidade entre o crime praticado e sua permanência na função pública.

X - A mesma sanção – perda do cargo público – não deve ser aplicada ao réu que ao tempo da
condenação, já havia sido transferido para a reserva remunerada.

XI - Configurada a necessidade da prisão preventiva para a garantia da ordem pública, nos termos do art.
312 do CPP, indefere-se o pedido de liberdade provisória.

XII - Recursos conhecidos. Apelo ministerial e de um dos réus desprovido. Recurso do segundo réu
parcialmente provido.

ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 3ª Turma Criminal do Tribunal de Justiça do Distrito


Federal e dos Territórios, NILSONI DE FREITAS CUSTODIO - Relatora, JESUINO RISSATO -
Revisor e WALDIR LEÔNCIO LOPES JÚNIOR - 1º Vogal, sob a Presidência da Senhora
Desembargadora NILSONI DE FREITAS CUSTODIO, em proferir a seguinte decisão: CONHECIDO.
PRELIMINARES REJEITADAS. DEU-SE PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO DE S. B. R.
NEGOU-SE PROVIMENTO AOS RECURSOS DO RÉU G. D. R. F. E DO MPDFT. UNÂNIME, de
acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.

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Brasília (DF), 15 de Abril de 2021

Desembargadora NILSONI DE FREITAS CUSTODIO


Presidente e Relatora

RELATÓRIO

Trata-se de ação penal ajuizada pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E


TERRITÓRIOS em desfavor de SILVIO BUENO DOS REIS, vulgo “Cara de Rato”, IVAN
BARBOSA REBOUÇAS, JULIO CESAR FERREIRA DE CARVALHO e GILBERTO DUARTE
RIVAROLI FILHO, atribuindo-lhes a autoria do crime previsto no artigo 121, § 2º, incisos I, III e IV do
Código Penal, constando da denúncia os seguintes fatos (ID 13909104):

Entre as 09 horas do dia 11 de janeiro de 2006 (quarta-feira) e as 09 horas do dia 13 de janeiro de 2006,
sob a ponte e às margens sudoeste do Rio Jardim, situada na Rodoviária Distrital/DF-100, São
Sebastião/DF, os denunciados, de modo livre e consciente, com vontade de. matar, em unidade de
desígnios e em comunhão de esforços, efetuaram disparos de arma de fogo em Alex Ferreira Soares,
Jildemar da Trindade Amorim e Wilson Lopes, causando-lhe as lesões descritas nos laudos de exame
cadavérico de fls. 19/20, 22/25 e 50/51 do inquérito policial, respectivamente.

Os fatos se deram por motivo torpe, consistente em vingança, pois suspeitavam de que as vítimas eram
autores de um furto na residência do denunciado Ivan.

O crime fora praticado mediante uso de meio cruel, pois as vítimas foram submetidas a intenso e
desnecessário nível de terror e sofrimento, na medida em que estavam com as cabeças cobertas pelas
próprias camisas, quando foram executadas.

O delito ainda ocorreu com uso de recurso que impossibilitou a defesa das vítimas, já se encontravam
dominadas pelos denunciados antes de serem mortas.

Meses antes dos crimes em questão, a casa do denunciado Ivan foi invadida, oportunidade em que lhe
subtraíram uma arma de fogo e pertences.

O denunciado Ivan então passou a suspeitar de que Alex e outros dois comparsas houvessem atuado no
furto.

No dia dos fatos, as vítimas foram localizadas na rua, abordadas e rendidas.

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Em seguida, os quatro denunciados seguiram com elas até o local do crime.

Lá, as vítimas tiveram suas cabeças cobertas pelas camisas e foram executadas, cada uma com um tiro
mortal na região craniana.

O Ministério Público interpôs recurso de apelação (IDs 13909877 e 13909880) contra a sentença que
impronunciou os réus (ID 13909871), o qual foi parcialmente provido por esta 3ª Turma Criminal, para
manter a impronúncia de IVAN BARBOSA REBOUÇAS e pronunciar os demais denunciados, SILVIO
BUENO, JULIO CESAR e GILBERTO DUARTE, como incursos no artigo 121, § 2º, incisos III e IV do
Código Penal, por três vezes (ID 13909915).

A ação penal teve início na Circunscrição Judiciária do Paranoá. Instalado o Tribunal do Júri de São
Sebastião, local onde ocorreram os fatos, o processo foi para lá redistribuído (ID 13909980).
Posteriormente, acolhendo desaforamento formulado pelo Ministério Público, a Câmara Criminal, em
julgado de minha Relatoria, determinou a remessa dos autos para julgamento pelo Tribunal do Júri da
Circunscrição Judiciária de Brasília (ID 13910035 – fls. 3/21).

Diante da comunicação do falecimento de JÚLIO CÉSAR FERREIRA DE CARVALHO (ID 13910061 –


fl. 3), o Juízo de 1º Grau, com fundamento no artigo 107, I, do Código Penal, declarou a extinção da
punibilidade (ID 13910063).

Após regular trâmite do feito, os réus SILVIO e GILBERTO foram condenados pela prática do delito
previsto no artigo 121, § 2º, incisos III e IV, do Código Penal, por três vezes, sendo cominada a pena
idêntica de 23 (vinte e três) anos, 1 (um) mês e 6 (seis) dias de reclusão, em regime inicial fechado.
Foi decretada a perda do cargo (ID 13910141).

As partes foram intimadas em Plenário, oportunidade em que todas apelaram. O Ministério Público, com
fundamento no artigo 593, inciso III, alínea “c”, do Código de Processo Penal e as Defesas, com base em
todas as alíneas do referido dispositivo legal (ID 13910140 – fl. 12).

O Ministério Público, em suas razões (ID 13910151), alega que estão configurados desígnios autônomos
nas condutas praticadas, de modo que as penas devem ser unificadas mediante a aplicação do concurso
formal impróprio, para fixar sanção definitiva de 57 (cinquenta e sete) anos e 9 (nove) meses de reclusão
para cada um dos acusados.

Em sede de contrarrazões, as Defesas de GILBERTO (ID 13910153) e SILVIO (ID 13910165)


manifestam-se pelo desprovimento do apelo ministerial. Subsidiariamente, pugnam pelo reconhecimento
da continuidade delitiva, nos termos do artigo 71 do Código Penal.

Nas razões recursais de ID 13910154, a Defesa de GILBERTO alega que o Ministério Público
promoveu a juntada de documento relativo à prisão em flagrante do réu por crime de porte ilegal de arma
de fogo fora do prazo previsto no artigo 479 do Código de Processo Penal.

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Sustenta que durante a sessão de julgamento, a acusação requereu a juntada de uma mídia contendo
alguns dos diálogos captados em interceptações telefônicas e, após o indeferimento deste pedido, postulou
a juntada de uma outra mídia que não seria utilizada em plenário mas apenas em caso de eventual recurso,
o que foi acatado.

Entende que a juntada violou o artigo 479 do Código de Processo Penal, bem como os princípios do
contraditório, paridade de armas e do devido princípio legal, que estão inseridos no artigo 5º, LIV, da
Constituição Federal, o que configura causa de nulidade absoluta do julgamento. Assevera que o prejuízo
constitui na impressão aos jurados de que tais materiais continham provas substanciais contra os réus e
que as Defesas não queriam que fossem apresentadas em Plenário.

Alega que a decisão dos jurados é manifestamente contrária às provas dos autos e que a narrativa
construída pela Delegacia de Homicídios e, depois, pelo Ministério Público, são baseadas em
depoimentos frágeis e contraditórios, muitos deles prestados por pessoas envolvidas em criminalidade.

Assinala que antes da remessa do inquérito para a Delegacia de Homicídio, o nome do apelante sequer
tinha sido mencionado pelas testemunhas; que as interceptações telefônicas não sugerem o envolvimento
dele no triplo homicídio; que na época em que a testemunha Emerson Lázaro realizou o reconhecimento
fotográfico do recorrente, ele estava praticamente em estado vegetativo e foi nitidamente direcionado para
fazê-lo, conforme se depreende do vídeo colacionado. Por fim, afirma que as testemunhas que
supostamente viram policiais abordando as vítimas no dia 11 de janeiro apresentaram versões conflitantes
a respeito de aspectos importantes como hora e local.

Argumenta que em caso de dúvida quanto à materialidade e autoria, a providência adequada é a


absolvição, em observância ao princípio in dubio pro reo, o qual é manifestação do princípio
constitucional da presunção de não culpabilidade, prevista no artigo 5º, inciso LVII, da Constituição
Federal. Destaca que segundo o artigo 66 do Estatuto de Roma, diploma internacional que foi incorporado
ao direito interno pelo Decreto nº 4.388/2002, para a formação do Juízo de certeza, ainda que no Tribunal
do Júri, o Conselho de Sentença deve estar convencido de que o acusado é culpado além de qualquer
dúvida razoável.

Por fim, insurge-se contra a valoração negativa da culpabilidade e da conduta social na primeira fase da
dosimetria. Afirma que em todos os anos que atuou como integrante da Polícia Militar, sempre agiu no
estrito cumprimento do dever legal, em proteção e zelo à segurança pública. Inclusive possui centenas de
elogios em seus assentos funcionais, alguns deles após os fatos em apuração. Além disso, pontua que o
quantum de aumento aplicado em razão da análise desfavorável de apenas duas circunstâncias judiciais se
mostra desproporcional.

A Defesa de SILVIO (ID 15269626) aponta nulidade ocorrida após a sentença de pronúncia no que tange
ao indeferimento do pedido de oitiva de Ivan Barbosa Rebouças, denunciado e posteriormente
impronunciado, perante os jurados, ainda que na condição de informante.

Assevera que o depoimento pretendido, inclusive no que tange aos erros da investigação policial, seria de
fundamental importância para formar a convicção sobre o apelante ter ou não envolvimento com o crime.

Requer seja reconhecido o cerceamento de Defesa, com a anulação do feito desde a fase do artigo 422 do
Código de Processo Penal.

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Sustenta que a decisão é manifestamente contrária à prova dos autos, diante das contradições verificadas
na sentença que o impronunciou. Ademais, as testemunhas Dailson Xavier e Ezequiel de Jesus, em Juízo,
retrataram as declarações anteriores, enquanto a Delegada Renata Malafaia Vianna reconheceu que a
altura do apelante está entre 1,64m e 1,65m, o que contraria a declaração das testemunhas Reinilde Lopes,
Fernanda Aquino Teixeira e William Lopes Pacheco Mendes, no sentido de que o indivíduo conhecido
como “Cara de Rato” era bem mais alto, com cerca de 1,80m.

Com relação à dosimetria, alega que não há comprovação acerca das supostas práticas criminosas a ele
atribuídas, mesmo porque se tratam de afirmações de pessoas envolvidas com o tráfico de drogas na
região em que o apelante trabalhava. Aduz que sua função como policial não pode ser valorada em seu
desfavor, notadamente porque, segundo a denúncia, ele não estava no exercício do cargo ou de sua
atividade quando os crimes foram praticados. Salienta, ainda, que sua ficha de assentamentos funcionais
contém 292 (duzentos e noventa e dois) elogios.

No que tange à perda do cargo, informa que o recorrente já se encontra na Reserva da Polícia Militar do
Distrito Federal, sendo vedada a reversão pelo Poder Judiciário.

Em contrarrazões, o Ministério Público oficia pelo desprovimento dos recursos defensivos (ID
15562689).

A 8ª Procuradoria de Justiça Criminal Especializada, por intermédio da d. Procuradora de Justiça Marta


Maria de Rezende, oferta parecer (ID 15994472) pelo conhecimento dos apelos, desprovimento daqueles
interpostos pelas Defesas e provimento do interposto pela acusação.

Consigne-se que em sustentação oral, a d. Advogada do réu Gilberto Rivaroli pugnou pela concessão do
direito de aguardar o trânsito em julgado em liberdade.

É o relatório.

VOTOS

A Senhora Desembargadora NILSONI DE FREITAS CUSTODIO - Relatora

Presentes os requisitos de admissibilidade, conheço do recurso.

Inicialmente, cumpre destacar que nas apelações interpostas em face das decisões do Tribunal do Júri, o
exame pelo Tribunal é delimitado pelo termo e não pelas razões.

Nessa linha, o enunciado nº 713 da Súmula do Supremo Tribunal Federal determina que “o efeito
devolutivo da apelação contra decisões do Júri é adstrito aos fundamentos da sua interposição.”

No caso, as Defesas indicaram no termo de apelação todas as alíneas do inciso III do artigo 593 do
Código de Processo Penal, razão pela qual o recurso será apreciado de forma ampla.

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DA NULIDADE POSTERIOR À PRONÚNCIA (ART. 593, III, “A”, DO CPP)

A Defesa de GILBERTO apontou nulidade posterior à pronúncia em função da juntada de documento e


mídia contendo a integralidade das interceptações telefônicas, alegando afronta ao artigo 479 do Código
de Processo Penal, bem como aos princípios do contraditório, devido processo legal e paridade de armas.

No que concerne à primeira alegação, consta dos autos que o Ministério Público, em 8/6/2019
(quinta-feira), requereu a juntada de cópia do termo de audiência de custódia realizada em 6/8/2019, na
qual foi examinada a prisão em flagrante do réu pela prática, em tese, do delito tipificado no artigo 14,
caput, do Código Penal. O Parquet destacou que o mesmo Defensor Público que autua nos presentes
autos, Dr. Carlos André Bindá Praxedes, acompanhou a referida audiência (ID 13910135).

O d. Juízo de 1º Grau determinou que se aguardasse a sessão plenária designada para 12/8/2019
(segunda-feira - ID 13910138). Conforme se depreende da ata, logo no início da sessão, foi concedida
vista dos documentos às Defesas, que ao serem questionadas quanto à juntada, “informaram não ter
nenhuma objeção sobre a juntada e utilização em plenário” (ID 13910140 – fl. 9).

Afere-se que de fato, o artigo 479 do Código de Processo Penal não permite a leitura de documentos
escritos, bem como a exibição de objetos que não tenham sido juntados com antecedência de 3 (três) dias
úteis da sessão de julgamento, devendo a outra parte ser cientificada. O óbice diz respeito a documentos
e objetos cujo conteúdo verse sobre a matéria de fato submetida à apreciação e julgamento pelos Jurados,
conforme redação expressa do parágrafo único do citado dispositivo legal. Confira-se:

Art. 479. Durante o julgamento não será permitida a leitura de documento ou a exibição de objeto que
não tiver sido juntado aos autos com a antecedência mínima de 3 (três) dias úteis, dando-se ciência à
outra parte.

Parágrafo único. Compreende-se na proibição deste artigo a leitura de jornais ou qualquer outro
escrito, bem como a exibição de vídeos, gravações, fotografias, laudos, quadros, croqui ou qualquer
outro meio assemelhado, cujo conteúdo versar sobre a matéria de fato submetida à apreciação e
julgamento dos jurados. (grifo nosso).

No caso, o documento juntado não se refere aos fatos em apuração, mas a conduta supostamente
praticada pelo apelante em momento diverso. A juntada não se destinou ao exame pelos Jurados, mas
eventualmente ao Juiz, quando da dosimetria da pena e do exame acerca do direito de apelar em
liberdade.

Dessa forma, seja porque as Defesas foram indagadas e concordaram com a juntada dos documentos,
seja porque nenhum deles foi apresentado aos Jurados, não há qualquer nulidade a ser reconhecida.

Sobre a questão, confiram-se os seguintes julgados:

Não se reconhece nulidade, por afronta ao art. 479, caput e § único, do CPP, se o documento
apresentado em plenário, pela acusação, não faz referência direta aos fatos apreciados, mas a questão
técnica discutida em plenário, e se a defesa não demonstrou qualquer prejuízo

(Acórdão 1231215, 00093866520178070009, Relator: JAIR SOARES, 2ª Turma Criminal, data de


julgamento: 13/2/2020, publicado no PJe: 21/2/2020. Pág.: Sem Página Cadastrada.)

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Inviável o reconhecimento de nulidade posterior à pronúncia por violação ao art. 479 do Código de
Processo Penal, quando o documento utilizado pela acusação em Plenário não guarda relação com os
fatos submetidos à apreciação dos jurados, sobretudo quando a Defesa não demonstra prejuízo
decorrente da sua leitura ou exibição.

(Acórdão 1147791, 20100910199564APR, Relator: JOÃO BATISTA TEIXEIRA, Revisor: JESUINO


RISSATO, 3ª TURMA CRIMINAL, data de julgamento: 31/1/2019, publicado no DJE: 6/2/2019. Pág.:
176/187)

Se a inobservância do prazo previsto no artigo 479 do Código de Processo Penal não causou qualquer
prejuízo ao réu, pois os fatos retratados nos documentos não correspondiam àqueles sob investigação e
tampouco se qualificavam como novos nos autos, inviável o reconhecimento de nulidade posterior à
pronúncia.

(Acórdão 974033, 20141010025106APR, Relator: SILVANIO BARBOSA DOS SANTOS, Revisor:


JOÃO TIMÓTEO DE OLIVEIRA, 2ª TURMA CRIMINAL, data de julgamento: 13/10/2016, publicado
no DJE: 24/10/2016. Pág.: 472/489)

Registre-se, ainda, que consoante as lições de Eugênio Pacelli de Oliveira sobre o tema, “a não
observância do dispositivo - em nossa interpretação - importa em nulidade relativa, na medida em que é
fundamental a demonstração de que a infringência ao dispositivo vulnerou a ampla defesa”
(Comentários ao código de processo penal e sua jurisprudência. 4 ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas,
2012. p. 921 – grifo nosso).

Com efeito, o entendimento jurisprudencial pacificado é de que a decretação de qualquer nulidade exige
a comprovação de efetivo prejuízo, nos termos do artigo 563 do Código de Processo Penal, do qual se
extrai o princípio pas de nulitte sans grief.

Confira-se a orientação do eg. Superior Tribunal de Justiça acerca do tema:

Ademais, em relação aos arts. 479 e 485, § 2º, do CPP, segundo a legislação penal em vigor, é
imprescindível, quando se trata de alegação de nulidade de ato processual, a demonstração do prejuízo
sofrido, em consonância com o princípio pas de nullité sans grief, consagrado pelo legislador no artigo
563 do Código de Processo Penal, verbis: "Nenhum ato será declarado nulo, se da nulidade não
resultar prejuízo para a acusação ou para a defesa".

(AgRg no REsp 1706035/MG, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em
13/11/2018, DJe 22/11/2018)

1. A jurisprudência deste Sodalício firmou-se no sentido de que eventuais nulidades processuais devem
ser arguidas na primeira oportunidade que a parte tiver de se manifestar nos autos, bem como deve ser
comprovada a ocorrência de efetivos prejuízos, de acordo com o princípio pas de nullité sans grief.

2. Tendo sido assentado, pela Corte a quo, a inexistência de prejuízos para a defesa, não há que se falar
em nulidade processual pela não observância do disposto no art. 479 do Código de Processo Penal.
Precedentes do STJ e do STF.

Número do documento: 21041616520284900000024142552


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(AgRg no REsp 1594256/MT, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em
07/11/2017, DJe 13/11/2017)

Na mesma linha são os precedentes deste Tribunal de Justiça:

Não há nulidade posterior a pronúncia se a matéria lida em plenário não se derivar diretamente dos
fatos em debate, não tendo a Defesa comprado qualquer prejuízo resultante do ato, dessa forma
afastando a alegação de ofensa ao artigo 479 do Código de Processo Penal. Princípio pas de nullité
sans grief.

(Acórdão 1201340, 20180910004449APR, Relator: GEORGE LOPES, Revisor: MARIO MACHADO,


1ª TURMA CRIMINAL, data de julgamento: 5/9/2019, publicado no DJE: 18/9/2019. Pág.: 150 - 157)

A violação ao artigo 479 do Código de Processo Penal, que veda a leitura de documento ou a exibição
de objeto que não tiver sido juntado aos autos com antecedência mínima de 03 (três) dias úteis, é causa
de nulidade relativa, exigindo a demonstração de prejuízo para justificar a anulação do julgamento.

(Acórdão 973406, 20120810035094APR, Relator: ROBERVAL CASEMIRO BELINATI, Revisor:


SILVANIO BARBOSA DOS SANTOS, 2ª TURMA CRIMINAL, data de julgamento: 6/10/2016,
publicado no DJE: 19/10/2016. Pág.: 90/110)

Sobre a juntada de documentos, a Defesa limitou-se a alegar a nulidade, sequer mencionando em que
medida o deferimento teria causado prejuízo ao réu GILBERTO.

Por fim, não é possível deixar de salientar que, se a Defesa concordou com a juntada dos documentos,
não pode agora utilizar esse fato como argumento para arguir nulidade.

Isso porque no sistema processual penal vige o princípio da lealdade e da boa-fé objetiva, não sendo
lícito à parte arguir vício para o qual deu causa ou concorreu para a produção, sob pena de afronta ao
princípio de que ninguém pode se beneficiar da própria torpeza, consoante inteligência do artigo 565 do
Código de Processo Penal.

Nesse sentido, confira-se lição da doutrina: "Nenhuma das partes pode arguir nulidade a que haja dado
causa, ou para a qual tenha concorrido. Apesar do silêncio da lei, entende-se que tal vedação alcança
não apenas as hipóteses em que estiver comprovada má-fé, ou seja, o dolo da parte em produzir a
nulidade para, posteriormente, dela se beneficiar, como também aquelas situações em que a parte
laborou com culpa." (LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. Editora JusPODIVM, 3.
ed. 2015. p. 1.578)

Na jurisprudência o entendimento não é diferente:

II - No caso, todavia, há peculiaridades que afastam o reconhecimento da nulidade, considerando que o


paciente compareceu à audiência de suspensão condicional do processo acompanhado de seu defensor
constituído, e aceitou a proposta ofertada. Na ocasião, o advogado deixou de apresentar a resposta
escrita e não alegou qualquer hipótese ensejadora de absolvição sumária ou mesmo a nulidade ora
suscitada.

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III - Vige no sistema processual penal o princípio da lealdade, da boa-fé objetiva e da cooperação entre
os sujeitos processuais, não sendo lícito à parte arguir vício para o qual concorreu em sua produção,
sob pena de se violar o princípio de que ninguém pode se beneficiar da própria torpeza.

IV - Se a Defesa deixou de alegar a nulidade no momento processual oportuno, operou-se o fenômeno


da preclusão. Mesmo na resposta à acusação apresentada extemporaneamente, a referida nulidade não
foi suscitada. Somente após ter aceitado a proposta de suspensão, e com a superveniente revogação do
benefício por descumprimento das condições impostas, é que veio a Defesa alegar a presente nulidade.

(AgRg no HC 477.933/RN, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em


23/04/2019, DJe 10/05/2019)

Apresentadas prematuramente alegações finais pela defesa, quando os autos ainda se encontravam com
vista ao Ministério Público, incabível a pretendida nulidade, na medida em que deu causa ao resultado,
não podendo ser beneficiada da própria torpeza, nos termos do art. 565 do CPP.

(AgInt no REsp 1753685/SP, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em
13/12/2018, DJe 04/02/2019)

II - No caso, a defesa não apenas foi cientificada da expedição da carta, como também da data
designada para audiência de oitiva da vítima, com antecedência, de modo que não pode arguir a
suposta nulidade.

III - Considerando os princípios da lealdade, boa-fé objetiva e cooperação entre os sujeitos


processuais, não é lícito à Defesa arguir vício para o qual concorreu, sob pena de violar o princípio de
que ninguém pode se beneficiar da própria torpeza, disposto no art. 565 do CPP.

(Acórdão 1209448, 20180610009223APR, Relator: NILSONI DE FREITAS CUSTODIO, 3ª TURMA


CRIMINAL, data de julgamento: 17/10/2019, publicado no DJE: 22/10/2019. Pág.: 126/132)

Com relação ao conteúdo das interceptações telefônicas, conforme consta da leitura da Ata de
Julgamento (ID 13910140 – fls. 9/10), o Ministério Público requereu a juntada e exposição aos jurados
de mídia que conteria parte dos 4000 (quatro mil) áudios interceptados.

As Defesas manifestaram-se contrariamente a tal pedido e o d. Juiz Presidente o indeferiu, sob os


seguintes fundamentos:

Após, o MM. Juiz presidente proferiu a seguinte Decisão: "Dispõe o artigo 479 do CPP que: Durante o
julgamento não será permitida a leitura de documento ou a exibição de objeto que não tiver sido juntado
aos autos com a antecedência mínima de 3 (três) dias úteis, dando-se ciência à outra parte. E o
parágrafo único do mencionado dispositivo assim estabelece: Compreende-se na proibição deste artigo
a leitura de jornais ou qualquer outro escrito, bem como a exibição de vídeos, gravações, fotografias,
laudos, quadros, croqui ou qualquer outro meio assemelhado, cujo conteúdo versar sobre a matéria de
fato submetida à apreciação e julgamento dos jurados. No caso em questão, na fase de inquérito houve
interceptação telefônica nos aparelhos de telefones celulares dos réus e o conteúdo das referidas
interceptações se encontram na mídia informada no auto de apresentação e apreensão de fl. 286.
Conteúdo parcial das interceptações foi degravado e se encontra nos relatórios policiais encartados
aos autos. Apesar de constar a apreensão da mídia no auto de fl. 286, a mídia em si continuou na

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Delegacia de Polícia, e nenhuma das partes solicitou que ela fosse requisitada à autoridade policial.
Na presente data o nobre Promotor de Justiça trouxe uma mídia e afirmou que ela conteria uma parte
do conteúdo das interceptações. Contudo, a mídia que o membro do Ministério Público trouxe não é
exatamente a mídia de fl. 286, a qual continua em Delegacia. Dessa forma, sequer há como este Juízo
se certificar de que o conteúdo da mídia que o Parquet trouxe é realmente uma parte do conteúdo da
mídia de fl. 286. Poderia o nobre representante do Ministério Público ter promovido a juntada da
mídia por ele trazida no prazo do art. 479 do CPP, e dessa forma ter permitido que a Defesa tomasse
conhecimento prévio de seu conteúdo. Poderia também o ilustre Promotor de Justiça ter solicitado ao
Juízo à requisição da mídia original junto à Delegacia. Contudo, tais providências não foram
adotadas. Parte do conteúdo das interceptações se encontra degravado nos autos, em forma de texto, e
estas provas naturalmente poderão ser utilizadas pelo Parquet. Mas admitir a utilização de uma prova,
levando ao conhecimento dos jurados o conteúdo de uma mídia digital que foi produzido
unilateralmente por uma das partes, trazido por ela apenas nesta data, sem que a outra parte e o
próprio Juízo tenham meios de se verificar previamente o seu conteúdo, e sem ter meios de se
certificar de que a mídia trazida pelo Ministério Público retrata fielmente a mídia de fl. 286, traduz-se
em potencial risco de nulidade da presente sessão de julgamento. Ademais, o próprio membro do
Ministério Público afirmou que nem todos os diálogos que constam na mídia por ele trazida se
encontram degravados nos autos. Afirmou também que a mídia por ele trazida não retrata a totalidade
do conteúdo da mídia de fl. 286. Assim, o próprio Ministério Público reconhece haver diferenças entre
as mídias. Dessa forma, INDEFIRO o pedido do Ministério Público, não permitindo a apresentação em
plenário do conteúdo da mídia por ele trazida nesta data (ID 13910140 – fl. 10)

Posteriormente, durante a sessão, o Ministério Público apresentou em Juízo outra mídia, que conteria a
integralidade do conteúdo interceptado, requerendo a juntada para eventual utilização em grau de recurso
e não para ser exibida aos jurados, sendo o pedido concedido.

A Defesa de SILVIO requereu acesso à mídia para que pudesse copiá-la, o que foi deferido. Entretanto, a
devolveu ao Juiz Presidente e informou que não conseguiu fazer cópia de seu conteúdo. Compulsando os
autos, percebe-se que a mídia não foi juntada e, consequentemente, o seu conteúdo não foi digitalizado.

Nesse passo, considerando-se que o conteúdo da mídia não foi exibido aos jurados, não há que se falar
em nulidade ante a ausência de comprovação de que tenha havido prejuízo para a Defesa.

Destaque-se que a alegação de que o simples pedido de juntada teria causado impressão negativa aos
jurados não passa de ilação e conjectura, não sendo idônea para fundamentar eventual anulação
do julgamento.

Por sua vez, a Defesa de SILVIO aponta nulidade ocorrida após a sentença de pronúncia, configurada
pelo indeferimento do pedido de oitiva do codenunciado Ivan Barbosa, posteriormente impronunciado,
ainda que na condição de informante.

Do exame dos autos percebe-se que intimadas as partes para os fins do artigo 422 do Código de Processo
Penal, o apelante indicou o co-denunciado Ivan, com cláusula de imprescindibilidade (ID 13909996), o
que foi indeferido pelo d. Magistrado, com os seguintes fundamentos:

Como sabido, é incabível a oitiva de coautor como testemunha (STF. AP 470 AgR-sétimo, Relator(a):
Min. Joaquim Barbosa. Tribunal Pleno, julgado em 18-6-2009, DJe-186 D1VULG 01-10-2009 PUBLIC
02-10-2009 EMENT VOL-02376-012 PP-00020 RSJADV nov., 2009, p. 30-31).

Apesar do de IVAN ter sido impronunciado, a decisão de pronúncia não faz coisa julgada material e
poderá voltar a ser processado.

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Ademais, possui direito de permanecer em silêncio, pois se trata de pessoa investigada e indiciada pelo
fato em apuração. Logo, trata-se de situação incompatível com a de testemunha, que tem o dever de
falar.

Indefiro, portanto, a oitiva de IVAN como testemunha (ID 13910003 – fl. 6)

Após o desaforamento, o d. Juiz Presidente do Tribunal do Júri de Brasília reexaminou a questão e


manteve o indeferimento. Confira-se:

Não há como intimar o corréu IVAN na qualidade de testemunha, como requereu a Defesa dos corréus
Silvio e Júlio César, uma vez que o acusado foi impronunciado - o que, portanto, possibilita a
reabertura da investigação se novas provas forem colhidas (trânsito em julgado meramente formal) - de
sorte que não seria possível compromissá-lo a falar a verdade, podendo ele, inclusive calar-se visando
não produzir provas contra si, tornando, portanto, inócua sua inquirição.

Ademais, o pleito já fora anteriormente indeferido, de sorte que a questão já se encontra preclusa (ID
13910041 – fl. 5).

Com efeito, a jurisprudência sedimentada sobre a questão estabelece a impossibilidade de oitiva do


corréu em Juízo, seja na qualidade de testemunha ou de mero informante, exceto se figurar como
colaborador ou delator:

AGRAVO REGIMENTAL. OITIVA DE CO-RÉU COMO TESTEMUNHA OU INFORMANTE.


IMPOSSIBILIDADE. RECURSO NÃO PROVIDO.

O sistema processual brasileiro não admite a oitiva de co-réu na qualidade de testemunha ou, mesmo,
de informante, como quer o agravante. Exceção aberta para o caso de co-réu colaborador ou delator, a
chamada delação premiada, prevista na Lei 9.807/1999. A hipótese sob exame, todavia, não trata da
inquirição de acusado colaborador da acusação ou delator do agravante, mas pura e simplesmente da
oitiva de co-denunciado. Daí por que deve ser aplicada a regra geral da impossibilidade de o co-réu ser
ouvido como testemunha ou, ainda, como informante. Agravo regimental não provido.

(AP 470 AgR-sétimo, Relator(a): JOAQUIM BARBOSA, Tribunal Pleno, julgado em 18/06/2009,
DJe-186 DIVULG 01-10-2009 PUBLIC 02-10-2009 EMENT VOL-02376-01 PP-00020 RSJADV
nov., 2009, p. 30-31).

"É vedada a oitiva de corréu na condição de testemunha ou informante, salvo no caso de corréu
colaborador ou delator" (RHC n. 76.951/RJ, relatora Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA,
SEXTA TURMA, julgado em 9/3/2017, DJe 16/3/2017).

(AgRg no HC 473.653/MG, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA,


julgado em 06/12/2018, DJe 19/12/2018)

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"A jurisprudência pacífica desta Corte veda a possibilidade de oitiva de corréu, na condição de
testemunha ou informante" (AgRg na APn n. 697/RJ, Corte Especial, Rel. Min. Og Fernandes, DJe de
17/8/2015).

(HC 376.728/SC, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 10/10/2017, DJe
17/10/2017)

Além disso, de acordo com os ensinamentos de Eugênio Pacelli de Oliveira e Douglas Fischer, “as
nulidades posteriores à pronúncia deverão ser arguidas até a fase de que trata o art. 463, CPP. Toda
nulidade que ocorrer a partir desse momento até a sentença do Júri deverá ser arguida assim que
ocorrer. O protesto pela nulidade deverá constar em ata da sessão do Júri”. (Eugênio Pacelli de
Oliveira e Douglas Fischer. Comentários ao Código de Processo Penal. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2012. p.
1046 – grifo nosso).

A par de tal entendimento, confira-se:

A nulidade posterior à decisão de pronúncia deve ser arguida logo que anunciado o julgamento ou logo
que ocorrerem durante a sessão, sob pena de preclusão, nos termos do art. 571, V e VIII, do CPP.

(Acórdão 1240433, 00078535520188070003, Relator: SEBASTIÃO COELHO, 3ª Turma Criminal, data


de julgamento: 26/3/2020, publicado no DJE: 4/5/2020. Pág.: Sem Página Cadastrada.)

No tocante à alínea "a" do inciso III do artigo 593 do Código de Processo Penal, não se percebe
nulidade posterior à pronúncia, relativa ou absoluta, tampouco impugnação da Defesa em plenário. Nos
termos do artigo 571, inciso V, do Código de Processo Penal, eventual nulidade ocorrida
posteriormente à pronúncia deve ser arguida logo depois de anunciado o julgamento e apregoadas as
partes, sob pena de preclusão.

(Acórdão 1240695, 00159318820168070009, Relator: SILVANIO BARBOSA DOS SANTOS, 2ª


Turma Criminal, data de julgamento: 26/3/2020, publicado no PJe: 6/4/2020. Pág.: Sem Página
Cadastrada – grifo nosso)

No caso, como não consta da respectiva ata qualquer registro de que a Defesa tenha suscitado a referida
nulidade, ou qualquer outra, resta preclusa a oportunidade de fazê-lo.

Ademais, a Defesa não se desincumbiu do ônus de comprovar o prejuízo supostamente decorrente da


falta de oitiva do referido informante para o esclarecimento dos fatos, o que, conforme alhures
consignado, se mostra imprescindível.

Diante do exposto, não há que se falar em nulidade posterior à pronúncia.

DA SENTENÇA DO JUIZ CONTRÁRIA À LEI EXPRESSA OU À DECISÃO DOS JURADOS


(ART. 593, III, “B”, DO CPP)

O Conselho de Sentença reconheceu a materialidade e a autoria dos crimes de homicídio qualificado pelo
meio cruel e pelo recurso que dificultou a defesa da vítima.

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O d. Juiz Presidente proferiu decisão de acordo com a conclusão soberana dos Senhores Jurados,
aplicando a pena observando os artigos 59 e 68 do Código Penal.

A sentença, portanto, não é contrária à lei expressa ou à decisão dos jurados.

DA DECISÃO DOS JURADOS MANIFESTAMENTE CONTRÁRIA À PROVA DOS AUTOS


(ART. 593, III, “D”, DO CPP)

Inicialmente, cabe destacar que a Constituição Federal atribuiu a competência para o julgamento dos
crimes dolosos contra a vida ao Tribunal do Júri, garantindo expressamente a soberania do veredicto.

Destarte, o julgamento somente poderá ser anulado quando a decisão do Conselho de Sentença estiver
totalmente dissociada do conjunto probatório, não encontrando amparo em qualquer prova.

Nesse sentido, confira-se o entendimento desta Turma:

PENAL E PROCESSO PENAL. TRIBUNAL DO JÚRI. TENTATIVA DE HOMICÍDIO. DECISÃO


CONTRÁRIA À PROVA DOS AUTOS. INEXISTÊNCIA. SENTENÇA MANTIDA. 1. Não há que falar em
decisão manifestamente contrária à prova dos autos, quando os jurados escolhem uma das versões
existentes no processo, amparados em elementos do conjunto probatório. 2. Recurso conhecido e
improvido.

(Acórdão 1269561, 00055028720158070012, Relator: JESUINO RISSATO, 3ª Turma Criminal, data


de julgamento: 30/7/2020, publicado no PJe: 10/8/2020. Pág.: Sem Página Cadastrada.)

Não configura decisão contrária à prova dos autos, quando o Conselho de Sentença escolhe uma das
teses apresentadas em Plenário, que encontra fundamento nas provas coligidas durante a instrução
processual. Somente é manifestamente contrária à prova dos autos a decisão arbitrária, totalmente
divorciada do acervo probatório.

(Acórdão 1241865, 00069162220168070001, Relator: WALDIR LEÔNCIO LOPES JÚNIOR, 3ª Turma


Criminal, data de julgamento: 2/4/2020, publicado no PJe: 20/4/2020. Pág.: Sem Página Cadastrada.)

No caso, a materialidade dos delitos está comprovada por meio da Comunicação de Ocorrência Policial
nº 292/2006-3 (ID 13909106 – fls. 78/81), Laudos de Exame de Corpo de Delito nº 1534/06, 1532/06 e
1533/06 e respectivos aditamentos (ID 13909105 – fls. 22/24, 26/30, 57/59 e 66/70 e ID 13909106 – fls.
44, 96/97), Laudo de Perícia Necropapiloscópica nº 2372N e 2373N (ID 13909105 – fls. 32/38 e 40/46),
Laudo de Exame de Local de Mortes Violentas nº 6114/2006 (ID 13909105 – fls. 72/96 e ID 13909106 –
fls. 1/33) acrescentado pela Informação Pericial Criminal nº 1057/2012 (ID 13909741 – fls. 4/6),
Relatório de Análise D01/2009 NA-SIAC/DPE/PCDF (ID 13909616 – fls. 9/17) e prova oral coligida.

No que tange à autoria, vê-se que durante a fase de inquérito, que teve início na 30ª DP e
posteriormente passou à responsabilidade da Coordenação de Investigação de Crimes contra a Vida –
CORVIDA, várias pessoas foram ouvidas.

Amanda Carolina Chaves de Andrade, ex-namorada da vítima Alex, disse que no dia 11/1/2006 foi até a
casa dele, o qual lhe contou que iria ao Paranoá “pegar um ferro” com Wesley, conhecido como
“Maluco”, para usar contra Edmundo, que “era um peba” e por achar que Edmundo a agredia. Alex
disse que iria dar um tiro na mão e outro no joelho de Edmundo, para que ele nunca mais andasse de
moto. Alex combinou de ligar para ela naquele dia, mas não o fez e ela não conseguiu contato no dia

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seguinte. Na quinta-feira pela manhã, Wellington lhe disse para ficar “de bico calado”. Wellington
afirmou que foi com Alex na casa do “Maluco” pegar um revólver (“oitão”), e Alex levou uma mochila
com uma touca. Somente na quinta-feira seguinte conversou com Edmundo sobre as coisas que Alex
falou para ela. Edmundo disse que sabia do “sumiço” de Alex. (ID 13909105 – fls. 8/9)

Edmundo Cardoso Amaral, que trabalha com lotação e é atual namorado de Amanda, disse que ela
contou sobre a ameaça feita por Alex no dia 12/1/2006. No dia 14, ela informou sobre a morte. Afirmou
que não tomou providências quanto às ameaças porque não as levou a sério. Disse que “já ouviu falar a
respeito de um policial militar conhecido como ‘CARA DE RATO’ sendo que o mesmo é temido na
região do Paranoá, mas não o conhece e não poderia descrevê-lo nem reconhecê-lo; QUE apesar de
não conhecê-lo tem informação de que os bandidos da cidade do Paranoá temem o referido militar pois
os ‘bandidos não saem’ quando ‘CARA DE RATO’ está de serviço.” (ID 13909105 – fls. 15/16)

Wesley Araújo de Souza relatou que no dia 11/1/2006 emprestou uma arma calibre .38 para a vítima
Alex, que a utilizaria para “meter uma parada numa lotação”, para obter cerca de R$400,00
(quatrocentos reais) e um aparelho celular. Depois soube que a lotação pertencia a Edmundo. No dia
seguinte foi até a casa de Juninho (Wilson) em companhia de Wellington, do pai e do irmão de Alex, que
estavam preocupados com o sumiço dele. Em 16/1/2006 ficou sabendo do crime e dois dias depois se
encontrou com um conhecido chamado Kill, o qual falou que “havia presenciado o momento em que
uma viatura da polícia militar havia feito uma abordagem em ALEX, JUNINHO e um outro rapaz, e que
os ‘três haviam sido colocados no cubículo da viatura’; QUE Kill afirmou ainda que, momentos antes
da abordagem, havia emprestado a quantia de R$ 5,00 para Juninho e seus amigos tomarem uma
lotação, não, informando o rumo que tomariam; QUE Kill também informou ter visto um policial
conhecido como “CARA DE RATO” e um policial conhecido como “Galego”, dentro da viatura
policial; QUE o declarante tem conhecimento que “Cara de Rato” é um policial militar temido pela
malandragem do Paranoá e pela população em geral; QUE o declarante foi informado por Juninho que
ele tinha medo de “Cara de Rato” pois toda vez que era abordado por aquele policial era agredido por
ele” (ID 13909105 – fls. 47/48)

Em nova oitiva perante a CORVIDA, Wesley Araújo de Souza confirmou suas declarações e afirmou
que ouviu dizer que as vítimas teriam sido levadas na viatura da PMDF para o Café Sem Troco, onde
foram colocadas em outro veículo, de cor branca. Soube por intermédio de Andrezinho que na data em
que as vítimas desapareceram, elas foram vistas em um veículo preto (ID 13909108 – fl. 6)

Ouvido mais uma vez na CORVIDA, Wesley disse que o comentário de que as vítimas teriam sido
levadas na viatura da PM para a região do Café Sem Troco ele ouviu dos policiais civis da 30ª DP,
especificamente do Agente André. Esclareceu que Andrezinho, já falecido, era um colega que morava no
Itapoã e apesar de não se lembrar muito bem do teor da conversa, sabe que ela ocorreu um dia depois que
os corpos foram encontrados. Teve uma conversa semelhante com Kill, que lhe contou ter visto a
abordagem das vítimas e que elas foram colocadas na viatura (ID 13909647 – fls. 5/7).

O pai de Alex, José Maria da Cunha Soares, relatou que seu filho não estava envolvido com
criminalidade, que trabalhava consigo, mas no dia dos fatos, estava de folga (ID 13909106 – fls. 35/36).
Em oitiva posterior (ID 13909108 – fls. 32/34), afirmou que poucos dias após os fatos, ouviu de seus
cunhados Maria das Graças e Ronaldo, que um policial militar conhecido como Ivan afirmou, na data em
que as vítimas foram vistas pela última vez, que estava à procura de “garotos para dar um banho, lá
pelos lados de Minas Gerais”. Ouviu comentários acerca do envolvimento do policial militar conhecido
como “Cara de Rato” nos crimes. Soube que Wilson teria supostamente praticado roubo na casa de outro
policial, razão de “Cara de Rato” estar à procura dele. Na Delegacia, reconheceu o réu SILVIO como o
policial conhecido sob a alcunha da “Cara de Rato”.

Maria das Graças de Oliveira e Ronaldo de Oliveira, irmãos entre si e da companheira do pai de Alex,
relataram que um dia antes de saberem do desaparecimento de Alex, estavam caminhando quando o
policial Ivan, já conhecido deles e que conduzia um Fiat/Pálio Vermelho, parou para conversar, dizendo
que estava procurando meninos que haviam entrado em sua casa e roubado sua arma de fogo. Ronaldo
afirmou que Ivan contava com o auxílio de outros policiais militares na busca. Segundo Maria das
Graças, Ivan falou que já sabia quem seriam os meninos e quando os encontrasse, iria levá-los para

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tomar um “banho num rio”. Ela entendeu que ele se referia a afogamento. Afirmaram que quando o
cadáver de Alex foi achado, se questionaram se tal fato teria relação com o roubo na casa de Ivan e com
os comentários dele. Maria das Graças apontou que após os fatos Ivan mudou seu comportamento com
ela e sua mãe, passando a evitá-las. Ronaldo reconheceu a fotografia de SILVIO como sendo do policial
conhecido como “Cara de Rato” (ID 13909108 – fls. 40/42 e 43/45). Em novo depoimento, ambos
confirmaram o teor de suas declarações. (ID 13909647 – fls. 12/13 e 14/15)

Wellington Soares dos Reis afirmou que no dia 11/1/2006, Alex lhe disse que iria até Wesley, conhecido
como “Maluco”, pegar uma arma “para dar um ‘gelo’” em Edmundo, que teria agredido Amanda.
Presenciou a entrega da arma acompanhou Alex até sua casa. Após o crime, ouviu comentários no
sentido de que as mortes teriam sido provocadas pela Polícia Militar do Paranoá e que o principal
suspeito seria “Cara de Rato”, um PM que era desafeto de Wilson (Juninho). Em fevereiro daquele ano,
Wesley relatou que Ezequiel de Jesus (Kill) confidenciara ter presenciado o momento em que os PMs
haviam detido as três vítimas. Assinalou que “Cara de Rato” é um policial agressivo, tinha uma rixa
muito grande com Wilson e era temido pela comunidade em geral, não apenas pelos malandros”. (ID
13909106 – fls. 58/59)

Ouvido novamente na CORVIDA (ID 13909108 – fls. 10/12), Wellington Soares confirmou que em
11/1/2006 viu Wesley entregar uma arma para Alex, o qual pretendida “dar um susto” em Edmundo.
Afirmou que ao ser ouvido na 30ª DP, não afirmou ter ouvido Wesley dizer que Ezequiel (Kill) viu as
vítimas serem colocadas no interior da viatura. Wesley não teria mencionado o nome de tal pessoa. Na
verdade, Wesley teria comentado que ouviu de Andrezinho, já falecido, que as vítimas teriam entrado em
um carro. Soube que Wilson estava sendo perseguido por “Cara de Rato”, pois ele estaria “dando uma
canseira” nesse policial. Reconheceu a fotografia de SILVIO como sendo o policial “Cara de Rato”. Por
fim, alegou que ouviu comentários que uma mulher teria visto as vítimas serem colocadas em uma
viatura policial, sendo encontradas mortas depois.

Ezequiel de Jesus (Kill) afirmou que conhecia as vítimas, pois Wilson e Jildemar, assim como ele, eram
usuários de entorpecentes. Já comprou droga com Alex algumas vezes. Cerca de quinze dias antes dos
fatos, ele estava com Wilson, Jildemar e diversas outras pessoas na casa de Rose, fumando maconha,
quando os policiais “Cara de Rato” e “Galego” invadiram a residência, prenderam todos os presentes e
arrecadaram a droga, colocando todos na viatura policial. Mais à frente os policiais abordaram Vidigal e
o primo dele, encontrando uma pistola com o primeiro. A viatura “rodou” com eles por um bom tempo,
porém apenas Vidigal e o primo foram levados até a Delegacia. Os demais foram deixados em suas
residências pela viatura, oportunidade em que “Cara de Rato” dizia a cada um que “se os apanhasse
novamente ira ‘DAR SUMIÇO’”, esclarecendo que a droga ficou com os policiais. Afirmou que no dia
em que as vítimas desapareceram, Jildemar e o depoente trabalharam o dia todo na refrigeração Gabriela.
No final do dia, Wilson chegou e todos foram para a casa de Tico (traficante), onde Jildemar morava. No
caminho, Ezequiel discutiu com Wilson e por volta das 18h/19h, resolveu voltar para a refrigeração.
Antes de ir, deu dinheiro para Jildemar comprar um frango e emprestou-lhe uma blusa de frio verde, a
mesma que usava quando foi encontrado morto. No dia seguinte, Juninho de Planaltina passou de
bicicleta na refrigeração e disse que Jildemar e Wilson não tinham aparecido em casa e achava que eles
tinham sido mortos por “Cara de Rato”. Disse que conhece Wesley Araújo de Souza mas negou que
tenha contado a ele ter visto viatura da PMDF abordar Jildemar, Wilson e um outro rapaz . Alegou que
ouviu dizer que uma das vítimas estava com uma arma e pretendia “cobrar uma ‘bronca’” de Eduardo,
mas desconhece outras circunstâncias sobre o fato. Apresentada uma fotografia de GILBERTO, disse ser
muito semelhante ao policial conhecido como Galego. À vista da fotografia de SILVIO, afirmou tratar-se
do policial conhecido como “Cara de Rato”. (ID 13909107 – fls. 38/40).

Novamente ouvido na CORVIDA (ID 13909624 – fls. 87/88) Ezequiel de Jesus confirmou seu
depoimento, mas esclareceu que onde consta o nome de Juninho de Planaltina na verdade queria dizer
Fabinho de Planaltina. Quanto ao depoimento de Wesley, afirmou que não presenciou a abordagem de
“Cara de Rato” e “Galego” às vítimas, mas ouviu de Fabinho de Planaltina que os policiais pegaram as
vítimas. Passou essa informação para Wesley como se tivesse visto o momento, em razão “do calor da
conversa”. Não soube precisar se Fabinho de Planaltina de fato presenciou essa abordagem ou se ouviu

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comentários nesse sentido, de outras pessoas. Sustentou que o último momento que viu Wilson e
Jildemar foi por volta das 18h do dia 11/1/2006. Em reconhecimento fotográfico, apontou SILVIO como
“Cara de Rato” e GILBERTO como “Galego”.

Reinilde Lopes, mãe da vítima Wilson, relatou que o filho era conhecido como Juninho, começou a
praticar atos infracionais e usar drogas desde os 12 (doze) anos de idade e que estava sendo ameaçado de
morte por um policial militar conhecido como “Cara de Rato”. Além disso, narrou o seguinte:

QUE cerca de 15 dias antes do fato tomou conhecimento através da mãe da namorada de WILSON,
Dona VALÉRIA, que ele havia sido perseguido por “CARA DE RATO” por volta das 23h30min e se
escondido na casa dela; QUE no ano passado, mês de agosto, WILSON foi vítima de um disparo de
arma de fogo quando tentava furtar a residência de um Policial Militar, e foi alvejado por Policiais
Militares, porém quando chegou ao hospital com um tiro no rosto que fez com que ele perdesse a visão
do olho esquerdo, contou uma outra história, dizendo que quem tinha atirado nele teria sido um outro
rapaz de nome LEANDRO, pois estava com medo de dizer a verdade e ser morto pelos Policiais
Militares, e por isso inventou que um tal de LEANDRO é que seria o autor da tentativa de homicídio
contra ele, tanto que após o tiro que ele levou, três Policiais compareceram à casa da declarante e
revistaram a residência, sendo que quando saiu, viu um policial que provavelmente era quem
comandava os outros, porém sem uniforme, que depois ficou sabendo ser o “CARA DE RATO", sendo
ele um homem de cor branca, cabelos pretos e curtos, compleição média, aproximadamente 1,80m de
altura, no que a declarante perguntou: “foi você quem atirou no meu filho, não foi?”, sendo que ele
nada disse, mas balançou a cabeça positivamente e logo depois saíram; QUE, “CARA DE RATO" é
temido por todos no Paranoá, ou seja, pelos Bandidos e também pela população em geral e o
comentário na cidade é que “CARA DE RATO” seria o autor do triplo homicídio que incluiu o seu filho;
(ID 13909105 – fls. 17/18)

Ouvida novamente na CORVIDA (ID 13909624 – fls. 3/7), Reinilde Lopes relatou que Wilson falou
para o irmão William que quem atirou em seu rosto foi o Tenente Ivan. Afirmou que esse tiro não
ocorreu durante o roubo, mas tempos depois, como forma de vingança. Aduziu que seis meses antes de
morrer, Wilson vinha apanhando, sofrendo ameaças e sendo humilhado por “Cara de Rato” e seus
companheiros policiais. Apontou que “CARA DE RATO é muito conhecido no Itapuã e no Paranoá,
também pelo apelido de POLICIAL NOIADO, já que trata-se de uma pessoa perigosa e violenta, que
todos sabem ser viciado em drogas”, tanto que fazia abordagens visando encontrar drogas. Quando
conseguia, batia na pessoa e ficava com a droga. Segundo Wilson, “Cara de Rato” o obrigava a fazer
trabalho de “avião”, ou seja, exigia que ele fosse para uma boca de fumo arranjar droga para ele. Quando
não conseguia, chegava em casa com os dedos roxos e a cabeça machucada, contando que havia sido
agredido por “Cara de Rato” e seus amigos. Assinalou que cerca de 20 (vinte) dias antes do crime,
Wilson passou a demonstrar pânico de “Cara de Rato” e dizia que seria morto por ele. Relatou diversas
abordagens abusivas feitas por “Cara de Rato”, sendo que em uma delas, ele estava acompanhado por
outros policiais que reconheceu, por fotografia, como sendo Glauceir Soares da Silva, Jeová Rodrigues
Abadia, Gilberto Duarte Rivaroli Filho e Ricardo Henrique de Almeida Ramos. Tem conhecimento de
que no dia 11/1/2006, Wilson e as outras duas vítimas estavam lanchando no local chamado de Big
Lanche quando, por volta das 20h40, uma viatura da PM composta pelos policiais Cara de Rato, Ricardo,
Rivaroli (Gilberto) e Glauceir os chamaram e mandaram que entrassem na viatura. Afirmou ter certeza
de tal afirmação pois a abordagem foi feita na frente de muitas pessoas que contaram para ela, mas que
têm medo de relatar o ocorrido para a polícia (ID 13909624 – fls. 3/7)

Valéria de Aquino Teixeira, mãe da namorada de Wilson, confirmou que “ouviu JUNINHO falar
algumas vezes a respeito de um Policial Militar conhecido e temido por todos em razão da violência
como tratava os suspeitos da prática de crimes, bem como JUNINHO dizia que o tiro que ele levou no
rosto, no mês de agosto do ano passado, havia sido dado por um Policial Militar, que era chamado por
JUNINHO de TENENTE, quando JUNINHO tentou furtar a residência dele; QUE, cerca de quinze dias
antes de JUNINHO ser (...) ele entrou na residência da declarante, pulando o muro, dizendo que estava

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sendo perseguido por “CARA DE RATO" e IVAN; QUE a declarante sabe que se trataram de Policiais
Militares, mas não sabe suas patentes; QUE a declarante não sabe descrever tais Policiais, porque
nunca os viu pessoalmente”. (ID 13909105 – fl. 19)

A namorada de Wilson, Fernanda Aquino Teixeira, confirmou que ele era usuário de drogas e praticava
atos infracionais como roubos e furtos. Disse que Wilson teria sido atingido por um tiro quando tentou
furtar a residência de um policial militar no Paranoá. Cerca de quinze dias antes do crime, ele entrou em
sua residência, por volta das 23h00, pulando o muro e dizendo que estava sendo perseguido por “Cara de
Rato”. Alegou que “já viu o policial conhecido por “CARA DE RATO” sendo ele de cor branca,
compleição média, alto - aproximadamente 1,80m, cabelos castanhos e curtos, aparentando ter 30 anos
de idade; QUE, esse Policial é temido por todos no Paranoá, em razão de sua violência, sendo que
todos na cidade diz que ele é um dos responsáveis pelo homicídio de JUNINHO (WILSON): ALEX e
DUDU” (ID 13909105 – fl. 20).

Na CORVIDA, Fernanda relatou que conviveu maritalmente com Wilson por cerca de nove meses e que
residiam na casa de sua mãe. Disse que Juninho e mais duas pessoas tentaram cometer um furto na
residência de um policial militar, o Tenente Ivan, oportunidade em que ele foi atingido por um disparo
efetuado por Ivan. Especificamente quanto à relação de Wilson com o policial conhecido como “Cara de
Rato”, aduziu o seguinte:

Recorda-se que cerca de quinze (15) dias antes da morte de JUNINHO, a depoente estava na casa de
seus pais, quando ele pulou o muro dessa residência e disse que estava sendo perseguido por CARA DE
RATO, o qual a depoente sabe que é POLICIAL MILITAR e já o avistou. JUNINHO contou para a
depoente que toda vez que CARA DE RATO o encontrava na rua o abordava e o ameaçava. Nesse
sentido, pouco tempo depois, quando JUNINHO estava em frente à casa da mãe dele, foi abordado por
CARA DE RATO, que teria lhe dito: "UM DIA EU TE PEGO E NÓS DOIS SE ACERTA". A depoente
não presenciou a abordagem, mas soube do fato por intermédio do próprio JUNINHO, esclarecendo
que estava dentro de casa quando isso se deu. A irmã da depoente, CRISTIANE, teria presenciado, em
outra ocasião, em data próxima a desta última referida, quando JUNINHO fora abordado e revistado
por CARA DE RATO. A depoente informa que CARA DE RATO é alto e branco e sendo-lhe mostrada a
fotografia de SÍLVIO BUENO DOS REIS, RG 737.404 SSP/DF, diz não ter condições de afirmar se
trata-se de CARA DE RATO, haja vista que nunca prestou atenção no rosto dele. Quando avistava
CARA DE RATO, ele estava-embarcado em viatura da PMDF e acompanhado de um outro policial de
cor parda escura e de um terceiro quem a depoente não visualizava de forma alguma. Ratifica as suas
declarações de folha 18, além do que aduziu neste termo, sendo certo que CARA DE RATO é muito
temido no PARANOÁ/DF em razão de sua violência, sendo certo que os comentários é que ele seria um
dos responsáveis pela morte de JUNINHO, ALEX e DUDU. A última vez que a depoente avistou
JUNINHO com vida foi no dia 11.01.2006, já no final da tarde, na casa da mãe dele. Naquela ocasião.
JUNINHO disse que iria para a ESQUINA LOUCA, casa onde ficavam DUDU, TICO, FALA FINA e
XANDE e local onde eles costumavam fazer uso de drogas: MACONHA e CRACK. TICO dizia que seria
sobrinho de um POLICIAL MILITAR de nome GLAUCEIR, também lotado no batalhão da PMDF. A
depoente ouviu comentários de que uma vizinha da mãe de JUNINHO teria visto ele no final do dia
11.01.2006, sendo abordado por uma viatura da PMDF (ID 13909107 – fls. 56/57)

Fernanda foi ouvida uma terceira vez, oportunidade em que declarou que desde que conheceu Wilson,
ele vinha sendo ameaçado por “Cara de Rato”. Ele disse que era sempre abordado, agredido fisicamente
e quando trazia consigo alguma droga, os policiais pegavam para si. No dia do fato, Wilson saiu a noite
dizendo que iria para a casa de Tico, local onde usava e vendia drogas. Disse que Wilson conheceu
Jildemar poucos dias antes do crime e afirmou com certeza que ele não andava com Alex. (ID 13909626
– fls. 46/49)

O irmão de Wilson (Juninho), William Lopes Pacheco Mendes, relatou que “três meses antes da morte
de WILSON ele chegou em casa dizendo que havia levado uma surra de um policial militar conhecido

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por ‘CARA DE RATO’ e cerca de um mês antes do crime em tela, levou um tiro em sua fronte esquerda”
efetuado por “Cara de Rato”. Aduziu que Wilson nunca lhe disse que estava sendo ameaçado, sempre se
referia a “Cara de Rato” com temor, dizendo que ele era violento e sempre que o pegava, o agredia.
Segundo boatos, “Cara de Rato”, que é bastante conhecido no Paranoá e tem fama de violento, poderia
ser o autor do triplo homicídio. (ID 13909106 – fls. 37/38)

Washington Lopes Pacheco, também irmão de Wilson, disse que “Cara de Rato” era conhecido por
tomar para si drogas e dinheiro encontrados durante as abordagens e sempre espancava os abordados,
sem motivo. Quando estava preso, “Cara de Rato” foi até a casa de sua mãe e disse para ela que sabia
que ela tinha um filho envolvido no crime, que estava prestes a sair da cadeia e caso ele tentasse vingar a
morte de Wilson ou ficasse “falando demais”, aconteceria o mesmo que aconteceu com o irmão. (ID
13909626 – fls. 50/52)

Leandro Novo de Araújo (ID 13909107 – fls. 58/64) narrou que era amigo de Wilson, o qual no ano de
2005, contratou um rapaz para lhe matar, ao ficar sabendo que planejava matar Wilson. Tentou explicar
para Wilson que isso não era verdade, porém brigaram e durante a discussão Leandro desferiu uma
facada em Wilson. Pouco tempo depois, Wilson levou um tiro no olho, acusando Leandro de ser o autor,
porém a polícia apurou que a afirmação era falsa. Soube do crime pelo jornal, cuja matéria dizia que um
dos suspeitos era um policial militar conhecido como “Cara de Rato”. Ao ver a fotografia do réu
SILVIO, o reconheceu como “Cara de Rato” e disse que ele normalmente faz rondas no Paranoá com
outro policial conhecido como “Stevens”, o qual reconheceu, por foto, como sendo o policial Janilson
Pereira de Sousa. Acerca desses policiais, acrescentou o seguinte:

Deseja esclarecer que. “CARA DE RATO" e “STEVENS", são "POLICIAIS BANDIDOS" do PARANOÁ,
pois costumam AGREDIR, EXTORQUIR, ROUBAR e MATAR, moradores, envolvidos em crimes ou não,
durante suas RONDAS. Algumas vezes, esses dois policiais, cometem tais crimes FARDADOS e na
VIATURA da PMDF e outras vezes, à PAISANA e em CARROS PARTICULARES. É de conhecimento
geral na cidade do PARANOÁ, que tais POLICIAIS, são PERIGOSOS e cometem todos esses crimes já
referidos. No entanto, em razão do poder que possuem, pelo fato de serem POLICIAIS, permanecem
livres, para cometer mais crimes contra os moradores do PARANOÁ e sempre deixam bem claro QUE
TÊM CERTEZA QUE NADA ACONTECERÁ, isto é, TÊM CERTEZA QUE NÃO SERÃO PRESOS, pois
acreditam que podem manipular tanto a POLÍCIA CIVIL quanto a JUSTIÇA. Além disso, não raras
vezes, AMEAÇAM as vítimas de seus crimes, para que NÃO CONTEM NADA NA DELEGACIA DA
ÁREA. Por isso, enquanto estiveram SOLTOS, SERÁ MUITO DIFÍCIL QUE SE CONSIGAM
TESTEMUNHAS QUE TENHAM CORAGEM DE DEPOR contra “CARA DE RATO” e “STEVENS”. O
depoente sabe que existem moradores no PARANOÁ que presenciaram “CARA DE RATO” e
“STEVENS', colocando WILSON e as duas outras vítimas, na VIATURA da PMDF, no dia em que eles
foram ASSASSINADOS e indo em direção a SÃO SEBASTIÃO/DF. Porém, em razão da GRANDE
PERICULOSIDADE desses POLICIAIS MILITARES, será difícil de que tenham coragem de contar isso
na delegacia. O próprio depoente já foi vítima de “STEVENS" e "CARA DE RATO", que durante uma
abordagem policial, nas ruas do PARANOÁ, já nesse ano de 2008, AGREDIRAM o depoente
fisicamente, borrifando GÁS DE PIMENTA em seu rosto e quando o depoente tentou correr com falta de
ar, os dois o AGREDIRAM com SOCOS e PONTAPÉS e o OBRIGARAM a ficar apenas de CUECA. O
depoente foi salvo por dois vizinhos que conseguiram fazer com que os policiais fossem embora. Em
outra oportunidade, o depoente estava voltando para casa do trabalho, usando terno e gravata, e ao ser
abordado por “CARA DE RATO” e “STEVENS", os dois puxaram sua GRAVATA, quase o
ENFORCANDO. Antes disso, no começo de 2007, “CARA DE RATO" e outros POLICIAIS MILITARES,
FARDADOS, invadiram a casa da mãe do depoente, sem MANDADO DE BUSCA E APREENSÃO ou de
PRISÃO, perguntando pela irmã do depoente e pelo namorado dela, chamado “JUNIOR” que tinha
envolvimento com crimes, naquela época. Nenhum dos dois estava em casa, sendo que só estavam
naquela residência a mãe do depoente, seu padrasto e seus irmãos menores. A mãe do depoente já
conhecia "CARA DE RATO" e por isso o RECONHECEU, mas não soube dizer quem eram os demais
policiais. E como não encontraram sua irmã e o namorado, os policiais passaram a revirar a casa em
busca de ARMAS ou DROGAS, conforme falaram, mas só encontraram que seu padrasto havia
guardado, embaixo da TOALHA DA MESA DO QUARTO, uma quantia de R$1.200,00 (mil duzentos

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reais). Esse dinheiro seria usado para fazer o REBOCO da casa. O padrasto do depoente e sua mãe,
mostraram para os policiais o CONTRA-CHEQUE, para provar que o dinheiro era lícito, mas mesmo
assim, eles levaram consigo todo o DINHEIRO. A mãe do depoente foi na 6ªDP e na CORREGEDORIA
da PMDF, registrar esse ROUBO, mas ao serem ouvidos, "CARA DE RATO” e seus comparsas
negaram ter pego qualquer dinheiro naquela casa. O depoente também ficou sabendo, através da mãe
de um RAPAZ de nome MARCELO, residente na QUADRA 326 CONJUNTO “D”, que ela presenciou
“CARA DE RATO" dando uma ARMA para um outro RAPAZ chamado TIAGO, matar seu filho
MARCELO. O depoente presenciou quando a mãe de MARCELO, ao lado do corpo do filho já
assassinado, gritou com “CARA DE RATO" o acusando de ter tramado sua morte, ao passar a arma
para o assassino. "CARA DE RATO” riu e apenas disse que ele não era “CARA DE RATO”, e sim, o
CABO BUENO. Esse crime ocorreu em NOVEMBRO/2007. Cerca de TRÊS ANOS atrás, o depoente
estava com um amigo chamado LEANDRO, conhecido como “BAM BAM BAM”, autor do HOMICÍDIO
das TRÊS MENINAS do SETOR DE CHÁCARA do ITAPUÃ, crime ocorrido em 2006 ou 2007, no BAR
DO CHIQUINHO, localizado no próprio ITAPUÃ, quando foram abordados por “CARA DE RATO" e
outros POLICIAIS MILITARES, todos FARDADOS e de VIATURA. LEANDRO estava armado com um
REVÓLVER, calibre 38. Assim que revistaram LEANDRO, os policiais pegaram a arma, mas mesmo
assim, levaram o depoente e LEANDRO, para os PINHEIRAIS. Lá deram EMPURRÕES no depoente e
BATERAM na “BUNDA” e nas COXAS de LEANDRO pela parte de trás, com um PEDAÇO DE
MADEIRA. "CARA DE RATO” afirmou que não iria prendê-los e só estava ali para BATER nos dois.
“CARA DE RATO” ficou com a ARMA de LEANDRO, colocou sua PISTOLA na CABEÇA, ora na do
depoente ora na de LEANDRO e obrigou que este prometesse de DOIS EM DOIS MESES ARRANJAR
DUAS ARMAS PARA ELE (“CARA DE RATO"). Depois de LEANDRO concordar, “CARA DE RATO”
e seus parceiros foram embora na VIATURA e deixaram o depoente e LEANDRO no PINHEIRAIS,
sendo que os dois tiveram que voltar à pé para casa. Por fim, deseja informar que TEME POR SUA
VIDA CASO “CARA DE RATO” E “STEVENS” TOMEM CONHECIMENTO DO TEOR DE SEU
DEPOIMENTO, pois além de serem PESSOAS MUITO PERIGOSAS, SABEM ONDE O
DEPOENTE E SUA FAMÍLIA RESIDEM. (grifo nosso)

Sherly Ribeiro do Nascimento, disse que conheceu Jildemar em 2005, o qual trabalhava com um
traficante conhecido como Tico em uma boca de fumo que também era frequentada por Alex e Wilson.
Os três praticavam roubos. Na época dos fatos, esperava um filho de Jildemar. O réu SILVIO era
conhecido como “Cara de Rato”, o réu GILBERTO era conhecido como “Carneiro” e ambos, juntamente
com os policiais militares Glauceir Soares da Silva e P. Santos, conhecido como “Negão do Facão”, ia
com frequência à boca de fumo de Tico. Wilson, Alex e Jildemar “conheciam esses policiais e diziam
que queriam matá-los, pois eles eram folgados” e os agredia. Paulinho teria dito que viu SILVIO pegou
as vítimas na entrada do Itapoã e as colocou na viatura no dia em que desapareceram. (ID 13909107 –
fls. 94/98)

Fábio dos Santos, conhecido como Fabinho de Planaltina, disse ter visto Jildemar e Wilson pela última
vez na segunda-feira pela manhã, quando os dois saíram juntos da casa de Tico dizendo que iriam
praticar um roubo e não estavam armados. Afirmou que os comentários eram de que as vítimas tinham
sido mortas pelo PM conhecido como “Cara de Rato”. Por fotografia, identificou tal policial como o réu
SILVIO. Ouviu comentários que Wilson “entregava as ‘bocas de fumo’ para Cara de Rato” e quando
desistiu de fazê-lo, o policial passou persegui-lo. Disse que “Cara de Rato” era perigoso e quando
invadia as bocas de fumo, não agia como policial, pois exigia dinheiro para não levar os traficantes para
a Delegacia, apenas ameaçava forjar um flagrante. (ID 13909108 – fls. 7/9)

Em outro depoimento (ID 13909647 – fls. 2/4), Fábio disse que a testemunha Dailson, vulgo “Nóia”, foi
companheiro de sua irmã Neide. Disse que não se lembra se “Nóia” lhe contou ter presenciado o
momento em que as vítimas foram abordadas e colocadas em um carro de passeio. Ouviu esse
comentário de outras pessoas, que não presenciaram esse fato, apenas ouviram de terceiros. Confirmou
que “Nóia” (Dailson) é informante da polícia e por isso era mal visto e até mesmo perseguido por
algumas pessoas do Itapoã. Aduziu que Wilson (Juninho) falou que ele também era informante de “Cara
de Rato” e salientou que este último desejava obter informações “para extorquir traficantes ou outros
criminosos e não para cumprir sua função de policial”.

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Iraídes Fernandes da Silva, irmã de Jildemar, disse que não conhecia as outras vítimas e, embora seu
irmão residisse com ela, ele habitualmente passava alguns dias na casa de uma outra irmã, Alaíde ou
dormia na casa de uns vizinhos, dentre eles Cleber. Aduziu que ele não trabalhava nem estudava e no dia
11/1/2006, segundo Alaíde, ele saiu cedo de casa dizendo que ia para o Rio Jardim procurar passarinho,
hobby que ele tinha há muito tempo. Alegou que seu irmão Erlan lhe contou que soube por Cleber que
este último teria estado com Jildemar quando ele foi morto. (ID 13909107 – fls. 43/45)

O outro irmão de Jildemar, Erlan Fernandes da Silva, relatou que a vítima alternava sua moradia entre a
casa das irmãs Iraídes e Alaíde, que ficava ausente do convívio da família sem dar notícias por muito
tempo e quando do falecimento, não tinha notícias dele há vinte dias. Quanto às declarações de sua irmã
Iraídes, esclareceu que ela deve ter se confundido pois Cleber foi testemunha do homicídio de outro
irmão deles, chamado Gustavo e “soube por DANIEL, morador de PLANALTINA/DF, que houve uma
vítima sobrevivente no contexto do crime em apuração, mas não revelou quem seria”. (ID 13909107 –
fls. 48/49)

Daniel Mendonça da Silva informou que residia próximo à casa de Jildemar o qual, após a morte da mãe,
“passou a fazer uso de maconha”. Consignou que “com absoluta certeza, não comentou com ERLAN
que soubesse alguma coisa acerca desse crime, muito menos que tivesse conhecimento da existência de
uma pessoa que tivesse testemunhado o crime e mesmo sido vítima da ação do autor ou dos autores, mas
que tivesse conseguido escapar”. (ID 13909107 – fls. 52/53)

Anderson Ferreira Rodrigues disse que soube dos crimes enquanto estava no presídio, ouvindo que os
policiais militares conhecidos como “Cara de Rato” e “Glauceir” executaram uma pessoa que teria
roubado a casa de outro policial militar, bem como os dois indivíduos que estavam com ela. Afirmou que
“Cara de Rato”, Glauceir, Rivaroli e Jason são conhecidos no Paranoá e no Itapuã como policiais
bandidos pois há anos torturam, roubam, extorquem, plantam drogas e armas para condenarem pessoas.
(ID 13909624 – fls.32/35)

O irmão de Anderson, Joaquim Rodrigues do Nascimento, reconheceu SÍLVIO como “Cara de Rato” e
disse que pessoas próximas foram vítimas da atuação truculenta dos policiais, que os comentários eram
de que eles usavam as drogas apreendidas ou vendiam em bocas de fumo. (ID 13909624 – fls. 69/70)

Fábio dos Anjos Carvalho disse que era amigo de Wilson (Juninho) e o reencontrou em 2005, quando
saiu da prisão. Wilson contou que perdeu a visão esquerda ao levar um tiro na tentativa de roubo à casa
de um policial. Wilson demonstrou ter bastante raiva desse policial, comentando que queria se vingar e
caso o encontrasse, o mataria. Wilson também comentou que após esse evento passou a ser abordado de
maneira violenta e com bastante frequência por policiais militares, dentre eles “Cara de Rato” e Glauceir.
Relatou que estes policiais são conhecidos como pessoas perigosas e desonestas, que usam violência
durante as abordagens, sendo corrente o comentário que eles tinham informantes na região e que
pagavam por essas informações com armas e drogas. Por fim, reconheceu a foto de SILVIO, o indicando
como sendo o policial conhecido pelo apelido de “Cara de Rato”. (ID 13909624 – fls. 45/47)

Leandro de Lima, um dos responsáveis pelo furto na casa do policial IVAN no dia 11/1/2006, disse que
“Cara de Rato”, Steve e Glauceir são conhecidos na região como pessoas perigosas e que costumam
fazer abordagens violentas, além de ficarem com drogas e armas que apreendem, para uso próprio ou
revenda.

Cristiano Martins Silva, vulgo “Fala Fina” ou “Kiki” (ID 13909624 – fls. 64/68), disse que na casa onde
morava com Jildemar, funcionava uma boca de fumo. O local foi invadido por policiais militares cerca
de três ou quatros vezes, sendo que eles levaram a droga, mas não prenderam ninguém. Dentre os
policiais, estavam aquele conhecido como “Cara de Rato”, que reconheceu como sendo SILVIO,
Glauceir e “Steve”, que reconheceu como sendo GILBERTO. Também apontou que esses policiais eram
muito conhecidos “pois em seus plantões costumam bater em pessoas abordadas por eles e quando
pegavam alguém com uma ‘boa’ arma de fogo ou uma grande quantidade de drogas pegavam esses
objetos para si, sem efetuarem a prisão em flagrante”. Disse que era frequente o comentário de que
“Cara de Rato” tinha uma boca de fumo no Condomínio Del Lago. Narrou que no dia 11/1/2006 esteve

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com as três vítimas por volta das 10h00, sendo esta a primeira e única vez que viu Alex, os quais
passaram em sua casa dizendo que iriam fazer um “corre”, saindo logo em seguida. Cerca de quatro ou
cinco dias após os fatos, foi abordado na rua da casa de Wilson por “Cara de Rato”, Glauceir e outro
policial negro. “Cara de Rato”, que usava luvas pretas, tirou uma pistola de dentro do colete, apontou
para a cabeça do depoente e perguntou o que eles estavam falando sobre a morte dos três meninos. Ele
disse que não sabia de nada e “Cara de Rato” disse que ele iria morrer do mesmo jeito, que eles tinham
matado os três moleques porque já sabiam que o depoente era o “Fala Fina”. Ele negou, mas “Cara de
Rato” disse que tinha certeza disso. Começou a gritar por ajuda e os moradores se aproximaram, razão
pela qual os policiais não tiveram coragem de matá-lo

Agnaldo Pereira dos Santos afirmou que reside na região há vinte e três anos. Em setembro de 2007,
abriu o comércio “Guina’s Bar”, que ficava próximo à lanchonete “Big Lanche”, porém fechou o bar no
final de 2008. Reconheceu a foto de SILVIO como sendo “Cara de Rato” e aduziu que este último,
Rivaroli (GILBERTO) e Glauceir, são conhecidos na região como policiais bandidos porque extorquem,
roubam e batem em moradores. Contou sobre uma oportunidade em que os três adentraram no seu
estabelecimento, reviraram tudo sem dar explicação, o levaram a pé e algemado até a sua residência, que
ficava a uma distância de 150m e também reviraram o local. Quando retornou ao bar, percebeu que os
policiais haviam levado R$800,00 (oitocentos reais). (ID 13909624 – fls. 75/77)

A proprietária da lanchonete “Big Lanche”, Osmarina Carvalho Viana, disse que conhecia Wilson
(Juninho), porque ele frequentava o local. Afirmou que ele nunca foi abordado por policiais militares em
seu estabelecimento, mesmo porque os policiais militares da região não costumavam fazer abordagens
ali. Confirmou que todos na comunidade sabem que “Cara de Rato” é violento com as pessoas que
abordava e roubava drogas e armas que encontrava em poder dos abordados, possuindo uma boca de
fumo na região. Afirmou que no dia do crime Wilson só foi à lanchonete no período da manhã, por vota
das 10h00, e estava acompanhado de uma das outras duas vítimas, que foi apresentado à depoente como
um morador de Planaltina. Disse ter certeza de que ele não esteve na lanchonete na noite em que morreu.
Ouviu comentários de populares que teriam visto “Cara de Rato” abordando as vítimas na QD 7 do
Itapuã, por volta das 19h e colocando-as no porta mala do carro. (ID 13909624 – fls. 84/86)

Alexandre Govea Bernardes, amigo de Juninho (ID 13909624 – fls. 89/91) disse que Wilson usava
drogas e praticava furtos e roubos para sustentar o vício. Ao ver a fotografia de SILVIO, o reconheceu
como “Cara de Rato” e disse que ele e seus parceiros são conhecidos como policiais bandidos, pois
“roubam” dinheiro, armas e drogas das pessoas que abordam. Disse que “Cara de Rato” tem uma boca
de fumo. Não sabe se Wilson tinha medo de “Cara de Rato” ou outro policial, mas pode dizer que todo
mundo tinha medo de “Cara de Rato”.

Dailson Xavier dos Santos (ID 13909626 – fls. 53/58) afirmou que era informante de “Cara de Rato” e
que este, GILBERTO, Júlio Cesar e Glauceir, formavam um grupo que pegava dinheiro e drogas de
traficantes sem prendê-los. Afirmou que no dia que as vítimas desapareceram, enquanto passava pela rua
onde fica a lanchonete “Big Lanche” e o “Bar Muvuca”, por volta das 20h00, viu Wilson e outros
rapazes que o acompanhavam sendo abordados por “Cara de Rato” e “Steve”. Wilson estava com as
mãos no muro e os outros rapazes estavam um pouco afastados dele, mas sob o domínio dos policiais.
Afirmou que a abordagem era padrão, ambos estavam armados sendo que as armas estavam apontadas
para baixo e o carro utilizado não era uma viatura caracterizada e sim um veículo GM Monza de cor
escura, salvo engano azul. Esclareceu que pode identificar a marca do carro porque é lanterneiro e
trabalha com carros há muito tempo. Reconheceu GILBERTO como “STEVE”.

Em nova oitiva (ID 13909647 – fls. 18/19), Dailson disse ter se recordado que naquele dia estava com
uma passageira que sempre pegava o carro como lotação. Que ela sempre entrava no carro às 18: 30h, o
trajeto onde ela embarcava até o local onde descia, durava cerca de trinta minutos e ela estava no veículo
quando ele viu a abordagem das vítimas por “Cara de Rato” e “Steve”. Salientou que tem muito medo de
sofrer represálias

Dayanne Cristina Alves da Silva (ID 13909624 – fls. 78/80) também relatou a existência de um grupo de
policiais militares conhecidos por fazerem abordagens violentas, entre eles “Cara de Rato”, Glauceir e
“Steve”. Reconheceu SILVIO como “Cara de Rato” e GILBERTO como “Steve”. Disse que Wilson

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(Juninho) era perseguido e que todos os comentários que ouviu foram de que os autores eram policiais
militares. Afirmou ter ouvido de Emerson, morador da Fazendinha, que ele viu o momento em que
as vítimas foram abordadas e levadas por “Cara de Rato” e outros policiais. Segundo Emerson, os
três estavam na DF250/BR479 próxima aos Pinheiros, quando foram levados, sendo a abordagem
realizada durante a tarde.

O depoimento de Emerson Lázaro foi colhido em sua própria residência, pela Delegada Renata Malafaia,
em razão de seu estado de saúde debilitado, que era portador de HIV e havia sofrido um derrame e
passado meses internado. Seu conteúdo não foi reduzido a termo, mas foi gravado em vídeo (IDs
17703470 a 17703529).

Conforme se verifica das filmagens, ele se comunica com bastante dificuldade mas é possível perceber
que, perguntado pela Delegada se ele a entendia, se tinha consciência e se lembrava das coisas e se sua
dificuldade se restringia à fala, ele assentiu e disse que também tinha problemas na perna. Afirmou que
conhecia as vítimas, mas não se lembrava a data do crime. Naquele dia, viu que os três estavam juntos,
duas e pouco da manhã, indo pro Itapuã, perto dos Pinheiros. A rua estava vazia. Perguntado se ele viu
uma viatura da polícia militar, caracterizada, ele disse sim, e questionado se era grande, tipo furgão, disse
que sim. Afirmou que havia quatro policiais dentro da viatura e que estavam fardados. Durante o
depoimento, a Delegada e o depoente estão sentados em uma cama e no chão, à frente deles, estão
três fotografias, sendo possível perceber que correspondem às constantes nos autos, identificadoras
dos réus SILVIO (ID 13909624 – fl. 54), Júlio (ID 13909624 – fl. 58) e GILBERTO (ID 13909624 –
fl. 60). O depoente espontaneamente, apontou para a foto de GILBERTO e disse que ele é amigo
de SILVIO (17703490). Perguntado se essas três pessoas estavam na viatura, disse que sim e
questionado, disse que tinha certeza absoluta. A Delegada afirmou que havia mais uma pessoa,
porém, mostradas as fotos, ele não conseguiu reconhecer, perguntado se era branco ou negro, disse que
era branco. Perguntado se ele já o tinha visto com esses outros policiais, disse que não e perguntado se
era senhor de idade ou jovem, disse que não se lembrava. Perguntando se esses três policiais
mandaram os rapazes entrarem no cubículo, disse que eles mandaram entrar. Perguntado se eles
foram algemados ou se entraram sem algemas, disse que foi sem algemas. Perguntado se, em
seguida, a viatura foi embora, disse que foi. Questionado se foi chamado na Delegacia do Paranoá
para prestar depoimento sobre isso, disse que foi à Delegacia de Homicídios, no ano passado.
Perguntado sobre o que contou na época, disse que contou a mesma coisa. A Delegada falou que
hoje ele não queria que sua mãe aparecesse nem que constasse seu endereço porque tinha medo.
Perguntado se ainda tinha medo, disse que sim, que tinha medo do “Cara de Rato”. Questionado
se “Cara de Rato” era conhecido como pessoa perigosa, disse “era não, ele é”. Perguntado se ele já
sabia de outros crimes que ele tinha cometido, disse que não. Perguntado se após vítimas serem
encontradas mortas, ele havia contado para alguém o que vira, disse que só contou para o Menezes.
Perguntado se contou para um rapaz chamado Julinho, marido da Daiane, disse que não se lembrava.
Nesse momento a mãe de Emerson, que não aparece na imagem, diz que se lembra que ele falou para
ela. Perguntado se ele estava sozinho quando viu os policiais pegando os meninos, disse que estava
sozinho e perguntado para onde estava indo, disse que estava voltando de uma festa e indo para casa.
Perguntado se logo no dia seguinte soube que estavam procurando os rapazes, disse que não, e
perguntado sobre quando soube que eles haviam morrido, disse que foi uma semana depois, e soube que
havia sido “Cara de Rato”. Perguntado se ele acha que mais alguém viu as vítimas serem abordadas,
disse que não. Perguntado de qual das vítimas ele era mais amigo, disse que nenhuma, os conhecia de
vista e um dos rapazes tinha “o olho furado”. Perguntado se sabia quem tinha furado o olho dele, disse
que sim. Perguntado se foi alguma das pessoas das fotografias, disse que não. A Delegada, então, mostra
a foto de Ivan e pergunta se ele já viu essa pessoa antes. Ele disse que sim e perguntado se ele mora no
Paranoá, também disse que sim. Perguntado se ele anda com os outros policiais identificados, disse que
não e perguntado se foi ele que deu o tiro, disse que não.

Constam, ainda, alguns depoimentos que não trouxeram qualquer informação sobre o triplo homicídio,
mas apenas sobre o comportamento dos réus na função de policiais.

Newton James Rodrigues da Silva e Rodson Aguiar Barbosa relatam terem sido submetidos a uma
abordagem bastante violenta por parte de quatro policiais, na qual teriam sido algemados, colocados em

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uma viatura e ameaçados para que indicassem uma boca de fumo ou local onde existissem armas de fogo
pois, do contrário, seriam mortos. Newton disse que um deles era seu conhecido, que era tratado como
Bueno, vulgo “Cara de Rato” e que já o viu abordar pessoas com drogas, pegar o entorpecente e
liberá-las. Rodson também disse que um dos policiais que o abordou era “Cara de Rato.” (ID 13909108 –
fls. 49/51 e 13909609 – fls. 1/4)

Dayani Ferreira da Silva narrou que seu companheiro Jefferson foi preso por SILVIO, em razão de
tráfico de drogas e, ao sair da prisão, não se envolveu mais com o tráfico. Mesmo assim, SILVIO invadiu
a casa dela e de Jefferson por três vezes. Em uma delas, usou a chave que roubou de Jefferson e nas
outras duas, entrou sem qualquer permissão ou mandado de busca. Em uma dessas vezes, algemou
Jefferson e colocou drogas nas roupas dela, dizendo que ela responderia pelo crime. Após uma conversa,
SILVIO e seus parceiros, dentre eles GILBERTO, foram embora. Alegou que não sabia o que SILVIO e
seus parceiros queriam, mas acredita que fossem drogas. Depois ficou sabendo que muitos moradores do
Paranoá foram vítimas de SILVIO e os companheiros, principalmente em abordagens. Aduziu que as
perseguições tiveram fim após Jefferson registrar ocorrência por ameaça e abuso de autoridade. Quando
estavam voltando da Delegacia, SILVIO estava na residência deles e já sabia do registro. Ele afirmou
que “não dava a mínima para isso, querendo dizer que não acreditava que pudesse ser punido”.
Salientou que teme por sua vida, pois sabe que SILVIO e seus companheiros policiais são pessoas
perigosas. (ID 13909623 – fls. 49/51)

Jefferson Bezerra Gomes confirma uma perseguição sofrida por “Cara de Rato” e “Stevens”, os
quais reconheceu como SILVIO e GILBERTO. Relata que SILVIO é conhecido por fazer
abordagens criminosas contra moradores da cidade, nas quais “rouba” dinheiro, drogas e armas. (ID
13909623 – fls. 52/54 e ID 13909324 – fl. 1)

Foram colhidas declarações de policiais que defenderam a atuação profissional dos réus e confirmaram
que SILVIO era conhecido como “Cara de Rato” inclusive no meio policial.

O policial militar Ricardo Henrique de Almeida Ramos confirmou que o réu SILVIO é conhecido pelo
apelido de “Cara de Rato”. Disse que já tomou conhecimento através de inúmeras sindicâncias de
que SILVIO, GILBERTO e Glauceir seriam proprietários de uma boca de fumo no Paranoá, bem
como de agressões e ameaças, mas os procedimentos administrativos não comprovaram as
suspeitas. (ID 13909624 – fls. 18/21)

O policial Glauceir Soares da Silva (ID 13909624 – fls. 22/25) confirmou que SILVIO é conhecido
como “Cara de Rato”. Indagado se GILBERTO tem o apelido de “Steven”, aduziu que “na rua as
pessoas têm o costume de chamar a todos de STIVEN, não se referindo a ninguém específico”.

Fábio Henrique Aguieiros Caetano confirmou que SILVIO era conhecido como “Cara de Rato”. Disse
que SILVIO sempre pareceu ser um bom policial, trabalhava excessivamente, fazendo mais abordagens e
prisões que a média dos policiais, tinha um “grande ‘feeling’ para encontrar bandidos” e nunca cometeu
nenhuma ilegalidade ou agressão durante as abordagens. Afirmou ser comum na polícia militar,
especialmente no BOPE e na ROTAM, durante as abordagens, “um policial chamar o outro de ‘STEVE’,
como forma de não identificar seu nome”. (ID 13909624 – fls. 26/28)

O co-denunciado Ivan Barbosa Rebouças confirmou que no dia 11/1/2006 sua casa foi furtada, ocasião
em que foi levada uma pistola que não tinha cano e por isso não tinha importância para ele. Foi levado
um cartucho calibre .38 e um relógio de pulso, objetos que também não eram de grande valor. Ao ser
avisado sobre o fato, foi até sua casa e em seguida para a Delegacia, onde presenciou policiais militares
trazendo os autores. Afirmou não se recordar de Maria da Graça de Oliveira nem de Ronaldo de Oliveira,
mas que tinha certeza de que no dia 11/1/2006, não conversou com nenhum morador do Itapuã sobre esta
r à procura dos autores do furto, até porque a polícia já os tinha capturado. Conviveu cerca de
quatorze anos no Paranoá e ouviu de muitos moradores que o apelido de SILVIO era “Cara de
Rato”, sabendo que ele era muito temido na região. Disse que ficou assustado com tais comentários
pois a impressão que teve ao trabalhar com ele foi de que era um “ policial mole”. (ID 13909624 – fls.
29/31)

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Alexandre Sérgio Vicente Ferreira (ID 13909624 – fl 37/38) disse que quando assumiu o posto de
comandante da 10ª CPMind, em 21/5/2010, SILVIO já não estava mais lá. Assinalou que SILVIO tinha
muitos elogios e uma grande quantidade de flagrantes realizados.

Sérgio Luiz Rodrigues Ramos relatou que conhecia SILVIO e GILBERTO porque trabalharam juntos na
10ª CPMInd e em 2006, fazia patrulhamento na área rural. No dia 11/1/2006 não estava trabalhando, mas
quando passava pela DF250, perto da casa do policial Ivan, observou dois rapazes pulando a cerca. Parou
seu carro e entrou no lote, quando foi surpreendido por um deles, que estava armado e ordenou que
ficasse parado. Logo em seguida, os três fugiram em direção aos Pinheiros, que ficavam em frente.
Avistou uma viatura composta pelos policiais Gomes e Josimar e contou o ocorrido. Pelo que se recorda,
só conseguiram prender um deles e tem certeza de que não conseguiram recuperar uma pistola que havia
sido levada da residência de Ivan. Mencionou que os réus são considerados policiais bem produtivos e
são bem vistos pelo comando. (ID 13909624 – fls. 39/40)

O policial Josimar Alves dos Santos afirmou não ter conhecimento de que SILVIO era conhecido
como “Cara de Rato”, o qual sempre foi visto na 10ª CPMInd como policial de destaque em razão
de ser muito operacional e trabalhar bastante, fazendo um grande número de apreensões de armas
de fogo e flagrantes de outros crimes. Apontou que GILBERTO também é considerado um ótimo
policial, já que realizou um grande número de flagrantes. Quanto ao furto ocorrido na casa de Ivan,
disse que estava na viatura quando foi abordado por Sérgio Luis, o qual lhe contou o ocorrido. Salvo
engano, eles foram para o pinheiral e perseguiram os autores, prendendo todos, mas não se recorda
detalhes. (ID 13909624 – fls. 43/44)

Denis Sancho Jardim (ID 13909624 – fls. 41/42) disse que já ouviu comentários na região de um policial
apelidado de “Cara de Rato”, não sabendo que se tratava de SILVIO. Esclareceu que não ouviu nenhuma
história específica sobre tal policial, apenas ouvia pessoas da região que, quando passava uma viatura,
diziam, “olha o “Cara de Rato””. Não ouviu falar de nenhum policial apelidado de “Steven”.

Janilson Pereira de Souza, também policial, confirmou que SILVIO é conhecido como “Cara de
Rato”. Relatou que SILVIO, GILBERTO e Glauceir são temidos pela bandidagem do Paranoá e
Itapuã porque, trabalhando juntos, conseguiram uma significativa diminuição no índice de
criminalidade no local. (ID 13909624 – fls. 81/83)

O réu SILVIO disse que é policial militar há mais de 19 (dezenove anos) e desde 1995 estava lotado no
Paranoá, sendo bastante conhecido na cidade, pois sua guarnição é a que mais atua. Mencionou que
recebeu diversos elogios por sua atuação e que na data dos fatos estava de férias as quais iniciaram no
dia 28/12/2005 e terminaram em 27/1/2006. Nesse período viajou para uma fazenda em Monte
Alegre/PI, onde permaneceu por cerca de sete a oito dias. Afirmou que conhecia apenas a vítima Wilson,
pois já o havia abordado uma vez e nunca esteve no local onde os corpos foram encontrados. (ID
13909106 – fls. 63/64)

Chamado novamente para depor na CORVIDA, fez uso de seu direito constitucional ao silêncio (ID
13909624 – fls. 15/17).

Na primeira fase do procedimento do Júri, a Delegada Renata Malafaia Vianna, responsável pela
investigação, relatou o trabalho policial desenvolvido da seguinte forma:

A depoente é Delegada de Polícia Civil e foi responsável pela investigação dos fatos após o momento em
que o inquérito chegou à Coordenação de Homicídios; quando iniciou a investigação, havia outro
inquérito em que parte dos réus figuravam como suspeitos em outro homicídio ocorrido na região do
Paranoá; como é uma responsabilidade muito grande acusar policiais militares sobre esses fatos,
começou a procurar ocorrências policiais onde eles figuravam como condutores ou testemunhas e
flagrantes; algumas ocorrências foram selecionadas e as pessoas nelas envolvidas foram intimadas para
uma entrevista informal, já que a depoente pretendia ‘saber quem eles eram’; as pessoas ouvidas ora

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figuravam como testemunhas das ocorrências, ora apareciam como autores; em relação às ocorrências
onde as pessoas figuravam como autores, algumas elas estavam presas, ‘a maioria era traficante’, mas
não sabe dizer sobre o resultado do inquérito e/ou processos relacionados a essas ocorrências; a
maioria dessas pessoas tinham suposto envolvimento em crimes; durante as entrevistas, apurou-se que
Silvio Bueno é conhecido no Paranoá como ‘Cara de Rato’ e que era um policial extremamente
temido; segundo as dezenas de pessoas entrevistadas, Silvio Bueno liderava um grupo de extermínio
no Paranoá e era traficante, tinha ‘uma boca de fumo’ no Paranoá ou no Itapoã; Rivaroli (Gilberto
Duarte), Glauceir e outro policial, Jeová, pelo que se recorda, integravam o grupo de ‘Cara de Rato’ e
eram repetidas vezes mencionados nas entrevistas; como se tratava de investigação preliminar e a
grande maioria das pessoas não tinha ligação com o fato tratado no inquérito, não foram ouvidas
formalmente; mostrando-se plausível a tese de extermínio, começaram a procurar pessoas que pudessem
saber do motivo ou que soubessem algo sobre o fato; primeiramente, foram ouvidos os familiares das
vítimas, constatando-se que Wilson já estava inserido no mundo da criminalidade, apesar de ser muito
jovem; Wilson era viciado em drogas e furtava e roubava para sustentar o vício; alguns meses antes do
fato descrito na denúncia, Wilson e mais duas pessoas entraram na casa do acusado Ivan para praticar
um furto, acreditando que a residência estivesse vazia; no entanto, Ivan estava no local e perseguiu os
rapazes, ocasião em que efetuou um disparo que atingiu o olho de Wilson; esse fato foi registrado como
tentativa de homicídio, mas Wilson disse que tinha sido vítima de um desafeto, ou seja, escondendo a
realidade do fato; Jildemar não era natural do Paranoá e não tinha parentes na região; levantaram
informações sobre ele com alguns amigos, inclusive alguns com os quais ele morava; não
encontraram informações dando conta de que Alex seria criminoso contumaz; no entanto, ele estava
apaixonado por uma menina que tinha sido agredida por um ‘namoradinho’, chamado Edmundo; no
dia do fato, Alex teria pedido ajuda às outras duas vítimas para ‘dar um susto’ no rapaz que teria
agredido aquela menina; esse agressor trabalhava numa lotação e Alex com as outras duas vítimas
iriam roubar essa lotação; as três vítimas estavam com uma arma e se dirigiram a uma parada de
ônibus numa quadra no Paranoá, a fim de aguardar a lotação onde trabalhava o agressor da menina;
essa dinâmica dos fatos foi traçada por amigos da vítima, especialmente os que moravam com
Jildemar; Edmundo foi investigado como o primeiro suspeito, pela 30ª DP; desconhece eventuais
passagens criminais de Edmundo, tendo sido verificado que era pessoa trabalhadora; Edmundo não
conseguiria render as 3 vítimas sozinho; nesse mesmo dia ou no dia anterior, ocorreu outro furto na
casa do acusado Ivan, ocasião em que os autores furtaram uma arma de fogo; os policiais militares que
atenderam essa ocorrência foram ouvidos formalmente e disseram que avisaram Ivan sobre o furto;
Ivan estava em Taguatinga e assim que foi avisado, veio ao Paranoá; esses policiais militares e Ivan
começaram a fazer diligências para localizar os autores do furto; foram ouvidas duas testemunhas,
salvo melhor juízo, parentes de Alex, as quais disseram ter encontrado Ivan durante essas diligências;
Ivan, segundo elas, estava no carro particular dele, estava nervoso e disse que queria encontrar ‘os
caras’ que haviam roubado a casa dele e que, quando os encontrasse, iria levá-los para ‘tomar um
banho de rio’; segundo essas testemunhas, não fizeram, naquele momento, a ligação entre Alex e as
pessoas que teriam roubado a casa de Ivan e que estavam sendo procuradas por ele; posteriormente, foi
apurado que o furto à casa de Ivan foi praticado por 3 rapazes que não as vítimas; essa constatação
‘ganhou força’ porque, segundo os amigos de Wilson, ele tinha muito medo de Ivan e do grupo de
policiais militares com os quais Ivan andava; e também porque Silvio Bueno, ‘Cara de Rato’, já havia
mandado vários recados para Wilson, dizendo ‘se você continuar, eu vou te matar; da próxima vez,
vou te matar’; pelo que ficou apurado, enquanto os policiais militares, inclusive Ivan, faziam as
diligências para procurar os rapazes que haviam furtado a residência de Ivan, as vítimas estavam na
parada de ônibus aguardando a lotação do rapaz que teria agredido a menina; não foi possível apurar
se ocorreu o roubo à lotação; no entanto, a testemunha Emerson disse que viu as 3 vítimas, ‘mais
tarde, depois das 23h’, próximas ao pinheiral, ocasião em que foram abordadas por uma viatura da
Polícia Militar; Emerson disse que os 3 rapazes foram colocados dentro da viatura; pelo que foi
apurado, esse foi o último momento em que as vítimas foram vistas; Emerson fez o reconhecimento
fotográfico e reconheceu parte dos réus, ‘não sei se todos’; Emerson foi muito firme ao fazer o
reconhecimento, inclusive ele já conhecia o acusado ‘Cara de Rato’; no início das investigações, todos
os policiais militares que estavam de serviço foram considerados suspeitos; com o desenvolvimento das
investigações, o grupo de suspeitos foi se restringindo, até que se chegou a um grupo de 10 ou 12; as
fotografias desses 10 ou 12 policiais militares foram mostradas para Emerson; não se recorda se
Emerson disse ter visto apenas uma viatura; como o indiciamento de policiais é algo muito delicado, a

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depoente procurou se convencer ao máximo; Emerson era portador de HIV e estava em estágio
terminal; a depoente foi até a casa dele, já que ele não podia mais se locomover; Emerson tinha
sofrido um AVC meses antes; a princípio ele disse que sabia, mas não queria falar, pois tinha medo;
Emerson concordou em falar e, inclusive, o depoimento dele foi filmado; Emerson mostrou que estava
lúcido e, inclusive, chorou durante o depoimento; a depoente pediu a quebra do sigilo telefônico dos
réus e de todos os policiais militares que estavam trabalhando na ativa naquele dia; a depoente sabia da
dificuldade de lidar com essa prova, pois a experiência mostra que provavelmente eles utilizariam
vários ‘chips’ diferentes; Silvio Bueno já tinha sido ouvido quando o inquérito ainda estava na 06ª DP,
ocasião em que afirmou que estava viajando na época dos fatos; essa informação foi confirmada pela
esposa dele, ouvida na CH; no entanto, a ERB (estação rádiobase) mostrou que no dia do fato o
telefone celular dele foi utilizado na região próxima ao local do fato, entre Sobradinho/DF, São
Sebastião/DF e Paranoá/DF, não se recordando do local exato; isso mostrou que Silvio Bueno estaria
mentindo; Silvio Bueno não quis responder as perguntas da depoente quando foi ouvido formalmente;
Ivan prestou depoimento, respondeu às perguntas e tentou demonstrar que não havia se importado
muito com o furto à sua residência, o que pareceu à depoente desarmônico com o que mostravam os
autos; não se recorda do teor dos depoimentos dos outros réus; pelo que se recorda, foi apreendido um
menor de idade que teria praticado o furto à residência de Ivan, próximo ao pinheiral, escondido, mas a
arma de Ivan não foi localizada; uma testemunha disse que Wilson tinha ‘um problema, quase como
se fosse uma rixa’ com o acusado Silvio Bueno; algum tempo antes do fato descrito na denúncia,
Wilson teria sido pego por Silvio Bueno, levado para uma área deserta e espancado, tendo sido
liberado em seguida, com ameaças; os corpos foram encontrados num local que costuma ser utilizado
para pescaria; inclusive, os corpos foram encontrados por um policial militar que ia pescar no local;
salvo engano, o acusado Silvio Bueno disse que costumava pescar, mas não se recorda se era nesse
mesmo rio; foi feita interceptação telefônica, muito tempo depois da data do fato, em 2008 ou 2009;
houve dificuldade em identificar os telefones corretos; nessa época, ainda não tinham sido identificados
especificamente os autores, além de Silvio Bueno e Ivan; os alvos das interceptações fizeram
comentários sobre o fato, especialmente porque tinham sido intimados para prestar depoimento;
alguns policiais que tiveram as ligações interceptadas, pois estavam de serviço no dia dos fatos,
sentiram-se incomodados com as intimações e passaram a falar sobre o crime nas ligações; também
conversaram sobre o outro homicídio onde alguns dos réus também constam como acusados; todos
tinham conhecimento sobre os crimes e comentavam que o principal suspeito seria Silvio Bueno e que
‘ele ia ter que se resolver, pois não iam segurar essa bronca para ele’; em determinado momento, a
depoente percebeu que eles suspeitavam que estavam sendo interceptados; por essa razão, não foi feito
pedido de renovação das interceptações; os acusados Silvio Bueno, Gilberto Rivaroli e Julio Cesar
pareciam saber que estavam sendo interceptados; pelo que se recorda, Ivan não teve as ligações
interceptadas, pois o número da linha da que dispunham não era mais utilizada por ele; o policial
militar Cabo Patrício, à época Deputado Distrital, esteve na CH e conversou com o Coordenador, Dr.
Julião, intercedendo em favor dos réus dizendo que eram bons policiais e que a investigação não seria
justa; segundo as testemunhas ouvidas no inquérito, ficou muito claro para a depoente que os
acusados ‘começaram como justiceiros’; pegavam delinquentes na época em que a região do Itapoã e
do Paranoá apresentava alto índice de criminalidade, ‘botavam medo, pegavam armas e drogas,
mandavam eles embora e diziam para não fazerem mais isso’; no entanto, perderam o controle, já que
começaram a ganhar dinheiro com armas, inclusive recebiam encomendas de armas; pegavam armas
de criminosos, não os prendiam, e vendiam as armas para outras pessoas; também ganhavam muito
dinheiro com o tráfico de drogas; eles ‘estouravam uma boca de fumo, em alguns casos prendiam as
pessoas para beneficiar as bocas de fumo deles mesmos e às vezes pegavam as drogas para levar para
as bocas de fumo que eles tomavam conta’; eles ‘estouravam as bocas de fumo’ que faziam
concorrência com eles; eles eram ‘super policiais, até mesmo dentro do batalhão’, começaram a ficar
muito agressivos, inclusive torturavam pessoas em locais desertos; ‘acabaram extrapolando e
chegaram ao homicídio’; ‘eles contavam com o temor dos outros policiais do batalhão’; vários
policiais ouvidos tremiam quando a depoente falava nos acusados, principalmente no Silvio Bueno;
foi identificado o veículo usado por Ivan, ‘talvez um carro velho, vinho, não me recordo’; ‘tenho quase
certeza’; que Ivan era o proprietário do veículo; havia outro inquérito tramitando de forma
concomitante, envolvendo alguns dos acusados, ‘acho que a vítima era Eduardo’; Silvio Bueno e
Rivaroli também foram investigados nesse outro inquérito; as informações davam conta de que, dentre
os acusados, Silvio Bueno seria o dono das ‘bocas de fumo’; não se recorda especificamente dos

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policiais que disseram ter temor em relação aos acusados; foi apurada a existência de uma ‘boca de
fumo’ principal, no Itapoã, operada por algumas mulheres; os abusos e as ‘bocas de fumo’ já eram de
conhecimento da polícia antes dos fatos descritos na denúncia; havia alguns procedimentos apuratórios
na 06ª DP e na Corregedoria da PMDF, mas não sabe dizer sobre as eventuais conclusões; não se
recorda de ter tido acesso a algum relatório elaborado pelo serviço reservado da PMDF; recorda-se de
ter apurado que houve uma diferença entre o horário em que o acusado Rivaroli devolveu a
motocicleta no dia dos fatos e o horário em que ela deveria ter sido devolvida; não se recorda de ter
sido apurado o motivo do atraso; conversou informalmente com o acusado Rivaroli e ele ‘ficou muito
revoltado’ quando soube que estava sendo apontado como suspeito; Rivaroli foi à CH para prestar
depoimento formal no outro inquérito onde figurava como investigado; por uma questão de estratégia, a
depoente achou melhor não ouvi-lo formalmente como suspeito no inquérito juntado a estes autos;
achou que a oitiva formal do acusado Rivaroli poderia oferecer risco às testemunhas; achou que seria
contraditório pedir a prisão do suspeito e, concomitantemente, dar a ele acesso aos autos para ser
interrogado; não se recorda de Dailson, suposto informante dos policiais militares; foi feito
rastreamento do telefone do acusado Rivaroli, tendo sido constatado o uso do telefone na região de São
Sebastião e Paranoá no dia dos fatos; Rivaroli mora no Paranoá; não foi apurado o eventual
envolvimento do acusado Ivan com ‘bocas de fumo’ ou venda de armas; não foi constatada eventual
tortura praticada por Ivan contra alguém; nenhum policial militar ouvido no inquérito mostrou temor
em relação a Ivan; durante o interrogatório, Ivan disse que não se importava com as coisas que tinham
sido furtadas da sua residência, pois seriam de pouco valor; não se recorda dos objetos que teriam sido
furtados, apenas ‘da arma ou algo relacionado a ela, tal como carregador’; salvo engano, Emerson não
conseguiu reconhecer Ivan e disse que havia uma pessoa na viatura a qual não conseguiu visualizar;
durante as investigações, Ivan já estava na reserva e não se lembra se ele desenvolvia outra atividade;
não se recorda se Ivan tinha alguma motocicleta à época dos fatos; não se recorda de ter ouvido Julio
Cesar formalmente durante o inquérito; os demais policiais não foram indiciados porque não foram
reconhecidos e também porque não havia outros indícios que apontassem para eles; não se recorda se
Emerson mencionou ter visto outros veículos, inclusive particulares, na noite dos fatos; foi vista por
Emerson uma viatura, tendo Silvio Bueno sido indiciado mesmo sem estar de serviço; não se recorda
se Silvio Bueno foi chamado de ‘Cara de Rato’ em alguma das ligações interceptadas; não se recorda se
o telefone de Julio Cesar também foi interceptado; recorda-se de ter sido apurado que a vítima Jildemar
tinha um desafeto chamado Hélio, vulgo ‘Tico’; Hélio foi investigado na condição de suspeito, mas não
havia nada além da inimizade que pudesse levar à conclusão de que ele seria um dos autores,
ressaltando que ‘um crime como esse não poderia ter sido praticado por uma pessoa só’; constatou-se
que Jildemar, Wilson e ‘Tico’ mantinham uma ‘boca de fumo’ e consumiam drogas entre si; não se
lembra de ter tomado o depoimento de Dayse, apontada como companheira de ‘Tico’; não se recorda se
algum veículo foi periciado; além do outro inquérito onde Silvio Bueno também foi indiciado pela
suposta prática de um homicídio, a testemunha desconhece outros eventuais inquéritos em que ele
consta como suspeito e não se recorda do nome das pessoas que disseram que ele faz parte de um grupo
de extermínio; a depoente não passou à Delegacia de Entorpecentes ou outra delegacia as informações
de que os acusados supostamente vendiam drogas e armas, até porque as informações que teve diziam
respeito sobre fatos passados e as delegacias especializadas costumam trabalhar com fatos presentes;
ouviu formalmente várias testemunhas acusando Silvio Bueno como vendedor de drogas e armas,
inclusive, pelo que se recorda, uma pessoa chamada ‘Dilson ou Deilson’; a depoente ‘achou’ que o
acusado Silvio Bueno estava tentando tumultuar as investigações, pois chegou a essa conclusão
através das premissas que se apresentavam no inquérito; chegou a essa conclusão, mesmo diante da
ocorrência de fls. 478/484; não se recorda de ter mencionado os soldados Avelar e Caetano em seu
relatório, não se recordando de ter afirmado que eles trabalhavam juntos com Silvio Bueno na viatura
288; testemunhas, especialmente amigos, familiares e o comparsa de Wilson, disseram que ele levou um
tiro de Ivan meses antes dos fatos; a depoente concluiu que as vítimas foram abordadas pelos acusados
e encontraram com elas uma arma e um capuz, de acordo com as provas testemunhais e circunstanciais,
até porque o capuz e o revólver não foram encontrados com as vítimas no local onde os corpos foram
encontrados, ressaltando-se que as testemunhas viram as vítimas com a arma e o capuz; não sabe dizer
onde estão a arma e o capuz; verificou o endereço da casa de Ivan e concluiu que era próximo aos
pinheiros, ressaltando que Ivan tinha várias casas e essa a que se refere ficava no Itapoã; Silvio Bueno
afirmou que costumava pescar e, geralmente, as pessoas cometem crime em locais que já conhecem;
como suspeito, ele nunca diria que pescava exatamente no local onde foram encontrados os corpos; por
essa razão, a depoente ‘acha’ que ele afirmou que pescava em Flores/GO, no Rio Macaquinho, e na

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Serra da Mesa/GO. (ID 13909816 – fls. 6/14 – grifo nosso)

A testemunha Maria da Graça de Oliveira (ID 13909816 – fl. 3/5) esclareceu que a vítima Alex era
enteado de sua irmã. Sobre os réus, conhecia apenas IVAN. Confirmou que um dia antes de saber do
desaparecimento de Alex, ela e seu irmão Ronaldo encontraram IVAN, que lhes disse que teria ocorrido
um assalto em sua casa e que ele estava indo pegar os assaltantes “para tomar um banho de rio”, porque
já tinha uma noção de quem seriam. Afirmou que a cunhada de “Cara de Rato” mora na mesma rua que
ela, que ouviu falar dele, mas naquela data não seria capaz de reconhecê-lo.

O policial Márcio da Silva Avelar disse que nunca ouviu comentários de que os réus integrariam grupo
de extermínio, tinham bocas de fumo ou vendessem armas para bandidos. Assinalou que eles são
excelentes policiais, “talvez os que mais tenham retirado armas das ruas do Paranoá”. Afirmou que
nunca ouviu algum policial dizendo que teria medo de GILBERTO e que nunca ouviu ninguém
chamando SILVIO de “Cara de Rato”. (ID 13909816 – fls. 15/16)

O policial Sérgio Luiz Rodrigues Ramos confirmou que enquanto passava pela DF 150, viu duas pessoas
pularem a cerca e entrarem no lote de IVAN, sendo que um dos rapazes apontou uma arma para ele. Em
seguida, os dois e um terceiro, correram na direção do pinheiral. Encontrou uma viatura, narrou o
ocorrido e foram juntos atrás dos rapazes, prendendo um deles, salvo engano (ID 13909816).

O policial Josimar Alves Santos confirmou a versão de Sérgio Luiz e acrescentou que nunca ouviu falar
que algum colega tivesse medo de GILBERTO, o qual é ótimo policial, que fazia muitas apreensões de
armas e drogas. (ID 13909816 – fls. 17/18)

Ezequiel de Jesus confirmou os depoimentos prestados perante a autoridade policial. Disse que não
presenciou os réus abordarem as vítimas, não pode afirmar com certeza que Fabinho viu tal abordagem e
não ouviu mais ninguém dizendo que teria visto. Além da abordagem ocorrida na casa de Rose, não foi
abordado outras vezes por SILVIO, conhecido como “Cara de Rato”. Não conhece Wesley, ao menos
pelo nome. Dentre as vítimas, conhecia Dudu (Jildemar), que trabalhava com ele na “Refrigeração
Gabriela”, e Juninho (Wilson), que havia levado um tiro no olho. (ID 13909816 – fls. 19/20)

Emerson Lázaro compareceu à audiência, mas conforme consta da respectiva ata (ID 13909833 – fl. 1),
após o início do seu depoimento foi constatada a ausência de condições de se comunicar adequadamente,
razão pela qual a oitiva foi suspensa.

A mãe de Emerson, Sra. Eleusa Lázaro, que acompanhou o depoimento prestado pelo filho para a
Delegada, foi ouvida como testemunha do Juízo, ocasião em que prestou os seguintes esclarecimentos:

Recorda-se de uma Delegada de polícia ter ido à sua casa e tomado o depoimento de Emerson: a
depoente, salvo melhor juízo no ano passado, presenciou o momento em que uma Delegada de Polícia
esteve em sua residência para tomar um depoimento de Emerson; esclarece que Emerson teve um AVC e
permaneceu internado durante 4 meses, sendo que o depoimento foi prestado mais ou menos 4 dias
depois de ter recebido alta no hospital e ter retornado para casa; acompanhou o depoimento durante
todo o tempo; o depoimento não foi filmado ou gravado; a Delegada esteve na casa da depoente
naquela época, para tomar o depoimento de Emerson, apenas uma vez; a história contada por Emerson
à Delegada de Polícia já tinha sido contada à depoente anteriormente; contou para a Delegada
exatamente a história que já havia contado para a depoente: Emerson contou a história para a
depoente antes de ter o AVC; Emerson disse à depoente que estava saindo de uma festa com a mulher
dele, momento em que presenciou a polícia ‘pegando 3 rapazes’; Emerson disse que viu os policiais
‘pegando’ os 3 rapazes no balão entre o Paranoá e o Itapoã; isso teria ocorrido por volta das 2h00min
da manhã, pelo que se recorda; os policiais teriam abordado os rapazes com uma viatura da Polícia
Militar; Emerson disse que conhecia os 3 rapazes, mas não se recorda de ele ter dito os nomes;
Emerson contou essa história para a depoente logo depois de ter ocorrido o crime descrito na

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denúncia; Emerson disse que um dos policiais era ‘Cara de Rato’; Emerson não comentou mais nada
sobre alguma coisa que esses rapazes teriam feito; ouviu comentários de populares sobre o crime; ouviu
dizer que a polícia ‘tinha pegado e matado 3 meninos’; Emerson disse que um dos rapazes era cego de
um olho; a Delegada esteve novamente na casa da depoente nesta segunda-feira (01/07/13), para
verificar se Emerson estava em condições de falar sobre este fato; a Delegada nada perguntou à
depoente sobre os fatos tratados neste processo; à época em que Emerson prestou depoimento, já
apresentava dificuldade de falar; apesar da dificuldade de falar, ‘ele entende bem as coisas’; ‘para
pensar, eu acho que ele ficou normal’; ‘o médico disse que ele ia ficar com dificuldade para falar e
andar’; ‘o raciocínio ficou meio lento’; durante o depoimento prestado por Emerson em sua
residência, ‘ele disse tudo direto para a Delegada", ou seja, não houve necessidade de a depoente
‘traduzir’; a Delegada ficou esperando a depoente chegar em casa no dia 01/07/13, ‘porque ela queria
que eu estivesse presente quando ela conversasse com Emerson’ (ID 13909833 – fls. 5/6)

Em Juízo, Fábio dos Santos disse que conhecia duas vítimas, Jildemar (Juju) e Wilson (Juninho), o qual
havia levado um tiro no olho. Afirmou que ele e Jildemar moravam na casa de Dayse, no Itapoã. Ouviu
comentários de que SILVIO, conhecido como “Cara de Rato” tinha sido o autor do crime. Disse
que “Cara de Rato” era “’famoso’ na região do Paranoá pois ‘invadia as bocas de fumo’”. Em certa
ocasião, estava em um barraco consumindo drogas com sua esposa, seu irmão e sua cunhada,
quando SILVIO e outros policiais invadiram o local, fizeram sua esposa e cunhada tirar a roupa
na frente dos policiais, sem debochar delas. Espancaram o depoente e levaram R$450,00
(quatrocentos e cinquenta reais), não prendendo ninguém. Aduziu que o pessoal comentava que
Juninho (Wilson) era informante de “Cara de Rato”, inclusive passando informações sobre onde
ficavam as bocas de fumo e onde tinha mais dinheiro. Ouviu Juninho (Wilson) dizendo que tinha
parado de ser informante de “Cara de Rato” e estava com medo de que acontecesse alguma coisa
com ele. Alegou que é ex-cunhado de Dailson, vulgo Nóia, e que ouviu boatos de que ele também era
informante de “Cara de Rato”. Apontou que toda a população tem medo de “Cara de Rato”, pois ele
“invadia a casa de qualquer um”. Mostrada a fotografia de SILVIO constante à fl. 546 (ID 13909624 –
fl. 54), o reconheceu como “Cara de Rato”. (ID 13909833 – fls. 10/12)

Dailson Xavier dos Santos afirmou em Juízo que foi pressionado pela Delegada Renata para prestar as
declarações registradas Delegacia. Nada obstante, confirmou que “viu, por volta das 20h00min, próximo
à lanchonete ‘Biglanche’ e o "Bar Muvuca’, ‘Cara de Rato’ e ‘Steve’ abordando ‘Juninho’ (Wilson) e
outros dois rapazes, sendo que os policiais não estavam numa viatura, mas sim num GM/Monza, salvo
engano de cor escura, azul”. Esclareceu que “nesse local não havia um ‘balão’, sendo que existia um
mercado e alguns bares nas proximidades; esse local fica no Del Lago, próximo ao ‘Pau Grande’”.
Afirmou que “a abordagem foi feita na quadra 306 do Del Lago, perto do ‘Bar União”. Disse que era
“difícil estabelecer o horário em que isso ocorreu, mas recorda-se que um rapaz que vendia CD’s no
local ainda estava lá e ele costumava ir embora por volta das 22h00min” e que quando viu a
abordagem, “uma moça que sempre pegava a sua lotação no ponto final do Paranoá, por volta das
18h30min, sendo que descia no Del Lago mais ou menos 30 minutos depois” ainda estava em seu carro.
Naquele ato, reconheceu o réu SILVIO como o policial “Cara de Rato”. Nenhum dos outros réus era o
policial “Steve”. (ID 13909833 – fls. 14/15)

Celso Fernandes Pedra, administrador do Condomínio Mansões Entre Lagos, informou que na época dos
fatos, o réu SILVIO fazia bicos de segurança naquele local, sem contrato escrito nem registro em
carteira, trabalhando entre 7h00 e 19h00 no interior do condomínio. O regime era 12 horas de trabalho e
36 de descanso, sem registro de entrada e saída. Não sabia dizer se SILVIO trabalhou no dia 11/1/2006 e
não se recordava se ele estaria de férias. Nunca ouviu ninguém chamar SILVIO de “Cara de Rato” e
nunca ouviu boatos dando conta de práticas criminosas por parte dele, que nunca se mostrou agressivo,
nem causou problemas com moradores (ID 13909833 – fls. 16/17)

Em seu interrogatório, o réu SILVIO (ID 13909833 – fls. 18/21) negou a autoria do crime que lhe é
imputado. Negou que seu apelido seja “Cara de Rato” e disse que na data dos fatos estava de férias,
tendo viajado para uma fazenda em Monte Alegre/PI, onde ficou cerca de sete dias. Não conhecia o réu

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GILBERTO na época, tampouco as vítimas Alex e Jildemar e que Wilson nunca foi seu informante.
Durante o dia 11/1/2006, trabalhou no Condomínio Entre Lagos, onde fazia “bico” como segurança.
Alegou que sua fama de “ser temido” é decorrente do fato de ter trabalhado muito tempo na região e
prendido muitas pessoas e que “Steve” é um nome que as pessoas colocam em todos os policiais, uma
forma de tratamento adotada na polícia para um colega chamar o outro, porém ele não tinha o costume
de chamar os colegas assim.

O réu GILBERTO também negou a imputação (ID 13909833 – fls. 25/27). Disse que trabalhou com
SILVIO na mesma CPMIND entre 2004 e 2007 mas não se conheciam, o que só ocorreu em 2007,
assinalando que ele era um bom profissional. Alegou que nunca tinha ouvido falar das vítimas, que não
tinha apelido e que desconhecia se já foi chamado por algum apelido pelos bandidos. Afirmou que
“Steve” são todos os policiais, ou seja, como um policial costuma chamar o outro.

O então corréu Júlio Cesar Ferreira de Carvalho (falecido) disse que não se recordava de ter abordado as
vítimas durante sua atividade como policial. No dia em que furtaram a casa de IVAN, entrou no serviço
às 15h00 e em razão de um flagrante, somente retornou à 10ª CPMInd por volta das 2h00 da manhã.
Trabalhou com SILVIO no “tático” mas não se lembra se foi na época dos fatos. Nunca ouviu falar de
GILBERTO antes de 2007/2008. Nunca ouviu ninguém chamar SILVIO de “Cara de Rato” e que este “é
um ótimo profissional, bom, exemplar, nem valente nem medroso, é comum e trabalha na linha reta
dentro dos preceitos morais e éticos da Polícia Militar” (ID 13909833 – fls. 22/24).

Durante a sessão de julgamento, a ata registra que a mídia contendo o depoimento de Emerson Lázaro,
tomado pela Delegada Renata Malafaia, foi exibida aos jurados (ID 13910140 – fl. 11).

Além disso, promoveu-se a oitiva de Eleuza Lázaro, genitora de Emerson (IDs 13910143 – fls. 21/39,
13910145 – fl. 91 e 13910148 – fls. 14/15), a qual afirmou que o filho teve um AVC, ficou internado
durante 4 (quatro) meses e que cerca de quatro dias após a alta, uma Delegada foi até sua casa e tomou o
depoimento dele (ID 13910143 – fl. 23). Confirmou que Emerson disse à autoridade policial que
“Cara de Rato” e outros policiais teriam abordado as vítimas e as colocado dentro do carro, o que
ele já havia contado para ela (ID 13910143 – fl. 24). Quando Emerson presenciou a cena e quando
contou para ela, ele ainda não tinha sofrido o AVC, estava bem e trabalhando. No depoimento
prestado para a Delegada, ele já havia sofrido o AVC e mesmo assim contou para ela a mesma
versão. Acompanhou todo o depoimento, que durou cerca de 20 minutos e que a Delegada
conversou com ele “numa boa” (ID 13910143 – fls. 26/27). Emerson contou que a abordagem teria
ocorrido entre o Paranoá e o Itapuã. Ressaltou que apesar do AVC, o raciocínio do filho era bom,
apenas a fala estava prejudicada (ID 13910143 – fl. 29). Durante o depoimento para a Delegada, o
filho apontou algumas fotos e disse “é esse aqui, eu vi, esse aqui também estava”. Alegou que já
tinha ouvido falar de “Cara de Rato” e que toda a população sabia que se tratava de um indivíduo
perigoso, afirmando que ficou sabendo disso após a morte dos jovens (ID 13910143 – fls. 30/31).
Questionada sobre sua afirmação anterior de que o depoimento de seu filho não foi gravado, esclareceu
que não se lembrava bem, mas acreditava que teria sido filmado “porque tinha mais gente com eles” (ID
13910143 – fl. 33). Disse que em nenhum momento interferiu no depoimento de Emerson, que a
Delegada perguntava e ele respondia. Alguns dias antes do depoimento em Juízo, a Delegada foi até sua
casa, porém não acompanhou essa conversa (ID 13910143 – fls. 34/35). Às perguntas da Defesa,
esclareceu que a Delegada falou o nome dos policiais e Emerson confirmou. Acredita que as fotos
mostradas eram apenas dos policiais que ela perguntou o nome. (ID 13910143 – fl. 37/38)

A Delegada Renata Malafaia (IDs 1391045 – fls. 28/90 e 13910148 – fls. 61/88) declarou perante os
Jurados que quando o caso chegou na Delegacia de Homicídios, havia duas linhas de investigação,
a primeira seria a suspeita sobre o namorado da ex namorada de Alex. A segunda linha seria a
suspeita que recaiu sobre os policiais, dentre eles os dois réus, os quais teriam motivos para matar
a vítima Wilson (Juninho). Durante as investigações constataram que primeira linha não era razoável,
razão pela qual passaram a seguir a segunda. Ouviu formalmente mais de trinta pessoas que
contaram como esse grupo de policiais agia no Paranoá e disseram que eles eram muito violentos
não apenas com os infratores, mas com qualquer pessoa que abordavam. Além disso, quando
apreendiam armas e drogas, tomavam para si, quando deveriam levar para a Delegacia. Ouviu que

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SILVIO teria uma boca de fumo e levava a droga apreendida para essa boca. Assinalou que 4 ou 6 meses
antes do crime, Wilson (Juninho) furtou a casa do policial militar IVAN, também denunciado, o qual
desferiu um tiro no olho de Juninho que, com medo, apontou como atirador um rapaz chamado Leandro.
Posteriormente ficou claro que não tinha sido Leandro. Havia notícia de que IVAN pediu ajuda de
SILVIO, conhecido na região como “Cara de Rato”, e de GILBERTO, conhecido como “Galego”,
inclusive pagando um valor para “Cara de Rato”, porém a paga não foi comprovada. Apontou que a
família da vítima Wilson (Juninho), principalmente a mãe, era muito firme em dizer que o filho
tinha SILVIO como inimigo. Wilson teria contado que quinze dias antes do crime, se escondeu na
casa da namorada Fernanda, fugindo de SILVIO, que tentava matá-lo. Ele inclusive passou a
dormir na sala, acreditando que a qualquer momento SILVIO e o grupo dele invadiria em casa,
sendo mais fácil fugir daquele cômodo. Trabalhou onze anos na Delegacia de Homicídios e sabia
que o local onde as vítimas foram encontradas era um local de execução, o que aconteceu no caso
dos autos, pois as vítimas foram alvejadas com um tiro na nuca, estavam com a camisa na cabeça e
conforme apontado pelos peritos, não tinham lesões defesa. Relatou que após um longo e intenso
trabalho de convencimento, foi informada de que um rapaz chamado Emerson Lázaro, teria visto o
momento em que policiais colocaram as vítimas no carro, porém ele estava muito debilitado, em estágio
terminal de AIDS. Foi até a casa desse rapaz e percebeu que ele tinha dificuldade em articular
palavras, mas estava lúcido. Afirmou que ele “não acreditava na polícia, como muitos moradores”
da região, pois eram vítimas dela. Após ela explicar que estava exercendo sua função de policial,
que se preocupava com os três jovens e que estava ali para tentar fazer justiça, ele ficou muito
emocionado e disse “eu vou morrer, eu tenho poucos meses de vida, eu não tenho por que mentir, não
tenho por que segurar isso para mim, talvez se eu fosse sobreviver eu teria medo de morrer”. Emerson
contou que estava voltando para casa de madrugada, quando passou pela DF 260, perto dos pinheirais,
no Paranoá, e viu os policiais colocarem as três vítimas na viatura. Afirmou que mostrou fotografias
para ele o qual reconheceu SILVIO, GILBERTO e, salvo engano, Júlio César, com segurança. O
depoimento foi gravado e presenciado pela mãe de Emerson. Antes de começar a oitiva, fez
diversas perguntas de cunho pessoal a fim de aferir se ele tinha lucidez, observando que ele
somente apresentava dificuldade de se expressar, mas tinha total capacidade de raciocínio. Disse
que outra testemunha, de nome Dailson, viu SILVIO e GILBERTO, mais cedo naquele mesmo dia,
por volta de 20h00, abordando vários rapazes, dentre os quais estava Wilson, porém não estavam
de viatura. Salientou que essa informação foi muito importante porque na época SÍLVIO estava de
férias e disse que estava viajando para o Piauí. Ocorre que durante a interceptação telefônica, foi
constatado que ele estava no Distrito Federal. Restou apurado que no dia anterior, a vítima Alex
pegou uma arma emprestada com Wesley para “dar um susto” em Edmundo, por acreditar que ele
agrediu a namorada. Wesley chamou Wilson e Jildemar. Disse que os três rapazes estavam na rua com
uma arma e provavelmente os policiais, que estavam procurando alguém, os acharam.

Às perguntas do Ministério Público, esclareceu que Reinilde, mãe de Juninho, contou que após os fatos
estava em casa quando ouviu gritos de seu filho mais velho e ao chegar no portão viu que SILVIO o
agredia. Ela teria dito para SILVIO: “o que você quer com meu filho, esse você não vai matar não”, o
qual teria sorrido e confirmado que assassinou o filho dela. As investigações apontaram a existência de
um grupo de policiais muito violentos, que matavam sem pena, do qual a bandidagem tinha medo. “não
porque sabiam que eles cumpririam a lei, mas porque sabiam que seriam executados”. O grupo seria
liderado “Cara de Rato” e a violência não se dirigia apenas a criminosos, mas também a
moradores. A testemunha Cristiano, conhecido como “Fala Fina”, relatou que esse grupo de
policiais estava à sua procura e o abordaram, sem saber que era ele, dizendo que “quando enc
ontrar o Fala Fina vou fazer com ele o que eu fiz com os meninos do lago”. Conforme apurado no
inquérito, SILVIO começou a trabalhar no Paranoá na década de 90, sendo policial muito ativo. A partir
de certo momento, ele passou a ser temido por todos e “começou a usar esse poder que ele tinha para
cometer crimes”. Testemunhas relataram que ele protegia uma boca de fumo, ou seja, recebia dinheiro
para protegê-la. Ele muitas vezes estourava outras bocas de fumo concorrentes para deixar só aquela.
Além disso, outras pessoas disseram que ele ameaçava adolescentes da região para que apontassem quem
tinha drogas e armas. Quando apreendia, ficava com elas e, muitas vezes, revendia as armas por um
preço mais alto.

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Às perguntas da Defesa esclareceu que a perícia criminal não aponta com certeza a hora da morte,
apenas diz o período estimado, que um corpo não tem necessariamente, um pós morte igual aos demais.
Pelo contexto das provas, não é plausível que as três vítimas não tenham sido mortas no mesmo
momento. Não se lembrava se algum dos familiares de Jildemar falou sobre uma vítima que teria sido
atingida de raspão no pé e sobrevivido. O depoimento dessas pessoas foi colhido pela Delegada que lhe
antecedeu (Dra. Mabel). Várias testemunhas apontaram GILBERTO como o policial conhecido
como “Galego” ou “Steve”, mas outros policiais também se autodenominavam “Steve”. Não
indiciou GILBERTO apenas com base nas informações das ERB’s, que indicavam que ele estava
na região, mas porque tal informação estava em harmonia com os demais elementos. Quanto ao fato
de várias testemunhas serem pessoas envolvidas com a criminalidade, prestou as seguintes declarações:

Eu vou esclarecer uma coisa para o senhor, isso com base no tempo que eu trabalhei na Corregedoria.
Policial, Doutor, não extorque e nem rouba padre, freira, eles vão atrás de quem tem arma e de quem
tem drogas, quem tem arma e quem tem droga são essas pessoas, são esses bandidos, então as minhas
testemunhas, as minhas vítimas de policiais são essa clientela, mas não quer dizer que elas estejam
mentindo, muito pelo contrário, muitos, e por isso temos uma cifra negra enorme de policiais que
cometem crime e não são punidos, não querem dizer, eles não apontam o policial como Wilson fez da
primeira fez, eles tem medo de dizer, então eu dou muita credibilidade sim, por que eles normalmente
não querem dizer, não querem apontar os policiais como autores, esclarecido? (ID 13910148 – fl. 75)

Aduziu que não indiciou o policial Glauceir porque embora inúmeras testemunhas tivessem relatado o
modo de agir do grupo de policiais no tocante ao tráfico, tortura e agressões, não havia elementos
suficientes de que ele participou do triplo homicídio. Ressaltou que na Delegacia ouviu de diversas
pessoas não ligadas à criminalidade, que tinham medo de “Cara de Rato”. Quanto ao fato de não ter
ouvido GILBERTO (Rivaroli) na fase de inquérito, aduziu o seguinte:

existem depoimentos de testemunhas que dizem que apesar do Silvio ser o líder, o policial mais violento
era o Rivaroli, e de fato constatamos isso quando ele foi ser interrogado pelo doutor Lucimar, ele
estava, nós temos duas divisões ele estava na outra, na qual ele chegou muito nervoso, eu estava nesse
dia, inclusive o delegado me chamou para ver, e ele foi, ele ficou bastante alterado na delegacia, e eles
não falam, eles ficam em silêncio, então em razão de, primeiro eles todos ficarem em silêncio e da forma
como ele estava agindo na delegacia, como é uma prova que vai ser reproduzida naturalmente na
instrução criminal, com o interrogatório do réu, e ele tem o direito de ficar em silêncio, eu achei que
seria melhor até para resguardar ele mesmo e as pessoas da delegacia que como eu disse é uma
delegacia pequena, nós temos uma quantidade de policiais reduzidas, não é uma delegacia da área, não
ouvi-lo. (ID 13910148 – fls. 84/85)

Com relação ao fato de Dailson, no depoimento prestado na fase de pronúncia, não ter reconhecido
nenhum dos réus como “Steve”, afirmou que acredita que a testemunha estava com medo.

A testemunha Dailson (IDs 17703464, 17703465, 17703466 e 17703467) apresentou versão que destoa
completamente daquelas prestadas anteriormente. Disse que seu ex-cunhado Fabinho estava envolvido
com “coisa errada” e andava com Juninho (Wilson). Disse que somente ouviu boatos de que as vítimas
teriam sido mortas por policiais, mas não viu nada, nem os policiais abordando Juninho, apenas “o povo
lá do lado da minha casa”, porque havia muitas ocorrências de roubo. Aduziu estar preso por tráfico de
drogas e que em 2006 era apenas usuário. Confirmou que chegou a denunciar sua esposa Neidimar
por tráfico de drogas para SILVIO porque confiava muito nele, que “era do bem mesmo” e o único
que prendia as pessoas. Não se lembra se SILVIO era chamado de “Cara de Rato” e nem se

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GILBERTO era “Steve”. Quanto à informação de que os réus integravam um grupo de policiais que
costumavam pegar dinheiro e drogas de traficantes sem prender ninguém, assinalou que isso era “boato
do povo”, que ele nunca tinha visto nada. Afirmou que os traficantes tinham raiva de SILVIO porque ele
era muito atuante, prendia e dava prejuízo para eles. SILVIO nunca pediu dinheiro para ele, nunca foi
informante dele e denunciou sua esposa para ele porque acreditava muito nele. Não se lembra se os
policiais teriam dito para ele não se preocupar porque quando pegassem o Juninho, iam matá-lo. Negou
ter visto os réus abordando Juninho no dia em que ele desapareceu, sendo pressionado na
Delegacia. Afirma que nunca foi ameaçado por nenhum dos réus, que somente os bandidos falavam mal
dos policiais. Depois do depoimento, teve um tumor no cérebro, passou por uma cirurgia e passou a ter
problemas de memória. Disse que nunca viu o réu GILBERTO.

A testemunha Ezequiel (ID 17703468 E 17703469) relatou que trabalhava com Jildemar na oficina e
morava com ele na casa de Tico. No dia do desaparecimento, Juninho foi até a oficina e mais tarde,
enquanto os três subiam a rua, ele e Juninho discutiram. Então, ele deu um dinheiro para que Dudu
comprasse um frango e voltou para o trabalho. No dia seguinte, Fabinho de Planaltina lhe contou que o
“Cara de Rato” e “uns outros aí” pegaram os meninos e de repente eles apareceram mortos. Alegou que
não foi Fabinho quem viu os policiais, mas não sabe quem foi. Contou para um parente de Juninho que
ele tinha visto a abordagem “para criar um nome”, pois, na época, estava no “meio da malandragem”,
mas na verdade não viu nada. Esclareceu que ouviu falar que “Cara de Rato” e “Galego” pegaram
os meninos. Já conhecia “Cara de Rato” pois já foi abordado por ele, quando estava na casa de
Rose. Os policiais invadiram a residência, pegaram tabletes de maconha, colocando todos na
viatura e começaram “a rodar”. No caminho os policiais pegaram mais dois indivíduos, um deles com
arma de fogo. Na Delegacia, o indivíduo que estava com a arma desceu, os demais ficaram na viatura e
rodaram mais um pouco. Depois, soltaram todos e disseram que se os pegassem novamente, iriam “dar
um fim neles”. Apontou que eles ficaram com a droga recolhida. Tais policiais tinham fama de abordar
as pessoas, levar para o dinheiro e bater nelas. Disse que não se lembra de GILBERTO.

Edmar Barros da Silva Nunes, policial, (ID 13910148 – fls. 4/13) afirmou que sabe do crime, o que saiu
na imprensa. Passou a servir no Paranoá em 2009, tendo trabalhado com SILVIO e GILBERTO por
cerca de um ano e meio. Durante o tempo em que os réus ficaram sob seu comando, a conduta deles
sempre foi muito boa, prestativa e sempre foram muito ativos e operacionais, tendo realizado grandes
apreensões de drogas e armas de fogo. Em conversa informal com o comandante na época, Major Júnior
e Capitão Silvanei, soube que a quantidade de apreensões e prisões realizadas pelos réus chamou a
atenção da Corregedoria. Disse que houve denúncias de abuso de autoridade e violação de domicílio e
foi realizada investigação rigorosa, porém não sabe o desfecho. Assinalou que é comum haver denúncias
contra policiais muito ativos, como forma de “vingança”. Atualmente GILBERTO trabalha com ele no
CPRE regional leste, na manutenção de viaturas e continua sendo um excelente policial e nunca
extrapolou no exercício de suas funções. Esclareceu que é comum que os policiais ultrapassem o horário
de saída, como, por exemplo, quando há situação de flagrante e o policial tem que ir para a Delegacia,
onde chegam a passar quatro ou cinco horas.

O policial Josimar Alves dos Santos (ID 13910148 – fls. 52/60), relatou que estava de serviço e enquanto
passava na DF 250, foi abordado pelo policial Sérgio Luiz, que estava à paisana e contou que sobre um
furto na casa do Sargento IVAN. Foram ao local, porém, os autores já tinham evadido. Havia
informações de que um dos meliantes havia adentrado o pinheiral, onde ele foi apreendido e
encaminhado para a 6ª DP. Não se recorda o horário que assaltante foi levado para a DP, mas acredita
que era “tarde entrando para a noite”, porque na época ele trabalhava durante o dia. Não se lembra de
ter falado com GILBERTO naquele dia. Não se lembra se havia outros policiais procurando os
responsáveis pelo crime. Confirmou seu depoimento prestado em Juízo, no sentido de que nunca ouviu
falar em nenhum colega que tivesse medo de GILBERTO e que ele era um policial atuante que se
destacava por apreensões de arma e droga, era um bom policial.

O réu GILBERTO (IDs 13910143 – fls. 43/45, 13910145 – fls. 1/12, 13910148 – fls. 19/51) sustentou
sua inocência e disse que não sabe nada sobre os fatos. Disse que foi à CORVIDA, conversou com o
Delegado Chefe, Dr. Julião, se colocou à disposição para fornecer digitais e disse que não tinha
vinculação com o crime, mas ele lhe disse que “perícia era coisa de filme”, orientando que ele
conversasse com os Delegados Relatores. Procurou a Dra. Renata, dizendo que queria ser ouvido, mas

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ela não o fez, por questão de estratégia, o que poderia ocorrer depois. Afirmou que dedicou a vida inteira
à polícia e sempre foi muito atuante. O corréu Júlio César entrou em depressão profunda e morreu aos 49
(quarenta e nove) anos de idade em razão “dessa injustiça”. Não conhecia o réu SILVIO em 2006 e não
integrava sua equipe. Afirma que somente pode conjecturar sobre a motivação para as denúncias, mas
acredita que existe um forte entrave entre as polícias civil e militar, que é conhecido por todos, e talvez
tenha sido por “ego”, porque esse é um crime “insolucionável”. Para a Delegada “seria muito glorioso”
dizer que ela o havia resolvido. Não foram apresentadas quaisquer provas materiais, apenas meras
conjecturas. Aduziu que durante o período em que trabalhou com SILVIO, de 2007 até 2009,
nunca viu nada que desabonasse a sua conduta. Alegou que no dia do homicídio estava
trabalhando e SILVIO, segundo relatos, estava de férias. Disse que estava na motocicleta, mas não
participou da prisão dos jovens que furtaram a casa do policial IVAN. Nunca presenciou ninguém
se referir a SILVIO como “Cara de Rato” e nunca se referiu a ele de tal forma. Tomou
conhecimento disso no processo e acredita que tal nome devia ser falado no meio da criminalidade, mas
no meio policial ninguém o chama assim. Não tinha e não pagava informantes. Foi preso na semana
anterior ao julgamento porque foi ao Tribunal do Júri portando sua arma particular, apesar de estar com
restrição por questões médicas (psiquiátricas). Só veio a ter contato com SILVIO em julho de 2007,
realizando operações juntos até 2009, quando SILVIO foi para a Asa Norte. A equipe combatia a
criminalidade de forma bem efetiva, por isso os bandidos queriam “acabar” com ela, porque “não
podiam trabalhar”. A Delegada Malafaia exagerou quando disse que ele, quando foi à CORVIDA,
estava exaltado. Salientou que realmente queria provar para ela sua inocência, se dispôs a ser ouvido e
para tudo o que ela precisasse, alegando que qualquer perícia provaria que ele não esteve no local, mas
que não se exaltou.

O réu SILVIO (ID 13910148) negou a autoria dos crimes. Afirmou que serviu mais de trinta anos na
polícia militar, sempre foi um policial “operacional”, trabalhou em mais ou menos duas mil apreensões
de armas de fogo, várias apreensões de drogas e reputa muito injusta a acusação. Acredita que está sendo
acusado porque a polícia civil tinha um certo receio em razão de sua equipe e o GTOP realizarem muito
mais apreensões e prisões. Por isso, acredita que a polícia civil lhe deu a alcunha de “Cara de Rato”,
porém esse era o nome que população e os bandidos da região davam para o policial que estava na
viatura e fazia abordagens. Nunca foi chamado assim por ninguém. Afirmou não saber quem
praticou os homicídios, mas provavelmente, “poderia ser próprio vagabundo mesmo de lá, acerto de
contas”. Na época dos fatos não conhecia GILBERTO. Júlio César trabalhava na sua guarnição e
também conhecia IVAN. Ficou sabendo do furto ocorrido na casa de IVAN somente no decorrer deste
processo. Afirmou que conhecia Wilson (Juninho) de vista, que já o havia abordado uma vez e se
lembrava especificamente porque ele era cego de um olho. Negou que o tenha perseguido ou que tivesse
rixa pessoal com ele. Em janeiro de 2006 estava de férias da polícia e nunca deu apoio para colegas
estando de férias, o que não era comum acontecer na PM. Na época morava em Sobradinho. Quanto às
duas outras vítimas, disse que não as conhecia e que nunca as abordou. Aduziu que trabalhou com
GILBERTO no final de 2007, mas não mantinham contato pois ele era do GTOP e GILBERTO
trabalhava em outra escala, em motocicleta. Disse que foi ouvido na 30ª DP onze meses após o fato e por
isso, quando indagado sobre o que tinha feito entre os dias 12 e 13 de janeiro de 2006, respondeu
que estava de férias e teria viajado para o Piauí, mas não se recordava da data da ida nem da
volta. No curso do processo, quando foi constatado que no dia 11 ele estava no Paranoá, se
lembrou que fazia “bico” de segurança no Condomínio Entre Lagos, das 8h às 18h, mas não havia
contrato escrito nem registro de frequência. Começou a trabalhar lá no início de janeiro de 2006.
Naquele dia trabalhou com o Sargento Gelson, o qual não indicou para a polícia para ser ouvido porque
já indicara o nome da pessoa que os havia contratado. Quando viajou para o Piauí, já estava trabalhando
no condomínio, mas como não trabalhava com frequência e o trabalho era feito em dupla, perguntou para
seu contratante se durante a viagem o Sargento Gelson poderia ficar sozinho, o que foi aceito.
Respondeu a muitos processos por causa da indevida indicação do apelido “Cara de Rato”, os
quais não foram adiante porque ele comprovou que não era referida pessoa. Acrescenta que quem
trabalha na rua, de verdade, sempre tem denúncias contra si.

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Destaco, inicialmente, que ao Júri Popular, dentro de sua soberania e após ter acesso a todas as provas
carreadas ao feito, é lícito optar por uma das versões apresentadas. Apenas será considerada
manifestamente contrária à prova dos autos a decisão arbitrária, totalmente divorciada do acervo
probatório coligido.

A propósito, trago à colação lição de Rogério Sanches Cunha e Ronaldo Batista Pinto acerca do tema:

Para tanto, repetimos, é preciso que a decisão dos jurados seja manifestamente contrária à prova dos
autos. Assim se entende a decisão totalmente divorciada da prova do processo, ou seja, que não
encontra nenhum suporte no conjunto probatório colhido nos autos, “é aquela que não tem apoio em
prova nenhuma, é aquela proferida ao arrepio de tudo quanto mostram os autos, é aquela que não tem a
suportá-la, ou justifica-la, um único dado indicativo do acerto da conclusão adotada” (RT 780/653).

Se, porém, por outro lado, a decisão dos jurados encontra algum apoio na prova dos autos, tendo eles
aderido a uma das versões verossímeis dentre as apresentadas, a decisão é mantida, em nome da
soberania dos veredictos e levando-se em conta, em acréscimo, que os jurados julgam segundo a sua
íntima convicção, o que implica dizer, sem a necessidade de fundamentar seus votos. Somente –
repita-se – aquela decisão que não encontrar qualquer arrimo na prova do processo é que autorizará
novo julgamento com base nesse dispositivo legal (Código de Processo Penal e Lei de Execução Penal
Comentados. 4ª ed. – Salvador: JusPodivm, 2020, págs. 1636/1637)

No caso dos autos, na fase inquisitorial foram ouvidas inúmeras pessoas que indicaram que o réu
SILVIO BUENO era conhecido na região como “Cara de Rato”, enquanto o réu GILBERTO era
conhecido como “Steve”. Quase a totalidade das oitivas colhidas pela autoridade policial, a Delegada
Renata Malafaia, afirmaram que “Cara de Rato” e “Steve” faziam parte de um grupo de policiais
“bandidos”, assim chamados porque costumavam praticar diversos ilícitos. Adentravam em residências
sem autorização judicial, realizavam abordagens violentas, espancavam os abordados e os ameaçavam.
Além disso, quando encontravam drogas e armas de fogo, não levavam os objetos e tampouco os
supostos autores dos crimes de tráfico e porte de arma para a Delegacia. Antes, tomavam para si os
entorpecentes e as armas apreendidas, havendo inclusive notícias de que vendiam posteriormente.

As declarações colhidas pela Delegada na fase do inquérito foram confirmadas na primeira fase do rito
escalonado do Júri, segundo se pode aferir do depoimento das testemunhas Fábio Santos e Ezequiel.
Estes dois apontaram “Cara de Rato” e “Steve” como sendo os réus SILVIO BUENO e GILBERTO.
Contaram que os policiais entraram na residência onde eles estavam com várias outras pessoas fazendo
uso de drogas, sem apresentar ordem judicial. “Cara de Rato” e “Steve” pegaram todo o entorpecente
que estava no local (tijolos de maconha) e colocou todos na viatura, passando a “rodar” pelo Paranoá.
Mais à frente, os policiais abordaram duas pessoas, uma delas portando uma arma de fogo, as quais
também foram colocadas na viatura, que foi para a Delegacia. Lá chegando, o indivíduo que estava com
a arma de fogo desceu, enquanto todos os demais continuaram na viatura e, posteriormente, foram
liberados. Fábio e Ezequiel afirmaram que na liberação, os réus teriam dito que se os encontrasse
novamente, “daria um fim neles”, ou seja, os mataria.

Também perante o Juiz, foi ouvida a testemunha Eleusa, genitora de Emerson, o qual afirmou ter visto
quando “Cara de Rato” e “Steve” abordaram as três vítimas e as colocaram no interior de uma viatura
policial. Emerson narrou que estava voltando de uma festa naquela madrugada, quando avistou a
abordagem. Destaque-se que o depoimento prestado por Emerson na fase inquisitorial foi colhido na
residência dele, diante de estado de saúde debilitado, motivo pelo qual em Juízo sua genitora foi ouvida e
confirmou as declarações prestadas.

Por fim, foi colhido extenso depoimento da Delegada Renata Malafaia, a qual narrou de maneira firme e
coerente, toda a extensão das investigações. Confirmou ter ouvido um sem número de pessoas que

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apontavam SILVIO BUENO e GILBERTO como os policiais “Cara de Rato” e “Steve”, os quais
praticavam diversos delitos no exercício da função pública. A Delegada confirmou as declarações que
colheu da testemunha Emerson, que viu quando as três vítimas foram abordadas pelos réus e colocadas
dentro de uma viatura policial, durante a madrugada em que elas foram mortas.

Na Sessão Plenária, foi apresentado aos Jurados o depoimento da testemunha Emerson, aquele colhido
na residência em face do delicado estado de saúde. Relembre-se que Emerson afirmou ter visto os réus
abordando as vítimas por volta de 2h00 da madrugada, as quais colocaram numa viatura policial.

Em seguida, a genitora de Emerson foi ouvida, confirmando a lisura do depoimento do filho, bem assim
as informações que ele prestou na ocasião.

Mais uma vez foi colhido extenso e esclarecedor depoimento da autoridade policial responsável pelas
investigações, a Delegada Renata Malafaia, que descreveu para os jurados as diligências e provas
apuradas e o fundamento para ter indiciado os réus SILVIO BUENO e GILBERTO.

A Delegada corroborou as informações colhidas no sentido de que os réus são conhecidos na região
como “Cara de Rato” e “Steve”, os quais fariam parte de um grupo de policiais muito violento, não
apenas com os infratores, mas com qualquer pessoa que eles abordavam, que tomavam para si drogas e
armas que apreendiam. Afirmou que toda a família da vítima Wilson (Juninho) sabia que ele estava
sendo ameaçado e perseguido pelo réu SILVIO BUENO.

Corroborou todas as informações apresentadas pela testemunha Emerson, afirmando que inicialmente ele
não queria prestar depoimento, mas após ela informar que não seria como os policiais da região, mas
estava interessada em “fazer justiça”, Emerson resolveu falar, também porque tinha poucos meses de
vida, afirmando que se tivesse certeza que iria sobreviver, não o faria.

Vale destacar, nesse ponto, que não se ignora que muitos dos depoimentos colhidos pela Delegada
Renata Malafaia foram prestados por pessoas comprometidas com o crime. Contudo, consoante bem
esclarecido pela Delegada, policiais corruptos praticam roubos e extorsão contra criminosos, os quais
possuem drogas e armas, garantindo o ganho na conduta ilícita e, ainda, o silêncio de suas vítimas,
notadamente em razão das ameaças que lhes dirigem que as faz temer pela própria vida.

As declarações de Emerson constituem prova irrefutável da grande dificuldade para apurar crimes
praticados por policiais, considerando o efetivo temor que ele demonstrou, prestando declarações apenas
porque sabia que tinha poucos meses de vida.

O temor que as testemunhas sentem dos réus ficou comprovado pelas declarações da testemunha
Dailson, que na primeira fase disse em Juízo que os viu abordando as vítimas no dia em que elas
desapareceram, porém modificou suas declarações perante o Conselho de Sentença.

Feitas todas essas considerações, verifica-se que a tese acusatória está respaldada em diversos elementos
de prova, notadamente o depoimento da Delegada Renata Malafaia, que descreveu todos os passos da
investigação, corroborando os elementos colhidos na fase inquisitorial, bem como aqueles produzidos
perante o Juiz.

Dessa forma, o Conselho de Sentença acatou a tese sustentada pela acusação, que encontra fundamento
nas provas produzidas em Juízo, sob o crivo do contraditório e da ampla Defesa.

Por oportuno, colaciono julgados desta Corte acerca da matéria:

Não há falar em decisão manifestamente contrária à prova dos autos quando o Conselho de Sentença
escolhe a versão apresentada em Plenário pela acusação para condenar o réu, encontrando amparo nos
elementos de convicção colhidos sob o crivo do contraditório.

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(Acórdão 1241890, 00217305420128070009, Relator: WALDIR LEÔNCIO LOPES JÚNIOR, 3ª Turma
Criminal, data de julgamento: 2/4/2020, publicado no PJe: 17/4/2020. Pág.: Sem Página Cadastrada.)

A opção do júri por uma das teses - da defesa ou da acusação - desde que fundada nas provas
produzidas, não caracteriza a decisão como contrária à prova dos autos.

(Acórdão 1260001, 00022447920188070007, Relator: JAIR SOARES, 2ª Turma Criminal, data de


julgamento: 2/7/2020, publicado no PJe: 7/7/2020. Pág.: Sem Página Cadastrada.)

Assim, por estar a tese acusatória respaldada na prova coligida em Juízo, conclui-se que não se trata de
decisão manifestamente contrária à prova dos autos. Desta forma, em relação ao fundamento contido na
alínea “d” do inciso III do artigo 593 do Código de Processo Penal, as apelações não merecem prosperar.

DO ERRO OU INJUSTIÇA NO TOCANTE À APLICAÇÃO DA PENA (ART. 593, INC. III,


ALÍNEA “C”, DO CPP)

Réu SILVIO BUENO DOS REIS

Na primeira fase, o MM. Juiz fixou a pena-base em 16 (dezesseis anos) e 6 (seis) meses de reclusão
para cada um dos crimes de homicídio em face da valoração negativa da culpabilidade e da conduta
social, avaliadas sob os seguintes fundamentos:

A culpabilidade merece ser valorada em desfavor do acusado, pois se trata de policial militar que no
exercício de sua função praticou dolosamente o crime de homicídio em questão. A reprovabilidade do
comportamento do acusado é, assim, mais acentuada do que a de um cidadão comum, pois o réu tinha o
dever de atuar na garantia da segurança pública, contendo a criminalidade, mas ao reverso, utilizou-se
da função de militar para praticar o crime em questão.

Trata-se de réu tecnicamente primário e de bons antecedentes.

A conduta social do acusado também merece ser valorada em seu desfavor. Nos autos constam diversos
depoimentos comprobatórios do mau comportamento profissional do acusado que, segundo consta, à
época dos fatos costumava ameaçar, agredir, extorquir, roubar e matar moradores da região do
Paranoá, envolvidos com crimes ou não. Assim exemplificando consta os depoimentos de fls. 295/298,
551/555, 562/564 e 571/573.

Condutas como estas vergastam o tecido social, incutindo nas pessoas a certeza da falência do Estado,
incapaz muitas vezes de punir os privilegiados - aqueles que detêm o poder econômico, político ou
mesmo aqueles que detêm apenas um pequeníssimo naco do poder estatal. Decantação é o nome
apropriado para separar os bons dos maus policiais, num processo de contribuição, ainda que mínima,
para o longo percurso até o estabelecimento de uma polícia que inspire confiança e respeito.

Não há maiores elementos para que se faça um correto julgamento sobre a personalidade do acusado.

O motivo do delito não restou suficientemente esclarecido.

As circunstâncias do crime foram avaliadas pelo Conselho de Sentença, que reconheceram o emprego
de meio cruel e do recurso que impossibilitou a defesa da vítima. Contudo o emprego do meio cruel será
utilizado para qualificar o delito e do recurso que impossibilitou a defesa da vítima será analisado tão
somente na segunda fase de aplicação da pena.

Número do documento: 21041616520284900000024142552


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As consequências do crime foram aquelas comuns ao tipo.

O comportamento anterior da vítima não pode ser reconhecido como circunstância favorável ao
acusado.

Desta forma, considerando a utilização do meio cruel para qualificar o crime e a existência de duas
circunstâncias judiciais desfavoráveis (culpabilidade e conduta social), fixo a pena base acima do
mínimo legal, em 16 (dezesseis) anos e 06 (seis) meses de reclusão (ID 13910141 – fls. 2/3)

A culpabilidade, como circunstância judicial, deve ser entendida e concretamente fundamentada na


reprovação social que o crime e o autor do fato merecem. É o grau de censura da ação ou omissão do réu
que deve ser valorada a partir da existência de um incremento de reprovação social de sua conduta
(SCHMITT, Ricardo Augusto. Sentença penal condenatória, teoria e prática. 8ª Ed. Editora
JusPODIVM: Salvador/BA, 2013, p. 114).

Nesse contexto, a análise desfavorável da referida circunstância deve ser mantida pois a prática do crime
por agente público que tem o dever de atuar justamente na garantia da segurança pública, torna a conduta
ainda mais reprovável.

Nesse sentido, confiram-se julgados desta Turma:

Deve ser mantida a avaliação negativa da circunstância judicial da culpabilidade, considerando que se
encontra fundamentada em elementos concretos dos autos, restando demonstrado o elevado grau de
audácia do acusado no cometimento do crime objeto de análise.

(Acórdão nº 1171180, 20170110019362APR, Relator: WALDIR LEÔNCIO LOPES JÚNIOR, 3ª


TURMA CRIMINAL, Data de Julgamento: 09/05/2019, Publicado no DJE: 17/05/2019. Pág.: 8144/8160
- grifo nosso)

A análise negativa da culpabilidade deve ser mantida por ter sido fundamentada em elementos
concretos dos autos, pois demonstrado que o crime foi cometido na presença de criança com apenas
quatro anos de idade, sobrinha da vítima.

(Acórdão nº 1171571, 20171310038509APR, Relator: ROBERVAL CASEMIRO BELINATI, 2ª


TURMA CRIMINAL, Data de Julgamento: 16/05/2019, Publicado no DJE: 20/05/2019. Pág.:
4979-4990 - grifo nosso)

A respeito da conduta social, trata-se de vetor pelo qual se analisa o comportamento do agente no seu
próprio meio social, diante de familiares, amigos e vizinhos, bem como no local de trabalho. “Deve ser
valorado o relacionamento familiar, a integração comunitária e a responsabilidade funcional do agente
. Serve para aferir sua relação de afetividade como os membros da família, o grau de importância na
estrutura familiar, o conceito existente entre as pessoas que residem em sua rua, em seu bairro, o
relacionamento pessoal com a vizinhança, a vocação existente para o trabalho, para a ociosidade e
para a execução de tarefas laborais.” (SCHMITT, Ricardo Augusto. Sentença penal condenatória,
teoria e prática. 8ª Ed. Salvador: Jus Podivm, 2013, Pag. 130 – grifo nosso).

No caso, ficou comprovado o péssimo comportamento do réu na região em que realizava suas atividades
laborais, sendo temido pela população, o que justifica a valoração negativa da indigitada circunstância,
nos termos da jurisprudência que passo a colacionar:

Número do documento: 21041616520284900000024142552


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A circunstância judicial da conduta social leva em consideração o papel do réu na comunidade e no
meio social em que vive. Havendo informação de que ele integra gangue da região, conhecida por
cometer delitos com violência, causando intranquilidade à comunidade e ao meio social, adequada a
valoração negativa da conduta social.

(Acórdão 1271945, 07068982820198070009, Relator: WALDIR LEÔNCIO LOPES JÚNIOR, 3ª Turma


Criminal, data de julgamento: 6/8/2020, publicado no PJe: 17/8/2020. Pág.: Sem Página Cadastrada.)

A conduta social advém da análise do convívio social, familiar e profissional do agente, tendo um
caráter comportamental. 5.1. comprovando-se, por mais de um testemunho, o comportamento incisivo e
público de praticar reiteradas violências domésticas, resta evidenciada conduta social negativa.

(Acórdão 1261811, 00097269020188070003, Relator: DEMETRIUS GOMES CAVALCANTI, 3ª


Turma Criminal, data de julgamento: 2/7/2020, publicado no PJe: 15/7/2020. Pág.: Sem Página
Cadastrada.)

Diante do exposto, mantenho a valoração negativa da conduta social.

No que concerne ao quantum de aumento, impende registrar que o legislador não impôs a observância de
qualquer critério lógico ou matemático para o cálculo da dosimetria.

O Magistrado tem discricionariedade, vinculada aos princípios da individualização da pena,


razoabilidade e proporcionalidade, para fixar a sanção mais adequada para repressão e prevenção do
crime, não se descurando da essencial fundamentação.

A jurisprudência tem mantido a pena fixada com a devida motivação, estabelecendo como quantum
norteador a fração de 1/8 (um oitavo) sobre o intervalo entre os limites mínimo e máximo abstratamente
cominados no tipo legal, para aumento da pena-base em razão da análise desfavorável de cada uma das
circunstâncias judiciais do artigo 59 do Código Penal.

Nesse sentido:

Não há falar em ofensa à proporcionalidade, diante do quantum relativo a 1/8 sobre o termo médio na
exasperação da pena-base, tendo em vista, sobretudo, o mínimo e o máximo das penas cominadas
abstratamente ao delito (de 2 a 12 anos de reclusão).

(AgRg no REsp 1571320/AL, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em
18/02/2020, DJe 03/03/2020)

É proporcional a reprimenda aplicada quando o critério de aumento da pena-base adotado na primeira


fase da dosimetria for igual ao resultado da divisão do intervalo entre a pena máxima e mínima do
delito dividido pelo número de circunstâncias do art. 59, do CP, o que corresponde à fração de 1/8 (um
oitavo) para cada circunstância negativa.

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(Acórdão 1234918, 00011751820188070005, Relator: JESUINO RISSATO, Revisor: WALDIR
LEÔNCIO LOPES JÚNIOR, Câmara Criminal, data de julgamento: 9/3/2020, publicado no PJe:
16/3/2020. Pág.: Sem Página Cadastrada.)

Mostra-se razoável e proporcional a exasperação da pena-base na fração de 1/8 (um oitavo) para cada
uma das circunstâncias judiciais desfavoráveis, considerando a diferença entre a pena máxima e
mínima para o tipo penal, como empregado na espécie.

(Acórdão 1230485, 00080893820178070004, Relator: CARLOS PIRES SOARES NETO,Revisor:


DEMETRIUS GOMES CAVALCANTI, Câmara Criminal, data de julgamento: 17/2/2020, publicado
no PJe: 27/2/2020. Pág.: Sem Página Cadastrada.)

Respeita os limites previstos pela jurisprudência a majoração de cada circunstância judicial negativa na
fração de 1/8. 8. Apelação conhecida e desprovida.

(Acórdão 1239203, 00053425520168070003, Relator: SEBASTIÃO COELHO, 3ª Turma Criminal, data


de julgamento: 19/3/2020, publicado no PJe: 13/4/2020. Pág.: Sem Página Cadastrada.)

Na espécie, o delito de homicídio qualificado possui preceito secundário com penas mínima e máxima,
respectivamente, de 12 (doze) e 30 (trinta) anos de reclusão, de modo que o aumento por cada
circunstância judicial negativa pode ser da ordem de 2 (dois) anos e 3 (três) meses de reclusão,
consoante iterativa jurisprudência.

Assim, diante da existência de duas circunstâncias judiciais desfavoráveis, mantenho a pena-base de


cada um dos crimes em 16 (dezesseis) anos e 6 (seis) meses de reclusão.

Na segunda fase, diante da agravante do emprego de recurso que impossibilitou a defesa das vítimas,
prevista no artigo 61, inciso II, alínea “c”, do Código Penal, devidamente reconhecida pelo Conselho de
Sentença, a pena intermediária de cada um dos delitos foi fixada em 19 (dezenove) anos e 3 (três) meses
de reclusão.

A jurisprudência admite ser possível, em caso de pluralidade de qualificadoras, a utilização de uma


delas para modular os limites mínimo e máximo abstratamente cominados, enquanto a outra ou demais
poderão agravar a reprimenda, caso prevista como circunstância legal, ou, residualmente, para majorar a
pena-base, como circunstância judicial desfavorável.

Em relação ao quantum de aumento, verifica-se que correspondeu à fração de 1/6 (um sexto)
recomendada pela jurisprudência. Sobre o tema, cito o seguinte precedente do eg. Superior Tribunal de
Justiça:

"Conforme entendimento desta Corte Superior, embora não fixado pelo Código Penal a quantidade de
aumento de pena em decorrência das agravantes genéricas, deve ela se pautar pelo percentual mínimo
fixado para as majorantes, que é de 1/6 (um sexto). Entretanto, pode ser fixado patamar superior para o
aumento mediante fundamentação concreta, que no caso em tela evidencia-se na reincidência específica
do Paciente no crime de tráfico de drogas" (HC n. 467.755/SP, relatora Ministra LAURITA VAZ,
SEXTA TURMA, julgado em 24/9/2019, DJe 4/10/2019, grifei).

Número do documento: 21041616520284900000024142552


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(AgRg no HC 606.737/SP, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA,
julgado em 15/09/2020, DJe 22/09/2020)

Portanto, correta a fixação da pena, nesta fase, em 19 (dezenove) anos e 3 (três) meses de reclusão
para cada um dos homicídios praticados.

Na terceira fase, à míngua de causas de redução ou aumento, preservo a pena definitiva no mesmo
patamar.

Da Unificação

O d. Magistrado aplicou o concurso formal de crimes, asseverando que “o réu praticou os crimes
mediante uma única ação, composta de múltiplos atos, consistente nos disparos de arma de fogo
perpetrados contra as três vítimas, e não havendo comprovação de que possuía desígnios autônomos em
relação a cada uma das vítimas, adoto uma das penas e sobre ela aplico o patamar de 1/5 (um quinto)
de aumento, fixando de forma definitiva e concreta a pena do réu em 23 (vinte e três) anos, 01 (um) mês
e 06 (seis) dias de reclusão” (ID 13910141 – fl. 6).

O Ministério Público apela, alegando que estaria comprovada a existência de desígnios autônomos nas
condutas praticadas, de modo que deve ser aplicado o concurso formal impróprio.

Os réus, em sede de contrarrazões, pediram o reconhecimento da continuidade delitiva, o que será


examinado pois, nada obstante a postulação na via processual incorreta, a questão está inserida no ponto
atacado pelo recurso ministerial.

Não há que se falar em crime continuado pois, de acordo com a redação do artigo 71 do Código Penal,
necessário que o autor, mediante mais de uma ação ou omissão, pratique dois ou mais crimes da mesma
espécie, o que não se verifica.

Nos termos pontuados pelo d. sentenciante, o réu, mediante uma única ação (disparo de arma de fogo)
que foi fracionada em diversos atos executórios (mais de um disparo) alcançou três resultados típicos
distintos, atraindo a regra do concurso formal de crimes.

Sobre o concurso formal configurado por unidade de ação e pluralidade de atos, Rogério Sanchez Cunha
ensina que “embora se exija conduta única para a configuração dessa espécie de concurso, nada impede
que esta mesma conduta seja fracionada em diversos atos, no que se denomina ação única desdobrada”
(Manual de Direito Penal. Parte Geral. 8ª ed. Salvador: JusPodivm, 2020, pág. 627 – grifos do original).

O concurso formal pode ser próprio ou impróprio, a depender da existência ou não de desígnios
autônomos. Sobre o tema, Cleber Masson assim leciona:

Perfeito ou próprio, é a espécie de concurso formal em que o agente realiza a conduta típica, que
produz dois ou mais resultados, sem agir com desígnios autônomos.

Desígnio autônomo ou pluralidade de desígnios, é o propósito de produzir, com uma única conduta,
mais de um crime. É fácil concluir, portanto, que o concurso formal perfeito ou próprio, ocorre entre
crimes culposos, ou então entre um crime doloso e um crime culposo.

Imperfeito ou impróprio, é a modalidade de concurso formal que se verifica quando a conduta dolosa
do agente e os crimes concorrentes derivam de desígnios autônomos. Portanto, envolve crimes dolosos,
qualquer que seja sua espécie (dolo direto ou dolo eventual (Direito Penal: Parte Geral – V. 1. 14ª ed.
São Paulo: Método, 2020, pág. 657 – grifo do autor)

Número do documento: 21041616520284900000024142552


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No caso, entendo como demonstrada motivação apenas no que diz respeito à vítima Wilson, que
supostamente teria furtado a residência do policial IVAN. Em razão disso, foi primeiro alvejado por um
tiro que culminou na perda da visão de um olho e depois, foi morto pelos réus.

Quanto às demais vítimas, não vislumbro provas de que haveria desígnio específico em relação a cada
uma delas. Considerando, entretanto, que estavam na companhia de Wilson, acabaram sendo levadas e
tiveram o mesmo destino.

Assim, mantenho a unificação pelo concurso formal próprio, aumentando uma das penas (porque iguais),
na fração de 1/5 (um quinto), concernente à pratica de 3 (três) condutas. Preserva-se a pena definitiva
estabelecida em 23 (vinte e três) anos 1 (um) mês e 6 (seis) dias de reclusão.

O quantum da pena determina o regime inicial fechado para o seu cumprimento, nos termos do artigo 33,
§ 2º, alínea “a”, do Código Penal.

Da perda do cargo

A Defesa pugna pelo afastamento da condenação, ao argumento de que o réu já se encontra na condição
de militar da reserva, sendo vedado ao Poder Judiciário reverter tal situação, no que lhe assiste razão.

Segundo assinalado por Guilherme de Souza Nucci, em comentário ao artigo 92, inciso I, do Código
Penal, “a condenação criminal, portanto, somente afeta o servidor ativo, ocupante efetivo de cargo,
emprego, função ou mandato eletivo. Caso já tenha passado à inatividade, não mais estando em
exercício, não pode ser afetado por condenação criminal, ainda que esta advenha de fato cometido
quando ainda estava ativo” (Código Penal Comentado, 9. ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p.
513).

Nesse sentido decide o eg. Superior Tribunal de Justiça:

PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CORRUPÇÃO PASSIVA. ART. 92,


INCISO I, ALÍNEA "A", DO CÓDIGO PENAL. CASSAÇÃO DE APOSENTADORIA.
IMPOSSIBILIDADE.

1. Atualmente, prevalece nesta Corte a orientação segundo a qual não se admite a cassação da
aposentadoria como efeito penal da condenação com base no inciso I do art. 92 do Código Penal, por
ausência de previsão expressa na norma penal. Precedentes.

2. Agravo regimental desprovido.

(AgRg no REsp 1336980/SC, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA,
julgado em 05/11/2019, DJe 11/11/2019)

RECURSO ESPECIAL. PENAL. CRIME DE TORTURA. POLICIAL MILITAR REFORMADO.


CASSAÇÃO DE APOSENTADORIA. EFEITO EXTRA-PENAL DA SENTENÇA CONDENATÓRIA.
INAPLICABILIDADE DO ART. 92, INCISO I, ALÍNEA B, DO CÓDIGO PENAL. AUSÊNCIA DE
PREVISÃO LEGAL. POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DA PENALIDADE DE CASSAÇÃO DE
APOSENTADORIA NA ESFERA ADMINISTRATIVA, NOS TERMOS LEGALMENTE PREVISTOS.
RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO.

Número do documento: 21041616520284900000024142552


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1. O efeito da condenação relativo à perda de cargo público, previsto no art. 92, inciso I, alínea b, do
Código Penal, não se aplica ao servidor público inativo, uma vez que ele não ocupa cargo e nem exerce
função pública.

2. O rol do art. 92 do Código Penal é taxativo, não sendo possível a ampliação ou flexibilização da
norma, em evidente prejuízo do réu, restando vedada qualquer interpretação extensiva ou analógica dos
efeitos da condenação nele previstos.

3. Configurando a aposentadoria ato jurídico perfeito, com preenchimento dos requisitos legais, é
descabida sua desconstituição, desde logo, como efeito extrapenal específico da sentença condenatória;
não se excluindo, todavia, a possibilidade de cassação da aposentadoria nas vias administrativas, em
procedimento próprio, conforme estabelecido em lei.

4. Recurso especial desprovido.

(REsp 1317487/MT, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 07/08/2014, DJe
22/08/2014)

AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. PENAL. ART. 92 DO CP. EFEITO DA


CONDENAÇÃO PENAL. PERDA DO CARGO PÚBLICO. APOSENTADORIA SUPERVENIENTE.
IMPOSSIBILIDADE DE CASSAÇÃO. AUSÊNCIA DE PREVISÃO EXPRESSA NO CP. PRECEDENTES
DESTA CORTE SUPERIOR.

1. O art. 92 do Código Penal apresenta hipóteses estreitas de penalidade, entre as quais não se encontra
a perda da aposentadoria e, por se tratar de norma penal punitiva, não admite analogia in malam
partem.

2. Precedentes da Quinta e da Sexta Turma.

3. Agravo regimental improvido.

(AgInt no REsp 1529620/DF, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em
20/09/2016, DJe 06/10/2016)

Este eg. Tribunal de Justiça trilha o mesmo entendimento:

REVISÃO CRIMINAL. ESTUPRO DE VULNERÁVEL. SERVIDOR PÚBLICO. CABO DO BOMBEIRO


MILITAR. PERDA DO CARGO. CONDENAÇÃO CONTRÁRIA A TEXTO EXPRESSO DA LEI.
OCORRÊNCIA. MILITAR NA RESERVA REMUNERADA. CASSAÇÃO DE APOSENTADORIA PELA
VIA ADMINISTRATIVA. POSSIBILIDADE. REVISÃO CRIMINAL PROCEDENTE.

1. Cuida-se a revisão criminal de ação autônoma de impugnação, de competência originária dos


tribunais, que se destina à revisão de sentença condenatória nas hipóteses taxativamenteprevistas no
artigo 621 da Norma Processual Penal.

2. A perda do cargo decretada na sentença penal condenatória encontra-se devidamente fundamentada


na incompatibilidade do delito praticado, de gravidade extrema (estupro de vulnerável), e da elevada
pena aplicada (8 anos e 2 meses de reclusão) com a função pública desempenhada pelo ora requerente,
qual seja: de Cabo do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal.

Número do documento: 21041616520284900000024142552


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Assinado eletronicamente por: NILSONI DE FREITAS CUSTODIO - 16/04/2021 16:52:02 Num. 24905708 - Pág. 44
3. A Lei nº 7.479/86 - que aprovou o Estatuto dos Bombeiros-Militares do Corpo de Bombeiros do
Distrito Federal - estabelece como hipóteses de exclusão do serviço ativo tanto a transferência para
areserva remunerada como a reforma (artigo 88, incisos I e II).

4. A prova nova apresentada em revisão criminal atesta que requerente encontrava-se, ao tempo da
sentença penal condenatória, na reserva remunerada.

5. O Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento no sentido de que o artigo 92, inciso I, alínea
"b", do Código Penal, é taxativo e não comporta interpretação extensiva ou analogia, logo, seus efeitos
são restritos aos cargos da ativa, não abarcando aposentados nem militares da reserva remunerada ou
reformados.

6. A cassação da aposentadoria, se cabível, deve ser operada no âmbito administrativo, e não como
consequência do comando encartado na sentença penal condenatória, o qual se decota pela procedência
do pedido revisional.

(Acórdão 1031373, 20170020001647RVC, Relator: SILVANIO BARBOSA DOS SANTOS, , Revisor:


JOÃO TIMÓTEO DE OLIVEIRA, CÂMARA CRIMINAL, data de julgamento: 10/7/2017, publicado
no DJE: 18/7/2017. Pág.: 115)

Dessa forma, considerando-se constar dos autos (ID 13910122 – fl. 1) que o apelante foi transferido para
a reserva remunerada em 7/12/2017, a decretação da perda do cargo deve ser afastada com relação a ele.

Réu GILBERTO DUARTE RIVAROLI FILHO

Na primeira fase, o d. Sentenciante, com os mesmos fundamentos declinados na dosimetria do corréu


SILVIO, valorou negativamente a culpabilidade e a conduta social e fixou a pena-base em 16
(dezesseis anos) e 6 (seis) anos de reclusão para cada um dos crimes de homicídio perpetrados, o
que, pelas razões já declinadas, deve ser mantido.

Destaque-se que o réu, como policial militar, tinha por dever resguardar a segurança da população e não
o contrário, o que demonstra maior reprovabilidade do comportamento. A conduta social igualmente é
desfavorável, porquanto era conhecido no local onde realizava suas funções como “policial bandido”,
sendo temido não apenas pelos criminosos, mas também pelas pessoas de bem.

Na segunda fase, diante da agravante do emprego de recurso que impossibilitou a defesa das vítimas,
prevista no artigo 61, inciso II, alínea “c” do Código Penal, devidamente reconhecida pelo Conselho de
Sentença, fixou-se a pena intermediária de cada um dos delitos em 19 (dezenove) anos e 3 (três) meses
de reclusão. O quantum de aumento – 1/6 (um sexto) sobre a pena-base – vai ao encontro do
entendimento jurisprudencial e, por isso, será mantido.

Por fim, na terceira fase, à míngua de quaisquer causas de redução ou aumento, a pena definitiva
permanece fixada em 19 (dezenove) anos e 3 (três) meses de reclusão.

No tocante ao concurso de crimes, conforme já explicitado quando da análise da dosimetria do corréu


SILVIO, preservo o concurso formal aplicado na sentença e a sanção definitivamente fixada em 23
(vinte e três) anos 1 (um) mês e 6 (seis) dias de reclusão.

O quantum da pena determina o regime inicial fechado para o seu cumprimento, nos termos do artigo 33,
§ 2º, alínea “a”, do Código Penal.

Da Perda do Cargo

O d. Sentenciante assim fundamentou a sanção:

Número do documento: 21041616520284900000024142552


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Com base no art. 92, I do CP decreto, como efeito extra processual específico da sentença penal
condenatória, a perda do cargo de cada um dos condenados. A pena imposta é superior a 04 (quatro)
anos de reclusão e, ademais, os acusados praticaram o crime no exercício da atividade pública,
valendo-se da condição de policial. No caso em questão, não há compatibilidade entre o crime
praticado e a permanência dos acusados na condição de policial militar. A instituição da polícia militar,
que tem a nobre missão constitucional de preservar a segurança e combater a criminalidade não pode
ter em seus quadros pessoa condenada pela prática de um crime tão perverso e tão abjeto como o
narrado nestes autos. Pelo contrário, deve a sua corporação ser dotada de pessoas integras, com
reputação ilibada e idoneidade moral (STJ, AgRg-REsp 824.72 l/MT, Rei. Min. Arnaldo Esteves Lima,
5a T., DJe 31/5/2010) (ID 13910141 – fl. 12)

Dispõe o Código Penal acerca dos efeitos genéricos e específicos da condenação:

Art. 91 - São efeitos da condenação:

[...]

Art. 92 - São também efeitos da condenação:

I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo:

a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes
praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública;

b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais
casos.

Trata-se, como expressamente estabelece o parágrafo único do artigo 92, de efeito que exige motivação
idônea.

Pois bem. No caso, trata-se de condenação a pena superior a 4 (quatro) anos de reclusão, sendo o crime
cometido por policial militar que tinha como função primordial zelar pela segurança pública. Ao revés,
utilizou-se do cargo público para praticar triplo homicídio qualificado, tratando-se de pessoa temida pela
comunidade onde trabalhava, onde era conhecido como “policial bandido”. Consoante bem asseverado
pelo d. Sentenciante, não há compatibilidade entre o crime praticado e a permanência do acusado na
condição de policial militar.

Dessa forma, entendo como devidamente fundamentada a sanção administrativa, motivo pelo qual a
mantenho.

Nesse mesmo sentido:

8. Esta Corte tem entendido que a imposição da pena de perda do emprego público em nada se
relaciona com a modalidade de pena corporal estabelecida para o sentenciado, sendo uma

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consequência administrativa da condenação imposta, exigindo-se, para tanto, o preenchimento de
requisitos objetivos (HC 338.636/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em
07/04/2016, DJe 15/04/2016).

9. Decretada, de forma expressa, a inabilitação e perda do cargo público pelo órgão judicante, com a
observância dos requisitos legais objetivos do art. 92, I, a, do CP e art. 1º, § 2º, do Decreto-Lei 201/67,
inexiste ilegalidade.

10. Agravos regimentais improvidos.

(AgRg no REsp 1571320/AL, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em
18/02/2020, DJe 03/03/2020)

A decretação da perda da função pública foi devidamente motivada, pois foi ressaltado que o Paciente,
integrante das Forças Armadas, afrontou os valores máximos da sociedade e os princípios basilares da
moralidade dispostos no Estatuto do Militar. Com as condutas do Condenado, foram gravemente
violados os seguintes preceitos morais e de ética militar: "respeitar a dignidade da pessoa humana";
"cumprir seus deveres de cidadão"; "proceder de maneira ilibada na vida pública e na particular"; bem
como "zelar pelo bom nome das Forças Armadas e de cada um de seus integrantes, obedecendo e
fazendo obedecer aos preceitos da ética militar", o que, de fato, autoriza a decretação da perda do seu
cargo público, independentemente, inclusive, de pedido expresso da Acusação, por ser um efeito
extrapenal da condenação.

(HC 471.335/PE, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 10/12/2019, DJe
17/12/2019)

Deve ser decretada a perda do cargo, como efeito da condenação à pena privativa de liberdade superior
a 04 (quatro) anos, por policial que, usando arma da corporação, matou uma pessoa e tentou matar
outra, por motivo fútil e mediante recurso que dificultou a defesa da vítima falecida, pois tais crimes
hediondos revelam a total inidoneidade para o exercício da função de agente da área de segurança
pública.

(Acórdão 1273810, 00022230620188070007, Relator: CRUZ MACEDO, 1ª Turma Criminal, data de


julgamento: 20/8/2020, publicado no DJE: 28/8/2020. Pág.: Sem Página Cadastrada.)

A respeito do pedido de concessão do direito de apelar em liberdade, formulado pela Defesa do apelante
GILBERTO DUARTE RIVAROLI FILHO, necessário consignar que a prisão foi decretada no curso
deste feito, porém em razão de fatos distintos, observada a contemporaneidade.

A prisão foi motivada pela evidente periculosidade do réu, que em tese, se aproximou de uma Delegada
que reside em Brasília, com a finalidade de, por meio dela, incutir temor na Delegada responsável pela
apuração dos fatos sob exame.

Ademais, o réu foi recentemente condenado pelo crime de porte de arma, o que demonstra a reiteração
delitiva.

Dessa forma, entendo que estão configurados os requisitos legais - artigo 312 do Código de Processo
Penal - notadamente a necessidade da prisão para a garantia da ordem pública, motivo pelo qual nego ao
apelante GILBERTO DUARTE RIVAROLI FILHO o direito de recorrer em liberdade.

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Ante o exposto, CONHEÇO DOS RECURSOS. REJEITO AS PRELIMINARES. NEGO
PROVIMENTO ao interposto pelo MINISTÉRIO PÚBLICO E PELO RÉU GILBERTO
DUARTE RIVAROLI FILHO. DOU PARCIAL PROVIMENTO à apelação interposta por SILVIO
BUENO DOS REIS somente para afastar a decretação da perda do cargo público. Mantenho a
prisão preventiva do apelante GILBERTO DUARTE RIVAROLI FILHO.

Comunique-se ao Cadastro Nacional de Condenados por ato de Improbidade Administrativa e por ato
que implique Inelegibilidade - CNCIAI, conforme Resolução nº 172, de 8 de março de 2013, do
Conselho Nacional de Justiça e Portaria Conjunta nº 60, de 9 de agosto de 2013, deste Tribunal.

É o voto.

O Senhor Desembargador JESUINO RISSATO - Revisor


Com o relator
O Senhor Desembargador WALDIR LEÔNCIO LOPES JÚNIOR - 1º Vogal
Com o relator

DECISÃO

CONHECIDO. PRELIMINARES REJEITADAS. DEU-SE PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO


DE S. B. R. NEGOU-SE PROVIMENTO AOS RECURSOS DO RÉU G. D. R. F. E DO MPDFT.
UNÂNIME

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