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DICAS PRÁTICAS PARA A INCLUSÃO EDUCACIONAL

Ao contrário do que se ouve


constantemente, a criança com
deficiência ou transtorno não deve
estar na escola apenas com o objetivo
de socializar. A escola é um dos
espaços para socialização, mas não é o
único. Na escola se estuda, se aprende,
e este deve ser o foco: a aprendizagem.

A questão sobre a qual se deve


refletir é que talvez alguns estudantes
não consigam aprender tudo o que se Existem muitos materiais de apoio ao professor com dicas e sugestões para
quer, no tempo que se quer e da forma o trabalho inclusivo. Entretanto, nem tudo se aplica a todos os alunos em
virtude de suas diferenças.
como se quer.

Se o professor direcionar toda a sua expectativa



 SUGESTÃO DE VÍDEO esperando que o aluno com deficiência aprenda como os que
Assista ao vídeo “Festa nas nuvens”, não têm deficiência, ou que ele tenha o mesmo desempenho
um curta-metragem que possibilita
que os demais, não haverá inclusão, pois, na maioria dos
uma reflexão a respeito das
diferenças e individualidades. casos, os conteúdos  a serem trabalhados não podem nem
precisam ser os mesmos, nem na mesma quantidade. As
atividades e avaliações deverão ser adaptadas às
necessidades e possibilidades de cada aluno. Os recursos utilizados e as estratégias de ensino
precisam ter a equidade como princípio, visto que esse conceito se remete a adaptar as regras para
torná-las mais justas, para oferecer o que cada um precisa, à medida que precisa, efetivamente.

Este material traz, a seguir, uma lista de dicas baseadas no trabalho da autora, como se fosse a
própria pessoa com deficiência ou transtorno falando. Essas dicas estão baseadas no convívio e
trabalho diário tanto com as crianças e os adolescentes como com os professores que conversam
com a autora sobre as suas principais angústias e dúvidas. Por essa razão, cada lista inicia com a
expressão “Na prática”. É importante ressaltar que dislexia e TDAH não são considerados
transtornos que compõem o público-alvo da Educação Especial, de acordo com as políticas
nacionais. No entanto, como estão bastante presentes nas salas de aulas de todas as escolas, vale
citá-los também.
Na prática, o que as pessoas com autismo nos ensinam
todos os dias? SUGESTÃO DE FILME
Assista ao documentário “Autismo –

1. Respeite o meu jeito de ser e de agir.


o musical” (2007), que retrata de
forma franca a vida e as angústias
de cinco famílias diferentes com
2. Eu posso não corresponder às suas expectativas crianças autistas. Todas as crianças
em todos os momentos. participavam do Projeto Miracle
(programa de teatro para crianças
3. Tenho características próprias que me com necessidades especiais).
diferenciam dos padrões de comportamento aos
quais você está “acostumado”.

4. Posso não me sentir confortável com certos barulhos, sons altos, muita luminosidade,
alguns cheiros, sabores, texturas, tanto de roupas quanto de alimentos.

5. Não me force a fazer, escutar, vestir ou comer coisas de que eu não gosto.
6. Eu entendo o que você fala, percebo as suas caras e bocas, a sua crença ou descrença
em mim.

7. Às vezes, prefiro ficar sozinho.


8. Aquilo que você planejou pode não ser o melhor para mim.
9. Na escola, compreenda que eu posso demorar bastante para mostrar o que eu já
aprendi, ou para aprender o que você quer que eu aprenda.

10. Posso não conseguir me concentrar por muito tempo. Às vezes, só consigo isso por
cinco minutos, ou menos.

11. Preciso de atividades e avaliações adaptadas ao meu estilo de aprendizagem e que


atendam às minhas necessidades, ou seja, observe com atenção o que eu preciso
aprender de fato, e não aquilo que está escrito que você precisa me ensinar.

12. Não me dê para fazer as mesmas coisas que você dá para os meus colegas.
13. Compreenda que às vezes eu preciso sair da sala de aula para dar uma volta no pátio.
14. Eu aprendo melhor se você me mostrar como fazer. O exemplo e o recurso visual me
ajudam muito.

15. Tudo isso que está escrito aí em cima pode não servir para mim. Tudo depende do item
1, do meu jeito de ser e de funcionar.
Há mais alguns itens que poderiam ser acrescentados aqui, mas aí já seria praticamente um
novo livro. O importante é trazer o tema ao diálogo, apresentar e conversar sobre as características
de cada um, pesquisar, buscar pessoas que já tenham alguma ou muita experiência para construir
conhecimento e desenvolver-se profissionalmente rumo a um ensino de qualidade para todos,
porém adequado a cada situação. Esse assunto é urgente!

De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças – CDC dos EUA , vem ao
mundo um autista a cada 45 nascimentos. É possível constatar isso diariamente em escolas,
ambulatórios, clínicas e consultórios. É urgente que iniciativas de adaptabilidade sejam efetivadas
para que todos vivam melhor. Isso inclui os próprios autistas, as suas famílias e os seus professores.
Para estes, é preciso formação adequada e atitude de mediador. Isso é fundamental!

Profissionais e familiares estão sedentos por compreensão, angustiados por não saber o que e
como fazer, buscando direitos, cumprindo – ou não – com seus deveres.

No que se refere à avaliação da aprendizagem como



SUGESTÃO DE LEITURA
 processo dinâmico, considera-se tanto o conhecimento
Veja a história da professora que, prévio e o nível atual de desenvolvimento do aluno quanto
com uma proposta inclusiva,
as possibilidades de aprendizagem futura, configurando uma
possibilitou o acesso de três alunas
surdas às aulas de teatro. ação pedagógica processual e formativa que analisa o
desempenho do aluno em relação ao seu progresso
individual, prevalecendo na avaliação os aspectos
qualitativos que indiquem as intervenções pedagógicas do professor. No processo de avaliação, o
professor deve criar estratégias considerando que alguns alunos podem demandar ampliação do
tempo para a realização dos trabalhos e o uso da língua de sinais, de textos em braille, de
informática ou de tecnologia assistiva como uma prática cotidiana, dependendo do caso.
Na prática, o que as pessoas com deficiência intelectual
nos ensinam todos os dias?
SUGESTÃO DE FILME
O filme “Amor verdadeiro” (2005)
1. Eu posso aprender muito mais coisas do que você conta a história de Rachel Simon,
imagina, só que isso pode não acontecer do jeito e uma fotógrafa que, após a morte
no tempo que você espera. do pai, se reaproxima da irmã que
tem deficiência intelectual.
2. Conteúdos de Língua Portuguesa, Matemática,
História, Geografia, Ciências e outros podem não
ser o mais importante daquilo que eu preciso aprender. Preste atenção na minha
necessidade mais emergencial .

3. Aquele profissional de apoio (também chamado de tutor) que você tanto quer para
mim precisa me ajudar a aprender coisas que me deixem mais independente, senão eu
não vou aprender nunca a fazer sozinho o que preciso fazer.

4. Frequentemente vou me comportar como uma pessoa que tem bem menos idade do
que eu realmente tenho, e aí está uma das minhas grandes belezas.

5. Sou divertido, descontraído, até engraçado. Aproveite esse meu jeito de ser e aprenda
comigo. Acredite que a vida fica mais suave assim!

6. Gosto demais da escola! E nela espero me divertir, conviver com os meus colegas e
aprender. Ela não deve ser um espaço que eu frequento só porque os meus pais
querem ou porque as leis obrigam. Muito menos um lugar onde eu não me sinta bem.
Sou feliz e quero ser feliz na escola também!

7. Posso demorar um pouco para aprender a comer sem derrubar, sem me sujar, pedir
para ir ao banheiro, me vestir sozinho, olhar para os dois lados da rua antes de
atravessar, mas eu vou aprender. Acredite em mim e me ajude com paciência.

8. Não se canse de repetir várias e várias vezes, de muitas maneiras diferentes, até que
eu aprenda.

9. Posso trabalhar, sim. Há muitas tarefas que eu posso executar, inclusive com mais
envolvimento do que muitas outras pessoas.

10. Acredite que, depois que eu passar pela sua vida, você nunca mais será o mesmo. Com
toda certeza, será melhor!
Na prática, o que as pessoas com dislexia nos ensinam
SUGESTÃO DE FILME
todos os dias?
O filme indiano “Como as estrelas
no céu, cada criança é especial”
1. A área do meu cérebro responsável pela leitura e (2007) retrata de forma
escrita não funciona como nas pessoas que não emocionante a história de um
têm dislexia, por isso eu tenho dificuldade para menino de 9 anos com dislexia.

ler e/ou escrever.

Uma pessoa que não tem dislexia, quando está lendo, ativa três áreas do cérebro: região inferior frontal; região
parietal-temporal; região occipital-temporal. Ao ler, a região occipital-temporal é ativada; nela, ocorre a
identificação das letras. Em seguida, a região parietal-temporal também é ativada e possibilita à pessoa
compreender o significado da palavra. Por último, a região inferior frontal é ativada e processa a informação
produzida pelas duas áreas. Quando o disléxico lê, as regiões occipital-temporal e parietal-temporal são menos
ativadas que o normal e, para compensar essa situação, ele acaba exigindo muito da região inferior frontal tanto
esquerda como direita. Dessa forma, a dislexia dificulta que a pessoa, ao ler, interprete as letras e os significados
delas e analise essas informações.

2. Eu já nasci assim, não fiquei assim com o passar dos anos. Meu pai, minha mãe, meu
avô, um tio, alguém da minha família também é disléxico, mesmo que ninguém saiba
ou nunca tenha sido diagnosticado.
3. Eu serei disléxico para sempre, mas com o tempo vou encontrando estratégias para
melhorar a minha leitura e a minha escrita, até que isso não me atrapalhe mais.

4. Eu sou inteligente. Não tenho dificuldades intelectuais nem cognitivas. Por isso
algumas pessoas não entendem a minha dificuldade.

5. Posso ter mais dificuldades relacionadas à forma como eu vejo as letras ou como eu
escuto os sons delas. Isso faz com que eu troque a letra “p” por “b” ou por “q”, pois só
muda a posição da perninha da letra. Ou troque “v” por “f”, “t” por “d”, pois, quando eu
falo palavras com essas letras, o som é muito parecido.

6. Também posso trocar a posição das letras nas palavras, ou até deixar de colocar
algumas, ou ainda colocar letras a mais.

7. Não consigo copiar tudo que a professora manda, nem no tempo normal da aula. Por
isso parece que eu tenho preguiça, mas não é verdade. Para mim, é muito difícil olhar
para o quadro, ler o que está escrito, gravar na memória, olhar para o caderno e
escrever o que está lá. Isso exige um esforço enorme e, mesmo que eu tente, às vezes
não consigo.

8. Preciso de avaliações orais, ou por desenhos, ou por maquetes, ou por meio de uma
peça de teatro, porque eu sei os conteúdos, só não consigo escrever tudo nas tarefas e
nas provas.

9. Deixe eu gravar as suas explicações, porque, dessa forma, posso escutar de novo em
casa. Essa é uma boa maneira que encontrei para estudar e rever o que você ensinou
na sala de aula.

10. Talvez seja necessário alguém para escrever por mim e também seria bom eu fazer as
provas em uma sala silenciosa. Mas me pergunte antes se eu prefiro isso, porque às
vezes eu me sinto envergonhado por precisar de alguns recursos especiais.

11. Posso precisar que as letras dos textos e das tarefas sejam maiores e também que tenha
mais espaço entre as linhas, porque eu enxergo as letras todas misturadas, e elas
caminham no papel, sobem em direção aos meus olhos, como se eu as enxergasse em
3D, embora isso não aconteça com todos os disléxicos.

12. Também me confundo com as linhas do texto. Quando chego ao fim da linha, não sei
em qual devo continuar a leitura, por isso uma régua pode me ajudar. Permita que eu
use os recursos que facilitam o meu desempenho.

13. Converse comigo, pergunte do que eu preciso, como eu aprendo e como você pode me
ajudar a aprender melhor e mais rápido.

14. Vamos em frente, porque eu consigo, e logo você




SUGESTÃO DE LEITURA
vai perceber o quanto pode me ajudar! 
Veja a notícia do jornal El País a
respeito de uma pesquisa
desenvolvida com base na análise
do cérebro de 45 disléxicos.
Na prática, o que as pessoas com TDAH nos ensinam todos os dias?

1. O diagnóstico do transtorno do déficit de atenção com hiperatividade pode estar


equivocado. Talvez eu tenha outra coisa, que não é bem isso.
2. Se o diagnóstico estiver correto, eu posso não conseguir prestar atenção em algo ou
parar quieto, mesmo que eu queira. Isso acontece porque eu tenho uma disfunção
neurológica. Não é preguiça, nem manha, nem indisciplina.
3. Posso ter só dificuldade para me
concentrar ou só ser muito agitado, ou
seja, posso ter uma coisa ou outra, não
necessariamente as duas juntas, mas às
vezes elas podem estar acompanhadas.
4. Meu desempenho é melhor em
atividades curtas, as quais possam ser
feitas durante um pequeno espaço de
tempo para logo mudar para outras.
Tarefas muito longas desviam ainda
mais a minha atenção ou me deixam
inquieto e logo eu desisto de fazê-las.
5. Mantenha-me ocupado. Se eu não tiver É preciso entender que cada aluno tem uma particularidade
nada para fazer, vou procurar algo. que deve ser considerada no desenvolvimento da atividade,

6. Lembre-se de me chamar pelo meu respeitando o seu tempo de concentração e o seu interesse
na atividade.
nome para que eu responda algo que
você pergunta, toque levemente no meu
ombro se perceber que estou “no mundo da lua”, chame a minha atenção para o que
está acontecendo na sala de aula de forma gentil.
7. Mãe e pai, me levem para a terapia. Lá, eles estudam bastante sobre pessoas como eu e
podem me ajudar.
8. Eu sinto uma vontade enorme de levantar da carteira, andar um pouco, conversar
com os meus colegas, fazer outras coisas diferentes de copiar, copiar, copiar as tarefas
do quadro sentado por um longo tempo. Se suas aulas preverem isso, tudo vai fluir
melhor.
9. Parece que o meu cérebro não para nem por um segundo. Eu me esforço, mas é mais
forte do que eu, então não consigo controlar. Penso, me agito, sinto um tipo de
“coceira” por dentro e então eu tenho que levantar, correr, extravasar.
10. Esportes podem me ajudar muito. E alimentação adequada também.
11. Às vezes um remedinho também me ajuda. Não tenha medo que eu me vicie ou tenha
outros efeitos. Meu médico sabe o que faz, confie nele.
12. Tente me compreender para me ajudar e entenda que ainda há muitas coisas para
descobrir sobre mim. Logo, saberá como eu funciono.
13. Tanto em casa quanto na escola, eu preciso de organização, rotina e limites. Eu me
sinto melhor quando os adultos me dizem e me mostram o que pode ou não pode fazer
e como deve ser feito.
14. Nem sempre eu tenho dificuldades para aprender. Deixe eu mostrar tudo o que sei e
me ajude a aprender ainda mais. Converse com as pessoas que estão acostumadas a
lidar comigo, estude sobre o transtorno e peça ajuda!
15. Acredite em mim!
Não restam dúvidas de que atingir o sucesso pedagógico
e social com os alunos com deficiências ou transtornos, assim
como com todos os demais, requer esforços, porém podemos
afirmar que estes são muito menores do que se imagina, e os
resultados são altamente compensadores.

Para auxiliar ainda mais e efetivamente toda a equipe


da escola, propõe-se a mediação da aprendizagem como
alternativa positiva para ajudar os estudantes numa
expectativa de trazer, prioritariamente aos professores, mas
também a todos os membros da comunidade escolar, os O professor deve compreender que
todos os alunos têm necessidades
princípios e postulados dessa teoria que, comprovadamente,
educacionais, algumas dessas
traz resultado eficiente para o desenvolvimento pedagógico, necessidades são comuns e outras são
além de benefícios em outras áreas, para todos e para cada individuais.

um dos estudantes, com ou sem deficiências. A escola deve


ser um lugar de construção de conhecimento, de fortalecimento das relações inter e intrapessoais,
de realização pessoal, de promoção da autoestima, de conquistas e avanços.

A teoria da modificabilidade
cognitiva estrutural, também conhecida
como “mediação da aprendizagem”, foi
criada por Reuven Feuerstein tendo por
base o seu trabalho com crianças e jovens
com necessidades especiais.

Feuerstein nasceu em 1921, em Botosan, na Romênia.


Graduou-se em Psicologia em 1952, mas, desde muito cedo,
ainda na infância, teve seus primeiros contatos com jovens que
apresentavam dificuldades de aprendizagem, inclusive
ajudando alguns deles a se alfabetizarem.

Referindo-se à modificabilidade cognitiva estrutural, Tébar (2011, p. 59) diz:

 A MCE, entretanto, é uma mudança qualitativa e intencional,


provocada por um processo de mediação. As crianças com
SUGESTÃO DE LEITURA
necessidades educacionais, com uma manifesta privação
TÉBAR, Lorenzo. O perfil do
cultural, abandono escolar, carência das habilidades básicas,
professor mediador: pedagogia da
entre diversos outros fatores, não tiveram acesso a mediação. São Paulo: Senac, 2011.
mediadores, ou receberam uma inadequada exposição da
cultura e dos significados dos estímulos.

Foi a partir de 1944, já morando em Israel, que Feuerstein teve os seus primeiros contatos com
os jovens sobreviventes do holocausto, bem como com imigrantes vindos do Marrocos, da Etiópia e
da Europa, em uma organização israelita, na qual trabalhava. Esses jovens estabeleceram-se em
Israel e eram considerados deficientes mentais, visto a extrema dificuldade de adaptação àquela
nova cultura e de bom desempenho escolar. Feuerstein e a sua equipe, porém, não acreditavam
nesse diagnóstico e passaram a aplicar outros tipos de teste, além dos de quociente de inteligência
(QI), para verificação dessa condição. Ele dizia que os teste de QI não mostravam a verdade em
relação ao potencial para a aprendizagem daquelas pessoas.

Assim, desenvolveu a Learning Potential Assessment Device (LPAD) – Avaliação Dinâmica do


Potencial de Aprendizagem –, que permite compreender o processo mental de uma pessoa, como
ela aprende, como a sua mente processa as informações e quais funções cognitivas estão
deficientes, constatando que havia potencial para a aprendizagem nesses estudantes, porém havia
também a dificuldade em manifestar externamente tal potencial.

Mais tarde, Feuerstein atribuiu essa dificuldade ao que chamou de “síndrome da privação
cultural”.

Apesar de ainda pouco conhecida, essa síndrome pode ser detectada em crianças que
apresentam dificuldades de aprendizagem, mas que não têm nenhuma deficiência, síndrome ou
transtorno. Segundo Budel e Meier (2012, p. 97):

 No que se refere à síndrome da privação cultural, devemos atentar para o seguinte: um professor
que sabe estimular o aluno, apresentar-lhe problemas que este possa resolver, desafiá-lo com
atividades apropriadas à sua capacidade, apresentar-lhe tarefas cuja dificuldade ele possa
superar com algum esforço, certamente irá combater a síndrome em sua origem.

Sendo assim, a teoria da modificabilidade cognitiva 


estrutural aponta uma direção, um caminho norteador para
uma ação pedagógica que efetivamente contribua para a
melhoria da qualidade do processo de ensino e aprendizagem,
trazendo a figura do professor mediador, que, de acordo com a
teoria de Feuerstein, conta com características muito
específicas, conforme citam Budel e Meier (2012, p. 126). As três
primeiras são consideradas por Feuerstein como universais.
Conheça cada uma delas clicando na imagem ao lado.

Mediar a aprendizagem é agir com a intenção real de desenvolver as funções cognitivas


deficientes, o que fará com que os mediados (nesse caso, os alunos) aprendam com mais qualidade.
O professor preocupado com a aprendizagem significativa do aluno entenderá que o seu papel é de mediador, e não de
transmissor do conhecimento. E isso se torna ainda mais necessário quando se trata de alunos com deficiências.

No entanto, um dos principais objetivos da mediação da aprendizagem é torná-la cada vez


mais dispensável, ou seja, quanto mais o mediador conseguir ajudar o mediado a desenvolver as
suas funções cognitivas deficientes, maior será a sua autonomia, mais eficiente será a sua
capacidade para aprender e para lidar com as situações da vida.

Mostra-se, então, a importância do adulto no processo de mediação com a intenção de ajudar o


aluno a construir o seu conhecimento e colaborar para a construção de uma imagem positiva de si
mesmo, tornando o mediado conhecedor das suas próprias capacidades e também dos seus limites,
esforçando-se para ultrapassá-los na intenção de proporcionar-lhe autonomia.

Uma das principais tarefas do mediador na função de professor é fazer com que todos os que
estão sob a sua responsabilidade se sintam pertencentes e participantes ativos do grupo social,
cultural e escolar no qual estão inseridos. Isso inclui não só fazê-los aprender os conteúdos
acadêmicos que o currículo prevê, mas também promover aos mediados a consciência de que,
mesmo no caso de dificuldades e limitações, eles são sujeitos da sua própria história.

Nesse sentido, reforça-se a figura do professor mediador como sendo o responsável direto pela
evolução acadêmica do estudante em processo de inclusão escolar. Se o principal a se considerar é a
intervenção para o desenvolvimento das funções cognitivas deficientes, e não a condição
intelectual desfavorecida do estudante mediado, essa tarefa se concentra no mediador; então, não
se coloca no mediado, ou na sua condição, a razão única para os seus fracassos.

É claro que a limitação intelectual que acomete alguns estudantes se configura como um
obstáculo para a aprendizagem. Isso não se discute. No entanto, a tarefa do mediador é fazer tudo o
que está ao seu alcance, demonstrando aí a intencionalidade, característica da mediação, para que
esse obstáculo seja vencido.
E não só ao professor cabe tal tarefa, mas também à escola, como ambiente educativo. A
instituição deve se preocupar em auxiliar na manifestação externa do potencial de aprendizagem
dos seus estudantes, porém muitas vezes a escola manifesta excessiva preocupação inclusive com a
existência ou não de “inteligência” nos seus alunos.

Particularmente no que se refere à inclusão, algumas escolas, por meio dos seus dirigentes,
corpo pedagógico e/ou docentes, preferem encaminhar, ou solicitar que sejam encaminhados, às
escolas especiais – onde isso ainda é possível – os estudantes com deficiência ou transtornos, numa
demonstração clara de exclusão. Em vez disso, deveriam se preocupar em aprender a lidar com
esse público e buscar conhecimentos específicos na área, pois não se pode escolher com quem
trabalhar, deve-se, sim, acolher aqueles que buscam a instituição escolar, sem discriminação ou
preconceito.

Propor uma teoria, uma metodologia, um perfil específico de professor para atuar com
crianças com deficiência em processo de inclusão escolar é sempre um desafio, visto que a
resistência em receber e agir pedagogicamente para o avanço acadêmico desses estudantes ainda é
muito grande.

Inclusão não se faz por decreto, por força de lei. É, antes



SUGESTÃO DE VÍDEO
disso, uma mudança de visão de mundo, um olhar 
diferenciado, um “desengessar” de antigas posturas, Assista ao vídeo “Os olhos de uma
criança”, que demonstra sutilmente
rompimento de paradigmas.
a importância de adotar uma nova
perspectiva de visão na sociedade.

Enxergar a criança como ser que tem


potencial para aprender, que expressa os
seus desejos, que precisa se sentir
pertencente, valorizado, que deve ter os
seus direitos reconhecidos e atendidos
não é tarefa fácil, mas é tarefa necessária
e precisa acontecer de fato.

A inclusão, acima de tudo, compreende reflexão e mudança no


É claro que defendemos também o
olhar. Quanto mais se sabe sobre o aluno e as suas
dificuldades, maiores são as chances de desenvolver uma direito daqueles que optam, em conjunto
prática mais produtiva. com as suas famílias, por frequentar
instituições especializadas que melhor
atendam às suas necessidades, porém em ambos os casos o que mais se torna relevante é,
certamente, o perfil do mediador. Seja nas instituições escolares comuns, seja nas especializadas,
são as características da mediação – a postura do mediador – que farão a diferença no sucesso do
mediado.
Para tanto, o conhecimento da teoria da modificabilidade
SUGESTÃO DE FILME
cognitiva estrutural é um eficiente caminho para que o
O documentário “Mônica e David”
desenvolvimento pedagógico da criança com deficiência ou
(2010) retrata a vida de um casal
transtorno aconteça verdadeiramente e contribua para que essa que tem síndrome de Down,
população seja mais ativa, participativa e feliz. demonstrando todo o apoio dos
familiares envolvidos e os diversos
desafios enfrentados.

Dicas de sites para aprofundar os estudos sobre inclusão:

 Educação inclusiva em foco.  Acesso em: 8 mar. 2017.

 Movimento Down.  Acesso em: 8 mar. 2017.

 Associação Brasileira do Déficit de Atenção.  Acesso em: 8 mar. 2017.

 Educação inclusiva – A deficiência.  Acesso em: 8 mar. 2017.

 Deficiência mental.  Acesso em: 8 mar. 2017.

É importante lembrar que, além do processo cognitivo a ser desenvolvido na escola e em outros espaços educativos, a
criança precisa ser feliz e se sentir acolhida.

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