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069.10
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069
069.00
Brasil de los museos
brasileños
Eduardo Subirats
069.01
Breve introdução à
Arquitetura da Escola
Paulista Brutalista
Ruth Verde Zein
069.03
Viagens pelo Nordeste
Este artigo comenta uma pequena parcela das discussões travadas no âmbito do Brasil: uma crônica
da disciplina de pós-graduação “Arquitetura e Projeto do Lugar”, do em vocábulos
PROARQ/FAU/UFRJ, e faz parte de um conjunto de pesquisas desenvolvidas Luiz Manuel do Eirado
pelo grupo Arquitetura + Subjetividade + Cultura (grupo ASC), no mesmo Amorim
programa.
069.04
O artigo tem o objetivo de discutir os valores e significados atribuídos Novo ecletismo de fim
aos espaços, pela análise de como determinadas características de de século
ambientes permeiam o imaginário das pessoas. A pesquisa que está na base Rogério Pontes Andrade
deste trabalho procurou mostrar que cada elemento de uma arquitetura tem 069.05
um valor simbólico que "fala" com o inconsciente do observador, fazendo-o Os “Brasileiros” e a
elaborar uma imagem mental pré-concebida dos valores agregados ao azulejaria exterior
determinado ambiente. Utilizamos como estudo de caso os escritórios de portuense do século XIX
advocacia, e a imagem associada entre o ambiente e o seu ocupante, o Luiz Alberto Fresl
“advogado em pessoa”. Os resultados de nossa pesquisa apontaram para a Backheuser
compreensão de mecanismos de atribuição de valores e significados dos
espaços, por parte dos indivíduos, com base nos significados pré- 069.06
concebidos a partir de sua memória seletiva, tema de base dos estudos Sala de aula,
desenvolvidos pelo grupo de pesquisa ASC, do Proarq/FAU/UFRJ. arquitetura, corpo e
aprendizagem
https://ww.arquiteturismo.com.br/revistas/read/arquitextos/06.069/384 1/8
19/10/2020 arquitextos 069.10: Sóbrio, organizado e conservador: o escritório é a cara do dono? Sobre valores, símbolos e significados dos espaç…
Espaços, objetos, percepção e cultura: um pouco de fundamentação teórica Marilice Costi
069.07
Ao tomarem contato com um determinado ambiente construído, as pessoas
Patrimônio industrial e
recebem seus impactos primeiros a partir das sensações que geram nelas a
memória. A formação da
percepção, etapa inicial de todo um processo de conhecimento do lugar
cidade de Itapevi SP a
(processo cognitivo). Para Del Rio (2) a percepção é “um processo mental
partir da contribuição
de interação do indivíduo com o meio ambiente, que se dá através de
da Santa Rita S.A.
mecanismos perceptivos propriamente ditos e, principalmente, cognitivos”.
Henrique Caruso Almeida
De fato, desde o primeiro contato com o ambiente, há uma inter-relação
muito dinâmica entre nossos sentidos, nossa percepção, nossa memória, 069.08
nossos valores culturais e o espaço em que estamos imersos. Sentimos, As arquiteturas do
carregamos essas informações de significados e passamos a perceber, a re- tempo de Louis I. Kahn
avaliar o ambiente, para poder senti-lo de novo, num diálogo incessante. Nicolás Sica Palermo
A realidade dirige ao homem estímulos sensoriais, que são captados pelos
069.09
cinco sentidos. Após essa captação, entra em ação a racionalidade, onde
Estudios de paisaje
atuam os diversos filtros, a motivação, a avaliação e a conduta do
para elevar la
sujeito. Esse processo culmina numa organização mental onde a realidade
qualidade de vida en
percebida é representada por esquemas e imagens mentais.
zonas de interés
suburbano
Quando entramos numa sala, vemos seu mobiliário, cores, formas, padrões
Graciela Gómez Ortega e
de luz, sentimos cheiros (como de flores sobre a mesa, ou do novo
Omarky Aguilar Labrada
carpete, por exemplo), ouvimos sons ou ruídos que estão acontecendo ali,
sentimos pelo tato a textura dos materiais. A partir dessa nossa 069.11
experiência juntamos todas as características que identificamos e Habitação coletiva e a
construímos valores para esse espaço. Ainda, os objetos constantes evolução da quadra
naquele espaço serão observados e até mesmo o posicionamento (simétrico, Mário Figueroa
não-simétrico etc.) dos elementos não ficará fora de nossa apreensão,
mesmo que não tomemos consciência imediata disso. Sem esse mecanismo não
conseguiríamos reconhecer e diferenciar salas comerciais de residenciais,
por exemplo, no momento que entramos nelas. E se diferentes pessoas de
uma mesma sociedade atribuem significados semelhantes a determinados
espaços construídos, é pelo fato de que essas pessoas compartilham as
mesmas bagagens culturais. Assim, compreende-se que, para reconhecermos
um ambiente e conseguirmos imaginar ou supor a natureza da atividade que
acontece ali, estamos fazendo uso dos valores simbólicos impregnados nos
elementos desse espaço.
Baudrillard trabalha com a noção de que “não se trata, pois, dos objetos
definidos segundo sua função, ou segundo as classes em que se poderia
subdividi-los para comodidade da análise, mas dos processos pelos quais
as pessoas entram em relação com eles” (3). Este autor considera que, a
partir dessa relação, a leitura de diferentes objetos pode acontecer
através da compreensão sobre o simbolismo que emerge dos aspectos desse
objeto como materiais, formas, cores, proporções e tamanhos e não
necessariamente do objeto em si. Por outro lado, os significados
simbólicos dos espaços fazem sentido somente para aqueles que, por
estarem imersos numa cultura e numa lógica própria de significados,
entendem os códigos desse simbolismo.
Segundo Rapoport (4), o conceito que se tem sobre o ocupante de uma sala
é incorporado na opinião que se tem sobre a aparência da própria sala. A
partir destas considerações, decidimos, como parte de um dos trabalhos
didáticos da disciplina “Arquitetura e Projeto do Lugar”
(Proarq/FAU/UFRJ) averiguar se, no caso de um escritório de advocacia, o
indivíduo receptor transfere, de fato, para o espaço do escritório todos
os atributos que espera encontrar em um advogado em pessoa
Materiais e métodos
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19/10/2020 arquitextos 069.10: Sóbrio, organizado e conservador: o escritório é a cara do dono? Sobre valores, símbolos e significados dos espaç…
(6), segundo quem a visão é considerada, dentre os demais sistemas
perceptivos, o que melhor transmite informações ambientais, sendo
responsável por cerca de 80% das informações sensoriais.
1) - Diga com que tipo de ambiente se parece cada uma dessas figuras.
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Examinando as figuras mais votadas como sendo mais "parecidas" com
escritórios de advocacia, iniciamos uma identificação de seus elementos e
componentes físicos para, posteriormente, analisar os fatores simbólicos
subjacentes às suas características (ver figuras identificadas como F5,
F1, F11).
Quanto aos elementos visíveis nas figuras que foram considerados como não
pertencentes à imagem de um escritório de advocacia, os resultados foram
os seguintes: a) ambiente muito colorido; b) ambiente muito iluminado; c)
ambiente despojado (ver gráfico 3).
Como justificativa para suas escolhas, para que as figuras F1, F5 e F11
fossem as mais citadas como ambientes de escritórios de advocacia, alguns
entrevistados deram os seguintes relatos:
a) Organização e simetria
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autor, a simetria é usada naquelas tribos como imagem que simboliza os
poderes ordenadores da sociedade indígena, colocando-a em direto
alinhamento com os poderes benéficos.
b) O uso da madeira
Por sua vez, Jung (12) sugere que a aproximação etimológica (em alemão)
de "madeira" , "trabalho" e "ato sexual" (a partir de vênus) não é um
acaso e representaria uma simbologia que atrela os três significados.
c) A existência de livros
Da mesma forma, a visão de uma janela alta faz com que se sinta a
sensação de dominação daquilo que está abaixo. Assim, um escritório
situado num andar alto, com uma vista panorâmica do entorno, será
percebido como um local no qual se domina, se gerencia com poder.
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19/10/2020 arquitextos 069.10: Sóbrio, organizado e conservador: o escritório é a cara do dono? Sobre valores, símbolos e significados dos espaç…
No entanto, Baudrillard, quando se refere acima no "grau zero da cor",
inclui o branco, o que tornaria um ambiente claro. Assim, pensamos que
não apenas a ausência de cores " berrantes" seja relacionável com um
ambiente de advocacia, mas também o fato de ali predominarem os tons mais
escuros.
Por outro lado, ouvimos, por parte de alguns de nossos informantes, que
existe uma outra característica muitas vezes atribuída aos advogados: foi
o que chamaram de "maracutaia" (sic.). De fato, 30% de nossos informantes
alegaram que, pela proximidade do poder e pelo conhecimento dos caminhos
que traça a justiça, segundo eles "nem sempre justa", poderia existir, na
profissão, alguns indivíduos nem sempre tão "nobres" e nem sempre tão
"leais às causas de uma justiça realmente cega". Nesse sentido, apontavam
a "sobriedade" e a "penumbra" das salas como indícios destas atividades
escusas. De fato, trata-se de mais um simbolismo que pode ser atribuído
aos espaços com menor iluminação, pois, como diz Bachelard (17) a pouca
luminância remete ao arquétipo de gruta, caverna, que, por sua vez,
permite o aprofundamento no inconsciente: "a penumbra é cavidade
arquetípica, mundo fechado no qual trabalha a matéria mesma dos
crepúsculos locus de pensamentos escusos".
Considerações finais
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Homem e ambiente convivem num processo de interdependência mútua, criando
uma ligação íntima entre os processos psicológicos de percepção do espaço
e os processos de criação desse espaço. Ainda, a maneira pela qual o
homem modifica o ambiente e se deixa modificar por ele é hoje um tema de
muita relevância, pois os espaços são expressões culturais do homem (19)
ao mesmo tempo em que são suportes espaciais para a construção de sua
identidade. Assim, parece-nos de extrema importância que o arquiteto
compreenda como os elementos simbólicos participantes do espaço têm
influência no que as pessoas percebem dele.
* * *
Post scriptum – Apenas como curiosidade, sem que isto tenha qualquer
influência nos resultados do trabalho, informamos que a única figura que
efetivamente foi baseada em fotografia de um real escritório de advocacia
é a F13.
notas
1
Uma versão ampliada deste texto foi apresentada oralmente, no Colóquio Bernard
Salignon, promovido pela UFPE, em Recife, em 2003.
2
DEL RIO, Vicente. “Cidade da mente, cidade real: percepção ambiental e
revitalização na área portuária do RJ. In: DEL RIO, Vicente; OLIVEIRA, L.
(org). Percepção ambiental. São Paulo e São Carlos, Studio Nobel / Editora da
UFSCar, 1996, p. 3-22 (p. 3).
3
BAUDRILLARD, Jean. O sistema dos objetos. 3ª ed. São Paulo, Perspectiva, 1997,
p. 11.
4
RAPOPORT, Amos. Human aspects of urban form. Oxford, Pergamon, 1977.
5
SPRADLEY, James P. Participant observation. New York, Holt, Rinehart and
Winston, 1980, p. 3.
6
apud HALL, Edward T. A dimensão oculta. 2ª ed. Rio de Janeiro, Francisco Alves,
1977.
7
SPRADLEY, James P. Op. cit.
8
MACHADO, Lucy. “O estudo da paisagem: uma abordagem perceptiva”. Revista de
Geografia e Ensino, UFMG, Belo Horizonte, 1988, p. 37-45 (p. 44).
9
DURAND, Yves. Le test archétipal des neuf élements. Bruxelles, Cahiers de
Symbolisme n. 4., 1963.
10
LÉVI-STRAUSS, Claude. Tristes tropiques. Paris, Plon, 1955.
11
BAUDRILLARD, Jean. Op.cit., p. 45.
12
JUNG, Carl Gustav. Métamorphoses et symboles de la libido. Paris, Montaigne,
1932, p.145.
13
BAUDRILLARD, Jean. Op.cit.
14
DURAND, Gilbert. Les stuctures anthropologiques de l´imaginaire. Paris, Dunod,
1992 (1ª ed., Bordas, 1969), p.151.
15
BAUDRILLARD, Jean. Op.cit., p. 38 (grifo nosso).
16
HALL, Edward T. Op. cit.
17
Apud DURAND, Gilbert. Op. cit., p. 276.
18
RAPOPORT, Amos. Op. cit.
https://ww.arquiteturismo.com.br/revistas/read/arquitextos/06.069/384 7/8
19/10/2020 arquitextos 069.10: Sóbrio, organizado e conservador: o escritório é a cara do dono? Sobre valores, símbolos e significados dos espaç…
19
RAPOPORT, Amos. Pour une anthropologie de la maison. Paris, Dunod, 1972.
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