Você está na página 1de 375
pe al 7 ! Chey than (fie Wyloeat 4 Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett acrits ples Mabatmas M-e KH. “Tanaris e compas por AT Baer © movimento teoséfico nio tem dogmas. Seu lemaé “no hi regio superior verdad”. Assim, estas Cartas dos Mahatmas no So objetosdeFécega para ninguém. Porém, a importincia do seu contesido parece inegavel no ‘mundo todo para muitosestudan- tes da sabedoria divina, afliados ounnioa insttuigdesMlossificas ou religioss. Por isso, desde a sua publicagioem Londresem dezem= brode 1923, as edges das Cartas dos Mahatmas vém chegando a ‘novos pfses€ idiomas, em quanto surgem novos livroscom estos € pesquisas sobre elas. ‘Ha duas maneiras_principais de leras Cartas. primeira delas €abordaro textoem seu contexto histérioe tentar compreenderas, cireunstinias especificas em que clef escito A segunda maneira Eero texto como se fosse direta- ‘mente drigido a cada um de nés. [Neste caso, aplicamos as nossas vidas tudo 0 que, de algurs modo, far sentido para nés, e deixamos de lado queignoramosdostemas abordados, mareandoe separando as frases cheias de sabedoriae as vverdades universais que aparecem a cada instante no texto, rmisturadasadiscusbes de fatosde caurto prazo do movimento teossfico da década de 1880, Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett Volume I Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett Escritas pelos Mahatmas M. e K. H. Transcritas e compiladas por A.T. Barker Volume I Em seqiiéncia cronolégica. Editadas por Vicente Hao Chin, Jr. conforme a cronologia estabelecida por George E. Linton ¢ Virginia Hanson no livro Reader’s Guide to the Mahatma Letters. Com notas e comentirios de Virginia Hanson, e incluindo Anexos com outras cartas para A.P. Sinnett e A.O. Hume. ‘Tradugio: Murillo Nunes de Azevedo e Carlos Cardoso Aveline Coordenagio Editorial: Carlos Cardoso Aveline 6 EDITORA TEOSOFICA Brastlia- DF igdes em inglés 1 edigao, Londres, dezembro de 1923 2 edigao, margo de 1926 3tedigio, T.P.H. india, 1962 & edigao (cronolégica), T.P-H., Filipinas, 1993 Edi¢ao em portugues EDITORA TEOSOFICA, Sociedade Civil SGAS — Quadra 603 — Conj. F, s/n 70.200-630 - Brasilia, DF. Tol.: (Oxx61) 322-7843 Fax: (Oxx61) 226-3703 E-mail: st@stb.org.br Home Page: www.stb.org.br/livrar.html Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett Escritas pelos Mahatmas M. e K. H. A, Trevor Barker (Comp.) 8.615 digo em dois volumes Brasilia, julho/2001 Volume 1 ISBN 85-85961.67-8 1, Ocultismo 2. Teosofia 3. Discipulado cpp 141 Capa: Fernando Lopes Dingramagio: Reginaldo Alves Aragjo Coordenacao Eaitorial e Notas da Edigio Brasileira: Carlos Cardaso Aveline Sumario do Volume I Prefiicio da Eigiio Cronoldgica... Introdugao a Edigdo Cronolégica Notas Introdutérias. Preficio & Edigao em Lingua Portugue Guia de Leitura da Edigao Cronol6gi Abreviaturas.. = As Cartas dos Mahatmas ‘As cartas estiio numeradas de acordo com sua ordem cronolégica. Os ntimeros entre parénteses, precedidos das letras ML, reproduzem a nume- ragdo usada nas trés primeiras edigdes, Carta n® Le (ML-1) 17 de outubro de 1880... Cartan 2 (ML-2) Recebida em 19 de outubro de 1880... Carta n® 3A. ee(ML-3A) snes Recebida em 20 de outubro de 1880.. Carta n® 3B oe (ML-3B) snr Recebida em 20 de outubro de 188 -(ML-3C) nme Recebida em 20 de outubro de 1880.... _Recebida em 27 de outubro de 1880... Recebida em 3 de novembro de 1880 ....... 52 Recebida em 3 de novembro de 1880....... 61 Recebida entre 3 e 20 de novembro de 1880. -(ML-99) «ne Revebida em 20 de novembro de 1880. ..(ML-106) “-(ML-98) «usu Recebida em 12 de dezembro de 1880 00 ais ta4de neue Carta 110. os(ML*S) se Reoebida depois de 12 de dezembro de 1880. Cartan anoe(ML-28) «oe Recebida em dezerbro de 1880 vn Carta? 2eese(ML-6) wenn Recebida em 10 de dezembro de 1880... Carta 1 13.ronn(MILAT) wonsnen 30 de janeiro de 1881 Carta n® 144... (MIL-142A)..... Recebida antes de 20 de Teveteiro de 1881 Carta n® 14B......(ML-142B)..... Recebida antes de 20 de fevereiro de 1881... Carta n® 15.0000 (MILB) sonsnee Recebida em 20 de fevereiro de 1881... 93 Carta n® 16.200 (MIL-107) «ne Recebida em 12 de margo de 1881 107 Carta nV Tonsn MIL-31) snnon Recebida em 26 de margo de 1881 se 108 (Cartan 18... (MIL-9) Recebida em 5 de julho de 1881 iW Carta n® 19. ee(MIL-121) snee Reoebida em 11 de julho de 1881 .. 130 Carta 12 20,ne(MIL-49) ..nse Recebida em 5 de agosto de 188 (ML-27)........ Recebida no outono de 1881... Carta 18 22. .((ML-26) ..n..0 Recebida em Simla no outono de 1881... 143 Carta 1 23. (MIL-104) sno Recebida em outubro de 1881 Cartan? 24. nee(ML-TH) none Outubro de 1881. Carta 2 25. (ML+73) oem Outubro de 188: 1 (ML-102) sue Outubro de 1881 -(MIL-101) ...... Outubro de 188 Outubro de 188 Outubro de 1881 Recebida em forno de 4 de novembro de 1881 ue 164 Carta n® 31 se (ML-40) ..uoue Recebida em novembro de 1881... cs Cartan? 32. (MILA 14) nue Recebida em novembro de 1881 Cartan? 33..ne(MIL-38) 0.0 Dezembro de 188 Carta 234. (ML-39)._.- Recebida em dezeribro de 1881 Cartan? 35.ne(ML-41) .nnon Recebida em dezembro de 1881 ... Carta n? 36...10n(MIL-36).......» Recebida em janeiro de 1882 Carta 2 37 nen-(MIL-37) -onnes Recebida em janeiro de 1882 ... Carta 02 38. (ML-90) «snus Datada de 26 de novembro de 1881... Cartan? 39. .me(ML+I15)....~ Recebida em janeiro de 1882... Carta 12 40. ron (MIL-108) nen Janeiro de 1882... Carta 1841 ee(ML-109) ne Janeiro de 1882... (ML43).... Recebida em janeiro de 1882 1 (ML-42) none Recebida em janeiro de 1882. se(ML-I3) sone Recebida em janeiro de 1882 (ML-44) 1. Recebida em fevereito de 1882 (ML-12)....... Recebida em fevereiro de 1882. (ML-45) ...... Recebida em fevereiro de 1882. Carta 12 48. e(ML-A7) sone Recebida em 3 de margo de 1882 Carta 1 49.....(ML-48)....... Recebida em 3 de margo de 1882 Cartan? 50...0--(MIL-88) ....0n Datada de 11 de margo de 1882 Tee (ML-120) snone Recebida em margo de 1882... Carta n? 21 Carta n? Carta n® 30. Cartan? 52. (MIL-144) ...u+ Recebida em 14 de margo de 1882 235 Carta 1 53..e-(MIL-136) «ne Datada de 17 de margo de 1882 Cartan 54... (MIL-35) Recebida cm 18 de margo de 188: Carta n° 55... (MIL-89)..... Recebida em 24 de marco de 1882 .....--.- 242 Carta 1856... (MIL-100) ones 25 de margo de 1882. , Carta i? 57 ne-(ML-122)....... Datada de 27 de abril de 1882... Carta n? 58.....(ML-130) «00. Datada de 7 de maio de 1882... Carta n® 59 Sem indicagdo de data Carta Sem dat Carta n? 61 vi» Datada de junho de 188; Carta n° 62... Datada de junho de 1882 Carta n® 63 sore (MIL-95) «n-ne Datada de junho de 1882. Cartan? 64, (ML-131) soon Datada de 26 de junho de 1882 Carta 12 65.nen (MAI 1) svn Recebia em 30 de junho de 1882. Carta 12 66...0..-(ML-14) enue Recebida em 9 de julho de 1882... Carta 12 67 ee (MLA15) sonnne Recebida em 10 de julho de 1882 Carta n® 68.sonne(ML-16) «10 Recebida em julho de 1882 Carta n® 69..ne(ML+69) emer SEM Aten Carta 12 70A sn. ML-20A) ... Recebida cm agosto de 1882... Carta n® 70B..... (ML-20B)...... Recebida em agosto de 1882... Carta n? 70C...-.((ML-20€) .... Recebida em agosto de 1882... Carta n® 71. ssee(MIL-19) soon Recebida em 12 de agosto de 1882.. Carta i 72..n0(MIL-127)..... Recebida em 13 de agosto de 1882. Cartan 73 ns (ML-113) snus Recebida em agosto de 1882 Carta 8 74.voe(MIL-30) nun Recebida em agosto de 1882.. Carta n® 75. (ML-S3) non Reeebida em 23 de agosto de 1882.. Carta 1276. ee(ML-21) sors Recebida em 22 de agosto de 1882, Cartan? 77se(ML-50) -onnes Recebida em agosto de 1882... Carta 1? 78.rne(ML-51) wenn Recebida em 22 de agosto de 1882. Carta n2 79. Carta n? 80. “(ML-116)....... Recebida em agosto de 1882... “(ML 118) san Recebida no inicio do outono de 1882. Prefacio da’ Edigéo Cronolégica E um privilégio ¢ uma honra escrever este preficio para um livro que ime parece abrir uma nova etapa na histéria editorial de Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinneti, uma das obras mais importantes da literatura teos6fica. Inicialmente, devo prestar uma homenagem a Vicente Hao Chin, Jr, presidente da Sociedade Teos6fica nas Filipinas, por sua iniciativa, por sua determinagio ¢ pelo enorme volume de trabalho que ele realizou para tornar possivel esta obra. ‘A minha conttibuigilo a esta nova edigao das Cartas consiste de notas compiladas enquanto ditigia diversos seminérios sobre 0 tema na Escola Krotona de Teosofia em Ojai, Califérnia, EUA. Apés 0 término desses cur- sos, ocorreu-me que seria util, na promogio de um estudo mais amplo das Cartas, redigit as minhas anotagées de aula de maneira mais adequada ¢ ‘mandar cépias delas para as principais bibliotecas teos6ficas, Isso foi feito. Entre os que receberam as anotagdes estava Vicente Hao Chin, Ir., que imediatamente sentiu que elas deveriam ser publicadas visando uma distri- buigio ainda mais ampla. Ao mesmo tempo, ele estava pensando na possibi- lidade de publicar as Cartas em ordem cronolégica, em vez. de usar a divisio temitica, como foi feito nas ts edigdes anteriores. Os estudantes das Cartas sio profundamente gratos a George E. Linton pela cronologia que cle desenvolveu com base em extenso estudo das cartas originais expostas no Museu Britinico e que foi usada no livro Reader's Guide to the Mahatma Letters to A.P. Sinnett (George E. Linton e Virginia Hanson, TPH, 2 ed., 1988). Foi feito um cuidadoso estudo de algumas cronologias desenvolvidas anteriormente, mas acreditamos que esta disposigio € a mais, correta possivel ‘Como todo estudante das Cartas sabe, elas raramente eram datadas. AP. Sinnett, a quem a maioria delas foi enderegada, anotava freqiientemente a data de recebimento, mas mesmo isto era, de vez em quando, esquecido, € evidemte que as vezes as datas eram inseridas depois de transcorrido muito tempo. Sinnett comentou que, se tivesse ficado claro desde o inicio que a correspondéncia iria se desenvolver como ocorreu, ele teria feito registros mais cuidadosos. A sua esposa, Patience Sinnett, manteve um didrio que chegou a 37 volumes com o correr dos anos, mas lamentavelmente estes volumes desapareceram, Supde-se que eles podem ter sido destruidos em bombardeios durante a 12 Guerra Mundial. As cartas originais, contudo, fo- 9 Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett ram conservadas em seguranga no Museu Britanico, para o qual foram doa- das com a condigao de entrega irrevogivel. Foram tomadas medidas para preservi-las. Além disso, George Linton fez com que elas fossem microfil- madas, ¢ estes filmes estiio arquivados em diversos lugares, inclusive na sede central da segiio norte-americana da Sociedade Teoséfica. Cabe, sem diivida, uma palavra final de reconhecimento a Vicente Hao Chin, Jr. E de esperar-se que esta edigdo seja a mais amplamente usada ¢ estudada no futuro. Virginia Hanson 10 Introducio & Edicaio Cronolégica I Esta edigo foi preparada para atender uma necessidade sentida hd muito tempo por estudantes das Cartas dos Maharmas, devido a duas difi- ‘culdades: 1) As cartas so diffceis de acompanhar nas edigdes anteriores porgue os assuntos ¢ acontecimentos mencionados nelas nfo aparecem em seqiiéncia adequada. O leitor perde, freqiientemente, o sentido das palavras dos Mahatmas; 2) Muitas vezes, 0 leitor nao entende as circunstancias que envolvem as cartas, além do fato de que muitos nomes ¢ referencias sto obscuros para os leitores de hoje em dic. Em conseqiiéncia, relativamente poucos teosofistas tiveram o Animo necessrio para estudar as Cartas dos Maharmas. & uma pena, porque esta é uma das fontes literdrias teos6ficas mais importantes. ‘A publicagao do Reader's Guide to the Mahatma Letters (Guia de Leitu- 1a das Cartas dos Mahatmas), de George Linton ¢ Virginia Hanson, ajudou iuito a preencher esta lacuna. E somos muito gratos a ambos por seus vali- ‘osos esforgos. Entretanto é incdmodo ler as Cartas das Mahatmas consul- tando constantemente um ou dois livros diferentes. Daf a necessidade de ‘uma edigio cronolégica com anotagbes. Nesta edigfo, as cartas estio numeradas e dispostas de acordo com @ provavel data de recebimento. O nimero das edigdes anteriores est coloca do entre parénteses, ao lado do niimero cronol6gico, logo apés as iniciais ML (de Mahatma Letters). Pequenas anotagées foram também acrescentadas antes de cada carta para colocar o'leitor a par dos acontecimentos e circuns- tancias que envolvem a carta. Estas anotagdes foram escritas por Virginia Hanson, que devotou muitos anos de estudo as Cartas dos Mahatmas ¢ escreveu alguns livros sobre © assunto, principalmente Masters and Men (Mestres e Homens), 0 Reader’s Guide (com George Linton), ¢ Introduction to the Mahatma Letters, Em 1986, ap6s dirigir durante muitos anos cursos sobre as Cartas dos Mahatmas, a sra. Hanson reunit: as suas intimeras anotagdes sobre as cartas, dando-Ihes o titulo “Notas sobre as Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett”, Este editor conversou com ela sobre 0 uso das “Notas” numa edi- ‘glo cronolégica das cartas dos Mahatmas. Ela apoiou firmemente a idéia ¢ deu permissao para se usar qualquer parte das suas “Notas” com essa final dade, As novas notas de pé de pagina desta edigdo (identificadas por “Ed. u Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett ©, de “edigdo cronolégica” — baseiam-se essencialmente nestas “Notas” ‘Algumas delas baseiam-se no livro Reader's Guide to the Mahatma Letters, compilado por George Linton e Virginia Hanson~ As notas que precedem as cartas nos Anexos foram, entretanto, claboradas por este editor. © texto das cartas nesta edi¢do reproduz 0 da terceira edigio de Mahatma Letters to A.P. Sinnett (editada por Christmas Humphreys ¢ Elsie Benjamin), inclusive as notas de pé de pagina, Nenhuma mudanga foi feita com a excegio, obviamente, de eros tipogrificos. Fora isso, esta edigio ‘segue fielmente toda a grafia e pontuagdo da terceira edigao. Nesta edigio foram adotados os seguintes formatos de texto: fa) As cartas ni escritas pelos Mahatmas estéio sem negrito para dis- tingui-las das enviadas por eles. Em edi¢des anteriores foram usados tipos iguais, 0 que, as vezes, pode causar confusio, (b) As vezes, os Mahatmas sublinham certas palavras em cartas eseri- tas por outros. Isso ¢ repetido na atual edigfo, em vez de se usar tipos ne- gritos como em edigdes anteriores. (©) As notas de pé de pagina das edigées anteriores que se referem a iimeros de cartas, paginas ou estilos tipograficos foram cortigidas nesta edigio de modo a ficarem de acordo com o formato revisado ¢ a paginagio da nova edigiin. Fstas correcdes s4o sempre colocadas entre colchetes. Foram actescentados novos anexos a fim de incluir outras eartas © no- tas dirigidas a AP. Sinnett ou A.O. Hume, que ndo haviam sido inclufdas em Cartas dos Mahatmas. Sao 08 seguintes: (a) a primeira carta do Mahatma K.H. para Hume, reimpressa de Combined Chronology (Cronologia Combinada), de Margaret Conger (Theosophical University Press, Pasadena); (b) cartas contidas em Cartas dos Mestres de Sabedoria, Série 1, editadas por C. Jina- rajadasa!, e (c) as contidas om Letters of H.P. Blavatsky to A.P. Sinnett, (Cartas de H.P. Blavatsky Para A.P. Sinnett), transcritas e compiladas por ‘AT. Barker (Theosophical University Press, Pasadena). II Uma breve historia das edigdes anteriores Depois que o st. Alfred Percy Sinnett faleceu em 1921, a sua testa- menteira, stta, Maud Hoffman, acertou com o st, A. Trevor Barker que ele editaria © publicaria as cartas dos Mahatmas. O livro foi colocado & venda em dezembro de 1923, e uma edigZo revisada apareceu em 1926. Em seu prefiicio, o st. Barker afirm: A edigto brasileira exclui estes textos porque elas ja fazem parte do volume Cartas dos Mestres de Sabedoria, Editora Teosbfica, Brasilia, 1996. (N. ed. bras.) 2 Introdugéo a Edigéo Cronologica “0 leitor deve ter em mente que, com excegao de uma ou duas cartas, nenhuma delas foi datada pelos seus autores, Em muitas delas, contudo, as datas e os lugares de recebimento foram anotados com a caligrafia do sr. Sinnett e aparecem em tipo pequeno logo apés os niimeros das cartas. - Deve ficar claro, exceto nos casos em que se afirme de outro ‘modo, que: 1. Cada carta foi transerita diretamente do original. 2. Todas as cartas foram escritas para A.P. Sinnet. 3, Todas as notas de pé de pagina so cépias de notas que apa- recem ¢ pertencem as préprias cartas, a ndo ser quando assinaladas com a inscrigdo ‘Ed.’. Nestes casos foram acrescentadas pelo compi- tador” O sr, Barker escreve também: “pede-se ao leitor que ereia que 0 tra- balho de transerigao foi feito com 0 maximo cuidado; todos os manuseritos foram conferidos palavra por palavra com os originais, e foi feito todo o possfvel para evitar eros. Entretanto, € provavelmente excessiva a expecta tiva de que o livro impresso nao contenha erro algum. Fles iio quase inevi- taveis” Em 1962, uma tereeira edigfo foi publicada conjuntamente por Christmas Humphreys e Elsie Benjamin, A terccira edigao implicou uma meticulosa revisio da transcrigao das edigdes anteriores. A edigo contou com a inestimavel assisténcia do sr. C. Jinarajadasa, ex-presidente da Socie~ dade Teoséfica, do sr. James Graham, e do st. Boris de Zirkoff, compilador dos Collected Writings (Escritos Reunidos) de H.P. Blavatsky. Como esta edig&o cronolégica esta essencialmente baseada na terceira edigdo, é necessério citar 0 sr. Humphreys e a sra. Benjamin no que se refere a transcrigio feita por eles, como relatado no prefiicio daquela ediga0: “A idéia de transcrever 0 material exatamente como ele surgiv foi, de imediato, abandonada. Uma razdo apenas bastou: a de que ‘Trevor Barker ja ficera muitas correedes na ortografia, pontuasao, etc, ¢ decidiu-se, portanto, producir um livro de maior valor para os estudantes e que, ao mesmo tempo, fosse fiel as idéias presentes no original Entretanto, no passado, foram levantadas fortes argumentagées em relagdo a alteragées feitas em edigdes posteriores de obras dos primeiros escritores teosdficos. Assim, é importante que se declare, 13 Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett como agora se faz, que: (a) nesta obra, nem uma s6 palavra foi acres centada, a ndo ser dentro de colchetes, para tornar o sentido mais claro; e (b) nem uma $6 palavra foi omitida, salvo uns poucos casos onde a sua presenga significava um erro gramatical ébvio.” st. Humphreys e a sra. Benjamin também declararam que 0 trata- ‘mento do texto seguit os seguintes prinefpios: “A grafia de palavras como nomes, lugares e frases nao ingle- sas foi revisada, e procurou-se sistematizar mais 0 uso de letras maiiis- culas e em inilico. As citagdes de livros e de frases estrangeiras foram corrigidas quando se acharam erros. ‘Nenkuma tentativa foi feita para se conseguir concordancia no uso de sinais diacriticos. Quando usados, permaneceram, mas ne- hun foi acrescentado.? A grafia dos Mestres em palavras sénscritas é, ds vezes, uma variacdo, adotada no norte da India, da grafia clds- sica, e ndo foi mudada Houve numerosas alteracdes na pontuacdo. Na maior parte dos ‘casos, as correcées foram methorias dbvias e, em caso algum, trouxe- ram qualquer alteragdo possivel no sentido. Algumas vezes, contudo, era muito dificil entender uma frase, até que acréscimo de uma vir gula, ou a sua remogdo, subitamente esclarecia 0 sentido. Em todos esses casos, uma mudanca como essa somente foi feita apds todas as pessoas envolvidas terem concordado que ela era necessdria para es- clarecer 0 sentido”. Como est no mesmo preficio, os editores da terceira edigio também pensaram cuidadosamente na reordenacdo das cartas em ordem cronolégica. Eles estudaram seis ordens cronolégicas conhecidas ~ a da srta. Mary K. Neff, da sra. Margaret G. Conger, da sra, Beatrice Hastings, do sr. James Arthur, do sr. G.N. Slyfield e do sr. K.P. Vania - ¢ decidiram abandonar a idéia devido & divergéncia nas ordens propostas pelas diferentes listas. Tam- bém decidiram contra a inclustio de outras cartas conhecidas para Sinnett Hume porque seria dificil decidir em que ponto este acréscimo deveria ces- sar, ‘A terceira edigo excluiu o apéndice do sr, Barker a respeito da con- trovérsia sobre “Marte e Merctirio”, como também a maior parte da introdu- 2 Na edigio em lingua portuguesa, ndo reproduzimos os sinais dizerfticos do sfnscrito, (N. ed. bras.) 4 Insrodugao @ Edigdo Cronolégica ‘a0 feita por ele na primeira e na segunda edigao, considerando que consistia basicamente de comentirios ¢ nao cabia inseri-los na compilagio. Til O editor deseja agradecer & sra. Virginia Hanson a sua inestimavel atuagao © apoio na preparacio desta edigdo; e a George Linton, Joy Mills, Radha Burnier, Adam Warcup e Daniel Caldwell pelas suas sugestoes © apoio. O texto foi cuidadosamente composto e revisado por Pia Dagusen. Ela também preparou o abrangente indice remissivo desta edigo cronolégi ca em inglés. O texto foi examinado € revisado por Eugenia Tayao e Roselmo Doval-Santos, A ele e outros que ajudaram, expressamos a nossa profunda gratidao. Vicente Hao Chin, Jr. 15 Notas Introdutérias Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinmett € considerada uma das obras mais dificeis da literatura teos6fica. Ela aborda muitas situagées complexas € contém muitos conceitos profundos, que se tornam mais obscuros porque, na época em que elas foram escritas, nao havia sido desenvolvida uma no- ‘menclatura por meio da qual os Mahatmas pudessem comunicar a sua filoso- fia — profundamente oculta ~ a pessoas de idiomas ocidentais. Apesar disso, obra tem um poder e uma percepsio interna tremendos, e reflete 0 drama humano da aspiragio, do éxito e do fracasso, Ela conta uma histéria ocorr no tempo, mas a sua mensagem é eterna, quer a consideremos como narrati- va, como filosofia oculta ou como revelacao. O que é um Mahatma? Em um artigo de H.P. Blavatsky intitulado Mahatmas ¢ Chelas (The Theosophist, julho de 1884), ela nos dé 0 significado do termo: “Um Mahatma é um personagem que, por meio de educago e treinamento especiais, desenvolveu aquelas faculdades superiores atingiu aquele conhecimento espiritual que a humanidade comum ad- quirird depois de passar por séries inumerdveis de encarnacées du- rante o processo de evolugiio césmica, desde que, naturalmente, neste meio tempo, ela ndo vd conira os propasitos da Natureza...”. Ela prossegue com uma discusstio sobre 0 que € que encarna e de que modo este processo é usado como um fator da evolucdo, resultando na con- quista do Adeptado. Em uma carta escrita para um amigo em 12 de julho de 1890, H.P.B. disse outras coisas interessantes sobre os Mahatmas: “Bles so membros de uma Fraternidade oculta {mas} de nenhuma es- cola indiana em particular. Esta Fraternidade”, acrescentou ela, “no se ori- xginou no Tibete, mas a maioria dos seus membros ¢ alguns dos mais eleva- dos entre eles esto e vivem constantemente no Tibete. 7 Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett Depois, falando dos Mahatmas, ela diz: “Sio homens vivos, ndo ‘espf- ritos’, nem mesmo Nirmanakayas' . ..O seu conhecimento e erudigao sio imensos, ¢ a santidade da sua vida pessoal é maior ainda ~ entretanto, eles siio homens mortais e nenhum deles tem a idade de 1,000 anos, ao contrétio do que algumas pessoas imaginam.” Em uma conversa em 1887 com o escritor Charles Johnston (marido da sobrinha de H.P-B., Vera), quando ele perguntou a H.P.B. sobre a idade do Mestre dela (0 Mahatma Morya), ela respondeu: “Meu querido, ndo pos- so dizer exatamente, porque no sei. Mas conto-Ihe o seguinte. Eu o encon- trei pela primeira vez quando tinha vinte anos. Ele era um homem no auge de sua forga, na época. Agora, sou uma mulher velha, mas ele nao parece nem um dia mais velho. Ele ainda esté no auge da sua forga. Isto & tudo 0 que posso dizer. Tire suas proprias conclusbes”. Quando o sr. Johnston in- sistiu e perguntou se os Mahatmas haviam descoberto o elixir da vida, ela respondeu seriamente: “Isso nao é um mito. E apenas 0 véu que esconde um processo oculto real, 0 afastamento da velhice e da dissolueo durante perfo- {dos que pareceriam fabulosos, e por isso no os mencionarei, O segredo € 0 seguinte: para todo ser humano hi um climatério, quando ele deve se apro- ximar da morte, Se ele desperdigou as suas forgas vitais, nto hi escapatéria, mas se ele viveu de acordo com a lei, pode atravessar esse perfodo ¢ assim continuar no mesmo corpo quase indefinidamente”? Como as Cartas vieram a ser escritas? Os autores das cartas so os Mahatmas Koot Hoomi ¢ Morya, geral- mente designados simplesmente pelas suas iniciais. (O Mahatma K.H. era um brimane de Cachemira, mas na época em. que nos deparamos com ele nas cartas, ele tinha relagdes estreitas com a corrente Guelupa ou "gorro amarelo” do Budismo tibetano. Ble se refere a si préprio nas cartas como um “morador de cavernas de aquém e além dos Himalaias”. H.P.B. diz em [sis Sem Véu que a doutrina de Aquém dos malaias é uma doutrina ariana muito antiga, as vezes chamada bramanica, mas que na verdade nada tem a ver com 0 bramanismo tal como nés 0 en- tendemos agora. A doutrina de Além dos Himalaias € uma doutrina esotérica tibetana, 0 Budismo puro ou “antigo”. Ambas doutrinas, de Aquém e Além ' Aquele que nao mais encarna, mas que decidiu renunciar ao Nirvana por solidariedade «para ajudar os seres menos evolufdos, (N. ed. bras.) 2 Collected Writings, Vol.VM, p. 392. 18 Notas Introdutdrias dos Himalaias, vém originalmente de uma s6 fonte ~ a Religido de Sabedo- ria universal O nome “Koot Hoomi” é um nome mistico que ele usou em relagdo 2 correspondéncia com A.P. Sinnett. Ele falava e escrevia em francés e inglés fluentemente. Hé afirmagoes na literatura teos6fica no sentido de que 0 Mahatma KH, estudou na Europa. Ele estava familiarizado com os habitos ¢ 0 modo de pensar dos europeus. Era muito erudito e, as vezes, esctevia passagens de grande beleza literdria, ‘© Mahatma Morya era um principe rajput — 08 rajputs formavam a casta governante do norte da india na época. Ele era “um gigante, de quase dois metros de altura, ¢ de um porte magnffico; um tipo espléndido de bele- za masculina” > F bastante conhecido o episédio da fundagao da Sociedade Teos6fica em Nova Iorque, em 1875. Em 1879, os dois principais fundadores da Soci- ‘edade, H.P. Blavatsky ¢ 0 coronel Henry Steel Olcott, transferiram a sede da Sociedade para Bombaim, na India ¢, em 1882, para Adyar, Madras (atual Chennai), no sul da India, onde permanece. Morava na india, na época, um inglés culto e muito refinado, chamado ‘Alfred Percy Sinnett. Ele era editor de The Pioneer, o principal jornal inglés, publicado em Allahabad. Ble se interessou pela filosofia exposta pelos dois Teosofistas ¢ estava curioso a respeito dos acontecimentos notaveis que pare- ciam sempre ocorrer na presenga de H.P.B. Em 25 de fevereiro de 1879, nove dias apés a chegada dos fundadores a Bombaim, Sinnett escreveu ao coronel Olcott expressando o desejo de conhecer H.P.B. ¢ ele, ¢ afirmando que estava disposto a publicar quaisquer fatos interessantes a respeito da missio deles na india. Em 27 de fevereito de 1879, Olcott respondeu esta carta. Comegou sim o que Olcott chamaria de “um vfnculo produtivo e uma amizade agradé- vel”, Os fundadores foram convidados a visitar os Sinnett em Allahabad, 0 que ocorreu em dezembro de 1879. Nessa visita os Sinnett filiaram-se & So- ciedade Teoséfica, ¢ os fundadores encontraram outros visitantes que iriam cumprir um papel na vida da Sociedade: A.O. Hume e sua esposa Moggy, de Simla, ¢ a sta. Alice Gordon, esposa do tenente-coronel W. Gordon, de Cal- cut. No ano seguinte, os fundadores visitaram os Sinnett na sua residéncia de verdio, em Simla, naquela época a capital de vertio da India. La, eles fica- ram conhecendo melhor o casal Hume e sua filha, Maric Jane (usualmente 3 Collected Writings, vol. TI, p. 399. 19. Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett chamada de Minnie). O passatempo favorito de Hume era o estudo de passa- 10s, ¢ ele mantinha um museu ornitolégico em sua espagosa casa, que cha- mava de Castelo Rothney, na colina Jakko, em Simla; também publicava uma revista sobre ornitologia, Stray Feathers. Profissionalmente, ele era, havia algum tempo, membro influente do governo. Foi em Simla que aconteceram os fatos que resultaram nas cartas pu- blicadas na obra Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett. H.P.B. realizava alguns fenémenos surpreendentes ¢ os atribufa aos Mahatmas, com quem ela estava em contato psiquico mais ou menos constante. Sinnett estava conven- cido da veracidade desses fendmenos, ¢ cm seu livro O Mundo Oculto fez uum vasto trabalho para comprovar a sua autenticidade. Ele tinha também uma mentalidade prética e cientifica, ¢ desejava sa ber mais a respeito das leis que governavam essas manifestagdes. Queria, especificamente, saber mais sobre aqueles seres poderosos que H.P.B, cha- mava de “Mestres” e que, segundo ela, eram os responsaveis pelos fendme- nos. Ele Ihe perguntou se seria possivel entrar em contato com eles ¢ receber instrugGes, HLP.B. disse-Ihe que no era muito provavel, mas que tentaria, De int cio, ela consultou o seu Mestre, 0 Mahatma Morya, com quem cla estava estreitamente ligada através do treinamento oculto a que se submetera ante- riormente no Tibete, mas ele se recusou categoricamente a comprometer-se ‘com essa tarefa. (Mais tarde, entretanto, chegou a assumir a correspondéncia durante alguns meses, devido a circunstancias muito especiais.) Aparentemente, HP-B. tentou 0 mesmo com varios outros, sem suces- so. Finalmente, 0 Mahatma Koot Hoomi concordou em manter uma corres- pondéncia limitada com Sinnett. O sr. Sinnett enderegou uma carta “ao Irmiio Desconhecido” e entre- gou-a a HP.B. para que a transmitisse, Na verdade, ele estava tio ansioso por defender o seu ponto de vista de modo convincente que escreveu. uma segunda carta antes de receber uma resposta & primeira. Seguiu-se, entio, uma série de cartas notveis, e a correspondéncia continuou por varios anos, tendo como um dos seus varios resultados de longo prazo a publicagdo das cartas em forma de livro. Virginia Hanson 20 Prefacio 4 Edigao em Lingua Portuguesa Diversas religides da humanidade preservam uma tradigao segundo a qual uma coletividade de grandes sabios inspira e conduz, silenciosamente, a nossa humanidade no caminho que leva & paz e & sabedoria. O taofsmo men- a estes sabios como Imortais, e 0 hindufsmo usa o termo Rishis. Para o budismo, eles stio Arhats. Outros os chamam de Mahatmas, raja iogues, mestres de sabedoria, Adeptos ou, simplesmente, Iniciados. Segundo a filo- sofia esotérica, estes seres atingiram o Nirvana e libertaram-se inteiramente do estdgio atual do reino humano, mas permanecem ligados & humanidade por lagos de compaixao e solidariedade. A coletividade destes sdbios, que tem ramificagdes em varios conti- hentes, aprovou ¢ promoveu, em 1875, a criagao da Sociedade Teoséfica Assim surgi um niicleo da fraternidade universal sem distingzio de classe, nacionalidade, raga, casta, credo, sexo ou cor. Dois destes Mahatmas parti- ciparam de modo mais especifico e direto do esforgo teos6fico. A. presente edigio retine a correspondéncia entre estes instrutores ¢ Alfred Sinnett, um dos principais Iideres teosdficos dos primeiros tempos. Do ponto de vista teoséfico, as Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett sio textos de importancia incompardvel na literatura de todos os tempos. Pela primeira vez, sébios que completaram a etapa atual da evolugdo humana coloca. ram seus ensinamentos no papel, abrindo, durante alguns anos, uma excego & regra milenar pela qual grandes Adeptos ¢ instrutores nada escrevem. So, pois, documentos de um valor inestimavel. Pouco a pouco, a medida que passa tempo, passam a ser conhecidos e discutidos mais abertamente entre os estu- dantes da filosofia esotérica em todo o mundo, ‘Ao mesmo tempo, o estudo das cartas apresenta dificuldades e desafios significativos. Por um lado, elas foram escritas em situagdes hist6ricas humanas muito especfficas, em grande parte desconhecidas do cidadio do séeulo 21. Por outro lado, ao escreverem, os Mahatmas nao tiveram em vista a publicagao das suas cartas. Nao se preocuparam com a forma externa, nem com as normas de cortesia mundana, mas, ao contrério, usaram de total franqueza, Além disso, a verdade é que o ensinamento vindo diretamente deles contraria de modo radical muitas opinides convencionais a que esta- mos acostumados em diversos assuntos. Outro fator que a dificuldade na~ tural dos temas abordados torna necessério que o estudante use a intuigdo ea capacidade de conviver com 0 desconhecido. Do ponto de vista da redago das Cartas, algumas frases, longas e que abordam temas complexes, ndo sio faceis de entender. Para muitos estudantes, no entanto, os desafios tornam o estudo mais estimulante. 2 Cartas dos Maharmas Para A.P. Sinnett Duas dificuldades para a compreensiio das Cartas dos Mahatmas de- ‘vem ser analisadas com mais detalhe, do ponto de vista do leitor de lingua portuguesa. A primeira dclas diz respeito as eriticas ao cristianismo. ‘As cartas dos Mahatmas devem ser vistas como documentos hist6ricos € em seu contexto. As criticas dos Mahatmas se referem ao aspecto dogma- tico, imperial e autoritério do cristianismo. Nio ao seu aspecto mistico e de sabedoria. Os teosofistas, com sua perspectiva ecuménica ¢ inter-religiosa sua proposta de liberdade de pensamento, eram uma ameaga para os dogmas de varias religides. Assim, missionérios cristios tentaram abafar e mais tarde atacaram frontalmente a Sociedade Teos6fica. E neste contexto que surgem as criticas mais francas e duras dos Mahatmas ao cristianismo dogmitico. Para que se tenha uma idéia das mudangas de mentalidade ocorridas desde o século 19, basta lembrar que os movimentos socialistas, na época, eram radicalmente criticos ao cristianismo: afirmavam que “a religiio € 0 6pio do povo”. Mas, desde entai io iniciou uma nova caminhada. A obra de autores cristios de vanguarda como Teillard de Chardin, Anthony de Mello, Leonardo Boff e Madre Teresa de Calcuté, para citar apenas quatro romes, tem aspectos essenciais em comum com a Teosofia. Hoje existe a teologia da libertagao. Até certo ponto, as criticas dos Mabatmas ao Vatica- xo anteciparam em um século o livro “Igreja, Carisma e Poder”. do conheci do te6logo brasileiro Leonardo Boff. A crise atual da igreja dogmética € um fato reconhecido. A igreja progressista deseja mudangas, e a aproximagio ‘stis € notdvel em muitas partes do mundo. Em virios sentidos, portanto, houve transformagdes significativas no cristianismo a partir da segunda metade do século 20. (Os Mahatmas sfio imparciais em relagao a todas as religides. Nao cri- ticam s6 0 eristianismo, mas todas elas, no que possem de supersticioso & ilusério. Isto fica claro, por exemplo, nas Cartas 88 ¢ 90. Especificamente, eles ndo poupam o hindufsmo, a principal religiiio da India, conforme se verifica ao ler a Carta 30. Na verdade, os Mahatmas sfo tio imparciais que, durante a crise da Loja teoséfica de Londres, em 1883, defenderam a mino- ria que havia adotado como prioridade o cristianismo esotérico, em detr mento da maioria dos membros da Loja que, liderada por Sinnett, seguia os ensinamentos esotéricos transmitidos por eles proprios. A liberdade de pen- samento ¢ a autonomia do aprendiz. sfo partes centrais e indispensiiveis do método de ensino dos Mahatinas. Nas Cartas, fica claro que eles combatem © dogmatismo com igual vigor dentro ¢ fora do movimento teos6fico, Vale a pena mencionar, neste contexto, as duras crfticas feitas nas Cartas aos jesuitas, Até hoje, no diciondrio Aurélio da lingua portuguesa, 0 significado da palavra “jesuita” & definido, entre outras acepedes, como 22 Prefiicio d Edigao em Lingua Portuguesa “sujeito dissimulado, astucioso, fingido, hipéerita”. Uma das acepgdes do adjetivo “jesuitico” no mesmo dicionario é, também, “dissimulado, astucio- 0", Portanto, os Mahatmas nao estavam sozinhos ao descrever como deso- nestos os métodos da hierarquia catdlica do século 19. Isto, porém, nao nega 1 contribuigdo cultural positiva que muitos jesuitas deram, em diversos ca- sos, 2 cultura ocidental. E é claro que os jesuftas mudaram muito desde en- to. Hoje, este e outros setores do cristianismo tém um pensamento moder- no, aberto, democritico e ecuménico diante das grandes questées éticas e sociais do nosso tempo. A segunda dificuldade a ser analisada mais especialmente diz respeito as erfticas dos Mahatmas ao movimento espirita. Aqui, também, € impor- tante ter uma perspectiva histérica dos fatos. A intengao inicial dos fundado- res do movimento teos6fico foi trabalhar em conjunto e em harmonia com o ‘movimento espftita. Depois de algum tempo, ficou claro que isso nilo seria possfvel na época, Durante algumas décadas, as relagdes foram tensas, € & neste contexto que foram escritas as cartas a seguir. Mas a partir da segunda metade do século 20, especialmente no Brasil, a aproximagao entre os dois movimentos tem sido visivel. Hoje € grande o niimero de espfritas que sio tcosofistas, € de teosofistas que so simpaticos a muitos aspectos do espiri- tismo. A principal critica teoséfica ao espiritismo se refere a mediunidade, que 0s Mahatmas condenam. Eles explicam detalhadamente 0s motivos nas cartas a seguir. O espiritismo tem evolufdo muito e, no futuro, a meta inicial de franca simpatia ¢ cooperagio entre teosofistas e espfritas sera cada vez mais facil, do mesmo modo como so frateros os lagos que ligam 0 movi- mento teos6fico a budistas, jainistas, hindufstas, judeus, mugulmanos, € a seguidores de diversas filosofias e religides, ou de nenhuma delas. Buscar a verdade onde ela esteja, com bom senso ¢ equilibrio, é uma idéia central para 0 movimento teos6fico. Deve-se levar em conta que as cartas eram documentos absolutamente confidenciais, € que os Mahatmas deixaram claro que jamais aprovariam a sta publicagio na fntegra. A publicago acabou ocorrendo longo tempo de- pois do término da correspondéncia e do afastamento deles em relagio as atividades visfveis da Sociedade Teos6fica. No infcio da década de 1920, 0 editor A. Trevor Barker julgou que, para evitar mal-entendidos, era necess4- rio dar a conhecer a todos, com total transparéncia, os pontos de vista ex- pressados diretamente pelos Mahatmas em relago a vida, as religides, a0 cristianismo, 3 filosofia esotérica e ao aprendizado espiritual O movimento teoséfico nao tem dogmas. Seu lema € “niio ha religido superior & verdade”, Assim, estas Cartas dos Mahatmas ndo so objetos de f€ cega pata ninguém. Porém, a importancia do seu contetido parece ine, 23 Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett vel no mundo todo para muitos estudantes da sabedoria divina, afiliados ou rio a instituigdes filos6ficas ou religiosas. Por isso, desde a sua publicagao ‘em Londres em dezembro de 1923, as edigdes das Cartas cos Mahatmas se multiplicam em diferentes pafses e idiomas, assim como sempre surgem novos livros com estudos e pesquisas sobre elas. O contetido essencial das cartas dos Mahatmas no s6 permanece atual e vilido para 0 dia de hoje, ‘mas € um instrumento insubstitufvel para compreender o futuro. E conveniente ter em conta, ao ler as cartas, que nelas os Mahatmas renunciam & consciéneia nirvanica para discutir detalhes, comentando situa- ges de intenso conflito humano e espiritual, € ndo demonstram qualquer preocupaco com a manutengo de uma imagem de sabios. O que eserevern € sempre verdadeiro, mas s6 mostra uma parte da verdade multidimensional e da visio completa que eles possuem da realidade, e que seria completa- mente impossivel colocar em palavras. Sua franqueza pode parecer dura, assim como parecem demasiado severos os métodos dos mestres do zen- budismo, por exemplo. Eles tampouco se ajustam aos nossos padres oci- dentais de cortesia, frequentemente acompanhados de falsidade e hipocrisia, cardter confidencial das cartas protegia o seu estilo, que poderia parecer duro para pessoas estranhas. Por outro lado, © leitor deve levar em conta que o carter externa- mente fragmentério do ensinamento faz. parte do esquema pedagégico dos Mahatmas. Espera-se que 0 aprendiz realize com perseveraniga € autonomia atarefa de ir reunindo aqui e ali elementos aparentemente esparsos do gran- de esquema evolutivo da vida, segundo a filosofia esotérica classica, A in- tuigdo despertara no decorrer deste processo. Como escreveu Alfred Sinnett em O Mundo Oculto (p.227), “estas revelagdes dispersas (...) foram quebra- das e espalhadas de propésito, de modo que 6 fosse possivel chegar a uma convicgio completa sobre 0 Adeptado depois de uma certa quantidade de trabalho empregado na tarefa de reunir as provas dispersas”, Ha duas maneiras principais de ler as Cartas. A primeira delas é abor- dar o texto em seu contexto histérico tentar compreender as circunstancias especificas em que ele foi escrito. A segunda maneira € ler 0 texto como se fosse diretamente dirigido a cada um de nés. Neste caso, aplicamos as nos sas vidas tudo 0 que, de algum modo, faz sentido para nds, e deixamos de ado o que ignoramos dos temas abordados, marcando e separando as frascs profundas e as verdades universais que aparecem a cada instante no texto, misturadas a discussdes de fatos de curto prazo do movimento teos6fico da década de 1880, Uma das perguntas que podemos fazer-nos ao ler o livro é como agirfamos, concretamente, nas situagdes descritas. Outra pergunta é: qual o significado deste ensinamento para nossa vida real, no momento pre~ ;cado pode ser imenso, renovador, revolucionétio. 24 Preféicio a Edigdo em Lingua Portuguesa eee Esta edigdo é uma transcrigdo literal das Cartas, e por isso nfo faze- ‘mos uma sistematizagio editorial no uso de letras maitisculas ou itilico. No caso do sinscrito, nfo usamos sinais diacriticos. Para maior comodidade do Ieitor Ieigo, ha notas de pé de pigina explicando termos como Tripitaka, dak, Khudakapatha ¢ outras palavras dos idiomas tibetano, latim, francés, hindi, pili ou sinscrito. Também fazemos a ligacdo entre diversos trechos das Cartas e os avangos da ci€ncia ao longo do século 20, como € 0 caso da descoberta de Pluto em 1930, da teoria do Big Bang, dos buracos negros, da fisica quiintica e dos avaneos recentes na Biologia. Ocorre que, para um Mahatma, o futuro € o passado longinquos sio vistos como parte do tempo presente, e os processos césmicos esto perfeitamente ao aleance da sua cons- cincia espacial, Em conseqiiéncia disso, € natural que as Cartas ~ escritas entre 1880 e 1885 — contenham varias indicagdes e antecipagées sobre 0 pro- gresso da cigncia e o avango da humanidade ao longo dos séculos 20 ¢ 21, ¢ também em séculos e milénios futuros. Nao é por acaso que o Mahatma K.H. ‘escreveu na Carta 65: “A ciéncia modema é 0 nosso melhor aliado”. Todas as notas de pé de pigina, independentemente da sua origem, estio numeradas carta por carta, As notas de pé de pagina escritas pelos Mahatmas estao em negro. Durante o trabalho de traduco, levamos em conta as edigées francesa ¢ espanhola das Cartas, ¢ consultamos toda a bibliografia dispontvel hoje internacionalmente sobre estes documentos hist6ricos de importincia incal- culavel. Queremos agradecer o trabalho voluntétio e altruista de muitas pesso- as que ajudaram em uma ou outra etapa da produgao destes dois volumes. Entre elas esto Radha Burnier, Christina Zubelli, Joy Mills, Dilza Braga Rosa, Maria Elizabeth de Oliveira, Aleyr Anfsio Ferreira, Valéria Marques de Oliveira, Wanisa Costa Lins, Edilson de Almeida Pedrosa, Ivana Campélo Gongalves, ¢ outros que leram e comentaram diversas cartas durante 0 pro- cesso de tradugdo ¢ revisio. Angela Maria Hartmann prestou uma ajuda de grande valor ao empreendimento, revisando os textos ¢ colaborando ativa- mente do infcio ao fim do trabalho. Brasflia, 22 de abril de 2001. Carlos Cardoso Aveline Coordenador da Edigdo em Lingua Portuguesa 25 Guia de Leitura Carta n° 3A. (ML-3A) Ree. em 20 de outubro de 1880 1. O niimero original da carta, nas trés primei- ras edigdes das Cartas dos Mahatmas, pre- Mecano FSi cedido das letras ML (Mahatma Letters), momento, mas imediatamen corpa no quario de vesig 90 aguele qu & chamado * 2. 0 mimero da carta por ordem cronolégica. Notas de Virginia Hanson sobre as cartas (em itélico). tum piquenique na colina Prospect 4. Anotagdes originais de A.P. Tetra menor), innett (em Meu Bom “Irmao”, Em sonhos e visoes pel ficilmente pode haver algum ' a minha presenea proxima comigo. Sua esposa o receber rosa para eserever, mas acred| para'o que tenho a dizer, 5. O texto da carta do Mahatma (em negrito). 6. Todas as cartas que no provém de um Mahatma estao publicadas sem negrito. 7. Comentiios feitos por Mahatmas sobre a eartas (em negrito). 8. As palavras sublinhadas em cartas que nfo provém de um Mahatma foram sub- linhadas por um Mahatma, ao Ié-las. Por fim wet the m na qual yoo escreveu umy ‘TENTE, seremos 05 primeiros serei sempre um sing 9. Notas de rodapé de A.T. Barker termi- nam com “(Nota da I? ed.)”. 10. Notas de rodapé de Christmas Humphreys ‘Aqui trés linhas dg, ¢ E. Benjamin terminam com “(N. da 3* autor da carta, (Ne edigaoy” Possivelmente Mlechéfas, bétbat|_1], Notas de rodapé do editor da edigo cro- noldgica,feitas eom base nas Novas de Vie- Rema cxinin antes de Mao fo ginis Hanson, tenminam com (EAC). Fd.C.) [-12. Notas de rodapé da edieto brasileira, es- No hemisfério norte, ondgseefe} —critas por Carlos C. Aveline, terminam com julho e agosto. (Ned. bras). “(N. ed. bras)”. 2 AOH. APS DK. ou Djx. HPB HS.O, si KH. LBs LL. ouL.L.Ts. ML ODL ST. 28 Abreviaturas Allan O. Hume Alfred Percy Sinnett Djual Khul ou Djual Khool Helena Petrova Blavatsky Henry Steel Oteott Isis Sem Véu, obra de H.P. Blavatsky Mahatma Koot Hoomi Letters of H.P. Blavatsky to A.P. Sinnett (Cartas de HP. Blavatsky Para A.P. Sinnett), transcritas © compiladas por A.T. Barker (Theosophical Univer- sity Press, 1973). Loja de Londres da Sociedade Teoséfica Mahatma Morya Mahatma Letters to A.P. Sinnett (Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett), transcritas e comy ladas por A. Barker Old Diary Leaves (Folhas de um Velho Diario), de Henry Steel Oleott Sociedade Teoséfica 1 oe te. pales Lrviole ths ghee om Fort torrie Masigh bude Cite th. Ogugties of fos = Ces ae Lani bey eur are gail Leek in Ua Hynedssies Pn fawiteatya om Chaka ow Sa Ze cai tea tal Quer o Ka ‘Um exemplo da letra de “K.H.”, precipitada em cor azul, sob uma nota de Damodar K. Mavalankar. A maior parte das cartas de “KH.” std escrita com tinta azul ou por lapis azul 31 oH -CecEidoncon. yee Kyobu ourgmgye uy oh cee yi BrvPiKs oer sare my danny pare See nage wine u (Cid PoontZ Libdlregh Gerad J oo Wepe. hast = S204 1 Fragmento encontrado no envelope da carta n® 96 (ML-92).. Il, IIL, TV — Reprodugdes das assinaturas das cartas n® | (ML-1), n® 5 (ML-4), e n? 59 (ML-132), respectivamente. 33, AS CARTAS DOS MAHATMAS Cartan? 1 (ML-1) _17de outubro de 1880 Em O Mundo Oculto,! pp. 98-99, A.P. Sinnett explica o que escreveu em sua primeira carta ao Mahatma e por que a escreveu. Apesar de ndo ter diividas da autenticidade dos fenémenos realicados por H.P.B. durante 0 verdo de 1880 em Simla, ele sentia que os fenémenos nem sempre eram ro- deados das garantias necessdrias ¢ que ndo seria muito dificil para um eéti- co radical levantar divides quanto a sua validade. Ele estava ansioso pela produgiio de alguns fendmenos que, como dizia, “ndo deixassem possibili- dade alguma de pensar em embuste”. Ele pensava que os préprios “Ir- ‘miios” talvez niéo compreendessem a necessidade de tornar os seus fenome- nos sempre incontestaveis em cada minimo detalhe. Assim Sinnett decidiu sugerir em sua primeira carta para o Mahatma um teste que. ele tinha certeza, seria uma prova completa e ndo poderia deixar de convencer até 0 maior cético. Esse teste era a aparigaio simulténea em Simla (na presenea do grupo de 1d) de um exemplar do mes- ‘mo dia das edi¢des do London Times ¢ de The Pioneer. Naguela época havia entre Londres e India uma demora de comu- nicagdo de pelo menos um més, com a excegao do telégrafo, e teria sido obviamente impossivel telegrafar todo 0 conteiido do Times, para a india, antes de sua publicagéo em Londres, e fazé-lo aparecer impresso na India ao mesmo tempo que em Londres. Além disso, um fato como esse s6 poderia ser feito chamando a atengio de todo 0 mundo. Depois de escrever a carta ¢ entregd-la a H.P.B., transcorreu um dia, mais ou menos, antes que ele tivesse alguma noticia a respeito. Final- mente, H.P.B. disse que ele iria receber uma resposta. Isso 0 deixou tdo animado que ele escreveu uma segunda carta, achando que, talvez, ndo tivesse sido suficientemente incisivo na primeira para convencer 0 seu cor- respondente. Um dia depois ele achou em sua escrivaninka, durante a tarde, «a primeira carta do Mahatma K.H. Ela respondia as duas cartas de Sinnett, ' Ed. Teosética, Brastlia, 2000, 233 pp. (N. ed. bras.) 35 Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett Recebida em Simla em torno de 15 de outubro de 180. Prezado Irmio e Amigo, Justamente porque o teste com o jornal de Londres fecharia a boca dos céticos — ele é impensavel. Entenda isto como quiser ~ mas 0 mundo ainda est4 no seu primeiro estdgio de libertacdo, se nao de desen- volvimento, portanto — despreparado. E verdade que nés trabalhamos usando leis e meios naturais e nio sobrenaturais. Mas como de um lado a Cigneia se veria ineapaz, (no seu estégio atual) de explicar as maravi- Ihas feitas em seu nome, e de outro lado as massas ignorantes ainda ve- riam o fenémeno como se fosse um milagre, qualquer um que testemu- nhasse a ocorréncia ficaria desequilibrado, e os resultados seriam de- plordveis. Acredite-me, isso € 0 que ocorreria — especialmente para vocé, que teve a idéia, e para a devotada mulher que tao tolamente corre em diregio & ampla porta aberta que leva & notoriedade. Essa porta, mes- mo aberta por mios tio amigas quanto as suas, se transformaria em pouco tempo em uma armadilha ~ e, na verdade, uma armadilha fatal para cla. E esse nao é, certamente, 0 seu objetivo. Loucos so aqueles que, especulando apenas sobre o presente, fecham voluntariamente os olhos para 0 pasado, quando jé sio natu ralmente cegos para 0 futuro! Longe de mim a idéia de incluir voce en- tre esses — portanto tentarei explicar a sit Se cedéssemos ao seu desejo, vor’ sabe realmente quais seriam as conseqiiéncias? A inexor’- vel sombra que segue todas as inovagdes humanas se movimenta e, no entanto, poucos so aqueles que estiio, de algum modo, conscientes de sua aproximagio e de seus perigos. O que poderiam esperar aqueles que gostariam de oferecer ao mundo uma inovagao que, devido & ignordncia humana, se fosse considerada auténtica, certamente seria atribuida Aqueles poderes das trevas em que dois tergos da humanidade acredi- tam com temor? Vocé diz que metade de Londres seria convertida se vocé pudesse entregar ao ptiblico de 14 0 jornal Pioneer no mesmo dia da sua publicacio. Permita-me dizer que, se as pessoas acreditassem que a coisa era verdadeira, elas o matariam antes que pudesse dar uma volta no Hyde Park, e se elas nao acreditassem, o minimo que poderia acontecer seria a perda da sua reputagiio e de seu bom nome, por pro- pagar tais idéias. éxito de uma tentativa do tipo que voc8 propde tem que ser caleulado e baseado num profundo conhecimento das pessoas & sua vol- ta, A atitude das pessoas diante dessas questdes mais profundas e miste- riosas que podem sensibilizar a mente humana ~ os poderes deificos no 36 Carta n® 1 homem e as possibilidades contidas na Natureza ~ depende inteiramente das suas condicdes sociais e morais. Quantos, mesmo entre 0s seus me- Ihores amigos, daqueles que o rodeiam, tém mais que um interesse su- perficial nesses assuntos tao complexos? Voc poderé conté-los nos de- dos da sua mio direita, A sua raga se orgulha de ter libertado no seu século o génio hé tanto tempo aprisionado na estreita garrafa do dog- matismo ¢ da intolerdncia — 0 génio do conhecimento, da sabedoria ¢ do livre pensamento. E diz que o preconceito ignorante e o fanatismo reli gioso colocados numa garrafa como um velho génio maligno, e lacrados nela pelos Salom@es da ciéneia, repousam no fundo do mar e nunca mais poderao escapar para a superficie, e reinar sobre 0 mundo como fizeram no passado; que a opinido pablica est4 completamente livre, em resumo, ¢ pronta para aceitar qualquer verdade que seja demonstrada, Ah, sim, mas isso é realmente verdade, meu respeitavel amigo? O co- nhecimento experimental nao surgiu em 1662, quando Bacon, Robert Boyle ¢ 0 Bispo de Rochester transformaram, mediante uma autoriza- cdo real, o seu Colégio Invisfvel numa sociedade para a promogio da ciéncia experimental. Eras antes da exist8ncia da Royal Society se tornar uma realidade, sob o plano de um Esquema Profético, um anseio inato pelo oculto, um amor apaixonado pela Natureza e seu estudo levaram homens de varias geracdes a experimentar e mergulhar nos seus segre- dos de modo mais profundo que os seus contempordneos. Roma ante Romutum fuit ~ este € um axioma que nos fol ensinado em suas escolas inglesas. As pesquisas abstratas dos problemas mais complexos no sur- giram no cérebro de Arquimedes como um assunto esponténeo € até entao inédito, mas sim como um reflexo de investigacdes anteriores fei- tas na mesma direcdo por homens tao anteriores 4 época dele quanto 0 grande siracusano* é anterior & época de voc - e muito mais. O yril de “A Raca Futura” foi propriedade comum de racas agora extintas. A prépria existéncia dos nossos ancestrais gigantescos € agora questiona- da, embora nos Himavats’, no préprio territ6rio controlado por voces, haja uma caverna cheia de esqueletos desses gigantes, ¢ as suas enormes carcacas, quando forem encontradas, sero invariavelmente considera- das aberragdes isoladas da Natureza. Do mesmo modo 0 vril ou Akas,6 como nés 0 chamamos, ¢ olhado como uma impossibilidade, um mito, E 2 Roma existia antes de ROmulo fundé-la, (Ed. C.) 3 Arguimedes. (Ed. C.) 4 Referéncia a0 livro A Raga Futura (The Coming Race), de Edward Bulwer Lytton, autor também do romance ocultista Zanoni. (N. ed. bras.) 5 Himalaias. (N. ed. bras.) © Akasha, (Ned. bras.) 37 Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett sem 0 completo conhecimento do Akas, de suas combinacdes e proprie- dades, como pode a Ciéncia encarar tais fendmenos? Nao duvidamos que os homens da sua ciéncia estejam abertos a novas evidéneias. No entanto, os fatos tm que ser em primeiro lugar demonstrados a eles; devem primeiro tornar-se propriedade deles, comprovando que compativeis com os seus préprios modos de investigacio, antes que este- jam dispostos a aceité-los como fatos. Basta vocé olhar 0 prefaicio do texto “Micrografia” para descobrir nas sugestées de Hooke’, que as relagdes internas dos objetos tinham, do seu ponto de vista, menos im- portancia que a ago externa deles sobre os sentidos ~ ¢ as excelentes descobertas de Newton encontraram nele 0 seu maior oponente. Os mo- dernos Hooke so muitos. Assim como esse homem erudito mas igno- rante em relaco a épocas anteriores, os seus modernos homens da cién- cia estiio menos dispostos a sugerit uma conexao fisica dos fatos, que Ihes poderia revelar muitas das forgas ocultas na natureza, do que a produzir uma cémoda “classificaco das experiéncias cientificas”, de modo que a qualidade mais essencial de uma hipétese nfo é a de que ela deva ser verdadeira mas apenas plausivel — na opiniao deles. Até aqui sobre Ciéncia — com base no que conhecemos dela, Quanto & natureza humana em geral, ela é igual agora a como era hi um milhao de anos atras: preconceito baseado no egoismo; uma resis- téncia generalizada a renuneiar & ordem estabelecida das coisas em fun- ‘cao de novos modos de vida e de pensamento — e o estudo oculto requer tudo isso ¢ muito mais —; orgulho e uma teimosa resist@ncia 4 Verdade, quando ela abala as suas nogdes prévias das coisas — tais siio as caracte- risticas da sua época, especialmente nas classes inferiores € médias. Quais seriam, portanto, os resultados dos fendmenos mais surpreenden- tes, supondo que tivéssemos concordado com a sua producaio? Por mais bem-sucedidos que fossem, 0 perigo cresceria na proporgio direta do éxito. Em pouco tempo, nao haveria alternativa exceto continuar, sem- ‘e num crescendo, ou cair numa luta infind4vel com 0 preconceito € a ignordncia e ser destrufdo por suas préprias armas. Um teste ap6s 0 outro seriam solicitados ¢ teriam de ser feitos; ¢ se esperaria que cada fendmeno fosse mais maravilhoso que o anterior. Vocé diz todos os dias que nao se pode esperar de alguém que acredite, a nfo ser que seja uma {estemunha ocular. Seria suficiente o tempo de vida de um homem para satisfazer um mundo inteiro de céticos? Pode ser facil elevar 0 nimero 7 Robert Hooke (1635-1703), fisico experimental inglés, membro da Royal Society. Investigou a gravitagio universal e formulou, embora de modo imperfeito, a teoria ‘ondulatéria da luz. Micrographia (1665) € um dos seus primeiros escritos, (N. ed. bras.) 38. Canta n® 1 original de crentes em Simla para centenas ¢ milhares. Mas o que dizer das centenas de milhdes de pessoas que nao poderiam ser testemunhas oculares? O ignorante ~ incapaz de atingir os operadores invistveis — poderia algum dia extravasar sua célera nos agentes visiveis do traba- Tho; as classes mais altas e cultas continuariam a no acreditar como sempre, reduzindo voe8s a nada, como até agora, Voeés, como muitos outros, nos culpam pela nossa grande reserva, Todavia, nés conhecemos algo da natureza humana, porque aprendemos com a experiéncia acu- mulada ao longo de séculos ~ sim, eras. E sabemos que, enquanto a ci éncia tiver algo a aprender, e enquanto restar uma sombra de dogm: tismo religioso no coracdo das multiddes, os preconceitos do mundo tém que ser vencidos passo a passo, sem atropelos. Assim como o passado remoto teve mais de um Séerates, o vago futuro vera o nascimento de mais de um mértir. A emancipada ciéncia desprezou a opinido de Copérnico, quando ele renovou as teorias de Aristarco de Samos’ ~ que afirmou que “a Terra se move circularmente ao redor do seu préprio centro” - anos antes que a Igreja quisesse sacrificar Galileu como um holocausto & Biblia. O melhor matematico da corte de Eduardo VI - Robert Recorde — foi deixado passar fome na prisdio pelos seus colegas, que riam do seu Castle of Knowledge?, declarando que as suas descober- tas eram “vas fantasias”, William Gilbert de Colchester, médico da rai- nha Isabel, morreu envenenado, somente porque esse verdadeiro fun- dador da ciéncia experimental na Inglaterra teve a audécia de antecipar Galileu, apontando a faléeia de Copérnico quanto ao “terceiro movi- mento”, que era seriamente apresentado como explicando o paralelismo do eixo de rotacdo da Terra! O enorme conhecimento dos Paracelso, dos Agrippa!® e dos Dee" foi sempre contestado. Foi a ei@ncia que colocou a sua milo sacrflega sobre as grandes obras De Magnete!2, The Heavenly White Virgin!? (Akas) outras. E foi o ilustre Chanceler da Inglaterra e da Natureza — lorde Bacon de Verulam ~ que, depois de receber 0 titulo 5 Aristarco de Samos, astrOnomo grego ativo ao redor de 270 @.C., foi um dos primei- tos a defender a tese de que a Terra gira ao redor do Sol. (Ned. bras.) Castelo de Conhecimento. (N. ed. bras) 10 Heinrich Comelius Agrippa (1486-1535), médieo, soldado, escritor ocultista ale- mio, Entre suas principais obras esté Da Filosofia Oculta (cerca de 1510). (N. ed bras.) 11 John Dee (1527-1608), matemético ¢ astr6logo inglés, favorito da rainha Elizabeth I ¢ contemporanco de Francis Bacon. (N. ed, bras.) ‘Do magnetismo”. (N. ed, bras) 13-“A Branca Virgem Celeste". (N. ed. bras.) 39 Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett de pai da filosofia indutiva, permitiu-se falar de homens como os menci- onados acima, chamando-os de “Alquimistas da filosofia fantiistica”. “Tudo isso 6 hist6ria antiga”, pensar vocé. F verdade; mas as crénicas dos dias modernos nao diferem muito das suas antecessoras. Basta lembrar as recentes perseguicdes de médiuns na Inglaterra, a queima de supostas feiticeiras e bruxos na América do Sul, Russia e na fronteira da Espanha — para confirmar a nés mesmos que a tinica salva a0 para os verdadeiros conhecedores das ciéneias ocultas € o ceticismo do ptiblico; os charlatdes e os prestidigitadores sao os escudos naturais dos “adeptos”. A seguranga piblica sé é mantida porque mantemos seeretas as terriveis armas que poderiam ser usadas contra ela, e que, como jé foi dito a vocé, seriam mortais nas maos dos perversos ¢ dos egofstas, Concluo lembrando a vocé que os fendmenos pelos quais anseia foram sempre reservados como uma recompensa Aqueles que dedica- ram suas vidas para servir a deusa Saraswati - a nossa fsis ariana. Se cles fossem oferecidos aos profanos, o que restaria para os que sao fiéis a nés? Muitas das suas sugestdes so altamente razoaveis e serio aten- didas. Eu ouvi atentamente a conversa que houve na casa do sr. Hume. Os argumentos dele sio perfeitos do ponto de vista da sabedoria exoté- rica, Mas, quando chegar 0 momento e ele puder ter um relance com- pleto do mundo do esoterismo, com as suas leis baseadas em céileulos matematicamente corretos do futuro — os resultados necessérios das causas que sempre temos liberdade para criar € modelar & nossa vonta- de, mas cujas conseqiiéncias somos incapazes de controlar, e as quais, desta forma, se tornam nossos mestres — 56 entaio tanto ele como voce compreenderio por que, para 0 nio-iniciado, nossos atos freqiientemen- te parecem pouco sabios, ou tolos, de fato. Nao poderei responder por completo sua préxima carta sem me aconselhar com aqueles que lidam, normalmente, com os misticos europeus. Além disso, a presente carta deve satisfazé-lo em muitos pon- tos que vocé definiu melhor em sua tiltima; mas também ir desaponté- lo, sem dtivida. Quanto a produgao dos fendmenos recentemente imagina- dos ¢ ainda mais surpreendentes que foram pedidos a ela! e que seriam realizados com nossa ajuda, vocé, como um homem que conhece estra- {égia bastante bem, deve ficar satisfeito com a reflexio de que pouco adianta conquistar novas posi¢des até que as que j4 foram alcangadas estejam seguras, € que os seus inimigos estejam perfeitamente conscien- tes do seu direito & posse delas, Em outras palavras, vocé presenciou uma variedade maior de fendmenos, produzidos para vocé e seus ami- 4 ELP.B. (N. ed. bras.) 40 Cartan? 1 gos, do que muitos ne6fitos viram em varios anos. Primeiro, comunique a0 piiblico a materializagao do bilhete, da xicara e dos diversos experi: mentos feitos com papéis de cigarros, e deixe que isto seja digerid Faca-os trabalhar na busca de uma explicacao. E como eles ~ a menos que usem a acusagio direta e absurda de fraude ~ jamais serdio capazes de explicar alguns dos experimentos, enquanto os céticos estiio comple- tamente satisfeitos com a atual hipétese deles sobre a materializagao do broche ~ vocé ter entio feito um verdadeiro bem para a causa da ver- dade, e ter4 feito justica para com uma mulher que sofre por causa dis- so tudo. Tratado isoladamente como esta sendo no Pioneer, 0 caso se torna pior que indtil — passa a ser positivamente prejudicial para todos ‘voces ~ tanto para voeé, como editor do jornal, como para os outros, se me perdoa por dar-Ihe algo que parece um conselho. Nao € justo nem para vocé nem para ela que, devido ao fato de que o niimero de teste- munhas oculares nao parece suficiente para chamar a atencio do pabli- €o, 0 seu testemunho e o de sua esposa sejam considerados iniiteis. Com varios casos combinados para fortalecer a sua posi¢ao como uma teste- munha confiivel e inteligente dos varios acontecimentos, cada um deles Ihe da um direito adicional de afirmar 0 que sabe. Isso impde a voc’ 0 dever sagrado de educar 0 pablico e preparé-lo para possibilidades fu- turas, abrindo gradualmente sna visio para a verdade. A oportunidade iio deve ser perdida pelo fato de que sua confianga em seu proprio di reito individual de fazer afirmagdes nao seja tio grande como 0 de si Donald Stewart. Uma testemunha cujo cardter € bem conhecido tem mais peso que dez estranhos; e se ha alguém na india respeitado pela sua confiabilidade, 6 0 editor do Pionner. Lembre-se de que ha somente uma mulher histérica que alega ter estado presente na suposta ascen- sio!6, e que o fendmeno nunea foi corroborado por sua repetigio. Entre- tanto, durante quase 2000 anos, incontaveis milhGes de pessoas depos taram sua fé no testemunho daquela mulher ~ e ela nao tinha extrema credibilidade. TENTE - e trabalhe primeiro com 0 material que voce tem, entdio nés seremos os primeiros a auxilié-lo a obter novas evidéncias. Até Id, ereia-me, serei sempre um sincero amigo seu, Koot’ Hoomi Lal Singh. 1S A desctigho destesfendimenos pode ser encontrada no Capitulo 4 do livro © Mundo Oculto, de A.P. Sinntt. (Ed. C.) 16 0 mestre se refere i ressurreigio de Jesus que, segundo a Biblia Foi presenciada por Maria Madalena. Em Joao, 20:17, Jesus diz a Maria Madalena: “Nio me retenbias, pois ainda no subi ao Pai, Vai, porém, a meus irmios, ediz-Ihes que subo a meu Pai € a vosso Pai, a meu Deus ea vosso Deus.” (N. ed. bras.) 4l Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett Carta n22 — (ML-2) Recebida em 19 de outubro de 1880 A primeira carta recebida do Mestre K.H. foi escrita no Mosteiro de Toling, no Tibete, a uma distancia relativamente pequena da fronteira, Quando a segunda foi escrita (ou precipitada), 0 Mahatma havia deixado 0 Mosteiro de Toling e estava em algum ponto do vale de Cachemira, viajan- do para consultar 0 Maha-Chohan a respeito da carta que recebera de A.O. Hume. Como Sinnett explicou em O Mundo Oculto, Hume havia lido a pri- meira carta vinda do Mahatma, ficara entusiasmado com as possibilidades dessa correspondéncia e decidira escrever pessoalmente a K.H. Em sua carta ele se propusera a abandonar tudo e a entrar em retiro, se pudesse ser treinado em ocultismo com o objetivo de retornar ao mundo e demonstrar a sua realidade.! Apés receber a primeira carta do Mahatma, o sr. Sinnett escreveu-the novamente, dizendo que, na verdade, a mente européia era menos obstinada do que KH. pensava, e estabelecendo certas condigdes sob as quais ele estaria disposto a trabathar pela causa dos Mestres. Também fez wna su- gestdo, que ele ¢ Hume haviam imaginado, de que fosse formada uma segao separada da Sociedade Teoséfica, a ser chamada de Loja Anglo-Indiana, que néo ficaria subordinada, de modo algum, a H.P.B. ¢ ao cel. Olcott, mas seria conectada diretamente d Fraternidade, com os Mahatmas dando suas instrugdes e seus ensinamentos diretamente aos membros do grupo. Parece que também Hume, em sua carta ao Mahatma, havia argumentado em favor desta sugestio, Reeebida em Simla, 19 de outubro de 1880. Prezado Senhor e Irmio, Nao poderemos entender-nos, em nossa correspondéncia, enquan- to nao ficar completamente claro que a cigncia oculta tem os seus pré- pris métodos de pesquisa, to arbitrérios e fixos como séio, & sua ma- neira, os da ciéneia fisica, sua antitese. Se esta titima possui as suas mi- ximas, a ciéncia oculta também as possui; e aquele que quiser cruzar os limites do mundo invisivel nao poderé determinar por si mesmo como ha de progredir no seu caminho, do mesmo modo como quem pretende penetrar nos recessos internos dos subterréneos de Lhasa, a abencoada, ! Veja a resposta do Mahatma K-H. a Hume no Anexo I, volume 2 desta edigdo. (N. ed. bras.) 42 Carta n&2 no pode mostrar o caminho ao seu guia. Os mistérios nunca puderam e Jamais poderao ser colocados ao alcance do ptiblico em geral; nao, pelo ‘menos, até 0 dia tio esperado em que nossa filosofia religiosa se torne universal. Em todas as épocas somente uma escassa minoria de homens possuiu os segredos da natureza, embora multiddes tenham testemu- nhado as evidéncias praticas da possibilidade de sua posse. O adepto é a rara eflorescéncia de uma geragio de buscadores; ¢ para converter-se num deles é preciso obedecer ao impulso interno da alma sem levar em conta as cautelosas consideragdes da.ciéncia ou da inteligéncia munda- nas. O seu desejo é entrar em comunicagio direta com um de nés, sem a intervengiio da sra. B. ou de qualquer intermediério. Sua idéia seria, se eu a compreendo, obter tais comunicacdes por cartas ~ como a presente — ou por palayras audiveis, de modo que vocé seja guiado por um de nés na administragio e, prineipalmente, na instrugso da Sociedade. Voc& quer tudo isso, ¢ todavia, como voc® mesmo diz, ainda nao encontrou até agora “razdes suficientes” para abandonar nem mesmo os seus “modos de vida” que sio diretamente hostis a tal tipo de comunicagio. Isto 6 pouco razofvel. Aquele que quiser erguer alto a bandeira do mis- ticismo ¢ proclamar que o seu reino esti préximo tem que dar o exem- plo aos outros. Ele deve ser o primeiro a mudar os seus préprios modos de vida; e, com relagio ao fato de que o estudo dos mistérios ocultos é 0 degrau mais alto da escada do Conhecimento, tem que proclamar isso em voz alta, apesar da ciéncia exata e da oposi¢ao da sociedade. O Reino do Céu é obtido pela forca, dizem os misticos cristios. E somente com uma arma na mio e disposto a vencer ou morrer que o mfstico moderno pode ter a expectativa de alcangar seu objetivo. Minha primeira resposta cobriu, pensei, a maior parte das ques- tes da sua segunda e mesmo as da sua terceira carta. Tendo expressado nela a minha opinido, de que 0 mundo em geral nao est ainda maduro para nenhuma comprovagio demasiado impactante de poderes ocultos, resta-nos apenas tratar com os individuos isolados que buscam, como voc’, ir além do véu da matéria até 0 mundo das causas primérias, ow seja, s6 precisamos considerar agora 0 seu caso eo do sr. Hume. Esse senhor fez-me também a grande honra de dirigir-se a mim pessoalmen- te, fazendo algumas perguntas ¢ estabelecendo as condigoes sob as quais estaria disposto a trabalhar seriamente para nés. Mas como as suas mo- tivagdes e aspiracdes siio de natureza diametralmente opostas, e levam, portanto, a resultados diferentes, tenho que responder separadamente a cada um de vocé: 43 Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett O primeiro e principal fator que determina nossa decisio de ace’ tar ou rejeitar sua oferta esta na motivagio interna que o leva a buscar as nossas instrugées e, em certo sentido, a nossa orientagao. Esta tiltima é buseada, em todo caso, com certas reservas — tal como eu entendo, € portanto fica como uma questio independente de tudo 0 mais. Agora vejamos, quais sio as suas motivacbes? Tentarei defini-las nos seus as- pectos gerais, deixando os detalhes para consideracdes posteriores. Elas sao: (1) O desejo de receber provas concretas ¢ incontestaveis de que existe realmente forgas na natureza das quais a ciéncia nada sabe; (2) A esperanga de apropriar-se delas algum dia ~ quanto antes melhor, porque vocé nao gosta de esperar - de modo a capacitar-se para (a) de- monstrar a sua existéncia a umas poucas ¢ escolhidas mentes ocidentais; (b) contemplar a vida futura como uma realidade objetiva construfda sobre a rocha do Conhecimento, nao da fé; e (c) finalmente saber ~ tal- vex a mais importante entre todas as suas motivacées, embora seja a mais oculta e a melhor guardada ~ toda a verdade acerca de nossas Lo- jas € sobre nés; para ter, em resumo, uma clara certeza de que os “Ir- mios” ~ sobre os quais todos tanto ouvem falar e véem to pouco ~ so entidades reais, e nao ficgdes de um cérebro alucinado € desordenado, Essas, vistas em seu melhor aspecto, nos parecem ser as suas motivagdes quando se dirige a mim. E eu respondo no mesmo espitito, esperando que a minha sinceridade nao seja mal interpretada nem atribufda a um Animo inamistoso. Para nés, estas motivagées, sinceras ¢ dignas de toda consideracio do ponto de vista mundano, parecem ~ ego/stas. (Voc tem que me per- doar pelo que possa ver como linguagem agressiva, se 0 seu desejo re- almente é 0 que vocé diz ~ aprender a verdade e obter instrugio de nés = que pertencemos a um mundo completamente diferente daquele em que vocé se movimenta.) Estas motivacées so egofstas porque voce deve saber que o principal objetivo da S.T. no é tanto satistazer aspiracdes individuais, e sim servir aos nossos semelhantes; ¢ 0 valor real da pala- vra “egofstas”, que pode soar mal aos seus ouvidos, tem para nés um significado peculiar que pode nao existir para yoed; portanto, em pri- meiro lugar, voc@ no deve entender a palavra de outra forma a nao ser no sentido acima. Talvez compreenda melhor 0 nosso significado ao saber que, do nosso ponto de vista, as mais elevadas aspiracdes pelo bem-estar da humanidade ficam manchadas pelo egoismo se na mente do filantropo ainda houver uma sombra de desejo de autobeneficio ou uma tendéncia para fazer injustiga, mesmo quando ele é inconsciente disso, No entanto, vocé sempre argumentou contra a idéia da Fraterni dade Universal, questionou a sua utilidade e propés uma reestruturacao 44 Carta n22 da S.T. tendo como prinefpio a idéia de uma escola para o estudo espe- cial do ocultismo. Isso, meu respeitado e prezado amigo e irmio — nunca ocorrera! Tendo abordado os “motivos pessoais”, vamos examinar as “con- digdes” que vocé coloca para ajudar-nos a fazer 0 bem para 0 mundo. Em termos gerais, essas condigées sio: primeiro, que uma Sociedade ‘Teoséfica Anglo-Indiana independente seja fundada através dos seus améveis servicos, sobre cuja diregio néo ter4 influéncia nenhum dos nossos atuais representantes; e, segundo, que um de nés tome 0 novo corpo “sob sua protecio”, permanega “em comunicacio livre e direta com os seus lideres”, e Ihes proporcione “a prova direta de que ele realmente possui um conhecimento superior das forcas da natureza qualidades da alma humana que possam inspirar-Ihes uma adequada confianga na sua lideranga.” Eu copiei as suas préprias palavras a fim de evitar imprecisio ao definir 0 posicionamento. Do seu ponto de vista, essas condigées podem parecer tio razod- veis que nao provocariam resisténcia; e, na verdade, a maior parte dos seus compatriotas — ¢ talvez. dos europeus ~ poderia ter a mesma opiniao. © que poderia ser mais razoavel, dirs vocé, do que pedir que o instru- tor, ansioso para disseminar seu conhecimento, e o disefpulo ~ oferecen do-se para ajudar nisso, se encontrem face a face, e que o instrutor dé 20 outro provas experimentais de que as suas instrugoes so corretas? Como homem do mundo, que vive e simpatiza plenamente com ele, vocé tem toda a razo, sem ddvida, Mas os homens deste nosso outro mundo, que no foram treinados na sua maneira de pensar, e que podem, is vezes, achar muito diffcil segui-la e aprecié-la, dificilmente podem ser criticados por nao responderem &s suas sugestées com tanto entusiasmo quanto voc pensa que deveriam, A primeira e mais importante das nossas objegdes esté em nossas Regras. E verdade que temos as nossas escolas e instrutores, nossos neéfitos e shaberons (adeptos superiores), € a porta é sempre aberta quando 0 homem certo bate nela. E damos sempre boas-vindas ao recém-chegado; apenas, em vez de nds irmos até ele, ele tem de vir até nds, Mais do que isso: a menos que ele tenha atin- gido aquele ponto da senda do ocultismo em que € impossivel retornar, tendo-se comprometido irreversivelmente com a nossa associ 5 nunca o visitamos nem mesmo cruzamos a sua porta em aparéncia visi- vel — exceto em casos rarissimos. Estar algum de voe@s to ansioso por conhecimento e pelos pode- res benéficos que ele confere, que se disponha a deixar o seu mundo € vir para 0 nosso? Entio que ele venha; mas nao deve pensar em retor- nar, até que 0 sigilo dos mistérios tenha fechado seus labios contra 45 Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett qualquer possibilidade de fraqueza ou indiscrigio. Que ele venha deci- didamente, como o disefpulo vai ao Mestre, ¢ sem condigdes; ou que ele espere, como tantos outros fazem, e fique satisfeito com as migalhas do conhecimento que possam cair no seu caminho. E suponhamos que vocés venham até nés - como ocorreu com dois, dos seus compatriotas ~ como a sra. B. fez, € 0 st. O. fard3 supondo que vocés abandonassem tudo pela verdade, Iutassem arduamente durante anos para subir a ingreme e perigosa estrada, sem temer nenhum obsti- culo, firmes contra toda tentagio, mantendo fielmente nos seus coragdes 0s segredos que Ihes fossem confiados em cardter de teste; trabalhassem com toda energia e altruisticamente para difundir a verdade e fazer os homens pensarem e viverem corretamente - voces considerariam justo que, depois de todos os seus esforgos, nds concedéssemos a sta B. ou 20 sr. O., dois “estranhos”, as condig6es que agora pedem para vocés mes- mos? Destes dois, um jé nos den trés quartas partes de sua existéncia; 0 outro seis anos da fase de pleno vigor de sua vida, e ambos seguiro tra- balhando assim até o fim das suas vidas. Embora tendo sempre traba- Ihado para a sua merecida recompensa, nunca a reclamaram, nem se queixaram quando desapontados. Ainda que eles realizassem muito menos trabalho do que fazem, nao seria uma clara injustica ignoré-los, como foi proposto, num campo importante do esforco teoséfico? A in- gratidio nao esta entre os nossos defeitos, nem imaginamos que vocés ‘queiram aconselhé-la a nés. Nenhum dos dois tem a menor disposigao para intrometer-se na diregdio da imaginada loja anglo-indiana, nem interferir na escolha dos seus dirigentes. Mas a nova sociedade, se vier a ser formada, deve ser de fato (embora tendo uma denominagio prépria), uma loja da Sociedade Matriz, como o 6 a Sociedade Teoséfica inglesa em Londres, e contri: buir com sua vitalidade e utilidade para promover a idéia basiea de uma fraternidade universal, e de outras formas praticas. Embora os fendmenos tenham sido mal apresentados, alguns deles, como vocé mesmo admite ~ so incontestaveis. As “batidas na mesa, quando ninguém a toca”, e “os sons de sino no ar”, foram, vocé diz, “sempre considerados satisfatérios”, ete., ete. Disso voc’ conclui que bons “fendmenos de teste” podem ser facilmente multiplicados ad infi nitum. Isto 6 verdade — em qualquer lugar onde as nossas condigies magnéticas e outras estejam constantemente presentes; e onde nao te~ nhamos que agir com e através de um corpo feminino enfraquecido no qual, poderfamos dizer, reina um ciclone vital a maior parte do tempo. Mas, por mais imperfeita que seja a nossa agente visivel ~ e freqliente- mente ela ¢ imperfeita ¢ insatisfat6ria ao extremo ~ ela é 0 que ha de 46 Cartan? 3A melhor no momento atual, e seus fendmenos t¢m assombrado € descon- certado algumas das mentes mais inteligentes da época atual durante quase meio século, Mesmo ignorando a “etiqueta jornalistica” e as exi- géncias da ciéncia fisica, nés temos uma intuigdo sobre os processos de causa e efeito. Ja qué vocé nao escreveu nem mesmo sobre os préprios fendmenos que corretamente considera to convincentes, temos 0 direito de deduzir que muita energia preciosa pode ser desperdigada sem bons resultados. Em si mesmo, 0 caso do broche é - aos olhos do mundo - completamente inttil, ¢ 0 tempo provara que tenho razio. A sua boa intengo nao deu fruto algum. Para coneluir: estamos dispostos a continuar esta correspondéncia ‘caso a viséio do estudo oculto que é dada acima Ihe pareca adequada, Cada um de nés, seja qual for seu pafs ou raga, passou pela provacio descrita. Enquanto isso, esperando pelo melhor, atenciosamente como sempre, Koot’ Hoomi Lal Singh, O sr. Sinnett vinha solicitando alguma manifestagdo direta de fena- ‘menos ocultos, e estava extremamente ansioso por algum tipo de contato pessoal com 0 Mahatma K.H. Sinnett anotou: Eu vi K. Hem forma astral na noite de 19 de outubro de 1880 — acordei por um ‘momento, mas imeditamente fiquei inconsciente de novo (no corpo) e consciente fora do corpo no quarto de vestir a0 lado, onde vi um outro Irmo, mais tarde identificado ‘como aquele que & chamado “Serapis" por Olcott - “o mais jovem dos Chohans”. Obbilhete a respeito da visto chegou na mani seguinle, ¢ durante esse dia, 20, foros Piquenique na colina Prospect, onde ocorreu 0 “episédio da almofada”, Meu Bom “Irmio”, Em sonhos e visdes pelo menos, quando corretamente interpreta- dos, dificilmente pode haver algum “elemento de diivida”... Espero po- der comprovar a minha presenca préxima de vocd, na tiltima noite, gra- as a algo que Ievei comigo. Sua esposa o receber4 de volta na colina. Eu nao tenho papel cor de rosa para escrever, mas acredito que um modes- to branco ser igualmente bom para o que tenho a dizer. Koot’ Hoomi Lal Singh. a1 Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett Recebida em 20 de Carta n° 3B (ML-3B) outubro de 1880 O Mahatma sabia que os Sinnett ¢ alguns convidados e amigos esta- vam planejando um piquenique naquele dia, no topo de uma colina préxima. Pouco antes de sair para 0 piquenique, Sinnett escreveu um bilhete eo en- tregou a H.P.B. para que o transmitisse. Enquanto o grupo se servia do lanche no piquenique, H-P-B. subita- mente pareceu estar escutando algo inaudivel para os demais. Ela thes dis- se, entdo, que o Mestre estava perguntando onde eles gostariam de achar 0 objeto que ele havia levado consigo na noite passada. Sinnett salienta em O Mundo Oculto que ele nada havia dito para HP.B, sobre a experiéncia da noite anterior nem sobre o bilhete que ele achara na mesa da sala. Ndo houvera nenhuma conversa com ela sobre isso. Mais ainda, ela nao saira de perto dele nem por um momento, nem de perto da sra. Sinnett, até que 0 grupo saiu para 0 piquenique. Na verdade, ela havia estado com a sra. Sinnett na sala de visitas a manhit toda porque {fora instruida ocultamente para ir e permanecer Id. Ela resmungou por cau- sa disso (e nunca deixava de resmungar quando recebia ordens de fazer alguma coisa que ndo compreendia), mas obedeceu. No piquenique, depois de repetir a pergunta do Mahatma, ela ndo participou da conversa, nem fez sugestdo alguna quanto ao local em que eles poderiam pedir para encontrar 0 objeto. De modo totalmente espontaneo, o sr. Sinmett, apés um momento de reflexito, disse que gostaria de achar esse objeto dentro de wna almofada na qual uma das senhoras estava recostada, Ele comenta em O Mundo Oculto que, em vista de sua experiéncia anterior, uma escolha mais natural poderia ter sido uma drvore ou enterrado na terra, mas seu olhar caiu sobre a al- mofada e pareceu-the que essa poderia ser wna boa escolha. A sra, Sinnett imediatamente disse, “Oh! ndo, que esteja dentro da minha almofada!” © sr. Sinnett compreendeu que esta era uma escolha excelente, dado que ela sabia que a almofada estivera na sala de visitas a ‘manhd toda e assim, sempre sob a vista dela. H.P.B., entdo, perguntou ao Mahatma, por seus préprios métodos, se poderia ser assim, e recebeu uma resposta afirmativa, Deste modo, vé-se que houve completa liberdade de escotha e nada poderia ter sido planejado com antecedéncia. Foi dito a Patience Sinnett que colocasse a almofada sob 0 seu co- bertor de viagem, o que ela fez pessoalmente. Depois de um minuto, H.P.B. 48 Carta n® 3B disse que a almofada podia ser aberta, H.P.B. néo estivera perto dela nem a tocara de nenhum modo. Nao foi fécil abrir a almofada, Sinnett o fez com o seu canivete, 0 que levou um cerio tempo, porque a almofada estava firmemente costurada em oda volta e teve que ser aberta ponio por ponto, Quando um lado da eapa {foi aberto, viuse que havia outro envoltério no qual as penas estavam ‘amontoadas. Este também estava costurado em todos os lados. Finalmente, a almofada foi aberta, e Patience procurou entre as pe- nas. A primeira coisa que achou foi um pequeno bilhete em um papel dobrado em trés, na escrita bem conhecida do Mahatma (Carta n® 3B, ML-3B). En- quanto Sinnett o lia, ela procurou mais ainda enire as penas e achou o bro- che ao qual o bilhete se referia ~ 0 objeto que o Mahatma tinha levado du- rante a noite anterior (chamado de broche n® 2 para distingui-lo de um fe~ ndmeno anterior, no qual wn broche perdido pela sra. Hume foi recupera- do. (Veja O Mundo Oculto, Cap. 4.) Este broche pertencia a Patience Sinnett; era muito antigo e familiar. Ela geralmente o deixava em cima de sua penteadeira quando ndo estava sendo usado. Curiosamente, ele tinha inscritas agora as iniciais do nome do Mahatma. A referencia @ “dificuldade de que vocé falou na noite passada” indi- ca que o Mahatma havia escutado a conversa na mesa de jantar no anoite- cer do dia anterior, quando Sinnett havia expressado preocupagdo quanto & troca de correspondéncia depois que H.P.B. deixasse Simla. Meu “Caro Irmao”, Este broche, n® 2, é colocado neste lugar bastante estranho apenas para mostrar-Ihe como é facil produzir um fendmeno real e como é ain- da mais fécil suspeitar da sua autenticidade, Pense o que quiser, e pode supor até que utilizei cimplices. ‘Tentarei superar a dificuldade de que vocé falou na noite passada, com relagio ao nosso interedmbio de cartas. Um dos nossos disefpulos visitaré Lahore e N.W.P.1 em breve, e um endereco sera dado a voc’ e sempre poder usé-1o; a nao ser que, na verdade, vocé realmente prefira corresponder-se através de almofadas. Repare, por favor, que a presen- tendo é mandada de uma “Loja”, mas de um vale em Cachemira. Atenciosamente, mais do que nunca, Koot’ Hoomi Lal Singh. 'N.W.P.: Provincia do Noroeste na India britinica. (N. ed. bras.) 49 Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett Recebida em 20 de Carta n° 3C (ML-3C) outubro de 1880 Antes de voltar do piquenique, Sinnett escrevew algunas linkas de agradecimento ao Mahatma e entregou o bilhete para H.P.B. Ele e a sra. Sinnett foram embara antes, de modo que ele nd tinha idéia de quando ou ‘como ela entregou esse bilhete. Mesmo assim ele estava se sentindo wm pouco decepcionado porque 0 Mahatma ndo respondera ao seu bilhete an- tes que o grupo satsse para o piquenique. No entanto, naquela noite, quando os Sinnett ¢ 0s seus convidados sentaram-se para o jantar, Sinnett desdobrou 0 seu guardanapo ~ e a Carta n? 3C cain dele. A referéncia ao fato de ele estar desapontado relaciona- naturalmente, aquele bilhete anterior, ¢ K.H. explica por que foi desneces- sdrio respondé-lo. 0 “major afetuoso” mencionado no final do bilhete era 0 major Philip D. Henderson. Ele estava presente na ocasido do fendmeno da xicara edo pires, ¢ ajudou a desenterré-los. Ele se filiow & S.T. naquele dia, ¢ 0 seu diploma de filiagdo apareceu fenomenicamente no local. Entretanto, no dia seguinte, ele teve suspeitas e renunciou, e depois disso juntou-se aos critics de HP.B. ‘Umas poueas palavras mais: por que voc? ficou decepcionado por nao ter recebido uma resposta direta ao seu tiltimo bilhete? Eu o recebi em minha sala cerca de meio minuto depois que as correntes! para a produgio do dak? da almofada ja tinham sido estabelecidas ¢ estayam em plena operacio. E a no ser para assegurar a yoc que um homem com a sua disposigao de Animo nao necesita ter medo de ser “enganado” — niio havia necessidade de uma resposta. Certamente lhe pedirei um favor, agora que vocé — a tinica pessoa a quem alguma coisa foi prometida - nao tem mais diividas. Paga um esforgo para esclarecer (0 major afetuoso e mostrar a ele sua grande tolice e injustica. Atenciosamente, Koot? Hoomi Lal Singh. " Currents, no original em inglés: correntes astrais, (N. ed. bras.) 2 Pak —“corteio” ou “entrega de correio” no idioma hindi. (N. ed. bras.) 50 Carta n24 Reeebida em 27 de Cartan’4 _(MIL+143) outubro de 1880_ Esta é uma carta muito curta e uma das poucas em que os dois lados da correspondéncia sao mostrados. O cel. Olcott ¢ H.P.B. deixaram Simla em 21 de outubro, indo para Amritsar e para um giro pelo noroeste da India. Os Sinnett retornaram a Allahabad, a sua residéncia permanente, em 24 de outubro, O fendmeno da almofada parecia tao perfeito ao sr. Sinnett, como prova, que antes de deixar Simla ele escreveu uma pequena nota perguntando ao Mahatma se ele desejava que a histéria fosse descrita em The Pioneer. A res- posta chegou quando os Sinnett jé estavam em Allahabad. O Mahatma aprovou a publicagdo da narrativa “em consideragao a nossa amiga to maltratada” (H.P.B.), que havia sido muito criticada de- pois da publicacao do relato sobre o brocke n® I. E também como resultado de outro episddio em que houve um excesso de zelo por parte do cel. Olcott, e que serd examinado mais adiante. Sinnett diz em © Mundo Oculto que as pessoas que inundaram a im- prensa com comentarios. Ele os chama de “simples comentarios”, querendo dizer naturalmente “comentarios estiipidos”, porque alguns deles eram totalmente sem sentido, € ele menciona que muitos deles nada puderam di- zera respeito do “episddio da almofada” Vocé gostaria que o fendmeno da almofada fosse descrito no jornal’? ‘Terei prazer em seguir sua sugestao. Atenciosamente, AP. Sinnett Certamente esta seria a melhor coisa a fazer, ¢ eu pessoalmente me sentiria sinceramente agradecido a oe’, em consideracio & nossa amiga tao maltratada. Vocé esta autorizado a mencionar meu primeiro nome se isso Ihe for de alguma utilidade. Koot Hoomi Lal Sing. SI Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sirmett Cartan? 5 (ML-4) Recebida em 3 de novembro de 1880 Carta n® 5 UNE 4) Olcott pensava gue Sinnett deveria publicar imediatamente em The Pioneer relatos de rodos os fendmenos de Simla, Como isto néio aconteceu, ele escreveut um artigo intitulado Um Dia com a sta, Blavatsky, no qual des- crevia alguns daqueles fenmenos. No artigo ele mencionava os nomes de Varios ingleses notdveis. que tinham estado presentes nessas ocasides. Ele ‘mandou o relato para Bombaim, aos cuidados de Damodar Mavalankar, que testava encarregado da sede central durante a auséncia dos fundadores, para ‘ser reprodutzido e circulado entre os membros locais da Sociedade Teosdfica. Infelizmente, o Times da fndia conseguiu de algum modo uma copia & 4 publicou, junto com alguns comentarios injuriosos. Damodar escreveu um protesto que o Times recusou-se a publicar. Contudo, o jornal Gazette de Bombaim publicou uma vigorosa resposta de H.P.B. ‘As pessoas cujos nomes o cel. Olcott mencionou em seu artigo fiearam ‘extremamente perplexas ¢ descontentes com a publicidade ¢, naturalmente, tudo acabou se voltando contra HLP.B. Ela ficou muito tensa ¢ pedi auxilio ao Mahatma K.H. Ela eo coronel estavam em Amritsar na ocasidio. Naguele momento, o Mahatma K.H. viajava ~ em seu corpo fisico ~ através de Ladakh, de volta da sua visita ao Maha-Chohan para consulré-o a respeito de algumas questdes mencionadas no primeiro pardgrafo da Carta n®5 (ML-4), como também sobre a carta que ele (K.H.) tinha recebi- do de Hume. Quando ele ouviu o frenético pedido de auxitio de H.P.B., de- cidiu mudar sua rota ¢ ir vé-la Enquanto isso, Sinnert, antes de deixar Simla, mandava uma carta re- gistrada para H.P.B. em Amvitsar, para ser entregue ao Mahatma K.H. (Esta era wm complemento a curta nota a respeito do “episédio da almofa- da” que constitui, cronologicamente, a Carta n®4 (ML-143). HP.B. recebeu a carta registrada em 27 de outubro ea mandou ime- diatamente para K.H. por meios ocultos; 0 hordrio de 14h foi fixado pelo registro postal. O Mahatma K.H. estava viajando a bordo de um trem (em territério do atual Paquistdo), para vé-la Ele recebeu a carta ds 14h0Smin, perto de Rawalpindi, Na estagdo seguinte (Jhelum) ele desceu do trem, foi ao posto de relégrafo e mandou um telegrama para Sinnett comunicando 0 recebimento da carta, 0 qual foi, é claro, datado e arquivado pelo ageme do telégrafo. O Mestre também instruiu H.P.B. a devolver a Sinnett 0 envelope no qual a carta tinka sido recebida e que mostrava a data e a hora de registro. De inicio, Sinnett ndo entendeu por que ele devia aproveitar este envelope usado, mas 0 guardou, e mais tarde vi a relagao: a data e hora do registro da curta ¢ a data e a hora de remessa do telegrama mostravam que a carta 32 Cartan? 5 ndo podia ter sido entregue ao Mahatma exceto por meios ocultos. Mais tarde 0 Mahatma pediu a Sinnett para requisitar a eépia manuscrita do telegrama, 0 que finalmente Sinnett fez, e ela estd entre as Cartas dos Mahatmas no Museu Britanico. Assim, Sinett ficou ciente de que H.P.B. tinha conseguido uma transmisséo muito répida de sua carta ao longo de calgumas centenas de milhas. Deste modo, parece que 0 Mahatma K.H. desejava dar a Sinnett mais uma prova da sua existéncia e de seus poderes. O episddio todo é uma das comprovagdes mais convincentes que hd. ‘Recebida, aparentemente, em 5 de novembro, {A sonora? © o coronel O. chegaram & nossa casa, Allahabad, no din 1° de dezembro de 1880, © coranel O. foi para Benares no dia 3 — a senhora junio a ele no dia 11. Ambos retorna- rama Allahabad no dia 20 e permaneceram até 0 dia 8 Amrita Saras®, 29 Out. Meu Caro Irmao, Certamente eu nao poderia fazer nenhuma objecao A postura que yoct amavelmente adotou ao dirigir-se a mim pelo meu nome, pois é, como diz, 0 resultado de uma consideracio pessoal ainda maior do que a que eu tinha recebido até agora de voc8. As convengées do mundo yaziv, fora dos nossus “ashrams” isolados, sempre tm muito pouca importancia para nds; principalmente agora, quando buscamos homens € nao mestres de cerimOnia, devogio e nao a mera observancia de re- gras. Cada vex mais um formalismo morto est4 ganhando terreno, e eu estou verdadeiramente feliz em encontrar um aliado inesperado num setor em que, até agora, no houve muitos ~'entre as classes cultas da sociedade inglesa. Uma crise, num certo sentido, esté agora diante de nés, € temos que enfrenté-la. Eu poderia dizer duas crises — uma na Sociedade, outra no Tibete. Pois posso dizer-Ihe, em confianga, que a Riissia est concentrando gradualmente suas forgas para uma futura invasio naquele pais, sob o pretexto de uma guerra contra a China, Se isso nao ocorrer, sera gracas a nés; e, neste caso, pelo menos, merece- remos a sua gratidio. Vocé vé, entio, que temos questdes de mais peso do que os problemas de pequenas sociedades para enfrentar; a S.T., no entanto, no deve ser negligenciada, O assunto tomou um impulso que, se no for bem guiado, podera produzir péssimos resultados. Lembre das avalanches dos seus admirveis Alpes, em que yoeé tem pensado 4 Anotaydes de A.P. Sinnett no alto da Carta. (N. ed, bras.) 2 HP. Blavatsky. (N. ed. bras.) n inglés, usualmente, “Amritsar”. (N. da 3¢ ediga0) * Locais de retiro dos Adeptos e de seus disefpulos diretos. (N. ed. bras.) 33 Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett freqiientemente, e recorde que, no comeco, a sua massa é pequena e sua yelocidade pouca. Vocé pode dizer que é uma comparagao banal, mas niio consigo pensar em uma imagem melhor do que esta quando vejo a reuniao gradual de eventos banais transformando-se numa ameaca para o destino da Soc. Teos. Isto me ocorreu com grande forca quando, um dia destes, eu descia os desfiladeiros do Kouenlun ~ que vocés cha- mam Karakorum ~ e vi desabar uma avalanche. Eu tinha ido pessoal- mente até 0 nosso chefe para submeter a ele a importante oferta do sr. Hume, e estava cruzando o desfiladeiro em direcao a Ladakh na volta para casa. Nao posso precisar que outras especulagées poderiam ter ‘ocorrido depois dessa. Mas exatamente quando eu estaya desfrutando a trangiiilidade impressionante que geralmente se segue a esse cataclisma, para obter uma visio mais clara da situagio atual e da disposigaio dos “misticos” de Simla, fui bruscamente chamado aos meus sentidos. Uma voz familiar, tio estridente como a que é atribuida ao pavao de Saraswati — que, se podemos acreditar na tradigio, amedrontou e es- pantou 0 Rei dos Nagas ~ gritava, ao longo das correntesS: “Olcott criou novamente um infernol... Os ingleses estiio ficando loucos... Koot Homi, venha mais répido e me ajude!” — ¢ na sua excitaco, ela esquecia que estava falando em inglés. Devo admitir que os telegramas da “Velha Seuliora” nos atingem como pedras langadas por uma catapulta!® ‘© que eu poderia fazer se nao ir? Discutir através do espago com al- guém que est em total desespero, e num estado de caos mental, é iniitil. Entio decidi abandonar o retiro de muitos anos e passar algum tempo com cla para confortii-la do modo como pudesse. Mas a nossa amiga néo tem a resignagio filoséfica de um Mareo Aurélio. O destino nunca escreveu que ela poderia dizer: “é algo nobre ouvir falar mal de si mesmo quando se esti fazendo o bem”... Vim para passar alguns dias, mas agora vejo que no posso suportar por mais tempo o magnetismo sufocante dos meus pro- prios compatriotas. Vi alguns dos nossos velhos e orgulliosos Sikhs” béba- dos e cambaleando sobre o pavimento de marmore do seu templo sagrado. Eu ouvi um Vakil®, falando em inglés, declarar-se contra a Yog Vidya? ¢ a ‘Teosofia, consideradas como uma iluso € uma mentira, e declarar que & § Correntes astais. (N. ed. bras.) ® Catapulta — Engenho de guerra da antigiidade, usado para langar pedras a longa dis tancia, (N. ed. bras.) 7 Sikhas ~ Seguidotes do Sikhismo, religifo indiana que combina elementos do hin- dduismo e do islamismo, Foi fundada no final do século 15 por Nanak, o seu primeiro guru. (Ned. bras.) Vaki! — Um advogado nativo que fala em inglés; presumivelmente uma pessoa de alguma cultura. (Ed.C.) 9 Yog Vidya — Sabedoria do Joga. (N. ed. bras.) 8 54 Carta n?5 ciéneia inglesa os emancipara dessas “superstigdes degradantes”, dizendo que era um insulto contra a India afirmar que aqueles iogues e saniasis sujos conheciam qualquer coisa sobre os mistérios da natureza; ou que qualquer homem vivo possa ou (enha podido alguma ver. realizar quais- quer fendmenos! Volto para casa amanha. ‘A entrega dessa carta pode atrasar alguns dias, devido a causas que no interessara a vocé que eu especifique. Enquanto isso, porém, telegra- fei a voc8 agradecendo-Ihe por ter satisfeito amavelmente os meus desejos nos assuntos a que vocé aluce em sua carta do dia 24. Vejo com satisfacaio que vocé nao deixou de me apresentar ao mundo como um possivel “alia- do”, Isto faz com que jé sejamos dez!!, eu ereio? Mas devo dizer que a sua promessa foi cumprida bem e lealmente. Sua carta foi recebida em Amritsar no dia 27 do corrente, as duas horas da tarde, chegou eerea de cinco minutos mais tarde &s minhas mios, cerea de 48 km além de Rawalpindi, e telegrafei de Jhelum acusando o recebimento, &s quatro horas da mesma tarde. Nossos modos de entrega acelerada e comunica- es répidas nao sao, como vé, despreziveis do ponto de vista do mundo ocidental, ou mesmo dos vakils arianos e eéticos que falam inglés. Eu nao poderia esperar uma atitude mental mais sensata, em um aliado, do que aquela que agora vocé comeca a adotar. Meu Irmao, voce ji mudou sua atitude ein relagio w nds de ananeira bem nitida: © que po- deria impedir um perfeito entendimento miituo algum dia? A proposta do sr. Hume foi devida e cuidadosamente considerada. Ele ir, certamente, comunicar-Ihe os resultados tal como foram expres- sos por mim em carta para ele, Se ele julgaré ou no a nossa “maneira de ” dle modo tio justo como vocé — essa ¢ outra questo. O nosso Maha (0 “Chefe”) autorizou-me a manter correspondéncia com ambos, até mesmo ~ easo seja formada uma loja anglo-indiana, entrar algum dia em contato pessoal com ela. Agora depende inteiramente de vocés. Eu no posso dizer nada mais. Vocé tem toda razio quanto A melhora material da situagio dos nossos amigos do mundo anglo-indiano em fungio da visita a Simla; € também € verdade, embora vocé modestamente evite diz@-lo, que devemos agradecer isso principalmente a vocé. Mas, deixan- do completamente de lado os episédios infelizes das publicacdes de Bom- baim, ndo é possivel que exista ali, no melhor dos casos, mais do que uma neutralidade benevolente do seu povo para com o nosso. £ tao pequeno 0 ponto de contato entre as duas civilizagdes que as publicagdes represen 10 “Alindo” — confederate no original em inglés. (N. ed. bras) "1 Reforéncia ao episédio do broche nf | ¢ a9 fato de que 9 pessoas haviam assinado declarago pablica em favor da sua autenticidade (O Mundo Ocul, cap. 4). No reato feito por Sinnctt da incidente, ele havia mencionado a possfvel ajuda do Mahatma KH. assim fazendo com que os presents fossem dez. (Ed. C.) 35 Cartas dos Mahatmas Para A.P, Sinnett tam, que poderfamos dizer que elas no se tocam em absoluto. E no che- gam a tocar-se a nao ser pelos poucos — poderia dizer, excéntricos? ~ que 2m, como vocé, sonhos mais belos ¢ audazes do que os outros; € que, 20 estimularem o pensamento, aproximam as duas civilizagdes gragas & sua propria admirdvel audicia. Nao ocorreu a vocé que as duas publicagdes de Bombaim foram estimuladas ou, pelo menos, nio foram impedidas por aqueles que o poderiam ter feito, porque viram a necessidade de toda aquela agitacio para causar 0 duplo resultado, depois da “bomba” do broche, de distrair necessariamente a atengiio do seu impacto e, talvez, de {estar a forga do seu interesse pessoal pelo ocultismo ¢ pela teosofia? Nao digo que isto foi assim; apenas pergunto se a idéia alguma ver. ocorreu & sua mente, Fiz com que fosse sugerido a voce que, se 0s detalhes dados na carta roubada tivessem sido antecipados no Pioneer, um lugar muito mais apropriado, e onde poderiam ter sido colocados de maneira mais favora~ vel, nio teria valido a pena que alguém furtasse esse documento para 0 Times of India e, conseqiientemente, nerthum nome teria sido publicado. O coronel Olcott est, sem dtivida alguma, “fora do ritmo! com os sentimentos dos ingleses” das varias classes sociais; mas, mesmo assim, esta mais sintonizado conosco do que qualquer um deles. Podemos confi- ar nele em quaisquer circunstancias, e ele dedica a nés o seu esforco tanto no éxito como na derrota, Meu earo irmao, minha vor. € 0 eco da justi¢a imparcial. Onde podemos encontrar devogao igual? Ele é uma pessoa que nunca questiona, mas obedece; que pode cometer intimeros erros devido ‘a0 seu excesso de zelo, mas est sempre pronto para reparar seus equivo- cos, mesmo a custa da maior humilhagio pessoal; que considera o sacriti- cio do conforto pessoal, e mesmo da vida, como algo que deve ser arrisca- do com alegria, sempre que necessério; capaz, de comer qualquer coisa, ‘ou mesmo passar sem comida; dormir em qualquer cama, trabalhar em ‘qualquer lugar, confraternizar com qualquer pobre sem casta, suportar ‘qualquer sofrimento pela causa... Admito que uma ligagao dele com uma loja anglo-indiana seria “um mal” e, portanto, nio tera mais relacdes com ela do que tem com a loja inglesa (de Londres). A sua ligacao sera puramente nominal, ¢ isto poder ser ainda mais assim se vocés redigi- rem os seus estatutos mais cuidadosamente do que foram redigidos os de Londres; e derem 3 sua organizacao um sistema aut6nomo de adminis- tracdo de modo a raramente necessitar de alguma intervencao externa, 12 No original em inglés, our of rime. O editor da edigio cronotbgica esclarece que esté assim no original, mas alerta para 0 fato ce que, na Carta 10 [ML-5], 0 Mestre admite {que se equivocou na letura da eavta de Sinnet, Ali, uma autoeritiea bem humorada, © Mestre pede que Sinnett Ihe compre um par de éculos em Londres, porque a expres- sio era out of tune © ndo out of time. De qualquer modo, o significado é o mesmo, ‘camo o proprio Mestre rssalta na Carta 10 [ML-S|. (N. ed. bras.) 56 Cartan? 5 Mas fazer uma loja anglo-indiana independente, com os mesmos objeti- ‘vos, Seja no todo ou em parte, que a Sociedade Matriz, e com os mesmos igentes por triis da cena, seria nd somente dar um golpe mortal na Soc. Teos. mas, também, atribuir-nos um trabalho e uma preocupacdo duplos, sem que possa ser vislumbrada por nenhum de nés a menor van- tagem compensadora. A Sociedade Matriz. nao interferiu de modo algum na S. T. inglesa, nem, na verdade, em qualquer outra loja, seja do ponto de vista religioso ou do filoséfico. Tendo formado, ou provocado a forma- cio de uma nova loja, a Sociedade Teosética Matriz. emite uma Carta Constitutiva (o que nao pode fazer, agora, sem a nossa autorizagiio € nos- sas assinaturas), ¢ entdo, geralmente, sai de cena, como voc? diria. A sua ligagio posterior com as lojas filiadas limita-se a receber informes trimes- trais de suas atividades e a relagio de novos membros, ratificar eventuais expulsées — somente quando se solicita a ela que atue como arbitro devido conexio direta dos Fundadores conosco ~ etc., etc,; ela nunca se imiscui de outro modo nas suas atividades, exceto quando isto é solicitado a ela como uma espécie de tribunal superior. E como isso depende de voces, 0 que hd de impedir que a sua loja permaneca virtualmente independente? Nés somos, na realidade, mais generosos do que voces, ingleses, sfio co- nosco. Nés nao pressionaremos, nem solicitaremos que vocés aceitem um “residente” hindu em sua sociedade, que zele pelos interesses do Supremo Poder Original, depois que os tenhamos declarado independentes; mas confiaremos implicitamente na sua lealdade e na sua palavra de honra. Mas se a idéia de uma supervisio executiva puramente nominal por parte do coronel Olcott ~ um norte-americano da sua prépria raga — Ihes desa- grada tanto, vocés seguramente também se rebelardo contra as orienta- ces de um hindu, cujos métodos e costumes sio os do seu proprio povo, € cuja raga, apesar da natural benevoléncia que vocé tem tido, yooes ainda néio aprenderam sequer a tolerar, para nao falar de amar e respeitar. Pense bem antes de pedir a nossa orientagao, Os nossos melhores adeptos, os mais eruditos ¢ os mais santos sio das racas dos “tibetanos sebentos” € dos Singhs do Punjab — vocé sabe que 0 ledo'? é proverbialmente uma fera suja ¢ agressiva, a despeito da sua forca e coragem. Ser que seus bons compatriotas britanicos perdoariam mais facilmente os nossos cos- tumes inconvenientes do que as falhas dos seus préprios parentes na América? Se as minhas observacdes nio esto erradas, devo dizer que isso 6 duvidoso. Os preconceitos nacionais nao podem deixar nossos 6eu- los limpos. Vocé diz, “como ficariamos satisfeitos, se aquele (que os guias- se) fosse voce”, pensando neste seu pobre correspondente. Meu bom Ir- mio, voce tem certeza de que a impressio agradavel que voc® pode ter jab comparany-se tradicionalmente a lobes. (N. ed. bras.) 37 3 Os Singhs ou Sikhs do Pu Cartas dos Maharmas Pava A.P. Sinnett agora, a partir da nossa correspondéncia, nfo seria instantaneamente destruida ao me ver? E qual dos nossos santos Shaberons" teve o benefi- ‘cio da pouca educacéo universitiria © 0 minimo de conhecimento dos costumes europeus que tive a oportunidade de adquirir? Aqui vai um exemplo: solicitei & senhora B. que escolhesse, entre dois ou trés arianos do Punjab que estudam Yor Vidya e sio m(sticos naturais, um @ quem — embora sem me revelar excessivamente ~ eu pudesse designar como 1 agente entre voc? e nés, e a quem eu estaya ansioso por mandar até voce ‘com uma carta de apresentaggo, e fazer com que falasse sobre a Toga e seus ‘efeitos praticos. Esse jovem, que € puro como a prépria pureza, cujas asp rages e pensamentos sto do tipo mais espiritual e enobrecedor possivel, e que & capaz de penetrar apenas com esforgo proprio nas regides dos mundos sem forma — esse jovem nao esta preparado para ~ uma recep¢ao social, Tendo explicado a ele o grande bem que poderia resultar para 0 seu pais se ele os ajudasse a organizar uma loja de mfsticos ingleses, pro- vando-lhes de modo praitico a que maravilhosos resultados levou 0 estudo da Ioga, a senhora B. pediu-lhe, de modo discreto ¢ delicado, que mudas- se a sua vestimenta € 0 seu turbante antes de ir para Allahabad, porque, embora cla nfio dissesse a razio, estes estavam muito sujos e desalinhados. “Voce deve comunicar ao sr. Sinnett” - disse ela ~ “que traz uma carta do nosso Irmio K., com quem ele se corresponde, mas se ele Ihe pergu tar algo, seja a respeito deste ou de outros Irmaos, responda-Ihe, sim- plesmente, que néo est autorizado a falar muito sobre o assunto, Fale da Toga e prove a ele que poderes voc? desenvolveu”. Esse jovem, que tinha concordado, escreveu mais tarde a seguinte carta curiosa: “Senhora”, disse ele, “voe’, que prega os mais altos padres de moralidade, de vera- de, etc, pediu que eu desempenhasse papel de um impostor. Pediu que eu trocasse minhas roupas, mesmo com o risco de dar uma falsa idéla da minha personalidade, enganando 0 cavalheiro a quem me envia. E ‘caso ele me perguntasse se conheco pessoalmente Kot” Hoomi, deveria manter-me silencioso e deixar que ele pensasse que eu 0 conhego? Isso seria uma falsidade implicita, e sendo culpado disso, eu seria jogado de volta ao redemoinho terrivel da transmigracio!” Este é um exemplo das dificuldades com que nés temos de trabalhar. Impossibilitados de man- dar-Ihe um nedfito antes que vocé tenha feito um voto solene de compro- miso conosco, temos que escolher entre ficar retirados ou mandar-Ihe alguém que, na melhor das hipéteses, iria chocé-lo, se nao Ihe inspirasse antipatia de imediato, A carta teria sido entregue a ele em mios por mim; le $6 teria que prometer siléneio sobre assuntos dos quais nada sabe ¢ so- 4 Shaberons — A palavra signific (N. ed. bras.) 58 andes sabios” no Tibete. So Adeptos avangados. Carta n®5 bre os quais s6 poderia dar uma idéia falsa, e apresentar-se com um aspec- to mais limpo. Novamente preconeeitos e letra morta. Durante mais de mil anos — diz Michelet — os santos cristios nunca se lavaram! Por quanto tempo ainda os nossos santos se recusario a mudar as suas roupas com receio de serem vistos como marmaliks's ou como neéfitos de seitas rivais, cujos hAbitos sao mais higiénicos! ‘Mas essas nossas dificuldades nao devem impedi-lo de comegar 0 seu trabalho. O cel. Olcott ¢ a sra. B. parecem desejosos de se tornar pessoalmente responsdveis por voce e pelo st. Hume, e se voce estiver disposto a responder pela fidelidade de qualquer homem que o seu gru- po escolha como lider da S. T. A. I,!6 concordamos que a experiéneia seja feita, © campo é seu, e a ninguém ser permitido interferir em seu trabalho, exceto eu mesmo, em nome dos nossos Chefes, uma vez que vocé me dé a honra de me preferir em lugar dos outros. Mas antes de comecar a construir uma casa, faz-se um projeto. Pense em escrever um memorando sobre a constituigio e politica de administragio da Socie- dade A.I, que tem em mente, ¢ em submeté-lo & consideracao, Se os nos- sos Chefes concordarem com ele ~ ¢ eles certamente nao tém desejo de obstruir a marcha do progresso universal ou de retardar esse movimen- to em diregio a uma meta mais elevada - entéio vocé recebera imedia- tamente a Carta Constitutiva. Mas eles primeiro tém que ver 0 plano; ¢ cu tenho de pedir a vores que lembrem que nio sera permitido & nova dade Matriz, embora voeés tenham a li- idades a sua prépria maneira, sem temer menor interferéncia do seu presidente enquanto no forem violadas as regras gerais. E nesse ponto, menciono a voce a regra n* 917, Esta é a primeira sugestio pratica vinda de um “morador de cayernas” de aquém e além dos Himalaias, a quem vocé honrou com sua confianga. E agora em relagio a voed pessoalmente, Longe de mim desencora- jar alguém tio disposto como voce, colocando barreiras intransponiveis a0 seu progresso, Nés nunca nos queixamos do inevitivel, mas tratamos de tirar 0 melhor proveito do pior. E embora no empurremos nem atraiamos para o misterioso dominio da natureza oculta aqueles que no desejam avangar, nunca deixamos de expressar livre ¢ destemidamente '5 Possivelmente Mlechchas (barbaros). (N. da 3¢ edigao) '6 Sociedade Teaséfien Anglo-indiana, (N. ed, bras.) "7 A regra n® 9 dos Estatutos da S.T. dizia: “A administragio local das Lojas fica a cargo dos seus respectivos dirigentes, mas nenhuma loja tem direito de operar fora dos seus limites estabelecidos, exceto quando isto for solicitado pela Sociedade Ma riz, Os dirigentes das lojas sdo eleitos pela maioria dos seus membros, pelo prazo de tum ano, mas 0 presidente da loja pode ser reeleito por um ndmero indefinido de vores (..)." (N. ed. bras.) 59 Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett nossa opinifio. No entanto, estamos sempre igualmente dispostos a au dr os que vem até nds; até mesmo os agnésticos que assumem a posiclo negativa de “conhecer apenas os fenémenos, ¢ recusar-se a acreditar em ‘qualquer coisa mais". E verdade que o homem casado niio pode ser um adepto, no entanto, sem esforcar-se para ser um “Raja iogue”, ele pode adquirir certos poderes e fazer o mesmo bem pela humanidade ¢, fre- Giientemente mais, pelo fato de permanecer dentro dos limites do seu mundo. Portanto, nao Ihe pediremos que troque precipitadamente habi- tos fixos de vida, antes de vocé ter plena conviccao da necessidade e da vantagem disso. Vocé deve ter a liberdade de guiar a si mesmo, e nao hi perigo nesta liberdade, Sua decisio foi tomada no sentido de fazer por fnerecer: o tempo fara o resto, Hii mais de um modo de adquirir conhe- fento oculto, “Muitos sfio os gros de incenso destinados ao mesmo altar; um cai no fogo antes, outro depois ~ a diferenca no tempo no tem importincia alguma”, disse um grande homem quando Ihe fol recusada a admissio e a iniciagio suprema nos mistérios. Hi um tom de queixa na sua pergunta sobre se haver algum dia a repetigio da visio que teve ma noite anterior ao dia do piquenique. Penso que se voc® tivesse uma vistio a cada noite, logo deixaria de ver o fato como algo “de grande importin- cia”, Mas ha uma razio muito mais forte para que vocé nfo tenha um fexcesso — seria um desperdicio da nossa energia. Eu e qualquer um de ‘nds entraremos em contato com voce sempre que possivel, seja através de sonhos, impressbes 20 despertar, cartas (dentro ou fora de almofadas), ou por visitas pessoais em forma astral — isso seré feito. Mas lembre-se de que Simla esté 2.300 metros acima de Allahabad e que as dificuldades a Serem vencidas nesta tiltima so tremendas. Fu me abstenho de estimul- Jo a esperar demasiado porque, como voce, nio gosto de prometer 0 que, por diversas razoes, talvez nao seja capaz de cumprir. ‘A expresso “Fraternidade Universal” niio 6 vazia de significado. A humanidade em seu conjunto tem um direito supremo sobre nés, como tentei explicar na minha carta ao sr. Hume, que vocé deveria pedir em- prestada, & a tinica base! segura para uma moralidade universal, Se isto &um sonho, pelo menos é um sonho nobre para a humanidade: e é a aspi- racio do verdadeiro adepto. Atenciosamente, Koot’ Hoomi Lal Singh. 18 444 uma elipse ~ uma palavra subentendida ~ nesta frase. © Mestre quer dizer: “A Fraternidade é a diniea base..." (N. ed. bras.) 60 Cartas n’s 6 ¢7 Recebida em 3 de Cartan?6 (ML-126) sovempro ae 1880_ Este é na realidade um post-scriptum @ Carta n® 5 (ML-4). Aparente- mente foi escrito em outra folha de papel que, en algum momento, foi sepa- rada. P.S. & extremamente dificil conseguir um endereco no Punjab através do qual a correspondéncia possa ser mantida. Tanto B.! como eu haviamos contado muito com o jovem, cujo sentimentalismo verifi- camos que o incapacita para o trabalho dtil de intermedidrio. Entretan- to, néio deixarei de tentar, e espero poder enviar-Ihe 0 nome de uma agéncia de correios, no Punjab ou Provincias do Noroeste, por onde um dos nossos amigos passard uma ou duas vezes por més.? K.H. 4 Recebida entre 3 ¢ 20 Carta n? 7 (ML-106) denovembro de 1880 Desejo responder A sua carta clara e culdadosamente. Devo, por- tanto, pedir que espere alguns dias, até que eu tenha mais tempo livre. Devemos tomar medidas para proteger eficazmente 0 nosso pais e for- talecer a autoridade espiritual do nosso Rei-Sacerdote'. Talvez nunca, desde a invasio de Alexandre com as suas legides gregas, tenha havido tantos europeus armados tio perto de nossas fronteiras como hd agora. Meu amigo, os seus correspondentes s6 parecem colocé-lo a par das noticias mais importantes superficialmente ~ no melhor dos casos: tal- vez porque cles mesmos nao as conhecam. Nao importa, algum dia tudo sera conhecido. De qualquer modo, téo logo eu disponha de algumas horas livres, voc® ir encontrar a seu servico seu amigo, KH. ‘Tente acreditar mais na “yelha senhora”. As vezes ela fica fora de si; mas é sincera e faz 0 melhor que pode por voce. ' Presumivelmente ILP.B. (Ed. C.) rovavelmente um chela. (Ed, C.) 3 interessante registrar que, do ponto de vista cronol6gico, a Carta a A.O. Hume publi- ceada como Aneso / desta edigfo, datada de 1® de novembro de 1880, pertence aproxi- ‘madamente a este momento. Veja 0 Anexo I, no volume Il. (N. ed. bras.) #0 Dalai Lama, (Ed. C.) 61 Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett Recebida em 20 de Carta n? 8 (ML-99) novembro de 1880 A Carta n? 8 (ML-99) e a carta n® 9 (ML-98) devem ser consideradas em conjunto. A Carta n° 8, de A.O. Hume, esté datada de 20 de novembro de 1880, mas s6 foi mandada para o Mahatma em 12 de dezembro de 1880 ou mais tarde. A Carta n® 9 foi recebida em 12 de dezembro ou pouco depois, no mesmo dia em que a Carta n? 8 foi mandada para K.H. A Carta n® 9 é uma resposta a essa carta, mas é dirigida mais a Sinnett do que a Hume. Isto pode parecer confuso. Em O Mundo Oculto,! Sinnett menciona que Hume escreveu uma longa resposta a primeira carta do Mahatma para ele e, em seguida, escreveu uma carta adicional a K.H. que mandou para Sinnett, pedindo-the que a lesse e, depois, a fechasse @ a mandasse ou a desse para H.P.B., para ser transmitida, jd que H.P.B. era esperada em breve em Allahabad. A carta n® 8 é esta carta adicional. Simla, 20/11/1880 Meu caro Koot Humi, Enviei a Sinnett a sua carta para mim, ¢ ele, atenciosamente, me enviou a sua carta para ele. Desejo fazer algumas observagdes sobre ela, niio para fazer objegdes, mas porque estou muito ansioso para que voce me entenda. E muito provavel que isso seja presungio minha, mas, seja ou nao assim, tenho uma profunda conviegio de que eu poderia trabalhar eficientemente se pelo menos visse 0 meu caminho, e para mim € insuportivel a idéia de que voc’ me deixe de lado por causa de uma compreensio equivocada dos meus pontos de vista. E no entanto cada carta sua que vejo me mostra que vocé ainda nao entende o que eu penso € sinto*?, Para explicar isso, tomo a liberdade de anotar alguns comentarios sobre a sua carta a Sinnett. Vocé diz que se a Russia nfo conseguir apoderar-se do Tibete sera de- Vido a voc8s, e que, ao menos nisto, merecerdo a nossa gratidio. Nao estou de acordo com isso no sentido como vocé 0 entende, (1) Se eu acreditasse que a Riissia, de um modo geral, governaria o Tibete ou a India de maneira a tornar os seus habitantes mais felizes do que sto sob os governos existentes, ‘eu mesmo daria boas-vindas a ela ¢ trabalharia para isto. Mas até onde posso ! Veja ap, 138 da edigdo brasileira de O Mundo Oculto. 2 Este asterico e os niimeros enire parénteses se referem as respostas do Mahatma, na carta seguinte, n® 9, (Ed. C.) 62 Carta nf 8 julgar, 0 governo da Russia é déspota e corrupt, hostil 8 liberdade de agao individual, e portanto ao verdadeiro progresso... etc. E agora acerca do vakil que fala inglés. Seria o homem to culpado? Vood e os que 0 rodeiam nunca ensinaram a ele nada sobre a “Yog Vidya”. [As tnicas pessoas que se dedicaram decididamente ao trabalho de educé-lo, 0 faz@-lo, ensinaram-lhe o materialismo, vocé esté desgostoso com ele, mas quem tem culpa?...Julgo, talvez, como alguém que esté de fora, mas parece- me que o véu impenetravel de segredo com o qual voc@s se rodeiam, os enormes obsticulos que colocam para a comunicagao do seu conhecimento spiritual, sio a prineipal causa do desenfreado materialismo que voces tanto deploram... ‘86 voces possuem os meios de demonstrar aos homens comuns verda- des deste tipo, mas parece que, presos a antigas regras, em vez de disseminar com entusiasmo esse conhecimento, vocés 0 envolvem numa nuvem tio densa de mistério que naturalmente a massa humana descré da sua existén- cia... no pode haver justificativas para no dar claramente a0 mundo os aspeetos mais importantes da sua filosofia, acompanhando 0 ensinamento com uma seqtiéncia de demonstragGes que atraiam a atengiio de todas as mentes sinceras. Compreendo muito bem que vocés hesitem em conferir apressadamente grandes poderes, que seriam, muito provavelmente, mal empregados ~ mas isso nao impede, de modo algum, os ataques dogmsticos aos resultados das suas investigagdes psiquicas, as quais, se fossem acompa- nhadas por fendmenos bastante claros e suficientemente repetidos, provari- am que vocés conhecem, na realidade, mais dos assuntos abordados do que a Ciéncia Ocidental(2)... Provavelmente voce responders “o que diz do caso Slade?"3, mas no esqueca que ele estava ganhando dinheiro pelo que fazia, fazendo disso uma profissi0, Muito diferente seria a posi¢7o de um homem que se apresentasse para ensinar gratuitamente ~ com evidente sacriffcio de seu proprio tempo, conforto e interesses pessoais ~ 0 que ele acredita que seria benéfico para a humanidade conhecer. Nao hé diivida de que, no inicio, todos diriam que 0 homem esti louco ou um impostor; mas uma vez que fenémeno apés fe- ndmeno se repetisse, teriam que admitir a existéncia de algo de verdadeiro 3.0 dr. Slade era um médium norte-americano de talentos excepeionais que se submeteu ‘amuitos testes com H.P.B. e Olcott e foi escolhido por Oleot para ir Riissia, a pedida do Comité Cientfico de Sto Petersburgo, para fiver alguns testes Is. Veja Old Diary Leaves de HLS. Olcott, vol. I, p. 101 e seguintes. (EU. C.) 63 Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett eles, e dentro de trés anos vocé teria todas as mentes mais avangadas de qualquer pafs civilizado voltadas com interesse para essa questio, € dezenas de milhares de vidos investigadores, dos quais uns dez por cento poderiam cchegar a ser trabalhadores titeis, e um em cada mil talvez desenvolvesse as condigdes necessérias para se tornar, um dia, um adepto. Se voce deseja uma reagdo na mente nativa por intermédio da mente européia, essa é a maneira de provocé-la, Naturalmente, digo isto podendo ser corrigido e ignorando as condigdes, possibilidades, etc., mas desta ignoriineia, de qualquer maneira, eu no sou culpado ... (3) ‘Chego agora & passagem: “Nao ocorreu a voc’ que as duas publica Ges de Bombaim, se no foram influenciadas, pelo menos no foram impe~ didas por aqueles que o poderiam ter feito, porque viram a necessidade de oda aquela agitagio para causar 0 duplo resultado, depois da ‘bomba’ do broche, de distrair necessariamente a atengdo do seu impacto e, talvez, de testar a forga do seu interesse pessoal pelo ocultismo e pela teosofia? Eu nfo digo que isto foi assim; apenas pergunto se a idéia alguma vez ocorreu & sua mente"4 Bem, naturalmente, isso foi dirigido a Sinnett, mas mesmo assim quero responder & minha maneira, Primeito devo dizer, cui bono? fazer tal insinuagao? Voce deve saber se isso foi assim ou ndo. Se no foi, por que nos deixar especulando sobre 0 que poderia ser quando voc® sabe que foi Mas se foi assim entio, cu coloco, em primeito lugar, que uma questio idiota como esta nio poderia ser um teste para o interesse pessoal de ninguém em coisa alguma (hi naturalmente muitos seres humanos que sio apenas um tipo de macacos educados)... Em segundo lugar, se os Irmios permitiram deliberadamente a publicagio dessas cartas, s6 posso dizer que, do meu ponto de vista mundano nio-iniciado, creio que cometeram um triste erro... © sendo 0 objetivo declarado dos Irmaos fazer com que a S.T. seja respeitada, eles dificilmente poderiam ter escolhido um meio pior que a publicagio destas cartas tolas... mas, mesmo que seja colocada em sentido geral a questio “voeé ja se perguntou alguma vez se os Irmios permitiram essa pu- blicagao?", ndio posso deixar de dizer que, na hipétese negativa, € indtil per- det tempo com 0 assunto, e na hipétese positiva, parece-me que foram pou- co sabios ao fazé-lo.(4) 4 Hume cita aqui uma passagem da carta publicada como Carta nf S deste volume. (N, ed. bras.) 5 Cui bono: “a quem interessa, em latim. (N. ed. bras.) 64 Cartan? 8 Depois vém as suas observagdes sobre o coronel Olcott. O velho € querido Olcott, a quem todos que conhecem amam, Eu simpatizo plena- mente com tudo o que voeé diz a seu favor, mas nio posso deixar de fazer uma objecdo a0 modo como o elogia baseando-se principalmente no fato de que ele nunca pergunta, mas sempre obedece, Isto € novamente algo semelhante & organizagZo dos jesuitas e, de acordo com a minha maneira de pensar, esta rentincia ao discernimento préprio, este abandono da res- ponsabilidade pessoal, esta accitagio da orientagio de vores externas como um substituto da propria consciéncia é um pecado de niio pouca magnitu- dc... Mais ainda: sinto-me obrigado a dizer... que se esta doutrina de obe- digncia cega € essencial no seu sistema, duvido muito que qualquer luz spiritual que ele possa transmitir seja suficiente para compensar a huma- nidade pela perda dessa liberdade de agdo prépria, desse sentido de respon- sabilidade pessoal, individual, de que ela seria destitufda...(S) ‘Mas caso se pretenda que eu receba em algum momento instrugdes ppara fazer isto ou aquilo e que o faga de imediato sem compreender por que ou para que, sem saber as conseqiiéncias, as cegas ¢ descuidadamente, entéo, francamente, 0 assunto esté encerrado para mim — nfio sou uma maquina militar — sou inimigo jurado da organizagao militar, sou amigo e defensor do sistema industrial ou cooperativo, e no me unirei a nenhuma Sociedade ou centidade que pretenda limitar ou controlar o meu direito a julgamento pesso- al, Entretanto, nfo sou doctrinaire!% e nfo desejo cavalgar nenhum prinef pio como um cavalinho de brinquedo, Voltando a Olcott, no creio que sua ligagdo com a Sociedade pro- seria algum mal . Em primeiro lugar, eu ndo faria nenhuma objegio A supervisio do ve~ Iho € querido Olcott, porque sei que seria nominal e mesmo que ele tentasse exercé-la de outro modo, Sinnett e eu teriamos todas as condigdes de fazer com que se calasse, caso ele interferisse sem necessidade. Mas nenhum de nds dois poderia aceité-lo como nosso verdadeiro guia(6), porque sabcmos que somos superiores a ele, intelectualmente, Esta € uma mancira brutal de colocar as coisas, como diriam os franceses, que voulez vous?” Sem uma perfeita franqueza nfo se pode chegar a um entendimento .... Atenciosamente, pos AO. Hume © Doctrinaire ~ doutrinatio, doutrinador, em francés. (N. ed. bras.) 7 Que voulez vous? ~“o que vocs quer?” — em francés. (N. ed. bras.) 65 Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett Recebida em 12 de dezembro Carta n° 9 (ML-98) ce 1880 ou mais tarde #1 Eu compreendi perfeitamente. Mas, apesar de serem sinceros, esses sentimentos esto tio profundamente cobertos por uma grossa crosta de auto-suficiéncia e teimosia egoista que nfio podem despertar em mim nada semelhante a simpatia. (1) Durante séculos tivemos no 1 racdo puro, simples, sem a béncao da civilizacio e, portanto, livre dos seus vicios. Durante eras inteiras o Tibete tem sido o ultimo canto do mundo niio corrompido tio completamente a ponto de tornar imposss vel a mistura das duas atmosferas — a fisica e a espiritual. E ele gostari {que nds trocassemos isto pelo seu ideal de civilizagdo governo! Isto € simplesmente um discurso para ele mesmo, uma intensa paixio por ou- vir a si proprio argumentando e por impor as suas idéias a todos os ou- tros. bete um povo digno e de co- (2) Na verdade, 0 senhor H. deveria ser enviado por um comité internacional de filantropos, como um Amigo da Humanidade Agoni- zante, para ensinar aos nossos Dalai Lamas — sabedoria. Ultrapassa a minha pobre compreensio 0 motivo por que ele niio comeca imediata- mente a estruturar um plano para algo como a Republica Ideal de Platio, com um novo esquema para tudo o que ha sob 0 Sol ea Lua. (3) E na verdade muita generosidade da parte dele dar-se 20 ‘enorme trabalho de nos ensinar. Sem dtivida, isto ¢ resultado de pura bondade e nao do desejo de estar por cima do resto da humanidade. Esta 6a Gltima aquisigio da evolugao mental dele, que esperamos, nao se conyerta em dissoluedo. (4) AMEM! Meu querido amigo, voce é responsavel por nao haver surgido na cabeca dele a idéia gloriosa de oferecer os seus servi- os como mestre-escola? geral do Tibete, reformador das antigas supers- figdes e salvador das futuras geragdes. Naturalmente, se lesse isto, ele demonstraria imediatamente que eu argumento como um ““macaco edu- cao”, (5) Ouga o homem tagarelar sobre algo que desconhece total- mente, Nenhum homem vivo é mais livre do que nés, depois que safmos do estigio do discipulado. Durante este tempo nés devemos ser déceis € 1 Be asters e os nmeros entre parénteses do texto desta cata se referem a0 asterisco fe nmeros enire pargnteses da carta anterior, n® 8 (ML-99), de A.0. Hume, que KH. comenta nesta Carta n® 9. (Nota da I ego) 2 Antigamente, © mestre-escola era o Unico professor e 0 nico responsdvel por uma ppequena escota de 12 grau. (N. ed. bras.) 66 Carta n® 10 obedientes, embora nunca escravos; de outra maneira, se passissemos o tempo argumentando, nunca aprenderfamos nada. (6) E quem pensou alguma vez em propé-lo como tal? Meu caro companheiro, vocé poderia realmente culpar-me por me esquivar de uma relagio mais estreita com um homem cuja vida parece girar em torno de constantes discussdes e eriticas maledicentes? Diz que no é um docirinaire, quando ele é a prépria esséncia disso! FE merecedor de todo respeito ¢ mesmo do afeto daqueles que 0 conhecem bem. Mas, pelas estrelas do eéu! - em menos de 24 horas ele paralisaria qualquer um de nés que tivesse a infelicidade de estar a distdncia de uma milha dele, s6 devido & ladainha monétona sobre os seus préprios pontos de vista. Nao, mil veres nao. Homens como ele podem se tornar hibeis estadistas, ora- dores, 0 que voe@ quiser mas - nunca Adeptos. Nao temos nenhum dese tipo entre nés. Talvez seja por isto que nunca sentimos a necessidade de um asilo para luniiticos. Em menos de trés meses ele teria enlouquecido metade da nossa populagio tibetanat Dias atrés mandei uma carta para voce pelo correio em Um- balla. Vejo que ainda nao a recebeu. ‘Atenciosamente, Koot Hoomi. Recebida depois de 1° Cartan? 10 (ML-5) ae dezembro de 1880 Esta € a primeira carta recebida por Sinnett na qual tanto 0 texto quanto a assinatura estiio na mesma letra. Parece duvidoso que tenha sido transmitida através de H.P.B. E possivel que wn chela de K.H. em Umballa tenha feito essa tarefa. Meu caro amigo, Tenho a sua carta de 19 de novembro, abstrafda do envelope de Meerut pela nossa osmose especial, ¢ a sua carta para nossa “velha senho- ra” segue em seguranca em seu envoltério registrado e meio esvaziado para Cawnpore, para fazé-la praguejar contra mim... Mas ela est mui- to fraca para desempenhar o papel de correio astral logo agora, Lamen- to ver que ela mais uma vez mostrou-se imprecisa e 0 induziu a erro; mas a responsabilidade é prineipalmente minha, porque freqiientemen- te deixo de fazer uma friccao extra em sua pobre cabeca doente, agora que ela esquece ¢ mistura as coisas mais do que 0 normal. Eu nio pedi a ela que dissesse a voce “para desistir da idéia da loja anglo-indiana, porque nada resultaria dela” mas ~ “para desistir da idéia da loja an- 67 Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett glo-indiana em cooperagio com o sr. Hume, porque nada resultaria dela”, Mandarei a vocé a resposta dele & minha carta e a minha epistola final, ¢ vocé julgaré por si mesmo. Depois de ler esta siltima, por favor, feche-a e a envie para ele, dizendo apenas que o faz em meu nome. A menos que ele levante a questo, é melhor voce niio dizer que leu a carta dele. Pode ser que ele fique orgulhoso dela, mas ~ ndo deveria. Meu bom e querido amigo, vocé nao deve guardar ressentimento contra mim pelo que disse a ele dos ingleses em geral. Eles so arrogan- tes. Especialmente com relagio a nds, de modo que consideramos isso uma caracteristica nacional. E vocé nao deve confundir os seus pontos de vista particulares, especialmente os que tem agora, com os dos seus compatriotas em geral. Poueas pessoas, ou talvez ninguém (claro que ha excegdes como voce, cuja intensidade de aspiracées faz com que sejam deixadas de lado todas as outras consideracdes), consentiriam jamais em ter um “negro” como guia ou lider, assim como nenhuma Desdémo- na moderna escolheria um Otelo indiano. O preconceito racial é intenso, © mesmo na Inglaterra livre somos considerados uma “raga inferior”. E esse mesmo tom vibra nas suas prdprias observacdes acerca “de um homem do povo nfo habituado a maneiras refinadas” e “um estrangei ro, mas um cavalheiro”, sendo a preferéncia para este dltimo. Tampou- co seria de se esperar que fosse perdoada em um hindu essa falta de “modos refinados”, ainda que ele fosse vinte vezes “um adepto”; e esta mesma caracteristica aparece com destaque na critica do visconde de Amberley sobre o “Jesus mal-educado”. Se voc? 0 tivesse parafraseado dito: “um estrangeiro, mas nfo um cavalheiro” (de acordo com os critérios ingleses), vocé nfo teria podido acrescentar, como fez, que ele seria considerado 0 mais adequado. Por isso, digo novamente que a maioria dos nossos anglo-indianos, entre 0s quais 0 termo “hindu” ou 10” esti geralmente ligado a uma idéia vaga, embora perceptivel, de alguém que usa os dedos em vez de um pedago de cambraial e que renuncia ao sabonete, iria, certamente, preferir um norte-americano “a um tibetano sebento”. Mas vocé nao necessita temer por mim. Sempre que aparecer, seja astral ou fisicamente, diante do meu amigo A. P. Sinnett, no esquecerei de gastar uma certa soma num lenco da mais fina seda chinesa para levi-lo no bolso da minha chogga, nem de criar uma at- mosfera de sndalo ou rosas de Cachemira. Isso é 0 minimo que poderia fazer como expiaciio pelos meus compatriotas. Mas, também, voce vé, sou apenas um escravo dos meus mestres; e, se sou autorizado a satis- fazer o meu préprio sentimento de amizade por vocé, ¢ a atendé-lo individualmente, posso no ser autorizado a fazer 6 mesmo com outros. Histo . um lengo de eambraia. (N. ed. bras.) 68. Carian? 10 ‘Mas, para dizer a verdade, sei que nao tenho permissio para fazé-lo, ea Jamentivel carta do sr. Hume contribuiu muito para isso. Ha um grupo ou setor definido na nossa fraternidade que atende as ocasionais e muito raras aproximagées de individuos de outra raca ou sangue, esse grupo fer. passar pelo umbral o capitio Remington e dois outros ingleses, du- rante este século. E esses “Irmios” — nao usam, habitualmente, essén- cias de flores. Entio 0 teste do dia 27 niio foi o teste de um fendmeno*? Natural- mente, naturalmente. Mas yocé tentou obter, como disse que faria, 0 manuscrito original do despacho de Jhelum? Mesmo que se provasse ‘que a nossa oca, porém, pletérica amiga, a sra. B., fossé meu multum in parvo, a redatora das minhas cartas ¢ autora das minhas epistolas, to- dayia, ainda assim, a no ser que ela fosse ubiqua, ou possuisse a facul- dade de voar em dois minutos desde Amritsar até Jhelum, uma distan- cia de mais de 360 quilémetros, como poderia ela ter escrito para mim 0 despacho em Jhelum com minha prépria letra, apenas duas horas apés ter recebido a sua carta em Amritsar? Eis por que nao lamentei quando ‘yoc8 disse que 0 mandaria buscar, pois com esse despacho em seu po- der, nenhum “detrator” teria muita forga, nem poderia prevalecer a J6gica cética do sr. Hume. Naturalmente voc8 imagina que a “revelagio sem nomes”, que agora repereute na Inglaterra, teria recebido muito mais destaque do Times of India se vevelasse os nomes. Mas aqui novamente demonstrarei que vocé nao tem razio. Se vocé tivesse sido o primeiro a fazer o relato, © Times of India nunca teria publicado “Um dia com a Senhora B.”, pois aquele belo exemplo do “sensacionalismo” norte-americano no teria sido, absolutamente, escrito por Olcott. Nao teria havido raison etre’, Ansioso por obter para sua Sociedade toda prova que corrobo- rasse os poderes ocultos do que ele denomina a 12 Segio, e vendo que vocé permanecia silencioso, nosso valente coronel sentiu a mao cocar até que trouxe tudo A tona, e ~ mergulhou tudo em obscuridade e conster- 2 Referéncia & carta eserita por Sinnett de Simla, HPB a recebeu em Amritsar dia 27 € a transmitiu imediatamente ao Mahatma, que estava em vingem em trem para visiti-la Refere-se também ao telegrama que o Mestre mandou de Jhelum, Isto foi discutido com relaglo & carta n® 5 (ML-4). Aparentemente, Sinnett ainda nfo havia abtido uma 6pia do telegrama, ¢ por isso nio estava inteiramente convencido. Mais tarde, Sinnett obteve uma copia dele, e as citcunsténcias se tornaram indiscutiveis. (Ed. C.) 3 Rofere-se ao artigo de Olcott sobre 0 fendmeno de Simla, feito exclusivamente para ‘membros da $.T., mas que foi infelizmente publicado por um jornal da fndia, (Bd. C.) 4 Raison d’étre — Razio de ser. (N. ed. bras.) 69 Cartas dos Mahaimas Para A.P. Sinnett nagio!... “Et voici pourquoi nous n’irons plus au bois”S, como diz a can- fo francesa. Vocé escreveu “ritmo”? Bem, bem; devo pedir a voe’ que me compre um par de éculos em Londres. Eno entanto, fora de “ritmo” ou fora de “tempo” é a mesma coisa, segundo parece, Mas voce deve ado- tar meu velho hébito de colocar pequenas linhas sobre os “emes”. Essas barras sio iiteis embora estejam “fora de ritmo e tempo” em relagao & caligrafia moderna. Além disso, tenha em mente que essas minhas car- tas nao sao escritas ¢ sim impressas ou precipitadas depois todos os erros sio corrigid Nao discutiremos, no momento, se os seus fins e propésitos so Gio profundamente diferentes dos do sr. Hume; mas, sim, se ele pode ser estimulado por uma “filantropia mais pura € ampla”. 0 modo que ele escolhe para trabalhar e aleancar estas metas nunca o levaré além de consideragées teéricas sobre 0 assunto. E intitil tentar descrevé-lo de outro modo agora. A carta dele, que vocé logo ler, é, como digo para ele, “um monumento ao orgulho e ao egofsmo inconsciente”. Ele é um homem demasiado justo e superior para ser culpado de pequenas ¥: dades; mas 0 seu orgulho se eleva cumo 0 orgulho do mitico Liéicifer, € vocé pode acreditar no que digo ~ se é que eu tenho alguma experiéncia com a natureza humana ~ quando afirmo que esse é Hume, au naturel 7, Nao é uma conclusio precipitada minha, baseada em algum sentimento pessoal, e sim a opiniaio do maior de nossos adeptos vivos ~ 0 Shaberon de Than-La®, Em qualquer questio que ele aborde, 2 sua atitude é a mesma; uma teimosa determinago de fazer com que tudo fique de acordo com suas préprias conclusdes prévias ou eliminar o assunto de um s6 golpe com criticas irdnicas e negativas. O sr. Hume é um homem muito habil - e é cem por cento auténtico. Um estado de espfrito como esse & pouco atrative, como voc’ pode compreender, para qualquer um de nés que desejasse se aproximar para ajudé-lo. ‘Nao; eu nao tenho e nunea terei “desprezo” por nenhum “senti- mento” ~ mesmo que ele se choque com os meus prineipios — quando for expressado franca ¢ abertamente, como 0 seu. Voce pode estar, ¢ indu- 5 “B € por isto que nés nfo iremos mais a0 bosque" (Ed. C.) 6 Veja a nota de rodapé n® 12-da Carta nt 5 (ML-4). (Bd. C.) 7 Aw naturel ~"Ao natural”, em francés. (N. ed. bras.) 80 termo “Shaberon” & usado para designar um adepto superior. Presumivelmente, neste contexto, rata-se de urna referéncia ao Maha-Chohan. (Ed. C.) 70 Carta n2 10 bitavelmente esté, motivado mais por egofsmo do que por um amplo sentimento de benevoléncia pela humanidade. Todavia, como voc’ 0 confessa sem montar nenhum pretexto filantrépico, digo-Ihe franca- mente que vocé tem muito mais possibilidades do que o sr. Hume de aprender um pouco de ocultismo. Quanto a mim, farei tudo que puder por voeg, de acordo com as circunstincias, e limitado como estou por ordens recentes. Nao direi que abandone isto ou aquilo, pois, a nao ser que voc demonstre ter sem diivida alguma os necessiirios germes, a rendncia seria tio intitil como cruel. Mas eu digo — TENTE. Nao se de- sespere, Una-se a varios homens e mulheres decididos e faga experiéncias de mesmerismo ¢ os costumeiros fendmenos denominados “espirituais”. Se agir de acordo com os métodos recomendados pode ter certeza de que, no final, obtera resultados. Além disso, farei todo 0 possivel e, quem sabe! Uma vontade forte eria situagdes ¢ a simpatia atrai até mes- ‘mo 0 adeptos, cujas leis normais sio antagdnicas & mistura com 0 niio- iniciado. Se estiver disposto, eu the enviarei um Ensaio mostrando por que, na Europa, mais do que em qualquer outra parte, para obter éxito ‘em ciéneias ocultas 6 necesséria uma Fraternidade Universal, isto é, uma associagao de “afinidades" de forcas e polaridades fortemente magnéti- cas, embora diferentes, centradas em torno de uma idéia dominante. O que um nao consegue fazer ~ muitos, juntos, podem alcangar. Natural- mente vocé tera, neste caso, que trabalhar em harmonia com Olcott, que esta & frente da Sociedade Matriz ¢, portanto, dirige nominalmente todas as lojas existentes. Mas ele nao “lideraré” o seu trabalho mais do que “lidera” o da Sociedade Teos6fica britinica, que tem 0 seu préprio presidente, ¢ os seus préprios estatutos ¢ regulamentos. Voce recebera dele a Carta Constitutiva, e isso ¢ tudo. Bm alguns casos ele ter’ que assinar um papel ou dois ~ 4 vezes por ano, e apreciara as contas envia- das por seu secretirio; todavia ele nao tem o direito de interferir na sua administragio e modos de atuar, enquanto esses no se chocarem com as regras gerais, e ele, certamente, nao tem a possibilidade nem 0 desejo de ser o seu lider. E naturalmente, vocés (isto é toda a sua Sociedade) terdo, além do seu préprio presidente, escolhido pelo grupo, “um pro- fessor qualificado de ocultismo” para instruf-los. Mas, meu bom amigo, abandone qualquer expeetativa de que esse “professor” possa aparecer fisicamente e dar instrugdes nos anos vindouros. Posso chegar até voce pessoalmente ~ a nao ser que vocé me afaste, como fez o sr. Hume - no posso aparecer para TODOS. Vocés poderaio obter fendmenos e provas, n Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett mas mesmo que cafssem no velho erro e os atribufssem aos “espiritos”, 86 poderiamos mostrar os seus enganos através de explicagoes légicas ¢ filos6ficas: a nenhum adepto seria permitido comparecer is suas reunises. F claro que vocé deve escrever um livro. Nao vejo por que isto se- ria impossivel. Faca-o, sem dtivida, e Ihe darei toda a ajuda que puder. Vocé deveria entrar imediatamente em contato por correspondéncia com lorde Lindsay, tomando como assunto os fendmenos de Simla ¢ a sua correspondéncia comigo. Ele esta intensamente interessado nestas experiéncias e, sendo um teosofista ligado ao Conselho Geral, € certo que receberd bem a sua iniciativa. Tome como base o fato de que voce pertence & S.T.; que é o bem conhecido editor do Pioneer, e que, saben- do como é grande o interesse dele pelos fendmenos “espiritas”, voce jeracio os fatos extraordinérios que ocorreram em licionais nado publicados, Os melhores entre os espiritas briténicos poderiam, com orientagio adequada, vir a ser teoso- fistas. Mas nem o dr. Wyld nem o sr. Massey parecem ter a forga neces- sdria, Eu aconselho que vocé converse pessoalmente com lorde Lindsay sobr uagao teos6fica na Gra-Bretanha ¢ na india. Talvez vocés dois possam trabalhar juntos: a correspondéncia que sugiro agora poderd ser 0 primeiro passo para isso. Mesmo que a sra. B. pudesse “ser induzida” a dar 4 Sociedade ‘A. I. qualquer “instrugio prittica”, receio que ela tenha passado dema- siado tempo fora do ddifo? para poder dar explicagdes praticas. Entre- tanto, embora niio dependa de mim, verei 0 que posso fazer nesse senti- do. Mas eu temo que ela tenha agora uma necessidade extrema de pas- sar uma temporada recuperadora de alguns meses nas geleiras, com seu velho Mestre, antes que possa ser encarregada de tarefa tao dificil. Seja mi cauteloso com ela, caso ela se hospede em sua casa durante o re- gresso a seu lar. O sistema nervoso dela esta terrivelmente abalado, ¢ nenhum cuidado é demasiado. Queira, por favor, poupar-me um tra- balho desnecess4rio, dizendo-me 0 ano, a data, e a hora do nascimento da sra. Sinnett? Sempre atenciosamente, Koot? Hoomi * Aalto: Camara secret nos templos antigo, santuirio onde s6 0s sacerdotes podiam tntrar. Nesta frase, 0 mestre faz povavelmente uma alusfo ao ashrarn dos Adeptos nos Himalaivs. (N. ed. bras.) 72 Cartan? 1} Carta n211 _ (ML-28) Recebida em dezembro de 1880 E impossivel dizer a data exata desta carta e a data de recebimento é incerta. Ela foi anexada a carta n? 10 (ML-5), que Sinnett recebeu em algum dia posterior a 12 de dezembro de 1880. Sinnett indica 1881 com wm ponto de interrogagéo e anota: “Eserita com vistas ao rompimento final”. Isto ‘estd incorreto; 0 “rompimento final” com Hume veio muito mais tarde. En- tretanto, é facil ver por que Sinnett pode ter feito esta afirmagao, pois na carta n* 10 0 Mahatma KH. realmente indica que esté mandando a sua “epistola final”. Foi feita mais acima a suposi¢do de que Sinnett freqiientemente 56 datava as cartas depois de algum tempo do seu recebimento, € neste caso pode ter acontecido isso. Nota-se também que, nesta carta n® 11, KH. diz recusar por ora qualquer correspondéncia posterior. Assim, a porta ndo foi definitivamente fechada. Pelo seu contetido, pode-se deduzir que esta carta é a resposta & réplica de Hume @ primeira carta escrita para ele pelo Mahatma. A primei- ra carta de KH. para Hume ndo esté nas primeiras edigdes das Cartas dos Mahatmas, mas aparece em grande parte em © Mundo Oculto, pp. 125 ¢ seguintes! De K.H. para A.O, Hume, preparando a ruptura final (18817) ‘Meu caro senhor, Mesmo que 0 tinico resultado positive da nossa correspondén- cia seja o de nos mostrar mais uma vez como sio essencialmente opostos os nossos dois elementos antagdnicos ~ o inglés e o hindu, as nossas pou- cas cartas no terao sido trocadas em yao. & mais facil 0 dleo e a agua misturarem suas particulas que um inglés, ainda que inteligente, sincero € de mente altrufsta, assimilar até mesmo o pensamento exotérico hin- du, para nao falar do seu espirito esotérico. Isso naturalmente vai pro- yocar um sorriso seu. Vocé dira ~ “eu esperava por isso”. Caso assim seja, isso nfo prova outra coisa exceto a perspieéeia de um homem inte- ligente e observador, que se antecipou intuitivamente ao acontecimento que a sua prépria atitude deve provocar .. Perdoe-me se tenho que falar franca e sinceramente sobre sua longa carta. Por mais convincente que seja a I6gica, por mais nobres que sejam algumas das idéias e ardente a aspiragio presente em sua " Veja esta primeira carta de KH. para Hume no Anexo I deste volume. (Ed. C.) B Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett carta, ela esta aqui diante de mim como um perfeito espelho do espirito da época atual, contra o qual temos lutado durante nossas vidas intei- ras! Na melhor das hipoteses, ela ¢ 0 esforgo infrutifero de um intelecto perspicaz, bem treinado nos modos de acao de um mundo exotérico, no sentido de compreender e julgar mods de vida ¢ de pensamento que nao conhece porque eles pertencem a um mundo totalmente diferente daquele em que ele atua. Vocé nao é um homem de vaidades mesqui- has. Posso dizer-lhe sem perigo de ofender: “Meu caro amigo, deixan- do de lado isto tudo, estude sua carta imparcialmente, avalie algumas das suas frases, e em geral nao se sentiré orgulhoso dela”. Quer vocé venha ou nao a considerar plenamente os meus motives, e mesmo que julgue erroneamente as verdadeiras causas que me obrigam a recusar por agora toda correspondéncia subseqiiente, estou confiante de que, algum dia, voc€ confessara que esta sua tiltima carta, sob a aparéncia de uma nobre humildade, de confissbes de “debilidades e fracassos, defei- tos ¢ desatinos”, é pelo contrério — sem diivida ineonscientemente para voe® mesmo ~ um monumento de orgulho, um clamoroso eco do espirito orgulhoso e imperativo que se oculta no fundo do coragio de cada in- glés. Em seu estado de Animo atual € muito provavel que, mesmo depois de ler esta resposta, vocé dificilmente perceba que no sé falhou com- preendendo mal o espirito com que foi escrita a ultima carta que Ihe dirigi, mas também, em algumas partes, no conseguiu captar o seu sentido mais evidente. Vocé estava preocupado com uma s6 idéia, que tudo absorvia: ¢, ao no pereeber nenhuma resposta direta a ela na mi nha carta, ao invés de avalia-la por algum tempo e ver a sua aplicabi dade geral, e ndo pessoal, vocé passou a acusar-me de dar-Ihe uma pe- dra quando voeé me pedia um pio! Nao € necessirio ser ou ter sido um “advogado”, nesta existéncia ou em qualquer existéncia anterior, para afirmar claramente simples fatos. Nao ha necessidade alguma de “fazer a md causa aparecer como boa” quando a verdade € tao simples € tio facilmente expressa. Vocé aplicou a si mesmo a minha observacio se- gundo a qual “vocés assumem a posigao de que, a menos que alguém que domine 0 conhecimento areano empregue na sua sociedade embrio- néria uma energia...” ete.; mas esta nunca foi a intengio. A frase se re- feria As expectativas de fodos aqueles que poderiam desejar ingressar na Sociedade sob certas condicdes previamente estabelecidas € nas quais vocé e 0 sr. Sinnett insistiam firmemente. A carta esta dirigida em geral 1a voets dois, ¢ essa frase especifica diz respeito a todos. Voeé diz que “até certo ponto” eu interpretei mal a sua “posi- iio”, ¢ que nao 0 “compreendi claramente”. Isso € tio evidentemente incorreto que basta eu citar um s6 pardgrafo da sua carta para mostrar 74 Cartan? 1 que foi voc@ quem “interpretou mal a minha posigio”, por completo © Sclaramente me entendeu mal”. Diga-me se vocé nao est errado quan- do, ansioso por repudiar a idéia de ter alguma vez sonhado em criar uma “escola”, vocé diz da proposta “Loja Anglo-Indiana”: “essa Soci dade nao é minha... entendi que era desejo seu e de chefes que a Soci dade fosse fundada e que eu assumisse uma posigéo de lideranga nela”. A isso respondi que se bem tem sido 0 nosso desejo constante desenvol- ver no continente ocidental, entre as classes mais cultas, “Lojas” da S.T. como precursoras de uma Fraternidade Universal, isso niio.era assim no seu caso. NOs (0s chefes e eu) negamos enfaticamente que tivéssemos esta expectativa (embora o fato fosse desejavel) em relacdo a projetada Sociedade A.L A aspiragio pela fraternidade entre nossas ragas nfo encontrou resposta ~ nfio, ela foi desprezada desde 0 comeco, € abando- nada antes mesmo que eu recebesse a primeira carta do sr. Sinnett. Da parte dele, desde o principio a idéia foi somente promover a formagio de uma espécie de clube ou “escola de magia”, Nao foi, portanto, uma proposicao nossa, nem fomos nds os “criadores do plano”. Por que en- tio tantos esforcos para demonstrar que estamos equivocados? Foi a sta, B., 20 nds, quem concebeu a idéia; e foi o sr. Sinnett quem a ado- tou. O seu reconhecimento franco e honrado de que, sentindo-se incapaz, de compreender a idéia bisica de Fraternidade Universal da Sociedade Matriz, seu propésito era apenas o de cultivar o estudo das ciéneias ocultas, deveria ter posto de imediato um ponto final a qualquer insis- téneia por parte da sra. B., que apesar disso conseguiu o consentimento ial ~ com muita relutincia, devo dizer — do préprio Chefe imediato dela, e depois a minha promessa de cooperagio, na medida em que me fosse possivel. Finalmente, por meu intermédio, ela recebeu autorizagio de nosso chefe superior, a quem submeti a primeira carta com que voce me honrou. Mas esse consentimento, nio esqueca, por favor, foi obtido unicamente sob a condigdo expressa e inalterdvel de que a nova Socieda- de seria fundada como parte da Fraternidade Universal, e entre os seus membros, alguns poucos escolhidos — se decidissem aceitar as nossas condigdes em ver. de nos impor as suas —seriam autorizados a comecar 0 estudo das ciéncias ocultas sob as orientagoes escritas de um “Irmao”, ‘Mas nunea sequer pensamos em uma “central de mégicas”. Uma orga- nizagio como a que foi projetada pelo sr. Sinnett e vocé é impensével entre europeus, ¢ torna-se quase impossivel mesmo na India, a nao ser que vocés estejam preparados para subir até uma altura de 6.000 a 6.700 metros em meio ais geleiras dos Himalaias. A maior e mais pro- missora destas escolas na Europa, 0 iiltimo esforgo feito nesse sentido, fracassou claramente hi cerca de vinte anos em Londres. Foi uma es- 15 Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett cola secreta para o ensinamento pritico da magia, fundada com o nome de um clube, por uma diizia de entusiastas sob a diregiio do pai de lorde Lytton®. Ele reuniu com este objetivo os mais apaixonados e os mais empreendedores, assim como alguns dos mais adiantados conhecedores de mesmerismo e “magia cerimonial”, tals como Eliphas Levi, Regazzoni eo copta Zergvan-Bey. E, no entanto, na pestilenta atmosfera de Lon- dres, 0 “Clube” teve um final prematuro. Eu o visitei meia dizia de ve- zes e percebi desde o principio que nada poderia resultar dali. B esta € também a raziio por que a S.T. britdnica no dé praticamente um s6 passo adiante. Seus membros pertencem 4 Fraternidade Universal, mas 6 de nome, gravitam no melhor dos casos para o quietismo, uma pa- ralisia completa da alma. Sio intensamente egoistas em suas aspiragées € colheraio apenas a recompensa de seu egofsmo. ‘Tampouco fomos nds que iniciamos a correspondéncia a este respeito. Foi o sr. Sinnett que, por sua prépria iniciativa, enviou duas longas cartas a um “Irmio”, antes mesmo que a sra. B. tivesse obtido permissio ou promessa de que algum de nés responderia a vocé ou sou- esse sequer a qual de nés devia entregar a carta, Havendo o Chefe dela se recusado categoricamente a responder, foi a mim que ela se dirigiu, Em consideracio a ela, aceitel, dizendo-the inclusive que poderia comu- nicar a todos vocés 0 meu nome mistico {ibetano, e respondi a carta do nosso amigo. Logo chegou a sua carta ~ tio inesperada como a outr: ‘Vocé nem sabia 0 meu nome! Mas a sua primeira carta era tio sincera, © espirito dela tio promissor e as possibilidades que se anteviam para a promocio do bem geral pareciam tio grandes, que, se no gritel “Eu- reka” depois de Ié-Ia ¢ no arremessei imediatamente a minha lanterna de Didgenes* para longe de mim, foi somente porque conheco muito bem a natureza humana e também ~ vocé deve me desculpar ~ a natu- reza ocidental. Nao podendo, entretanto, subestimar a importincia da- quela carta, levei-n imediatamente a0 nosso venerdvel Chefe. Tudo que pude obter d'Ele foi a permissio de me corresponder temporariamente com voce ¢ deixé-lo expressar todos seus pensamentos antes de fazer qualquer promessa definitiva. Nés no somos deuses, e até mesmo eles, nossos Chefes, fém esperangas. A natureza humana é insondavel, e a sua 2 Isto &, sob diregio do eseritor Edward Bulwer-Lytton. (N. ed. bras.) 3 Didgenes, lilésofo grego do século 4 a.C. ¢ o maior expoente da escola dos efnicos, ‘coslumava desmascarar a falsidade de muitas convengbes socials. O Mestre K.H. alu- de aqui 8 ocasiio em que Didgenes eaminhava em plena luz do dia pela rua earregan- cdo uma lanterna com a chama acesa, A quem the perguntava o que fazia com aquela lantema, sua resposta era sempre a mesma; “Procuro um homem integro”. (N. ed. bras.) 16 Carta n® 11 talvez seja mais intensamente insondavel do que a de qualquer outro homem que eu conheca. A sua iltima carta foi, certamente, um mundo cheio de revelacdes, ou pelo menos uma contribuicso muito Gtil para o meu conjunto de observagdes sobre o carater ocidental, especialmente 0 carater do anglo-saxio moderno ¢ altamente intelectualizado, Sem dti- yida, a carta seria uma revelagio para a sra. B., que nao a viu (e por varias razdes € melhor que nao a veja), j4 que poderia destruir grande parte do otimismo ¢ da fé que ela tem em relagdo aos seus préprios po- deres de observagao, Eu poderia provar-lhe, entre outras coisas, que ela estava to enganada em relagio A atitude do sr. Sinnett neste assunto quanto em relagao A sua, ¢ que eu, que nunca tive o privilégio de conhe- cé-lo pessoalmente, como ela teve, conheco-o melhor do que ela. Eu ti nha claramente predito para ela a sua carta. Ao invés de nao haver So- ciedade alguma, ela preferia que houvesse uma, de qualquer modo, ini- cialmente, e preferia ver depois o que se podia fazer. Eu a preveni de que vocé no era um homem que se submetesse a quaisquer condigdes que niio fossem as suas préprias, e que no daria um passo para a fun- dacio de uma organizacao, por nobre e grandiosa que fosse, sem rece- ber primeiro provas como as que nés geralmente s6 damos Aqueles que, gragas a anos de provacio, demonstraram ser completamente confid- veis. Ela se rebelou contra a opiniao e garantiu que, se eu Ihe desse uma prova irrefutavel dos nossos poderes ocultos, voc@ fiearia satisfeito, en- quanto que o sr. Sinnett nunca ficaria, E agora que os dois tiveram tais provas, quais si os resultados? Enquanto o sr. Sinnett er@ (e no se arrependers nunca disso), vocé permitiu que a sua mente se enchesse gradualmente de diividas repulsivas e das suspeitas mais insultuosas, Se recordar, por obséquio, 0 meu primeiro bilhete, mandado de Jhelum, ver 0 que eu queria dizer, entlo, ao afirmar que vocé ficaria com a mente envenenada. Vocé nfo me entendeu na época e continuou a nao me entender até hoje; porque no bilhete eu nao me referia & carta do sr. Olcott na Gazeta de Bombaim, mas sim ao seu proprio estado de espiri- to. Estava eu equivocado? Vocé nao tem s6 diividas em relacio ao “fe- nmeno do broche” = voce positivamente nao aeredita nele. Voce diz sra. B, que ela pode ser uma dessas pessoas que eréem que maus meios Justificam os bons fins e, em ver, de esmagé-la com todo 0 desprezo que {al ago despertaria num homem com os seus elevados principios, asse- gura a ela a sua inalterdvel amizade. Até mesmo sua carta para mim est chela do mesmo espirito de suspeita, e voce tenta persuadir-se de que pode perdoar em outra pessoa o que nunca perdoaria em si mesmo (o crime do engano), Meu caro senhor, estas sio estranhas contradigées! Havendo-me favorecido com uma série tio valiosa de reflexdes morais, n

Você também pode gostar