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25/04/2021 Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça
outras despesas.
Feito o julgamento, foi proferida sentença que julgou os embargos
improcedentes, ordenando o prosseguimento da execução.
Os executados interpuseram recurso de apelação, que também foi julgado
improcedente, embora tenha modificado alguma da factualidade vinda da 1ª
instância, na sequência da impugnação da matéria de facto deduzida pelos
apelantes.
Continuando inconformados, apresentaram os executados recurso de revista,
por entenderem que não se verifica uma situação de dupla conforme, na
medida em que o acórdão recorrido se baseou em fundamentos de facto e de
direito radicalmente distintos dos que constam da sentença da 1ª instância.
Concluem as alegações da revista do seguinte modo:
1. É fundamento do presente recurso a nulidade do acórdão recorrido por
omissão de pronúncia (arts. 615.º, n.º 1, al. d), do CPC), e a violação da lei
substantiva na modalidade de erro na interpretação e aplicação do direito, no
que concerne à repartição da culpa na responsabilidade contratual (art. 570.º
do CC), ao regime da venda de coisa onerada ou defeituosa (arts. 805.º,
811.º e 813.º do CC) e à redução da cláusula penal (art. 812.º do CC), e na
modalidade de erro na escolha e determinação da norma aplicável no que
respeita à clausula penal (art. 334.º do CC).
2. A admissibilidade do presente recurso de revista resulta da circunstância
o acórdão da Relação confirmar a decisão de 1.ª instância com fundamentos
de factos e de direito radicalmente distintos, não se verificando a dupla
conforme a que se refere o artigo 671º, n.º 3, do CPC.
3. Com efeito, o Tribunal da Relação procedeu à modificação da matéria de
facto dada como provada, alargando substancialmente a base factual da
decisão e assim o âmbito subjetivo e objetivo do alcance do caso julgado
material; e, por outro lado, operou um distinto enquadramento jurídico dos
factos provados, ao deslocar a base normativa da improcedência em 1ª
instância assente na inexigibilidade do contra crédito dos embargantes (nos
termos dos arts. 847º, n.º 2, do CC), para a aventada falta de “due diligence”
na aquisição da empresa por banda dos executados, e consequente
irresponsabilidade da embargada pelo incumprimento pontual da sua
prestação, ao mesmo tempo que conjetura, ainda que para a excluir, a
disciplina do erro sobre a base do negócio (previsto no art. 252.º do CC) e o
regime da compra e venda de coisa defeituosa (nos termos previstos no art.
905.º e ss. do CC).
4. O Tribunal da Relação situou o litígio no domínio da responsabilidade
contratual (arts. 798.º e ss. do Código Civil), mas deu como verificado que
os compradores/embargantes não usaram da diligência devida ou exigível,
tendo agido com culpa e concorrido para a produção dos danos,
circunstância que excluiria a responsabilidade da embargada, por força do
artigo 570.º do Código Civil.
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relação ao ano de 2009 (ano durante o qual é pacifico que a sociedade ainda
pertencia à embargada) cerca de € 22.109,06 (vinte e dois mil cento e nove
euros e seis cêntimos), concretamente: (a) a quantia de € 858,44 (Ponto 13
dos factos Provados); (b) a título de IVA, custas e juros a quantia
proporcional de € 15.288,20 (Ponto 14 dos Factos Provados); (c) por conta
do processo contraordenacional a quantia proporcional de € 5.962,42 (Ponto
16 dos Factos Provados).
31. Ao referido valor acresce ainda o valor despendido pelos embargantes
na escritura, registos e impostos referentes à hipoteca constituída a favor da
Administração Tributária como garante do cumprimento dos valores
devidos pelo exercício de 2009 e 2010, no valor de € 681,00 (Ponto 15 dos
Factos Assentes).
32. As referidas irregularidades tributárias configuram uma situação de
passivo oculto que os executados não esperavam ter de liquidar e que
respeitam a factos que não pode ser-lhes imputado.
33. Nessa medida, aplicando-se o regime da venda de coisa onerada, têm os
embargantes o direito a verem reduzido do preço em dívida a quantia de €
22.790,06 (cfr. arts. 905.º e 911.º do CC).
34. Por outro lado, considerando que a Lusore não recebeu o valor do
incentivo do IAPMEI, valor esse que constituía o único ativo da sociedade e
que naturalmente foi tido em conta pelas partes na definição do conteúdo do
contrato, é legítimo concluir que a exequente não cumpriu cabalmente a sua
prestação já que se verificou uma situação de relevante discrepância no
valor do ativo, com grave violação das expectativas dos compradores e do
equilíbrio negocial global.
35. Nessa medida, aplicando-se o regime da venda de coisa defeituosa, têm
os embargantes o direito a verem reduzido o preço em dívida nos termos
que o tribunal considere ajustados, em harmonia com a desvalorização
resultante da limitação ou defeito, mas sempre em medida não inferior ao
montante do preço ainda por pagar (cfr. arts. 911.º e 913.º do CC).
36. Com relevo para o acionamento da cláusula penal, constata-se que os
embargantes por conta da quantia confessada no título dado à execução (€
200.000,00) liquidaram à embargada o valor global de € 135.416,45, assim
encontrado: € 74.999,88 (ponto 8 dos Factos Provados) + 2.803,33 (Ponto 8
dos Factos Provados) + € 58.333,2 (Ponto 9 dos Factos Provados).
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37. Pelo que, à data Pelo que, à data do último pagamento efetuado, (abril
de 2014 – ponto 9 dos Factos Provados), o valor do capital em dívida
ascendia a € 64.583,55 [assim encontrado: € 200.000,00 - € 135.416,45 = €
64.583,55]).
38. Em sede de recurso de apelação, os embargantes/recorrentes reiteraram
inexistir incumprimento contratual legítimo a acionar a cláusula penal,
argumentando existir a propósito uma errada interpretação do direito
aplicável e subsunção jurídica dos factos violadora dos artigos 405.º, n.º 1,
428.º, 810.º, n.º 1, e 812.º, todos do Código Civil; e a título subsidiário
requereram a redução da cláusula penal fixada nos termos do artigo 812.º do
CC.
39. Porém, o Tribunal da Relação pronunciou-se apenas acerca do
peticionado a título subsidiário, não tendo discorrido uma linha que seja, e
muito menos proferido qualquer segmento decisório, acerca da alegada
inadmissibilidade do acionamento da cláusula penal sufragada pelos
recorrentes a título principal no seu recurso de apelação.
40. Tendo o coletivo de juízes deixado de se pronunciar sobre questões que
deviam ter sido apreciadas pois que ínsitas no objeto do recurso de
apelação, o acórdão recorrido enferma de nulidade, a qual se invoca para e
com os devidos efeitos legais, nos termos dos arts. 615.º, n.º 1, al. d), e art.
674.º, n.º 1, al. c), do CC.
41. Sem prejuízo da referida nulidade, a cláusula penal pode ser reduzida
pelo tribunal, de acordo com a equidade, quando for manifestamente
excessiva, ainda que por causa superveniente; sendo admitida a redução nas
mesmas circunstâncias, se a obrigação tiver sido parcialmente cumprida (cf.
art. 812.º, n.ºs 1 e 2, do CC).
42. A questão do concreto valor devido a título de cláusula penal foi
equacionada já aquando da dedução dos embargos à execução (no art. 33.º
desse articulado, os embargantes insurgiram-se contra o valor peticionado a
título de clausula penal, impugnando o alegado no art. 6.º do Requerimento
Executivo).
43. E ainda que assim não fosse, sempre se deverá entender que a redução
ao abrigo do referido normativo atua oficiosamente por se tratar de uma
norma de ordem pública, inspirada em fortes razões de ordem moral e
social, levando a que prevaleça sobre convenções privadas, conforme
sufragado por ANA PRATA, Cláusulas de Exclusão e Limitação da
Responsabilidade Contratual, Almedina, 1985, pág. 642.
44. Mas mesmo a corrente jurisprudencial que entende não poder a redução
equitativa da cláusula penal com fundamento no artigo 812º do CC ser
decretada oficiosamente pelo tribunal, considera que essa pretensão não
necessita de ser formulada expressamente e pode sê-lo apenas de forma
implícita, designadamente quando o devedor se insurja contra o montante da
pena – como aconteceu nos embargos de executado.
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