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Povo Preto, Pan-Africanismo e Poder Preto

Publicado por X · 17 de Novembro, 2018 · Diáspora Afrikana ·

Pan-Africanismo1

É um grande prazer voltar aos Estados Unidos em geral e em Atlanta em particular.


É bom ver rostos tão familiares, especialmente o do meu advogado, o Sr. Howard
Moore, que sempre ficou perto de mim, desde a primeira vez que o conheci, em
1961, eu acredito. Um advogado burguês, até então jovem, que renunciou ao
sucesso financeiro e se tornou um verdadeiro – e eu acho que Chico [Neblett] o
denomina corretamente – defensor do movimento preto, sempre que o chamamos.
E certamente é bom ter um homem da estatura de Howard Moore dentro da nossa
comunidade que está sempre disposto a ajudar.
(1) Muitas pessoas disseram que quando eu saí dos Estados Unidos, há
catorze meses, eu estava fugindo – diziam que eu estava com medo. Eu quero lidar
com alguns desses ataques que foram ditos sobre mim durante os últimos meses.
Eu não quero atacar nenhuma personalidade, porque nunca fiz isso; e eu aprendi
isso com o Dr. Martin Luther King. Não ataquei nenhum homem preto, apesar de
ter sido atacado por quase todos – aqueles à direita e aqueles que deveriam ser
revolucionários. O Dr. King nunca atacou nenhum homem preto, e por isso, eu tive
um grande respeito e admiração por ele – porque ele se importou com seu povo, e
ele sempre buscou nos unir, ao invés de nos dividir. Mas devo falar sobre algumas
das críticas, porque eu acho que é necessário para que possamos esclarecer em
nossas mentes.
Muitas críticas não foram a nível político, mas a nível pessoal. Isso significa
que meus críticos são incapazes de lidar com minha ideologia política e, portanto,
vão me atacar pessoalmente. Isso só mostra quão fraca é a posição política deles.
Stokely Carmichael não é Stokely Carmichael porque ele é Stokely Carmichael; ele é
Stokely Carmichael por causa da ideologia política que ele expressa, e é por isso
que as pessoas o escutam e prestam atenção nele. Então, se você está atacando
Stokely Carmichael, você deve atacar a ideologia política que ele expressa, e não
Stokely Carmichael a pessoa. Quando você começa a atacar a pessoa, você admite
que é incapaz de atacar a ideologia política dela. Quais foram os ataques? As
pessoas que disseram que eu tinha medo, infelizmente, eram pessoas que
acabaram de se tornar revolucionários – na semana passada, ou no ano passado...
Muitos daqueles que agora me chamam de medroso ignoram o fato de que, quando
eu estava no Mississipi, um jovem de dezenove anos, enfrentando armas e balas,
alguns deles estavam estuprando mulheres pretas e escrevendo cartas de amor
para garotas brancas – atos muito revolucionários, sem dúvida...
Quando Willie Risks (ex-organizador do SNCC e secretário de campo) e eu
clamávamos pelo Poder Preto no Mississipi, em 1966, eles nem sequer sabiam que
eram pretos.
Nessa mesma cidade, Atlanta, Geórgia (onde eu também tive alguns ataques
pesados porque eu supostamente estaria com medo), fui o primeiro homem preto
a ser preso pelo prefeito Ivan Allen por incitar a revolta. Meu defensor, então, foi

1
Pan-Africanism. Consta no livro ‘Stokely Fala: Do Poder Preto ao Pan-Africanismo’ o seguinte:
“Entregue no Morehouse College Gymnasium, Atlanta, Geórgia, abril de 1970. Patrocinado pelo
Instituto do Mundo Preto, com trechos do discurso no Federal City College adicionados ao corpo.
Washington, D.C., março de 1970.” O discurso foi dividido em 7 partes, visando torná-lo mais didático.
novamente o meu advogado, Sr. Moore. Naquela época, a maioria das pessoas
temia o conceito de Poder Preto. Obviamente, essas pessoas que dizem que tenho
medo não entendem a revolução. Eles pensam que a revolução é sobre gritar, e
gritar... Na verdade, eles acreditam que podem aparecer na televisão e berrar à sua
maneira sobre sair do problema em que nos encontramos. Eles não reconhecem
que, se alguém é verdadeiramente revolucionário, é preciso entender que é
necessário dedicar um tempo para estudar.
Como as teorias revolucionárias se baseiam na análise histórica, é preciso
estudar. É preciso entender a história de alguém e é preciso fazer a análise
histórica correta. No momento correto – você faz o seu salto histórico e lança para
a luta. Não só isso, você não pode atacar se você realmente não acredita no que
está dizendo ou se não conhece as respostas. Quatorze anos atrás, ficou claro para
mim que a Comunidade Preta estava indo para o caos político. Eu sabia que não
tinha as respostas, por isso não fazia sentido ficar aqui e continuar falando sobre o
que eu não conhecia. Por que eu deveria ficar aqui, para aparecer na televisão e
gritar um monte de asneiras? Isso só causaria confusão na minha comunidade. Eu
não queria fazer isso. A confusão é o maior inimigo da revolução.
Se você está falando vinte e quatro horas por dia em comícios, na televisão,
na imprensa – você não tem tempo para ler os jornais, e muito menos ler a sua
história. Você não pode ser revolucionário no topo da sua cabeça. Como você pode
fazer isso? – você está mentindo para o seu povo! Enganando eles. Eu pensei que o
melhor que eu poderia fazer se eu realmente me importasse com os interesses do
meu povo, era ir a algum lugar para estudar e tentar entender mais claramente as
forças da história. Portanto, a convite do presidente da Guiné, Sr. Ahmed Sékou
Touré, fui estudar sob o homem que considero o mais brilhante do mundo hoje –
Osagyefo, Dr. Kwame Nkrumah.
Muitas pessoas também me atacaram por meus fundos monetários. Eles
disseram: “Carmichael não trabalha, como ele está aqui e acolá?”. Se alguém sabe
alguma coisa sobre série de palestras, eles saberão que as pessoas que o convidam
sempre fornecem os fundos para o seu transporte. Então, sempre que eu sou
convidado a falar, o anfitrião fornece os fundos para esse transporte.
Também me sinto sob ataque por organizações que eu ajudei a construir.
Por exemplo: trabalhei com o Comitê de Coordenação dos Estudantes pela Não-
Violência2 desde o início. Ajudei a construir essa organização, eu dei minhas
2
Student Nonviolent Coordinating Committee, SNCC. O “snick” foi uma organização estudantil preta que
tinha como símbolo uma mão preta apertando uma mão branca – ou seja, a organização, de protagonismo
preto, tolerava a participação de brancos, como coadjuvantes – e a gente sabe quem recebe os créditos...
O que era comum até, vide a NAACP e SCLC – aliás, Ella Baker, diretora do SCLC, ajudou a formar o
SNCC. Por essa razão, muitos membros destas duas organizações tinham o SNCC como uma espécie de
“divisão juvenil” apenas – ainda que esses jovens a mantivessem de forma autônoma. Ao Kwame Ture
assumir a presidência, a primeira coisa que fez foi baixar um decreto que impedia a participação de
brancos na organização – o que, por um lado, afastou muitos membros integracionistas e não-violentos,
por outro fazendo aumentar a confiança de pretos não “qualificados”, vindos das massas. Ele foi demitido
da organização por isso; por isso, e por defender o uso da autodefesa (entenda-se, violência). Num tempo
onde o SNCC se limitava a “protestos sentados” – sit-in, forma de ação direta não-violenta que consistia
em sentar no chão, ocupar espaços públicos, lanchonetes etc. – a violência cairia “como uma luva”...
nisso, o jovem Stokely Carmichael (posteriormente, Kwame Ture) tava alinhado com Robert F. Williams,
outro dos precursores do movimento por Poder Preto. Lógico – e por fazer justiça ao SNCC – pode-se
dizer que muito do que o próprio Partido Panteras Pretas viria a fazer se baseou no trabalho de base do
SNCC, para não dizer que o Partido incorporou boa parte delas – programa de café da manhã (pois
ninguém aprende nada com fome!) e educação, assistência médica e jurídica etc. – quer dizer, na ausência
do “Estado”, lutar pela sobrevivência, prestando serviços básicos e essenciais, passaram a fazer parte da
habilidades. Essa organização me demitiu. Eu fui expulso da organização porque eu
supostamente tinha uma casa de US$ 70.000. Ninguém se preocupou em verificar
se o irmão que tinha trabalhado com eles tinha ou não a tal casa de US$ 70.000.
Eles apenas aceitaram a palavra do homem branco, e eles deveriam ser políticos.
Então, eles me expulsaram por ter uma casa de US$ 70.000. Ainda estou à espera
da minha casa. Mas não perdi tempo respondendo a essas acusações porque eles
não estavam envolvidos em uma batalha pessoal com Stokely Carmichael, mas sim
política. Eu representava uma ideologia política, tivesse eu uma casa de US$ 7.000,
uma casa de US$ 70.000 ou uma casa de US$270.000. Esse não foi o problema. A
questão era a ideologia política de Stokely Carmichael. Eu não quero continuar
estressando sobre isso, porque nos anos que estão à nossa frente haverá mais
ataques às personalidades, e não devemos ficar atolados nesses ataques. Devemos
sempre perguntar o que é o ataque à sua ideologia política. O SNCC me atacou, mas
nunca os ataquei. Nunca vou atacar nenhum homem preto. Isso está causando
divisões dentro da nossa comunidade, e se eles se preocupassem com a nossa
comunidade, eles tentariam criar unidade, ao invés de divisão. Neste período de
nossa luta, a unidade é primordial.
Em 1965, organizei o primeiro Partido Panteras Pretas neste país, em
Lowndes County, Alabama.3 Foi um partido organizado em torno de uma
plataforma política independente preta e com armas. Quando eu fui para a
Califórnia em 1966, Huey P. Newton e Bobby Seale vieram até mim e me
perguntaram se podiam organizar um Partido Panteras Pretas na área da Baía.
Concordei com isso. Saí do país e fui viajar. Quando voltei ao país, Huey P. Newton
já tinha sido baleado e preso. Eu tinha ouvido falar sobre isso quando estava na
Tanzânia. Tivemos uma manifestação na Tanzânia para Huey, porque sempre
fiquei impressionado com o Ministro da Defesa do Partido Panteras Pretas e
sempre tive um grande respeito por ele. Quando ele estava na prisão, Eldridge
Cleaver e Bobby Seale vieram até mim e me perguntaram se eu os ajudaria a obter
uma publicidade para Huey, porque eles me disseram que nenhum outro homem
preto no país ajudaria, eu respondi, é claro – sem dúvidas. Expliquei-lhes que
tínhamos ideologias políticas diferentes e estávamos indo em direções diferentes,
mas por causa do meu amor por Huey P. Newton, eu trabalharia com eles.
Entramos em acordo dizendo que eu me tornaria o Primeiro-Ministro Honorário, o
que significa que eu falaria pelo Partido, mas não teria nada a ver com o
funcionamento do Partido.
Eu aceitei isso. Eu estava preocupado com Huey P. Newton. Eu senti que
precisávamos de todos os guerreiros nobres que poderíamos ter aqui educando as
massas de nosso povo, ao invés de sentados na prisão. Os Panteras e eu, é claro,
começamos a seguir por caminhos diferentes em nossa filosofia política. Voltei
para Washington, D.C., e organizei a Frente Preta Unida. Os Panteras foram em uma
direção diferente.

agenda do dia do Partido, sobretudo nas comunidades mais empobrecidas. No fim das contas, o Partido
incorporou o próprio SNCC, parece que inclusive algumas de suas posturas...
3
Em ‘Poder e Racismo’, Kwame Ture relata: “Quando a Organização da Liberdade do Condado de
Lowndes escolheu a pantera preta como seu símbolo, foi batizada pela imprensa ‘O Partido Panteras
Pretas’ – mas o Partido Democrata do Alabama, cujo símbolo é um galo, nunca foi chamado de ‘Partido
Galos Brancos’.” A mídia local passou a chamar o Partido por ‘Panteras Pretas’ acreditando que isso
poderia distorcer a imagem do partido, mas surtiu efeito em contrário. Ademais, é importante frisar que
Stokely Carmichael via na participação política uma forma para organizar os pretos, nada além disso.
As contradições começaram a crescer cada vez mais e, portanto, senti que
precisávamos separar as forças. Eu simplesmente escrevi uma carta renunciando
ao Partido Panteras Pretas. Nunca os ataquei. No entanto, antes e depois da minha
demissão, eles me atacaram toda vez que tiveram uma chance. Esse é o desejo
deles. Eles podem fazer isso enquanto quiserem.
Eu nunca vou atacar o Partido Panteras Pretas. Eu vou atacar os conceitos
políticos que eu acho que estão prejudicando o nosso povo, e quando eu fizer isso,
darei o meu conceito político afirmativo. Atualmente, na nossa comunidade, temos
pessoas que não têm outro programa além de atacar os programas de outras
pessoas. Essa não é a maneira de se construir uma revolução. Temos muitas
organizações em nossa comunidade, temos a República da Nova Áfrika.4 Nós temos
os muçulmanos.5 Nós temos a NAACP.6 Nós temos a Liga Urbana.7 Nós temos o
SCLC.8 Nós temos os Panteras. Essas organizações devem comparecer perante as
massas e declarar afirmativamente qual é o seu programa, e então deixar as
massas decidirem sobre qual filosofia política elas querem seguir, ou seja, ver
quem está realmente preocupado em organizar o seu povo. Pelo menos isso é o
que eu sinto. Eu lhes digo essa história, porque eu acho importante que vocês
conheçam e compreendam. O que eu lhes disse é a verdade. Está documentado no
livro ‘Escritos Pós-Prisão e Discursos’9, de Eldridge Cleaver; então, vocês devem
obter essa documentação e ler por vocês mesmos.
Muitas pessoas disseram que eu era um covarde. Eles disseram que eu corri.
Quando voltei, disseram que eu era um agente da CIA. Muitos disseram que eu
estava no “autoexílio”. Obviamente, isso é um absurdo incoerente. Como eu
poderiam estar no exílio, quando estou em casa, na África, de onde eu vim – e
quando eu a deixei por minha própria vontade?

(2) Todas as revoluções são baseadas em análises históricas. Karl Marx


baseia seu estudo científico sobre as forças econômicas em uma sociedade
industrializada pelo materialismo histórico. Ele diz – e ele está certo – que se deve
entender as formas materialistas históricas na sociedade, e isso significa um
estudo completo dessas forças e uma análise correta. Malcolm X, em ‘Malcolm X
Fala’10, no ensaio ‘Mensagem para as bases’, diz que, de todos os estudos, o
histórico nos recompensa melhor. Então, o Irmão Malcolm X reconheceu essa

4
A Republic of New Afrika foi uma comunidade Nacionalista Preta e também grupo político que se
estabeleceu em Detroit, Michigan, Estados Unidos, em março de 1968, para defender a criação de um
estado soberano para os pretos no sudeste dos Estados Unidos; uma reparação ao Povo Preto, devido à
escravidão e um referendo para que os pretos pudessem decidir sobre os seus próprios destinos.
5
O irmão se refere à Nation of Islam (NOI), que é a de maior estatura. Surgiram também, no decorrer do
século 20, outras organizações que partiram do islamismo, a saber: Moorish Science Temple of America,
Nuwaubian Nation, Nation of Gods and Earths (The Five-Percents Nation).
6
A National Associassion of Advancement Colored People é uma instituição que se diz a favor dos
direitos civis dos pretos nos Estados Unidos. Foi fundada em 12 de fevereiro de 1909 por um grupo de
ativistas e intelectuais pretos e liberais e judeus brancos.
7
A Urban League é uma organização de direitos civis não-partidária, com sede em Nova Iorque, que
defende o Povo Preto, nos EUA, contra a discriminação racial. É a mais antiga organização comunitária
desse tipo no país, tendo sido fundada em 1910.
8
A Southern Christian Leadership Conference, SCLC, foi uma organização preta não governamental
estadunidense focada nas questões que envolviam os direitos civis dos afro-americanos. A SCLC foi
fundada em 1957 por Martin Luther King Jr., e teve grande atuação no Movimento pelos Direitos Civis,
durante as décadas de 1950 e 1960.
9
‘Post-Prison Writingsand Speeches’, 1969.
10
‘Malcolm X Speaks’, 1965.
necessidade da história. Eu falo ante o Instituto do Mundo Preto, um fórum que
está tentando combinar todos os estudos do Mundo Preto e, de acordo com ele, faz
seu ponto focal os escritos e a pesquisa do falecido Dr. Martin Luther King Jr. Acho
que a maioria de nós concordaria com isso. Podemos ter alguma dúvida sobre se os
trabalhos do Dr. King devem ou não ser o ponto focal do Instituto do Mundo Preto,
mas nenhum de nós perguntaria sobre o fato de que seus trabalhos certamente
devem ser incluídos, pois ele contribuiu com uma fantástica quantidade de
conhecimento, tempo e energia para o nosso movimento. O que não devemos
permitir, só porque ele se torna o ponto focal, é uma má interpretação da história.
Eu vi, por exemplo, o filme do Dr. Martin Luther King há algumas semanas atrás,
assim que entrei no país, e fiquei muito espantado ao ver que eles deixaram de
lado toda a marcha do Poder Preto no Mississipi! Eu não sei quem são as pessoas
que fizeram o filme, mas preciso informa-los de que não podem mexer com as
forças da história. Eles podem tentar dizer o que eles querem, mas o fato é que a
Marcha do Poder Preto no Mississipi foi um fator importante na vida dos pretos
neste país e deixar isso de fora é tentar mexer com as forças da história, vocês
serão esmagados pelas forças da história. Então, isso é um fato. Não podemos
permitir que eles pintem o Dr. King no que ele não era.
Martin Luther King nos ensinou muitas coisas. Devemos entender o que ele
nos ensinou e aceitá-lo. Ele nos ensinou a confrontar. Dr. King fez – não o Partido
Panteras Pretas, nem Malcolm X; o Dr. Martin Luther King fez. Sua tática era a não-
violência, mas ele nos ensinou a confrontar, e ele confrontou. Agradecemos por
isso. E ele nos ensinou a mobilizar as massas.
O Dr. King, no entanto, não era um político astuto – ele era um homem do
púlpito. Por exemplo, o Dr. King nunca assumiu uma posição política contra a
guerra no Vietnã, ele sempre assumiu uma posição moral contra a guerra. Não há
nada de errado com isso. Como ministro, ele tem o direito de fazer isso. Mas a
maioria de nós sempre adotou posições políticas contra a guerra no Vietnã. Dr.
King não foi o primeiro homem preto a ser contra a guerra no Vietnã neste país,
nem a SCLC foi a primeira organização. Comitê de Coordenação de Estudantes pela
Não-violência foi a primeira organização a nível nacional a fazer isso. É importante
para nós documentar nossa história, e documentá-la corretamente, porque
novamente é da nossa história que fazemos nossa análise e entendemos os
processos revolucionários.
Existem etapas no movimento de libertação. A primeira etapa é acordar
nosso povo. Temos que despertá-los para o perigo iminente. Então, nós gritamos
“Armar! Atirar! Queimar! Matar! Destruir! Eles estão cometendo genocídio!” – até
que as massas do nosso povo estejam acordadas. Uma vez que estão acordados, é
tarefa da intelectualidade revolucionária dar-lhes a ideologia política correta. Não
temos isso neste país – o que temos neste país é uma atitude, não uma ideologia; a
atitude, a ideia de confronto foi iniciada em nossa geração pelo Dr. King. E ele foi o
primeiro. Você não deve derrubá-lo por pregar a não-violência. Naquela época, as
condições históricas só permitiam manifestações não-violentas. O Dr. King
começou; ser não-violento era a única possibilidade. Todos vocês que condenam o
Dr. King hoje – vocês não começaram a falar de luta armada até 1966, 1967, 1968,
1969 ou na semana passada! Como o Dr. King poderia falar sobre violência?
Quando eu era estudante, quase fomos expulsos da escola por termos levado
Malcolm X para falar lá, pois achávamos que ele tinha algo a dizer. Malcolm X não
podia falar em muitas instituições pretas... Quando ele falou, foi atacado por todos,
ele foi chamado de louco, de irresponsável, de estúpido, disso ou daquilo – e as
mentalidades das pessoas pretas neste país eram tão embranquecidas que
acreditaram! Isso é história. Se as mentes das pessoas estivessem alertas quando o
Irmão Malcolm X foi eliminado – o mesmo que aconteceu antes, aconteceu depois,
quando Martin Luther King foi, do mesmo modo, eliminado. Vocês devem ver o
desenvolvimento das condições históricas: o Dr. King pregou a não-violência;
Malcolm X disse que, sim, precisamos de armas para nos proteger. Malcolm X
morreu, não fizemos nada; o Dr. King morreu – nós destruímos o país! É um
desenvolvimento histórico das pessoas, do povo. O Dr. King trabalhou com o que
ele teve, e ele nos deu confronto. Nós tomamos esse confronto e trabalhamos com
ele, e nós trabalhamos com ele e nós o desenvolvemos em luta armada ou, pelo
menos, até o ponto em que podemos falar sobre a luta armada.
Agora, todo o Mundo Preto, desde a África do Sul até a Nova Escócia, está
em caos político apenas porque não possui uma ideologia. Se não se tem uma
ideologia, não se tem disciplina. Esse tem sido o problema da Comunidade Preta.
Os muçulmanos, por exemplo, têm disciplina. Eles têm disciplina porque têm a
mesma ideologia. Na igreja cristã, você tem disciplina. Você tem uma estrutura.
Para que o Povo Preto se unisse, deveríamos encontrar uma ideologia em comum.
Por tratar-se de buscar esta ideologia em comum é que eu venho até vocês esta
noite. Uma ideologia é meramente uma força coesa, um conjunto de princípios, um
conjunto de crenças que nos dizem para onde estamos indo, quais os nossos
objetivos e o que esperamos conseguir. Abaixo disso, virá a tática que nos dará a
melhor forma de atingir esses objetivos. Se eu dissesse que todos nós decidimos
que queríamos ir daqui para o centro de Atlanta, essa seria a nossa ideologia – esse
é nosso objetivo. Podemos discutir a melhor maneira de chegar lá, mas temos a
mesma ideologia – onde queremos ir. Queremos ir ao centro de Atlanta. O
problema na Comunidade Preta hoje é que sempre há argumentos sobre táticas –
porque não há ideologia.11 Então, você tem pessoas que estão discutindo sobre
como ir, mas elas não sabem para onde estão indo. É por isso que encontramos
tanta confusão entre os sindicatos de estudantes pretos e os grupos do campus da
faculdade preta. Eles estão discutindo sobre táticas. Eles estão discutindo sobre
como ir, mas eles não decidiram onde eles querem ir. Antes de decidir onde quer ir
– antes de encontrar sua ideologia – você deve analisar quais são seus problemas.

(3) A Comunidade Preta enfrenta hoje dois problemas: o capitalismo e o


racismo. Algumas pessoas em nossa comunidade dizem que se você eliminar o
capitalismo, você eliminará automaticamente o racismo. Eu digo que isso não é
verdade. Embora12 eu concorde que o capitalismo reforça o racismo e o racismo

11
É lógico que o irmão se referia àquele contexto – eis algumas de nossas ideologias ao longo da história,
em sendo todas elas, consciente ou inconscientemente interconectadas: Nacionalismo Preto; Garveyismo;
Pan-Africanismo (via Nkrumahismo, Toureismo, Sankarismo etc.); Black Power; Consciência Preta;
Quilombismo etc.. Em termos de movimento “de massa” ou “popular” (de lógica comunal/comunitária),
o Garveyismo (Fundamentalismo Africano) – combinando elementos de ideologias anteriores como o
Nacionalismo Preto, e contemporâneas, como o Pan-Africanismo, para o qual contribuiu em muito –
vindo a influenciar decisivamente as lutas por libertação na África (assim como no desenvolvimento
mesmo do movimento Black Power, Consciência Preta, Quilombismo etc.) – com forte grau de certeza,
foi o mais bem sucedido; Garveyismo, Família!
12
No que Kwame Ture viria a divergir com a linha do Partido, é algo que diz respeito à tática a ser
adotada para superar tal estado de coisas. Huey Newton até concordava que o socialismo poderia, sim,
reproduzir o racismo, mas ele acreditava que, sob um sistema socialista, pelo menos as condições para
superar o racismo seriam (em tese) mais favoráveis. Kwame Ture, de outro lado, para além desta questão,
reforça o capitalismo, é absurdo dizer que, se nos livrarmos do capitalismo, nos
livraríamos automaticamente do racismo. Existem muitas sociedades chamadas
comunistas e socialistas no mundo de hoje que são desenfreadas com o racismo. Eu
não discuto sobre o que veio primeiro – se o capitalismo produziu o racismo ou
vice-versa –, mas eu digo que o racismo, hoje, mesmo que seja produzido pelo
capitalismo, assumiu tais proporções, tais instituições que se tornou um elemento
próprio de si mesmo e deve ser tratado como uma entidade separada.
Ao discutir o capitalismo e o racismo, quero oferecer uma análise marxista
desta sociedade. Quero dizer que não sou um marxista-leninista13, mas
compreendo Karl Marx melhor do que muitas pessoas que se dizem marxista-
leninistas. Ele não tratou da questão de raça; e, no século 20, vemos que a raça não
só se tornou um fenômeno com as proporções de uma estrutura de classe, mas em
muitos casos ela própria se tornou uma entidade e uma classe em si mesma. Deixe-
me explicar isso.. Muita gente neste país está falando sobre “capitalismo preto” e
“capitalista preto”. Aqueles que estão fazendo isso, não entenderam o capitalismo.
Karl Marx define o capitalismo. Ele diz que um capitalista é alguém que possui e
controla os meios de produção. Ele está absolutamente correto. Não há outra
definição para um capitalista. Há pessoas que servem os interesses do capitalismo.
Lenin os chama de “lacaios do capitalismo”; Mao Tse-tung os chama “cães
renegados do capitalismo”. Existem potenciais capitalistas, há aspirantes a
capitalistas, mas o único capitalista é alguém que realmente possui e controla os
meios de produção. Se você entender esta definição de acordo com Marx, então,
você saberá que não há tal capitalista preto em qualquer lugar do mundo de hoje.
Agora, se entendermos isso, podemos esclarecer muitos dos mal-entendidos
que foram disseminados em nossa comunidade. É preciso sempre estudar. Marx
diz que os capitalistas são a morte, e que não há esperança para o capitalista. De
acordo com Marx, eles devem ser mortos. Ele diz que seu motivo subjacente é o
lucro. Eles farão qualquer coisa para fins lucrativos, então você nunca poderá detê-
los ou obter quaisquer concessões deles; eles devem ser mortos. Se você entender
isso, então você sabe que todos os capitalistas do mundo hoje são brancos. De

ressaltava a importância da integridade cultural – por isso mesmo ele está a todo tempo reforçando que
não é marxista – às vezes, citando Ibn Khaldun para dizer que este autor já tratava de temas pelos quais
Marx seria canonizado – noutras, dizendo que o comunismo durou mais na África do que em qualquer
outro continente, logo esses valores já estão lá e facilitam um sistema socialista – nesse sentido, nos
instigando a pensar para além de definições pré-estabelecidas – é clássica aquela sua frase, “Socialismo e
capitalismo não têm nada a ver com Europa, assim como ar e água não têm – ou você pensa que eles
também inventaram ambos, ar e água?” Divergências teóricas à parte, o importante é saber que o ponto
de convergência dos irmãos era dado pela compreensão de que a Comunidade Preta vivia numa condição
colonial, o entendimento basilar de que nos encontramo na situação de Africano-americanos colonizados.
13
E não é por força de expressão ou figura de linguagem que o irmão afirma isso – visto que foi o próprio
Kwame Ture (à época, Stokely Carmichael) quem sugeriu que Carlos Moore reunisse e publicasse seu
ensaio sobre o marxismo e a questão racial – em nota do prefácio para a edição da Nandyala, 2010:
“Moore aceitou publicar o ensaio antecipadamente – em 1972 – porque Stokely Carmichael percebeu a
importância de o texto ser publicado e o convenceu a fazê-lo. Temos aqui mais uma daquelas situações na
qual uma decisão individual pode interferir decisivamente no curso dos acontecimentos históricos, pois,
em 1989, todo o trabalho e pesquisa realizada por Moore sobre este assunto (quando este estava exilado
na ilha da Guadalupe), foi destruída na passagem do furacão Hugo, que danificou sua casa. Se, naquele
momento, Carmichael não o tivesse convencido a publicar seu trabalho, hoje não teríamos este valioso
texto crítico. (Entrevista com Carlos Moore, novembro de 2009).” Hoje esta obra (Marxismo e a questão
racial – Karl Marx e Friedrich Engels frente ao racismo e à escravidão) – é uma das principais referências
teóricas para superarmos o racismo inerente à ideologia marxista e seguirmos em frente, definindo por
nós mesmos os termos da nossa libertação.
acordo com Karl Marx – não de acordo com Stokely Carmichael, mas de acordo
com Karl Marx.
Abaixo do capitalista você tem a burguesia. Estas são as pessoas que servem
aos interesses do capitalismo. Por exemplo, os proprietários das corporações são
capitalistas. O homem que possui e controla a General Motors – é um capitalista.
Mas o diretor gerencial não é capitalista. Ele é um lacaio do capitalismo. Ele é um
membro da burguesia. Nós temos os lacaios brancos do capitalismo e nós temos os
lacaios pretos do capitalismo – mas esses dois grupos são incapazes de se juntar
por causa da questão da raça. Estas não são as massas desgovernadas. Os
capitalistas precisam fazer com que estes dois grupos se juntem porque, de acordo
com Marx, é o aliado natural do capitalista – os lacaios brancos e os lacaios pretos
têm que se juntar porque são esses que vão lutar por ele. No entanto, os
capitalistas neste país são incapazes de reuni-los, novamente por causa da questão
da raça. De acordo com Karl Marx, os lacaios brancos do capitalismo e os lacaios
pretos do capitalismo devem se unir porque é o interesse de classe que liga essas
pessoas e, como eles têm o mesmo interesse de classe, eles devem se unir – mas
não na causa da raça.
Na parte inferior da análise de Marx, é claro, você tem o proletariado
urbano, os trabalhadores, os camponeses, os operários, os sem-terra – as massas
desgovernadas. De acordo com Marx são estas pessoas que vão liderar a inevitável
luta-de-classes. Vimos que os brancos pobres e pretos pobres são incapazes de se
unirem neste país – ou quando eles se juntam, vemos que é o homem branco que
se beneficia, e tendo ganho o que quer, ele se volta contra o homem preto. Vimos
isso várias vezes. Todas as coalizões dos dois grupos sempre funcionaram na
desvantagem do homem preto. Vamos ver todas as coalizões entre grupos brancos
e grupos pretos historicamente neste país. Ocorreram várias. Podemos voltar ao
movimento populista na Geórgia e Tom Watson14 imediatamente após a Guerra
Civil. Vocês lembram do Movimento Populista? Tom Watson – ele veio até as
pessoas pretas, pediu-lhes que se juntassem a ele para lutar contra os capitalistas
brancos que os espoliavam. O homem preto se juntou a ele, e depois que o Sr.
Watson obteve o poder político, ele se virou contra o homem preto e defendeu o
linchamento. Isso é história. Devemos lembrar o Irmão Malcolm dizendo-nos que
devemos estudar a história.
Nós podemos avançar ainda mais e documentar a história do movimento
trabalhista neste país na década de 1930. Os trabalhadores brancos entraram na
Comunidade Preta mais uma vez, pedindo-nos para nos juntarem a eles e
travarmos a batalha, e nós fizemos isso – e hoje não podemos nem entrar nos
sindicatos deste país! Eu sei que vocês estão cientes desses movimentos, porque
vocês leram o ‘Poder Preto’ de Carmichael e Hamilton.15
Recentemente, tivemos a coalizão do Partido Panteras Pretas e do Partido
da Paz e Liberdade.16 Isso deve ser analisado em duas áreas – raça e classe. Marx
diz que a burguesia sempre se unirá para lutar pelos interesses do capitalismo.
Mas ele diz que existem indivíduos dentro da burguesia que trairão interesses de
14
Thomas Watson (1856-1922) foi um branco político, advogado, editor de jornal e escritor da Geórgia.
Na década de 1890, Watson “defendeu” agricultores pobres como líder do Partido Populista, articulando
um ponto de vista político agrário enquanto atacava negócios, banqueiros, ferrovias e o presidente
democrata Grover Cleveland e o Partido Democrata.
15
Livro disponibilizado em formato pdf, ao final deste doc.
16
Party of Peace and Liberty, PPL. Partido político americano branco de esquerda, fundado entre os anos
1996 e 1998, que tinha como plataforma a defesa das minorias e o combate à Guerra do Vietnã.
classe, e se juntarão às massas, e lutarão com as massas. Temos exemplos claros
disso. Fidel Castro era membro da aristocracia em Cuba; ele traiu seus interesses
de classe, se juntou às massas e liderou uma revolução bem-sucedida. Mao Tse-
tung era um estudante universitário em ascensão na China; ele traiu seus
interesses de classe e liderou uma revolução bem-sucedida. Então, Marx diz que
existem indivíduos nesta classe que vão trair seus interesses de classe17, e se juntar
a nós, e lutar. Mas Marx diz que não podemos esperar que todos se juntem a nós
porque, como classe, representam os interesses econômicos dos capitalistas; são
os lacaios do capitalismo. Vemos o Partido Panteras Pretas, que supostamente
existe para representar a massa proletária, a classe que é economicamente frágil;
eles formam uma aliança com o Partido da Paz e Liberdade, que representa a
burguesia, economicamente segura. É totalmente não-marxista aliar o
economicamente seguro numa coalizão com os economicamente frágeis, porque o
economicamente seguro não vai lutar. “Trabalhadores do mundo, uni-vos! Vocês
não têm nada a perder, senão as suas correntes”.18 É exatamente sobre o que Marx
estava falando: somente aqueles que não têm nada a perder vão lutar. Isso vai ser
comprovado se analisarmos a situação também em um contexto racial. O Partido
da Paz e Liberdade fez uma aliança com o Partido Panteras Pretas. Hoje – nós
vemos 28 membros do Partido Panteras Pretas mortos. Não há um membro morto
do Partido da Paz e Liberdade – um sequer! Nós vemos os Sete de Chicago19 após o
fiasco terem permissão de fumar na televisão e ainda livres – mas Bobby Seale está
lá, sentado na prisão. Uma análise clara mais uma vez nos mostrará – que sempre
que essas coalizões são feitas –, é o homem preto que fica na parte inferior da
escada.20
Muitas pessoas são levadas a pensar que os hippies, os yippies e o radicais
brancos são revolucionários. Eles não são. O que eles se envolveram em Chicago foi
o que Lenin chamou de “desordem infantil”. E é exatamente o que isso é. Este país,
todos concordamos, está se movendo em direção ao fascismo. Quando um país se
move em direção ao fascismo, o direito mais importante das pessoas, é o direito de
manifestar-se. As pessoas em Chicago foram presas por causa do direito à
manifestação. Mas ao invés de continuar a argumentar sobre o seu direito de
manifestar-se, eles se concentraram em roupas sem sentido, xingando um juiz,
rindo e todas essas bobagens teatrais, um teatro do absurdo. Ninguém falou sobre
o direito de manifestação, mas eles falaram nos tribunais. E o que aconteceu? Eles
deram, nos tribunais, uma desculpa para que se tornassem mais fascistas. A partir
de suas palhaçadas vieram três decisões dos tribunais: primeiro, o réu pode ser

17
Suicídio de classe.
18
Assim se inicia o Manifesto do Partido Comunista, tornado público por Marx e Engels em 1848.
19
Chicago Seven, Chicago Eight ou Conspiracy Seven/Eight, trata-se de sete réus brancos – a saber,
Abbie Hoffman, Jerry Rubin, David Dellinger, Tom Hayden, Rennie Davis, John Froines e Lee Weiner –
denunciados pelo governo americano por conspiração, incitação de tumulto e outas acusações
relacionadas a protestos contra a Guerra do Vietnã e protestos contraculturais que ocorreram em Chicago,
Illinois, em 1969. Bobby Seale, o oitavo homem acusado, teve o seu julgamento separado durante o
processo, reduzindo o número de réus de oito para sete; ele foi sentenciado a quatro anos de prisão.
20
Prova cabal de que essa maturidade política de Kwame Ture estava cristalizada já a algum tempo está
documentada no ‘Discurso em Berkeley’, de 1966 (‘Stokely Fala: Do Poder Preto ao Pan-Africanismo’).
Falando aos alunos pretos daquela instituição, o irmão já punha na mesa essa questão: “Liberais brancos
são economicamente seguros. Vocês podem começar a construir uma coalizão econômica? Os liberais
estão dispostos a partilhar os seus salários com os pretos economicamente inseguros que eles tanto
amam? Então, se vocês não estão, vocês estariam dispostos a começar a construir novas instituições que
fornecerão segurança econômica para os pretos? Essa é a pergunta que queremos responder.”
amordaçado e amarrado;21 segundo, ele pode ser mantido na prisão até concordar
em ficar quieto; e em terceiro lugar, eles podem realizar julgamentos em circuito
fechado de televisão; e agora, os 21 Panteras22 devem enfrentar os resultados
dessa decisão fascista. Portanto, antes de falar sobre alianças, devemos construir
nossa base de poder para que possamos ser fortes o suficiente para alcançar os
ganhos que queremos e não dependermos de ninguém além de nós mesmos. A
primeira lei da revolução é a Lei da Autossuficiência.
Algumas pessoas veem a luta em nossas mãos e elas ficam tão assustadas
que começam a ir às pessoas brancas para se aliarem. Eles dizem: “Precisamos de
aliados, não podemos fazer por nós mesmos” – elas não são revolucionárias.
Porque um revolucionário é autossuficiente! Depende de si mesmo primeiro,
principalmente e definitivamente. Se ele recebe ajuda de um país amigável, pode
aceita-las, mas se ele é dependente da ajuda desse país, ele aceita a ideologia e/ou
o conselho da nação que lhe deu a ajuda.
Hoje precisamos de uma compreensão clara para onde estamos indo. Já não
é necessário que os irmãos gritem sobre armas e o que vamos fazer. Para ser
revolucionário, é preciso pegar em armas, mas meramente pegar a arma não te faz
um revolucionário. E devemos entender isso com muito cuidado. Há muitos irmãos
com armas. Alguns estão atirando em nós! Isso não é revolucionário! Apenas
porque se tem uma arma nas mãos – não te faz uma pessoa revolucionária. O que
torna um revolucionário não é ter a arma, mas a ideologia política que deve falar
das necessidades e aspirações das massas do nosso povo. Depois de ter isso, mais a
arma, então se tem um revolucionário, porque os revolucionários sempre lutam
em dois níveis: o político e o militar.
Eu quero voltar para Malcolm X por um minuto, no mesmo ‘Mensagem para
as bases’ – o Irmão Malcolm disse que, em última análise, todas as revoluções são
travadas sobre a questão da terra. Ele dá o exemplo da Revolução Chinesa, da
Revolução Argelina e do Movimento Mau-Mau do Quênia. E uma e outra vez, ao
longo de ‘Mensagem...’, o Irmão Malcolm continua dizendo que, em última análise, a
revolução é travada pela questão da terra. O Irmão Malcolm não foi o único a dizer
isso. Mao Tse-tung disse isso. Ho Chi Minh disse isso. Fidel Castro disse isso. V.I.
Lenin disse isso. Osagyefo disse isso. E Stokely Carmichael, tão humilde quanto eu
sou, também digo isso.
Eldridge Cleaver cita Marx em seu último panfleto, ‘Revolução e Educação’.
Ele diz que, se estamos lutando, devemos controlar a terra porque é sobre a terra
que construímos a superestrutura. A ‘superestrutura’ é um termo marxista, mas sei
que todos vocês lidaram pelo menos com Marx e, então, você sabe o que é a
superestrutura. Você lê o artigo dos Panteras, eles mencionam essa palavra o
tempo todo. A superestrutura é meramente o sistema interligado que se possui – o
21
Foi o que aconteceu com Bobby Seale durante seu julgamento no caso dos Chicago Eight – foi quando
despontou a figura de Fred Hampton, uma liderança jovem, um irmão muito inteligente que, prevendo um
possível desmantelamento do Partido, buscou fazer coalizões com diversos setores minoritários, como o
movimento LGBT da época, as gangues de mexicanos etc.... Fred Hampton iniciou seu discurso dizendo
“Eu apenas quero dizer a vocês que o presidente do Partido Panteras Pretas será desamordaçado e eles
terão que tirar aquelas correntes dele.” – talvez uma das primeiras alusões à escravidão moderna, que
tomou forma no encarceramento em massa, o que nos lembra o documentário ‘13ª Emenda’... E uma vez
que Bobby Seale foi o único condenado – no caso dos “Sete” acusados, todas as condenações foram
revertidas, nenhum réu branco cumprindo pena – o nome do caso devia ter sido Oakland One...
22
Os 21 Panteras foi um grupo de vinte e um membros do Partido Panteras Pretas que foram presos e
acusados de planejar e coordenar uma série de bombardeios e ataques com rifles de longo alcance em
duas estações de polícia e um escritório de educação, na cidade de Nova Iorque, em janeiro de 1969.
sistema político, econômico e social. Mas a superestrutura é sempre baseada na
terra. A revolução deve ser sobre a terra. É da terra que recebemos tudo o que
precisamos para a sobrevivência, é da terra que recebemos a nossa comida e os
animais de onde tiramos a carne. É da terra que obtemos os recursos minerais
necessários para o desenvolvimento de uma sociedade tecnológica. Então, se
estamos falando de revolução, estamos falando da terra. O irmão está
absolutamente correto, muitas pessoas dizem que seguem o Irmão Malcolm X. Eles
apenas o citam, e citam incorretamente. Mas é tempo de sentar, estudar e
compreender as coisas que o Irmão Malcolm X estava falando.
Mao Tse-tung diz que a política é a guerra sem derramamento de sangue. A
guerra é política com derramamento de sangue. Lembre-se do que Malcolm X
disse: “Em última análise, toda revolução é travada pela questão da terra” . Se
entendermos isso, então reconhecemos a necessidade de uma base de terra. Vemos
agora que temos os três ingredientes necessários se quisermos falar sobre
ideologia – devemos falar sobre o problema da classe, contra o capitalismo;
devemos falar sobre o problema de raça, contra o racismo; e devemos falar sobre o
problema da terra.

(4) Se voltarmos à nossa história, notaremos que os grupos que obtém


maior sucesso em nossa comunidade – são os grupos que lidam com a questão da
terra, da classe e da raça. O Honorável Marcus Garvey se organizou em torno do
conceito de terra em 1922 – ‘De Volta à África’. Marcus Garvey teve a maior
organização neste país e entre os pretos. Nenhuma outra organização passada ou
presente conseguiu atingir a do Honorável Marcus Garvey, simplesmente porque
ele lidou com a questão da raça e com a questão da classe. Se conhecesse o Irmão
Malcolm X, saberia que sua ideologia básica era o Garveyismo. Seu pai era um
Garveyista. Sempre devemos entender a nossa história, porque veremos como ela
se movimenta – de Garvey ao pai de Malcolm, para Malcolm, em linha. A segunda
maior organização que tivemos, a maior da nossa comunidade hoje, são os
muçulmanos, novamente, porque estão tentando lidar com a questão da terra, da
raça e da classe. Qualquer organização que se autodenomina uma organização
revolucionária deve lidar com a questão da terra.
Quero falar sobre as colônias europeias porque, novamente, estamos
lidando com a terra. Uma colônia é uma área de terra – onde o europeu sai da
Europa, chegou a essa região e assumiu a terra e dominou os seus proprietários
tradicionais. Minha esposa é da África do Sul.23 A África do Sul é uma colônia. A
Rodésia – que é realmente chamada de Zimbábue –, é uma colônia. Os europeus
mudaram o nome do Zimbábue para a Rodésia, mudaram de nome, para parecer
que são pertencentes de lá; porque se eles dizem que são rodesianos, e eles vêm da
Rodésia, você nunca questiona isso, e parece que eles são proprietários
tradicionais dessa terra. Vocês devem entender o truque. O objetivo dos colonos é
fazer da colônia uma extensão do seu país original. Moçambique é uma colônia de
colonos. Angola é uma colônia de colonos. A Guiné Portuguesa é uma colônia
instalada. A Austrália é uma colônia de colonos. Os judeus europeus deixam a
Europa, vão pra Palestina, mudam o nome para Israel, expulsam os habitantes
originais, os árabes palestinos, e dominam a terra.

23
Zenzile Miriam Makeba (1932-2008) foi uma cantora sul-africana, conhecida como Mama África, que
se tornou uma grande ativista pelos direitos dos pretos e contra o apartheid na sua terra natal.
Mas, meus irmãos e irmãs, o mais importante pra você e pra mim – devemos
entender que a América e o Canadá são colônias! Você foi embranquecido para
acreditar que havia uma coisa chamada “Revolução Americana”. Nunca houve,
eram apenas filhos que lutavam com seus pais para ver quem levaria o saque.
George Washington nasceu na Inglaterra! – ele estava lutando para controlar esse
pedaço de terra. Ele não estava lutando em uma luta revolucionária. A revolução
derruba o sistema, destrói, é sangrenta, não reconhece nenhum compromisso. Qual
sistema eles derrubaram? Nenhum. Eles tinham escravos, e eles estavam levando
esta terra do homem vermelho. Qual sistema?! Eles fizeram a mesma coisa onde
eles chamam de Rodésia, quando eles se separaram da Inglaterra, em novembro de
1965. A única diferença é que os rodesianos não podiam pagar a luta armada – hoje
a consciência política das massas é despertada; mas eles puderam pagar isso em
1776 e, por isso, possuem a coragem de falar sobre “a gloriosa Revolução
Americana”! Qual revolução?! Eram colonizadores, não eram colônias. Eles faziam
parte do país-mãe. Sim, eles eram radicais brancos da pátria, Inglaterra. América e
Canadá são colônias de colonos, mas é difícil entendermos isso porque eles estão
perto de serem colônias bem-sucedidas. Para seu uma colônia bem-sucedida é
preciso cometer o genocídio contra os proprietários tradicionais da terra.
É exatamente isso que os europeus fizeram. Depois de cometerem o
genocídio, eles mudaram o nome para a “América”. Quando vocês os chamam por
“americanos”, vocês fazem parecer que eles pertencem a essa terra; vocês fazem
isso porque querem se chamar “americanos pretos” e querem se sentir
pertencentes daqui também. Mas, se analisarmos a história – e se concordarmos
que as revoluções se bateiam em análises históricas – veremos que não são
americanos, são de fato colonizadores europeus. Isso é tudo o que são. Agora eu sei
o que vocês vão dizer: “Oh, mas isso aconteceu há muito tempo”. Pode ter
acontecido há cinco mil anos! Estou falando de história e de fatos. É fato que são
colonos europeus. E a nossa ideologia deve analisar a história.
Se eles são colonos europeus, adivinhe o que somos? Não podemos ser
“afro-europeus” ou “europeus pretos”. Temos que ser o Povo Africano. Veja, se
dissermos que somos americanos, americanos pretos ou afro-americanos, significa
que participamos como envolvidos do genocídio contra o homem vermelho e
apoiamos o genocídio que os “americanos” estão cometendo no Vietnã, Ásia, África
e América Latina. Como não o fizemos, não há necessidade de nos chamarmos
americanos pretos. Há algo que vocês devem entender sobre este problema dos
“afro-americanos” e “americanos pretos”. Vocês podem andar pela rua e podem ver
uma pessoa que é de descendência chinesa. Eles parecem chineses, certo? Agora,
eles podem ter estado na América por tantas gerações como já estivemos aqui. Eles
podem não ser capazes de falar uma palavra de chinês, mas quando você os veem,
a primeira coisa que vocês dizem é: “Este é um Chinês”. Vocês nunca dizem que é
um “sino-americano”, porque há dois níveis nos quais uma pessoa é identificada.
Uma pessoa é identificada pela nacionalidade – é o que é o seu passaporte, os
papéis que carrega – e pelo seu suporte ancestral; ainda, para todas as outras
pessoas, assim que as reconhecemos na rua, nunca questionamos sua
nacionalidade, sempre nos voltamos para seus rolamentos ancestrais. Eles são
chineses ou japoneses, ou são índios – exceto nós! Quando se trata de nós, a
primeira questão é: de onde você é? – “Oh, eu sou da Jamaica” – “Oh, você é das
Índias Ocidentais”; de onde você é? – “Eu sou da Geórgia” – “Oh, você é americana”;
de onde você é? – “Eu sou do Gana” – “Oh, você é um ganês”...
Não, meus irmãos e irmãs – somos todos Africanos.
Este conceito deve ficar claro em nossas mentes, especialmente porque
sabemos que estamos lidando com a questão do capitalismo e do racismo. Todos
sabem que o racista do mundo é aquele homem branco europeu. Não há
necessidade de sequer discutir isso. Uma colônia de colonos é, por sua própria
natureza, um estado político injusto e imoral; onde quer que o europeu tenha ido –
ele criou uma colônia de colonos, seja ele a maioria ou a minoria. Existem europeus
na Palestina, na África do Sul, em Moçambique, na Austrália, no Canadá, nos
Estados Unidos, na América Latina – onde quer que tenha ido, ele estabeleceu
colônias de colonos. Eles possuem um complexo de colônia.

(5) Esbocei o que penso que foram alguns dos problemas e algumas das
áreas em que devemos nos mobilizar, e que logicamente levam ao Pan-
Africanismo. Muitas pessoas aceitaram o slogan24 do Poder Preto, algumas pessoas
tentaram fazer com que isso significasse o que querem que isso signifique. A maior
expressão política do Poder Preto é o Pan-Africanismo. Poder Preto significa que
todas as pessoas que são pretas devem se unir, organizar-se e formar uma base de
poder para lutar por sua libertação. Isso é Poder Preto.
Infelizmente, minha tribo de adoção na América é muito sectária. Eles
pensam que Poder Preto tem significado apenas para eles. Eles realmente pensam
que são os únicos pretos do mundo! Obviamente, devemos dizer aos nossos irmãos
e irmãs na América que isso não é verdade. Há pessoas pretas na América do Sul,
há pessoas pretas no Caribe e há um monte de pretos na África – o significado deve
ser para todas essas pessoas. Deve ser; a menos que você queira discriminar
outros pretos.
Deve ser o Pan-Africanismo, porque dissemos que em uma revolução é
preciso ter uma terra como base. Agora, devemos discutir onde os pretos neste
país podem obter a melhor base de terra; é aqui que a dificuldade surgirá – muitas
pessoas dirão que podemos obter uma base de terra na América. Se estamos
lutando contra o capitalismo dentro da América, sabemos que o homem branco
não vai desistir de qualquer terra. Você deverá, portanto, tirar cada centímetro de
terra dele. A fórmula revolucionária para conquistar terras é simplesmente
conquistar, proteger, desenvolver e expandir. É assim que vamos ter que
conquistar as terras nesse país. Teremos de aproveitá-la – teremos que segurá-la e
teremos que desenvolvê-la. Vemos claramente no exemplo dos muçulmanos que,
mesmo quando tentam comprar terra, o moleque branco não vai deixar que eles a
obtenham. Se pudéssemos conquistar a terra – não seríamos capazes de protegê-la,
e se fôssemos capazes de protegê-la – não seríamos capazes de desenvolvê-la.
Muitas pessoas neste país dizem que devemos tomar Louisiana, Mississipi,
Geórgia, Carolina do Sul, Carolina do Norte e fazer desses os nossos Estados
Unidos. Agora vamos examinar esses estados: Louisiana nos dá um pouco de óleo.
Birmingham tem algum aço. As vastas áreas desses estados são agrícolas.
Produzem algodão e tabaco. Isso significa que, se tomássemos esses estados e

24
Também em ‘Poder e Racismo’, o irmão vai e define Poder Preto como slogan e para além do slogan:
“Uma organização que afirma falar sobre as necessidades de uma comunidade (...) deve falar no tom
dessa comunidade, não como uma zona de isolamento para essas pessoas. Este é o significado do Poder
Preto como slogan. (...) [por outro lado,] Uma organização que afirma trabalhar para as necessidades de
uma comunidade (...) deve trabalhar para fornecer a essa comunidade uma posição de força a partir da
qual sua VOZ seja ouvida. Este é o significado do Poder Preto para além do slogan.”
criássemos uma nação, teríamos a maior nação de cultivo de algodão e de tabaco
do mundo. No entanto, não teríamos nenhuma indústria, porque não há recursos
minerais para esses estados. E se estamos lutando contra o imperialismo,
perceberemos que nosso inimigo é um inimigo altamente tecnológico, e devemos
desenvolver tecnologia para lutar contra ele. Se nós conquistássemos essa terra, se
protegêssemos essa terra, ainda teríamos uma sociedade agrícola. De onde
produziríamos nossos tanques, aviões e armas – as coisas que são necessárias para
combater o imperialismo? Uma nação agrícola nunca poderia derrotar uma
sociedade industrial. Portanto, devemos nos perguntar sobre um lugar melhor
onde poderemos obter e ter a terra.
Meus irmãos e irmãs, peço-lhes que olhem comigo para a África.
É o continente mais rico do mundo. Tem todos os recursos minerais
necessários para a maior sociedade tecnológica do mundo hoje. Possui bauxita,
cobre, zinco, diamantes, ouro, óleo, minério, cacau. E olhe – ainda tem amendoim,
vejam como é rico!
Parece-me totalmente claro que uma ideologia preta lúcida que fale sobre
revolução, compreendendo a necessidade de terra como base, deve ser apontada
para a África, especialmente porque é nítido que somos o Povo Africano, e a África
pertence a todas as pessoas Africanas. É nossa terra natal! Aquelas pessoas que
não olham para a África é porque consideram a si próprias americanas. É seu
direito. Querem se considerar americanos, então eles têm o direito de lutar por
essa terra, tomá-la dos moleques brancos, matar os homens vermelhos e depois
administrá-la. Mas eu não devo fazer parte disso. Devemos nos perguntar sobre o
relacionamento que a África tem conosco enquanto estamos aqui no Hemisfério
Ocidental. Devemos nos questionar sobre qual é o nosso relacionamento com a
África, e como sobreviveremos aqui, ao mesmo tempo. Tendo respondido a essas
duas questões, encontramos a chave da nossa ideologia. Sabemos que viemos da
África. Podem até não querer serem chamados de Africanos, mas não podemos
mais negar que nós fomos sequestrados de África.
Examinemos o poder e como este protege o indivíduo. Quando um moleque
branco entra em nossa comunidade, não temos medo desse moleque branco como
um indivíduo, temos medo dele por causa do poder que ele representa. E ele é
respeitado onde quer que vá. Quando vemos um Africano em qualquer lugar do
mundo, ele não é respeitado – porque não há poder por trás dele. É precisamente
por isso que o europeu pode ir por todo o mundo e as pessoas se inclinam para ele
– por causa do poder que ele representa.
De onde vamos conseguir o poder? Os hippies? Isso é revolucionário? Por
maldição! É o melhor que podem nos ensinar?! Eles me disseram que Malcolm X
veio das bases, eles me disseram que ele veio da sarjeta, das favelas, eles me
disseram que ele esteve na prisão. Eu o ouvi falar muitas vezes, e nunca o ouvi
maldizer. Nunca. Porque ele respeitava o seu povo. A revolução não é sobre ser
sujo ou sobre xingamentos, mas sobre dar ao nosso povo as melhores coisas da
vida. Se queremos amaldiçoar ou falar palavrões, cortar-se, ou mesmo ficar quieto,
então não temos necessariamente que lutar. Você sabe – podemos ficar bem aqui e
fazê-lo.
Estamos lutando para sair dessas condições, para não permanecer nelas.
Ninguém arrisca sua vida para provar o quão ruim é – estamos lutando contra
outras pessoas para nos livrar da opressão, queremos um melhor modo de vida. É
por isso que lutamos.
Vocês viram aquele moleque branco, Dick Cavett – quando eu estava em seu
programa, ele queria falar sobre tons e sobre o colégio, ele não queria falar sobre o
que nos foi sugerido para falarmos. Vocês podem correr, mas não podem se
esconder – vocês devem concluir isso em algum momento ou mesmo mais tarde,
mas eles não nos deixarão em seus programas de televisão descarregar a verdade
de fato ao nosso povo. As únicas pessoas que eles vão deixar na televisão são
aquelas que atravessam as ruas gritando: “Sim, vamos matá-los, vamos fazer isso,
vamos fazer aquilo” – o que só dá aos caipiras uma desculpa para avançar em
direção ao fascismo e se prepararem para nos eliminar. Esses são aqueles que não
estão nos dando uma ideologia política, e precisamos de ideologia política. Estamos
divididos, lutando contra nós mesmos simplesmente porque não sabemos para
onde estamos indo ou queremos ir. Tudo o que queremos é a liberdade, só
queremos liberdade. Alguns dizem que queremos paz, e que todos só querem paz.
Eu não quero paz. Eu quero poder.
O Africano não tem poder em lugar algum!
A mesma questão que o Honorável Marcus Garvey levantou em 1922 ainda
é relevante hoje: onde está o governo do homem preto? Onde está o governo que
vai agir para a nossa proteção? Se a Mãe-África fosse unificada, meus irmãos e
irmãs, tão silenciosa quanto seguramente, seria o continente mais poderoso do
mundo. Mais poderosa que este monstro, mais poderosa que a China, mais
poderosa que a Rússia. Seria o continente mais poderoso do mundo. Poderia então
dar proteção a todos os seus descendentes, onde quer que estes estejam.
Estamos lidando com a relação de poder, e eu digo que devemos tornar a
África a nossa prioridade. Temos de lidar claramente agora com a África e começar
a apoiar as mudanças para a libertação no continente. Se você tem filhos, você dá
tudo aos seus filhos, porque eles representam o futuro. Suas mães e pais trabalham
muito para você ir para a faculdade, porque você representa o futuro. Se formos
honestos com nós mesmos, sabemos que não há futuro na babilônia EUA.
Nós vemos a burguesia negra tendo muitos problemas porque não existe
uma alternativa viável para eles ganharem a vida. Eles devem entregar suas
habilidades ao moleque branco, e estão ficando mais preocupados com o fato de
que este é o único meio para eles ganharem a vida. Não há nenhuma maneira
possível para eles construírem uma nação dentro deste país. É possível que o nosso
povo comece a construir uma nação dentro da Mãe-África. Um verdadeiro
revolucionário deve fornecer uma alternativa viável, não apenas uma retórica que
condena o sistema existente.
Os judeus estabeleceram os precedentes. Judeus europeus, que vivem aqui e
atuam dentro desse sistema político americano, levantam-se e falam sobre Israel.
Sempre que os senadores judeus tomam as ruas, eles fazem propaganda para
Israel. Na verdade, quando o presidente da França veio aqui, 4.000 judeus
europeus fortes o piquetearam – porque ele estava dando aviões de combate à
Líbia, que está na África! Meus irmãos e irmãs, vocês não reconhecem o que esses
judeus europeus estavam dizendo? Eles estavam dizendo que a África não tem o
direito de ter armas, mas Israel tem o direito de ter todas as armas que desejar.
Você sabe que agora o chamado Estado de Israel está lutando contra o Egito? Você
não conhece o fato de que o Egito é parte da África? Então você tem judeus
europeus, que estão falando sobre Israel, ocupando terras na Palestina, que não
lhes pertence, apoiando esse conceito – e aqui estamos, da África, pertencemos a
essa terra, e não estamos apoiando isso!
O que deveríamos fazer? Devemos todos voltar para África? – “Você está
dizendo que devemos todos voltar para África?”. Não, não estou dizendo que
devemos voltar para África neste momento. Todos nós teremos que voltar, mais
cedo ou mais tarde. Se esse moleque branco continuar a seguir esse caminho,
muitas pessoas fugirão o mais rápido possível para chegar lá. Não, não estamos
dizendo isso. O que estamos dizendo é que devemos começar a compreender
África não só culturalmente, mas politicamente, e devemos começar a apoiar os
movimentos de libertação que procuram construir estados verdadeiramente
revolucionários na África que poderão nos ajudar.

(6) Enquanto isso, em nossas comunidades, devemos fazer três coisas.


Primeiro, devemos procurar unificar a nossa comunidade. Não somos cegos, vemos
o genocídio na esquina. Os grupos políticos que têm desentendimentos devem
tentar manter seus desentendimentos debaixo da mesa, ao invés de se atacarem
usando ofensas como “porcos nacionalistas” e “nacionalistas culturais” ou “agentes
da CIA”, jogando pretos nas mãos dos nossos inimigos. Mantenham isso em
segundo plano. Não ataque ninguém, apenas diga o que você precisa dizer, irmão.
Execute seu programa para as pessoas e deixe-as decidir. Se você acredita que você
tem a ideologia correta, tudo o que você precisa fazer é percorrer as massas do seu
povo, apontar sua ideologia e ir ao trabalho. Se eles concordarem com você, eles
virão com você. Se eles não concordarem com você, eles irão com outra pessoa. Se
eles vão com outra pessoa, você está errado. Você admitindo isso ou não, você está
errado, porque em uma revolução são as massas que decidem, jamais a
autoproclamada vanguarda. Devemos procurar unificar a nossa comunidade.
Em segundo lugar, devemos assumir todas as instituições políticas dentro
da nossa comunidade: a delegacia de polícia, o sistema judicial, o conselho de
educação, o sistema de assistência social. Especialmente o sistema educacional,
porque a educação não é nada mais que uma ideologia, e você está deprimido
nisso. Noventa por cento de sua educação é a ideologia dessa sociedade.
Precisamos dar para a nossa gente a ideologia política correta. Portanto, temos que
controlar essas escolas, mas sabemos que hoje não vamos controlar essas escolas
sem o confronto. O confronto aberto, declarado, no entanto, não é mais o caminho.
Nós vamos nos organizar politicamente para controlá-las. Se não conseguirmos,
haverá consequências políticas contra as pessoas que estão no caminho das
massas – novamente por causa da história. Todas as instituições políticas dentro
da nossa comunidade devem ser controladas, e podem ser controladas hoje sem
confronto. O estágio que alcançamos é o da educação, não o do confronto! Em um
exército, você não apenas confronta, confronta, confronta, confronta, como
cowboys e índios indo de Nova Iorque à Califórnia. Você não faz isso. Em uma
revolução, você enfrenta, você captura, você controla, você desenvolve – então,
depois de estar pronto, você vai novamente. Você captura, controla, desenvolve,
expande, respira, e vai novamente. Se você continuar confrontando, confrontando,
confrontando e não organizar o que ganhou, você deixa a sua retaguarda aberta
para o ataque do inimigo. E é precisamente o que está acontecendo hoje na
Comunidade Preta e em muitos campus universitários pretos. Nós nos recusamos a
ter tempo para organizar o nosso povo – o verdadeiro trabalho em uma revolução.
A América está mostrando as contradições internas do capitalismo de que
Marx fala. Ela está obviamente dividida. Agora, o que sabemos sobre pessoas
brancas é que elas estão sempre unidas, sabemos que essas pessoas brancas
estarão sempre unidas em torno de uma questão – nós. Sobre a questão da raça, a
América branca é uma estrutura monolítica. Portanto, uma vez que o país deve se
transformar para o fascismo, para evitar o colapso interno, não devemos permitir
que os líderes brancos deste país nos usem para justificar esse fascismo. Devemos
permitir que eles tenham suas contradições internas, justifiquem-se entre si
enquanto organizamos silenciosamente e educamos nossas massas para que,
quando eles virem, possamos estar bem preparados para enfrentá-los. Nós não
estamos preparados para enfrentá-los agora! Eles também não estão
completamente preparados para nos enfrentar agora. Isso significa que o tempo
deve ser usado do melhor modo. Devemos começar a nos organizar e nos preparar
para o confronto inevitável.
Em terceiro lugar, devemos tentar desenvolver bases econômicas
independentes, a começar por nossas organizações. Quando nossas organizações
se tornarem economicamente independentes, vão falar às nossas necessidades...
[aplausos] Agora, essa responsabilidade está em todos nós!, simplesmente aplaudir
não vai realizar isso. Isso significa que deve ser nossa responsabilidade doar
dinheiro para essas organizações – e estar disposto a pagar dívidas. Nós estamos
falando sobre eles estarem “recebendo apoio do homem branco”, mas é porque
ninguém está os apoiando! Agora nós devemos começar a apoiá-los, porque então
poderemos contratá-los ou demiti-los. Sim senhor, louvado seja o Senhor, nós
precisamos fazer isso. Mais uma vez, devemos advertir que essas bases econômicas
não devem fazer dinheiro para indivíduos, mas devem ser usadas para beneficiar
toda a Comunidade Preta. Devemos entender que a maioria dessas empresas em
nossa comunidade, senão todas, são incapazes de produzir bens porque não
possuímos ou controlamos os meios de produção na sociedade em geral. Mas
devemos tentar estabelecer bases econômicas independentes sempre que possível.
Agora, muitos dizem que sou contrarrevolucionário porque estou falando
contra as drogas na comunidade. Infelizmente, estes não sabem nada sobre a
história da revolução. Se o soubessem, saberiam que Mao Tse-tung lutou contra o
ópio; saberiam que Fidel Castro lutou contra as drogas – e se eles assistissem ‘A
Batalha de Argel’, lembrariam que os nossos irmãos da FNL lutaram contra as
drogas, e mataram os traficantes. Lutar contra as drogas é revolucionário porque
as drogas são um truque do opressor. A razão pela qual o uso de drogas atingiu as
proporções que tem hoje em nossa comunidade é porque a consciência política do
nosso povo está aumentando, e para retardar a consciência política do nosso povo
– o opressor enviou mais drogas para a comunidade.
Eu sempre senti que o mais alto critério para um revolucionário é que ele
deve ter um amor-eterno por seu povo. Para citar Che Guevara – e vocês deveriam
lê-lo: “Com o risco de parecer romântico, um revolucionário deve ter um amor
sobre-humano pelas massas das pessoas”. Se alguém está preocupado com o povo,
não pode vê-los cometer genocídio e ficar de braços cruzados. As pessoas que
estão usando drogas estão sofrendo um genocídio. Se você se preocupa com elas,
você deve falar contra os traficantes de drogas em nossa comunidade. Podemos
dizer claramente a eles: “Olha, cara, sabemos que você tem que ganhar a vida de
algum jeito, sabemos como é embaçado aqui no gueto, um monte de coisas
tragicômicas acontecendo aqui, mas todos nós temos que andar de cabeça erguida.
Não podemos dar drogas à nossa gente. Um homem tem que andar de cabeça
erguida. Agora, encontre outra saída para as suas drogas. Encontre outro canto
para as suas drogas, mas não coloque aqui dentro, porque está matando a nossa
juventude, e se você matar nossa juventude, você mata nosso exército, e se não
temos um exército, não podemos lutar, e então já era. E eu acredito em ter pelo
menos uma chance de lutar.”
Para retornar ao meu segundo ponto, devemos assumir todas essas
instituições políticas, e isso pode ser feito através da nossa política. Nossos
políticos hoje têm grande poder. O fato é que eles são um derivado de poder das
massas do nosso povo. Especialmente desde que o slogan Poder Preto se tornou
popular. Foi aí que todos começaram a surgir. Mas eles combinam o conceito de
Poder Preto com as frustrações das massas, e eles usam para autopromoção. Isso é
oportunismo. Em nossa dialética, eles são chamados “cafetões do Poder Preto”.25
Mas vocês não precisam se preocupar com eles, porque se vocês souberem sobre a
revolução, sabem que, na Lei da Revolução, isso será esmagado. Eu não tenho nada
a ver com isso. Essa é a Lei da Revolução. A Bíblia diz que, de muitas formas
diferentes, você sabe – o que você semear, você deve colher. Bíblia, não eu. Você
não precisa se preocupar com eles – não restarão muitos deles, de qualquer modo.
Eles não podem se vender. Eles correm para o homem branco, “sim, eu
posso fazer isso, eu posso fazer aquilo”, e o homem branco nem lhes escuta mais.
Houve um momento em que eles puderam correr até ele, e falar ao homem branco
– “houve uma rebelião em Chicago, houve uma rebelião em Watts, e se você não
nos dar uma esmola, haverá uma rebelião em Washington” – e o homem branco
dava-lhes algum dinheiro. Mas isso acabou, já era, pois houveram rebeliões totais.
Não só isso, mas o moleque branco está preparado para a rebelião hoje. Ele estava
comprando tempo com seu programa de pobreza, porque ele não estava preparado
para as rebeliões. Ele não estava preparado para lidar com rebeliões espontâneas
nesta Comunidade Preta. Mas ele está preparado agora. E, uma vez que agora ele
está preparado, nossas táticas devem mudar. Nós devemos estar um passo à frente
dele. Essas instituições políticas podem ser tomadas hoje em dia através das
nossas políticas – chamando nossos políticos para perto e forçando-os a se unirem
e falarem pelas nossas necessidades. Podemos começar a fazê-lo e vou mostrar-
lhes como, mais tarde.
Mas, antes, eu quero repetir minha ideologia novamente e depois seguir
com minhas táticas. A África deve se tornar nossa prioridade – número um.
Devemos buscar unidade dentro da nossa comunidade, número dois. Buscarmos
assumir as instituições políticas dentro da nossa comunidade e buscarmos
desenvolver bases econômicas independentes sempre que possível, começando
com nossas organizações, número três. Devemos assumir o departamento de
polícia da nossa comunidade. Devemos assumir o controle dos distritos judiciais de
nossa comunidade; e isso pode ser feito com muita facilidade. Então, nós diremos
quando um homem cometer um crime, e ele será julgado – na área onde ele mora.
Depois de fazer isso, descartamos automaticamente a questão de um julgamento
por um júri entre seus pares. E, por óbvio, em nossa comunidade, as coisas serão
diferentes. Danos à propriedade não significarão tanto. Para nós, os danos
humanos é que se tornarão o mais importante. Por exemplo, se um irmão estuprou
uma irmã, ele deve obter a pena de morte imediatamente por ter violado uma flor
da terra. Ele deve ter a morte porque não tem respeito pelas nossas mulheres. Em
qualquer ideologia, enquanto você está ensinando e falando sobre a sua ideologia,
deve haver algum tipo de consequência, caso você desobedeça. Cristianismo é isso

25
Que surgiram justamente a partir do momento que deixamos um homem branco, no caso Nixon, vir e
definir por nós nossos próprios conceitos. (Falaremos mais sobre, num momento oportuno...)
– se você não fizer o certo, vai para o inferno. É a isso que se resume, certo? Mas,
como estamos falando de uma ideologia que é secular, que lida com o mundo real,
se você cometer um ‘pecado’ enquanto estiver aqui – você pagará por isso
enquanto estiver aqui.
Poderemos reorganizar nossas prioridades uma vez que teremos o controle
de nosso sistema judicial dentro da nossa comunidade. Poderá ser feito com muita
facilidade. Podemos organizar os advogados pretos em nossa comunidade para
começar a trabalhar nisso. Muitas pessoas dizem: “Bem, você não pode pagar um
advogado para fazer isso e você não pode obriga-los a fazer isso”. Isso é verdade,
mas a razão é pelo fato de não usarmos o nosso tempo para organização. O
advogado preto em nossa comunidade tem clientes pretos, não clientes brancos.
Poucos deles têm clientes brancos. Se pagarmos um salário, será apenas a sintonia.
É assim que é. Eles não se juntam à luta – eles só não têm clientes, simples assim.
Isso clama, no entanto, para a organização.
Muitas pessoas não estão dispostas à organização – elas querem rapidez...
Elas querem falar sobre o quão ruim elas são, mas elas não estão dispostas a
organizar-se; e a organização é a nossa única saída.
Devemos nos organizar. Devemos assumir o controle das delegacias em
nossa comunidade, porque os policiais caipiras não se importam com a gente. Eles
não estão aqui para nos proteger – eles só estão aqui para nos reprimir. Quero
dizer-lhes, como estudante de política, que os policiais brancos devem se retirar da
nossa comunidade. Eles têm que sair, porque somos pessoas amantes da paz e, se
não forem embora, eu afirmo para vocês, como um estudante de política, que tiros
contra policiais brancos aumentarão em nossa comunidade. Sou estudante de
política. Estudei bem a política, e eu sei muito, muito bem. Eu não estou aqui esta
noite para defender a violência ou para defender a guerra de guerrilha – que é um
crime que pode causar a sua detenção e é tolice hoje para alguém ser detido por
defender guerra de guerrilha. O que estou prestes a dizer é o que acontecerá.
Agora, amanhã eu não quero que você vá para o centro e diga que a pessoa
Carmichael disse: “Devido aos rumos que este país está tomando, vamos pegar em
armas”. Carmichael não disse que você deveria ir se tornar um guerrilheiro.
Carmichael disse: “Devido aos rumos que este país está tomando, você vai se
tornar um guerrilheiro”. Porque estou fornecendo uma análise, não estou
encorajando uma guerrilha. Mas enquanto estamos falando sobre a guerrilha,
desde que fui convidado pelo Instituto do Mundo Preto para dar palestra, e dar
essas palestras como um cientista político, e nessa minha área, abordei e fiz um
trabalho acadêmico sobre guerrilha – eu gostaria de falar sobre a guerra de
guerrilha estritamente em nível acadêmico esta noite.
Não estou dizendo que você deveria sair pelas ruas e começar a caçar
policiais, mas eu estou dizendo que, se eles não se retirarem da nossa comunidade,
essa caçada aumentará... Devemos entender como ela escalará. As pessoas estão
discutindo a guerrilha neste país. Gostaria, a nível acadêmico, de explicar como a
guerra de guerrilha realmente funciona.... Você deve tomar notas, porque vocês são
estudantes e devem discutir essa palestra... Quero dizer, você me pagou pra vir
aqui, você não deve se sentar e somente perder o seu tempo, você deve tomar
notas – discutir. Se eu estiver correto ou se eu estiver errado, discuta a guerrilha...
Um guerrilheiro nunca trabalha em grupos de mais de três ou cinco. Nunca.
E a guerrilha nunca trabalha com ninguém que não conhece de longa data. Toda
vez que você tem treze pessoas, ou vinte e uma pessoas planejando uma
conspiração, isso não é um movimento de guerrilha. Você deve se lembrar da lei
número um de um guerrilheiro – o principal fornecedor de armas da guerrilha é o
inimigo. Isso significa que, quando a guerrilha mata um membro do exército de
ocupação, ele não só leva a arma que está em sua cintura – ele abre a porta da
viatura e leva uma espingarda calibre 12; ele abre o porta-malas e leva toda a
munição, e então desaparece. Porque a guerrilha deve ser vitoriosa. E ele enterra
as armas, em lugares diferentes – apenas um pouco de cada vez. A guerrilha nunca
esconde as armas num escritório para que, quando o exército de ocupação
derrubar a porta, eles tomem todas as armas. Se alguém entende a guerrilha, isso
não faz sentido. O guerrilheiro esconde suas armas em áreas, aqui e ali. O
guerrilheiro sabe como esconder as armas. Eles sabem como fazê-lo, mesmo à
noite, sem enxergar. Eles podem desmontar uma arma e separá-la. Sabem como
cuidar de armas; e o guerrilheiro nunca abre sua boca sobre o quão ruim isso é.
Isso é uma guerrilha! Nunca! Nunca! Pois o General Giap, do Vietnã do Norte, cita
Mao ao dizer que a guerrilha é como um peixe no mar. Essa é a teoria. A guerrilha
funciona entre as massas. É das massas que a guerrilha recebe o seu apoio. Não só
isso, é nas massas onde ela se esconde. Se as massas estão vestindo dashikis, a
guerrilha usa um dashiki. Se as massas estão na igreja – a guerrilha está na igreja.
Onde quer que as massas estejam, lá está a guerrilha; e se você entende o
cristianismo, você entende sua verdadeira mensagem revolucionária: “Onde
houverem duas ou três pessoas reunidas, lá eu também estarei”.
A guerrilha nunca permite ao inimigo provoca-la para um ataque sem antes
ter certeza da vitória. A guerrilha não pode suportar a derrota. Ela só pode se
mover quando está certa da vitória. As massas estão constantemente assistindo a
guerrilha, e se ela não for vitoriosa, não a seguirão. A guerrilha recruta das massas.
Seu objetivo é trazer as massas para as guerrilhas. Portanto, como a guerrilha é
mais vitoriosa, as massas terão mais confiança nela. O inimigo tenta fazer a
guerrilha parecer ridícula aos olhos das massas. Ele provoca a guerrilha, e se a
guerrilha é estúpida ou calcula mal, ela reage à provocação. É claro que ela tem
uma morte heroica ou é capturada, mas as massas não vão mais segui-la – apenas
aventureiros o farão. As massas querem vitória, não mortes heroicas. Estamos
todos dispostos a morrer, mas precisamos saber que existe pelo menos uma
chance de vitória. Se o guerrilheiro quer movimentar as massas, ele deve estar
organizando entre as massas.
Existe outra coisa que você deve saber sobre a guerrilha – os estudos da
guerrilha. Agora, se houvessem muitos fazendo isso, durante quatorze meses,
teríamos uma boa organização nacional neste país. Poderíamos ter uma
organização política real que diria “queremos as delegacias”. Se as delegacias não
fossem entregues, uma consequência política seria gerada pelo guerrilheiro. O
guerrilheiro apoia as exigências da organização política acima descrita.
Novamente, eu falo a vocês como um acadêmico, apenas como um acadêmico, eu
quero explicar as teorias para vocês.26

26
Perceba como o irmão, ao dizer que “Devemos nos organizar...”, começa seu raciocínio falando sobre
ser necessário assumirmos, inclusive, as delegacias (pique Ron Stallworth?...) – o que, à primeira vista,
pode soar, digamos, contraditório – para, em seguida, de forma aparentemente “acadêmica” (dado que o
irmão foi preso ao menos 19 vezes, por precaução, não à toa, se vale das “brechas da lei”), introduzir uma
exposição detalhada sobre as guerrilhas, sob o pano de fundo das relações políticas na Comunidade Preta.
Entre assumir o controle das delegacias ou não, o que fica explícito aqui é o fato de que a profundidade
tocada pelo debate no interior da Comunidade Preta apartada nos EUA não encontra, nem de longe,
paralelo com as pautas debatidas pela Comunidade Preta sitiada no Brasil.
O tempo da guerrilha é limitado, por isso o seu tempo se torna tão
importante. Ela não pode perder tempo se sentando em um escritório e
argumentando a respeito da revolução. Se um guerrilheiro tem um emprego,
quando ele volta do trabalho, ele estuda e estuda. Se você está falando sobre a
revolução – é melhor começar a estudar. Se você não está estudando, você não está
fazendo nada além de enganar a si mesmo. Se você é um revolucionário hoje na
Comunidade Preta, você deve conhecer Marx, você deve conhecer Lenin, você deve
conhecer Malcolm X – Mao, Che, Fidel, Sékou Touré, Ho Chi Min – você deve
conhecer Du Bois, você deve conhecer Nkrumah, você deve conhecer Lumumba,
você deve conhecer Huey P. Newton, você deve conhecer LeRoi Jones, Robert F.
Williams, você deve conhecer Fannie Lou Hamer, deve conhecer muitas pessoas,
muitas. Suas ideias e suas ideologias. Além disso, você deve saber o que está
acontecendo no mundo ao mesmo tempo. Você deve entender o Pacto de Varsóvia
e a OTAN, e o que eles representam. Você deve entender as contradições internas
do capitalismo dentro da América. Todas essas coisas são necessárias – se você é
um revolucionário. Se você não entende isso, você está apenas falando demais,
porque a revolução é uma ciência e você precisa ser científico.
Em um movimento de guerrilha você tem uma organização visível e uma
clandestina – a organização militar. A organização política faz as demandas
políticas; se não forem atendidas – a guerrilha se movimenta. Ninguém sabe quem
é a guerrilha. A guerrilha pode ser a mesma pessoa que está na organização
política, pois certamente a guerrilha deve ter uma ideologia política. Você vê, por
exemplo, todos nós podemos chegar a uma reunião. Digamos que chamemos de
reunião, para decidir que devemos controlar uma delegacia de polícia aqui. Todos
vocês podem ser guerrilheiros, mas não discutimos a ação de guerrilha. Nós
fazemos nossas demandas, e levantamos: “Esta é a nossa demanda, queremos essa
delegacia de polícia, nós a queremos em duas semanas. Você entendeu? Queremos
decidir quem serão nossos capitães de polícia, porque queremos limpar a nossa
comunidade e, claramente, a polícia não está fazendo isso por nós”. E se a delegacia
de polícia não vier a nós em duas semanas, talvez dez policiais brancos serão
mortos e suas armas desaparecerão. Em outras palavras, a guerrilha causa uma
consequência política ao inimigo. Isso é guerrilha. Na próxima vez que o braço
político chegar e exigir, haverá uma base de poder real por trás disso; a
comunidade começará a apoiar as demandas e, mediante a isso, elas apoiarão as
ações de guerrilha, caso as demandas não forem cumpridas.
Veja, se você está falando de guerrilha, você está falando de uma
comunidade altamente organizada. Não pode haver guerrilha, a menos que a
comunidade seja bem organizada, e a comunidade deve ser limpa. Não podemos
trabalhar na comunidade se temermos que, se as nossas irmãs saírem depois das
doze – ou depois das onze, ou depois do anoitecer – alguém pode bater em suas
cabeças, esvaziar seus bolsos e correr para comprar um pouco de droga. Nós não
podemos trabalhar se tivermos a preocupação de que algum irmão está tentando
nos lesar, temos que trabalhar livres. Por exemplo, haverá um monte de vezes em
que os irmãos não serão capazes de fazer algo, então uma irmã terá de ir fazê-lo.
Você precisa saber que, se uma irmã atravessar as ruas às duas ou três horas da
manhã, ela não terá absolutamente nada com que se preocupar. De fato, todo
irmão a protegerá. Apenas para o funcionamento da guerrilha. É uma necessidade
nós limparmos e unirmos a nossa comunidade. Nós devemos fazer isso.
(7) Eu quero voltar e falar sobre Gana antes de terminar. Lenin disse que o
imperialismo é o estágio mais elevado do capitalismo. Ele está correto. Osagyefo,
Dr. Kwame Nkrumah diz que o neocolonialismo é a última etapa do imperialismo.
Ele não disse que era outra etapa. Ele não disse que era o estágio mais alto, ele
disse que era a última etapa do imperialismo; e esse está correto. Nós vemos isso
em estados neocolonialistas na África hoje. Um deles é Gana. As contradições
surgiram em Gana. Vemos, cada vez mais, as massas de pessoas que avançam
claramente para assumir esse estado. O povo de Gana vai lutar para assumir esse
estado. Eles vão esmagar o regime de Busia27 apoiado pelos Estados Unidos e
manda-lo ao esquecimento. Isso está escrito no vento – as forças históricas não
podem ser interrompidas. Quando começarem a fazer isso, meus irmãos e irmãs,
devemos nos mobilizar para apoiá-los. Se esse estado for tomado, e Osagyefo28, o
Dr. Kwame Nkrumah, retornar – teremos uma base terrestre que será o primeiro
passo para a unificação de nossa terra natal, e a primeira vitória concreta da minha
ideologia, que é o Nkrumahismo – mais alta expressão política do Pan-Africanismo.
Eu sei que vocês não entenderiam isso porque vocês não têm a permissão para ler
livros de Kwame Nkrumah. Deve haver uma razão para isso. Eles o chamaram de
traidor, o chamaram de tirano – eles o chamaram de tudo o que há de ruim no
mundo – mas o Irmão Malcolm X lhes disse, quando eles disserem algo ruim sobre
um homem, então esse é o homem que vocês devem acolher.
O moleque branco procura destruir os líderes em nosso movimento e nós
somos o povo que é mais atrasado com essa ideologia ocidental absurda. “Oh, não
precisamos de líderes, precisamos apenas de idéias certas”. Absurdo. Um líder é a
encarnação da ideia, é ele quem carrega essa ideia. Você acha que a China seria
China sem Mao Tse-tung? Você acha que o Vietnã seria Vietnã sem Ho Chi Minh?
Você acha que Cuba seria Cuba sem Fidel Castro? Você acha que a Inglaterra seria a
Inglaterra sem Churchill? Você acha que a França seria a França sem De Gaulle?
Obviamente, não. Um líder é a encarnação das ideias. Todo mundo sabe isso, a não
ser nós. Nunca protegemos nossos líderes, a não ser que eles morram, aí corremos
para eles... E a razão pela qual fazemos isso, é que sabemos – uma vez que esse
líder tem a ideologia correta, então – que nada estará diante de nós, a não ser a luta
ou um túmulo aberto.
Mas eu digo a vocês que isso é certo. Não digo nada além da verdade. A
única coisa que eu vejo diante de vocês é o derramamento de sangue, sangue,
derramamento de sangue, sangue. Mas eu te digo outra coisa – que vocês não
podem correr, porque eles vão tentar mata-los de qualquer maneira, então vocês
também podem se preparar para a luta. Como Joe Louis29 disse: “Você pode correr,
mas não pode se esconder”.
Devo dizer-lhes que o derramamento de sangue que vem aos Africanos em
todo o mundo é um derramamento de sangue que este mundo nunca viu. Nossa
luta será mais longa do que a do vietnamita, nossa luta será mais sangrenta do que
a Revolução Chinesa, nossa luta será tão sangrenta que, em algum momento, você
terá que passar por cima de um irmão seu enquanto ele está morto e manter o
27
Kofi Abrefa Busia (1913-1978) foi o primeiro-ministro de Gana de 1969 a 1972. Ele assumiu o poder
após os militares, com o apoio da CIA, darem um golpe de estado no presidente legítimo de Gana,
Osagyefo, Dr. Kwame Nkrumah, em 1966.
28
Título atribuído ao Dr. Kwame Nkrumah pelas massas de Gana após sua independência, que significa
O Líder Vitorioso.
29
Joseph Louis Barrow (1910-1981) foi um pugilista preto dos EUA; entrou para a história como sendo
um dos maiores boxeadores do mundo.
passo, esperando que você possa vingar a sua morte amanhã. Essa é a
sanguinolência que está diante de você. Eu não minto para você. Eu não prometo a
você uma vitória rápida. Como você pode dizer que em cinco anos vamos
guilhotinar um país? Não, nós temos uma geração de luta à frente de nós e você,
gostando ou não, é melhor se preparar para isso; porque está vindo, e se você acha
que o homem branco não está se preparando para um genocídio completo, você
precisa adquirir outro pensamento. Ele não faz nada além de cometer genocídio
contra nós. Mas, também, vou te contar, com toda a arrogância do mundo, que
vamos vencer!
Nós vamos vencer, isso já está escrito nos ventos. Confira a diferença entre
nós e os judeus quando os nazistas começaram a cometer genocídio contra eles.
Eles conseguiram que os judeus cooperassem com eles. Eles tinham judeus que
eram policiais, judeus que estavam no conselho de administração – eles tinham
judeus em todos os conselhos, e os judeus eram aqueles que estavam realizando as
ordens para que os nazistas pudessem dizer “não somos nós, são os judeus”; e
então eles culparam o Tio Tom judeu. O contrário está começando a acontecer em
nossas comunidades. Um mês atrás, Roger Wilkins, um homem preto, lhes disse:
“Vocês não podem me usar contra meu povo, se vocês pensam que eu sou um Tio
Tom”. Ele se recusou a servir em um dos comitês de Nixon.30
Nós temos que entender os processos de genocídio para que possamos
entender exatamente o que eles estão fazendo. Quando os alemães se prepararam
para cometer o genocídio contra os judeus, eles eliminaram todos os generais do
exército. Parece familiar? Eles estão eliminando-os aqui, mesmo que não os
conheçam. Você percebe isso? Começaram a isolar a comunidade judaica. Eles
estão fazendo isso aqui, se você puder perceber. É um processo mais lento, mas
eles estão fazendo isso. Eles começaram a se mobilizar para retirar todas as
assistências às comunidades judaicas. Confira seus cortes no assistencialismo,
confira. Não podemos mais brincar, o tempo de brincar acabou. Não há nada aqui
além de assuntos sérios. Se você brincar, vai se queimar, e isso pode ficar sério se
levar alguns com você... Quando entraram para pegar os judeus, os judeus não
resistiram, até que os últimos fossem levados. Mas em nossa comunidade, o
inverso é verdadeiro. Eles tentaram entrar na nossa comunidade para buscar vinte
e oito Panteras Pretas, os arquivos do Partido Panteras, os mais nobres dos nossos
guerreiros. Custou-lhes uma sangrenta batalha para os primeiros vinte e oito; e, ao
invés de nos incutirem o medo, nos tornamos mais determinados. Os próximos
vinte e oito que eles tentarem capturar – terão de pagar duas vezes mais o preço
que pagaram pelos primeiro vinte e oito.
Para terminar, meus irmãos e irmãs, durante os últimos catorze meses,
visitei o Egito, a Tanzânia, a Nigéria, o Congo Brazzaville, a Serra Leoa, o Senegal, o
Sudão e, é claro, vivo sob a liderança progressiva do grande Presidente Ahmed
Sékou Touré, na Guiné. Falei com pessoas em toda a África. Eu falei com
funcionários do governo e, nesses círculos, o apoio a Osagyefo Kwame Nkrumah
está crescendo aos trancos e barrancos! Minha esposa e eu visitamos a Nigéria em
30
Este é o momento oportuno – a saber, que Nixon se apropriou do slogan Black Power, esvaziando-o de
sua conotação política original – se liga na artimanha, ele declarou em um discurso de 1968 que “o que a
maioria dos militantes está pedindo não é separação, mas para ser integrado – não como suplicantes, mas
como proprietários, como empresários (...). Os programas do governo federal deveriam ser orientados
para mais propriedade Pretas, pois disso pode fluir o resto – orgulho Preto, emprego Preto, oportunidade
Preta e, sim, Poder Preto.” Daqui vem a ideia do “capitalismo preto” que, como vimos, não passa de mais
um mito, uma armadilha liberal, por se valer duma expressão cara ao próprio Kwame Ture.
fevereiro e tivemos a oportunidade de falar na Universidade de Ibadan – a mesma
universidade, aliás, que o Irmão Malcolm X falou. Eu tive o maior prazer da minha
vida quando falei na mesma plataforma que o Irmão Malcolm falou, na Nigéria.
Quando Osagyefo foi derrubado em 1965, a imprensa nigeriana disse: “Bom,
o tirano se foi, o traidor está acabado, está tudo acabado. O ditador da África, o
homem que queria a África para si mesmo, desapareceu”. Você pode perceber isso!
Eles disseram que o homem que queria a África para ele próprio estava acabado.
Esse moleque branco desenhou os limites, deu-lhes a Nigéria, e eles estavam
contentes com a Nigéria. Eu quero o bife, eu não quero as migalhas. Se a carne
pertence a mim, eu vou tê-la, ou ninguém mais vai. É assim que eu trabalho. Eu não
quero migalhas, não vou lutar por migalhas – estou lutando pelo bife. Minha vida
está nessa trilha, então eu estou indo rumo ao objetivo. Eu não vou passar por isso
de dar um passo, pegar um pequeno pedaço, pegar outro – não, o bife inteiro
pertence a mim. Mantenha suas mães longe dele; ele é meu. Está certo. E até eu
conquista-lo, continuarei em sua busca. Se tudo o que eu estou fazendo é ficar
sentado em um canto e observando vocês, não pense que esqueci, estou
esquematizando meu cérebro para conquista-lo. Entende? Você me vê encostado
no canto, não diga: “Oh, ele está acabado”. Eu não estou acabado, estou planejando
a melhor maneira de conquista-lo, e a maneira mais rápida de conquista-lo,
também. Gana será conquistada pelas massas dos ganeses. Osagyefo retornará
para Gana, e devemos apoiar esse movimento.
Continue lutando, eles não podem nos eliminar. Eles mataram muitos de
nós, e matarão muitos mais. Mas vamos estudar, nos organizar e nos preparar, e
então vamos vencer – vamos destruí-los, com a certeza de que a noite se segue ao
dia! Para uma análise final, a revolução é sempre sobre a verdade e a justiça –
sobre o que é justo. E, de todas as pessoas sobre a Terra, somos os mais justos.
***

Discurso Pan-Africanism [‘Pan-Africanismo’] se encontra em – Stokely Speaks:


From Black Power to Pan-Africanism [‘Stokely Fala: Do Poder Preto ao Pan-
Africanismo’] – que contém discursos/textos que abrangem o período entre 1965 e
1971, e consta como leitura obrigatória, a obra do nosso irmão Kwame Ture,
também conhecido por Stokely Carmichael.

[leituras complementares, nos links ativos, abaixo]

 Kwame Ture: ‘Do Poder Preto ao Pan-Africanismo’

 Carmichael e Hamilton: ‘Poder Preto’

 Malcolm X: ‘Mensagem para as bases’

 algumas obras de Osagyefo, Dr. Kwame Nkrumah

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