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Universidade de São Paulo

Escola de Engenharia de São Carlos


Departamento de Geotecnia

INTRODUÇÃO AO PROJETO DE
BARRAGENSDETERRA EDEENROCAMENTO

NÉLIO GAIOTO

2003
ficha catalográfica preparada pela Seçfo de Tratamento
da Informação do Serviço de Biblioteca - EESC/ USP

Cnioto, Nélio
Cl43i
Introdução ao proj4'>to do barragens dP. terr a
e de <:>nrQctunento I Nélio Gaioto . - São Carlos :
EESC-USI?, 2003 .
126 p. : i ! .
Inclui réterênciç:i:s bibliográficas e índice .
ISBN 8 5• 8S20S - 45- 8

1 . aarragem de têrra . 2. Barragem de


enrocamento. 1 . Projeto de b(lrragern .
4 . Const.ruçdo de bar:tdgem. T. Titulo .
ÍNDICE

~Í1TLO 1. ........................................................................................................................ 1
- ,ER.'\.LillADES ............................ ............................. ....................................................... l
/,\7RODUÇ1ÍO .............•................................. ........................ ..........................•......... ...... 1
:!FINAI.IIMIJF:S IJAS RARRA(;F.NS ................... .....................•.... ................... .............. 3
3 .PRINCIPMS TIPOS DE BARRAGENS E SU,1 SELEÇ,10 ........................ ................. 6
I.ESCOLHA DO LOCAL, PARA A IMPI..ANTAÇÃO DA BARRAGEM ................... 10
'5.TIPOS D!:: BARIU<iENS DE TERRA E DF. F.NROCAMF,NT0 ........... ..... ............... 11

CAPÍTULO 2 ........................................................................................................................ 17
l'iVESTIGAÇÕES GEOI.ÓGlCO·GEOTÉCNlCAS ............................ ................. ............ 17
?.l.lN VESTTGAÇÕES DAS FUNDAÇÔES ..................................................... ......... ......... 17
:!.2.JN VESTTGAÇÕES DOS MATERIAIS D!:: CONSTRUÇÃ0 ..... ...................... ........... 21
2.3.A TERROS EXPERIMEN7AIS ..... ..................................................... ............................ 28

CAPITULO 3 .......................................................................................................................... 31
El..ElvfENTOS PRTNCJPAJS DAS BARRAGENS ... ....... .............................. ,..................... 3 1
3. /.BORDA 1./VRF. / ·· FrPP h<>artl"" )--............•....................•..................... ....... ............ ."...... ... JI
3.2.CRISTA .................................................................. ....... ......... ............................. ..... ........ 32
.i..?.TALUDES ....................... ...... ,........................ .......... .... ..... ...................... ..................... .... 33
3. ./.(jEOMl:JRIA INTERN1\ DA SEÇÃ 0 ... .......•..................•...........•....................... ......... 33
3.5.PROTEÇÃO DOS TAl, UDES E DA CRISTA .. ....... ..... ..... .......................... ....... ... .. 35

CAPÍTULO 4 ........................................................................................................................ 39
TRATAMENTO OJ\ FUNDAÇÃ0 ................................................. ..................................... '.\9
4./.1RJNC/IEIIIA DE VEDAÇ;iO ("CUT-OFF") ..................................... ..... .........•.... ..... 39
4.2.CORTINA VI:: INJEç·.40 ........... ..... ....... ...................................... ................... ............... 39
4.J.PAREDI:: DIAFIIA(iMA ............ ..... ........................................ ....................................... 4/
4.4. TAPETE IMPERMl-.'Á Vt:l. A MON7ANTF-: ............................................................... . ./2

C·<\l'ÍTULO 5 ........................................................................................................................ 45
DRENAGEM TNTERNA ...................................................................................................... 45
5. 1. l'II.TRO EM CHAMINÍ:: ......... .......... ....... ............................... ................................. ....... 45
5.2.TRANSIÇOES NAS BARRAGENS DE ENROCMdE:NT0 ... ....... ............................ .47
5.3.TAPETE DRENANTE ..................................... .......... ..................... ................... .......... ... 48
5.4.DRENO DE PÉ .... .............................................................. ............................................. . 48
5.5. TRINCHEIRA DRENAN T/:.' ..................................................... ..... .............. ..... ............. 49
5.ó.POÇOS DE ALÍVIO ......................................................................... .............. ................ 50
5. 7.GALERJAS DE DRENA GEM ....... ........................................................... ............ ......... 51
Ct\PÍTIJU) 6 ........................ ............ .................................................................................... 53
TRATAMENTO DE CAM íNITOS PREFERENCTAJS DE PERCOLAÇÃO .......... ...... .. 53
6.1.CONTATOS 00 ATERRO COM A l-"UNDAÇÃ0 ................................................... 54
6.2.CONTATOS DO ATERRO COM ESTRUTURAS DE CONCRETO ..... ................... 56

CAPÍTULO 7 ........................................................................................................................ 63
ANJ\USES DE PERCOLAÇÃO ....... ................................................................................... 63
CAPÍTULO 8 ...•......•....•.•..•.•....•.........•......•.•....•..•.•.........•...........•..•....•.....•........................... 67
ANÁLISES DE ESTABILIDADE ........................................................................................ 67
CAPÍTULO 9 ........................................................................................................................ 71
ANÁLISES DE TENSÕES E DEFORMAÇÕES ....................... ......... ... ................. .. ... 71
CA PÍTULO 10 ........................................................................ ............................................. 75
INSTRUMENTAÇÃO ................•.......................................................................................... 75
10.I. TIPOS DE INSTRUMENTOS ....................... .............. ..... ..... ..... ............ ............ ........ 75
/0.2. PERlOOJC!JJADE DAS l.EITURAS .•.. ....... .................................. ...•......... .. ............ 78
10.J. lNTFRPRE'li\ÇÃO DOS RESULTADOS ...................•.........................•.... .... ...... 79

CAPÍTULO 11 ...................................................................................................................... 81
MÉTODOS CONSTRUTIVOS ............................................................................................ 81
11. J. 1.-:SCAVAÇÀO ............ ........................ ... .. ..... ....... .....•......... ...................... ... ......... ....... 82
11.2. TNANSPORTE ................. ....... ............ ........................... ............... .. ............................ 87
J J.J. ESPALHAMENTO .................. .............................•......... ...................... ..... ....... .......... 90
11.4. SEPARAÇÃO E MISTURA DE MATERIAIS ..................... .............................•...... <)f
11.5. CORREÇÃO DA UMIDADE.......................... ........ ..... ........................................ 92
11.6. HOMOOENEJZAÇÃO ................... . ........ ..•.......... .................... .. ................. ..... ...... 93
11.7. COMPACTAÇÃO ... ....... ............ ...................... .................................. ................. ........ 94
11.8. CONSTRUÇÃO OE ENROCAMENTOS .............................................. ....... ..... ..... 106
11.9. CONSTRUÇÃO DE BARRAGENS DE Rl:JElTO .................. ............... .......... .. .. 107
l l .10. CONSTRUÇÃO NAS ZONAS DE CONTATO ENTRE MATERIAIS /)/FERE:Nlts ... // J
li. li. DESVIO 00 RIO PARA ,t CONSTRUÇÃO DA BARRAGeM ....................... 120

RER;RÊNClAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................... .... .. ....... ............... ........ 125


APRESENTAÇÃO
O 1ani;an1c1110 de un1 novo Jivn> se1nprc se conf.1i1ui em um fato auspicioso. Na lheratur.t
16:mc:3 brnsilcir.i., eventos de~ta n,11urez.a !'Ião ainda da rnaiol' i 1nporlân1.:iiL considcrnndo a eoormt
C11renc1a de lextos e::;pccializados. A conccpc;:1o e a redação de un1 livro não se constitui c111 tarefa de
d consc<.:ução. principal,nentc quando i:slc ~ de natureza técnica. pois. além de un1 conteúdo
.lldcquado e aru;.Llizadt"t. é sen1pn: he1n \'1nda a iluslraçfio dos diferentes tôpicos ahordados com
C'U'Dlplos do próprio ;."l.ulor. l.sto se <.:oufinna. no presente caso. quando ve1n a lume a obra elo Pror.
lio Gajoto. "'latrodução ao Projeto de Barragens de Terra e Enroc:lmento''. para onde contluen1 a
peri~ncia do autor, como projcLiSI;, e profc,,or.
O lavro. t n1n· outros aspectos. n.·:-.g~tta pane d:1 enor1nt experiência brasileil'a no projeto e
ms1rução de batramcntns. que se 1raduz pela implemen1aç:lo de a lguns dos maiores
nnpreendimcncos des1:1 n,uufC./..a cnl todo o o,un<lo. Porén,. a obl'a não i;f! ~·:-.gota apenas n;t divulgação
<k ......a cullura de projc,o. 111uiLo :,o contr'ário, c:fa tc,n coino objeto princ:ipul .a preocupação cnl legar
futura~ ger::içõcs <lc .:ngcnheiros. de forn1;1 didáli<.:u, uin texto que lhes perntita iniciar. com os
..cus próprios passos. os instigantes t~Jminhos da especialidade.
O Prof. Nélio Caioto gr"duou seº" facola de Engenharia de São Carlos USP, em 1957,
lOde pertnancceu como profl!~sor. ga.Jgando todos os posto~ da carreira. até sua apose1lt:.1.c.loria co1no
Profcs:-.or Titular do Ucpan:101c:11to ele Gco1ccnia. Conl·iliou as atividades didálitàs com intensa
d.tivjdade 1~cnict1 junro f1 iniciativa privada. Ao longo da <..ua vida profissional revc a ventura de
ii::onvívcrco,n un1a .ge::1,u!i:ão de g~o1écnicos brilhantes e de pa1'licip<Jr de grandes desafios da tngcnharia
g<oh5cnica hr.bileira. Nestas cerca Uc quatro décadas de lr.ihalho voltado para a G-.::.olcl'nia, a tu(lU
c,n prujctoi, tlc váriJs das grautlt'~ barragen!- bra.,ik~ir.1~. t:xecutadas enlrc 3~ décadas de 60 e 90. e
,lo(, primeiros trechos. <lo mclrô tle São PauJo. Dcalrc o~ v;_\rio!) projeto, dt: que panicipou. pot.lcm-
,~ t itar a., b.:irr~1gens c.le Mati1nbondo. Água Vcnnelh:1. Três lrmfioo;, ·rruaçupebn. Jaçarcí. Jaguaii,
Xing<) e C'orun,h3 I! de btUTag:en!-: para contenção <lc rcjeitos para d ivcr5i1S tmprc....,as mineradora:,,
como. Araféml A lumínio Mina, Cit:r;,i.,, Vale do Rio Doce. Rio Paracatu Mineração e i',,tin~ração
Corurnbacnsc Reunida. No exterior. pa11icipou do projeto das barr~gcns de Dahn1ow1i e Bcni H;1n)lrn,
na Arj!élia. MisbJquc no Equador e Sandill:tl na Costa Rica.
Fruto e.la lon~a vivêac;ia do autor c;orno p11>fcssor e projetista. o tcx lo é ril'o cn1 infom1açõe~
e de fácil leitura e compreensão. Os l':.ipilulos estão ordcnu<los de un1a n1aneira lógi<.:a. corno no
cruniohamc:nto dn:-. ati\ idades <le pr(~jcto e <.'onstroção de unta ban..igen1.
O têXLO prcocupn-~ l"UI 1no:-.1rar ~10 iló!itor <1uc ai;: barragens de lêrr~t e 1:nrocamcn10 são. no
gcr.i.1, obras con1plcxa:,; e 01uJlilli!)cipJinarc:-.. con1 elevado conre(Jdo geotécnico. i\lén1 disto. deixa
subentendido dois Jspc<.:to:; cxtren,amcntc rclcvant1::» para ü iniciunte, qunis sejain: (i) a LluaJit.latle
dos projetos geotécnicos pode -;er rncdid.t pelo trarnmenlo dados aos detalhe, poi, "'pectos que
isofndan,cntc po.~s.an1 p:irecer sccund.lrio!'.> nu c.oatcxto ,geral da obra potlen1 ser v itais para o ~cu
bom desempenho e. t ii) o a,pecto mab crítico do dimcnsionan,cn10 é a escolha dos parâmetros de
projeto vi:-.to que as rotina~ de cálculo c n1 si sã~,. u1uitas vezes. ~in1ples. Nt:stt i:ontcxto. :.t nbr:.i
rCl1ucr para a perfeita contpreen~ão dos seus detalhes pré-re4uisi1os de Geologia ele Engenharia e de
Mecânica dos Solos.
E~te livro l.'.úroa u1na hrilll~\Jlle Lrajetória. técnica e ac:1dê1nica de seu autor e é n)otivo de
ft;gut.ijo. para n<>x. :-.cu:-. .:x-alunos e atuais coletns de trabalho, poder -aprescntá-Jo coino 111na obrJ
de retêrénciu p:lrn oc: profis~iunai:-. tiue ,ni litam na área e para os ~tlunoe- d!! graduação e de pós-
gTaJ.uaçào <.los curso:-. de engenharia ch·il e ;írta~ corrê'latas.

Benedito de Sousa Bueno


Orcncio Monjc Vilar

Oepm. de Geotccnia
Escola de Engenharia de S,in ,arlos - Universidade de São Paulo
CAPÍTULO l

GENERALIDADES

LYfROD UÇÃO

O projeto de uma barragem geralmen te está associado ao de um grande


-.:endimcnto, que poderá apre~entar <lireremt:s graus de complexidade em função
· n;ilidade para a qual será coostniída. Ele abrnnge d iversos ramos da engenharia,
.como, Hidráu lica. Hidrologia, Geologia, Mecânica dos Solos, Esratística, Mecânica,
em.cidade, Arquitetura. etc e. portanto, não podç ser elaborado por um único
.. enheiro. É o resultado dos estudos de uma equipe. liderada por um Engenheiro Chefe,
deve ter certos conhecimentos mínimos cm todas as especialidades envolvidas.
Um projeto para chegar à sua fom1a final deve passar por uma série de e tapas
ie. no caso mais geral, são as scguimes:
Planejamento
Viabi Iidade técnico-econômica
A n teprojcto
Projeto básico
Projeto executivo.
O projeto de um empreendimento, q ue inclui o maciço de uma bamigem. deve
faL.cr parte de um plano geral para o aproveitamento do rio em que deverá ser constn1 ído.
Esse planejan1cnto é iníl ucnciado por uma série de condições. tais como. topográficas.
hidrográficas. econômicas e às vezes polí1icas, que gerahneme são diferentes parn c.:ada
região. Por exemplo, no caso de Lun aproveitamento hidrelétrico. devem ser consideradas,
além do potencial hidráulico cio rio, outras eventuais fontes de energia. Para o lllclhor
aproveitamento de um rio é ncccss{1rio regularizar o seu dcílúvio natural por meio de
grnndes reservatórios, criados pelas barragens. Para que o aproveitamento do potencial
do rio seja integral. é preciso que o nível d'água de montante de uma usina alcance o
níve l de j\lsaote da próxima usina de montante, de modQ a que resulte \lllla seqüência
contínua de degraus . sem trechos intermediários não aproveitados. Por exemplo. no Rio
Orande, entre os estados de São Paulo e Mina.~ Gerais. há um aproveitamento integral
do seu potencial, desde a Usina de Camargos, nas cabcc.:eiras. até o remanso do
reservatório de Ilha Solteira, construída no Rio Paraná (Figura 1.1 ).
Na etapa de viabilidade tér1úco-econômica são realizados estudos para decidir·
se se o custo do produto l'inal. onde são incluídos custos de projeto, d~ constrnçâo, de
desapropriações, de juros do capital investido, as despesas direta~ e indiretas de operação.
fica dentro de limiles preestabelecidos. relacionados ao benefício por ele proporcionado.
DurJ nte esta etapa são analisadas diversas alt~rnativa.~. considerando-se os tipos de
J

No projeto básico é também apresentada uma sugestão de esquema para o desvio


u0 rio. a fim de permiür a execução das obras a seco. São estabelecidas vazões de
'>rojeto, para a construção d:1s ensecadciras cm época de estiagem e pai-a
dimensionamen10 dos túneis de desvio ou das seções estranguladas do rio, durante o
período de construção das obra,. Estas vaziics são calculadas, assumindo-se risrn,
correspondentes a tempos de recorrência. estabelecidos em função dos d,mos gue poderão
resultar se houver o galgamento das cnscrndciras durante a eonstrnção da barragem. A
empreiteira poderá executar a.~ ohrns de desvio. seguindo a sugestão apresentada pela
projetista ou segundo um projeto próprio. Em qualquer dos ca~os, a empreiteira assumirá
a responsabilidade de danos resultantes de eventuais galgamentos das ensccadciras, se
as vazõcs de projeto não forem ultrapassadas.
O projet o básico contem ainda um cronograma sumário para a consu·ução das
obras, o nde são estabelecidas as data.s limites para a conc.lusão do desvio do rio. das
obras civis. da instalação de equipamentos eletro-mecânicos. etc e do início da operação
do empreendimento.
Na etapa de p rojeto executivo são emitidos os documentos (desenhos e
cs1>ecificaçõcs). com todos os detalhes necessários à construção da o bra. A emissão de
cada documcmo deve antecipar. com um período ra1.0ávcl de tempo, às vezes de alguns
meses. o início dos serviços nele previsto. Para viabilizar a construção das obras no
prnzu previsto. a empreiteira deverá apresentar um cronograma detalhado. subdividindo
a barragem em trechos. cujo projeto deverá ser detalhado à medida que cada trecho for
sendo construído.
Do que foi sumariamente exposto. pode-se notar que a elaboração de um projeto.
no qual está incluída a constnição de uma barragem. processa-se de maneira gradativa.
;1 pun ir de cs1udos, os mais pn:liminarcs, até alcançar a forma linal, dctalb:1da. O
desenvolvimento do projeto é apoiado em investigações geológico-geotécnicas que. na
fase inicial, são basuune genéricas e vão se tomando cada vez mais detalhadas. ;1medida
que são eliminadas alternativas e consolidadas as soluções definitivas. Por estes motivos.
a duração de um projeto pode requerer um longo tempo. às vezes uma dezena de anos.
até a conclusão das ohra.s.

1.2 FINALIDADES DAS BARRAGENS

Uma barrngcm pode ser construída para atender a uma finalidade cspccífo.:a ou a
finalidades múltiplas, a segui r relacionadas:
Geração de énergia elétrica
Ahasteei mento de água
Controle de enchentes
Navcg.a~ão
Saneamento
[niga,·ão
Contenção de rcjeitos. etc.
8

Geralmente, o fator determinante na escolha do cipo de barragem é o custo de


constn1ção. Os fatores físicos mais importantes são discutidos a seguir.

a. Top<>grafia ·

Em primeira aproximação, a topografia é quem dita a c.~colha inicial do tipo de


barragem. Um vale apertado, situado cn1re paredes de rocha, sugere uma barragem de
rnucrl'to. Por outro lado. um vale aheno, com ombreiras de inclinação suave, sugere
uma barragem de terra. Para condições intermediárias, outras eon~ideraçôes também
têm importância, mas, como regra geral. uma boa concordância da barragem com a~
condições oaturnis é um princípio primário e seguro. A locação do vertedouro é um
item importante. que poderá ser amplamente governado pela topografia local e ler um
púso significativo na seleção final <lo tipo <le barragem.

b. Condiç<ies geológico-geotécnica das fundações

As condições da.s fundações estão relacionadas às características do seu maciço,


até uma profundidade susceptível de sofrer a influência do peso da barragem e da
percolação da água do reservatório. A!'. diferentes fundaçõe.~ comumcnte encontra<las
para a construç,'io ele barragens são as ,;eguintes:
• Fundaç.ão em rocha, que devido à sua relativamente alta capacidade de carga e
resistência à ef()sâo e percolação. oferece poucas restrições a qualquer tipo de
barragem que se queira constTuir. Assim, o fator prepon<lcranle na escolha p>L%a
a ser <> custo global de cada tipo considerado. Pode ser necessária a remoção de
rocha alterada e a injeção de fendas e de fraturas existentes.
- Fundação em cascalho (gernlmcme compacto), é aceitável para barragens de
terra. <le enrocameuto e até para pequenas barragens de grnvic1adc de concreto.
Como esta fundação é sujeita a forte percolação de água. dev.:m ser tomados
cuidados especiais para a sua impermeabilização.
• ~'undação em silte ou areia fina, pode ser aceita para barragens de gravidade de
pequena altura e para barragens de terra. É, entretanto, inadcqua<la para barragens
de enrocamenm. Os principais problemas sãn relacionados a recalques, ·'piping",
perdas excessivas de ,ígua e erosão do pé de jusante da barragem.
• Fundação ar~'ÍJosa. aceitável apenas para barragen; de terra. Requerem atenção
especial os problema.~ de estabi lidade e de recalques excessivos.
• Fundação heterogênea. Ocasionalmente podem ocorrer situações em que a
fundação éconstiruída crn parte por rocha e cm parte por material compressível.
Nestas co11<lições. somente harragens <le terra são admissíveis. Mesmo assim.
são requeridos cuida<los espcciai~ n,1 elaboração do projeto e geralmente cada
local requer tratamento diferente, sendo muito importante contar-se com a
colaboração de engenheiros experientes c::m tais tipos de problema.
9

• \lateriais de construção

Os materiais que devem estar disponíveis nas proxirnidadc.s do local de consu·uc;ãn


da barragem são, basicameme, solo. para os aterros. rocha. para os enrocamcntos e
materiais granulares. para os ftltros, drenos. transiçôes e concreto.
Uma distância curta de 1ransporte. espeeialmenle para ús matc,iais que são usados
em grande quantidade, representa uma redução sensível no custo cotai da obra. O tipo
de barragem l1lais econômico pode ser justamente aquele cujos materiais se encontram
em grande quantidade dentro de uma distância ra,:oável do local de construção. Muita.~
vezes, a necessidade de se escavar grande quantidade de rocha. para a implantação das
estruturas de concreto cm profundidades adequadas ou para a abertura de túneis, pode
orientar a escolha de uma barragem do tipo e nrnca.mcmo. aproveitando-se a
disponibilidade desse material que será obrig.i1oria1ueme escavado.

d. Dimensões e locação do wnedouro

O vertedouro é lllll órgão vital da bmngem. Muicas ve7,es o seu tamanho e tipo, e
as restrições parn a sua locação são fatores imponanrcs na escolha do tipo de barragem.
Os requisitos do vcncdouro são ditados pelas condições hidrológicas do rio.
indepcnde111es das condições do local, do tipo e do tamanho da barragem. A seleção do
tipo de vertedou ro é uinuenciada pela magnitude das va,-õcs que por ele devem passar.
Nos rios com grande potencial de cheias. o vertedouro é urna estruturn dominante e a
barragem pode merecer consideração secundária.
O custo de construção de um grande vertedouro freqüentemente representa uma
considerável parcela do cus10 lotai da obra. Nesses casos, a combinação do vert.:douro
e da barragem para constituir um,t única estrntura pode ser vantajosa. opiando-se assim
po r uma barragem -vertedouro de concreto. Norma lmente, não se considera a
possibilidade de construir o vertedouro sobre o aterro ou sobre o enrocamemo. devido
a uma série de problemas. tais como, recalques difcrenciais provocados pelo adensamento
não uniforme do maciço da barragem. a nc.ccssidade de cuidados especiais para se evitar
o fissuramento do concreto e a abertura de frestas que pcnnitiriam a fuga de água através
do contato com o aterro. provocando '·piping" ou a lavagem dos materiais adjacentes.
Além disso. a necessidade de se aguardar a conclusão da barragem para a construção do
vertedouro, pode acmTctar urna atraso consider.ívcl no cronograma da obra.
Silo comuns os aJTanjos que utilizam um canal escavado cm urna das ombreiras,
além dos limites da barragem. para a implantação do vertedouro. Nessc.s casos. o maciço
da bmrngcm, de teJTa ou decnrocamento, ficar:, completamente independente da estrutura
do vertedouro.

e. Condiçôe, do meio ambiente


10

Nos últimos anos as considerações do meio ambiente têm assumido grande


imponância no projeto de barragens. A principal influência que o meio ambiente pode
exercer sobre a escolha do tipo de ba1Tagem diz respeito à necessidade de máxima
prmeção para a região que pode ser afetada pelo tipo de barragem, suas dimensões,
locação do vertedouro e demais obras pcninentes. Nenhuma baingcm pode ser hoje
construída sem que se elabore um relatório de impacto ao meio a,nbiente (RIMA).
demonstrando-se que a obra não iJ"á comprometer as condições ambientais ela região.
Em certos casos, os custos cfas providências para a pro1eç:lo do meio ambiente podem
acrescer substancialmente o custo 101al <la obrn.

f. Condições climáticas

As condições climáricas podem influir significativamente na escolha do tipo de


barragem. Nas regiões de grande pluviosidade. a compactação de aterros argilosos fica
ba.5tante prejudicada. pelo excesso de umidade que é transmitido ao solo. tanto nas
áreas c.k empré,timo. cot110 à pr<Ípria barr-dgcm. Nesses casos, pode ser vantajosa a
seleção de uma barragem de enrocamento. com a vedação constituída de unia núcleo
delgado de terra ou de uma laje de concreto a montante. As condições climática., também
podem infl uir no processo de escavação das áreas de empréstimo, determinando a
exploração dos solos em áreas reduzidas e. portanto. em maior profundidade, em função
da sua umidade natural e das condições de evaporação do ar. Este procedimento promove
a mistura dos solos mais profundo~ com os mais superficiais. dificultando a adoção de
um zoneamento na seção tnmsversal da barragem.

g. Experiência de construção

Se as empreiteiras que poder-Jo ser contratadas possuem grnnde experiência em


cercos tipos de barragens e. vice-versa. se não houver tradição na construção de omros
tipos, a escolha fi nal do tipo de barragem poderá ser influenciada por esta condição.
Esta decisão poderá ser tomada. principalmente quando a., estimativas de cusws. na
fase de projeto preliminar. não aprc~cntarem diferenças significati vas entre uma e
outra ahemativa. Por exemplo, no Brasi l. onde a experiênc ia de construção entre as
empreiteiras nacionais é muito grande em obras de terra e de e,wocamento, a seleção
de uma barragem de concreto em arC(>, ficaria prejudicada, se os custos das alternati vas
fossem da mesma ordem ele grandeza.

1.4 ESCOLHA DO LOCAL PARA A IMPLANTAÇ..\O DA BARRAGEM

A escolha do local para a implantação da barragem é, basicamente, in1luenciada


pelos principais fatores citados no item anterior. O primeiro deles é a topografia. De
posse de uma planta topográfica regioJlal. procura-se inicialmeme adaptar o eixo da
11

barragem cm um local onde o vale do rio apresenta-se mais cstrciro. abaixo da curva de
nível do futuro reservatório, com o objetivo de minimizar o volume do maciço. São
a,,sim escolhidas diversas alternativa~. que serão analisadas. considerando-se tamb6m
outros fatores, pm,1 que se alcance a melhor solução técnico-econômica.
As condições geol6gico-geotécnicas do local são muito imponantes, pois
detem,i nam os tratamentos necessários para atender aos problemas de estabil idade,
perco lação de água e deformabi!idade da bam1gem. Assim sendo, um local que a primeira
vista parece ser ma.is vantajoso. por corresponder a uma barragem de menor comprimento.
poderá requerer tratamentos extrcmameme onerosos. de escavação. impermeabilização,
drenagem, etc. que venham a se constituir em uma parcela considerável no custo tmal
da barragem.
A distância de transporte e a qualidade dos mat1!riais de construção também são
fatores a se considerar na escolha do eixo da bam1gem. As condições para a implantação
das estruturas de concreto, como o vertedouro. a tomada d'água, a casa de força, as
eclusas para navegação. etc. também são importantes.
O desvio do r io. durame o período de construção da barragem. às vezes é um
fator condicionante para a escolha do local do eixo. Um local mLlito estreito requer a
constmção de túneis. enquanto que um vale mais abe110 pennite a escavação de um
canal ou a const rução de galerias tlc concrew armado. Estas alternativas poderão
apresentar custos e requerer prazos de consuução significativamente diferentes. a ponto
de influenciar na dcósão da escolha do local.
A possibilidade de se construir o vertedouro em uma cela topográfica, isolado
do maciço da barragem. pode reprc;.cntar uma vantagem hidráu Iica ou econômica.
conslituindo-se em outro fator condicionante para a escolha do local da barragem.

1.5 TIPOS DE BARRAGENS DE TERRI\ E DE ENROCAMENTO

Dependendo das disponib il idades dos materiais de construção. as seções


transversais das harrngens de terra e de enrocamento podem apresentar algumas variações
nos seus ripos.
As barragens de terra podem ser de seção homogênea. zoncad,1 ou de aterro
hidráulico. conforme é ilustrado na f igura l .ó.
As barragens de seção homogênea sao constrnídas nos locais onde as áreas de
empréstimo não apresentam grandes variações em relação ao tipo de material. Por outro
lado. quando há facil idades de se explorar as áreas de empréstimo de forma discrim inada
em relação aos materiais argilosos ou granulares. pode-se elaborar um projeto
po,i,ionando-se esses materiais de maneira a constituírem zonas distintas na scçiio
transversal da barragem. Assim, dá-se preferência à colocação dos materiais ma is grossos
e. portanto. de maior resistência ao cisalhamcnt.o, ,ia.s regiões próximas aos taludes
(espaldares) e dos materiais mais argilosos. que. por sua vez. apresentam menor
permeabilidade e maior capacidade de se deformarem sem chegar à ruptura. na região
12

ccnlral (núdco). Este expediente garante maior estabilidade à barragem, pois as


superfícies potenciais de csc01Tcgamento situam-se. cm sua maior pane. denu·o <la~
.wnas dos espaldares. ao mesmo tempo que a zona centra l, onde as tensões são mais
e levadas e. p01tanto, sujeita a maiores recalques, é ocupada por materiais mais pláslicos.
que ainda proporcionam maior estanqueidade à seção.
As barragens de aterro hidráulico são aquelas cuja construção é real izada
transportando-se os materiais em forma de lama, por meio de tubulações ou de calhas,
que.: são lançados eutre diques de contenção laterais. onde se dá a deposição dos sólidos
e a d renagem de uma pmte da água em excesso. Como o solo é apenas lançado, sem
compactação. sua resistência é muito baixa, e os taludes devem ser obrigatoriamente
mais suaves que os das ban-:tgcns construídas com aterro compactado.
Esse tipo de barragem foi muito utiliz.ado no início do século XX. até a década
de 1940, quando nfto se dispunha dos atuais equipamentos de escavação. transporte e
compactação. Entreta.nlo. ap6s a ruptura de algumas barragens. como a de Fort Pcck.
ocorrida cm 1938. nos Estados Unidos, por liquefação do aterro hidráulico. provocada
por um terremoto. esse processo foi praticamente abandonado em quase l!)do o mundo.
Na Rússia. esse método de constn1ção ainda é muito utilizado. existindo lá mais de urna
centena de barragens construídas, o q ue con-esponclc a mais de 800 milhões de metros
cúbicos de aterro hidráuJico. A experiência brasileira em aten-o hidráulico limitou-se.
basicamente. às baJTagens construídas pela Elcrropaulo/Light, cm número de 16, entTe
l 906 e 1941, sendo a maior delas a B,magem do Rio Grande. que forma o reservatório
Billings. com altura de 30 metros e volume de 2,5 milhôes de metros cúbicos.

il) homogênea b}zoncada

NA.

~~~~~-w.""~~~
· ~~~ ,z,;~~~~~

e) alérro hidráu:lico

Figura 1.6 Tipos de baJTagens de cerra


BaJTagens para contenção de rcjeitos de mineração também têm sido construídas
/3

"11ll1 de aterro hidráulico, ou seja, aprovei1ando-se o próprio rejeito como material


~ mtrução, quando este apresenta um teor razoávd c.k parúculas grossas, acima da
ra # 200. para que ocorra uma tlrcoagem mais r.ípida da água em excesso e o
.c:qu~mc ganho de resis1ência
As barragens de enrocamemo são basicamcnlc dcdoi, tipos: barragem com núcleo
= e barragem com membrana impermeável. O núcleo de tcrr.i pode ser vertical ou
~.mado, espc.~so o u delgado. confonne é moslradt> na F ig ura 1.7. O expedience de
mar o núcleo para montante aprescnm a conveniência de dar maior estabilidade ao
.ade de jusante, uma vez que as superfícies po1cneiais de rupmra sob esse talude
·,am uma extensão menor do núcleo. que é cons1mído com ma1eriais de menor
. 1stência que os dos espaldares. Por ouiro lado, a estabi lidade do talude de montante
__ prejudicada. mas ela é compensad:1 pela pressão que o reservatório exerce sobre o
rule, cuja resul1an1e é uma força estabilizante. Entretanto. o reservatório não pode
frer re baixa mentos, para que a estabilidade do ialude de montanlc não fique
mprometida. Nessas condições, o núcleo de terra somente podení ser inclinado se
uver garantias de que o reservatório não estará s ujeito a rebaixamcmos.
A membra na impermeável pode ser posicionada no talude de mon1ante ou no
...ntro da seção da barragem. Este último tipo é mai.~ raro. e nco ntrando-se algum~
"-im!gens mais antigas com paredes imcmas de concreto. A1Ualmc111e. 1em , ido u1ilizado
~..increto asfál1ico. lançado e compac1ado concom itantemenlc com as camadas de
enrocamento, como elt:mcntll dt' vedação .
As bauagens de e nrocamento com membrana impermeável a moman1e tiveram
,ua origem na Calif\Smia, Esiados Unidos. no início do século XX, ~onstruídas com o
obje1ivo de armazenar água para os processos de mineração. Os mineiros utilizavam as
rochas escavadas na extração do~ minérios. para formar o maciço da barragem e a
impermeabi lização era conscicuída de uma estrutura de pranchas de madeira. Também
foram utilizadas membranas de chapas de aço e de asfaho.
Arualmente. face ao grande desenvolvimento dos cquipllncotos para escavação,
transporte e compactação de enrocamentos, corno mrnbém da tecnologia de çoncreto,
as membranas de montante têm ~ido construídas qua~e que exclusivamente de coocrcro
armado. constituindo a~ denominadas Barragens de Enrocmnento com race de Concreto.
A espessura da laje de concreto é variável. com 0.30 111. no topo. acrescida de cerca de
0.3% da profundidade da água do reservatório. na respectiva elevação. F, construída cm
painéis, com cerca de 16 m de largura_ pelo processo de formas deslizantes, em uma ou
duas etapa\, reduzindo-se. assim. o número de juntas horizontais. No pé da batTagem.
sobre a fundação. a laje é mais espe~sa ( plimo ), com largura 'Cquj valente a um vigésimo
ou a um décimo da altura da barragem. quando consrruícla sobre rocha sã o u rocha
alterada. respcctivarneme. No topo da laje, geralmente é construído um muro de arrimo,
o que permite diminuir o volume de enrocamen10.
Nas jun1as do concreto são colocados vcdajun1as speciais, de PVC e de cobri!.
Entre a laje e o enrncmnento são imroduzidas 1,onas de transição. construídics cm camada.~
14

Núdoo CEM'\~ Espesso

Nücieo central Delgado

Núcleo tnciinoc:to

Figura 1.7 Barragens de enrocamento com núcleo de terra


horizontais, compactadas, procedendo-se 0tt1ra compactaçào. sobre o talude. antes do
lançamento do concreto.
Na Figura 1.8 é mostrada uma seção transversal típica da Barragem de Foz do
Areia. com 160 metros de altura. cons1rníd:1 no Rio Iguaçu. entre os estados do Paraná
e de S~ nta C..acarina. en1re 1975 e 1980 (Pinto et al. 198 1).
15

parapoito eL 749,00 1eixo do barragem


_j_ 1
ot. 744.00 (N.A. máximo llOrmal) et 748.00 (co,oaménto)

face de eooetc.~,'

1° es1. et Gas,oo

IC J
,Amo)

dique

Figura 1.8 Barragem de Fo.: do Areia - Seção Típica (apud Pinto ct ai. 1981}

TABELA DE MA TERIAIS
CLASS IFI· ME.TODO DE DADOS DÊ
MATERIAL ZONA
CACÂO COLOCACÂO COMPACTAÇÃO
~
IA Lançado ...
Ba'.')alh> 1naciço Co1npactado ern Rolo vibnul,rio 4 p.;.,ssad~,~
t8
(até 25% dé camadas de 0.80m 25% de á!!,ua (1 O ton. J
brecha basáltica) Compactado em Rolo vibrntório 4 passadas
IC C<.tn)ac.las de l ,6<)m 25% de ,,gua ( 1O tonl_
E11roc::1111enro Intercalação de
11) Con1pac.:rado e,n Rolo vihratúrio ~ passadas
basalto rnaciç<> e
camadas de 0.80m 2.5'iii <lc águ.a ( 10 lon.)
rocha b~1:-.állica
Ba~:dto maciço
1- rochas sclcc. IE
Rfx:ha de foce
---
de 0.80m (min.) colocada
()radua<lu 111cnor Camadas: rolo vibratório
'I\ansiç.ão 11
Bri 1a corrida de que 1) 6 .. min. 4 passad«s. race: rolo
li B
hasalto 111aciço cornpa<.:lada cm vihrat6tio rnio. 6 pas...~ada,
camada~ 0.4l)m ascenden1es
Tv1aterial Menor que~··
A terro Ili in1permeável
Rolo poeu,ntílico ou
IIID ctnnpactada e1n
equipan1ento de con~tn1ção
- c:~1p a de (CIT'J camadas - o..~Om
17

CAPÍTULO 2
INVESTIGAÇÕES GEOLÓGICO-GEOTÉCNICAS

As iovestigações geológico-gcotécuicas para a construção de uma barrngem são


realizadas em diversas etapas. acompanhando a evolução gradativa do projeto.
In icialmente são feitas investigações expeditas, com base em observações de superfície.
apoiadas em plantas topográfica~. mapas geológicos e fotografias aéreas da região. A
medida em que sfto eliminadas alternativas de eixos, tipos e mTanjos das estruturas,
para a definição de um projeto fi nal . as investigações são realizadas com maiores detalhes,
concentradas em áreas mais específicas. Basicamente. são realizadas para atender a
duas finalidades pri ncipais: investigação das fundaçi>es no local da construção da
ban-agem e pe~4uisa dos materiais de construçfio.
É importante, também. que as investigações geológicas se estendam para toda a
área do reserva1ório, pois a elevação do len~ol frefüico pode dar origem a sérios
problemas. Em 1963, ocorreu um grande escorregamento no reservat<írio da Barragem
de Vajont, na Itália, que provocou a formação de uma imensa onda. que ullrapassou a
crista da bam,gem e destruiu a cidade de Longmrnne, situada a jusante. com a perda de
25()(} vidas humanas. Em 60 segundos, o reservatório ticou obstruído, com mais de 200
milhões de metros cúbicos de terra e de rocha, em uma extensão de cerca de 1.5 km. O
escorregamento foi provocado pela ativação de uma falha geológica, após o enchimento
do reservatório.

2.1 INVESTIGAÇÕES DAS FUNDAÇÕES

O maciço da fundação, que será aforado pela construção da barragem, precisa ser
investigado, para se dete r111inar os três parftrnetros mais importantes para o
desenvolvimento do projeto, os quais sejam: resistência. permeabilidade e
compressibilidade. Estes parâmetros são determinados a1ravé.~ de processos a seguir
descritos, à medida que os estudos evoluem, da forma geral para a particular, isto é,
partindo-se da região na qual a barragem está contida e concentrando-se sucessivamente
ern áreas mais restritas, onde os detalhes são melhor investigados.

a. Investigações de superfície

Os dados principais que podem ser obtidos através de investigações de superfíc ie


são:
litologia de toda a regiiio:
profundidade de recobrimento;
profundidade de intcmpcrismo:
18

mergulho. <lireçito. espessura. composição e extensão de junta, e cisalhamenlos;


orientação e continuidade de juntas.
Rcsuhados de en~aios já realizados em ma1e1iais de fundação similares podem
ser utilizados para estimativas das propriedades íísicas da rocha de fundaçiío, inclusive
de materiais de falhas. Todos os mapas topográficos. geológicos e fotografias aéreas
disponíveis da área devem serutiliza<los.ju1Hame111ecom as observações de aíloramcnlos
naturais. cortes de estradas, pedreiras, poços. etc. A história geológica da região deve
ser estudada, particu lam1ente se a geologia é comple.xa. Esses estudos po<lem auxi liar
na programação <las investigações de subsuperfície, pum o levantamento de condições
fl{ltcncialrnente perigosas da fundação.
Na fase de escavações para a construção da banagem, as condições geológicas
devem ser comparadas com as condições anteriormente levantadas. Os geólogos e
engenhe iros deverão considerar mi l)uciosamcnte qualquer mudança tia geologia e
verificar a sua importância no projeto. Os desenhos ·\orno construído" de geologia
devem conter todas as revisões requeridas pelas mudanças da.s condições geológicas,
visto que os problemas de operação e de manutenção da barragem podem requerer o
conhecimento detalhado das condições geológicas reais.

b. Sondagens a percussão

São utilizadas para a investigação das camadas que são penetráveis pela ferramenta
de percussão. Geralrnemc, de metro cm metro. são colhidas amostrns deformadas, para
a realização de ensaios d.: caracterização em laboratório e decenninados os índices de
resistência à penetração. SPT, sendo assim possível caracterizar o terreno <le fundação
e avali ar a sua resistência e deformabi Iidade. Nos furos de sondagens são ainda realizados
ensaios de in filtração de água. pata aval iação da permeabilidade do maciço . .A partir
desses resullados. pode-se programar a retirada de amostras i11deformadas.
representativas das camadas da fundação, para determinação dos parâmcu·os geotécnicos
que interessam ao projeto d:1 harrngem. Eslas amostra.s podem ser extraídas com a abe1tura
de poços ou por· meio de amostradore.s especiais, em furos de sondagem. em níveis
abaixo do lençol freático.

e. Poços e trincheiras ele inspeção

Além da retirada de amostras indeformadas. os poços permitem a inspeção visual


e tátil do subsolo. Acima do le11r.;ol freático. geralmente. os poços podem ser aherros
sem quaisquer escoramentos. Abaixo dele, a sua continuidade requer a colocação de
escoras e de sistema para o seu rebaixamento. Com auxílio de uma ferramenta. tais
como. uma chave de fenda ou ele um canivete, um engenheiro experiente consegue
inferi r informações importantes, para avaliar a resistência e a compre~sibilidade da
fu ndação. Estas informações fornecem subsídios para o proj eto ele escavação das
19

....c'-1Ções. às vezes mais importantes que os resultados dos ens,úos de laboratório


zados com amoslr.i.s indeformadas.
Quando se deseja inspecionar camadas do subsolo em maior extensão,
principalmente nas ombreiras. programa-se a abertura de trincheiras. examinando-se.
em continuidade. as suas paredes e o seu fundo.

J. Ensaios de laboratório

As amostras indeformadas extraídas dos poços são inicialmente submetidas a


ensaios de caracterização, tais como. limites de liquidez e de plasticidade. granulometria.
massa específica dos !,>Tãos e de compactação Proctor no,mal. Os resultados destes
ensaios. juntameme com os dados ohtidos a1ravés das sondagens a percussão e dos
poços de inspeção. permitem a seleção de amostras representativas do subsolo da
fundação, para a determinação dos parâmetros de resistência, permeabilidade e
compressibilidade, necessários às analises do projeto.
Para a deccrminação <las envoltória~ de resistência ao cisalhamen10, recorre-se.
principalmente. aos ensaios de compressão rriaxial, dos tipos adensado-rápido. drenado,
não saturados e samrados. Quando há indícios de clescominuidades. constituindo planos
de menor rcsis1Gncia, indicando que já ocorrcnun dcslocmncnro~ nas camadas do subsolo,
a ponto de ultrapassar a resistência de pico. é imponante dctcnninar-se a resistência
residual ao longo desses planos. Esta determinação é feita através de ensaios de
cisalhamcnco direto ou de eisalhamento torsional. fa7.endo-se coincidir os planos de
ruptura com os das descontinuidades.

e. Sondagens rotativas

Abaixo dos nívejs impenetráveis das ferramentas de sondagem a percussão. a


investigação da fundac;iio prossegue por meio de sondagens rotativas. Estas sondagens.
que utilizam na perfuração coroas com diamantes. conseguem extrair amostras cilíndricas
de rocha. que são denominadas testemunhos. Para facilitar o seu exame e classificação,
os testemunhos são alojados cm caixas de um metm de comprimento. onde são anotadas
as suas profundidades e fotografadas. Dos testemunhos são rcüradas as seguintes
informações básicas p,u-a o projeto da ban-agem:
classificação geológica da rocha:
grau de alteração;
porcentagem <lc recuperação do testemunho;
número de fraturas por metro;
RQD ('"rock quality designation·• = somatória d<>s c<,mprimcntos dos trechos
com mais de 1O cm/comprimento total do testemunho. em porcentagem).
Amedida em que a sondagem avança, são realizados ensaios de perda d' água. para
avaliação da permeabilidade média de trecho~ da fundação. geralmente <le 3 em 3
mergulho, direção, espessura, composição e extensão de j umas e cisalhamentos:
oriemação e cominuidade de juntas.
Resultados de ensaios já realizados em materiais de fundação simi lares podem
ser utilizados para estimativas das propriedades físicas da rocha de fundação, inclusive
de mate.riais de falhas. Todos os mapas topográficos, geológicos e fotografias aéreas
disponíveis da (u·ca devem ser uri lizados, juntamente com as observações de at1oramcntos
naturais. cortes de estradas, pedreiras, poços, etc. A história geológica da região deve
ser estudada, particularmente se a geologia é complexa. Esses estudos podem auxiliar
na programação das investigações de subsupcrfície, para o levantamento de condições
potencial mente perigosas da fundação.
Na fase de escavações para a construção da barragem, as condições geológicas
devem ser comparadas com as condições anteriormente levantada,. Os geólogos e
engenheiros deverão considerar mii,uciosamente qualquer mudança da geologia e
verificar a sua impo11ância no projeto. Os desenhos "como constru ído" de geologia
devem comer todas as revisões requeridas pelas mudanças das condições geológicas,
visto que os problema, de opernção e de manutenção da ba1ngem podem requerer o
conhecimento detalhado das condições geo16gicas reais.

b. Sondagens a percussão

São util izadas para a investigação das camadas que são penetráveis pela ferramenta
de percussão. Geralmente, de metro em metro, são colhidas amostrns deformadas, para
a realização de ensaios de caracterização em laboratório e determinados os índices de
resistência à penetraçno, SPT, sendo assim possível caracterizar o terreno de fundação
e avali ar a sua resistência e deformabi Iidade. Nos furos de sondagens são ainda real izados
ensaios de infiltração de água, pru·a avaliação da pern\eabilidade do maciço ..A partir
desses resultados, pode-se programar a retirada de amostras ind cformadas.
representativas das cmnadas da fu ndação, para determinação dos parâmcu·os geotécnicos
que interessam ao projeto da bmrngem. Estas amostras podem ser extraídas com a abe11ura
de poços ou por meio de amostradores especiais, em furos de sondagem, em níveis
abaixo do leoçol freático.

e. Poços e uincheiras de inspeção

Além da retirada tlc amostra, indeformadas, os poços permitem a inspeção visual


e tfüi l do subsolo. Acima do lençol freático, geralmente. os poços podem ser abertos
sem quaisquer escoramentos, Abaixo dele, a sua continuidade requer a colocação de
escoras e de sistema para o seu rebaixamento. Com auxílio de uma ferramenta, tais
como, urna chave de fenda ou de um canivete, um engenheiro experiente consegue
inferi r informações imponantes. para avaliar a resistência e a compressibil idade da
fundação. Estas in fonnações fornecem subsíd ios para o projeto de escavação das
19

fundaçi\es. às ve7es mais importantes que os resu ltados dos ensaios de laboratório
realizados com amostras indefonnadas.
Quando se <.k~eja inspecionar camadas do subso lo em maior extensão.
principalmente nas ombreiras. programa-se a abertura de trincheiras, examinando-se,
em continuidade. as suas paredes e o seu fundo.

d. Ensaios de laboratório

As an1ostras indeformadas extraídas dos poços são inicialmente submetidas a


ensaios de caracterização. lais como, limites de liquidez e de plasticidade, granulometria,
massa específica do, grãos e de compactação Proctor n01mal. Os resultados destes
ensaios, juntamente com os dados obtidos alTavés das sondagens a percussào e dos
poços de insp~ção. permitem a seleção de amostras representativas do subsolo da
fundação, para a determinação dos parâmetros de resistência, permeabilidade e
compressibilidade. necessários ;!l; anal ises do projeto.
Para a determinação das envohó.rias de resistência ao cisalbamento, recorre-se,
principalmente. aos ensaios de compressão triaxial. dos tipos adensado-rápido, drenado,
não saturados e saturados. Qu,u1do bá indícios de descominuidade.s. constituindo planos
de menor resistência, indieando que já ocorreram deslocamentos na~ camadas do subsolo.
a ponlo de ultrapassar a resislênda de pico, é importante determi nar-se: a resistência
re~idual ao longo desses planos. Esta determinação é feita através de ensaios de
cisalhamento direto ou de cisalbamento torsional. fazendo-se coincidir os planos de
ruptura com os das dcsconlÍlluidades.

e. Sondagens rotativas

Abaixo dos níveis impenetráveis das ferramentas de sondagem a percussão, a


investigação da l'undação prossegue por meio de sondagens rotalivas. fatas sondagens,
que utilizam 113 perfuração coroas com diamantes, conseguem extrair amostras cilíndricas
de rocha. que sfto denominadas testemunhos. Para faci litar o seu exame e: classificação.
os testemunhos são alojados cm c.aixas de um metro de comprimento. onde são anotada,
as suas profundidades e fotog:rafadas. Dos testemunhos ~ão retiradas as seg:uintes
informações hásicas para o projeto da harragem:
classificação geológica da rocha;
grau de alteração:
p(>rccntagcm de recuperação do testemunho;
número de frmuras por metro;
RQD ("rock quality dcsignalion .. = somatória dos comprimentos dos trechos
com mais de l Ocm/comprimento total do 1cstcmunho. em porcentagem).
À medida em que a sondagem avança. são rei<lizados ensaios de perda d' água, para
avaliação da pcrme3bilidade média de trechos da fundação. geralmente de 3 em 3
20

metros. Estes ensaios são realizados, isolando-s<.: os trechos po r meio tle o hturadores e
injetando-se água sob prc.ssão controlada, meclintlo-se a vazão. a pós a sua estabi lização.
Geralmente são utilizados uês estágios ascendentes de pressão e outros dois descendentes.
c.01upatíveis com os níveis de pressão hidráulica que o reservatório irá exercer sobre a
fundação. nas profundidades em que está sendo investigada. Os resultados destes ensaios
são expressos em valores de perda d'água específica. ou seja. em litros por m inuto. po r
metro, por atmosfera de pressão. q ue podem ser tra nsformados em valores de
"pcrmeahilidade equivaleme".
Com os testemunhos tias sondagens pode-se preparar corpos de prova. para ensaios
de compressão simples. Entretamo, estes re~ultado~ não represen tam a resistência nem
a deforruabiHdade do maciço rochoso. pois os corpos de prova não incorporam as
descontinuidades existentes na fundação, ma;. podem fornece r info1maçôcs úteis para
avaliação do seu comportamento. Quando é necessário conhecer-se os parâmeLro, de
resistência e deformabilidadc cm horizomes específicos da rocha de fundação. como
por exemplo. em uma j unta falha. pode-se recorrer a ensaios de cisalhamento ·'in situ·•.
Por meio de poços e/ou 6'lllcrias, chega-se ao hori1.ontc a ensaiar, recortando-se um
bloco que contem a descontinuidade e. por meio de macacos hidráulicos, a plicam-se as
pressões nonnal e cisalhante, consu·uintlo-se gráficos das compressôes e deslocamentos,
em função das tensões aplicadas.

f. Sondagens sísmicas

Por meio de medida~ indi retas. tais como. resistivitlatle do solo. velocidade de
propagação de ondas, e rc, pode-se avaliar as características de uma fu ndação ao lo ngo
de uma linha re ta. Sondagens sísmic.as de refração podem ser realizada~. medindo-se a~
velocidades de propagação de ondas elásúcas. provocadas por uma detonação na
supc1i'ície ou em uma perforação, para obter-se infonuações sobre di ferentes horizontes
de solo e de rocha em uma seção da fundação. Os resuhatlos <.lestas medidas, tlcvidamentc
interpretados e apoiados nos dados obtidos de alguns perfis de ,ondagens realizadas
nessa seção, podem revelar a existência ele cenas descontinuidades, que somente seriam
determinada~ com a realização de um grande número de sondagens diretas. A~sim. esse
tipo de investigação pode aux iliar na programação das investigaçôes, podendo-se ter
um melhor c.onhec.nuento do maciço de fundação da bmTagem. co m menores custos e
prazos.

g. Ensaios de injetabilidade

Quando há necessidatle de tliminuir a permeabilidade de um maciço rochoso.


pode-se recorrer a injeções de cimento ou de outros preparados químicos. como si Iicatos.
resinas, etc. Para se elaborar um programa de injeção de cimento é necessário conhecer
inicialmente o i;rau de injctabilidadc da rocha e a redução da pcnncabilidade que se
pode conseguir.

1
21

Os ensaios de injetabilidade geralmcme s,to realizados cm uma área reprcscmativa


ua fundação yue se pretende tratar por injeção, na fase <lo projeto executivo, quando a
empreiteira já se instalou no canteiro da obra. lnicialmence é injetada uma linha de
furos, com espaçamento da ordem de 10 metros e. posteriormente, em outras linhas
paralelas. reduzindo-se grndalivameme pd.i mc.:tadc as distâncias entre furos. à medida
que os furos intennedi,kios vão fornecendo info1maçõcs sobre a eficiência das injeções
praticadas nos furos anteriores.
As injeções são processadas com diferente.s valores de pressão e de relação âgua/
cimento. observando-se as quamidade.s de cimento injetado e as reduções do coeficiente
de penneahil idade. Quanto maior a pressão e a relação água/ci n1ento, maior a penetração
da calda. Existem duas opinif>es fom1adas. em relação à ordem de grandeza das pressões
a serem aplicadas nas injeções de cimento: a dos técnicos americanos, que preferem
injetar com haixa pressão de. no máximo. 25 kPa, por melro de profundidade, para não
provocar o levantamento do n1aciço e a dos europeus, noLadamente dos rranceses. que
especilicmn pre,sõe, elevadas, de até 100 kPa, por metro de profundidade, com o objetivo
de promover maior penetração da calda. Nas fundações das barragens construídas no
Brasil, as projetistas têm especificado valores intennediários. da ordem de 50 kPa, por
metm de profundidade.

2.2 INVESTIGAÇÕES DOS MATERJAIS DE CONSTRUÇÃO

a. Materiais terrosos

As áreas de empréstimo 4uc poderão fornecer materiais terrosos para a construção


dos ate1Tos da barragem deverão ser investigadas, também com o obje(ivo de se
determinar os parâmetros de resistência, permeabilidade e compressibilidade,
necessários às analises do projeto. Nas investigações faz-se também uma avaliação do~
volumes disponíveb dos mateliais. em fun~ão d<: sua distfu1cia de transporte até os
locais de lançamento. Como o custo de transporte representa qua.,e sempre a maior
parcela ()o custo toml do aterro compactado. é imporlante que as áreas de empréstimo
estejam o mais próximo possível da barragem. Às vezes. dá-se preferência à exploração
de materiais de qualidade inferior, por estarem estes locali1.ados nas viónhanças da
baiTagem. cm relação a outros. de melhor qualidatk. mas que necessitam ser tra1ispo1tados
de gramk distância.
Como os materiais irão sofrer uma série de transformações físicas, antes de
constituírem os aterros ~ompactados. ou seja. escavação, transporte. lançamento,
Lmtamcmos e compactação. não há interesse cm se determinar as suas propriedades nas
condi~ões cm que eles se enc(lntram nas áreas <lc empréstimo (com exceção da umidade
natural. para se vcri ficar a necessidade de trntamemos, de irrigação ou de sccag.;m,
antes da compactação). Por este motivo, não há necessidade de extração de amostras
indcformadas. como foi programad(l nas investigações <la fundação. A..,sim. antes de
22

serem submetidas aos ensaios para a determinação dos seus parfunetros geotécnicos, as
amostra~ deverão ser preparadas, através de técnicas de laboratório, de forma a
aprcscmarem condições semelhamcs às do aterro compactado.
Com(l os ensaios para detenninação dos parâmetros de projew requerem muito
tempo para a sua realização e são de CllstOs relativamente altos. somence algumas
amostras. as mais representativas. são selecionadas pam tal. Para a seleção destas amostras
representativa~. são prelirnimm1,ente realizados cns,úos de caracteriza,;ão. cuja execução
é mais rápida, em um número bastante grande de amostras, colhidas em toda a área ele
empréstimo e cm diversas profundidades. Apresenta-se. a seguir, a seqüência básica
das investigações das áreas de empréstimo.
Sondagens a trado: são realizadas por meio de trado espiral. geralmente de 10
cm de diâmetro. segundo malhas de füros e.spaçados a cada 200 a 400 metros. com a
coleta dL: amostras a cada metro de profundidade; a profundidade de exploração
geralmente fica limitada pela ocorrência de lençol freático ou de material i.mpenetrávcl
ao irado. Na Figura 2.1 são apresentadas as malhas de sondagens a tr-ado ,·calizadas para
as investigações das áreas de empréstimo da Barragem de Água Ve,melha.

àreas de empréstimo
da margem esquctda
.,.
á(<t3 de empréstimo
da margem dircrtl

áréa não
éxpk)rada

O 0,7 QA 0.6 03 1,0 (\rn)


H F3 F3
Escala Gráfica

Figura 2.1 Areas de empréstimo da Barragem de Água Vermelha


Amostragem: as amostras. colhidas confonne descríto acima, são submetidas
aos seguintes ensaios de laboratório:
umidade natural
limite de liquidez
limite de plast icidade
granu lometria
massa específica dos grilos
compactação Proctor nonnal.
Os resuhados destes ensaios siio colocados em gráficos. cuja análise permite uma
avaliação preliminar dos parâmetros que interessam ao projeto. São. também. preparados
gnífirns estatísticos de distribu ição dos resultados dos ensaios. que serão uti lizados
para a seleção das amostras representativa,~ cios tipos de materiais existentes nas áreas
de empréstimo. A comparação enLre as umidades naturais e as ótimas dos ensaios de
compactação. de cada amostra. permiLc verificar em que condições se encontram a,
áreas de empréstimo. dado importante para a empreite ira analisar a necessidade de
irrigação ou de secagem dos materiais. ames de sua compactaç.ão no maciço da barragem.
Na Figura 2.2 são apresentados o~ re,u ltado, dos ensaios de laboratório para a
caracterização dos materiais terrosos da Bairngem de Água Vcnnelha.
Com as amostras representativas selecionadas scrJo preparados os corpos de
prova, compactados no laboratório. com valores de unúdade e de massa específica
aparente. que representem as condições de compactação dos ate,·ros que serão construidos
na barragem. Assim. são preparadas algumas séries de corpos de prova, combinando-se
valores escolhidos de desvio de umidade e de grau de compactação. como por exemplo:
grau de compactação (GC): 95 e 98%, corre.~pondentcs aos valores mínimos e
rnéd ios desejados para o maciço da barn1gem.
desvio de umidade (w - wot): -2 . Oe +2%. representa ndo a faixa desejada de
variação de unúdade do aterro.

Os ensaios com estas séries de corpos de prova, que iri1o definir os parâmetros de
resistência, compressibilidade e permeabilidade para o projeto. são. basicamente os
seguintes:
ensaio, de compressão Lriaxial dos tipos rápido, adensado rápido. adensado
rápido saturado e drenado;
ensaios de compressão triaxial, dos tipos PH. PN e K :
0
ensaios de adensamento edométrico. ou em câmara triaxial:
ensaios de adcnsamen10-pcrrncabilidade.
A partir dos resultados destes ensaios são selecionados os materiais que ~erão
militados nos aterros. as suas condições de compactação, definindo-se os principais
parâmetros geotécnicos para as análises do projeLo da barragem. Na Figura 2.3 são
apresemados os res'ltl rados dos ensaios de compressão rriaxial <:. ua Figura 2.4 os de
adcnsamcnro edométrico. com medida de pem1eabilidade para o projeto básico da
Barragem de Água Vermelha.
25

b. ~latcriais granulares

Os materiais granulares a serem utilizados nos filu-os e nas uansiçõcsdas barragens,


quanto a sua origem, podem ser naturais ou artificiais: os naturais são as areias e os
cascalhos. obtidos geralmente na própria calha do rio que será represado e os aitificiais
são as pedras britadas. Como estes materiais servem também para a confecção dos
concretos. são investigados para atenderem às duas finalidades.

b. l Areias e cascalhos

As amostras de areia e de cascalho são colhidas por equ ipamentos de sondagem.


com amostradores especiais. d,L~ ja:ddas cxiste.JJ!~ no leito do rio ou em cascalheiras,
nas ombreiras. Os ensaios realizados com estas amostras são basicamemc os seguimes:
granulon1etria
massa específica tios grãos
densidade máxima e núnima
detenninação de impurezas
permeabilidade

Os ensaios de permeabilidade são realizados em corpos de prova compactados,


com compacidade rela Li va entre 50 e 70'*', que geralmente são os valores especificados
para a construção dos filtros e transições da bam1gem.

b.2 Pedras britadas

As amostras oblidas pela britagem das rochas provenientes de escavações


obrigatórias ou de pedreiras também são submetidas aos seguintes ensaios básicos :
~ ~

granulometria
massa específica dos grãos
densidade má.xi ma e núnima
permeabilidade

e. Materiais de enrocamcnto

Os materiais para a construção dos enrocamcntos da barragem podem provir de


duas origens:
da.~ e~cavaçõcs das fundações das estruturas de concreto ou de túneis e a sua
;unostragem já é realizada quando se processam as investigações geológico-
geotécnicas para o projeto dessas estruturas. aproveitando-se os próprios
testemunhos das sondagens rotativas; durante as escavações podem ser colhidas
28

amostras de maiores dimensões. obtendo-se assim melhores informações para


seleção dos diferentes ripos de cnrocamento;
das pedreiras especialmemc abenas para atender a demanda de materiais para
a construção dos cnrocmncntos e como agregado para concre10; as pedreiras
são local izadas com auxílio de levan1ameo1os geológicos, que são
complementados por sondagens rotativas.
A~ mnostras de 1\J<.:ha devem ser submetida, aos scguinlcs ensaios báskos:
desagregabilidade: para se analisar esta propriedade, são fei tos ensaios de
cidagem natural. expondo-se as amostras às condições intempéricas. sujeitas a
ação de sol e chuva, por um tempo pro lo ngado, inspecio nan do-as
periodic,unente. para avaliação visual e por meio de fotografias. düs alterações
sofridas com o passar do tcmpo: também são realizadús ensaios de ciclagem
acelerada, mergulhando se as amostras em soluções. tais como. su !fatos. cti lcno-
glicol. etc, alternadamente, com secagem em estufa, seguida de escovação,
calculando-se a porcentagem de ma1erial que se desagrega. após um número
definido de molhagem e secagem. Os valores <las porcentagens permitem uma
avali ação indireca da desagregahilidade das rochas.
análise petrográfica. macro e microscópicas. parn se obter os scgu intcs dados:
minerais constiluimcs e porcentagens dos mesmos. texntra e eslfUmras. grau
de alteração dos minerais, presença <le argilo-mincrais. bem como de outras
c:aracterísticas especiais.
britagem: realizados em algu ns casos, quando se tem dúvidas sobre as
dimensões e a forma das partículas. resultanLcs após a hritagem, devido à
ocorrênc ia de certas descontinuidade.~. tais como. fissuramento excessivo ou
pela presença de minerais que determi nem planos preferenciais de quebra da
rocha.

2.3 ATERROS EXPERIMENTAIS

Quando o volume da ban-agem é muito grande e têm-se dúvidas com relação ao


comportarncnro dos materiais. durante a compactação, pode-se programar a execução
de aterros úx.pcri mcntais, com 1mt1erial ten-oso ou com enrocamenlo. em uma {1rea
escolhida dentro do próprio maciço da barragem. Os aterros experimentais também
podem ser executados. com o objetivo de testar equ ipamen tos alternativos de
compactação, propostos pe la empreiteira. não previstos nasespecilicações de construção
<la barragem. Por esle motivo, geralmente são rcalizactos na !'ase do projeto execut ivo
da barragem, quando a cmprcilcira j,í se instalou no canteiro de obras.
Os aterros experimentais sãú feitos em diversas camad,Ls, variando-se a espessura
de lançamento. o número de passadas de cada tipo de equipamento de compactaçilo. os
tip<>s de materiais. a umidade de compactação. e1c. Para cada conjunto de condições.
são realizados cns,úos de controle de compac1ação e medidas da espessura das camadas.
29

após as passagens dos rolos compactadores, observando-se, ainda o comportamento do


aterro (formação de ondulações. aderência às patas dos rolos). dumnte a compactação.
A interpretação dos resultados dos ensa ios e das observações fcit;is durante a 1'Cal i1.~ção
dos aterros experimentais. serão úteis para a tomada de algumas decisões. tais como:
escolha do ripo de equipmnenLO de compactação;
ntímero de passadas do rolo compactador:
seleção de áreas de empréstimo e de jazidas de rocha:
espessura da camada lançada par.1 a compactação:
i11tervalo$ de umidade para compactação.
As observações feitas duramc a execução dos aterros cxpcrimenmis podem ainda
identificar alguns problemas, tais como, laminações nas camadas de atem,, quebra
excessiva das partículas de rocha. etc. Das pistas do aterro experimental podem ser
retiradas amostras indeformadas, pan1 ensaios de labo,-atório. que representam melhor
as condições do aterro compactado. que as amosuas preparadas no laboratório.
Nas obras e m que não são executados aterros experi mentais. os dados e
informações acima relacionados podem ser o btidos durante a construção da barragem,
sendo as correções e as adaptações introduzidas gradativamente. com o andamento da
obra.
3/

CAPÍTULO 3

ELEMENTOS PRINCIPAIS DAS BARRAGENS

Em vista dos inúmeros fatore~ que devem ser considerados na elaboração do


projeto de uma btUTagcm de terra ou de cnrocamemo, ainda que se utili,,c a mesma
metodologia de trabalho. dificilmente a seção transversal do projeto fi nal de uma
barragem será repetido para outras barragens.
Para a seleção de uma seção transversal, devem ser analisadas, técnica e
economicamente. diversas a lternativas. cm um processo iterativo. partindo-se de
dimensõe.~ conservativas. ditadas pela experiência cm obras e condiçC,es semelhantes à
do projeto amai. otimizando-se gradativamente essas dimensões, à medida que as análises
são processadas. Os plincipais elementos a serem defi nidos são relacionados a seguir.

3.1 BORDA LIVRE ("Frec board"}

Borda livre é a diferença que deve ser observada entre o níve l da crista da barragem
e o nível máximo do reservat6rio. para que as ondas formadas não ultrnpassem a
barragem. O nível máximo do reservatório é definido através de estudos hidrológicos e
hidráulicos. em função das cheias consideradas para o projeto do barramento e das
características dos 6rgãos de extrava7l1o.
A a Imm das ondas que podem chegar ao talude de montante da barragem é função
da velocidade do vento e da extensão do reservatório na direção do vento considerada
('"fctch"'). No mínimo. o valor da horda livre deve ser igual à altura da onda máxima.
acrescida ele 50%. para compensar a sua corrida sobre o talude da barragem e. ainda. de
um valor correspondente a um fator de segurança, variável enrre 0.60 e 3.00 metros.
dependendo da impo1tância da barragem. Para o cálculo da almra da onda m:ixima
existem ábacos, como o desenvolvido pelo U. S. Burcau of Reclamation, apresentado
na Figura 3.1. Corno a linha do rescrvat6rio pode ser muito irreiular, deve-se calcular o
"fctch'' efetivo . F. através da f'ôrmula:

F= t x. cosa I :1: cosa onde:


' ' '
CL, = ângulo entre a direção consid~1-ada e a direção principal do vento, e
x1 = extensão do reservatório na direção a .
. '

Os valores de a.1 são tornados a cada 3º , até 45". em ambos os lados da direção
principal.
32

3.2 CRISTA

A largura da crista é determinada pelas necessidades de tráfego sobre ela. Na


maioria das ban-<1gens varia entre 6 e 12 metros. adot.Uldo-se maiores largura, para as
barragens mais altas, com estruturas de concreto mais impo1tantes. Mesmo para pequenas
ban-agens. não é recomendável largura inferior a '.l metros. pma garantir cond ições
mínimas de acesso. para a execução de serviços de ma nutenção.
Para a drenagem das águas de chuva, a superfície da crista deverá ter inclinação.
geralmenw para montante, evitando-se que el,Ls escoem sobre o talude de jusante. Os
recalques da ban-agem e da fundação, que ocon-em após o final da construção, elevem
ser estimados, para que se providcnc ie a sua compensação. projeran<lo-sc a crista com a
respectiva sobrclcvac;ão. Os recalques podem ser calculados com base em resultados de
ensaios ele adensamento. realizados com os materiais do aterro e da fundação. ou a
pa11i r de dados obtidos por instnimcntação de alguma seção da barragem construída
antec ipadamente. ou de outras barragens construídas em condições e com materiais
semelhantes.

"fe<ct,· (km)

Figura 3.1 - Determ inação da altura máxima da onda ( U. S. Bureau of Rcdmnation)

Derendcndo dos lipos de materiai~ do aterro e da fundação, os recalques podem


,,ariar entre 0,2 e 0,4% da altura da barrngem. As observações dos recalque,, por meio
de instrumentação adequada. durante o período de construção. permitem um rcfin3mcnto
mais apurado da estimativa dos recalques.
33

3.3 TALUDES

Os taludes de montante e de jusante da b:magem dependerão dos tipos de materiais


com os quais ela será construída, da sua geometria interna, da fundação e d:ls condições
a que será submetida durante a sua construção e opcraç~o. Devem ser adotados. em
caráter prelirnimu-. cm função da expetiência cm outras barragens já construídas, com
materiais e sob condições semelhantes. As aná Iises de estabilidade. processadas parn as
condiçõe, de carregamento previstas. irão revelar se os taludes adotados devem se,·
revistos, para garnnrir as condições mínimas de estabilidade fixadas nos critérios de
projeto ou para tornar o projeto mais econômico. quando este se mostrar muiw
conservativo. Como valore~ iniciais. quando não existirem dados mais co1Telacionáveis
p:u-a o desenvolvimento do projeto. pode-se p,u-lir d,L~ seguintes incli nações (vertical :
horizontal) :
Barragem de terra: 1:2 a l :3
Bam1gem de enrocamento com núcleo de ten-a: 1: 1.5 a 1:2.0
Barragem de enrocamento com face de concreto: 1: 1,3 a 1: 1,5.

3.4 GEO!VIBTRIA fNTERNA DA SEÇÃO

Quando os materiais disponíveis para a construção do maciço da barragem


permitem uma diferenciação das sua.~ características de resistência c de p,:nncabilidade.
é interessante tomar partido dessas diferenças, para se adorar uma seção mista, de terra-
enrocamento ou de terra zoneada.
Os materiais de maior resistência aocisalhamcnto, como enrocamcntos. cascalhos,
e solos arenosos. são posicionados nos espaldares. que correspondem às zonas externas.
as mais importantes para garantir a estabi lidade contra o escorregamento dos taludes.
Por sua vez. os materiais menos permeáveis, que geralmente apresentam menor
resistência ao cisalhamenw. como os solos argilosos, são dispostos no núcleo, isto é, na
parte imcma da scçiío da bfilrngem. Além disso. o núcleo, p<>r corresponder à zona mais
alta da baJTagem. fica submclido a tensões mais elevadas e. como conseqüência. sujeito
a maiores recalques. Os solos argilosos, colocados nesta zona. têm maior capacidade de
se submeterem a recalque, diferenciais. sem fissuramemo. que os solos arenosos.
Outro expediente utilizado nas barragens de terra. é o de compactar os solos do
núcleo com teor de umidade mais elevado, ligeiramente acima da umidade ótima, o que
também favorece a diferenciação acima referida. além de proporcionar características
de maior flexibilidade para acomodação dos recalques diferenciais.
A espessura mínima do núcleo é adotada cm função de alguns fatore., práticos.
tais como:
perda d'água admissível através da barragem;
condições construtivas;
tipos de materiais disponíveis:
:;
3.! (•+'.: ._. +

projeto do sistema de drenagem interna;


experiência em projetos semelhantes.
Sherard et al (1976) sugerem os seguintes critérios para o projeto do núcleo das
barragens de enrocamento:
espessuras de 30 a 50% da altura da água do reservatório têm-se mostrado
satisfatórias, sob diversas condições;
espessuras de 15 a 20% correspondem a núcleos delgados e requerem filtros
adequadamente projetados e construídos;
espessuras menores que 10% não são amplamente utilizadas; somente podem
ser adotadas em circunstâncias em que grandes fugas de água através do núcleo
não conduzam à ruptura da barragem.
Nas barragens de enrocamento com face de concreto mais recentes, a espessura
da laje (t) tem variado de acordo com a expressão: t = 0,30 + 0,003H (m), sendo H a
carga hidráulica na profundidade considerada. A armação da laje corresponde a 0,3 a
0,4% da seção de concreto, em ambas as direções, posicionada na zona central. Na zona
de montante da barragem, onde os recalques podem prejudicar a integridade da laje de
concreto, o enrocamento deve ser construído com blocos de rocha sã, não desagregável.
Na zona de jusante pode-se utilizar enrocamento não selecionado, contendo blocos de
rocha desagregável, com certo teor de finos. Na faixa externa de 10 m de largura, junto
ao talude de jusante, o enrolamento deve ser construído com grandes blocos, de rocha
sã, não desagradável. Na Figura 3.2 está a aprestada uma seção transversal típica da
Barragem de Xingó, concluída em l 994, com cerca de 140 metros de altura, um exemplo
de barragem de enrocamento com face de concreto (Gaioto, 1995).
enrocamento com até 60%~em peso
~ de partículas menores que 25mm e
~ menos que 10% passando na penei-
ra nº 200

enrocamento com 60% a 80°/o em peso


DIIIlilIIIll de partículas menores que 25mm

~ aterro compactado

N.A. normal
140 EL. 138,00

aterro
compactado concreto
compactado
a rolo
su erfície
da rocha

Figura 3.2 - Seção transversal da Barragem de Xingó.


35

A geometria interna da seção é completada pelo sistema de drenagem. nas


barragens de terra e pelas transições. nas barragens de cnrocamcnco com núcleo de cerra
ou com faci; de concreto a montante. O dimensionamento deste, elementos será discutido
mab adiante.

3.5 PROTEÇÃO DOS TALUDES F. DA CRISTA

O talude de jusante das barragens deve ser protegido conu-:i a erosão. causada
pela.~ águas de chuva. que podem adquirir grande.~ velocidades. ao percorrer a distânci;i
entre o topo e o pé do talude. Nas barragens de enrocamcnto com núcleo de rcrra ou
com face de concreto, o problema de erosão é resolvido. deslocmH.lo e arrumando os
blocos graúdos do cnrocamemo para a face de jusante.
Nas barragens de terra. a primcirn provid~ncia consiste em subdividir o talude em
trecho~. de ahura não superior " LO metros. por meio da intercalação de bermas. com
cerca de 3 a 5 rm.:tros de largurn. A superfície das bermas deve apresentar pequena
declividade para montante. a fim de evitar que as de chuva que nelas caem desçam para
o tal udc inferior. Nes,a., berma,. são i nstalaclas caoaletas de concreto. para coletar as
águas que caem no talude do trecho superior e na própria benna, condutindo-as. com
declividade tia ordem de 0,5 %. para rnixas. também dispostas nas bermas. a cada 100
me1ros, aproxirnadmncrnc. As águas que chegam a essas caixas são conduzidas através
de tubos de concreto, :ué outras caixas. construídas na berma inferior e. assim,
sucessivamente, até o pé da barragem. No contato da saia do atem> da barragem com as
ombreiras, também deve ser prevista a consu·ução de uma canaleta ele concreto. para
captar iíguas proven ientes do talude e das ombreiras.
Com a ve locidade das águas redu7,ida. pela suhdivisão do tal ude. a erosão
superficial pode ser combatida pelo simples plantio de grama. em toda a área de taludes
e de bermas. Esse tipo de proteção requer manutenção permanente. tanto para conservar
o gramado, corno para a limpeza das canaletas e caixas, que, com o tempo. vão sendo
obstruídas pelo carreamento inevitável de terra dos taludes. Mesmo assim. a proteção
com grama, na maioria das b,trragens, ainda é economicamente mais interessante que
outros tipos ele proteção. como enrocamcnto. concreto. solo-cimento, etc. Na Foto l é
apresentada uma vista da Barragem de Jacarcí, aparcc.:cndo, em primeiro plano. o talude
de jusante. interc.:alado por bennas e protegido por grama.
O talude de montante deve ser protegido contra a erosão causada pelas ondas que
se fonnam no reservatório. Essa proteção, geralmente é feita com enrocamento.
denominado .. rip-rap". cujos blocos devem apresentar dimensões mínimas. suficientes
para não serem arrastados pelas ondas. O U. S. Anny Corps of Engineers. apresenta as
seguintes sugestões para o di,1mctro médio (D~0 ) e espessura da camada de "rip-rap".
mínimo,, cm função da altura m(L'tima das ondas:
36

Foto 1 - Barragem de Jacareí, na fase de ench imcmo do reservatório.

Altura máxima da onda Diâmetro médio - D50 Espessura da camada


(m} (m) (m)
O 0,60 0.25 0,30
0.60 - 1,20 0,30 0.46
1.20 - 1.80 0,38 0,6 1
1,80 - 2,40 0,46 0.76
2,40 - 3,00 0,53 0,91

Sob o enrocamento, deve ser colocada urna camada de transiç.ío. de material


granular graúdo, cuja espessura também é função da altura da onda:

Altura máxima da onda .Espessura da camada de transição


(m} (111)
O - l,20 0.15
1.20 - 2.40 0,23
2.40 - 3,00 0,30

A proteção deve cobrir todo o trecho do talude, desde o seu topo, até cerca de 1
metro abaixo do nível mínimo de operação do reservatório. O IJ·ccho inferior, também
deve ser protegido, contra a erosão de água~ de chuva. se o talude ficar exposto por um
37

período de tempo prolongado, antes do enchimento do reservatório. o u ~e o aten-o na


zona do talude for constituído de material de baixa coesão. Essa proteção, por ser ape,1as
tcmporái·ia, poderá ser provi<knciada pdo lançamento de material granular não
selecionado, tal como, bota-fora de escavação em rocha ou de pedreiras.
Nas bmTagens onde não se dispõe de rocha sã para a const,ução de '·rip-rap". a
uma distância economicamente interessante, a protcc;flo do talude de montante pode ser
feita com solo-cimento. construida cm camada,. juntamente com o aterro da barragem.
A espessura eferiva eleve ser <.la ordem tlc. pe.lo menos, 0.70m. u que wrrespontlc a
cerca de 2m, de largura, na direção horizontal. Na construção, devem ser utilizados
solos arenosos. com cerca de LO a 25 % passando na peneira #200. com índice de
plasticidade menor que 8 % (Fell et al.1992).
A crista geralmente é protegida com pavimento asfáltico, com características
semelhantes à da estrada que dá acesso à barragem. Em algumas h:magens a proteção
tem sido construida com maierial granular (pedro britada ou cascalho).
39

CAPÍTULO 4
TRATAMENTO DA FUNDAÇÃO

Os materiais de fu ndação yue apresentam baixa rcs 1s tencia e elevada


compre,sibilidatk são geralmente removido, pam a construção do maciço da ban-agcm.
Muitas vezes ocorren , também na área de fundação materiais ou horizontes muito
permeáveis. mas com características aceitáveis quanto à sua resisto'.!ncia e
compressibilidade. É o caso. por exemplo. de um maciço rochoso muito fraturado ou de
um aluvifto compacto. Esses L.Ípos de fundação não apresentam problemas de instabilidade
par.i o maciço da barragem. mas po<lcm permitir fugas excessiv,Ls de água . Para reduzir
estas fugas, a fundação deve ser interceptada por sis temas de vedação ou de
impermeabilização. como os apresentados a seguir.

4.1 TRINCHEIRA DE VEDAÇÃO ("CUT-OFP")

Nas barragens com núcleo de tel'ra. o tratamento para impermeabilização pode


ser providenciado pela escavação dos materiais pcnneávcis. exclusivamente sob a base
do núcleo. O material e5cava<lo t.! então substiruído por aicrro. compactado nas mesmas
condições q ue o núdeo. eons1in1indo a chamada trinchei ra de vedação ("cut-off').
A profundi<ladcda trincheira de vedação fica limitada pela viabilidade da escavação
ser executada mecanicamente. por meio de tratores. escavadeiras. etc. sem o uso de
explosivos. Estes úlúmos somente seriam utilizados em casos especiais. por meio de
fogo controlado, cm pontos localizados. de forma a não danificar o maciço subjacente.

4.2 CORTINA DR JNJEÇAO

Em níveis inferiores ao da trinchcir:1 de vedação, se a fLmdação ainda apresenta


permeabilidade e levada. o tratamento po<lerá ser foito por meio de injeção de cimento
ou de ouu·os materiais impermeabilizantes. tais como. ~ilicatos o u resinas. Na Figura
4 .1 é aprescmada uma seção transversal da Ban-.1gcm de Água Venuelha, na ombreira
esquerda. com sua trincheira dr vedação e cortina de injeção de ciment o.
Nas bam1gcns de enrocamento com face de concreto mais antigas construía-se
uma trincheira de concreto no pé de montante. Atualmcme. para se evitiu- problemas de
rccalyucs diferenciais nessa 7.0na. 4uc trariam problemas de inlillraçõe.~ cxccs~ivas de
água, a laje é prolongada horizontalmente para montante. constituindo o elemento
denominado pl into. A largura mínima do plimo 1cm variado e nt re H/20. em rocha ~ã
e H/ lO. cm rocha alterada (H = altura da lâmina d·água do reservatório). O pl into é
40

ancorado à fundação por meio de b,mas de aço. fixadas 1:om calda de cimento. O maciço
rochoso subjacente ao plinto também rec.:ebe a-atamento com injeção de cimento.
A cortina de injeção é constituída por uma ou mais linhas de furos. cxecmados no
maciço rochoso, por meio de equipamento rotativo ou roto-percussivo. que são
preenchidos por injeção de calda de cimento (ou de outros materiais). A injeção é aplicada
em u·cchos com cerca de 3 meu·os de comprimento. com pressão controlada, de fonna a
proporcionar a penetração da calda a uma distância desejada, sem, enm:tamo. causar
maior fraturamento no macit;o de funclação. Ensaios de perda d'água e de injetabilidadc,
executados na fase de investigações geotécnicas das fundações. fornecem informações
importantes quanto ao espaçamento cios furos. número de linhas necessárias,
profundidades. pressiio de injeção, relação água/cimento, etc.

32330.

350
1 J 1·
®--H 11 G) \rinchci1;.1 de VOO;'\Ção
li 1 @ laje <le concreto ,1m100C)
® filtro ele a.reia
© uanslcão de pedro bmada
® cortina de IIOJecão ele cimento

Figura 4.1 - Seção transversal da barragem de Água Vermelha na ombrcird esquerda

Em fundações de aluviões permeáveis. as cortinas de injeção são executadas com


várias linhas de furos. com técnica diferente da utilizada na impem1eabilizaçãode maciços
rochosos. Ao invés de se especificar as pressões de injeção para cada profundidade, em
função dos resultados de ensaios de perda d'água. deve-se fixar a quantidade de injeção.
por metro cúbico de solo a tratar, em função da sua granuJometria e porosidade.
A primeira dificuldade encontrada para a injeção de aluviões é a de manutenção
do furo aberto, sendo necessária a utilização de revestimento, o que impossibilit~ o
uso de obturadores. segundo a técnica de injeção de maciços rochosos. Para superar
estes problemas foi desenvolvido o métoclo denominado "tube à manchenes", em que
a injeção é processada em etapas múlliplas, possibi litando injetar o mesmo trecho
sucessivas vezes. Com este objetivo, é colocado um tuho com membranas de borracha
r-
41

("manchcttes") dentro do furo de injeção. o qual é mantido aheno com um ,·cvcstimcmo


(ou por meio de lama). O revestimento é extraído após a fJXação do --mbc à manchette-~"
no furo. por meio de uma mistura de argila e cimemo que. ocupando o espaço anelar
entre o tubo e o furo. evita que a calda de injeção percole vertic,úmente por este espaço.
Internamente ao Htube à mancheues" é colocado um outro tubo, com obturador duplo,
q ue é perfurado no trecho entre os obturadores. A injeção é apl icada através do tubo
interno. com calda e pressão, adequada.~ para provocar o alargamento cio diâmetro da
membrana de borracha e penetrar radialmente nos vazios do solo. Por este processo
tem-~e conseguido injetar camadas de aluvião com mais ele uma centena de metros de
espessura, reduzit1do-se a sua penneabi !idade cm cerca de mi I veze,o;. N,1 f igura 4.2 é
apresentada a seção transversal da Barragem de Durlassboden. constn1ída na Áustria.
com 70 metros de almra, sobre camada ele aluvião, de 65 metros de espessura (Caron et
ai, 1975).

4.3 PAREDE DIAFRAGMA

A impermeabil ização de camadas aluvionares permeávei~ também pode ser


conseguida através da construção de paredes diafra!,.'Dla de concreto ou de diafragma
plástico (solo-cimento). sob a zona do núcleo das barragens. O método con,;trutivo é
semelhan te ao uti liz:ido para a sustentação de escavações profundas, sem o rebaixamento
do lençol freático. A utilização de diafragma plástico tem a vantagem de não introduzir
um elemento de maior rigidez na fundação. que pode dar origem a conce ntração de
tensões na zona do aterro sobre o ropo da parede. provocada por recalques diferenciais
entre o diafragma e a fundação. Camadas aluvionares de fundação. de até J00 metros
de espessura, já foram impermeabilizadas por paredes diafragma, como na Barragem
de Manicouagan 3. construída no Canadá, com 107 metros de altura (Dreville et al. 1970).

N.A.
---=~--

(1) solo cimen!o


@ e 0) cascotho
® © flllt O de C~ll'lO gr0$$0
@ Oll/VIOO
(6) doiom;10
(j) cortina de i.njeção no atu\lião
~) cortina de injoção na rocha

Figura 4.2 -Seção transversal da BaiTagem de Dw'lassboden.


42

4.4 TAPETE ~IPERMEÁ VELA MONTANTg

O controle de pcrcolaçâo de água através da fundação também pode ser realizado


por um tapete impermeável consnuído a montante. conectado à seção impermeável da
barragem, co111binado com um sistema de drenagem a jusance. Economicamente. ele é
interessante, quando o projeto requer o tratamento de uma camada permeável muito
espessa da fundação, quando comparado com as alte.mativas de coninas de injeção ou
paredes diafragma profundas. O objetivo do tapete é o de reduzir o gradiente hidrául ico
através <la fundação. pelo acréscimo do caminho de percolação da água sob a barragem.
Em geral. o tapete é consnuido com o mesmo material e nas mesmas condições
de compactação <lo núcleo <la barragem. Mas, em alguns casos, ele é lançado sem
compactação. ou simplesmente com a passagem dos equ ipamentos de transporte,
aproveitando-se materiais de bota-fora. obtidos pela raspagem superficial das áreas de
escavação.
A espessura e o comprimemo do rapete dependem da sua permeabilidade, da
estratificação e da espessura da camada permeável da fundação e <la carga <lo reservatório.
São freqüentes espessuras variando entre 0.60 e 3.00 metros. podendo alcançar maiores
valores na região logo a montante do núcleo, para aumentar a sua eficiência.
Um dos exemplos mais conhecidos da consrrnção de tapctt:s impermeáveis é o da
Bam1gem de Tarbela. concluída no Paquistão. no ano de 1974. A ba1rngem cem 150
metros de altura, com um volume de 180 milhões de metros cúbicos de terra e de
enrocamento, uma das maiores do mundo (Haq e Alfat-Ur-Rehman. 1984). foi consnuída
sobre uma camada de a luv iêíes, contendo extensas lentes de pedregulhos com
granulomctria a berta. Os coeficientes de permeabilidade médios <la fundação eram de
JO·' crnls. no terço superior dos aluviões. 10-' cm/s. na parte in ferior e 5x IO·' cm/s, na
rocha subjacente . O tapete foi construído com wu comprimento de 1430 metros e largura
de 1980 merros . jumo à bmrngem e 2590 metros. na sua extremidade de montante. A
espcssu,·a do tapete aumenta parabolicamentc, de 1.5 metros, no ponto extremo de
montunlc, ,Hé 12 metros. junto à barragem . Na Figura 4.3 são apresentadas seções
transversal e longitudinal típicas da batTagcm e da fundação.
Durante o primeiro enchimento do reservatório o tapete sofreu afundamentos. em
forma de dolinas, com até 10 metros de diâmetro. A causa mais provável dos
afundamentos foi atri buída à migração de areia, subjacente ao tapete impermeável. para
as lentes de cascalho de granulometria aberta. As regiões dos afundamentos foram
tratada~ com o lanç~unento material de filtro e de aterro. Após o segundo enchimento.
novos afundamentos foram consrntados, por meio de levamamcnto bmimétrico. Eles
foram tratados através do lan~·amenlo de mistura de material com granulometrht de si lie
a pedregulho graúdo e pequena porcentagem de ben tonita. fcilos por meio de barcaças
especiais.
43

NA(473m) ~

-=,j:~j:,,r==T==--==3d
2==· =- " =· =imem::,~~
-~=- - ,......!1==::::(3)-"i~-~:==
338m

(a)

(m)
600 478m
500-j-.,.....,,-.:-~ ~ ~~~~~~~~__ic:.::__~~~~~~ ~~~-7""
400
300
200
100
(D núcreo (b)

(2) f:tpefP. impem,eávc-1


Q) poços de alívio
@ on•oc.)dcôra
@ aluviões
@ lentes de pe<Jregulhos de granulometria aberta
(Z) runeis de desvio

Figura 4.3 - Ban·agcm de Tarbela. a) Seção transversal. b) Seção longitudinal


45

CAPÍTULO 5
DRENAGEl\11 INTERNA

Inicialmente, na construção das barragens. procur.,va-se impcrmcbiliza-las a(l


máximo, com o objelivo dt· bmrnr toda percolação de água parajtLsante. Com o passar
d o lempo, verificou-~e ser impossível a construção de barramentos a bsolutamente
impermeáveis. Sendo inevitável a ornrrência de alguma va:âío de pcrcolação, o seu
contro le passa a ser importalltt'- e, na maiolia dos casos. fundamental.
Atualmente. a solução do cor11rolc de pcrcolação é basicamente governado pelo
valor eco nômico da água Jl<!fColada através do harrnmento e pela necessidade de se
trabalhar com mah de uma linha de defesa. para a segurança da ban·agem. Se uma
bam1gcm é con,truída com o obje tivo de garanlir uma vazão múüma. cm um rio pouco
caudalow, o valor da ,ígua assume importância fund amental. e o, métodos de
impermeabilização são imperativos. enquanto que, os de dren~e.m, consti111ern urna
SC!!,unda linha de defesa. Entretamo. no 1:aso de um rio caudaloso, a vazão de perrnl ação
pode se mrnar inexpressiva p.;rante a vazão do rio. e a drenagem assume o papel pri ncipal
no controle. Existe, ainda. o aspecto psicolôgiw. com:spondcmc 1\ pr.:ocupação da,
pessoas que ocupam áreas ajusante do ba,rnmento. motivada pela constatação de grandes
va7.õcs de pcrcolação. Este impacto pode também o brigar o proj elista a aumentar
considcrnvclmcnle o, custos de constrnção, para minimizar essas va.i;ôes. O, priut:ipais
dispositivos para impermeabilização foram discutidos nos capítulos 3 e ~- e os de
drenagem s:io apresentados a seguir.

5.1 FILTRO EM CHAMfNÉ

Os prímeiros sislemas de drenagem interna das barragens de terra consistiam de


um dreno, construído no P<' de jusante, com o objetivo de evitar que a água percolada
através do maciço do a terro emergisse dirt' tamente no talude. O dreno de pé era então
projetado com base na hipótese de que a li nha freática sofria rebaixamento, descrevendo
uma 1raje16ria pw·a bólica (parábola de Km.cny), com foco na cxrremidade de montante
do dreno (Casagr:mde. em Cedergrcn. 1977). Entrctn1110. a pr.ílica mostrou que. em
u1úmerati barrag1.:us t:011,truídas com dreno de pé. a linha de saturação emergia no talude
de jusame. Esta ocorrência ,e deve à anisotropia e iL hc1crogcncidadc do aterro. que é
con,tni ído cm camadas. inevitavelmente não unifonnes, no que se refere à sua espessura.
grau de compactação. umidade. etc, resultando maior permeabilidade na direção
horiwntal. de forma não homogên~a.
Co1n as rt·pctida~ constataçõc:-. de ~urg~ncia trágua no ta)u<.lc de jusanle da~
bam1gens de terra, pas~ou-,c 11 ulifü~m· os filtros c m chaminé (vertical ou inclinado).
com o objetivo duplo de interceptar todo o íluxo horiwntal e de manter não saturada a
./ó

1.ona do espa ldar de j u~antc. Como resultado. são benefic iadas as co ndições de
estabilidade do talude de jusante, podendo-se construí-lo mais íngreme. com a
conscqücmc redução <lo volume do ate1TO.
Em gemi. dá-se preferência em exenuar o liltro na posição ve1tical. o que faci lita
a sua locação topográfica e a constrU<;iio, j untv às sucessivas camadas do aterrv cio
maciço da barragem. Além disso, o lillro vertical é econom icamente mais vantajoso,
pois a sua capacidade drenante é maior, em virtude <lo g radiente hid,.íulico ser máximo
e ai; perdas ele material, durante a constn1ção. múlimas. Por ser construído com material
gnmular. menos compressível que o aterro. o filtro vertical, nas barragens de grnnde
ah ura. pode atuar como uma coluna mais rígida, originando tensões de tração e. em
conseqüência. fissuramcntos no maciço. Este aspecto foi analisado na Barragem de
Marimbondo (ver Fig ura 1.2). com 90 metros de altura máxima, na qual foi adotada
urna solução mista. de filtro vertical. na zona superior e inclinado, na zona inferior do
maciço. Este expediente reduziu sensivelmente as zonas de tração, nas po rções mais
altas da barragem, adjacentes ao filtro vertical (Souto Silve ira et ai. 1976).
O fi ltro cm chami né gera lmente é construído com areia gros,a. aluvionar, isenta
de finos. fü!)<.."Cifica-sc uma porcentagem miixima de 5%, cm peso, pi\.ssando na peneira
# 200. para q ue o material não apresente coesão, evitando-se a.ssim a propagação de
uincas de tr:1ção dentro do liltro. eventualmcmc de.~envolvidas no inte1ior do aterro.
Este material de\lC satisfazer. ~imullancamcnte. aos dois requisitos ele filtragem e
drenagem da água percolada através da barragem. 0 11 seja. os seus vazios devem ser
suficien1ememe peque nos, para evitar que as panículas do aterro sejam cam~adas atr.wés
deles e suficientemente grandes. para proporcionar pcrmcahi lidade adequada para o
escoamento da água, evitando o tksenvolvimento de elevadas forças de r ercolação e de
pressões hidrostáticas.
Com o o~jetivo de atender a estes dois requisitos, com base na sua exrcriéncia
profissio nal, Ter1.agh i propôs. crn 1922. relações entre os diâmetro~ d,; e d._, do material
de base, com o d iâme1ro D15 • do material de lihro. expressas pélas duas incquaçücs:

denominada.,, respectivamente, de relação de penueabilidadc e relação de esta bilidade


("piping ratio").
Ou1ros requisitos fornm posterionnente acrescentados aos critérios de Ter1.aghi .
Por exemplo, o U. S . Bureau of Rcclamation limita o tamanho tias partículas do maicrial
do Jiltro a 76 mm. para minimizar a segregação e a fonnm.:ão de pontes ("bridging'"),
das partículas g randes durame a colocação. O U. S. Am1y Corps of Engineers também
req uer que seja satis feita a condiç~o:

D;o filtro / d;o solo < 25,


47

para evitar o movimento de partícu la, do solo den1ro do liltro, e um coeficiente de


múfonnidade do fi ltro nao superior a 20. para assegurar que não haja segregação.
Sherard et ai (1976) citam outras regras comumentc utili,..adas:
a curva granulométrica do fillro deve apre,emar. aproximadamente, a mesma
fonna da curva do solo protegido;
q uando um ,olo a ser protegido contem uma g rande porcentagem de
pedregulhos. o filtro deve ser projcmdo wm base na curva granulométrica da
porção do material 4uc é mais ti no q ue a peneira de 25,+ mm de abertura.

5.2 TRANSIÇÕES NAS BARRAGENS DE ENROCAMENTO

Na, barragem de cnrocamcnto com núcleo de terra, o filtro em chaminé é


desnecessário, dada a grande capacidade drenante do espaldar de jusante. a menos q ue
o seu enrocamento contenha um teor de finos muito elevado, a pomo de rcdu1.ir a sua
permeabilidade para valores da mesma ordem de grandeza que a do aterro do uúcleo.
Entretanto. o aterro não pode ser colocado diretamente cm contato com o enrocamento.
pois os problemas de carreamento das partícu las de solo. através dos va7.ios do
enrocamen to. aparcc.;cm em maiores proporções que os mencionados no
dimensionamento dos filtros.
Enrre o aterro e o enrocamcnto devem ser introduzidas camadas de granulometria
intennediária, em número suficiente para que haja uma transição gradativa enu·e os
dois materiais. Os critérios de filtro entre dois materiais adjacentes devem ser respeitados,
sempre que o sentido da pcrcolação da água for do aterro para o curocamento, o que
acontece na trans ição de jusante.
Na transiçtio de monuinte, apesar de J1ão existir o problema de carreamento de
partículas. também devem ser introduzidas urna o u duas c.;amadas de materiais de
gr auulometria intermediária. para permitir que se proceda a compactação adequada na
fuixa de contato dos materiais. Em algumas barragens esta mmsição foi proporcionada
pela uliliza~ão de enrocmncnto miúdo, contendo finos. lançado e espalhado com técnica
adequada. de tal forma que os finos e as partículas miúdiLs fiquem posicionadas próximas
a() aterro do núcleo.
As c,,r essuras das camadas de trnnsição devem ser função do método construtivo
adotado. levando-se cm conta os problemas de segregação das partículas e de
contaminação, que ocorrem durante as operações de transporte e de lançamento dos
nrntcriais. Nas zonas onde se prevê que poderá haver percolaçíio de água mais
concentrada, tais como nas regiões de contato do atem> com estruturas de concreto. as
espessuras das camada.~ de transição devem ser ~uperdimensionadas.
Nas barragens de enrocamento com face de concreto, também devem ser previstas
camadas de transição, entre o maciço de enrocamcnto e a laje (ver Figura 3.2). Além de
se utili7,ar uma faixa com cerca de 4 metros de largura de enrocamcnto fino. deve-se
prever uma de muisição. com cerca de 4 a 6 metros de largura. constituída de material
48

misturado. Esta transição, além de compactada em camadas. com rolo vibratório. deverá
também receber compactação sobre o talude. no semido ascendente (Gaioto, 1995 ).
Neste caso. a transição tem como maior objetivo proporcionar condições mais adequadas
para a construção dos painéis da laje. concrctados com formas desli,.ames, como wmbém
minimi;.ar as vazôes de água, que podem p,;rcolar através das fissuras do concreto.

5.3 TAPETE DRENANTE

O tapete drenante tem a função de condw.ir para o pé de jusante da barragem as


águas coletadas pelo filtro em chaminé e as que percolam através da fundação. A estas
últimas com:spondem vazõcs geralmente muito maiores que as que percolam amwés
do aterro, pois a permeabilidade dos materiais de fundação é muito menos susceptível
de controle. Além di,so. as i nce11ezas envolvidas na determinação dos coeficientes de
pcnncabi Iidade e na definição da geometria dos estratos heterogêneos, que compfiem a
ítuidação. fa;,:em com que o grau de imprecisão dos ,:csuJtados das análises seja muito
maior. principalmente quando a fundação é em rocha. onde a pcrcolação da água se dá
essencialmente através das juntas e fratura~.
Dessa forma. é necessário que. no dimensionamento dos tapetes drenantes. se
trabalhe com coeficientes de scg:u,ança ainda maiores que os adotados no projeto dos
filtros em chaminé, principalmente levando-se em conta que, no caso de um
funcionamento deficiente do Ílltro em cham.iné, o tapete drenante funciona com defesa
adicional; por outro lado, no caso de um mal funcionamento do tapete drenante. o filtro
em chaminé resultará inoperante.
Para evitar subpressões elevadas na barrngern e maoter não saturada a zona de
jusante. os tapetes drenante~ devem u·abalhar com a menor c,u·ga hidráulica possível,
ou seja. com gradiente hidráulico muito baixo. Por este mmivo, se ele for construído
com o mesmo material do filtro em chaminé, dcvcriÍ apresentar uma espessura
excessivameme grande. Para diminuir essa espessura, uüliza-se o chamado filtro
sanduíche. com a introdução de uma ou mais c,m1adas inlc.rnas (k: matctiais drenantes.
de maior penueabilidade. Quanto maior a capacidade drenante do tapete. mais baixa
será a Iinha de saturação dcmro do maciço da barragem, com benefícios para a sua
c~tabilidade, possihi litando a adoção do talude de jusante mais íngreme e, portanto,
redu:Lindo o volume do aterro. Na Figura 5.1 é apresentada uma seção transversal da
Barragem de Três Irmãos, onde o tapete drenante é do tipo sanduíche, constituído de
duas camadas externas de areia grossa e uma interna, de pedra hritada.

5.4 DRENO DE PJt

As águas que percolarn através do filtro em chaminé e do tapete drenante cheg:un


a1é o pé da barragem e aí são coletadas por um dreno longitudinal. com eixo paralelo
ü saia da barragem, denominado dreno de pé. O dreno de pé reúne assim toda a água
1 ,·· -
49

captada pelo sistema de drenagem interna, para lança-la de volta ao talvegue do rio, a
jusante da barragem.

330 N.A. ma:x normal 323.00

320

Figura 5.1 - Seção transversal da Barragem de Três Irmãos.

Quando há represamento de água a jusante, pela existência de outro barramento


ou porque as escavações da fundação na zona do pé da barragem atingiram níveis
inferiores ao leito natural do rio, o dreno de pé corresponde a uma seção de enrocamento
e a água volta ao talvegue, distribuída ao longo do talude de jusante desse enrocamento
(ver Figuras 1.2b e 5.1). Quando não há represamento de água a jusante, o escoamento
da água coletada pelo dreno de pé é feito através de tubulações, em pontos onde a
topografia é mais favorável.
Quando as vazões nos drenos de pé são muito grandes, são introduzidos tubos
perfurados de concreto no seu interior, para aumentar a área de escoamento e reduzir o
volume de materiais drenantes. Para propiciar a sua manutenção, são instalados poços
de visita, a cada 50 a 100 metros, onde podem ser feitas medidas de vazão e coletadas
amostras de água para análises.
A transição entre os materiais do tapete drenante e o dreno de pé é feita com
materiais de granulometria intermediária, que devem satisfazer às relações de estabilidade
e de permeabilidade referidas nos itens anteriores. Na Figura 5.2 é apresentado, em
seção transversal, o esquema do dreno de pé construído em um trecho da Barragem de
Três Irmãos, em que o tapete drenante é do tipo sanduíche. O dreno de pé também pode
ser construído em nível inferior ao do tapete drenante, escavando-se, para tal, uma
trincheira de seção trapezoidal no terreno de fundação, onde a metade inferior do dreno
fica embutida.

5.5 TRINCHEIRA DRENANTE

A trincheira drenante tem por objetivo a interceptação de fluxos de água através


de camadas permeáveis mai s superficiais da fundação. São particularmente
recomendadas quando a permeabilidade na direção vertical dessas camadas é muito
baixa, para garantir o acesso da água ao tapete drenante ou ao dreno de pé. Sua construção
50

é semelhante à do dreno de pé, com camadas de areia e de transição. Tubos perfurados


somente devem ser utilizados quando a trincheira situa-se próxima ao pé da barragem
ou quando escavada em rocha de baixa deformabilidade, sob a garantia de que não
ocorrerão recalques que possam ocasionar ruptura ou deslocamento dos tubos.
A trincheira também pode ser construída a jusante da barragem, para captar, reunir
e escoar as águas provenientes de surgências que são constatadas durante e após o
enchimento do reservatório. Essas surgências, que se manifestam através de nascentes
ou do simples umidecimento do terreno, são bastante comuns e sua localização é quase
sempre imprevisível, podendo aparecer em áreas bem afastadas, a jusante do barramento.
Por este motivo, nestes casos, o projeto das trincheiras drenantes somente é feito após o
levantamento das surgências, constatadas 1:1pós o enchimento do reservatório .

(j) tapete drenante (tipo sanduíche) @ camadas de areia


(g) dreno de pé @ camada de pedrisco
@ maciço da barragem (!) dreno de pedra britada
@ reaterro @ tubo perfurado de concreto

Figura 5.2 - Seção transversal de um trecho do dreno de pé da


Barragem de Três Tnnãos (Gaioto, 1992).

Na ombreira esquerda da Barragem de Água Vermelha foi construída uma


trincheira, com 4 metro~ de largura na base e 5 metros de profundidade, no maciço
rochoso da fundação, a jusante da trincheira de vedação, perpendicular ao eixo da
barragem (Alves Filho et al, 1980). A trincheira foi introduzida com o objetivo de
captar as águas de infiltração, que poderiam percolar através de uma camada muito
permeável de lava aglomerática, subjacente a uma camada de basalto compacto, após
contornarem lateralmente a trincheira de vedação e a cortina de injeção de cimento, que
interceptam aquela camada. Após o enchimento do reservatório, em maio de 1979, a
vazão de água coletada por essa trincheira era da ordem de 2.300 litros por minuto.

5.6 POÇOS DE ALÍVIO

Poços de alívio são dispositivos utiliz·ados para reduzir as subpressões


desenvolvidas pela percolação de água nos estratos permeáveis da fundação. São
51

geralmente construídos segundo uma linha. ~ob o dreno de pé, mas podem ocupar
posições a morm111te deste. até a base do filtro cm chaminé. Também podem ser
constn1ídos a jusante da barragem. quando são detectadas subprcssõcs excessivas durante
o enchimento do reservatório.
Pnr aprc;;cntarem custo relativamente haixo e serem bastante eficientes para a
redução das subpressões. os poços de alívio têm sido utilizados com grande frcqü~ncia
nas barragens com fundação penneável. Nas ,•izinhanças de cada poço dt alívio. as
subpressõcs são redu7idas a valores próximos à carga hidráulica correspondente ao
topo do poço.
A principal desvantagem dos poços de alívio é que podem requerer inspeções e
manutenção, para garamir a sua eficiência. durante toda a vida útil da barragem: além
disso. por reduzirem o caminho de pcn:olação <la água entre as zonas de montante e de
jusante do barramento. a, perdas d',~gua através da fundação crescem com a eficiência
dos poços de alívio.
Os p-OÇOs de alívio podem ser executado, por meio de simples perfuração. quando
a fundação se trata de um maciço rochoso pcnneável. não susccptível <lc sofrer arraste
de panículas pelo fluxo de água. É preciso, portanto, que h,üa uma garantia de que nf,o
ser,10 ca11·cado:, minerais constituintes da rocha e que as tlcscontinuidades também não
contenham 111akriais de prc,;nchimento. cujo arraste alteraria as condições mecânicas e
hidrául icas do maciço. Caso contrário e principalmente na.s fundações cm solo e rocha
alterada. os poços de alívio devem possuir dispositivos para a filtragem da água, tais
como, materiai~ granulares, telas, gcotcxtcis, etc e tubos perfurados. para aumentar a
úrc.i de escoamento da .igua e. conseqiientemcnte. as vazões drenadas.
Tubos perfurados de PVC têm ~ido mualmentc ut ilizados. pois apresentam menor
rugo~idade interna e parede menos espessa. ocupando menor volume dentro do poço. O
espaço anelar cxistc11lt: entre o cubo e as paredes do roço é preenchido com material
granulm (cascalho miúdo nu pcdri~oJ. com granulomctria para servir de filtro do material
de fundação.
Os difunctros mais usuais dos poços de alívio variam entre 75 e 150 mm e dos tubos
perfurados, de 50a 100 mm. Os p0<,:os de alívio devem ter o seu topo em cota a mais baixa
possível. p,u·a proporcionar maior rebaixamento do knçol freático. Quan<lo e.~te.s topos
não coincidem com o tubo pc,tura<lo do dreno de pé, <levem ser consuuídas caixas para a
sua proteçào. de onde a, águas cokrndas são condu:ci<las para o talvegue do rio.

5.7 GALERIAS DE DRENAGRM

Em muitas das grande, barragens <le terra e de cnrocamento européias rêm sido
construído gale1ias na sua fundação. com o propó,ito de pcm1itir a execução de serviços
de drenagem e/ou de injeção. durante ou após a construção do aterro. Essas galerias são
muito freqüen1e~ na5 barragens e outras 1:struturas de concreto (tomada d'água. c.~,a <lc
fnrça. verr~donrn ). parn a redução das subpressõcs na área de jusante e a garantia da
estabilidade do conjunto L'Slruturn-fundação.
52

As galerias de drenagem são muito importantes nos maciços fraturados,


particularmente nas rochas sedimentares com estratificação horizontal, onde podem
ocorrer subpressões elevadas na área de jusante da barragem. Elas têm a vantagem de
permitir a execução de tratamentos da fundação, após a conclusão da barragem, quando
são detectados problemas de percolação de água, durante ou após o enchimento do
reservatório.
Por apresentar custo elevado, a decisão sobre a construção de urna galeria na
fundação de uma barragem deve ser tomada quando existirem fortes indícios sobre a
possibilidade de ocorrência de subpressões elevadas, que não possam ser controladas
eficientemente por outros meios e que representem problemas importantes para a
estabilidade da barragem e/ou de sua fundação. Quando a programação do enchimento
do reservatório pennitir, a decisão sobre a construção da galeria pode ser adiada para
época posterior à do fechamento do rio, com base em resultados da instrumentação,
obtidos em função da subida do nível do reservatório e sua extrapolação para o nível
máximo de funcionamento.
A galeria de drenagem, executada juntamente com um sistema de poços de alívio
nas fundações, permite um maior rebaixamento das subpressões, pois as saídas dos
poços de alívio ficam posicionadas em cotas muito mais baixas que aquelas em que a
água drenada tem que alcançar, na superfície do terreno. Para isso, é preciso que a
galeria seja construída com centenas de metros de comprimento e com dimensões internas
que permitam o acesso de equipamentos para a execução dos furos de drenagem.
53

CAPÍTULO 6

TRATAMENTO DE CAMINHOS PREFERENCIAIS


DE PERCOLAÇÃO

As superfícies de contato das zonas impermeáveis das barragens com o topo


rochoso da fundação e com as estruturas de concreto nelas embutidas constituem
caminhos preferenciais de percolação de água e precisam ser tratadas com atenção
especial. Esta percolação pode provocar o carreamento de partículas do aterro e até o
desenvolvimento de um "piping", ao longo desses caminhos. Os problemas serão tanto
mais graves, quanto maior for o gradiente hidráulico de percolação e menores as pressões
de contato do aterro nessas superfícies.
A percolação de água através dos contatos com superfícies de concreto já trazia
preocupações, desde 1910, quando Bligh (em Hsu, 1982) estabeleceu que a altura crítica
da água a montante de vertedouros construídos sobre fundação de areias e siltes era
igual a relação entre o comprimento do caminho de percolação ao longo dos contatos e
o parâmetro denominado coeficiente de erosão ("creep ratio"). Este coeficiente podia
variar entre 5 e 18, dependendo do tipo de material de fundação.
Mais tarde, em 1935, Lanc, estudando rupturas hidráulicas de grande número de
batTagens, chegou à conclusão que a erosão no sentido vertical era mais difícil que no
horizontal e estabeleceu um "coeficiente ponderado de erosão" ("weighted creep ratio"),
Cw, através da expressão:

Cw = B/3+t
hcr

onde

B = comprimento de percolação na direção horizontal,


t = comprimento de percolação na direção vertical,
h cr = altura máxima de água a montante.
~

Os valores propostos por Lane (em Vargas, 1977), para Cw, foram:

Material da fundação e w
Areia fina e silte 7 a 8,5
Areia média e grossa 5a6
Pedregulhos 3a4
Argila de consistência média 2 a3
Argila dura l ,5 a 2
54 ~ - ~ 1 1

De acordo com o critério de Lane, se o valor calculado de C fosse menor que o


\V

proposto na tabela para o tipo de matetial de fundação, era necessário aumentar o caminho
de percolação através do contato. A maneira mais eficiente de aumentar esse caminho
era introduzir dentes sob a estrutura de concreto (também denominados de "chicanas"
ou "corta-águas"), o que proporcionava maiores acréscimos de C".
Atualmente, esta correlação, entre o tipo de material da fundação e o seu potencial
de "piping", somente tem valor para o projetista de barragens, como uma orientação
grosseira e não como um critério de projeto. Independentemente do coeficiente de erosão,
qualquer barragem não pode ser considerada suficientemente segura, em relação ao
"piping", se ela não estiver adequadamente protegida por um sistema de drenagem
interna.

6.1 CONTATOS DO ATERRO COM A FUNDAÇÃO

Apesar de sua superioridade em relação ao solo, sob os aspectos de maior


resistência e menor compressibilidade, a fundação em rocha apresenta alguns problemas,
que devem ser resolvidos com especial atenção. A ligação da zona impermeável do
aterro com a superfície da rocha deve ser bem cuidada, para evitar a ocorrência de
percolação de água excessiva através desse contato. Além disso, deve ser analisada a
possibilidade de ocorrência de percolações através de juntas e fissuras do maciço rochoso,
que podem promover a formação de "piping", pela erosão das partículas de materiais de
preenchimento e do próprio aterro sobrejacente.
Ao especificar os tratamentos da fundação para receber um aterro, o projetista
deve considerar os seguintes aspectos do maciço rochoso (Sherard et al, 1976):
a topografia da superfície,
a dureza da rocha e
a permeabilidade e a natureza do sistema das des'continuidades.
Cada uma dessas características pode variar, dentro de limites amplos, de uma
barragem para outra. A topografia da superfície rochosa pode ser relativamente plana e
lisa, permitindo a execução dos serviços de lançamento e compactação do aterro sem
maiores problemas ou, pode ser irregular, cheia de saliências e reentrâncias, criando
grandes dificuldades para se conseguir um boa ligação com o aterro.
A rocha pode ser sã e dura, somente escavável por meio de explosivos, ou alterada,
facilmente escavável por meio de tratores com lâmina ou escavadeiras. Se a superfície
da rocha é regular, a sua ligação com o aterro pode ser mais eficiente quando ela é
alterada do que sã. A superfície da rocha alterada pode ser regularizada por equipamentos
de escavação, proporcionando uma ligação muito boa com os materiais do aterro. Por
outro lado, .quando a rocha é dura, a compactação do aterro até a sua regularização é
difícil, principalmente quando se utiliza rolo pé-de-carneiro.
Do ponto de vista de permeabilidade, ela é condicionada pelas juntas, fraturas,
planos de xistosidade, vazios cavernosos, etc, que podem facilitar a passagem da água.
55

Nas rochas estratificadas, a atitude da estrutura (direção e mergulho) tem grande


influência na direção do movimento da água através da fundação. Rochas estratificadas
podem ser alternadamente duras e moles, permeáveis e impermeáveis e estes contrastes
podem se manifestar na superfície. A estratificação pode ser horizontal ou mergulhar
em qualquer direção. As infinitas possibilidades de combinação dessas feições fazem
com que os problemas de tratamento da fundação sejam considerados de forma individual
para cada barragem.
O melhor contato entre a fundação e a barragem é obtido quando a superfície da
rocha é suficientemente regular, para pennitir que as primeiras camadas do aterro sejam
compactadas por meio de rolos pesados. Todos os matacões e blocos de rocha soltos ou
salientes à superfície devem ser removidos, por meio de ferramentas manuais, tais como,
rompedores a ar comprimido, alavancas, etc. Explosivos somente podem ser utilizados
em casos especiais, com carga controlada, para evitar o fraturamento do maciço rochoso,
o que iria prejudicar as condições de permeabilidade da zona próxima à superfície. Os
taludes da rocha de fundação muito íngremes (por exemplo 3: 1), somente poderão
permanecer se não forem negativos ou com altura inferior a I metro. Quando esta
condição não for satisfeita, o seu abrandamento poderá ser conseguido por meio de
escavação ou através de concretagem.
A superfície da rocha deverá ser lavada rigorosamente, por meio de jatos de água
e ar, sob pressão. Todas as fendas abertas deverão ser preenchidas com calda de cimento.
Nas fendas de maior espessura (centimétricas), o preenchimento deverá ser feito com
argamassa. As cavidades deverão ser preenchidas com concreto magro. A regularização
final da superfície deverá ser feita com argamassa ou concreto, adequadamente aplicadas,
de modo a eliminar as saliências e reentrâncias, suavizar as angulosidades, para permitir
um contato perfeito entre o aterro e a rocha de fundação. No caso da superfície da rocha
se apresentar muito irregular, o argamassamento (e/ou concretagem) deverá ser aplicado
na totalidade da área. O tratamento com argamassa e/ou concreto não deverá anteceder
demasiadamente o lançamento do aterro, como também o aterro não deverá ser lançado
sobre as superfícies tratadas antes do seu endurecimento.
A construção de muros de concreto, engastados na fundação, para aumentar o
caminho de percolação da água, foi uma prática muito utilizada pelo U. S. Corps of
Engineers e pelo U. S. Bureau of Reclamation, até o ano de 1950. A partir dessa data,
tal prática foi abandonada, com a constatação de que os benefícios eram menos
importantes que as desvantagens de não se poder utilizar rolos pesados na compactação
do aterro, nas áreas próximas a esses muros. Além disso, os custos e o tempo necessário
para a construção do próprio muro constituíam desvantagens adicionais, para o abandono
dessa prática. Assim, quando a faixa de contato entre a zona impermeável do aterro e a
fundação é muito estreita, além dos tratamentos rigorosos da fundação, o filtro a jusante
dessa zona deverá ser projetado para receber e controlar eventuais percolações
preferenciais pelas áreas de contato.
·r~ ~j~~CJ Qü Pro_ª ; dp B~rr~ge~s
0e er~Q e de ErrccuMPr~o
56

6.2 CONTATOS DO ATERRO COM ESTRUTURAS DE CONCRETO

Estruturas de concreto, para o escoamento de vazões de água de montante para


jusante, anexas ou atravessando o maciço da barragem, constituem descontinuidades
no barramento e os contatos dessas estruturas com o aterro são caminhos preferenciais
de percolação. É o caso de vertedouros, tomadas d'água e casas de força, de usinas
hidreléticas ou de galerias ou mesmo as barragens mistas, de terra e de concreto.
Geralmente elas ocupam o trecho central do vale do rio, onde o maciço rochoso é mais
competente e está mais próximo à superfície.
As ligações entre as estruturas .de concreto e o maciço da barragem podem ser
feitas através de contatos planos, de topo, da seção transversal do aterro, com muros de
ala, construídos nas extremidades das estruturas de concreto, ou através de muros de
transição, que são abraçados pelo aterro. A escolha, de um ou de outro tipo de estrutura
de ligação, pode ser feita com base em estudos comparativos de custos. Em ambos os
casos a área de contato da zona impermeável do aterro com a superfície da estrutura de
concreto, bem como as pressões de contato nessa área devem satisfazer a certos requisitos
para que a percolação de água seja controlada através dela.
Como as superfícies de contato são verticais ou subverticais, as pressões de contato
tendem a ser menores que as pressões verticais de peso de terra sobre uma superfície
(horizontal) da fundação. Além disso, essas pressões de contato podem ser prejudicadas
por condições desfavoráveis de recalques do aterro, que podem reduzi-las a níveis muito
baixos e, até mesmo, provocarem zonas de tração no aterro adjacente às estruturas.
Quando existir qualquer suspeita sobre este tipo de ocorrência, devem ser feitas análises
de tensões, pelo método dos elementos finitos, simulando-se as condições de construção
e de enchimento do reservatório.
Com o objetivo de maximizar as pressões de contato do aterro com os muros de
transição, na Barragem de Água Vermelha, estas estruturas foram projetadas com as
faces de montante e a lateral inclinadas (lOH:lV). A face lateral recebeu, ainda, uma
inclinação, em planta, (1 :4), conforme é mostrado na Figura 6.1.
Nas regiões dos "abraços", a barragem foi projetada com seção mista, de terra e
enrocamento, para se conseguir taludes mais íngremes e, conseqüentemente, redução
dos comprimentos dos muros de transição. O contato do aterro impermeável com o
muro ficou restrito à superfície lateral e parte da face de montante, conforme é mostrado
na Figura 6.2. A face de montante do aterro também ficou com uma inclinação em
planta, em relaçã.o ao eixo da barragem, objetivando-se que as pressões hidrostáticas do
reservatório transferissem maiores pressões de contato na face de montante do muro.
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57

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vista do topo vista lateral vista de cima

Figura 6.1 Muro de transição direito da Barragem de Água Vermelha

b) corte horizontal

Figura 6.2 - Abraço direito da Barragem de Água Vermelha


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58
J~ t := o -

O filtro vertical sofreu um deslocamento para atingir a extremidade lateral de


jusante do muro e, nesta posição, foi projetado com maior espessura, para interceptar
qualquer eventual carreamento de partículas do aterro através das superfícies de contato.
Com o mesmo objetivo, foram também providenciadas espessas camadas de transição,
entre o aterro e o enrocamento de jusante. A Figura 6.2b mostra os detalhes destas
providências.
Para acompanhar o desenvolvimento das pressões de contato, durante a construção
e o enchimento do reservatório, foram instaladas células de pressão total e piezômetros
em três níveis do aterro, junto às faces dos muros. Foram também instalaçlos pêndulos
diretos, para observação de deslocamentos na direção montante-jusante, dos blocos
extremos dos muros de transição. Os resultados dessa instrumentação indicaram não
haver qualquer problema de fraturamento hidráulico do aterro, ao longo dos contatos
com as estruturas de concreto (Gaioto,1992).
Na Barragem de Três Irmãos (Foto 2), o projeto das ligações das estruturas de
concreto com os maciços de terra da barragem foi muito semelhante ao de Água
Vermelha, com os dois muros de transição, as seções de enrocamento, o filtro vertical e
as camadas de transição, construídos com os mesmos detalhes, para proporcionar um
controle eficiente da percolação de água, através destes potenciais caminhos preferenciais
de percolação.

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1

Foto 2 - Barragem de Três Irmãos - Transição entre a barragem de


terra e o vertedouro
icJ e. 59

Outro tipo de estrutura que também pode dar origem a caminhos preferenciais de
percolação de água são as galerias de concreto, que atravessam o maciço da barragem
!:?a direção montante-jusante, construídas para o desvio do rio e/ou para adução de água
do reservatório. Essas galerias não devem trabalhar sob pressão interna elevada, a menos
que haja absoluta garantia de que sejam construídas sobre um maciço rochoso pouco
compressível e homogêneo , para que não ocorram recalques diferenciais que
comprometam a estrutura. Em caso contrário, as galerias deverão servir apenas como
um recinto, para a instalação de tubulações sob pressão, que, assim, poderão ficar mais
protegidas das tensões e deformações que os recalques das fundações transferem a elas.
A Barragem do Jacareí, construída pela SABESP - Companhia de Saneamento
Básico do Estado de São Paulo, no Município de Bragança Paulista, possui uma galeria
sob o maciço do aterro, utilizada na fase de desvio do rio, que é um exemplo marcante
do comportamento sob recalques elevados da fundação (Gaiato et al, 1981; Gaiato et
al, 1999).
A barragem é de terra, do tipo homogêneo, com 63 metros de altura máxima e um
volume total de aterro de 7 milhões de metros cúbicos. O reservatório tem uma capacidade
total de armazenamento de cerca· de um bilhão de metros cúbicos, utilizado para
abastecimento da região metropolitana da cidade de São Paulo.
A galeria de desvio é composta de duas células de seção retangular, sobrepostas,
com dimensões internas de 4,00 x 4,80 me 4,00 x 2,00 m; apresenta uma extensão total
de cerca de 340 metros, 250 dos quais sob o aterro da barragem. Sua seção externa é
trapezoidal, com 11,70 m de altura, 7,60 m de largura na base e 5,10 m no topo.
Longitudinalmente, a galeria apresenta-se dividida em tramas, de cerca de 20 metros de
comprimento, separados por juntas chavetadas.
A barragem foi construída sobre o Embasamento Cristalino, constituído
essencialmente por rochas migmatíticas, cortadas por veios aplíticos e pegmatíticos,
intrusões básicas e graníticas. As descontinuidades do maciço rochoso na área estão
associadas a tectonismo de caráter transcorrente e normal. O elevado grau de
intemperísmo produziu espessas camadas de solo ou manto de alteração.
A barragem ficou apoiada sobre quartzo-dioritos, na ombreira esquerda e
migmatitos, na ombreira direita. Na margem direita, onde foram localizadas várias falhas,
a rocha aflora a montante do eixo, mergulhando acentuadamente para jusante, onde,
sob o pé da barragem apresenta um capeamento de solo, de cerca de 20 metros de
espessura. No local da barragem, a várzea do rio apresenta-se com cerca de 500 metros
de largura, onde predominam aluviões recentes de baixa consistência, com cerca de 4 a
8 metros de espessura, subjacente aos quais se encontram solos residuais, com evidências
pouco nítidas da textura original e, abaixo desses, solos de alteração, com estrutura da
rocha sã.
Considerando o porte da galeria e as solicitações que lhe seriam impostas - 55
metros de aterro acima do seu nível de base - as condições ideais de fundação seriam,
naturalmente, as de apoio em substrato de muito baixa compressibilidade. Entretanto, a
+
60

ocorrência do topo rochoso somente a grandes profundidades, aliada aos condicionantes


hidráulicos e construtivos impostos pelo projeto, afastaram, de início, esta possibilidade,
requerendo soluções que convivessem com fundações mais compressíveis. Assim, a
localização do eixo foi definida após análises comparativas, entre cinco alternativas,
desenvolvidas ao longo do pé de ambas as ombreiras e na várzea.
Inicialmente, foram preparadas plantas, com curvas de contorno estrutural do
topo rochoso e de níveis do solo residual sobrejacente, com mesmo grau de
compressibilidade. Para os cinco eixos preliminares, foram feitas estimativas de
recalques, em função dos parâmetros geotécnicos da fundação e da altura da barragem,
em diversos pontos ao longo dos eixos. Nessas análises, também foram consideradas
soluções com substituição parcial do solo de fundação, por reaterro argiloso compactado
e por material granular.
Para o eixo que se apresentou mais favorável, situado junto à ombreira esquerda,
foram programadas e desenvolvidas investigações complementares, para melhor
conhecimento dos parâmetros geotécnicos e da litologia local. Com estas informações
foram elaboradas seções do subsolo, correspondentes a subalternativas, considerando-
se diferentes níveis de escavação, combinados por reposição por aterro argiloso e/ou
por material arenoso. Para estas novas alternativas, foram calculados os recalques da
barragem. A análise comparativa dos recalques totais e, principalmente dos diferenciais,
proporcionou a escolha da alternativa mais favorável do ponto de vista de deformações
e que atendesse também aos condicionantes impostos pelo cronograma de construção e
pelo método construtivo.
Para melhor estimativa das deformações da galeria e determinação das tensões
resultantes sobre a estrutura, foram processadas análises detalhadas, em várias seções
transversais do eixo selecionado. As análises foram realizadas com auxílio do método
dos elementos finitos, considerando-se comportamento elástico-linear. No contorno da
galeria, foram introduzidos elementos de junta, com coeficientes de rigidez tangencial
e normal elevados, com o objetivo de provocar a plastificação, após o primeiro incremento
de carga.
Os resultados da análises mostraram que ocorriam decréscimos das pressões de
contato, a aproximadamente um terço da altura da galeria, onde se verificou, inclusive,
a inversão dos planos das tensões principais. Com o objetivo de diminuir esse decréscimo
das pressões de contato, para aumentar a segurança em relação a eventuais problemas
de fraturamento hidráulico, também foram processadas análises, simulando-se a
introdução de uma camada de aterro mais deformável (com 40 % do módulo de
elasticidade do aterro), situada 4 metros acima do topo da galeria. Os resultados destas
últimas análises mostraram pequeno acréscimo dos valores das tensões naquele ponto
(cerca de 10 % ), o que não foi considerado suficiente para se concretizar tal providência
na execução do aterro da barragem, em vista dos problemas construtivos que poderiam
resultar se essa medida fosse tomada.
61

As principais medidas adotadas no projeto, para obviar os problemas de


deformações excessivas e de redução de pressões de contato nas laterais da galeria,
foram as seguintes:
alargamento da vala de escavação, para minimizar o efeito de arqueamento no
aterro sobre a galeria;
subdivisão da estrutura da galeria em blocos de 20 metros de comprimento,
entre os quais foram projetadas juntas chavetadas, de forma a articula-los,
dotadas de vedajuntas duplos;
construção da galeria com sobrelevações (contraflecha);
as faces das juntas foram projetadas para serem construídas em planos não
paralelos, para compensar os efeitos de fechamento e de abertura, previstos em
função dos recalques diferenciais calculados, evitando-se, assim, problemas de
esmagamento do concreto e de aberturas excessivas das juntas;
previsão de colocação, após a conclusão do aterro da barragem, de vedajuntas
especiais de neoprene, com núcleos injetáveis (com resina flexível), em duas
etapas, quando já tivesse ocorrido a maior parte dos recalques previstos;
as faces externas da galeria foram dotadas de inclinação 1OV: 1H, para melhorar
as condições de contato entre o aterro e o concreto;
não foram introduzidos corta-águas ("cut-off co1Iars"), objetivando-se evitar
concentração de tensões na galeria, em vista dos níveis de deformação horizontal .
previstos e em função dos recalques estimados, como também para se evitar
problemas na compacta.ção do aterro junto à galeria;
no trecho da galeria a jusante do filtro vertical da barragem, foi construído um
filtro de areia, de 1 metro de espessura, envolvendo toda a seção da galeria;
para acompanhar o desenvolvimento das tensões e das deformações na galeria,
foram instalados diversos tipos de instrumentos, tais como, células de pressão
total, piezômetros, medidores tri-ortogonais de juntas e pinos de recalques.
Na Figura 6.3 , estão apresentados, juntamente com a seção longitudinal da galeria,
os recalques e os deslocamentos horizontais medidos, ao final da construção da barragem.
Dez anos após a conclusão, o recalque máximo aumentou em cerca de 5 %, sob eixo da
barragem.
Apesar dos recalques sob a parte central da barragem terem alcançado valores
muito elevados, superando as estimativas de projeto, o comportamento da galeria foi
excelente, sob todos os aspectos, incluindo-se os relativos às pressões de contato e às
pressões neutras na inte1face solo-concreto.
Na Barragem de Dahmouni, construída na Argélia, foram tomadas medidas
semelhantes às adotadas na Barragem de Jacareí, para atender aos problemas de contato
do aterro com a galeria de desvio. Foi ainda providenciado o arredondamento dos cantos
superiores da seção da galeria, para minimizar as tendências de concentração de tensões,
verificadas na galeria da Barragem de Jacareí.
- t
r 1 t -
62

G) filtros
@ reaterro argiloso
@ reaterro em material de filtro
@ solo residual

Seção transversal

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Figura 6.3 - Galeria de desvio da Barragem de Jacareí - Recalques e deslocamentos


63

CAPÍTULO 7

ANÁLISES DE PERCOLAÇÃO

As análises de percolação têm como objetivo principal a estimativa das vazões de


percolação e das pressões neutras e subpressões no maciço da barragem e na sua fundação.
De um modo geral, a permeabilidade da barragem ou do núcleo de terra, por serem
construídos de fonna controlada, é menor que a da fundação, mesmo após os tratamentos
de impermeabilização. Assim, as vazões que percolam através da fundação são mais
importantes que as que passam através dos aterros compactados.
Para se processar as análises de percolação é necessário que esteja bem definida
a geometria do maciço da fundação, especialmente da espessura, profundidade e posição
relativa dos horizontes de solo e de rocha, das suas características geológico-geotécnicas,
tais como, sistemas de fraturas, juntas, falhas, xistosidade, etc e, igualmente, do maciço
da barragem, com seus coeficientes de permeabilidade, incluindo-se a anísotropia e a
sua variação sob o efeito do peso próprio do aterro e dos processos construtivos.
As análises são feitas, no plano, em seções transversais, que representem trechos
da barragem, no centro do vale e nas ombreiras. Em alguns casos, as análises não devem
se limitar apenas às seções transversais representativas, mas devem se estender também
às ombreiras, além dos limites da barragem, principalmente quando a topografia do
terreno é favorável a que se desenvolvam caminhos de percolação contornando-a
lateralmente.
As análi ses de percolação podem ser processadas através da aplicação direta da
lei de Darcy, para fluxos em regime laminar, determinando-se as linhas de percolação e
as equipotenciais, que obedecem a uma correlação fundamental, dada pela equação de
Laplace, através de método gráfico do traçado da rede ou por meio de métodos numéricos,
como o método dos elementos finitos.
Pelo método gráfico, o traçado da rede de fluxo é elaborado considerando-se os
enrocamentos e os elementos de filtro como francamente drenantes, através dos quais a
água percola sem perda de carga. Com a rede de fluxo assim definida, calculam-se as
vazões q 1 e q2 , que chegam ao filtro em chaminé e ao tapete drenante, respectivamente,
por metro de barragem (ver Figura 7.1).

A espessura A,, do filtro em chaminé, necessária para escoar a vazão q 1, que


chega até ele através do maciço da barragem, é calculada pela aplicação da equação de
Darcy:
64

Figura 7 .1 - Vazões que chegam ao sistema de drenagem da barragem

onde, L 1 e kf 1 são, respectivamente, o comprimento e o coeficiente de permeabilidade


do filtro em chaminé e H, a carga hidráulica do reservatório.
Ao valor da espessura A 1 , deve ser aplicado um coeficiente de segurança, em
geral, da ordem de 1O, dependendo das hipóteses utilizadas nos cálculos. O valor elevado
do coeficiente de segurança é justificado pelo fato de que as incertezas quanto às
permeabilidades variam com o ciclo logarítmo. Como o gradiente hidráulico nos filtros
em chaminé é elevado, próximo a 1, o valor da espessura, obtido nos cálculos, é
geralmente inferior à dimensão mínima exigida pelos métodos construtivos, da ordem
de I metro. Assim, os filtros em chaminé geralmente incorporam amplos coeficientes
de segurança.
As vazões que chegam ao tapete drenante são a que passa pelo filtro em chaminé
(q 1) e a que percola através da fundação (qz). Conforme já mencionado anteriormente, a
esta última correspondem valores geralmente muito maiores que a primeira, pois as
permeabilidades dos materiais da fundação são muito menos susceptíveis de controle.
Devido às incertezas envolvidas na determiüação dos coeficientes de permeabilidade e
na definição da geometria da fundação e pela maior responsabilidade do tapete drenante
no alívio das subpressões, é necessário que, no dimensionamento destes, se adotem
coeficientes de segurança ainda maiores.
Para evitar subpressões elevadas e a saturação do espaldar de jusante das barragens
de teJTa, os tapetes drenantes devem trabalhar com a menor carga hidráulica possível,
ou seja, com gradientes hidráulicos muito baixos. Por exemplo, em uma barragem com
50 metros de altura, com talude de jusante 1:2,5, se o tapete drenante trabalhar com
65

uma carga máxima de 5 metros, o gradiente será de 4 %, ou seja, 25 vezes inferior ao do


filtro em chaminé. Desta forma, sem computar a vazão que chega pela fundação, a
espessura do tapete drenante deveria ser 25 vezes maior que a do filtro vertical, se fosse
construído com o mesmo material e projetado com o mesmo coeficiente de segurança.
Como o tapete drenante também deve satisfazer ao critério de estabilidade, resulta
impraticável a sua construção com um único material, que atenda simultaneamente aos
requisitos de filtro e de dreno. Assim, se a fundação for constituída de material erodível,
o tapete drenante deverá ser construído com duas camadas externas filtrantes e, pelo
menos uma interna, drenante. Esta última deverá satisfazer ao critério de estabilidade
para as camadas externas e ter permeabilidade suficiente para conduzir as vazões
percoladas, com gradiente hidráulico relativamente baixo. Vice-versa, quanto menor a
sua permeabilidade, maior o gradiente hidráulico requerido e, como conseqüência, mais
elevadas serão as subpressões na base do espaldar de jusante da barragem.
Dependendo das vazões de percolação, pode ser requerido um segundo material
drenante, posicionado internamente a duas camadas intermediárias e a duas camadas
filtrantes. Quanto maior a capacidade drenante do tapete, mais baixa será a linha de
saturação dentro do maciço da barragem, com benefícios para a sua estabilidade,
possibilitando a adoção do talude de jusante mais íngreme e, portanto, redução do volume
do aterro.
Desta forma, a decisão sobre a capacidade drenante do tapete também deve
contemplar análises de estabilidade, podendo-se otimizar o seu projeto com o do talude
de jusante da barragem, chegando-se a uma solução que represente o menor custo de
construção, com a segurança desejada. A otimização do projeto da barragem terá ainda
maior extensão, se nas análises de percolação, para o cálculo das vazões e das subpressões,
também forem consideradas variações nos sistemas de vedação e os seus respectivos
custos.
Analogamente aos filtros em chaminé, o dimensionamento dos tapetes drenantes
pode ser feito aplicando-se diretamente a lei de Darcy ao fluxo de água no inte1ior do
filtro, ou através de redes de percolação compostas, no aterro, na fundação e no tapete.
No primeiro caso determina-se a espessura do tapete, necessária para escoar as vazões
de percolação, a partir do seu coeficiente de permeabilidade e do gradiente hidráulico,
que é função da carga admitida na sua extremidade de montante, para limitar a saturação
do aterro. Admitindo-se que o tapete trabalhe totalmente em carga, ou seja, com a linha
de saturação acima do seu topo, na extremidade de jusante, a sua espessura drenante
deverá ser igual a:

A2 ;;;; (q,+q) L/ L'lh kfl (multiplicada pelo coeficiente de segurança),

onde q 1 e q 2 são as vazões que chegam ao tapete através do filtro em chaminé e da


fundação, L 2 o seu comprimento, 11h a carga hidráulica admitida na sua extremidade de
montante e kf2 o seu coeficiente de permeabilidade.
Ir 1 ~ 1 1 J'
66

O segundo processo de dimensionamento consiste na análise conjunta de


percolação, de todos os horizontes permeáveis da fundação, do maciço da barragem e
de seus dispositivos de impermeabilização e do sistema de drenagem (Eigenheer et al,
1976). Como o problema é indeterminado, devem ser fixadas algumas variáveis. Pode-
se traçar as redes de fluxo pelo processo gráfico tradicional, que se compatibilizam com
os valores pré-fixados da espessura do tapete e com a posição admitida da linha de
saturação. Determina-se, assim, a permeabilidade requerida para o filtro.
Pode-se, também, fixar a espessura e a permeabilidade do tapete e determinar-se
a posição da linha de saturação. Este último procedimento é o mais adequado e a análise
pode ser feita pelo método dos elementos finitos. Assim, por meio de análises
paramétricas, para diversas hipóteses de permeabilidade (já afetadas por coeficientes
de segurança) e de tipos de materiais, são estabelecidas relações entre a altura da linha
de saturação sobre o tapete e as permeabilidades do maciço, da fundação e do tapete,
determinando-se os elementos necessários para o dimensionamento mais conveniente.
Por este processo pode-se, também, anali sar alternativas de variação dos sistemas
de impermeabilização, tais como, profundidade da trincheira de vedação, espessura da
cortina de injeção, comprimento do tapete impermeável a montante, etc, chegando-se a
uma solução globalmente otimizada.
67

CAPÍTULO 8

ANÁLISES DE ESTABILIDADE

Após a concepção preliminar do projeto da barragem, do qual constam diversas


-eções representativas de u·echos no vale e nas ombreiras, que já foram submetidas a
J.Dálises de percolação, são processadas análises de estabilidade, para verificar se os
.::oeficientes de segurança ao escorregamento de taludes estão de acordo com os critérios
de projeto. As análises são processadas para as etapas de construção e de funcionamento,
incluindo-se rebaixamento do reservatório, até níveis compatíveis com a sua operação.
Nas análises de estabilidade utilizam-se métodos de equ ilíbrio limite,
bidimensionais, dentre os quais, os métodos de Bishop simplificado, Spencer, Janbu e
~forgenstern & Price têm sido mais usados, com resultados semelhantes. O método de
Fellenius, conduz a valores subestimados dos coeficientes de segurança e, portanto,
não deve ser utilizado.
Alguns métodos permitem a consideração de superfície de ruptura "não circular"
ou "poligonal", que são interessantes para representar, mais fielmente, condições que
podem ocorrer no maciço da barragem e/ou da fundação. Sherard et al (1976) sugerem
alguns mecanismos potenciais de ruptura, para verificar a estabilidade do conjunto
barragem-fundação, para diversas seções de banagens e tipos de fundação (ver Figura
8.1).

espaldares de
~ r i a i s granulares ~

s .. ~ \ ;;
fundação
em rocha
~''"'" ·ª'""

Figura 8.1 - Mecanismos típicos de ruptura de barragens (Sherard et al, 1976)


68

Nas análises de estabilidade, podem ser utilizadas envoltórias de resistência ao


cisalhamento, em termos de tensões totais e efetivas. No primeiro caso, admite-se que
as pressões neutras, decorrentes da variação do estado de tensões na barragem,
correspondem às pressões neutras desenvolvidas nos ensaios de compressão triaxial,
realizados de forma a retratarem a trajetória de tensões que ocorre durante a construção
do aterro e na fundação. Para as três condições de solicitação, acima referidas, utilizam-
se as envoltórias de resistência discutidas a seguir.

a) Final de construção

Esta condição é crítica, principalmente para a seção de fechamento da ba1rngem,


construída em um curto intervalo de tempo (alguns meses), quando se desenvolvem
pressões neutras devidas ao adensamento do aterro, não dissipadas totalmente, como
conseqüência da velocidade de construção. Utilizando-se envoltórias efetivas, obtidas
por meio de ensaios drenados, as pressões neutras podem ser estimadas, com base em
dados de piezômetros, instalados em outras seções da mesma barragem, construídas
anteriormente, ou de outras barragens, construídas com materiais e em condições
semelhantes, ou a partir de resultados de ensaios PN (ensaios traxiais não drenados,
com aumento concomitante de cr3 e cr 1 , em razão constante).
As análises em termos de tensões totais utilizam envoltórias de ensaios rápidos
(não adensados e não drenados), assumindo-se, conservativamente, que as pressões
neutras que se desenvolvem neste tipo de ensaio representem as que ocorrem no aterro
da barragem.

b) Operação com reservatório cheio

Após o enchimento do reservatório, admite-se que a barragem e a fundação já


sofreram adensamento, provocado pela construção do aterro, e que a rede de fluxo já se
estabeleceu, para o nível máximo do reservatório. As análises são processadas,
considerando-se envoltórias de ensaios triaxiais drenados e de ensaios triaxiais adensados
rápidos, saturados e não saturados. As pressões neutras, devidas à percolação de água,
são calculadas com base na rede de fluxo. O espaldar de jusante é o mais crítico, pois o
de montante é beneficiado pela pressão hidrostática do reservatório sobre o talude.

c) Rebaixamento rápido do reservatório

Mesmo_quando o rebaixamento se processa durante alguns meses, nos


períodos de estiagem, ele pode ser considerado como instantâneo, devido à baixa
permeabilidade do aterro, não propiciando condições para a dissipação das pressões
neutras que se desenvolveram com a percolação de água. A estabilidade do espaldar
69

de montante fica prejudicada, pela ausência da pressão hidrostática sobre o talude,


enquanto que, internamente, as pressões neutras se mantêm elevadas. A avaliação das
pressões neutras pode ser feita, admitindo-se que o parâmetro B = L'iu / L'ia 1 seja igual
a unidade (Morgenstern, 1963) e que a pressão neutra remanescente, após o rebaixamento,
fique correspondendo, conservativamente, à altura da coluna d'água, do ponto
considerado até o nível máximo do reservatório. A estimativa das pressões neutras
também pode se basear em rede de fluxo, traçada para a configuração de rebaixamento
do reservatório. As envoltórias utilizadas nas análises são idênticas às do item anterior.
Os resultados das análises de estabilidade devem ser comparados com valores
mínimos de coeficientes de segurança, de padrão internacional, como os sugeridos
pelo U. S. Corps of Engineers (Wilson e Marsal, 1979), apresentados a seguir. Os
fatores de segurança listados são de natureza empírica. Basicamente eles refletem
a experiência de análises feitas usando certas hipóteses, referentes a superfície de
ruptura, a métodos de análises e a resultados de certos tipos de ensaios. Quando
considerados carregamentos de terremoto, os coeficientes de segurança indicados
são baseados em análises pseudo-estáticas, introduzindo-se uma aceleração
horizontal nominal, mas ignorando a aceleração vertical. As letras Q, R e S da
coluna de envoltória de resistência referem-se a ensaios de compressão triaxial
dos tipos, rápido, adensado-rápido e drenado, respectivamente.

COEFICIENTES DE SEGURÂNÇA MÍNIMOS PARA BARRAGENS DE TERRA


E DE ENROCAMENTO SUGERIDOS PELO U. S. CORPS OF ENGINEERS t)

· Caso Condição de projeto


FS Envoltória de
Observações
mínimo resistência
1,3 2) Taludes de montante
T Final de construção Q ou S 3)
e de jusante
Rebaixam.do reservatório Talude de montante
II 1,0 4 ) R,S
a partir do NA máximo Envoltória composta
Operação, com Talude de montante
llI l ,5 R ,S
reservatório pareia Envoltória composta
Operação, com (R+S) / 2 para R < S Talude de montante
IV 1,5
reservatório parcial s para R > S Envoltória média
Operação, com
V reservatório no nível (R+S) / 2 para R < S Talude de montante
1,5
máximo
s para R > S Envoltória média
Terremoto (casos l , IV e V 5) Talude de montante e
VI 1,0
com carregam . sísmico) de jusante
+.
70

Notas :
1) Não aplicável aos maciços sobre fundação de folhelhos argilosos; para estas condições, devem
ser utilizados coeficientes de segurança maiores.
2) Para maciços com mais de 15 metros de altura, sobre fundação relativamente fraca, utilizar
coeficiente de segurança mínimo de 1,4.
3) Em zonas onde não se antevê excesso de pressão neutra, utilizar envoltória S.
4) O coeficiente de segurança não deve ser menor que 1,5, quando as pressões neutras são obtidas
a parti1 de rede de fluxo de rebaixamento.
5) Usar a envoltória de resistência para o caso analisado sem terremoto.

Recomenda-se, também, que as análises sejam verificadas, utilizando-se resistência


residual, com coeficiente de segurança não inferior a 1, 1.
Quando as análise de estabilidade revelarem coeficientes de segurança abaixo
dos mínimos recomendados, para qualquer condição, o projeto da seção da barragem
deve ser revisto, abrandando-se adequadamente o talude que não satisfez os critérios de
projeto. Vice-versa, se as análises conduziram a coeficientes de segurança muito
superiores aos estabelecidos pelos padrões internacionais, revisões também são
necessárias, para minimizar os custos da barragem.
Barragens de enrocamento, nas quais as análises de estabilidade identificaram
superfícies potenciais de ruptura rasas, contidas integralmente dentro de um dos
espaldares, não são críticas, pois não existem condições que conduzam a ruptura do
maciço com este mecanismo. Por esse mesmo motivo, não se verifica a estabilidade das
barragens de enrocamento com face de concreto. A ruptura deste tipo de barragem
somente pode ocorrer por galgamento da crista ou por um fluxo intenso de água através
do maciço, provocada por erosão regressiva, iniciada no talude de jusante.
71

CAPÍTULO 9

ANÁLISES DE TENSÕES E DEFORMAÇÕES

Durante muitos anos, o problema da avaliação do comportamento de barragens


de terra e de núcleos de barragens de enrocamento, relacionado com o aparecimento de
tensões e deformações que podem dar origem a fissuras nos aterros, somente pôde ser
tratado de forma bastante empírica. Faltavam instrumentos adequados, tecnológicos e
matemáticos, que permitissem um tratamento mais científico, que definisse
quantitativamente as relações causa-efeito. Esse assunto assumiu maior importância
com o aumento crescente da altura das barragens, construídas com maior velocidade e
com equipamentos de compactação de maior energia, aumentando a suscetibilidade ao
fissuramento.
Atualmente, já se pode utilizar uma metodologia quantitativa, para análise do
problema de fissuramento, em vista do grande desenvolvimento de estudos relacionados
a:
reologia dos materiais, isto é, seu comportamento tensão-deformação-tempo;
cálculo estrutural do conjunto constituído pela barragem e sua fundação, através
do método dos elementos finitos;
escolha econômica e dimensionamento de filtros e transições, que constituem
linhas adicionais de defesa;
medidas e instrumentação adequada.
De um modo geral, o fissuramento desenvolve-se em uma barragem quando uma
porção do aterro fica sujeito a tensões de tração, provocadas por recalques diferenciais.
Dependendo da geometria e da compressibilidade relativa do aterro e da fundação, a
barragem pode sofrer distorções, que dão origem a diferentes formas de fissuramento.
As fissuras podem ser paralelas ou transversais ao eixo da barragem, podem ocorrer em
planos horizontais, verticais ou em uma direção intermediária. Sherard et al (1976)
ilustram alguns tipos de fissuras, associadas às causas que as provocaram (Figuras 9.1
e 9.2).
As fissuras mais importantes são as que cortam transversalmente a barragem,
criando um caminho de percolação concentrado através do núcleo. São causadas por
recalques diferenciais entre trechos adjacentes do aterro, geralmente entre o pé da
ombreira e o centro do vale. Os fissuramentos mais perigosos aparecem quando a
fundação sob a seção mais alta do aterro é compressível e a ombreira apresenta-se com
talude íngreme, constituída de rocha relativamente incompressível.
,, :::)rr ÁJ 1.,.r~,-.
72 r"' r " r f:?r"

Em vales apertados, com ombreiras rochosas, o arqueamento da parte superior do


aterro pode impedir que os recalques da crista acompanhem os da fundação, dando
origem a fissuras horizontais.
As medidas concebíveis em projeto, destinadas a evitar ou a reduzir os
fissuramentos, devem atuar na geometria do conjunto barragem-fundação ou no
comportamento reológico dos materiais constituintes.
Entre as primeiras destacam-se o deslocamento do eixo para encontrar topografia
mais favorável, escavação e substituição de materiais por outros mais convenientes,
modificação da disposição dos elementos dentro da barragem, modificação dos taludes,
etc. O arqueamento do eixo da barragem, objetivando aumentar as tensões de compressão
no aterro, pela pressão do reservatório, é um expediente que já foi muito utilizado, mais
a sua eficiência é questionável.
Entre as medidas destinadas a alterar o comportamento reológico dos materiais
destacam-se: modificação dos parâmetros de compactação, substituição, mistura e
processamento dos materiais, emprego de mantas geotexteis ou de fibras nas zonas
tracionadas, redução da velocidade de construção, redução da velocidade de enchimento
do reservatório, etc.
No projeto da barragem também devem ser previstas linhas adicionais de defesa,
admitindo-se que as fissuras possam se desenvolver. Estas linhas de defesa são
constituídas basicamente por filtros e zonas de transição, dimensionados de forma
conservativa, para evitar o aumento progressivo das fissuras e favorecer a sua auto-
colmatação. A posição desses filtros e transições dentro do corpo da barragem é função
do tipo, posição e localização das eventuais fissuras e o seu dimensionamento é função
das características hidráulicas e dos materiais a serem auto-colmatados e dos disponíveis
para a construção dos filtros e transições.
Finalmente, o projeto deve ser complementado, com observações e instrumentação,
que servirão para aferir, confirmar ou negar as hipóteses, nas quais se baseou o projeto.
A análise estrutural, por meio do método dos elementos finitos, pode fornecer subsídios
valiosos ao projeto de instrumentação, permitindo uma programação mais eficiente do
sistema de medidas a ser projetado.
73

fissura

seção longitudinal seção longitudinal

planta
planta
a - Fissuras transversais

fissuras recalque exagerado


'\ / da crista
- - :::...::.\-----L- - ----------~-~--~-::c'"'
aterro~
~ ompactado

aterro aluvião
compactado compressível
sob tabulação

seção longitudinal

planta

Figura 9.1 Alguns tipos de fissuras transversais e suas causas (Sherard et al, 1976)
_ 1,.. ~ _;, " r";.. O~ í="' .r :.J _ te ·j? 3 1_;.~ ( .J. "=r"'S
74 l)f' 1 -'t''t"" 0 7: 1,.,\;,::· ~('(' ,~· ·- ::o.r..-C,r' "t

fissuras
núcleo longitudinais
compactadg,, -
/

recalque ,,--
exagerad~,,--" enrocamento
,,,,,,.,..,. \ ',, lançado
/
/
/
/
/

rocha

fissuras
longitudinais

............ recalque
' ....... ~exagerado
....................

fundação relativamente
compressível .__

rocha

b - Fissuras longitudinais

Figura 9.2 Alguns tipos de fissuras longitudinais e suas causas (Sherard et al, 1976)
75

CAPÍTULO 10

INSTRUMENTAÇÃO

A instrumentação é atualmente considerada como parte essencial de todos os


projetos de grandes barragens. A literatura técnica sobre projeto e construção de barragens
dispõe hoje de imenso acervo de dados, obtidos através de instrumentação. Conferências
e congressos têm sido realizados para a apresentação e discussão desse assunto,
mostrando os conhecimentos mais diversos e apontando as divergências e concordâncias
existentes entre a teoria e a prática. No Brasil, desde 1994, tem sido realizado simpósios
~obre instrumentação de barragens, patrocinados pelo Comitê Brasileiro de Barragens.
Os instrumentos colocados em uma barragem ou em sua fundação podem fornecer
informações importantes sobre o seu comportamento, já na fase de construção, permitindo
a adaptação e a revisão do projeto e, na fase de operação, indicando medidas necessárias
para eventuais correções, além de fornecer dados e parâmetros para o projeto de outras
barragens, que não são passíveis de serem obtidos exclusivamente através da teoria e/
ou de resultados de ensaios de laboratório.
Os tipos de informações obtidas através da instrumentação são os seguintes:
pressões neutras de construção, pressões neutras devidas à percolação de água, pressões
rotais sobre paredes de concreto e sobre fundações, recalques e deslocamentos
horizontais, em profundidade e na superfície, abertura de juntas na rocha e em estruturas
de concreto, vazões de percolação de água, etc.

10.1 TIPOS DE INSTRUMENTOS

Os principais tipos de equipamentos utilizados na instrumentação de barragens


são descritos, sucintamente, a seguir.

a. Medidor de nível d'água

É constituído por um tubo perfurado de PVC, envolvido por material granular


adequado e/ou por manta de geotêxtil, instalado dentro de um furo de sondagem. Permite
a medida do nível d'água, introduzindo-se dentro do tubo um cabo elétrico com pequena
sonda e, quando esta entra em contato com a superfície da água, há passagem de uma
corrente elétrica, que é detectada na supetf-ície por um amperímetro. O cabo é graduado
em centímetros, o que permite calcular a cota do nível d'água, pela diferença entre a
cota do topo do tubo e o comprimento do cabo.
++y ("' '•i.A:;)r 1,- ~r.'l....,e-:r ie _j r"' .,.. ~P• S
>P r~rV'"' e 0e :;r-,,...t'V'ertc
76

b. Piezômetro tipo "stand pipe"

granular e/ou manta de geotêxtil. O trecho restante é envolvido por material impermeável
(argila ou misturas de solo com bentonita socada ou calda de cimento), de forma que o
nível d'água registrado dentro do tubo corresponde à pressão neutra existente no trecho
perfurado. Envolvendo o trecho não perfurado, pode ser colocado um tubo de PVC
corrugado, para maior proteção do piezômetro, para não ser danificado durante a
construção do aterro.

c. Piezômetro hidráulico

É constituído de uma célula, com uma pedra porosa, que é instalada no aterro,
quando a superfície deste se encontra pouco acima do nível de instalação. A célula é
conectada, por um par de tubos, a um terminal, localizado geralmente no talude de
jusante da barragem, onde é construída uma cabine de leituras.
As pressões neutras reinantes no aterro, em contato com a célula, são transmitidas,
através dos tubos, saturados, aos manômetros montados no terminal. Circulando-se
água deaerada através do sistema, pode-se remover bolhas de ar nele existente.
Em cada terminal, podem ser ligados diversos piezômetros, de uma mesma seção
da barragem, instalados ou não no mesmo nível.

d. Piezômetro pneumático

O princípio de funcionamento é semelhante ao do piezômetro hidráulico, apenas


que o fluido utilizado para transmitir as pressões até o terminal é um gás, em vez da
água.
A pressão neutra transmitida através da pedra porosa da célula provoca a deflexão
de uma membrana flexível, abrindo uma válvula. Aplicando-se pressão com o gás, pela
tubulação de entrada, provoca-se um fluxo através da válvula e da tubulação de saída,
que é conectada externamente a um manômetro. A pressão é aumentada, até que fique
igualada à pressão neutra do aterro, quando então ocorre o fechamento da válvula. Se a
pressão na tubulação de entrada for aumentada, não ocorrerá fluxo através da válvula,
permanecendo a pressão na tubulação de saída igual a pressão neutra no aterro da
barragem.

e. Piezômetro elétrico

A pressão neutra transmitida através da pedra porosa da célula provoca a deflexão


de um diafragma flexível. Esta pressão hidráulica é equilibrada pela aplicação de pressão
pneumática (piezômetro elétrico-pneumático), no outro lado do diafragma.
77

A posição de equilíbrio do diafragma é indicada através de um circuito elétrico,


que se fecha, quando a pressão pneumática contrabalança a pressão da água.

f. Piezômetro de corda vibrante

É um piezômetro elétrico, no qual a pressão neutra, transmitida através da pedra


porosa da célula, provoca a deflexão de uma membrana, cuja deformação é medida por
um transdutor de corda vibrante.

g. Célula de pressão total

É utilizada para medida de pressões sobre estruturas de concreto. Consiste de


uma almofada plana, metálica, que fica alojada no interior do concreto e cujo princípio
de funcionamento pode ser elétrico, pneumático ou hidráulico. Pode ser usada juntamente
com célula piezométrica, para possibilitar a determinação da pressão efetiva.

h. Medidor de recalques

É um instrumento utilizado para a medição de recalques em maciços de terra. É


constituído de várias placas ou anéis, instalados no interior do maciço de terra, ao longo
de uma mesma vertical. Cada placa ou anel é ligado a uma haste vertical, cuja extremidade
.;uperior chega à superfície do aterro, onde são feitas medidas de nível.
Existe também um medidor de tubos telescópicos, em que o tubo interno é
chumbado na rocha e os demais são fixados em placas instaladas no aterro, em diversos
níveis . Nas extremidades superiores dos tubos, medem-se as diferenças entre pontos de
referência nelas existentes, por meio de uma escala graduada em milímetros, calculando-
-.e os recalques de cada placa.

i. Caixa sueca

É uma caixa metálica ou de PVC, colocada nos maciços de enrocamento, para


medidas de recalques. Ela é conectada ao talude de jusante, por meio de dois tubos,
onde existe uma cabine de leituras. Introduzindo-se água nos tubos e medindo-se o
nfrel d'água na cabine, detennina-se o nível da caixa e, assim, calcula-se os recalques.
Em uma mesma seção da barragem podem ser instaladas diversas caixas, ligadas a uma
só cabine de leituras .

. Tassômetro

É um medidor de recalques, constituído de uma única haste, que é chumbada em


certa profundidade no interior de um furo de sondagem. As leituras de recalques são
realizadas topograficamente, através de nivelamentos do topo da haste.
, 1: Ct .. 'l ,j ,5
78 1"' "'' "~ .,,· .J"'· E .J "1 1 t

k. Inclinômetro

É um instrumento destinado à observação da inclinação de um furo de sondagem


em relação à vertical. Para tal, são instalados tubos de revestimento, de plástico ou de
alumínio, até abaixo da zona susceptível de movimentação. Os tubos são dotados de
quatro ranhuras, dispostas ortogonalmente, dentro das quais são encaixadas roldanas de
um torpedo, que pode penetrar, com pequena folga dentro dos tubos. As ranhuras são
colocadas nas direções em que se deseja medir as inclinações. No interior do torpedo,
aloja-se um pêndulo, cujo deslocamento angular é detectado por um sistema de
resistências elétricas variáveis.
São feitas leituras da variação da resistência elétrica, afetada pela inclinação do
torpedo, a cada metro, à medida em que ele penetra no tubo, o que permite calcular esta
inclinação. As aplicações do inclinômetro estendem-se ao controle de deslocamentos
horizontais, em taludes naturais, muros de arrimo, etc, além de barragens.
Este tipo de instrumento permite, também, a leitura de recalques, em diferentes
níveis do aterro, tomadas durante a introdução do torpedo.

1. Medidor de vazão

É utilizado para a medição das vazões que percolam através do sistema de


drenagem da barragem e de sua fundação, coletadas por tubulações ou canaletas. O tipo
mais comum é o medidor triangular, no qual a vazão é calculada a partir da medida da
altura da lâmina d' água em um determinado local do medidor.

m. Medidor triortogonal de abertura

É um dispositivo utilizado para medir os movimentos de juntas de paredes de


concreto, de estruturas de galerias, muros de arrimo, etc, em três direções. É constituído
de duas peças de aço, que são chumbadas, uma em cada lado das juntas e que possuem
pares de cutelos, posicionados nas direções em que se deseja medir os deslocamentos.
As leituras são feitas diretamente, com auxílio de um paquímetro.

10.2 PERIODICIDADE DAS LEITURAS

As leituras dos instrumentos devem ser iniciadas logo após a sua instalação. A
periodicidade das leituras dependerá dos próprios resultados e de sua variação, bem
como dos fatores que sobre elas influem, tais como, velocidade de construção, velocidade
de enchimento do reservatório, etc.
No início deve ser mantida uma periodicidade elevada, que gradativamente vai
sendo diminuída, à medida em que os valores das leituras vão se tomando constantes ou
apresentando variações pouco significativas. Durante a fase do primeiro enchimento
79

do reservatório, as leituras deverão ser realizadas diariamente, até que seja atingido o
nivel máximo e constatada a sua estabilização. A seguir, a periodicidade passa a ser
semanal, quinzenal e mesmo mensal, dependendo do próprio comportamento da
barragem. Sempre que houver variação significativa dos resultados ou dos fatores que
neles influem, deve-se reduzir o intervalo de tempo entre as leituras.

10.3 INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

Imediatamente após a leitura dos instrumentos, os resultados devem ser


processados, para a determinação dos valores de pressões, recalques, deslocamentos,
vazões, etc. O processamento das leituras pode ser manual ou através da informática,
com o fornecimento de tabelas e gráficos, para se analisar a sua variação com o tempo
e com outras informações, tais como, altura do aterro, nível do reservatório, pluviometria,
temperatura, etc.
Algumas vezes, as leituras de pressões neutras devem ser analisadas conjuntamente
com as de recalques, para a interpretação de um único fenômeno, que es'tá ocorrendo
em uma seção da barragem ou da fundação. Em certos casos, interessa também o registro
de dados pluviométricos, que podem afetar as medidas de vazões que percolam nos
drenos instalados nas ombreiras.
A Comissão de Auscultação e Instrumentação de Barragens, do Comitê Brasileiro
de Barragens (1996) sugere alguns tipos de gráficos, que devem ser elaborados para
facilitar a análise do comportamento das barragens:
tempo x valor observado;
valor observado x valor observado, por exemplo, da cota piezométrica x NA
do reservatório;
tempo x valor previsto;
diferença entre o valor previsto e o observado;
atemporais, indicando o caminho de certas grandezas;
de seções transversais da barragem, com os valores observados em uma
determinada data;
de causas ambientais, tais como, NA do reservatório, temperatura ambiente,
pluviometria, etc.
Na Figura 10.1 é apresentada uma seção transversal instrumentada da Barragem
de Emborcação (Gonçalves et ai, 1996), onde foram instalados inclinômetros,
piezômetros, medidores de recalques e caixas suecas, e um gráfico com a variação dos
recalques medidos ao longo de cerca de 15 anos.
Em alguns países, como nos Estados Unidos e na Itália, a automação de barragens
em sendo implementada, desde a década de 80, graças ao desenvolvimento de
~icroprocessadores, "data loggers", mini-transdutores de pressão e à transmissão de
_..tdos via rádio, fibra ótica, enlace telefônico e satélite.
=--

80

CONVENÇÕES
650 O· piezômetro pneumáti co
e . caixa succn
i - inchnôm<tro recalque defle.,ào - IP IQ

600

''º

350 1
1 CS-2 12
r,,--
300

250
1 j IR-359 1

Ê
~ 200 1
( CS-214 1

---
Q)
~
O" r-~ IR-378
rJ 150 '
Q)
a::
100
j CS-216 1

50
(
o b /
jan/79 jan/81 jan/83 jan/85 jan/87 jan/89 jan/91 jan/93 jan/95

Figura 10.1 Seção instrumentada da Barragem de Emborcação.


a) Seção da estaca 10+00; b) Gráfico de recalques

Na Barragem de Xingó, concluída em 1994, procedeu-se à automação parcial da


instrumentação, o que representou algumas vantagens (Silveira et al, 1994):
aquisição e análise dos dados em tempo real;
possibilidade de realização de várias leituras no mesmo dia, ou sob condições
particulares de tempo, temperatura, NA do reservatório, etc;
possibilidade de transmissão dos dados a grandes distâncias, via "modem" ou
~atélite;
assegurar a pronta detecção de qualquer eventual anomalia;
redução do custo global da instrumentação, através da redução do pessoal
envolvido com as tarefas de aquisição, processamento e análise dos dados.
'.'? t- - ~ - '
81

CAPÍTULO 11

MÉTODOS CONSTRUTIVOS

Para a seleção de métodos construtivos, na execução de uma barragem de terra


ou de enrocamento, diversos métodos devem ser considerados, incluindo-se o plano
de escavação das jazidas, o processamento dos materiais , o seu transporte e
espalhamento no maciço da barragem, o controle da umidade e da compactação, o
controle de qualidade, etc.
Muitas variáveis devem ser levadas em consideração, antes da seleção dos métodos
de construção. Dever-se-á dispor de maior quantidade de tipos de equipamentos, à medida
em que forem utilizados diferentes tipos de materiais, obtidos a partir de diferentes
jazidas e/ou profundidades, transportados através de estradas de rampas variadas, maior
zoneamento da barragem, diferentes espessuras de lançamento das camadas, etc.
Quando a distância de transporte é curta e as rampas da estrada suaves, o custo do
transporte é baixo e o custo de carregamento é que controla a seleção de equipamentos.
À medida em que cresce a distância entre as jazidas e a barragem, o método de transporte
passa a ser o item crítico na seleção do sistema de construção.
Na maioria das obras, à empreiteira é dada grande liberdade na escolha dos
equipamentos a serem empregados na construção. Entretanto, em alguns casos, o
equipamento pode ter um grande efeito sobre as propriedades finais do maciço da
barragem, havendo necessidade de se impor algumas restrições nos tipos a serem usados.
Por exemplo, na escavação da jazida, um equipamento que escava em lances mais
profundos provoca a mistura dos materiais situados em níveis diferentes, o que vai
influir nas características da seção transversal da barragem. Por outro lado, um
equipamento que escava em pequena profundidade, requer que a escavação se dê em
grandes áreas, o que resulta em maior exposição do material ao tempo que, em certos
casos, pode ser interessante para facilitar a correção da umidade excessiva natural.
As operações básicas para a construção do maciço de uma barragem são:
escavação,
transporte,
espalhamento,
separação de materiais,
correção da umidade,
homogeneização e
compactação.
Freqüentemente, outras operações podem ser requeridas, para atender a problemas
especiais.
- .. - t ~ r
82

11.1 ESCAVAÇÃO

A escavação é usualmente executada por meio de escavadeiras, pás carregadeiras,


dragas, "scrapers", "loaders", etc. Cada equipamento oferece certas vantagens e,
geralmente, diversos tipos podem ser usados em uma mesma obra.

Escavadeiras e pás carregadeiras

São os equipamentos mais comuns de escavação. Nas jazidas de terra, em que as


características dos materiais variam com a profundidade, a escavação realizada através
desses equipamentos proporciona a mistura dos solos e da sua umidade. Pode-se controlar,
grosseiramente, as porcentagens dos materiais desejados, através da variação da
profundidade de corte. Nas fotos 3 e 4, são mostrados estes dois tipos de equipamento.

Foto 3 - Escavadeira.
83

Foto ..J. - Pá carregadeira.

Esse efeito de mic:tura de materiais t,unbérn pode ser conseguido no caso de


enrocamentos. programando s <1s ,tltm,1s das b,ml,;ad,1s dL desmonte nas pedreiras. Após
o desmonte. estes equ1pan ..!ntos l nnse~ 1 1 rot e , mi'>ttll a d~h diferentes tipos ou
graduação das rncha-,.1Mr.... < b ..!nçao do produto Jc,epdo. Este objctÍH) foi alcançado
na Barragem de Água Ve1111..!lh,1. quando "l' desejou ohter enrocarnento de granulometria
variável. que atendesse "º
rt:smo kmpo aos requi,itm. de 111,lten.il de transição e de
··dp-rap... A pedreira foi xplornd.i t: 11 banL ..das. que .iprrs.'ma, am. na sua pmte superior,
basalto denso fraturado e 11.1 p ·t > • h ..,. t 1 , " t L > fr,tturado. Durante
o carregamento, era kit t , n 1 l''l <'l'S e. através de
técnica especial de espalha T en '< 'l<s~·1 UIL-,c o pos1L'.1011,m t:nto '- e,ejado para atender
aos requ1sit<h de transll 1 1

Dragas

a. Dragas de <11 raste "Jn,.! 1 , ..

As dragas de ,..,tL t' '- o d r trabalhar em quase


dos os lugares onde operam ..ts c,ca, Jdeira<,. Ent1danlo . ..,,10 muito lentas e não
roduzem uma mistura sati,fatona do, matenais em u1111..orli.! vi.!rti1.:al. !\ao são aplicáveis
materiais de emocamento e solos de eons1stência dura. A sua pnncipal vantagem é
e podem trabalhar acima <lo Pº<sº de escavação. sendo mais empregadas quando os
ateria1s são muito úrnidos r não apresi.!ntam capacidade de suporte para as escavadeiras.
- _, t
84

As dragas de arraste são especialmente utilizadas na escavação submersa de areias


e de cascalhos, sem necessidade de rebaixamento do lençol freático. Em certos casos,
os materiais precisam ser empilhados, para a eliminação do excesso de umidade, antes
da sua utilização. Na Foto 5 é mostrada uma draga de arraste trabalhando na escavação
de areia.

Foto 5 - Draga de arraste.

b. Dragas de sucção

São utilizadas somente em escavações subaquáticas, principalmente para a


obtenção de materiais granulares (areias e cascalhos), para a construção de filtros e
transições. Este equipamento é também empregado na construção de aterros hidráulicos,
o que traz uma grande redução no custo do transporte, pois os materiais são lançados
diretamente na área do maciço da barragem.
Na construção da Barragem de Taiaçupeba, do DAEE de São Paulo, o processo
de dragagem foi utilizado para a escavação de todo o solo mole da fundação, com cerca
de 5 metros de espessura, constituído de argila orgânica, que foi lançado na região a
montante da barragem, para a formação de um tapete semi-impermeável. A Foto 6
ilustra esta escavação, em sua fase inicial e a Foto 7, após a conclusão da escavação
grosseira, incluindo-se a da trincheira de vedação.
85

Foto 6 - Draga de sucção, no início da escavação da


fundação da Barragem de Taiaçupeba.

Foto 7 - Draga de sucção, no final da escavação grosseira da


fundação da Barragem de Taiaçupeba.
"Scrapers"

Os "scrapers" são equipamentos que têm a capacidade de realizar as operações


de escavação, transporte e espalhamento. Podem operar a baixa velocidade, quando
puxados por trator de esteira ou mais rapidamente, quando puxados por "cavalo" de
J - ,,, F<
86

pneus. Os primeiros servem principalmente para raspagem e limpeza das áreas de


empréstimo e somente são usados em escavação quando a distância de transporte é
muito curta. Os últimos geralmente requerem o uso de tratores, para auxiliar na
operação de carregamento, como o mostrado na Foto 8. São freqüentemente
utilizados quando existe alguma distância de transporte.

Foto 8 - "Scraper", auxiliado na escavação por um trator de esteira.

Os "scrapers" apresentam a vantagem de praticamente não requererem operação


de espalhamento, lançando o material em camadas, quase prontas para a compactação.
Como os "scrapers" escavam o solo em camadas finas, não são eficientes na
mistura de materiais, sendo, portanto, mais recomendáveis para trabalhar em áreas de
empréstimo onde os solos são uniformes ou onde se deseja escavar seletivamente os
materiais, em jazidas estratificadas. Por este motivo, também são recomendados para
trabalhar em áreas de empréstimo muito úmidas, pois a escavação rasa permite maior
exposição ao sol, para uma secagem mais efetiva. Por outro lado, em regiões de muita
pluviosidade, este processo apresenta o inconveniente de expor grandes áreas, resultando
problemas de excesso de umidade, nas épocas de chuva.
A mistura de materiais , com ó uso de "scrapers", em áreas de empréstimo
estratificada, poderia ser conseguida desenvolvendo-se a escavação em superfícies
inclinadas. Entretanto, esta mistura não é tão efetiva, como a realizada por meio de
escavadeiras ou pás carregadeiras.

"Loaders"
87

Quando as áreas de empréstimo são amplas, com topografia plana, constituídas


de materiais uniformes, a escavação por meio de "loaders" constitui o processo mais
econômico e rápido de trabalho. Entretanto, se a área de empréstimo é curta, a produção
cai verticalmente, impossibilitando que a escavação seja feita continuamente, requerendo
freqüentes operações de retorno, para a retomada da bancada de escavação. A Foto 9
ilustra a escavação realizada por uma "loader", na área de empréstimo da Barragem de
Marimbondo.

Foto 9 - "Loader", escavando material de empréstimo


da Barragem de Marimbondo.

Este tipo de equipamento não pode ser utilizado se for requerida escavação seletiva
ou misturas programadas dos materiais de empréstimo.
Dependendo da consistência do material, podem ser requeridos um oµ dois tratores
para operar a "loader". A eficiência de escavação é muito prejudicada, quando há
ocorrência de matacões nas áreas de empréstimo.

11.2 TRANSPORTE

O transporte dos materiais pode representar uma parcela considerável no custo


do maciço da barragem e, muitas vezes, recorre-se ao aproveitamento de jazidas mais
próximas, mesmo que estas sejam de qualidade inferior.
88

Os equipamentos de transporte devem ter características que tomem fáceis e rápidas


as operações de carga e descarga. Por outro lado, o tipo de equipamento de transporte
exerce pouca ou nenhuma influência sobre as propriedades do material ou do produto
acabado. Todavia, quando se utilizam equipamentos pesados, é preciso orientar o tráfego
sobre o aterro, de forma a evitar a supercompactação, que dá origem à laminação nas
camadas onde há concentração do tráfego. Outra alternativa para tratar este problema, é
obrigar que o tráfego se concentre em uma faixa localizada, retrabalhando posteriormente
as camadas afetadas pela supercompactação.
Os principais tipos de equipamentos de transporte são: caminhões basculantes.
vagões, "scrapers", correias transportadoras, calhas ou tubulações, etc, e a sua escolha,
em certos casos, fica condicionada ao tipo de equipamento de escavação.

Caminhões basculantes

Existem diversos tipos e tamanhos de caminhões, que podem bascular para frente,
para traz, ou para o lado, a sua carga. A escolha do tipo a ser adotado depende
principalmente das dimensões da obra, do tipo de material, do volume do aterro, da
necessidade ou não de grande produção, da distância de transporte e das rampas a serem
vencidas.
Os denominados "fora de estrada" são caminhões reforçados, projetados para
suportar os choques que ocorrem durante a carga e a descarga de grandes blocos de
enrocamento. Devido à baixa relação entre o peso da carga e o do caminhão, os custos
diretos de sua utilização são muito elevados, se forem utili zados para o transporte de
solo. Como eles têm maior potência por tonelada de carga, são especialmente
recomendados para transporte em estradas com rampas íngremes. Na Foto 1Oé ilustrado
um caminhão "fora de estrada".

Foto 10 - Caminhão "fora de estrada".


89

Yagões

São equipamentos com basculamento de fundo, de grande capacidade, utilizados


para transporte de materiais terrosos, podendo ser operados com altas velocidades. O
seu carregamento é feito por meio de "loaders" e a descarga se faz com o vagão em
movimento, resultando uma leira extensa, que pode ser espalhada por trator de esteira
ou motoniveladora de grande porte. Na Foto 8 aparecem dois vagões, sendo caiTegados
por uma "loader".
Devido ao seu grande peso, o trajeto sobre o aterro da barragem deve ser
controlado, a fim de se evitar a ocorrência de laminações. Além disso, deixa lisa a
superfície por onde passa, requerendo escarificação contínua do aterro, para melhorar o
contato entre as camadas.

··&crapers"
As características dos "scrapers" já foram discutidas no item sobre escavação.

Correias transportadoras

Este tipo de equipamento tem sido utilizado em poucas barragens, para o transporte
dos materiais de empréstimo. Apresenta vantagens em locais de topografia acidentada,
quando existe grande diferença de nível entre a área de empréstimo e a barragem e o
custo de construção e de manutenção das estradas de acesso é muito elevado.
Para a melhor distribuição do material na área da barragem, o trecho final da
correia pode ser construído de forma a permitir a rotação em torno de um pivô, lançando
o material em diversos pontos do aterro ou do enrocamento. Na saída, pode-se também
m,talar uma central, para carregamento de caminhões, que fazem o transporte final do
material.

Calhas e tubulações

Na execução de aterros hidráulicos, o transporte do matelial da área de empréstimo


até a barragem pode ser feito na forma de lama, através de calhas ou de tubulações. As
calhas são usadas quando existe diferença de nível entre os dois locais, sendo a lama
transportada por gravidade. As tubulações são usadas quando há necessidade de
bombeamento.
Este tipo de transporte é muito utilizado na construção de barragens para contenção
de rejeitas, qua_ndo se utiliza o próprio rejeito como material de construção. Antes do
seu lançamento, o rejeito pode passar por hidrociclones, que separam as partículas
grossas, que são aproveitadas na construção da barragem, das partículas mais finas, que
são lançadas no reservatório.
90

11.3 ESPALHAMENTO

O material é lançado sobre a supe1fície do maciço, em camadas, pilhas ou leiras.


As pilhas e leiras são espaçadas, de forma a serem espalhadas por trator de lâmina ou
motoniveladora, formando uma camada com a espessura desejada, sem necessidade de
conduzir o material a grandes distâncias.
O espalhamento do material deve ser feito em direção paralela ao eixo da barragem
(assim como a compactação), para se evitar a formação de eventuais caminhos
preferenciais de percolação na direção montante-jusante. Na Foto 11 é ilustrada uma
motoniveladora, utilizada para espalhamento do solo descarregado por vagões, na
Barragem de Marimbondo.

Foto 11 - Motoniveladora para espalhamento de solo lançado por vagões.

Nas barragens de enrocamento com núcleo de terra, o espalhamento do


enrocamento deve ser conduzido, de forma a providenciar que os blocos maiores
fiquem afastados e os menores próximos ao núcleo, para melhorar as condições de
transição entre os dois tipos de materiais. A Foto 12 ilustra um trator de esteira
realizando espalhamento de uma camada de enrocamento.
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91

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Foto 12 - Trator de esteira espalhando camada de enrocamento.

A espessura de espalhamento depende do tipo de material, do equipamento


compactador e, às vezes, do número de passadas para a compactação. Deve ser
determinada de forma a não resultar elevado gradiente de compactação em toda a altura
da camada, isto é, não deve haver variação sensível no valor da massa específica do
solo, desde o topo até a base da camada e satisfazendo aos requisitos quanto ao grau de
compactação desejado. Como a espessura da camada de solo lançado pode ser afetada
sensivelmente pela passagem dos equipamentos de transporte carregados, as
especificações de construção costumam fixar valores para a espessura medida após a
compactação.

11.4 SEPARAÇÃO E MISTURA DE MATERIAIS

Na construção de aterros devem ser removidos os blocos de rocha ou matacões


de dimensões maiores que a espessura das camadas, para não prejudicarem a sua
compactação. Dependendo da porcentagem de ocorrência, esses materiais podem ser
removidos no próprio aterro ou antes do seu lançamento na barragem. A primeira hipótese
omente é aplicável quando a porcentagem de blocos ou matacões é reduzida, realizando-
se esta operação por meio de uma grade, colocada em substituição à lâmina do trator ou
:nesmo manualmente, se este procedimento for viável. Em caso contrário, a separação
Jeve ser feita através de uma usina de peneiramento, sendo os materiais graúdos
aproveitados em outra zona da barragem, fora do aterro.
Na Barragem de Itaparica (de enrocamento com núcleo central de terra, constituído
e areia silto-argilosa, de decomposição de granito), a zona de transição de jusante foi
92

construída com material proveniente das escavações estocado, removendo-se os blocos


maiores que 1Ocm, por peneiramento vibratório. O material fino tinha cerca de 40 a 50
% passando na peneira # 4 e cerca de 5 %, na peneira # 200. Durante a construção da
barragem, Sherard (1985) chegou às seguintes conclusões sobre o manuseio e as
propriedades do material compactado nas diferentes zonas:
"havia uma significante tendência de segregação durante a operação de
peneiramento do material, que caia em queda livre na extremidade da correia
transportadora; pacotes de blocos de 2,5 a 10 cm de diâmetro, sem finos, se
acumulavam nas pilhas, mas era relativamente fácil mistura-los, para formar
um produto homogêneo, trabalhando-se com um pequeno trator e uma pá
carregadeira;
em muitos poços de inspeção abertos no maciço da barragem, o material
apresentou-se homogêneo, sem sinais de segregação das partículas maiores; o
coeficiente de permeabilidade, determinado através de ensaios in situ, variou
entre lx1Q-5 e 4xl04 cm/s, com média de 5xl0-5 cm/s".
Esta experiência levou Sherard a concluir que, para o projeto de barragens de
enrocamento com face de concreto, materiais similares ao do filtro de Itaparica têm
propriedades significativamente melhores que os materiais granulares que estavam sendo
usados na zona de transição sob a laje de concreto. A resistência ao cisalhamento dos
dois tipos de materiais era aproximadamente a mesma, com a vantagem de que os
primeiros podiam ser colocados sem problemas de segregação e, conseqüentemente,
com menor permeabilidade, o que era altamente desejável na zona sob a laje de concreto.
A experiência de Itaparica, de mistura dos materiais por meio de trator e pá carregadeira,
foi utilizada na Barragem de Xingó.

11.5 CORREÇÃO DA UMIDADE

A correção da umidade do material do aterro, antes de sua compactação, deve ser


feita predominantemente na área de empréstimo. Na área da barragem, devido às
dificuldades de homogeneização, deve ser previsto apenas o ajuste final, de, no máximo,
1 %. Para compensar as perdas de umidade durante o transporte e o lançamento, o
material deverá ser escavado com cerca de 1 % acima do teor desejado. Estes
procedimentos garantem melhor homogeneização do aterro e maior eficiência de
compactação.
Quando a diferença entre a umidade natural na área de empréstimo e a desejada é
muito grande, as operações de correção da umidade, seja por irrigação, seja por aeração,
devem ser iniciadas com bastante antecedência em relação à de escavação.
Nos casos em que é necessário acréscimo de umidade, este se faz por meio de
caminhões-pipa ou de grandes tanques puxados por "cavalos de scraper". Estes
equipamentos são dotados de bomba, para fornecer pressão ao sistema de irrigação. A
Foto 13 ilustra a operação de irrigação do aterro com um carro pipa.
93

Na construção de enrocamentos, é recomendável proceder-se à molhagem do


material, para a remoção dos finos dos contatos entre os blocos, para minimizar os
recalques que ocorrem após a construção. Além disso, a molhagem provoca, em certos
tipos de rocha, a diminuição da sua resistência e, conseqüentemente, a quebra dos cantos
dos blocos nos contatos, contribuindo também para a antecipação dos recalques. Esta
molhagem é feita através de monitores, sendo utilizado um volume de água de cerca de
25 % do volume de enrocamento.
Quando o material de aterro se apresenta com excesso de umidade, o que ocone
principalmente após os períodos de chuva, a secagem é feita através de sua exposição
ao sol, auxiliada por gradeamento contínuo da camada superficial. Se ocon-eu chuva
intensa ou prolongada, quando a superfície do aterro se encontrava revolvida, pode
resultar em acréscimo tão elevado do teor de umidade, que será necessária a remoção de
toda a camada solta, para o reinício dos trabalhos após as chuvas. A fim de se minimizar
estes problemas, na iminência de chuvas, é uma boa prática o alisamento da superfície
do aterro ("selagem"), por meio de um rolo liso ou de equipamento de pneu.

Foto 13 - Irrigação do aterro para correção da umidade .

11.6 HOMOGENEIZAÇÃO

Esta Óperação é geralmente utilizada antes da compactação, para garantir uma


mistura perfeita, entre o material solto, remanescente da camada inferior e o da camada
lançada, como também a uniformização da umidade em toda a espessura da camada.
Este procedimento garante maior eficiência e uniformidade de compactação.
A homogeneização é executada por meio de uma grade de discos, puxada por
trator de pneus, que geralmente permanece trabalhando continuamente a camada,
94

enquanto são ultimados os serviços de espalhamento e acerto da sua espessura. Esse


equipamento também é utilizado para a escarificação do topo das camadas que se
apresentam lisas, devido à passagem de equipamentos de transporte de material, para
proporcionar melhor contato com a camada que será sobreposta. A Foto 14 ilustra o
trabalho de uma grade de discos, homogeneizando e escarificando o aterro.

11.7 COMPACTAÇÃO

Os procedimentos para compactação e controle de um aterro são diferentes dos


utilizados na construção de um maciço de enrocamento. Geralmente, as especificações
para a construção de aterros estabelecem as condições para a aceitação do produto
acabado, ficando a critério da empreiteira a escolha do equipamento de compactação e
do número de passadas, para se chegar ao resultado desejado.
O tipo de equipamento a ser usado e o número de passadas requeridas dependem
do tipo de material e da espessura da camada de compactação. Os materiais impermeáveis
são usualmente compactados por rolos pé-de-carneiro ou rolos pneumáticos, enquanto
que os materiais permeáveis e granulares podem ser compactados por rolos vibratórios
e até mesmo por trator de esteira, auxiliados por molhagem intensiva.

Foto 14 - Grade de discos, para homogeinização e escarificação do aterro.


r 'E. - ,
95

Atualmente existe uma grande variedade de compactadores, para cada tipo acima
mencionado, puxados por diferentes tipos de equipamentos:
os rolos pé-de-carneiro propriamente ditos são usados para compactação de
solos com matriz argilosa, em camadas com espessura variando entre 15 e 30
cm;
os rolos do tipo "tamping" são usados em aterros de argilas arenosas ou siltes
argilosos, também compactados em camadas de 15 a 30 cm de espessura;
os rolos pneumáticos, auto-propulsores de pneus pequenos, são utilizados para
siltes arenosos, argilas arenosas e areias com pedregulhos; a espessura da camada
varia entre I O e 20 cm;
os rolos pneumáticos pesados, de pneus grandes, também são usados para a
compactação de siltes arenosos, argilas arenosas e areias com pedregulhos; a
espessura das camadas pode variar entre 30 e 60 cm;
os rolos vibratórios podem ser de tambor liso, para compactar enrocamentos e
materiais granulares, ou do tipo "tamping", para compactar aterros; os
enrocamentos são compactados em camadas de 60 a 100 cm e, os aterros, de 15
a 30 cm de espessura;
os compactadores manuais são utilizados para compactação de solo, nas
primeiras camadas de fundação em rocha e em locais de difícil acesso aos
equipamentos pesados, tais como, junto a estruturas de concreto ou nas
proximidades da instrumentação, para prevenir contra eventuais danos que
possam ser causados pelos rolos pesados; podem ser acionados por ar
comprimido ou por motores a gasolina; a espessura das camadas é da ordem de
10cm;
as placas vibratórias são utilizadas para a compactação de filtros em chaminé,
e o método construtivo destes consiste em se escavar uma vala no aterro, para
o seu preenchimento com areia; a espessura das camadas é da ordem de 30 cm,
molhando-se intensamente a areia à medida em que a placa vibratória vai se
aproximando para a sua compactação.

Rolos pé-de-carneiro

Este tipo de rolo e sua denominação tiveram origem na constatação de que os


animais caminhando sobre uma superfície de terra produzia razoável compactação. O
termo pé-de-carneiro foi inicialmente usado para os rolos cujas patas apresentavam
uma saliência arredondada nas extremidades. Atualmente, esta denominação é utilizada
para os diferentes tipos de rolos metálicos, com patas. Os pesos dos rolos e as dimensões
das patas são as mais variáveis e o tipo mais padronizado é o especificado pelo U. S.
Bureau of Reclamation, cujas características são (ver Foto 15):
96

Foto 15 - Rolo pé-de-carneiro tipo USBR.

os tambores não devem ter menos que 1,50 m de diâmetro, comprimento entre
1,20 e 1,80 m, com espaço entre dois tambores adjacentes de 30 a 45 cm;
cada tambor deve ser independente, para poder girar em torno de um eixo
paralelo à direção do tráfego;
deve haver uma pata para cada 650 cm2 de superlície do tambor;
o espaço entre os pés deve ser maior ou igual a 22,5 cm;
o comprimento dos pés deve ser de, no mínimo, 22,5 cm;
a seção transversal dos pés, a uma distância de 15 cm da superfície do tambor
deve ser de 65 cm2 e não pode ser menor que 45 cm2, nem maior que 65 cm2, a
uma distância de 20 cm dessa superfície;
o peso do rolo, quando totalmente carregado, com areia e água, não deve ser
menor que 6 toneladas, por metro de tambor;
os rolos devem ser providos de limpadores, para evitar que a terra fique aderida
entre as patas, o que seria prejudicial à compactação.

Rolos pneumáticos

Na época do final da segunda gue1Ta mundial, os rolos pneumáticos começaram a


ser usados na construção de um grande número de barragens, principalmente na região
oeste dos Estados Unidos. Atualmente, existe grande variedade de tipos, sendo o mais
padronizado o rolo de 50 toneladas, cujas características são as seguintes (ver Foto 16):
1. l ~ - r -
97

Foto 16 - Rolo pneumático de 50 toneladas.

são equipados com 4 rodas pneumáticas, dispostas lado a lado;


os pneus têm capacidade de operar com pressão variando entre 80 e 100 libras/
pol2;
as rodas têm eixos independentes entre si e de forma a que recebam cargas
iguais, quando o rolo está sendo puxado; a carga mínima é de 12 toneladas por
roda;
o espaçamento entre as rodas deve ser tal que a distância entre os pneus não
seja maior que a metade de sua largura, quando totalmente carregados.
São atualmente muito utilizados, principalmente na construção de aterros de
estradas, os rolos pneumáticos auto-propulsados. São mais leves (1 O a 35 too) e
apresentam grande facilidade de manobras. Os pneus são menores, as rodas articuladas,
dispostas em dois eixos: três dianteiras e quatro traseiras ou quatro dianteiras e cinco
traseiras. A pressão dos pneus varia entre 50 e 120 libras/poF, podendo ser controlada
com o rolo em marcha, pennitindo aumentar a área de contato pneu-solo, quando a
camada ainda est~ fofa e diminuí-la, à medida em que vai aumentando o grau de
compactação com o número de passadas. A Foto 17 mostra um rolo pneumático, auto-
propulsado, usado na compactação do aterro da Barragem de Marimbondo, na região
do canal do rio.
....
f ot 1 1 7 - Role, pneumático ::,uLo-propubado.

F to I x R1 1
99

Rolos vibratórios

Os rolos vibratórios são usados, principalmente, na compactação de materiais


granulares. Podem ser rebocados ou auto-propulsados, com tambores lisos ou corrugados.
A freqüência de vibração é variável, podendo-se adapta-la, para resultar melhor eficiência
de compactação, em função do tipo de material (ver Foto 18).

Na compactação de enrocarnentos têm sido mais utilizados os rolos de IOtoneladas


que, com a vibração, introduzem impacto dinâmico, chegando a carga a atingir 25
toneladas.

Rolos "tamping"

São rolos semelhantes ao pé-de-carneiro, com patas curtas e largas, auto-


propulsados ou puxados, vibratórios ou não. Podem operar com eficiência a maiores
velocidades ( 15 a 20 km/h), enquanto que os pé-de-carneiro tradicionais operam somente
em baixas velocidades (4 a 6 km/h) (ver foto 19).

Foto 19 - Rolo "tamping".


- ·'
100

Mecanismo da compactação de aterros

Apesar do custo da compactação representar apenas uma fração do custo de uma


barragem, o método de compactação constitui um dos aspectos mais importantes da
construção. Ele é responsável pelo grau de uniformidade do maciço do aterro e exerce
grande influência nas suas propriedades, como a compressibilidade, a resistência e a
permeabilidade. Utilizando-se um único método e energia de compactação, teoricamente,
para cada teor de umidade, obtém-se um único valor da densidade. A densidade seca de
um solo compactado cresce com o acréscimo do teor de umidade, até a densidade seca
máxima, que é obtida na chamada umidade ótima (Figura 11.1). Após este ponto, a
densidade seca começa a decrescer com o acréscimo da umidade. Para cada método de
compactação, há sempre um único valor de densidade seca máxima, na umidade ótima.
Para cada tipo de solo, a umidade ótima, a densidade seca e a forma da curva
variam consideravelmente com os diferentes métodos de compactação. Acima da
umidade ótima, a curva de compactação apresenta-se aproximadamente paralela à curva
de grau de saturação de 100 %, e a distância d, entre as duas curvas, representa a
porcentagem de ar contida no solo compactado.

\ ó'
'\-,,
\'Óo
\ %
\
\
\
\
dens. seca \
máxima :';
\
\ \
\
l'O
oQ) \ \
V, \ \
Q)
"O \ \ \
l'O
"O
\ \ \
·.;;
e
Q) umidade \ \
o \
ótima \
\ \
\
\

Umidade

Figura 11.1 - Correlação típica entre densidade seca e umidade ótima


para um certa energia de compactação.
101

Se o solo é compactado por um mesmo método, mas com diferentes energias de


.::ompactação, é obtida urna família de curvas, com formas semelhantes. Quanto maior
.: energia de compactação, maior o valor da densidade seca e menor o da umidade ótima
Figura 11.2).

1
"'u
3l
Q)
"'O
"'
"'O
'üi
e
Q)
Cl

Umidade

Figura 11.2 - Família de curvas de compactação típicas de um solo, obtidas


com o mesmo equipamento, mas com energias diferentes.

Nesta farru1ia de curvas, a linha que liga os pontos de densidade máxima aproxima-
se de uma reta, que é ligeiramente paralela às curvas de mesmo grau de saturação.
Acima da umidade ótima, as curvas obtidas para todas as energias de compactação
superpõem-se. Assim, para uma dada umidade, há um grau de saturação máximo e,
portanto, urna densidade máxima, que pode ser obtida, na prática, por um tipo de
equipamento de compactação, indiferentemente da energia utilizada. Abaixo da umidade
ótima, as curvas são aproximadamente paralelas. Conclui-se, portanto, que um acréscimo
na energia de compactação é mais efetivo para aumentar a densidade de um solo, quando
a sua umidade está abaixo da ótima, do que acima dela.
Na Figura 11.3 é representada, qualitativamente, a correlação entre o acréscimo
da energia de compactação e o acréscimo da densidade seca do solo, para uma
mesma densidade seca inicial, mas com diferentes teores de umidade. Esta influência, do
- . .
102

acréscimo da energia de compactação, sobre a densidade, é devida ao fato de que o


material mais úmido é mole e as tensões de cisalhamento impostas durante o processo
de compactação são maiores que a resistência ao cisalhamento e, assim, a energia de
compactação é, em grande parte, dissipada em cisalhar o material compactado, em vez
de aumentar a sua densidade. O solo abaixo da umidade ótima é mais rijo e a maior
parte dá energia de compactação é absorvida comprimindo o solo para um estado mais
denso.

--------- --------- --------- ------- a

solo úmido

(1) maior esforço de compactação

(2) menor esforço de compactação

Umidade- Acréscimo no esforço


de compactação -

Figura 11.3 Influência da energia de compactação de um solo, compactado


a partir da mesma densidade seca e com teores de umidade diferentes.

No laboratório, onde os ensaios são executados sob condições controladas, as


curvas de compactação são facilmente obtidas. No campo, as curvas de compactação
do aterro, para vários tipos·de rolos, são mais difíceis de se obter, devido às dificuldades
de se controlar as variáveis que influem nos resultados. Os principais fatores que afetam
os valores da densidade seca, quando um dado tipo de solo é compactado, são:
tipo de rolo, seu peso e pressão de contato no solo;
espessura da camada;
número de passadas do rolo;
teor de umidade do solo;
velocidade do rolo.
Devido aos custos e dificuldades de se fazerem ensaios em escala natural, para
o controle da compactação no campo, a influência destes fatores somente é conhecida
em termos gerais.
103

Tanto os rolos pneumáticos, como os rolos pé-de-carneiro, compactam o solo por


arnassamento, isto é, a pressão que causa a compactação varia de zero até um valor
máximo, voltando novamente a zero, durante a passada do rolo. Entretanto, apesar da
semelhança, os dois rolos trabalham sob princípios diferentes.
O rolo pneumático aplica a força na superfície da camada e a compactação é
obtida pela repetição da pressão, com as sucessivas passadas. Nas primeiras passadas, a
camada está mais espessa e a pressão transmitida para a sua base é menor. A pressão
aplicada no topo da camada é aproximadamente igual à pressão interna dos pneus;
assim, para um certo peso do rolo, o valor da densidade do aterro depende diretamente
da pressão dos pneus.
Na compactação realizada pelo rolo pé-de-carneiro, o processo é diferente, pois,
nas primeiras passadas, o solo estando mais fofo, a penetração das patas é maior e
grande parte da energia de compactação é transmitida para a camada inferior.
Gradativamente, a camada superior vai se tornando mais densa e mais resistente, sendo
capaz de suportar a elevada pressão exercida pelas patas. A utilização mais eficiente da
energia de compactação ocorre quando o tambor começa a se afastar da superfície da
camada, logo nas primeiras passadas ("walks out").
Os rolos pé-de-carneiro são freqüentemente especificados em termos da pressão
exercida pelos pés, assumindo-se que uma só fileira de patas está em contato com o
aterro. Além disso, devem ser incluídas outras propriedades, tais como, peso por metro
de tambor, o espaço entre as patas e a sua área. O rolo pé-de-carneiro tipo USBR,
quando totalmente carregado, exerce uma pressão de cerca de 700 kPa, admitindo-se a
hipótese de que 5 % dos 240 pés estão em contato com o solo.
Para a fixação da espessura da camada, não existem regras rígidas a serem
observadas. Os aterros são geralmente construídos em camadas de 15 cm de espessura,
medida após a compactação, quando se utiliza rolo pé-de-carneiro e de 23 cm, com rolo
pneumático de 50 toneladas. Estas valores são satisfatórios para a maioria dos solos.
Com o rolo pé-de-carneiro, 6 a 12 passadas são suficientes para obtenção de grau
de compactação entre 98 e 100 %. Como o acréscimo do número de passadas não
representa custo e tempo adicionais significativos, geralmente especifica-se 10 a 12
passadas, para se obter maior uniformidade do aterro. Com o rolo pneumático de 50
toneladas, 3 a 6 passadas são suficientes para se conseguir grau de compactação
comparável com o obtido com o rolo pé-de-carneiro.

Comparação entre rolo pé-de-carneiro e rolo pneumático

Os rolos pneumáticos têm sido às vezes preteridos, com o argumento de que os


aterros compactados com rolos pé-de-carneiro resultam mais homogêneos, como
conseqüência da mistura entre as camadas, produzida por estes últimos. A maioria dos
engenheiros concorda que existem solos especiais, que são melhor compactados sob
altas pressões, como é o caso dos rolos pé-de-carneiro. Entretanto, os rolos pneumáticos
~t~n0,~:~ on P~c)eto j~ bOrru~~rs
104 o~ Tc...-..-c. e oe - r ... '"""_C,.Ml-;--"r tu

realizam a compactação com menores custos e são mais efetivos na compactação de


solos contendo cascalho graúdo ou fragmentos de rocha sã; nestes materiais, quando
são usados rolos pé-de-carneiro, algumas patas se apoiam nos componentes graúdos,
evitando que as patas adjacentes transmitam pressão ao solo vizinho.
Em algumas obras, têm sido usado, simultaneamente, os dois tipos de rolo, para
se conseguir maior eficiência na compactação de diferentes tipos de materiais. Por
exemplo, na construção da Barragem de Três Marias, foram empregados rolos pé-de-
carneiro, para compactar os solos coluvionares, argilosos, provenientes das áreas de
empréstimo, na construção do núcleo e rolos pneumáticos de 50 toneladas, para compactar
solos residuais, siltosos, com fragmentos de rocha, obtido das escavações das fundações
das estruturas de concreto, para a construção do espaldar de montante.
As principais vantagens do dois tipos de rolo são:

a. Rolo pé-de-carneiro

a. l - Como os rolos pé-de-carneiro deixam a parte superior das camadas no


estado fofo, as camadas sucessivas se fundem , em um processo contínuo.
Conseqüentemente, o aterro apresenta uma relativa uniformidade de densidade e,
raramente, se observam superfícies horizontais, resultantes do contato precário entre
camadas. Por outro lado, as camadas compactadas com rolos pneumáticos apresentam
superfície dura e lisa, que precisa ser escarificada, antes do lançamento da camada
seguinte. A Foto 20 mostra a construção do aterro de uma barragem compactado com
rolo pé-de-carneiro. ·

Foto 20 - Aterro compactado com rolo pé-de-carneiro.


11 - j -
105

a.2 - Os rolos pé-de-carneiro são muito mais efetivos que os pneumáticos em


quebrar os fragmentos de rocha mole, geralmente contidos em solos residuais, resultando
um ateITo mais impermeável.
a.3 - Devido à ação de mistura provocada pelos rolos pé-de-carneiro, nos solos
que contêm torrões, são requeridos poucos serviços com grades de discos. Além disso,
os solos úmidos podem secar durante a passagem dos rolos e os secos podem ser iITigados,
enquanto estão sendo compactados. Quando são usados rolos pneumáticos, a correção
da umidade deve ser feita integralmente, antes do início da compactação da camada.
a.4 - Como a pressão aplicada ao solo é baixa, nas primeiras passadas, e vai
gradualmente crescendo, à medida que o solo se torna suficientemente resistente para
suportar as patas, os rolos pé-de-carneiro podem compactar em uma faixa mais ampla
de umidade, que os rolos pneumáticos. Conseqüentemente, eles são capazes de trabalhar
em solos finos, com umidades mais elevadas, o que resultaria em problemas de
atolamento, se fossem usados rolos pneumáticos pesados.

b. Rolos pneumáticos

b.1 - Os rolos pneumáticos passam a ser recomendados pelo fato de poder


compactar a maioria dos materiais de aterro, com baixo custo e em menor tempo que os
rolos pé-de-carneiro. De fato, eles compactam camadas mais espessas, materiais contendo
cascalho graúdo, com menor número de passadas e a velocidades maiores que os rolos
pé-de-carneiro. Devido a esses fatos, é necessário menor quantidade de equipamentos
de compactação, para a construção de um volume de ateITo em determinado tempo.
Todas estas vantagens compensam os problemas adicionais de ajuste da umidade do
solo, escarificação das superfícies das camadas e outras medidas, para garantir um contato
satisfatório entre camadas.
b.2 - Em alguns solos granulares, as patas dos rolos pé-de-carneiro se desgastam,
:-equerendo contínua manutenção. Para estes solos, os rolos pneumáticos são menos
danificados por ação abrasiva e, po1tanto, são mais econômicos.
b.3 - Durante as estações chuvosas, a construção do ateITo se processa mais
rapidamente com rolos pneumáticos, pois há menos problemas de excesso de umidade,
em vista da menor penetração das águas de chuva através da superfície das camadas.
b.4 - Especialmente em solos granulares, pode-se conseguir densidades mais
elevadas, com o uso do rolo pneumático pesado.
b.5 - Os rolos pneumáticos servem como guia de construção, para a localização
de bolsões de solo mole, subjacentes às camadas, observando-se o afundamento das
rodas e a ondulação do aterro, durante a sua passagem. Estes fenômenos não são notados
com os rolos pé-de-carneiro, que podem funcionar como urna ponte, nos locais desses
bolsões.
106

b.6 - Os rolos pneumáticos conseguem melhor compactação que os pé-de-carneiro,


nas camadas junto às fundações em rocha sã, como também nos contatos com as
superfícies das estruturas de concreto.

11.8 CONSTRUÇÃO DE ENROCAMENTOS

Até a década de 60, a maioria das grandes barragens de enrocamento era construída
com blocos de rocha sã, lançados em camadas de espessura variável entre 5 e 30 metros,
lavados com água na proporção entre 2: 1 e 4: 1, em volume (água/enrocamento). A
opinião dos projetistas era de que os blocos deveriam ser de tamanho uniforme, cada
um suportando diretamente a carga do outro, conforme a expressão usual "rock to rock",
a fim de evitar recalques excessivos e desiguais.
A partir da década de 70, com a evolução das barragens de enrocamento com face
de concreto, houve a necessidade de minimizar os recalques do espaldar de montante,
para não prejudicar a estanqueidade da laje apoiada sobre este paramento. Com este
objetivo, os enrocamentos passaram a ser compactados com rolos vibratórios, em
camadas de 60 a 90 cm de espessura. Esta prática permitiu o aproveitamento de ampla
faixa de materiais rochosos, tais como, rochas moles, com certa quantidade de finos,
que não eram tolerados nos enrocamentos simplesmente lançados.
Atualmente, as barragens de enrocamento são predominantemente construídas
em camadas compactadas. Nas barragens com face de concreto, onde o controle dos
recalques é mais importante, a seção transversal é subdividida em zonas, como na
Barragem de Xingó, mostrada na Figura 3.2, com as seguintes características:
zona de montante, construída com enrocamento são, não desagregável, com,
no máximo, 35 % de "finos" (partículas menores que 25mm) e, no máximo, 10
o/o passando na peneira# 200, compactado em camadas de 80 cm de espessura,
com rolo vibratório de 10 toneladas e com adição de água;
zona de jusante, construída com enrocamento não selecionado, sendo aceitável
a utilização de rocha desagregável, desde que contenha menos que 65 o/o de
"finos" e que permita o tráfego de "caminhões fora de estrada" carregados,
sem atolamento, compactado em camadas de 2,00 m de espessura, com rolo
vibratório de 1O toneladas e com adição de água;
faixa de 1O metros de largura, junto à face de jusante, construída com grandes
blocos de enrocamento são, não desagregável, colocados antes do lançamento da
zona anterior, para dar o alinhamento e o acabamento do talude de jusante;
zona de enrocamento fino, com 4 metros de largura, construída a montante da
primeira zona, constituída de blocos de enrocamento são, não desagregável,
com diâmetro máximo de 20 cm, compactada com rolo vibratório de 10
toneladas, em camadas de 40 cm de espessura, com adição de água;
zona de transição, com 4 a 6 metros de largura, construída entre a última zona
e a laje de concreto, constituída de material misturado, com diâmetro máximo

_____________________
._ - - -
107

de 1Ocm, com 35 a 55 % passando na peneira # 4 e com cerca de 5 % passando


na peneira # 200, compactada com rolo vibratório, em camadas de 40 cm de
espessura, com umidade controlada e compactada sobre o talude, com rolo
vibratório, no sentido ascendente.

11.9 CONSTRUÇÃO DE BARRAGENS DE REJEITO

As barragens para contenção de rejeitas de mineração podem ser construídas


com aterro compactado, de forma semelhante às barragens para represamento de água
ou, aproveitando-se os próprios rejeitos como material de construção. Esta última
alternativa somente é viável quando os rejeitos contêm um teor razoável de partículas
de areia, para constituir o maciço de barramento, nas condições desejadas de estabilidade.
Os rejeitas devem ser conduzidos até o sítio da barragem, por Lubulações ou
canaletas, onde são lançados, para constituir o corpo da barragem. Antes do seu
lançamento, podem passar por hidro-ciclones, com o objetivo de separar as partículas
mais grossas, a serem aproveitadas no maciço da barragem, da lama de material fino,
que é lançada no reservatório. Em alguns casos, os rejeitos são transportados por
caminhões basculantes, após o seu empilhamento na área da usina, onde permaneceram
por algum tempo, para perder o excesso de umidade.
Existem três métodos para a construção da barragem, com a utilização do próprio
rejeito:
método de montante;
método de jusante ;
método da linha de centro.
Pelo método de montante, é construído um pequeno dique inicial, sendo o rejeito
descarregado para montante, a partir da sua crista, de tal forma que as partículas mais
grossas, de material arenoso, fiquem depositadas próximas ao dique e a lama seja
conduzida a distância, para o reservatório. Quando o nível de rejeitas alcançar a crista
do dique inicial, constroi-se um segundo dique, apoiado sobre o maciço de partículas
grossas, reiniciando-se o processo de lançamento e, assim, sucessivamente. A Figura
11.4 apresenta a seqüência construtiva do método de montante.
Os diques podem ser construídos com material local, de preferência granulares
(cascalho ou enrocamento) ou com a própria fração grossa do rejeito. É importante que
o lago fique bem a montante da barragem, para evitar que a linha freática não atinja
níveis elevados no interior do maciço, o que pode comprometer a sua estabilidade. Este
método não é recomendável para barragens muito altas, principalmente em regiões de
elevada sismicidade.
108

lago rejeito descarga dique


lama grosso;, .: Ç~n1cial
t~~ a)
;S . . ; ~ ~-; .. :·. \-::: -~~

b)

e)

d}

Figura 11.4 - Seqüência de construção do método de montante.

Pelo método de jusante, a barragem vai sendo gradativamente alteada para jusante,
com o aproveitamento da fração grossa do rejeito, conforme ilustrado na Figura 11.5.
Este método também é empregado quando o rejeito é muito fino , sendo o dique inicial
e os alteamentos executados com aterro compactado. O sistema de drenagem interna
(filtro vertical e tapete drenante) também vai sendo prolongado, juntamente com o
alteamento da barragem, para evitar que a linha freática alcance posições elevadas no
espaldar de jusante.
. zona. dique
lago rejiito ,mpermeavel~
-nicial
====:~==:x:;:===
· · · · . =====
· . ~=;,. :- :: .. tapete
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a}

b}

e}

·.·.2 _. d)

Figura 11.5 - Seqüência de construção do método de jusante.


't.. coe-- -À+
109

Como este método é resistente à liquefação, é recomendável a sua utilização em


-egiões sísmicas. Não existem maiores problemas em relação à velocidade de construção,
em limitações quanto à altura da barragem. Este método também é interessante quando
e deseja armazenar água junto à barragem, para ser reaproveitada no processo de
-nineração.
O método da linha de centro constitui um processo intermediário, no qual o
;!LXO da barragem mantém-se na mesma posição em todos os alteamentos, conforme é
mostrado na Figura 11.6.

rejeito
lama grosso dreno
·nterno

a)

V:

v~"«-.~
b)

V:

"S>'~'w:,@,

e)

W~™--
d)

Figura 11.6 - Seqüência de construção do método da linha de centro.

As principais vantagens do método de montante são o baixo custo de construção


e a grande velocidade com que podem ser executados os alteamentos. Sua grande
desvantagem é a de apresentar menor segurança. Vice-versa, o método de jusante é o
mais oneroso, o mais lento, porém, o mais seguro. O método da linha de centro apresenta
vantagens e desvantagens intermediárias.
A Barragem Morro do Ouro, em Paracatu, Minas Gerais, construída em etapas
anuais desde 1.986, tem por objetivo a contenção do rejeito da mineração de ouro,
resultante do processamento de rocha filítica contendo baixo teor de minério. No projeto
básico foi previsto o armazenamento de cerca de 100 milhões de toneladas de rejeito,
com a barragem atingindo a altura máxima de 55 metros. Dada a granulometria fina do
110

rejeito, confinada entre os limites da peneira # 200 e o "diâmetro" de 0,002mm, no


projeto da barragem não foi contemplado o seu aproveitamento como material de
construção. Assim, até a sétima etapa de construção, todo o maciço da barragem foi
construído com aterro compactado e todos os alteamentos foram executados segundo o
método de jusante.
Para a construção do aterro foram utilizados solo coluvionar argiloso e solo
residual siltoso, compactado de acordo com as tradicionais especificações de barragens
para armazenamento de água. O sistema de drenagem interna do maciço da barragem é
constituído por um filtro vertical de areia e um tapete drenante, do tipo sanduíche,
posicionado diretamente sobre a fundação.
O rejeito é lançado em forma de lama nas cabeceiras do reservatório, com teor
de sólidos de 42% . Ensaios de adensamento-permeabilidade realizados em
consolidômetro, determinaram as seguintes correlações entre índice de vazios (e), pressão
efetiva (cr') e coeficiente de permeabilidade (k) (Amorim, N.R., 1993):

e= 1,612 cr•-0.069 (cr' em kPa)

e= 4,58 k º· 114 (k em cm/s)

Levantamentos batimétricos do reservatório indicaram massa específica seca


média do rejeito de 1,13 g/cm3, com inclinações da superfície de 1:250 e 1:100, acima
e abaixo do nível d'água, respectivamente.
Durante a construção da sétima etapa foram construídos dois diques
experimentais, lançados na forma de aterro de ponta, diretamente sobre o rejeito. Dado
o bom comportamento desses diques, que mostravam estabilização dos recalques em
tempo relativamente curto e que permitiam o tráfego de equipamentos pesados,
programou-se o monitoramento de um deles, por meio de ensaios com piezocones (CPTu)
e medidores de recalques. Além das envoltórias de resistência do rejeito determinadas
por CPTu, constatou-se que os excessos de poro pressões eram dissipados rapidamente,
em cerca de 20 segundos.
Os bons resultados conseguidos com os diques experimentais estimularam a
revisão dos critérios de construção da oitava etapa, optando-se pelo método de montante.
Análises de estabi lidade, levando-se em conta as envoltórias do rejeito em diver~as
profundidades, confirmaram a viabilidade desta revisão. Após o lançamento de uma
plataforma de aterro de ponta sobre o reservatório, o alteamento da barragem foi
processado por meio de aterro compactado. Além de nova campanha de ensaios CPTu,
foram instalados piezômetros elétricos de corda vibrante no rejeito e placas de recalque
na platafo,nna de aterro lançado.
As análises de estabilidade mostraram ainda a viabilidade de se repetir o método
de montante, desde que houvesse alternância entre métodos construtivos para jusante e
para montante, resultando na manutenção aproximada do eixo da barragem, a partir da
u _ 1 _ ./ - l rr ) •r -t
111

oitava etapa. Este critério foi mantido até o final do ano de 2.002, quando a altura
máxima já alcançava cerca de 75 metros e o reservatório acumulava 200 milhões de
toneladas de rejeito.
A barragem vinha sendo monitorada por:
57 piezômetros do tipo "stand-pipe", instalados no aterro, no tapete drenante e
na fundação;
22 piezômetros elétricos de corda vibrante, instalados no rejeito;
18 placas de recalque, instaladas na plataforma de aterro lançado;
9 marcos de deslocamentos superficiais instalados na crista e no talude de
jusante;
4 medidores de vazão, instalados na saída do sistema de drenagem interna.
Até dezembro de 2.002, os piezômetros "stand-pipe" estavam indicando que o
máximo gradiente hidráulico a jusante do filtro vertical era da ordem de 10% e, a
montante, de cerca de 34% e que os valores máximos das pressões neutras de construção
eram inferiores a 15%; os piezômetros elétricos acusavam cargas piezométricas no rejeito
subjacente à plataforma de aterro lançado inferiores ao nível do reservatório; as placas
instaladas na plataforma de aterro lançado mostravam recalques entre 0,60 e 2,30m e a
vazão total medida a jusante do sistema de drenagem mantinha-se aproximadamente
constante, da ordem de 100 m3/h. Todos estes registros estavam concordantes com os
critérios de projeto da barragem.

11.10 CONSTRUÇÃO NAS ZONAS DE CONTATO ENTRE MATERIAIS


DIFERENTES

Durante a construção do maciço da barragem, são requeridos alguns serviços


especiais, nas zonas de contato entre materiais diferentes, indispensáveis para a garantia
do perfeito funcionamento de alguns dispositivos, tais como, filtros, transições, "rip-
rap", membranas de concreto, etc, conforme é descrito a seguir.

Filtros

O tapete drenante, do sistema de drenagem interna da barragem, geralmente


fica apoiado sobre a superfície da fundação, sendo constituído de camadas múltiplas, de
materiais filtrantes e drenantes, de permeabilidade elevada, para permitir o escoamento
das águas que percolaram através da fundação e da barragem. Quando a superfície da
fundação é horizontal ou pouco inclinada, o tapete é construído em camadas, que são
compactadas por meio de rolos vibratórios ou tratores de esteira, imediatamente após
intensa molhagem. Quando a superfície tem forte inclinação, como nas ombreiras, a
construção do tapete é conduzida juntamente com o aterro, em pequenos lances, sendo
a sua compactação feita por meio de placa vibratória ou de rolo pneumático (ver Foto
21).
112

Foto 21 - Tapete drenante construído na ombreira.

Os filtros em chaminé, verticais ou inclinados, geralmente são constituídos de


um único material, na maioria das barragens, de areia grossa natural. Sua espessura é da
ordem de 1 metro, geralmente adotada em função da mínima dimensão requerida para a
sua construção. Podem ser construídos em camadas finas, de espessura igual a uma ou
duas vezes à espessura do aterro, lançadas antes e compactadas juntamente com este,
por meio de rolo vibratório ou pneumático; ou podem ser construídos após o aterro ter
atingido uma certa espessura, da ordem de 1 a 2 metros, por escavação deste e substituição
por material de filtro, sendo compactado em camadas, por meio de placa ou de pequeno
rolo, vibratórios. As fotos 22 a) e b) mostram, respectivamente, a escavação da vala
para a construção do filtro vertical e a mesma após o seu preenchimento com areia.
11 113

Foto 22.a - Escavação do aterro para a construção do filtro vertical

Foto 22.b - Vala preenchida com areia compactada em camadas do filtro vertical
3
JJ4

No primeiro caso, o consumo de material é maior, pois a geometria final do filtro


fica constituída de seções trapezoidais superpostas, de altura igual à espessura das
camadas e largura, no topo, igual à dimensão mínima de projeto. Para agilizar a
construção, são utilizados equipamentos especiais que, preenchidos com material de
filtro e puxados por um trator, fazem o lançamento da camada, com a espessura e a
largura desejada (ver Foto 23).

Foto 23 - Lançamento de camada do filtro em chaminé com equipamento especial.

No segundo caso, quando o filtro é inclinado, também há necessidade de maior


consumo de material, para respeitar a dimensão mínima de projeto. Quanto maior a
espessura de aterro escavado para a substituição, maior o excesso de consumo do material
de filtro.
A Figura 11.7 apresenta seções transversais dos dois métodos construtivos do
filtro em chaminé.

Transições

As transições entre enrocamento e aterro são construídas com técnica semelhante


à utilizada na execução dos filtros em chaminé, em camadas concomitantes, apoiadas
sobre a face do aterro ou do enrocamento (ver Foto 24). Junto às transições é importante
que o enrocamento seja constituído de blocos pequenos e que tenha sido espalhado com
a lâmina do trator movimentando-se no sentido em que este se afasta da transição,
conduzindo os blocos maiores para longe dela. Esta separação dos blocos maiores pode
ser conseguida, levantando-se gradativamente a lâmina do trator, à medida em que ele
se afasta da transição.
-
115

I largura mínima \ largura mínima \


1 \ \
1 1 \ \

\ largura mínima \

Figura L1.7 - Métodos construtivos do filtro em chaminé.

Foto 24 - ·c amadas de transição entre o aterro e o enrocamento.

Os materiais de transição são compactados com rolos vibratórios ou pneumáticos,


tomando-se precauções para que o aterro adjacente à transição não fique sem
compactação.
---
116 ' .
"Rip-rap"

Os projetos de "rip-rap" prevêem a inclusão de uma camada de transição, entre


os blocos de rocha, dimensionados para proteção contra ondas e o aterro. As camadas
de transição e do "rip-rap" são lançadas após a construção de uma certa espessura de
aterro. Toda a terra solta sobre a face do talude é raspada, por meio de um trator de
lâmina e espalhada sobre a superfície do aterro. A seguir, é lançada a camada de transição
e o "rip-rap". A Foto 25 ilustra o lançamento do enrocamento do "rip-rap", sobre a
camada de transição.
Quando se dispõe de enrocamento bem graduado, pode-se construir o "rip-rap"
sem camada de transição, adotando-se a técnica de espalhar o emocamento de cima
para baixo, com a lâmina do trator abaixada, que vai sendo gradativamente levantada à
medida em que o trator vai descendo pela superfície do talude. Assim, consegue-se
fazer com que o material mais fino fique em contato com o aterro, que servirá de transição
para os grandes blocos, a serem colocados no lance seguinte de construção do "rip-
rap".

Foto 25 - Construção do "rip-rap" .

Na Barragem de Água Vermelha, foi utilizado este processo, sendo o "rip-rap"


construído em lances de cerca de 3 a 4 metros de altura, aproveitando-se a ocorrência de
material adequado na pedreira, constituído de partículas miúdas, provenientes de uma
camada de basalto denso colunar, muito fraturado, sobreposta a um derrame de basalto
vesicular, são, que fornecia os blocos graúdos.
117

Contato entre o aterro e as estruturas de concreto

Para a compactação do aterro junto às estruturas de concreto, geralmente são


utilizados soquetes manuais, acionados por ar comprimido ou por motor a gasolina.
Quando essas superfícies são planas e contínuas, pode-se executar a compactação por
meio de rolos pneumáticos, fazendo com que os pneus passem o mais próximo possível
do concreto, com o rolo movimentando-se paralelamente à linha de contato. A Foto 26
ilustra a compactação manual realizada com soquete pneumático a ar comprimido.
Constitui uma boa prática de projeto prever-se uma ligeira inclinação da
superfície do concreto, da ordem de lh: lüv, o que facilita a compactação do contato,
além de minimizar problemas de descolamento do aterro, provocados por deformações
oriundas de recalque do maciço.

Foto 26 - Compactação de aterro com soquete manual.


118

Laje de concreto da face de montante do enrocamento

A partir da década de 70, observou-se um grande progresso nos projetos de


baingens de enrocamento com face de concreto, com um acréscimo considerável do
número de barragens deste tipo, incluindo-se as com altura superior a 100 metros. Essa
difusão ocorreu graças ao desenvolvimento das técnicas de construção de enrocamentos
compactados, da concretagem das lajes em grandes painéis, por meio de formas
deslizantes e dos dispositivos de impermeabilização das juntas das lajes. No Brasil, as
barragens de Foz do Areia, Segredo e Xingó, concluídas em 1980, 1992 e 1994, com
alturas de 160, 150 e 140 metros, respectivamente, são exemplos marcantes deste tipo
de obra.
A laje de concreto, com 30 cm de espessura no topo, aumentando cerca de 0,3%
com a profundidade e armada com 0 ,3 a 0,4 % da seção de concreto, em duas direções,
passou a ser construída com formas deslizantes, em painéis de 16 metros de largura.
Juntas horizontais são evitadas, exceção feita à perimetral, adjacente ao plinto e à junta
de construção, se a barragem for construída em duas etapas. A Foto 27 mostra a Barragem
de Xingó, onde a laje de concreto foi construída em duas etapas, com a primeira já
concluída.

Foto 27 - Barragem de Xingó em construção, vista de montante.

A junta perimetral é a que merece maiores atenções, pois está situada na zona onde
ocorrem maiores recalques diferenciais, devidos às diferenças de compressibilidade
r:: . . JJ9

dos materiais onde estão apoiados o pljnto (em rocha) e a laje (enrocamento). Nesta
junta, são colocados dois tipos d~ vedajunta, um de cobre, na parte inferior e outro de
PVC, no centro, como na Barragem de Foz do Areia, conforme é mostrado na Figura
11.8 (Pinto et al, 1981). Além dos vedajuntas, é colocado, sobre ajunta, um recobrimento
com mastique ("Igas"), complementado por mangueiras cilíndricas de neoprene, nos
trechos onde se prevê maiores aberturas e, na parte inferior, uma camada de mistura de
areia com material betuminoso. Na Barragem de Aguamilpa, construída no México, foi
eliminado o vedajunta interno de PVC, após constatar-se que ele não resiste às pressões
elevadas de reservatório e substituiu-se o recobrimento de mastigue por uma camada de
areia fina siltosa, com o objetivo de colmatar a junta .em caso de vazamento.
Nas juntas verticais, é colocado um vedajunta único de cobre, no fundo da laje
e, nas mais próximas das ombreiras, onde são previstas aberturas, um sistema de proteção
com um cilindro de neoprene, de 2,5 cm de diâmetro e recobrimento com mastigue,
semelhante à junta perimetral (ver Figura J 1.8).
Ainda como medida de proteção contra vazamentos, é colocado a montante da
laje um tapete impermeável, de aterro compactado, construído até cerca de um terço da
altura da barragem.

~~;
l __ _ ;"!l,

linha de vedajunta de berço de


projeto cobre tipo "G" argamassa

Junta vertical tipo "B" Junta vertical tipo "A"


Parte central da laje Próxima às ombreiras

tubo de
n;~~~"-":ª"-----cr- -

Detalhe da junta perimetral e juntas verticais

Figura 11.8 Detalhes das juntas da Barragem de Foz do Areia (Pinto et al, 1981).
120

11.11 DESVIO DO RIO PARA A CONSTRUÇÃO DA BARRAGEM

Quando a barragem deve ser construída em um sítio onde o vale do rio é bastante
amplo, este poderá ser desviado em várias etapas, estrangulando-o e orientando-o para
posições mais convenientes à construção da obra, no seu próprio leito. A Foto 28
apresenta uma vista de montante da Barragem de Três Irmãos, na ocasião da primeira
etapa de desvio do Rio Tietê.
Em vales fechados, onde este processo não é praticável, o rio deve ser desviado
através de canais ou de túneis escavados nas ombreiras. Neste segundo caso, em vista
dos elevados custos de escavação em rocha, o projeto deve ser otimizado,
compatibilizando-se as alturas das ensecadeiras com as seções hidráulicas de desvio, de
forma a minimizar o custo total dessas obras. Como as seções dos túneis ou canais são
fisicamente limitadas, pode-se correr riscos calculados de galgamento das ensecadeiras,
nos períodos de chuvas, providenciando-se proteção adequada do talude de jusante, por
meio de annação ou utilizando-se concreto compactado a rolo.

Foto 28 - Barragem de Três Irmãos, vista de montante. Primeira etapa


de desvio do rio.

Na Foto 29 é mostrada a etapa inicial de desvio do Rio São Francisco, para a


construção da Barragem de Xingá. Em primeiro plano aparecem os emboques dos quatro
túneis de desvio e a ensecadeira de montante, em construção.
·~ .

Foto 29 - Obras para desvio do rio da Barragem de Xingó.

As vazões adotadas para o projeto de desvio são calculadas em função de um


tempo de recorrência das cheias que, por sua vez, é escolhido em função dos tipos de
obras e de equipamentos que estarão presentes no leito do rio, susceptíveis de sofrerem
os danos causados pelo galgamento das ensecadeiras. Deve-se lembrar ainda que, quanto
mais alta a cota das ensecadeiras, assumida para maiores tempos de recorrência, maiores
serão os prejuízos, pois, com a formação de um reservatório de maior capacidade, o
rompimento das ensecadeiras provocará um pico de cheias mais acentuado.
As obras de desvio devem ser projetadas de forma que o rio seja desviado na
época em que as cheias ocorrem com menor freqüência, nos períodos de menores vazões.
Quando existem bai.Tamentos a montante, pode-se lançar mão do controle da vazão,
para facilitar os serviços de desvio e de fechamento do rio. Quanto mais apertado o
vale, maiores as dificuldades para desvio, em vista das elevadas velocidades da água e
da reduzida praça de trabalho para operação dos equipamentos e lançamento dos
materiais.
Para se conseguir êxito na construção das ensecadeiras, os materiais devem
apresentar pesos e dimensões apropriados, lançados na água com ritmo tal que supere o
ritmo do volume arrastado. Com esta finalidade, pode-se lançar mão de materiais
artificiais, tais como, tetrápodos , blocos de concreto, gabiões, etc. Ensaios em modelo
hidráulico fornecem informações importantes, sobre as dimensões dos materiais e as
seqüências de lançamento, para minimizar as perdas durante o desvio.
Diversos tipos de ensecadeiras têm sido utilizados para desvio do rio, desde
aterros simples, em rios poucos profundos e de águas calmas, até cortinas de concreto,
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122

atravessando fundações permeáveis de espessura elevada, ensecadeiras mistas de


enrocamento, terra e cortinas estruturais, enrocamentos armados, para suportar
galgamentos, etc.
A vedação das ensecadeiras, que é um dos maiores problemas a enfrentar, deve
ser projetada com certa margem de segurança, para que não ocorram fracassos, difíceis
de serem posteriormente superados e que podem causar atrasos e, portanto, prejuízos na
construção da obra. Estes problemas crescem com a profundidade da água, não só na
ocasião em que o desvio é feito. Tratando-se de ensecadeiras de enrocamento com
vedação de terra a montante (Figura 11.9), quanto maior a profundidade da água, maior
a dificuldade em garantir a estanqueidade e a estabilidade do material impermeabilizante.
Com este objetivo, o lançamento da vedação de material argiloso deve ser feito após
acumular-se grandes volumes na ponta do aterro, que são empurrados de uma só vez
para dentro da água, a fim de retardar a sua saturação, avançando-se o aterro em direção
paralela ao eixo da ensecadeira. Pode-se também utilizar batelões de abertura pelo fundo,
para lançamento do material de impermeabilização ou material argiloso ensacado, para
evitar o seu espraiamento em taludes muito abatidos.

N.A.

Figura 11.9 Seção esquemática de ensecadeira de enrocamento


com vedação a montante de argila lançada.

A vedação também pode ser construída por etapas, lançando-se uma pré-
ensecadeira a montante, quando a vazão do rio é temporariamente baixa, para se conseguir
uma vedação provisória, suficiente para a construção a seco da vedação definitiva. Na
Figura 11.1 Oé apresentada uma seção típica da ensecadeira da Barragem de Três Irmãos,
onde foi utilizado enrocamento para a construção da pré-ensecadeira e aterro compactado,
na ensecadeira principal.

Para este tipo de solução, deve-se dar atenção ao problema de estabilidade do aterro,
que pode ficar prejudicada, pelo desenvolvimento de subpressões elevadas no contato
entre o aterro e o enrocamento e na fundação, conforme é mostrado na Figura 11.11.
123

aterro compactado

Figura 11. l O - Ensecadeira construída em duas etapas - Seção esquemática


da ensecadeira da Barragem de Três lrmãos.

N.A.

pré-ensecadeira

Figura 11.11 - Ensecadeira construída em duas etapas. A seção de jusante


apresenta estabilidade precária.

Na construção da ensecadeira da Barragem de Marimbondo, a vedação, constituída


de solo argiloso foi lançada submersa, entre dois diques de enrocamento, conforme é
ilustrado na Figura 11.12, conseguindo-se obter uma vedação eficiente, mesmo no trecho
do canal do rio, onde a profundidade da água era de cerca de 25 metros. Processo
semelhante foi utilizado na construção das ensecadeiras da Barragem de ltaipu, para
desvio do Rio Paraná (Figura 11.13).
No projeto básico da Barragem de Xingó foi prevista a construção de uma pré-
ensecadeira de enrocamento, com vedação provisótia de material argiloso, lançado a
montante. A ensecadeira principal foi projetada com um núcleo de terra compactada a
seco, com espaldar de enrocamento a jusante, incorporados à pré-ensecadeira, conforme
é ilustrado na Figura 11.14.
t. - '"'Y .....,
124

NA

ensecadeira
principal
pré
ensecadeira

Figura 11.12 - Seção esquemática da ensecadeira da Barragem de Marimbondo.

N.A.

Figura 11.13 Seção esquemática da ensecadeira da Barragem de ltaipu.

Figura 11 .14 - Seção esquemática da cnsecadeira de montante proposla


no projeto básico da Barragem de Xingó.
125

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