I CHING

O LIVRO DAS
MUTAÇÕES

Nilza Domingues
“Se me fossem dados mais
cinquenta anos de vida, os
dedicaria ao estudo do I
Ching, e talvez, pudesse
então evitar grandes erros.”
Confúcio
 I ou YI = MUTAÇÃO
Ideograma que representa o camaleão, mimetismo, adaptação e
portanto, o processo incessante de mutação. Alguns autores o
consideram como uma composição do ideograma do Sol e o
da Lua, também no sentido do movimento incessante de
alternância entre o dia e a noite. Ainda possui o sentido de
simples, fácil.

“Não há o que mude, não há quem mude,

só há o mudar”

“A única coisa imutável é a própria mutação”

HISTÓRIA
O Clássico das Mutações – tradição primordial – esculpido em pedra – casco da tartaruga
- Imperador Fo Hsi ou Fu Xi ( o Imperador Vermelho, mitológico, que teria vivido em ±
3.500 a.C.)

Todo clássico (CHING ou KING) é espiritualista –

o conhecimento vem por revelação
Aquilo que advém da Tradição Oral não costuma ter datação histórica, tornando
impossível a busca pela verdadeira origem. O Mito muitas vezes não tem origem
definida.
O texto original – os 64 hexagramas dispostos em círculo, compostos por figuras lineares –
linhas inteiras e linhas interrompidas superpostas – surge no período anterior à dinastia
Zhou (1150 – 249 a.C.).
James Legge, em sua tradução (The Sacred Books of the East, XVI : The Yi King, oxford,
1882) cunhou os termos bigrama, trigrama e hexagrama para designar os KUA (signos)
de acordo com o número de linhas que os compõem.
No início, o Livro das Mutações consistia então numa coleção de signos usados como
oráculos. Os mais antigos restringiam-se a respostas “sim” e “não”, yang e yin,
respectivamente.
Posteriormente, as linhas simples foram agrupadas em pares (bigramas) e em seguida em
trigramas, obedecendo a relação ternária Céu – Homem – Terra. Os oito trigramas são
concebidos como como imagens de tudo o que ocorre entre o céu e a terra,
representando mutáveis estados de transição. A combinação entre os oito trigramas
origina os 64 hexagramas, apresentando então todas as possibilidades de combinação
de yin/yang, mostrando estados de mutação.
A questão ficava então em qual é a ação correta diante do hexagrama ? Cada um deles
exige uma forma de ação adequada – o correto traz boa sorte e o incorreto, infortúnio.
Modifica-se assim, a postura diante do oráculo. A pergunta não é mais “o que vai
acontecer ?” mas sim “o que eu devo fazer ?” O livro divinatório torna-se um livro de
sabedoria.
Coube ao Rei Wen (1150 a.C.) e seu filho (ou sobrinho) Duque de Zhou, dotar os
hexagramas de imagens e conselhos quanto à conduta correta. Neste momento, os KUA
passam a ser acompanhados de um texto, chamado Julgamento.
ORDEM DO REI WEN
O QUE É O I CHING ?
• Uma filosofia da natureza – tanto o mito quanto a realidade objetiva são
possibilidades do que seria a Verdade.
• As palavras são emitidas pelo que elas significam (homem ou objeto) – nomeiam,
trazem e explicitam a essência das coisas.
• A realidade é constituída de mutação, não há o que mude, só há o mudar.
Diversidade, alternância, complemento, opostos. O sentido de continuidade, o
tempo é ímpar.
• O I Ching é a primeira expressão da idéia da dualidade Yin / Yang .
• Processo expresso nas alternâncias de dias e noites – Mutação passa por um
momento pelo equilíbrio perfeito – equinócios – equilibrar-se no desequilíbrio
(dinamismo).
• A única coisa imutável é a própria mutação.
• A mudança segue padrões constantes (arquétipos ?)- assim, podemos dispor em
termos temporais sobre aquilo que veio antes e o que virá depois.
 O YIN E O YANG
O Ponto como origem da manifestação

A Vida é movimento e alternância constantes.

A linha inteira, Yang, é um movimento centrífugo, da expansão, se

dirigindo ao exterior.

A linha partida, Yin, é um movimento centrípeto, de contração, voltado

para o interior
 OS KUA - SIGNOS
Traços superpostos indicando combinações
possíveis entre Yin e Yang.
Representam estados mutáveis, estados de
transição – imagens em constante movimento.
Construídos de baixo para cima, refletindo a
natureza vegetal do oráculo, da TERRA em direção
ao CÉU.
 OS BIGRAMAS
DINAMISMO CRIADOR YANG
PODER PRESERVADOR YIN
Como um pólo não existe separado do outro, não se pode retratá-los em
retas separadas, pois desta forma não representariam adequadamente
a realidade. Com a necessidade de combinar as retas entre si, os
chineses optaram por fazê-lo por superposição DE BAIXO PARA CIMA.
Combinam-se mutuamente :
Verão Primavera Outono Inverno

Yang Yang Yin Yin

máximo início início máximo
•SHAO YANG (CHAO YANG) = INÍCIO DO
YANG, JOVEM YANG
•TAI TANG (DAI, TAE YANG) = MÁXIMO DO
YANG, VELHO YANG
•SHAO YIN (CHAO YIN) = INÍCIO DO YIN,
JOVEM YIN
•TAI YIN (DAI, TAE YIN) = MÁXIMO DO YIN,
VELHO YIN
 O Livro das Mutações é um oráculo vegetal (varetas)
– a vida vegetal como modelo de representação
– a leitura, a construção do bigrama, trigrama ou hexagrama é feita de
baixo para cima (raiz – caule / terra – céu).
Assim, muitos fenômenos do Universo estão contidos nestes quatro :

PRIMAVERA = Planos, princípio, anseio, ideais, aspirações, futuro, infância,

início de maturação
VERÃO = Formas, materialização, ação, concretizar a potencialidade, nem
todas as sementes vingam.
OUTONO = Zênite, repouso, resultados, frutificação, colheita
INVERNO = Recolhimento, avaliação do ciclo, resultado final, conclusão
 PA – KUA ou BA – GUA = SINAL / CENTRO = A FAMÍLIA CÓSMICA

SHO KUA = CONSTELAÇÃO DE TRIGRAMAS

Oito direções – Rosa dos ventos – Céu Anterior / Céu posterior
8 = estabilidade / centro que irradia
YAO = Traço significativo, materialização do sutil
Duas, três , quatro ou seis linhas superpostas paralelas verticalmente, escritas de baixo para cima.

Ritual do casco da tartaruga colocado no fogo, em que a mensagem aparece, representando

os movimentos dos seres no tempo e no espaço = mutações.

Hong Fang – primeiro Yin, depois Yang, eis o Tao.

(surgimento da idéia)
OS OITO TRIGRAMAS
NASCIMENTO E DESENVOLVIMENTO
CARACTERÍSTICAS / ATRIBUTOS
ORDEM HIERÁRQUICA E FAMILIAR
 TIEN - CÉU KUN - TERRA
O PAI - O CRIATIVO A MÃE – A RECEPTIVA

SUN – VENTO CHEN – TROVÃO

A PRIMEIRA FILHA O PRIMEIRO FILHO

LI – FOGO KAN - ÁGUA

A SEGUNDA FILHA O SEGUNDO FILHO

TUI - LAGO / KEN - MONTANHA

NUVEM O TERCEIRO FILHO
A TERCEIRA FILHA
 OS TRIGRAMAS
Não são representações das coisas, mas da tendência do movimento de cada uma delas. Não descrevem as coisas em
si, mas o que elas fazem.

TIEN (O CRIATIVO / CÉU) + KUN (O RECEPTIVO / TERRA)

(O casal inseparável/ complementar/ opostos/ início do movimento está no Yang / seis filhos, seis sopros, seis
energias celestes canalizados nos três grandes MPs)

SUN (A 1ª. FILHA/ SUTIL/ A BRISA PENETRANTE/ VENTO)

Yang transformado por Yin
CHEN (O 1º. FILHO/ TROVÃO/ MOVIMENTO ESPORÁDICO)
Transformação drástica / impacto breve
LI (FOGO/ 2ª. FILHA/ YIN ATINGE O CENTRO/ ADERIR)
Constância, permanência, fidelidade
KAN (ÁGUA/ 2º. FILHO/ FLUIR/ MOVIMENTO CONTÍNUO)
O abismal, o rio, o poder do declive
TUI (3ª. FILHA/ NUVEM/ LAGO/ CRIAÇÃO/ CONTINUIDADE)
Prosperidade, alegria
KEN (3º. FILHO/ MONTANHA/ PAZ)
Ponto mais alto da terra, serenidade
 ATRIBUTOS
• TIEN = CÉU = O FORTE
• KUN = TERRA = ABNEGADA, MALEÁVEL
• CHEN = TROVÃO = PROVOCADOR
MOVIMENTO
• K´AN = ÁGUA = PERIGOSO
• KEN = MONTANHA = REPOUSO
• SUN = VENTO = PENETRANTE
• LI = FOGO = LUMINOSA DEVOÇÃO
• TUI = NUVEM/LAGO = JOVIAL
 OS HEXAGRAMAS

PENSANDO A RELAÇÃO DE CADA UM DOS TRIGRAMAS MEMBROS COM OS OUTROS FORAM

COMBINADOS OS 64 HEXAGRAMAS (CONSIGO MESMOS E OS DEMAIS)

Seis linhas superpostas paralelas verticalmente, escritas de baixo para cima

MUTAÇÃO = MOVIMENTO PRIMORDIAL
( a construção do universo na linguagem do Pa Kua)
Cada um destes signos consiste de seis linhas positivas ou negativas, também chamadas firmes
ou maleáveis. (YANG OU YIN)
Cada linha é considerada como sendo passível de mudança, dependendo de seu valor numérico,
e sempre que uma linha muda toda a situação representada pelo hexagrama muda também.
(NOVO OU VELHO)
A linha pode ser considerada velha ou nova. A velha está em vias de transformar-se no seu
oposto. A nova permanece fixa por mais tempo.
Dependendo da formação do hexagrama e da composição hierárquica de cada linha, pode ser
sinal de fortuna ou infortúnio a presença de uma linha firme, assim como de uma linha
maleável, ou de uma linha nova, assim como de uma linha velha.
 TAO
HUN TUN
(O caos desaparece no momento da criação)
O mito da morte do caos – Chung Tsé
Rei do Norte – impulsivo
Rei do Sul - atordoado
YANG / YIN
(contínuo / incontínuo)
4 DESDOBRAMENTOS - XIANG
( Tai Yin / Tai Yang / Shao Yin / Shao Yang )
8 TRIGRAMAS
(tríade / o homem no centro/ essência - manifestação - substância)
64 HEXAGRAMAS
 LINHAS
Dois trigramas principais e mais dois trigramas nucleares.
O significado do hexagrama é o resultado das
interações dos trigramas básicos + modos ditados pelos
trigramas nucleares.

LINHAS NOVAS = 7 E 8 = JOVEM YANG/ JOVEM YIN =

Resultados que vão durar muito tempo nesta situação
LINHAS VELHAS = 6 E 9 = VELHO YIN / VELHO YANG =
Resultados que estão no limiar de se transformar em
seus opostos
INTERPRETAÇÃO HIERÁRQUICA DE CADA LINHA

• 1ª. = Causa, início

• 2ª. = Funcionário (elogio)
• 3ª. = Autoridade (infortúnio)
• 4ª. = Ministro (advertência)
• 5ª. = Governante (fortuna)
• 6ª. = Imperador (efeito)
 LEITURAS POSSÍVEIS
1. ORIGEM
2. SEGUINTE (quando há linhas mutáveis)
3. INVERTIDO
4. MODIFICADO (inverte trigrama interno e externo)
5. TRIGRAMA NUCLEAR
6. INTERPRETAÇÃO DAS LINHAS
 A PERGUNTA
Nos momentos de repouso, o homem superior considera
os símbolos e medita sobre os comentários. Nos
momentos de ação, ele considera a mutação e medita
sobre os oráculos. I Ching, “Grande Comentário”, 1ª
parte, cap. II.
 Reza a tradição espiritual da velha China que são dois os
momentos recomendados para se consultar a sabedoria do
I Ching:

• Em ocasiões de tranqüilidade ou repouso, momento

reservado para o estudo, para buscar experiência e
sabedoria de vida, contemplando a dinâmica dos
hexagramas e meditando sobre os comentários.
• Quando se vai agir ou empreender algo. Receber conselho
pelo qual a conduta deve ser orientada. Devem ser
consideradas as mutações do hexagrama e meditar sobre
as respostas assinaladas nos textos.
 RITUAL DE CONSULTA
• Usava-se um corte de seda virgem para envolver o livro.
• Uma caixa de madeira para acondicionar as varetas que jamais tivessem servido outra
finalidade.
• O livro jamais era guardado a uma altura superior à de seu dono, contra a idolatria, pois
quem responde é quem pergunta.
• O I é colocado em uma mesa voltada para o sul, a região do Sol, e no centro do aposento.
• Na mesma mesa ou em outra mais baixa fica o incenso.
• O consulente deve colocar-se de frente para a mesa, voltado para o norte.
• Realizar 3 kowtows (prostrações até o chão) e de joelhos acender o incenso que simboliza o
elemento purificador e a perseverança, pela constância que queima.
• Apanhar as 50 varetas, OU TRÊS MOEDAS, segurando-as horizontalmente com a mão
direita, passar 3 vezes pela fumaça do incenso, girando-as no sentido horário. Enquanto
isso, recitar oral ou mentalmente a pergunta preparada previamente para afastar todos os
outros assuntos da mente.
• Terminada a consulta, o consulente se despede do livro com prostração tripla.
 RITUAL DE CONSULTA - VARETAS
• Tomam-se 50 varetas de milefólio, retira-se uma, simbolizando o Uno
(TAO). Estas 49 varetas são divididas em dois grupos. Retira-se uma vareta
do grupo da direita e coloca-se entre os dedos anular e mínimo da mão
esquerda. A seguir, contam-se as varetas do grupo da esquerda de quatro
em quatro, colocando-se o restante (quatro ou menos) entre os dedos
anular e médio também da mão esquerda. O mesmo se faz com o grupo
da direita, colocando-se o restante entre o indicador e o dedo médio. Isso
constitui uma mutação. Agora se tem na mão esquerda cinco ou nove
varetas. Juntam-se então os dois grupos restantes (as cinco ou nove
varetas da primeira operação são postas à parte) e repete-se mais duas
vezes a primeira operação. Na segunda e terceira vez obtêm-se quatro ou
oito varetas.
• 1ª. Operação – 5 ou 9 varetas
• 2ª. E 3ª. Operações – 4 ou 8 varetas
 RITUAL DE CONSULTA - MOEDAS
Em geral, utilizam-se antigas moedas chinesas de
bronze, que têm um orifício no meio e uma inscrição
gravada em uma das faces. Tomam-se três moedas que
são lançadas juntas. A cada vez que são atiradas
obtêm-se uma linha. A face inscrita considera-se como
Yin, de valor 2 e a face lisa como Yang, de valor 3. No
caso de moedas atuais, considera-se Coroa como Yin,
logo 2; Cara como Yang, logo 3. O valor 9 determina um
velho Yang, móvel. O valor 6 determina um velho Yin,
móvel. O valor 7 determina um jovem Yang, fixo. O
valor 8 determina um jovem Yin, fixo.
 RITUAL DE CONSULTA
• Descobrir os governantes na 1ª e 5ª linhas;
• Determinar os trigramas inferior, superior, nuclear inferior e nuclear superior;
• Determinar se o movimento de cada trigrama é ascendente ou descendente;
• Determinar a natureza das linhas dentro das posições do hexagrama;
• Identificar se há uma correspondência correta entre 5ª linha firme
(governante) e 2ª linha maleável (funcionário);
• Identificar a correspondência da 3ª linha maleável incorreta com a 6ª linha
firme incorreta. O sábio está influenciado pela fraqueza e inquietação da 3ª
linha;
• Ler sobre os atributos adicionais dos trigramas básicos e nucleares;
• Anotar os comentários de Wen, Chou e Confúcio;
• Começar pacientemente a análise.
 INTERPRETAÇÃO
Como já foi dito, as linhas do hexagrama podem ser
mutáveis ou não, positivas ou negativas.
Uma linha cuja natureza é positiva, com um aumento de
seu dinamismo se transforma no oposto, numa linha
negativa, enquanto que uma linha positiva de menor
força não sofre essa mudança.
O mesmo princípio se aplica às linha negativas.
Dependendo também de sua posição no hexagrama,
uma linha maleável pode ser sinal de fortuna ou
infortúnio, o mesmo ocorrendo com as linhas fortes.
 PALAVRAS ATRIBUÍDAS AOS HEXAGRAMAS
• AS DECISÕES REFEREM-SE ÀS IMAGENS. OS
JULGAMENTOS DAS LINHAS, SE REFEREM À
MUDANÇAS.
• ‘ Boa Fortuna” e “Infortúnio” referem-se a ganho ou
perda.
• “Arrependimento” (quando há consciência do erro) ou
“Humilhação” (quando não há consciência do erro)
referem-se a imperfeições menores.
• “Nenhuma culpa” refere-se a uma condição em que se
podem corrigir os erros.
 Obrigada
Nilza Domingues
nilzammod@gmail.com