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ELAINE CRISTINA SCHNEIDER DE CARVALHO

Comportamento de escolha de linha de ônibus sob a influência de


painéis eletrônicos com previsões em tempo real sobre
a chegada dos veículos aos pontos

São Paulo
2013
ELAINE CRISTINA SCHNEIDER DE CARVALHO

Comportamento de escolha de linha de ônibus sob a influência de


painéis eletrônicos com previsões em tempo real sobre
a chegada dos veículos aos pontos

Dissertação apresentada à Escola Politécnica


da Universidade de São Paulo para obtenção
do Título de Mestre em Ciências

São Paulo
2013
ELAINE CRISTINA SCHNEIDER DE CARVALHO

Comportamento de escolha de linha de ônibus sob a influência de


painéis eletrônicos com previsões em tempo real sobre
a chegada dos veículos aos pontos

Dissertação apresentada à Escola Politécnica


da Universidade de São Paulo para obtenção
do Título de Mestre em Ciências

Área de Concentração:
Engenharia de Transportes

Orientador: Professor Titular Orlando Strambi

São Paulo
2013
Este exemplar foi revisado e corrigido em relação à versão original, sob
responsabilidade única do autor e com a anuência de seu orientador.

São Paulo, 15 de outubro de 2013.

Assinatura do autor ____________________________

Assinatura do orientador _______________________

FICHA CATALOGRÁFICA

Carvalho, Elaine Cristina Schneider de


Comportamento de escolha de linha de ônibus sob a influên-
cia de painéis eletrônicos com previsões em tempo real sobre a
chegada dos veículos aos pontos / E.C.S. de Carvalho. -- versão
corr. -- São Paulo, 2013.
128 p.

Dissertação (Mestrado) - Escola Politécnica da Universidade


de São Paulo. Departamento de Engenharia de Transportes.

1.Transporte público 2.Ônibus 3.Painéis 4.Informação 5.De-


manda (Modelos) I.Universidade de São Paulo. Escola Politéc-
nica. Departamento de Engenharia de Transportes II.t.
À descoberta de que o essencial nos transforma.
AGRADECIMENTOS

A meu bem humorado, entusiasmado e exigente orientador, Professor Orlando


Strambi, por me ensinar a dar os primeiros passos no universo da pesquisa acadêmica e por
me proporcionar experiências de aprendizado ímpares.

Ao Professor Luis Ignacio Rizzi, pela intensa e valiosa colaboração com minha
pesquisa, e ao colega David Palma Araneda, pela cooperação sucinta e precisa, ambos do
Departamento de Engenharia de Transporte e Logística da Escola de Engenharia da
Universidade Católica do Chile.

Aos Professores Claudio Barbieri da Cunha, Nicolau Dionísio Fares Gualda e José
Afonso Mazzon, pelo interesse constante.

Agradeço também, pelo apoio e cooperação, a Amanda Rabelo Santos Luiz e Rosana
Simone Vieira da Silva, do Serviço de Comunicação Social da Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo, às colegas pesquisadoras Ana Margarita Larrañaga e Patrícia
Sauri Lavieri, à Secretaria do Departamento de Engenharia de Transportes da Escola
Politécnica, à CAPES e ao CNPq.

À amiga Glaucia Guimarães Pereira, pelo carinho, cuidado e apoio imprescindíveis. A


Bianca Bianchi Alves, pela amizade, acolhimento e apoio, desde o começo. A ambas, pela
vontade e disponibilidade para discutir ideias e analisar criticamente meus avanços.

Aos meus primos Jussara, Paulo e Denise, e à minha tia Elisabete, por estarem ao meu
lado em momentos difíceis. E aos trabalhadores e mentores do Núcleo Espírita Nosso Lar, em
Florianópolis, pelo cuidadoso e amoroso processo de cura.

A Gabriel Führ, Ana Lúcia Rodrigues e colegas da Sistran Engenharia, por tornarem
mais suave minha vinda para São Paulo.

Aos amigos Rosiani Soares, Cassiano Isler, Juliana Stallivieri, Andreia Chiavini,
Rodrigo Serratine e Fabiana Pessôa, pela sincera amizade, que torna minha vida mais alegre.

Aos meus pais, Juarez e Marcilia, por apoiarem, incentivarem e ajudarem a viabilizar
minhas escolhas. Ao meu irmão Rodrigo, pelo exemplo de perseverança.
RESUMO

Esta dissertação teve como objetivo principal investigar a influência, no


comportamento de escolha de linha de passageiros de ônibus, de painéis eletrônicos em
pontos de parada com informação em tempo real sobre previsões para passagem dos veículos.
Para a coleta de dados, um experimento de escolha declarada com desenho eficiente foi
aplicado a uma amostra de 1179 entrevistados residentes na Região Metropolitana de São
Paulo (RMSP) e pertencentes à comunidade da Universidade de São Paulo. Em cada situação
de escolha foram apresentadas duas linhas diferentes de ônibus que chegariam ao mesmo
destino, mas não passavam pelo mesmo ponto, de modo que a escolha a ser feita era entre
uma ou outra combinação de linha e ponto. Adicionalmente, apenas um dos pontos tinha
painel eletrônico. As alternativas também se diferenciavam pelos seguintes atributos:
intervalo de tempo programado para a passagem de veículos consecutivos da mesma linha;
possível atraso em relação ao intervalo programado; tempo de viagem dentro do veículo até o
destino; ocupação do veículo quando chega ao ponto; e valor da tarifa. Na amostra
predominaram jovens com até 25 anos (64% da amostra), homens (60%), usuários frequentes
de ônibus (80%), estudantes (81%) e entrevistados com pelo menos um automóvel no
domicílio (76%). A partir das respostas ao experimento foram estimados modelos de escolha
discreta Mixed Logit Panel, de modo a mensurar a importância relativa de cada atributo na
decisão e também medir a variabilidade das preferências entre os entrevistados. Os resultados
indicam que a presença do painel no ponto de ônibus tem, sim, influência sobre a escolha da
linha. Os entrevistados estariam dispostos a pagar em média, pela presença de painel, R$0,12
adicionais, equivalentes a 5 minutos de viagem. Verificou-se também que a existência de
painel no ponto diminui a desutilidade marginal da espera, e isto ocorre com mais intensidade
quando ela está associada ao atraso do que quando está associada ao intervalo programado
entre veículos. O valor médio do tempo de viagem foi relativamente baixo: R$1,44/hora,
provavelmente devido à composição socioeconômica da amostra, com elevada proporção de
estudantes. No entanto, observou-se que o comportamento de escolha de linha é bastante
afetado pelas características socioeconômicas e de uso de ônibus dos entrevistados, podendo o
valor do tempo chegar a R$17,00/hora, e a disposição a pagar pelo painel a R$0,77. Acredita-
se que os resultados desta pesquisa permitem ampliar o entendimento do comportamento de
escolha de linha, ao incorporar a presença de painel no ponto como elemento adicional da
decisão.

Palavras-chave: Transporte público. Ônibus. Painéis. Informação. Demanda (Modelos).


ABSTRACT

The main objective of this research is to investigate the influence on bus route choice
behavior of variable message signs (VMS) displaying real time predictions of bus arrival at
stops. A stated choice survey was conducted, using an efficient design experiment. Sampled
individuals were asked to answer to eight choice situations, each presenting two bus routes
going to the same destination but with different itineraries and boarding stops. The choice was
made between two combinations of bus route and boarding stop; only one of the stops had
VMS. The other attributes characterizing alternatives were: bus route headway, (possible)
delay at arriving at the stop, travel time until destination, level of vehicle crowdedness when
arriving at the boarding stop, and fare. Data were collected from 1179 individuals, mostly
students, professors and employees of the University of São Paulo, and all of them residents
of the São Paulo Metropolitan Area. The typical interviewee was 25 years old or younger
(64% of the sample), male (60%), a frequent bus user (80%), student (81%) and had at least
one car in his household. Mixed logit panel discrete choice models were estimated to analyze
the data, capturing both the relative importance of each attribute in the decision process and
systematic taste variation among individuals. Results show that VMS displaying predictions
of bus arrival at stops do influence bus route choice behavior. The estimated average
willingness to pay for a bus stop to have a VMS was R$0.12, which corresponds to 5 minutes
of travel time. It was also observed that the marginal disutility of waiting time decreases when
there is a VMS at the stop. Disutility of waiting due to delays also decreases (more
intensively) with the VMS. The average value of travel time was relatively low, compared to
expectations: R$1.44/hour, probably due to the socioeconomic profile of the sample,
particularly the high proportion of students. Nevertheless, frequency of bus use and
socioeconomic characteristics significantly affect route choice behavior; the value of travel
time, for instance, may reach R$17/hour, while willingness to pay for a VMS in a stop may
become R$0.77. The results indicate that incorporating the VMS as an additional component
of the decision, allows for a better understanding of bus route choice behavior.

Keywords: Public transportation. Bus. Displays. Information. Demand (Models).


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Sequência de etapas para coleta de dados ............................................................... 52

Figura 2 – Sequência de etapas para análise de dados ............................................................. 53

Figura 3 – Exemplo de tabela com as características das alternativas ..................................... 56

Figura 4 – Segmentação por frequência de uso de ônibus e uso de pontos com painel ........... 68

Figura 5 – Segmentação por idade e sexo ................................................................................ 69

Figura 6 – Segmentação por quantidade de automóveis e motocicletas no domicílio ............. 71

Figura 7 – Segmentação por renda do domicílio em R$ .......................................................... 71

Figura 8 – Exemplo de tabela com as características das alternativas do primeiro piloto ..... 102

Figura 9 – Exemplo de tabela com as características das alternativas do segundo piloto...... 105

Figura 10 – Tela inicial do questionário de pesquisa ............................................................. 114


LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Exemplos de situações de escolha de um desenho de experimento ....................... 44

Tabela 2 – Detalhamento dos atributos do experimento .......................................................... 58

Tabela 3 – Relação entre atributo ocupação e variáveis dummy .............................................. 59

Tabela 4 – Estratégia para combinar atributos intervalo, atraso e tempo de viagem ............... 60

Tabela 5 – Aproximações para coeficientes ............................................................................. 62

Tabela 6 – Segmentação por ocupação e escolaridade ............................................................. 70

Tabela 7 – Segmentação quanto ao comportamento compensatório ........................................ 73

Tabela 8 – Modelo base ............................................................................................................ 75

Tabela 9 – Modelo ML panel piecewise .................................................................................. 80

Tabela 10 – Taxas marginais de substituição (em minutos de viagem) ................................... 80

Tabela 11 – Taxas marginais de substituição (em minutos de intervalo, atraso ou viagem) ... 81

Tabela 12 – Modelos ML panel com interações entre atributos .............................................. 83

Tabela 13 – Modelo ML panel com variáveis socioeconômicas e de uso do ônibus............... 89

Tabela 14 – Atributos para primeiro experimento piloto ....................................................... 103

Tabela 15 – Desenho eficiente para o primeiro experimento piloto....................................... 104

Tabela 16 – Modelo MNL estimado com resultados do primeiro experimento piloto .......... 104

Tabela 17 – Atributos para segundo experimento piloto........................................................ 106

Tabela 18 – Relação entre atributo ocupação e variáveis dummy .......................................... 107

Tabela 19 – Estratégia para combinar atributos intervalo, atraso e tempo de viagem ........... 107

Tabela 20 – Desenho eficiente para segundo experimento piloto .......................................... 111


Tabela 21 – Taxas marginais de substituição a partir do segundo experimento piloto .......... 112

Tabela 22 – Situações de escolha do desenho do experimento .............................................. 113

Tabela 23 – Modelo base sem os lexicográficos quanto ao conforto ..................................... 116

Tabela 24 – Modelo base sem os lexicográficos quanto ao custo .......................................... 117

Tabela 25 – Modelo base sem os lexicográficos quanto ao painel ......................................... 118

Tabela 26 – Modelo ML panel com interações entre atributos (1) ........................................ 119

Tabela 27 – Modelo ML panel com interações entre atributos (2) ........................................ 119

Tabela 28 – Modelo ML panel com interações entre atributos (3) ........................................ 120

Tabela 29 – Modelo ML panel random coefficients com distribuição normal ...................... 121

Tabela 30 – Modelo ML panel random coefficients com distribuição uniforme ................... 122

Tabela 31 – Modelo ML panel estimado a partir das respostas dos não usuários ................. 123

Tabela 32 – Classificação socioeconômica e quanto ao uso de ônibus dos lexicográficos.... 124

Tabela 33 – Classificação socioeconômica e de uso de ônibus por escolaridade.................. 125

Tabela 34 – Classificação socioeconômica por frequência de uso de ônibus ........................ 126

Tabela 35 – Classificação socioeconômica e de uso de ônibus por ocupação ....................... 127

Tabela 36 – Classificação socioeconômica e de uso de ônibus por idade ............................. 128


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AVL Automatic Vehicle Location

IIA Independence from Irrelevant Alternatives

ML Mixed Logit

MNL Multinomial Logit

PD Preferência Declarada

PMV Painel de Mensagem Variável

PR Preferência Revelada

RMSP Região Metropolitana de São Paulo

RTPI Real Time Passenger Information

USP Universidade de São Paulo


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 13

1.1 Objetivos ........................................................................................................................ 16

1.2 Justificativas .................................................................................................................. 17

2 REVISÃO DA LITERATURA ......................................................................................... 18

2.1 Informações para o transporte: da identificação da necessidade ao uso ................. 18

2.1.1 Classificações da informação ................................................................................ 18

2.1.2 Nível de conhecimento e necessidade de informação............................................ 19

2.1.3 Valor da informação e sua aquisição .................................................................... 20

2.1.4 Atualização do conhecimento e decisão ................................................................ 22

2.1.5 Estratégias de decisão dos indivíduos ................................................................... 23

2.2 Espera no transporte público por ônibus ................................................................... 25

2.2.1 Tempo de espera objetivo ...................................................................................... 25

2.2.2 Tempo de espera subjetivo e a experiência da espera com caráter negativo ....... 27

2.2.3 Experiências de espera com caráter positivo ........................................................ 28

2.3 Escolha de linha de ônibus e alocação de passageiros ............................................... 30

2.4 Informação em tempo real sob outras perspectivas .................................................. 31

2.4.1 Redução dos recursos tempo e esforço .................................................................. 31

2.4.2 Motivações e benefícios sociais e econômicos ...................................................... 32

2.5 Técnicas de coleta de dados e de modelagem adotadas ............................................. 32

2.5.1 Técnicas de preferência declarada para coleta de dados ..................................... 32

2.5.2 Modelos de escolha discreta .................................................................................. 33

2.5.3 Experimentos de escolha declarada e desenhos eficientes.................................... 43

3 METODOLOGIA .............................................................................................................. 51

3.1 Métodos para coleta de dados ...................................................................................... 51

3.2 Métodos para análise de dados .................................................................................... 53

4 EXPERIMENTO COM DESENHO EFICIENTE ......................................................... 55


4.1 Criação do desenho eficiente ........................................................................................ 57

4.1.1 Alternativas ............................................................................................................ 57

4.1.2 Atributos ................................................................................................................ 57

4.1.3 Restrições ao desenho............................................................................................ 60

4.1.4 Especificação econométrica .................................................................................. 61

4.1.5 Aproximações para parâmetros ............................................................................ 61

4.1.6 Situações de escolha .............................................................................................. 62

4.1.7 Desenho eficiente criado ....................................................................................... 63

4.2 Informações adicionais coletadas................................................................................. 63

4.3 Amostra e operacionalização ....................................................................................... 65

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................................................... 67

5.1 Caracterização da amostra .......................................................................................... 67

5.1.1 Caracterização socioeconômica e relativa ao uso de ônibus ............................... 67

5.1.2 Caracterização quanto ao comportamento não compensatório ........................... 72

5.2 Modelo base para o comportamento da demanda ..................................................... 74

5.3 Não linearidade das preferências................................................................................. 77

5.4 Influência das interações entre atributos .................................................................... 82

5.5 Variabilidade sistemática das preferências ................................................................ 86

6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ........................................................................ 94

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 97

APÊNDICE A – PRIMEIRO EXPERIMENTO PILOTO ............................................... 102

APÊNDICE B – SEGUNDO EXPERIMENTO PILOTO ................................................ 105

APÊNDICE C – DESENHO EFICIENTE DO EXPERIMENTO................................... 113

APÊNDICE D – TELA INICIAL DO QUESTIONÁRIO DE PESQUISA .................... 114

APÊNDICE E – INFLUÊNCIA DO COMPORTAMENTO LEXICOGRÁFICO ........ 115

APÊNDICE F – MODELOS COM INTERAÇÕES ENTRE ATRIBUTOS .................. 119

APÊNDICE G – VARIABILIADE ALEATÓRIA DAS PREFERÊNCIAS ................... 121


APÊNDICE H – MODELO ML PANEL PARA NÃO USUÁRIOS ............................... 123

APÊNDICE I – CLASSIFICAÇÃO SOCIOECONÔMICA E DE USO DE ÔNIBUS.. 124


13

1 INTRODUÇÃO

O usuário do sistema de transportes está sujeito a incertezas de naturezas diversas


enquanto se desloca pela rede. Variabilidade dos tempos de viagem no transporte individual e
coletivo (comum em grandes centros urbanos sujeitos a congestionamentos), descumprimento
da programação do transporte público, pouca familiaridade ou desconhecimento de rotas
alternativas no transporte individual e público, desinformação em relação a níveis de
congestionamento em determinadas vias e faixas horárias, bem como em relação à frequência
dos serviços de transporte público, para mencionar algumas.

No que tange a variabilidade do sistema, Bonsall (2004) a diferencia da incerteza


percebida pelo indivíduo: esta, embora seja influenciada pela variabilidade, envolve também
aspectos psicológicos. Já Soriguera (2013), diferencia os conceitos de confiabilidade e
variabilidade do sistema. Argumenta que a variabilidade está associada ao desempenho do
sistema, enquanto a confiabilidade está ligada às expectativas do indivíduo em relação a este
desempenho (de modo que um sistema pode ser confiável mesmo com alta variabilidade,
desde que ela seja conhecida pelo indivíduo).

As estratégias adotadas pelos indivíduos para lidar com as incertezas percebidas são
diversas. É possível, por exemplo: evitar modos, rotas e horários que sabidamente apresentem
muitas oscilações no tempo de viagem; adotar margens de segurança no planejamento da
viagem, adiantando o horário de partida; utilizar o tempo de viagem dentro do veículo para
realizar outras atividades; cancelar a viagem caso o deslocamento seja custoso a ponto de
superar os benefícios pretendidos com a mesma; ou ainda acessar informações adicionais
sobre o sistema que auxiliem no planejamento e execução da viagem, quer sejam provenientes
de opiniões de outros usuários e da mídia, ou de orientações dos gestores e operadores do
sistema (BONSALL, 2004).

Para o caso específico do transporte urbano por ônibus, sua operação em ambiente
apenas parcialmente controlado contribui para a irregularidade do sistema e, por
consequência, afeta os tempos de viagem e espera pelos veículos nos pontos de parada. Uma
forma de auxiliar os passageiros a lidar com esta irregularidade é a divulgação, em tempo real,
14

dos intervalos de tempo previstos para passagem das linhas, através de painéis eletrônicos
instalados nos pontos de parada. Esta solução é parte do conceito RTPI (Real Time Passenger
Information), um meio de prover informação eletrônica em tempo real sobre o transporte
público a seus usuários, quer seja em pontos de parada, estações, dentro dos veículos ou via
internet e telefone.

Dziekan e Kottenhoff (2007) mencionam sete importantes efeitos do uso dos painéis e
ressaltam que, embora estejam relacionados uns aos outros, são uma referência útil para
estudos nesta área. Tais efeitos são: (1) redução do tempo de espera percebido, (2) impactos
psicológicos positivos, como redução da incerteza e maior sensação de segurança, (3) maior
disposição a pagar pelo serviço, (4) ajustes no comportamento de modo a usar melhor o
tempo de espera e viajar mais eficientemente, (5) efeitos na escolha do modo, (6) maior
satisfação e (7) melhor imagem do serviço.

Pode-se acrescentar a esta lista de efeitos as alterações na escolha da linha de ônibus


quando há mais de uma alternativa disponível, de modo que a informação usada pelos
passageiros (e a forma como é usada) deve ser levada em consideração em modelos de
alocação de passageiros no transporte público (LARSEN; SUNDE, 2008).

A disponibilização de informação em tempo real eleva a qualidade e a atratividade do


serviço de transporte público. No entanto, Dziekan e Kottenhoff (2007) questionam se estes
sistemas chegam a elevar a demanda pelos serviços de transporte, seja estimulando mais
viagens dos usuários existentes ou atraindo novos usuários. Holdsworth; Enoch e Ison (2007)
sugerem que tais sistemas são mais efetivos quando fazem parte de um pacote de medidas (ao
invés de serem adotados isoladamente), especialmente se ações de combate ao
congestionamento nas vias da cidade estiverem inclusas. Cabe também salientar que o
surgimento de efeitos positivos está condicionado à confiabilidade da informação fornecida, e,
por conseguinte, à confiabilidade percebida pelos usuários.

No caso da informação em tempo real sobre intervalos de tempo previstos para


passagem das linhas de ônibus, através de painéis eletrônicos instalados nos pontos de parada,
a compreensão das respostas dos usuários é necessária para estimar as relações de custo-
benefício da implantação destes sistemas. E permite, ainda, comparar a importância dada pelo
usuário e a eficiência destes sistemas frente a outras medidas aplicadas ao transporte público,
15

como adoção de tarifas mais baixas, redução dos tempos de viagem, melhorias no conforto
dos veículos etc.

É importante salientar que o simples fato de um ponto de parada estar equipado com
painel eletrônico (antes mesmo que se veja e utilize a informação por ele mostrada)
representa, para o usuário, a possibilidade de que uma parte da incerteza associada à sua
viagem será reduzida, dado que a existência do painel elimina a possibilidade de se esperar
pelo ônibus sem saber quando ele chegará. Para o contexto de viagens rodoviárias, Razo e
Gao (2013) demostraram que o fato de uma rota estar equipada com sistema PMV (Painel de
Mensagem Variável) pode torná-la mais atrativa. É pertinente, portanto, diferenciar os efeitos
da informação (disponibilizada em tempo real através do painel) dos efeitos da presença do
painel (o mecanismo de disponibilização da informação em tempo real), embora estejam
intimamente relacionados. Enquanto a presença do painel atua na redução da incerteza,
chegando a influenciar o comportamento e as decisões dos usuários (conforme será
demonstrado no desenvolvimento da pesquisa), é a informação em si que dá condições ao
indivíduo de avaliar com maior precisão as alternativas disponíveis e tomar decisões mais
satisfatórias em sua viagem e também em sua programação de atividades.

Em concordância com as ideias do parágrafo precedente, o presente estudo se


concentra nos efeitos da existência do painel no ponto de ônibus – antes mesmo que se veja e
utilize a informação por ele mostrada – no comportamento de escolha de linha dos usuários de
ônibus. A questão de pesquisa e suas hipóteses nula e alternativa são assim formuladas:

A presença de painéis eletrônicos em pontos de ônibus, disponibilizando informação


em tempo real sobre intervalos de tempo previstos para passagem dos veículos, influencia o
comportamento de escolha de linha?

Hipótese nula
A presença de painéis não influencia o comportamento de escolha de linha:
: _ =0
Hipótese alternativa
A presença de painéis influencia o comportamento de escolha de linha:
: _ ≠0
16

sendo _ o coeficiente do atributo existência de painel no ponto utilizado na análise


dos resultados.

O restante do documento está assim organizado: nas próximas seções os objetivos da


pesquisa e suas justificativas são formalizados; no capítulo seguinte é apresentada uma
revisão da literatura pertinente; a descrição da metodologia é objeto do terceiro capítulo,
enquanto o seguinte trata da elaboração do experimento para a coleta de dados desta pesquisa;
finalmente, no quinto capítulo são apresentados e analisados os resultados do experimento,
seguidos pelas conclusões e recomendações no sexto e último capítulo.

1.1 Objetivos

Em concordância com a questão de pesquisa, este estudo tem como objetivo geral:

Investigar a influência, no comportamento de escolha de linha, da presença de painéis


eletrônicos em pontos de ônibus com informação em tempo real sobre intervalos de tempo
previstos para passagem dos veículos.

Como objetivos específicos, deseja-se:

1. mensurar a influência dos seguintes atributos sobre o comportamento de escolha de


linha: (1) existência de painel no ponto, (2) intervalo de tempo programado para a
passagem de veículos consecutivos da mesma linha, (3) possível atraso em relação
a este intervalo programado, (4) tempo de viagem dentro do veículo até o destino,
(5) ocupação do veículo quando chega ao ponto e (6) valor da tarifa;

2. identificar quais interações entre estes seis atributos influenciam o comportamento


de escolha de linha, e mensurar a intensidade com que isto ocorre;

3. identificar as características socioeconômicas e relativas a hábitos de uso de ônibus


dos indivíduos que intensificam ou diminuem a influência dos mesmos seis
atributos sobre o comportamento de escolha de linha, e mensurar a intensidade
com que isto ocorre.
17

1.2 Justificativas

Embora já mencionadas na introdução deste capítulo, as justificativas desta pesquisa


são sumarizadas e formalizadas abaixo:

Ampliar o entendimento sobre as respostas dos usuários aos painéis, de modo a


fornecer subsídios para a estimação das relações de custo-benefício de sua implantação e a
permitir a comparação de seus benefícios com os benefícios advindos de outras medidas
aplicadas ao transporte público.

Ampliar o entendimento sobre a decisão de escolha de linha de ônibus, de modo a


contribuir para a melhoria dos modelos de alocação de passageiros às linhas do transporte
público, usados em atividades de simulação e planejamento do sistema.
18

2 REVISÃO DA LITERATURA

O conteúdo deste capítulo está dividido em cinco partes, oferecendo referencial teórico
sobre: (1) a informação para os usuários do sistema de transportes, desde a identificação da
necessidade até o uso para tomada de decisão; (2) a espera no transporte público por ônibus e
sua relação com a informação em tempo real; (3) a escolha de linha de ônibus e sua relação
com a informação em tempo real; (4) perspectivas adicionais sobre a informação em tempo
real; e (5) as técnicas de coleta de dados e de modelagem utilizadas neste estudo.

É importante mencionar que, dentre os efeitos dos sistemas de informação em tempo


real que fornecem os tempos previstos para passagem de veículos do transporte público, os
benefícios relacionados aos tempos de espera e ao comportamento de escolha de linha são
aqui enfatizados, merecendo cada um deles uma seção específica.

2.1 Informações para o transporte: da identificação da necessidade ao uso

Antes de descrever os mecanismos em ação desde a identificação da necessidade de


informação até a incorporação desta última no processo decisório, cabe uma exposição sucinta
das classificações da informação para usuários dos sistemas de transporte.

2.1.1 Classificações da informação

Chorus; Arentze e Molin (2006) classificam a informação usada pelo usuário no


planejamento e na execução de viagens em duas categorias: (1) informação para geração de
alternativas (até então desconhecidas pelo usuário) e (2) para caracterização de alternativas já
conhecidas. No caso do transporte público, uma nova alternativa pode ser uma linha de ônibus
até então desconhecida, enquanto o tempo de viagem desta linha é um atributo que a
caracteriza.

Já Grotenhuis; Wiegmans e Rietveld (2007) classificam a informação para o transporte


público quanto ao momento da viagem em que é usada: antes do início, com finalidade de
19

planejamento; ou durante a execução, com finalidade de acompanhamento (quer a informação


seja acessada em terminais e pontos de parada ou dentro dos veículos).

Soriguera (2013) propõe classificação semelhante, diferenciando a informação que


ajuda o usuário a tomar decisões operacionais daquela que o ajuda a planejar sua viagem.
Informações em tempo real, por exemplo, podem dar suporte a decisões operacionais, que
podem ser alteradas mais facilmente, como a escolha da rota. Já informações baseadas em
dados históricos, por exemplo, podem dar suporte a decisões que precisam ser planejadas com
antecedência, como o horário de partida (visto que não é possível conhecer previamente o
estado do sistema no momento futuro planejado para a partida).

Ettema e Timmermans (2006), por sua vez, usam as seguintes categorias para
classificar a informação: retrospectiva, que se refere ao desempenho do sistema no passado;
descritiva, que é relativa às características atuais do sistema; e preditiva, ou seja, relativa à
projeção de estados futuros do sistema.

2.1.2 Nível de conhecimento e necessidade de informação

O nível de conhecimento do usuário do sistema de transporte pode ser definido a partir


do conceito de conhecimento total ou informação perfeita. Este conceito implica na ciência de
todas as alternativas e dos valores exatos de suas características, de modo a executar a decisão
em um cenário de absoluta certeza. Desta forma, os desvios em relação ao conhecimento
completo (quer seja por desconhecimento de alternativas ou de seus atributos) caracterizam o
nível de conhecimento do indivíduo (BONSALL, 2004; CHORUS; ARENTZE; MOLIN,
2006).

Para descrever o nível de conhecimento do indivíduo, Dziekan (2008) usa o conceito


de memory representation (representação na memória, em tradução literal para a Língua
Portuguesa), que descreve o que o indivíduo sabe ou tem em mente a respeito de algo, que
para o contexto do transporte pode ser uma linha de ônibus, por exemplo. De acordo com a
autora, este conceito compreende os mapas cognitivos (que representam espacialmente o
ambiente na mente do indivíduo) e também outros conhecimentos (tais como opções
20

existentes de linhas de ônibus e suas frequências), e serve como base para as escolhas dos
usuários, quer sejam escolhas de destino, modo ou rota.

Para o contexto do transporte público, quanto maior a frequência de uso, mais o


indivíduo aprimora seu conhecimento (memory representation) a respeito do serviço, dado
que, ao interagir com o sistema, ele continuamente armazena informações novas, experiências
e percepções, e combina as informações do ambiente com seu mapa cognitivo (DZIEKAN,
2008).

A percepção que os usuários têm do próprio conhecimento (ou desconhecimento) a


respeito do sistema de transportes é uma das determinantes da necessidade de informação.
Esta percepção é expressa, por exemplo, em seu grau de confiança nas próprias estimativas de
tempos de espera e viagem (CHORUS et al., 2007). Para o contexto do transporte público,
Grotenhuis; Wiegmans e Rietveld (2007) relacionam a necessidade de informação também
com a frequência de uso (um indicador da familiaridade com o serviço), o período do dia, o
dia da semana, o propósito, a duração e a distância da viagem, além de indicadores
socioeconômicos.

Zhao; Yang e Zhang (2010) estudaram o comportamento de escolha de informação


para serviços de transporte público. Os resultados indicaram que, dentre os tipos de
informação apresentados a indivíduos com ocupação “estudante” ou com propósito de viagem
“estudo”, a preferência foi por tabelas de horários com a programação do serviço, previsões
de tempos de chegada dos veículos aos pontos e informação sobre atrasos. Já os entrevistados
com ocupação “trabalhador assalariado” ou com propósito de viagem “trabalho”,
manifestarem preferência pelos três conteúdos acima mencionados e também por mapas da
cidade e do sistema de transporte público, além de informações sobre transbordos.

2.1.3 Valor da informação e sua aquisição

A informação sobre o sistema de transporte pode ser adquirida de forma passiva


(através dos painéis instalados em terminais e pontos de parada do transporte público, por
exemplo) ou ativa (através de buscas pela internet, por exemplo). Em qualquer uma das
situações, a aquisição de informação é descrita como uma decisão de custo-benefício, e
21

somente será realizada quando o usuário sentir que os benefícios percebidos da informação
superam o custo percebido de sua busca e aquisição, que pode incluir custos monetários,
investimentos de tempo, esforço e atenção (CHORUS; ARENTZE; MOLIN, 2006). Assim, a
possibilidade de não aquisição de informação e de consequente permanência em um estado
parcial de ignorância existe e pode ser uma escolha racional (LARSEN; SUNDE, 2008).

No que se refere ao valor da informação, Soriguera (2013) o calcula como a diferença


entre os custos de viagem com e sem informação. E, para a segunda situação, contabiliza,
além do possível tempo adicional de viagem, os custos de uma possível reprogramação de
atividades e o estresse inerente a esta situação.

Já Chorus; Molin e Van Wee (2006) usam a perspectiva do arrependimento esperado


para calcular o valor da informação. Assume-se que, para dada situação de escolha, o
indivíduo seleciona a alternativa que, em sua percepção, irá gerar o menor arrependimento
(que é mensurado numericamente). A diferença entre os menores arrependimentos associados
a situações de escolha com e sem informação é o valor percebido da informação.

Ao estudar o valor da informação sobre tempos de viagem em automóvel, Soriguera


(2013) encontrou uma curva assimétrica com cauda alongada à direita para a distribuição de
frequências do valor da informação. Uma das características deste tipo de curva é que a moda
é inferior à média. No contexto da pesquisa do autor, tal característica pode refletir o fato de
que, na maior parte das vezes em que os viajantes usam a informação sobre os tempos de
viagem, obtêm benefícios inferiores ao benefício médio que pode ser conseguido com o uso
da informação. E o formato da curva pode, segundo o autor, explicar a baixa disposição dos
usuários a pagar pela informação: considerando que os benefícios que se repetem mais
frequentemente são lembrados mais claramente pelos indivíduos, a disposição a pagar pela
informação estaria mais relacionada à moda do que à média da curva.

Fazendo referência ao exposto no primeiro parágrafo, no experimento realizado para


esta pesquisa, ao selecionar uma alternativa com painel eletrônico em detrimento de uma
alternativa sem painel, o participante está em algum grau valorizando os benefícios que a
informação poderá trazer e absorvendo os custos desta escolha (relacionados a possíveis
características negativas da alternativa selecionada). Por outro lado, quando escolhe a
alternativa sem painel, está optando por permanecer em estado momentâneo de ignorância
22

quanto ao momento previsto da passagem da linha pelo ponto (muito embora possa ter
expectativas a respeito do tempo de espera, alimentadas, por exemplo, por sua experiência
acumulada).

2.1.4 Atualização do conhecimento e decisão

Uma vez adquiridas, as informações adicionais são agregadas ao conjunto de


conhecimentos pré-existentes (derivados da própria experiência e de informações adquiridas
anteriormente), de modo a atualizá-lo, e as decisões tomadas a partir de então dependerão do
estilo (ou estratégia) de decisão do usuário (CHORUS; MOLIN; VAN WEE, 2006), bem
como de sua atitude de propensão ou aversão ao risco (BONSALL, 2004).

Os mecanismos de atualização do conjunto de conhecimentos podem ser explicados


sob as perspectivas da introdução de novos conhecimentos e da atualização dos já existentes.
Assim, em concordância com a classificação de Chorus; Arentze e Molin (2006) apresentada
na Seção 2.1.1, a informação introduz novos conhecimentos quando revela ao usuário (1)
alternativas de viagem até então desconhecidas e (2) atributos até então desconhecidos de
alternativas de viagem já conhecidas; e atualiza os conhecimentos já existentes quando
apresenta novos valores para atributos já conhecidos de alternativas de viagem igualmente já
conhecidas. Através destes mecanismos, a informação pode reformatar o contexto e a
complexidade da escolha aos olhos do usuário, sendo que a intensidade deste processo é
maior na medida em que ele percebe seus conhecimentos iniciais (prévios à aquisição de
informação) como não confiáveis, e as novas informações como confiáveis (CHORUS;
MOLIN; VAN WEE, 2006).

No que tange à confiabilidade da informação, ressalta-se que ela afeta não só o


processo de atualização do conhecimento, mas também a decisão de aquisição. Ben-Elia et al.
(2013) definem acurácia da informação como a habilidade do sistema gerador da mesma em
reduzir a discrepância entre suas estimativas e os tempos reais experimentados pelos usuários.
Acrescentam que a informação imprecisa pode ser entendida pelos indivíduos como um
elemento agravador do risco. Em um contexto de informação preditiva sobre tempos de
viagem, Ettema e Timmermans (2006) diferenciam o tempo de viagem previsto da percepção
23

que o indivíduo tem da previsão. Argumentam que, através da experiência, o usuário passa a
conhecer e avaliar a confiabilidade da previsão recebida.

Ben-Elia et al. (2013) demonstraram que o decréscimo na acurácia da informação


fornecida induz a menores taxas de uso da informação e a comportamentos de aversão ao
risco: uma vez que não se pode confiar na informação recebida, opta-se pela alternativa que
pareça mais segura. No entanto, quando se trata de informação de natureza prescritiva (ou
seja: quando o sistema de informação indica determinada alternativa como a melhor opção), a
pesquisa conduzida pelos autores revelou que o nível de acurácia da informação não
influencia sua taxa de aceitação. Ou seja: mesmo quando a prescrição não é acurada os
indivíduos continuam tomando suas decisões com base nela, comportando-se segundo a
heurística da ancoragem.

Um resultado interessante encontrado por Soriguera (2013), é que o valor da


informação só é afetado por sua acurácia até um limite tido como nível mínimo necessário de
acurácia. A partir deste limite, melhorias na acurácia resultam em pequenos benefícios
marginais.

2.1.5 Estratégias de decisão dos indivíduos

Nesta seção serão descritas estratégias de decisão empregadas pelos indivíduos, muito
embora não se almeje fazer uma revisão exaustiva do assunto. Para melhor compreender o
conteúdo dos parágrafos seguintes, recomenda-se considerar o contexto de um indivíduo
tomador de decisão em face de um conjunto de alternativas disponíveis (caracterizadas cada
uma por seus atributos), dentre as quais uma deverá ser escolhida.

Ben-Akiva e Lerman (1985) referem-se às estratégias como regras de decisão, e as


classificam em regras compensatórias e não compensatórias. Ainda lembram que, no caso das
não compensatórias, pode-se chegar a uma decisão através da aplicação isolada de uma regra
ou da combinação de duas ou mais. Abaixo é reproduzida a lista de regras mencionadas pelos
autores:
24

• Regra da dominância (não compensatória): é usada quando uma das alternativas


disponíveis é superior às demais em pelo menos um atributo, e não é inferior às
demais nos atributos restantes. Tal alternativa é a escolhida;

• Regra da satisfação (não compensatória): pressupõe que para cada atributo o


indivíduo tenha um nível de exigência mínimo. Desta forma, uma alternativa que
tenha pelo menos um atributo que não satisfaça este nível de exigência será
excluída do processo de decisão;

• Regra lexicográfica (não compensatória): pressupõe que o tomador de decisão


ordene os atributos em ordem decrescente de importância. Assim, a alternativa que
for mais atraente para o atributo mais importante será escolhida;

• Regra da maximização da utilidade (compensatória): pressupõe que o grau de


atratividade de uma alternativa seja representado por uma função matemática de
seus atributos (a função utilidade), que, quando calculada, resulta em um escalar (a
utilidade). O tomador de decisão escolhe a alternativa com a maior utilidade,
otimizando sua satisfação. A maximização da utilidade é dita compensatória porque
o indivíduo usa regras de compensação entre os atributos que considera negativos e
aqueles que considera positivos de cada alternativa, podendo escolher uma opção
que tenha características negativas, desde que sejam compensadas pelas positivas.
Ao escolher determinada linha de ônibus para se deslocar, por exemplo, a alta
ocupação do veículo pode ser compensada por um tempo de viagem mais curto. Por
ser elemento fundamental das técnicas econométricas usadas para analisar os
resultados desta pesquisa, esta estratégia de decisão será explorada com mais
detalhes na Seção 2.5.2 deste mesmo capítulo.

Outra estratégia de decisão, baseada no arrependimento (e não na utilidade ou


satisfação), é a minimização do arrependimento esperado. Segundo esta estratégia, o
indivíduo faz sua escolha de modo a evitar que qualquer alternativa não escolhida se torne
mais atrativa do que aquela que foi selecionada, pois isto causaria arrependimento. Assim, o
tomador de decisão prevê o arrependimento associado à escolha de cada alternativa (o que,
para fins de modelagem, é traduzido por uma função matemática), e elege aquela que tem o
25

menor arrependimento esperado. Chorus; Arentze e Timmermans (2008) enquadram esta


estratégia no grupo das regras semi-compensatórias e não compensatórias, visto que o mau
desempenho em um atributo (a alta ocupação de um ônibus, por exemplo) não é
necessariamente compensado pela boa performance em outro (o tempo de viagem baixo, por
exemplo).

Um estilo adicional de tomada de decisão é o comportamento habitual, em que não há


avaliação deliberada das alternativas (VERPLANKEN; AARTS; VAN KNIPPENBERG,
1997) e a aquisição de novas informações é extremamente limitada, pois os esforços
cognitivos tendem a ser reduzidos a um nível mínimo (AARTS; VERPLANKEN; VAN
KNIPPENBERG, 1997).

Cabe ainda comentar que, para um mesmo contexto, pessoas diferentes podem aplicar
regras distintas, e que o mesmo indivíduo pode variar suas estratégias de acordo com a
situação, ou mesmo alterá-las ao passar do tempo.

2.2 Espera no transporte público por ônibus

Esta seção diferencia o tempo de espera objetivo do subjetivo: o primeiro é aquele que
pode ser medido pelo relógio, enquanto o segundo é a percepção individual do tempo. Além
de descrever o tempo de espera sob ambas as perspectivas, esta seção analisa a experiência da
espera (que pode adquirir caráter negativo ou positivo) e discute o papel da informação em
tempo real na redução dos tempos de espera objetivo e subjetivo, e na criação de experiências
mais positivas.

2.2.1 Tempo de espera objetivo

No transporte público por ônibus, o tempo de espera objetivo é função tanto dos
horários de passagem dos ônibus nos pontos de parada, quanto dos horários de chegada dos
passageiros a estes locais. Assim, ambos devem ser considerados quando se trata de
estratégias para redução do tempo de espera.
26

Os horários de passagem dos veículos dependem tanto da frequência e regularidade do


serviço quanto dos congestionamentos na rede viária. Desta forma, ações de combate aos
congestionamentos e para aumento da frequência e regularidade do serviço colaboram para a
redução dos tempos de espera.

No que se refere à regularidade, políticas de gerenciamento da frota podem ser


empregadas para aumentar a aderência à programação. Um exemplo é a alocação de
intervalos de tempo adicionais ao longo dos itinerários, de modo a absorver os atrasos na
operação (CEDER, 2007). Assim, veículos à frente ou de acordo com a programação esperam
parados nos pontos até que o horário de prosseguir sua viagem seja atingido, ao contrário dos
veículos atrasados. Cabe acrescentar que o gerenciamento da frota pode ser auxiliado por
práticas de rastreamento de veículos através de sistemas AVL (Automatic Vehicle Location),
demonstrando que esta tecnologia pode auxiliar na redução dos tempos objetivos de espera.

Já a chegada de passageiros aos pontos pode se dar de forma aleatória ou em sincronia


com os horários de passagem dos veículos. A primeira ocorre quando os usuários não estão
cientes da programação das linhas ou quando a irregularidade do serviço ou sua frequência
são altas. No caso da sincronização, os picos de chegada dos passageiros aos pontos ocorrem
poucos minutos antes do horário programado para a passagem das linhas, e requer que os
usuários estejam cientes da programação do serviço. Geralmente está associada a serviços
regulares e de baixa frequência. Ressalta-se que a sincronização das chegadas com os horários
de passagem das linhas é, em si, uma estratégia do usuário para minimizar o tempo de espera
e sua variabilidade, elevando a importância da divulgação das tabelas de horários e da sua
elaboração de modo a permitirem fácil compreensão (HALL, 2001).

Sob o ponto de vista da demanda, além do ponto de vista da oferta, os sistemas AVL
também podem proporcionar redução do tempo de espera, através da utilização de seus dados
em sistemas de informação em tempo real para passageiros do transporte público, quer estes
dados sejam disponibilizados durante a viagem (nos terminais, pontos de parada ou dentro dos
veículos), ou antes de seu início, através da internet, por exemplo (HALL, 2001).
27

2.2.2 Tempo de espera subjetivo e a experiência da espera com caráter negativo

O ato de esperar é um fenômeno que geralmente provoca reações emocionais nos


indivíduos. Dependendo do contexto, pode ser uma experiência prazerosa ou uma imposição
desagradável, sendo na maior parte das vezes negativa em termos psicológicos, pois implica
em renunciar a formas mais produtivas e recompensadoras de usar o tempo e porque aumenta
o investimento necessário para alcançar o objetivo (DUBÉ-RIOUX; SCHMITT; LECLERC,
1989).

Assim, dependendo dos acontecimentos que preenchem um intervalo de tempo, bem


como da forma como são processados e armazenados pelo indivíduo e das emoções
associadas, dentre outros fatores, o intervalo percebido pelo indivíduo pode sofrer distorções
em relação ao tempo objetivo (DROIT-VOLET; MECK, 2007; MANTEL; KELLARIS,
2003). Este intervalo percebido, quer seja mais longo ou mais curto do que o tempo objetivo,
é chamado de tempo subjetivo ou psicológico, definido por Meck (2005) como a experiência
interna e individual da passagem do tempo. De acordo com o mesmo autor, sua estimação
requer o uso de uma espécie de contador interno para medir o tempo, porém sem recurso a
relógios ou marcadores de tempo externos. É importante lembrar que a duração subjetiva de
um evento pode influenciar as avaliações e a satisfação dos indivíduos em relação a um
serviço e, consequentemente, seu comportamento (DUBÉ-RIOUX; SCHMITT; LECLERC,
1989).

Maister (1985) propõe diversas situações em que o tempo de espera percebido é


distorcido e se torna superior ao tempo objetivo, dentre elas: (1) o tempo desocupado parece
mais longo do que o tempo ocupado com alguma atividade; (2) esperas nas etapas que
precedem uma atividade parecem mais longas do que esperas durante a execução da
atividade; (3) a ansiedade faz com que a espera pareça mais longa; (4) esperas com durações
desconhecidas parecem mais longas do que esperas com durações finitas e conhecidas; (5)
esperas não explicadas parecem mais longas do que esperas justificadas; e (6) esperar sozinho
parece mais demorado do que esperar acompanhado.

O segundo item desta lista, se interpretado no contexto do transporte público, está em


conformidade com o fato de que o tempo de espera para embarque (a etapa que precede a
28

atividade de viajar no ônibus) é mais desconfortável e tem menor utilidade do que o tempo de
viagem dentro do ônibus. Abrantes e Wardman (2011), em meta-análise de 90 estudos sobre
valoração do tempo de espera, concluíram que o valor médio do tempo de espera é igual a 1,7
vezes o valor do tempo de viagem dentro do veículo, variando de 1,43 em estudos de
preferência revelada até 2,32 em estudos de preferência declarada. Não há alterações
expressivas destes números para diferentes propósitos de viagem ou modos.

Já o terceiro e o quarto itens estão de acordo com Psarros et al. (2011) e Dziekan e
Kottenhoff (2007), que ressaltam que as distorções sofridas pelo tempo de espera subjetivo
em relação ao tempo objetivo tornam-se maiores quando os passageiros estão desprovidos de
informações a respeito dos horários de passagem das linhas (situação que, por si só, é
geradora de ansiedade).

Além das situações listadas por Maister (1985), Dubé-Rioux; Schmitt e Leclerc (1989)
argumentam que a espera e os atrasos são mais desagradáveis na medida em que a
necessidade do indivíduo é maior. Embora os autores tenham feito esta proposição para o
contexto de idas a restaurantes (onde a fome mede o grau da necessidade), é razoável afirmar
que, para o transporte público, quanto menor o tempo de que o usuário dispõe para alcançar
seu destino (ou quanto maior sua pressa), mais desagradável se torna a espera pelo ônibus.

Vale notar que o usuário de ônibus, enquanto espera nos terminais e pontos de parada,
pode estar exposto a condições climáticas adversas, grandes concentrações de pessoas, ruído e
poluição, elementos que também influenciam os tempos de espera percebidos, geralmente
tornando-os superiores aos reais (PSARROS et al., 2011). Para o contexto de determinadas
localidades, pode-se acrescentar a estes fatores a violência urbana, cuja influência sobre a
percepção do tempo de espera pode ser acentuada, particularmente, quando as viagens são
realizadas à noite.

2.2.3 Experiências de espera com caráter positivo

Em estudo relacionando experiência de espera e grau de satisfação com o serviço de


transporte público por ônibus, Friman (2010) demonstrou que reações afetivas positivas
podem ocorrer durante a etapa de espera que precede a viagem de ônibus. Como exemplo,
29

menciona a situação em que o usuário espera pela partida dentro do veículo, sugerindo que ele
experimentaria a sensação de “ter entrado” no sistema e de que o serviço já teria começado. A
autora também argumenta que intervenções no sentido de melhorar a experiência da espera
podem aumentar significativamente a qualidade percebida e a atratividade do transporte
público.

Pode-se afirmar que a instalação de painéis eletrônicos nos pontos de parada e


terminais é um caso de intervenção positiva. Dziekan e Vermeulen (2006), por exemplo,
estudaram as percepções de tempo de espera no transporte público antes e depois da
implantação de painéis eletrônicos disponibilizando informação em tempo real sobre a
passagem de uma tramline na Holanda. A pesquisa, feita em três momentos com a mesma
amostra de usuários, revelou uma queda de aproximadamente 20% no tempo médio de espera
percebido entre a primeira e a segunda medição (feitas, respectivamente, um mês antes e três
meses após a implantação). A terceira medição (que ocorreu 16 meses após a implantação)
revelou uma queda discreta em relação à segunda. Para o caso específico desta tramline, e
com base em estimativas de custos para disponibilizar informação em tempo real em oito
pontos, e de custos incorridos em ações para elevar a frequência do serviço, Dziekan e
Kottenhoff (2007) sugerem que é cinco vezes mais caro obter uma redução do tempo de
espera objetivo através do aumento da frequência, do que obter uma redução equivalente do
tempo de espera subjetivo através da informação em tempo real.

Friman (2010) comparou os níveis de satisfação com o transporte por ônibus de dois
cenários de espera distintos: um dito positivo e outro dito neutro. No primeiro, o usuário
chega ao ponto imediatamente antes do horário programado para passagem da linha e o
veículo já está no local, permitindo que embarque e aguarde alguns minutos para a partida,
embora não receba informações sobre o horário exato em que a partida ocorrerá. Já no
segundo cenário, o usuário chega ao ponto imediatamente antes do horário programado para
passagem da linha, mas a mesma está atrasada. Recebe, então, de maneira contínua,
informação a respeito do horário previsto de chegada do veículo ao ponto. O nível médio de
satisfação do cenário neutro foi equivalente a 75% do nível médio do cenário positivo,
apontando para o potencial que tem a informação em tornar a experiência de espera mais
positiva.
30

2.3 Escolha de linha de ônibus e alocação de passageiros

Os modelos de escolha de linha são um dos elementos fundamentais dos modelos de


alocação de passageiros a linhas do transporte público (LIU; BUNKER; FERREIRA, 2010), e
o pressuposto clássico destes modelos é de que o usuário embarca no primeiro veículo que
passa no ponto de parada, desde que tal veículo pertença a seu conjunto de linhas atrativas
(GENTILE; NGUYEN; PALLOTTINO, 2005).

Larsen e Sunde (2008), no entanto, argumentam que embarcar no primeiro veículo


pode não ser uma estratégia racional, a menos que as linhas tenham tempos de viagem
idênticos. Caso contrário, pode ser vantajoso deixar passar a linha de maior tempo de viagem
e esperar pela chegada da linha cujo tempo é menor. Contudo, a disposição para fazê-lo
depende das expectativas que o usuário tem quanto à espera adicional no ponto, e quanto à
economia do tempo dentro do veículo.

Quando informação em tempo real é disponibilizada nos terminais e pontos de parada,


o usuário passa a ter expectativas mais realistas sobre os tempos de espera associados a cada
linha, tendo assim mais elementos para decidir em qual embarcar. A escolha pode ser feita
pela linha que oferecer a melhor combinação de tempo de espera exibido pelo sistema e
tempo estimado de viagem até o destino. Neste contexto, o pressuposto clássico para alocação
de passageiros não se mantém, e a presença de informação em tempo real nos terminais e
pontos de parada deve ser considerada nas simulações e dimensionamentos da rede de
transportes para propósitos de planejamento (GENTILE; NGUYEN; PALLOTTINO, 2005).

Cabe salientar que a simples presença do painel no ponto de parada (situação


explorada no experimento desta pesquisa), também tem impactos na escolha da linha, uma
vez que é indicativa de redução da incerteza da viagem.

Sob uma perspectiva mais ampla, considerando inclusive a informação em tempo real
disponibilizada antes do início da viagem (acessada através da internet, por exemplo), os
impactos vão além da escolha da linha e estendem-se à escolha do horário de início da viagem
(quando o usuário sai de sua origem), alterando assim tanto os padrões espaciais quanto os
31

padrões temporais dos fluxos alocados na rede de transportes (LIU; BUNKER; FERREIRA,
2010).

2.4 Informação em tempo real sob outras perspectivas

Além dos efeitos da informação em tempo real e dos mecanismos que envolvem seu
uso (apresentados nos itens anteriores), é pertinente descrever outras perspectivas encontradas
na literatura, que são expostas a seguir.

2.4.1 Redução dos recursos tempo e esforço

De acordo com Stradling (2002), quando o transporte público tem caráter não
confiável, as viagens geram esforços afetivo, cognitivo e físico: incerteza, preocupação e
estresse consomem esforço afetivo; a necessidade de adaptar o planejamento feito
inicialmente consome esforço cognitivo; e executar as adaptações consome esforço físico.
Adicionalmente aos três tipos de esforços, mais tempo e dinheiro podem ser requeridos.

A informação para os usuários do transporte público possibilita economia dos recursos


tempo e esforço despendidos nas viagens, reduzindo seu custo. Para Grotenhuis; Wiegmans e
Rietveld (2007), as economias de tempo referem-se tanto às reduções de tempo de viagem
decorrentes do uso da informação, quanto às reduções de tempo de processamento da
informação usada durante o planejamento e a execução da viagem. Já as economias de esforço
referem-se aos esforços físico, cognitivo e afetivo relacionados à viagem, conforme descritos
no parágrafo precedente. Stradling (2002) sugere que cada usuário tem uma quota pessoal de
recursos de tempo e esforço, que são consumidos pelas viagens.

No que se refere aos esforços afetivos, Zhang; Shen e Clifton (2008) examinaram os
efeitos comportamentais e psicológicos da informação em tempo real sobre intervalos de
tempo previstos para chegadas de ônibus em usuários do serviço de shuttle da Universidade
de Maryland, nos Estados Unidos da América. Os resultados indicaram que o uso do sistema
aumentou significativamente o sentimento de segurança nas viagens noturnas.
32

2.4.2 Motivações e benefícios sociais e econômicos

Zhang; Shen e Clifton (2008) citam razões sociais e econômicas como motivações
para o desenvolvimento e implementação de sistemas de informação em tempo real. Dentre as
primeiras estão a promoção de inclusão social através de melhorias no transporte público,
(balanceando as vantagens e desvantagens entre o transporte público e o privado),
especialmente para a população que depende fortemente dele. Já as motivações econômicas
são justificadas tanto pela expectativa de aumento da demanda do transporte público (o que
pode ser benéfico também para o meio ambiente, caso o sistema incentive a migração do
transporte privado para o público), quanto pelas economias de tempo que podem ser obtidas
pela população, através das mudanças em suas escolhas de viagem e também devido ao
potencial que estes sistemas têm para redução do congestionamento.

2.5 Técnicas de coleta de dados e de modelagem adotadas

Nesta seção serão expostos os fundamentos das técnicas de coleta de dados e de


modelagem econométrica adotadas neste trabalho, na seguinte ordem: (1) técnicas de
preferência declarada, (2) modelos de escolha discreta e (3) experimentos de escolha
declarada e desenhos eficientes. Embora a sequência de aplicação das técnicas tenha sido
diferente (com o desenho do experimento precedendo a modelagem), é necessário expor os
princípios dos modelos de escolha discreta antes, visto que são parte da fundamentação da
teoria dos desenhos eficientes.

2.5.1 Técnicas de preferência declarada para coleta de dados

Ao contrário das técnicas de Preferência Revelada (PR), em que são obtidos dados a
respeito das escolhas de fato realizadas pelos indivíduos em contextos reais, as técnicas de
Preferência Declarada (PD) obtêm dados sobre as intenções de escolha dos indivíduos em
situações hipotéticas. E, por este motivo, possibilitam maior controle das variáveis que afetam
o comportamento da demanda, sendo que a indicação de seu uso é reforçada na medida em
que não têm as limitações das técnicas de PR, mencionadas por Ortúzar e Willumsen (2011):
33

(a) escolhas reais nem sempre envolvem variabilidade suficiente entre as alternativas para
permitir a construção de bons modelos econométricos; (b) quando poucos fatores conseguem
explicar quase todo o comportamento observado, torna-se difícil detectar a importância
relativa das outras variáveis de interesse, como é o caso de variáveis qualitativas, tais como a
presença de painéis eletrônicos instalados em pontos de ônibus fornecendo informações em
tempo real sobre o serviço; (c) inadequação para coletar respostas para situações totalmente
novas, como uma nova tecnologia para transporte de pessoas, por exemplo.

Não obstante as vantagens das técnicas de PD, não há garantias de que a escolha
declarada pelo indivíduo seja de fato realizada caso o contexto hipotético se torne real.
Ortúzar e Willumsen (2011) enfatizam que as situações hipotéticas apresentadas aos
entrevistados devem ser compreensíveis, parecer plausíveis e realistas e também estar
relacionadas com as experiências já vivenciadas por eles.

Os mesmos autores observam que as três modalidades mais comuns entre as técnicas
de PD são a Análise de Contingente (Contingent Valuation, na Língua Inglesa), a Análise
Conjunta (Conjoint Analysis, na Língua Inglesa) e a Escolha Declarada (Stated Choice, na
Língua Inglesa), sendo a última a dominante na área de Transportes e a aplicada neste estudo.

Na modalidade de Escolha Declarada é apresentado ao entrevistado um conjunto de


alternativas, dentre as quais ele deve escolher sua preferida. Cada alternativa é caracterizada
por um conjunto de atributos, como tempo de viagem e de espera, preço e conforto, por
exemplo. Uma característica positiva da modalidade de Escolha Declarada é que o ato de
selecionar a alternativa preferida é uma tarefa comum nas situações reais de escolha
(ORTÚZAR; WILLUMSEN, 2011).

2.5.2 Modelos de escolha discreta

Os modelos de escolha discreta são ferramentas econométricas largamente usadas na


área de Transportes para previsão de demanda, e seus fundamentos são aqui expostos com
base em Ben-Akiva e Lerman (1985), Ortúzar e Willumsen (2011) e Train (2009).
34

Tais modelos estimam a probabilidade de que um indivíduo, quando confrontado com


um conjunto finito de alternativas mutuamente excludentes, escolha aquela que considere
mais atrativa, conforme será mostrado nos parágrafos seguintes desta mesma seção. A
atratividade, também denominada utilidade, é função tanto dos atributos das alternativas
quanto das características (em geral socioeconômicas) do tomador de decisão. Assim, a
utilidade da alternativa i para o indivíduo n terá a seguinte especificação:

= ∙ + ∙ + ∙ + ⋯+ ∙ (1)

sendo que são as variáveis explicativas observadas pelo modelador, e representam tanto
os atributos da alternativa i quanto as características do indivíduo n. Já os coeficientes ,
também chamados de utilidades marginais, são constantes que indicam a importância de cada
na composição da utilidade . No caso da eq. (1), os coeficientes são os mesmos
para todas as alternativas (ou seja, no caso de haver as alternativas i e j, por exemplo,
= = ) e, por este motivo, são chamados de coeficientes genéricos. Trata-se,
portanto, de um caso específico (restrito) de uma formulação mais geral, utilizada aqui como
exemplo para apresentação dos princípios dos modelos de escolha discreta. Cabe ainda
comentar que a forma aditiva e linear quanto aos coeficientes é a mais comumente adotada
para a função utilidade.

Tem-se que cada indivíduo n, ao decidir pela alternativa que lhe pareça mais atrativa
(ou seja, que tenha o maior ) dentro de seu conjunto de alternativas disponíveis , está
maximizando a utilidade de sua escolha (conforme introduzido na Seção 2.1.5 deste mesmo
capítulo) e valendo-se do comportamento racional. Para Ben-Akiva e Lerman (1985), o termo
“comportamento racional” está relacionado às crenças de um observador externo sobre qual
deveria ser o resultado de uma decisão tomada por um indivíduo. A definição por eles adotada
caracteriza o comportamento racional como consistente e transitivo. A consistência está
relacionada ao fato de que o indivíduo sempre toma a mesma decisão sob circunstâncias
idênticas. E a transitividade significa que as escolhas do indivíduo obedecem à seguinte
lógica: se a alternativa a é preferida em relação à b, e esta é preferida em relação à c, então a
alternativa a é preferida em relação à c.
35

No entanto, o comportamento real dos indivíduos nem sempre se mostra, aos olhos do
observador, consistente e transitivo, de modo que não necessariamente a alternativa com
maior é escolhida, indicando que o mecanismo de escolha pode ser entendido como
probabilístico (e não determinístico).

Muito embora este comportamento não racional possa ser causado pelo tomador de
decisão (quando ele, por exemplo, falha ao armazenar e processar informações sobre as
alternativas e, como consequência, não escolhe a alternativa ótima), a teoria da utilidade
aleatória assume que o indivíduo sempre escolhe a alternativa mais atrativa para si, e toda a
aleatoriedade verificada no seu comportamento é atribuída a limitações do observador, que
pode não conhecer ou não conseguir medir todos os elementos que influenciam o processo
decisório.

Portanto, a utilidade passa a ser tratada como variável aleatória, composta pela soma
de um componente determinístico, também chamado de sistemático e representado por ,
(definido na eq. 1) e de um componente estocástico, também chamado de componente
aleatório, não observado ou termo de erro e representado por . Assim, a utilidade da
alternativa i para o indivíduo n passa a ser:

= + (2)

De modo que o indivíduo n escolherá a alternativa i se a sua utilidade ( ), agora


composta por um componente determinístico e um estocástico, for superior à utilidade de
qualquer outra alternativa j disponível em seu conjunto de escolha :

> , ∀ $ ≠ (3)

+ > + , ∀ $ ≠

− > − , ∀ $ ≠

No entanto, sendo o termo − desconhecido pelo observador externo, não é


possível afirmar que a desigualdade da eq. (3) seja verdadeira e que a alternativa i seja de fato
escolhida pelo indivíduo n. Deste modo, a alternativa i será escolhida segundo a
probabilidade:
36

& ( ) = &) − > − , ∀ $ ≠ * (4)

Assim, têm-se as probabilidades de escolha de cada alternativa presente em , que


são os resultados dos modelos de escolha discreta. No entanto, a derivação de um modelo de
escolha discreta específico requer que se especifique uma distribuição de probabilidade para
os componentes aleatórios da utilidade ( e , na eq. 4), conforme será descrito nos
próximos dois itens, que são sucedidos por explicações sobre o processo de estimação dos
modelos e sobre alguns procedimentos para avaliar os modelos estimados.

(a) O modelo logit

Quando se assume que os termos aleatórios da utilidade têm distribuições Gumbel


idênticas e independentes, obtém-se o modelo logit multinomial (cuja sigla na Língua Inglesa
é MNL, de multinomial logit). Sua equação para a probabilidade de escolha da alternativa i
pelo indivíduo n tem forma fechada e é dada por:

+ ,-. (5)
&( )= , ∀ $ ∈
∑ + ,0.

Uma propriedade deste modelo é a independência de alternativas irrelevantes (cuja


sigla na Língua Inglesa é IIA, de Independence from Irrelevant Alternatives). Segundo esta
propriedade, a razão entre as probabilidades de duas alternativas que fazem parte de um
conjunto de escolha é constante e independente da existência de outras alternativas no
conjunto. Ou seja, a taxa de substituição entre alternativas é constante:

& ( ) + ,-. 3∑ + ,0. + ,-. (6)


= = = + ,-. 5,4.
& (2) + ,4. 3∑ + ,0. + ,4.

Assim, o modelo MNL é apropriado para situações em que as alternativas apresentem


esta característica. Caso contrário, ele poderá gerar resultados falsos, superestimando ou
subestimando a probabilidade de escolha das alternativas, como ocorre com alternativas que
têm correlações não observadas entre si. A este respeito, Train (2009) argumenta que, quando
o componente sistemático da utilidade é realmente bem especificado, explicitando todas as
variáveis explicativas do comportamento e fazendo com que o termo de erro torne-se apenas
ruído branco, a IIA é sempre respeitada.
37

Outra característica do modelo MNL é que ele não captura variações puramente
aleatórias das preferências, muito embora seja possível representar as variações sistemáticas
através de melhorias na especificação do componente determinístico da função utilidade
(incluindo interações entre variáveis, por exemplo).

Mais uma particularidade deste modelo é que, sendo os termos de erro independentes
uns dos outros, não é possível capturar correlações não observadas entre as várias respostas de
um mesmo indivíduo.

(b) Os modelos logit mistos

Os modelos logit mistos (referenciados pela sigla ML de mixed logit, na Língua


Inglesa) são bastante flexíveis, visto que não apresentam as três limitações do modelo MNL
mencionadas anteriormente, permitindo assim a inclusão de alternativas que apresentem
correlações não observadas, capturando variações puramente aleatórias das preferências e
também correlações não observadas entre as respostas de um mesmo indivíduo. No entanto,
de forma similar ao modelo MNL, os termos de erro dos modelos ML também têm
distribuições Gumbel idênticas e independentes.

Os modelos ML podem ser derivados sob diferentes especificações, no entanto apenas


duas são de interesse desta pesquisa: (1) os modelos ML que capturam as variações aleatórias
das preferências dos indivíduos e (2) os modelos ML que capturam as correlações não
observadas entre as respostas do mesmo indivíduo. Cabe observar que estas duas
especificações podem ser usadas em conjunto.

O primeiro dos modelos mencionados é denominado, na Língua Inglesa, ML random


coefficients (coeficientes aleatórios), pois assume que os coeficientes da parte
determinística da função utilidade ( ) podem ser, ao invés de constantes (como no modelo
MNL), variáveis aleatórias, assumindo valores diferentes entre os tomadores de decisão de
acordo com uma função densidade de probabilidade (que pode ser contínua ou discreta).
Assim, a probabilidade de que um indivíduo n escolha a alternativa i passa a ser:
38


+ ,-. (7)
& ( ) = 67 8 :( ) , ∀ $ ≠
∑ + ,0.
9

Ou seja, a probabilidade de escolha calculada segundo o modelo MNL ;+ ,-. 3< + ,0. =
é integrada sobre :( ), a curva de distribuição de (que aqui representa o vetor dos
coeficientes ).

Já o segundo modelo é denominado, na Língua Inglesa, de ML panel, em referência às


pesquisas em que são coletadas várias repostas do mesmo indivíduo, simultaneamente ou ao
longo do tempo (sendo que cada resposta está associada a um momento t). Esta especificação
captura as correlações não observadas entre as várias respostas do mesmo tomador de decisão.
Para tanto, é acrescentada à função utilidade a variável > (um termo aleatório de erro
associado ao indivíduo n), e a equação da utilidade para o indivíduo n, escolhendo a
alternativa i no momento t passa a ser:

? = ? +> + ? (8)

Vale lembrar que, para esta especificação, os termos de erro ? permanecem


independentes entre os indivíduos, entre as respostas do mesmo indivíduo e entre as
alternativas.

Tem-se, portanto, que a probabilidade de que o indivíduo n faça determinada


sequência de escolhas (cada uma associada a um momento t) é:

+ ,-.DEF. (9)
& ( , , … , A) = 6 B C G :(>) >, ∀ $ ≠
∑ + ,0.D EF.
F ?

Ou seja, o produtório em t da probabilidade de que o indivíduo n escolha a alternativa


i no momento t ;+ ,-.D EF. 3∑ + ,0.D EF. = é integrado sobre a curva de distribuição de >, que
aqui representa o vetor de todos os > .

(c) Processo de estimação dos coeficientes

O processo de estimação de um modelo de escolha discreta parte das observações de


uma amostra de indivíduos e suas escolhas, e consiste em encontrar valores para os
39

coeficientes da função utilidade que melhor retratem o comportamento observado da amostra


(os coeficientes , no caso do modelo MNL; os parâmetros que descrevem a distribuição
:( ), no caso do modelo ML random coefficients; e também os parâmetros que descrevem a
distribuição :(>), no caso do modelo ML panel).

O procedimento clássico para estimar os modelos já discutidos é a máxima


verossimilhança, e os elementos essenciais desta técnica serão apresentados a seguir, com
foco no modelo MNL. Detalhamentos específicos para a estimação de modelos ML (por
envolverem etapas de simulação), não fazem parte do escopo desta seção.

A máxima verossimilhança L *(β) de uma amostra de observações é calculada como


o produtório em n do produto das probabilidades de escolha de um indivíduo n para cada
alternativa j pertencente a :

(10)
L *(β)= B B & ($)J0.

onde & ($) é definido conforme a eq. (5), sendo portanto uma função do vetor . Já é
obtido a partir das observações da amostra e revela se a alternativa j foi ou não selecionada
pelo indivíduo n (assumindo o valor 1 no caso de ter sido escolhida, e 0 caso contrário). Desta
forma, L *(β) fornece a probabilidade de ocorrência das escolhas observadas na amostra
quando elas são calculadas a partir do vetor a ser estimado. Assim, tem-se que, quanto
maior L *(β), mais próximos da realidade estão os resultados que o modelo produz.

Por conveniência, costuma-se trabalhar com o logaritmo da máxima verossimilhança,


L (β) – de modo que ln L *(β) = L (β) – que é maximizado a fim de encontrar o vetor :

max L ( ) (11)
9

NL ( )
=0
N

Tal procedimento fornece o valor médio de cada um dos coeficientes do vetor . Já as


variâncias dos coeficientes são obtidas através da matriz de variância e covariância assintótica
do modelo. Para seu cálculo, é necessário obter primeiro a matriz K x K com as derivadas de
40

segunda ordem de L ( ) em relação aos coeficientes já estimados, denominada matriz


Hessiana e representada por ∇ L ( ). A partir dela obtém-se a matriz de variância e
covariância assintótica:

PQ = −E R∇ L ( )S5 (12)

Os elementos da diagonal de PQ são as variâncias estimadas dos coeficientes , cujas


raízes quadradas são os erros padrão.

(d) Elementos para análise e comparação dos modelos estimados

A escolha de um bom modelo evolve a criação de especificações alternativas para a


função utilidade, bem como métodos para analisar e comparar os modelos. Os métodos mais
comumente usados (e os empregados neste estudo) serão apresentados a seguir, e se dividem
em métodos para avaliar os coeficientes estimados e métodos para avaliar os modelos como
um todo.

Fazem parte da avaliação dos coeficientes:

• a comparação do sinal do coeficiente estimado com o sinal esperado para ele;


• a aplicação do teste estatístico t (fruto da divisão do valor estimado para o
coeficiente por seu erro padrão), que testa a hipótese nula de que o coeficiente é
igual a zero ( : = 0) para determinado nível de significância (geralmente 5%);
• o cálculo das taxas marginais de substituição ou equivalências entre as variáveis
independentes do modelo (indicando quais quantidades de cada variável geram a
mesma utilidade), seguido da comparação com as taxas encontradas em outros
estudos.

O detalhamento do conceito de taxa marginal de substituição requer um exemplo


ilustrativo. Suponha-se que a parte determinística da utilidade da alternativa i para o indivíduo
n seja função dos atributos preço ( ), tempo de viagem (T ) e conforto (U ):

= VWXçZ ∙ + ?X[VZ ∙ T + \Z ]ZW?Z ∙U


41

Caso se deseje reduzir o tempo de viagem em uma unidade, sem que se altere, será
necessário que alguma outra variável se modifique (o preço, digamos). Para descobrir qual a
variação ^ no preço capaz de manter constante quando uma unidade é subtraída do tempo,
deve-se reescrever a equação da parte determinística da utilidade:

′ = VWXçZ ∙( + ^) + ?X[VZ ∙ (T − 1) + \Z ]ZW?Z ∙U

Igualando e ′ e eliminando o termo \Z ]ZW?Z ∙U (comum a ambas as


equações) tem-se:

VWXçZ ∙ + ?X[VZ ∙T = VWXçZ ∙( + ^) + ?X[VZ ∙ (T − 1)

VWXçZ ∙ + ?X[VZ ∙T = VWXçZ ∙ + VWXçZ ∙^+ ?X[VZ ∙T − ?X[VZ

0= VWXçZ ∙^− ?X[VZ

?X[VZ
^=
VWXçZ

Assim, tem-se que, ao reduzir uma unidade do tempo de viagem, é necessário


aumentar o preço em ^ unidades para que a utilidade não se altere (para que = ′ ). E o
valor de ^ é igual à razão ?X[VZ ⁄ VWXçZ , também chamada de taxa marginal de substituição
entre os atributos tempo e preço. Outras taxas marginais de substituição (entre outros pares de
atributos) podem ser calculadas, porém o exemplo dado corresponde a uma taxa comumente
usada e também denominada valor da economia do tempo de viagem (ou simplesmente valor
do tempo), que costuma variar conforme o propósito da viagem e a renda do indivíduo ou de
seu domicílio.

Quando o denominador das taxas marginais de substituição é o coeficiente do preço


(ou do custo), elas representam a disposição a pagar por alterações no atributo do numerador.
A disposição a pagar pode ser interpretada como a quantidade de dinheiro que o indivíduo
está disposto a desembolsar pelo acréscimo ou decréscimo (sempre aquele que elevar a
utilidade) no valor de outro atributo.
42

No que se refere a avaliação e comparação de modelos, duas medidas de ajuste


comumente usadas são o rho quadrado (b ) e o rho quadrado ajustado (b̅ ), que permitem
comparar modelos estimados a partir da mesma amostra de observações:

L ( ) L (0) − L ( ) (13)
b = 1− =
L (0) L (0)

L ( ) − K L (0) − L ( ) + K (14)
b̅ = 1 − =
L (0) L (0)

sendo que L ( ) é o logaritmo da máxima verossimilhança calculada a partir dos coeficientes


estimados, e L (0) é o logaritmo da máxima verossimilhança obtida quando todos os
coeficientes são iguais a zero (e portanto a probabilidade de escolha de cada alternativa é
igual a 1/J, sendo J a quantidade de alternativas disponíveis), o que equivale a não haver
modelo algum. O rho quadrado mede o quanto o modelo estimado é superior, quanto à sua
capacidade de predizer o comportamento da amostra, em relação a um modelo em que todas
as alternativas tenham a mesma probabilidade de escolha (1/J). Esta medida de ajuste varia de
0, quando o modelo estimado não consegue explicar o comportamento da amostra (ou seja,
L ( )=L (0)) a 1, quando o modelo estimado prediz com perfeição o comportamento da
amostra (L *( )=1 e, por consequência, L ( )=0).

O rho quadrado ajustado é uma modificação do rho quadrado (conforme mostra a eq.
14), que permite comparar modelos estimados a partir da mesma amostra de observações, mas
que tenham quantidades diferentes de parâmetros (onde K é a quantidade de parâmetros
estimados). Pode-se dizer que, para modelos estimados a partir da mesma amostra, aquele que
apresentar maior rho quadrado ajustado, independente da quantidade de coeficientes
estimados, tem melhor ajuste.

Outra maneira de comparar diferentes especificações, desde que a estimação seja feita
a partir da mesma amostra, é o teste da razão da máxima verossimilhança. Supondo que a um
modelo sejam impostas restrições (como igualar todos ou alguns coeficientes a zero, ou então
igualar dois ou mais coeficientes entre si), é possível testar a hipótese de que as restrições são
verdadeiras com o teste da razão da máxima verossimilhança. Seja a hipótese nula (de que
dois coeficientes são iguais a zero, por exemplo) que se deseja testar:
43

: = =0

E seja L * ( ef ) a máxima verossimilhança do modelo estimado sem a restrição (ou


seja, a partir de uma especificação de que contenha e ), e L * ( gf ) a máxima
verossimilhança do modelo estimado com a restrição imposta por (ou seja, a partir de uma
especificação de que não contenha e , ou que fixe seus valores em zero). O teste da
razão da máxima verossimilhança é assim definido:

gf )
l = −2 ∙ RL (
(15)
−2 ∙ ln k gf ) −L ( ef )S
L * (
L * ( ef )

Esta estatística tem distribuição chi quadrado com número de graus de liberdade igual
à quantidade de restrições impostas ao modelo (duas, para o exemplo usado em que
: = = 0). Se o valor da estatística exceder o valor crítico do chi quadrado com o
número apropriado de graus de liberdade, a hipótese nula pode ser rejeitada. Nas aplicações
práticas, este teste geralmente é usado para comparar o modelo estimado (irrestrito) com
aquele em que todos os coeficientes são iguais a zero (restrito).

2.5.3 Experimentos de escolha declarada e desenhos eficientes

A criação de um experimento de escolha declarada, para Bliemer e Rose (2009), é


composta por três etapas, que são descritas nos parágrafos seguintes.

A primeira delas é a especificação do modelo de escolha discreta que se pretende


estimar a partir dos dados coletados com o experimento. Para tanto, são necessárias as
definições listadas abaixo, acompanhadas de comentários e exemplos:

1. Alternativas que farão parte do experimento


No caso de um experimento sobre escolha de rota com duas alternativas, por exemplo,
elas podem ser rota a e rota b. Já para um experimento de escolha de modo com três
alternativas, elas podem ser ônibus, automóvel e trem;
44

2. Atributos que caracterizarão cada alternativa


Cabe considerar que há atributos comuns a algumas ou a todas as alternativas, e
também há atributos exclusivos para uma alternativa. No caso do experimento sobre
escolha de modo citado anteriormente, o tempo de viagem é um atributo comum às
alternativas ônibus, automóvel e trem. Já o atributo quantidade de transbordos só
caracteriza as alternativas ônibus e trem;

3. Tipo de modelo econométrico a ser estimado


MNL, ML panel, ML random coefficients etc.;

4. Especificação do componente determinístico da função utilidade para todas as


alternativas
Este componente pode incluir, além dos efeitos principais, efeitos de interações e
também efeitos não lineares. A título de exemplo, para o caso do experimento de
escolha de modo seria necessário criar o componente determinístico da função
utilidade para os três modos.

A segunda etapa é a geração do desenho do experimento, que nada mais é do que um


grupo de situações de escolha. Uma situação de escolha é uma combinação de valores de
atributos para as alternativas. A Tabela 1 (abaixo) mostra um exemplo de desenho em que são
exibidas três situações de escolha criadas para o experimento de escolha de rota mencionado
anteriormente:

Rota a Rota b
Situação de
escolha Tempo de Tempo de
Custo Custo
viagem viagem
1 15 $ 35 min 20 $ 25 min
2 20 $ 25 min 15 $ 30 min
3 20 $ 30 min 25 $ 25 min
... ... ... ... ...
Tabela 1 – Exemplos de situações de escolha de um desenho de experimento

A criação do desenho também requer definições prévias, que são listadas abaixo,
acompanhadas de comentários e exemplos (a numeração desta lista é contínua à numeração da
lista das definições da primeira etapa):
45

5. Forma de identificação das alternativas: com rótulos ou não


Geralmente experimentos de escolha de modo têm suas alternativas rotuladas: ônibus,
automóvel, trem etc. Já experimentos de escolha de rota identificam as alternativas de
maneira genérica: rota a, rota b, etc.;

6. Balancear níveis dos atributos no desenho: sim ou não


Balancear os níveis dos atributos significa que cada nível de um atributo deve aparecer
no desenho a mesma quantidade de vezes, a fim de que todos os pontos do intervalo
de variação do atributo sejam igualmente representados. Esta recomendação pode
elevar a quantidade mínima de situações de escolha a serem geradas, que passa a ser o
mínimo múltiplo comum dos níveis dos diferentes atributos (por exemplo: se o
experimento tem 3 atributos, o primeiro com 3 níveis, o segundo com 4 e o terceiro
com 2, então deverão ser criadas 12 situações de escolha para garantir o equilíbrio
entre os níveis de cada atributo). Embora haja circunstâncias em que esta característica
não seja desejada, ela geralmente é adotada em desenhos de experimento;

7. Intervalo de variação de cada atributo


É o intervalo entre seu menor e seu maior nível, também chamado de amplitude do
atributo. Novamente no exemplo da Tabela 1, ambos os atributos têm intervalo de
variação igual a 10 unidades ($ ou minutos).
Não obstante os fatos de que amplitudes maiores são preferíveis sob o ponto de vista
estatístico, e de que os modelos são aplicáveis apenas para os intervalos dos atributos
a partir dos quais foram estimados, a definição do intervalo de variação deve ser
balizada por aspectos práticos, tal como o realismo do contexto do experimento;

8. Níveis de cada atributo


Uma vez definidos os intervalos de variação dos atributos, dá-se a definição de seus
níveis, que depende de quantos se deseja criar e dos intervalos entre níveis
consecutivos. No exemplo da Tabela 1, o atributo custo tem 3 níveis equidistantes (15
$, 20 $ e 25 $), assim como o atributo tempo de viagem (25, 30 e 35 minutos);

9. Quantidade S de situações de escolha a serem criadas


Recomenda-se que o número de diferentes situações de escolha a serem criadas seja,
no mínimo, igual ao número de parâmetros do modelo de escolha discreta que se
46

pretende estimar a partir dos resultados do experimento. Cabe comentar que S


depende também dos níveis dos atributos, caso se deseje manter seu balanceamento;

10. Tipo de desenho de experimento a ser adotado


Duas categorias de desenho podem ser citadas: o desenho fatorial completo (Full
Factorial Design, na Língua Inglesa) e os fatoriais fracionados (Fractorial Factorial
Designs, na Língua Inglesa). O primeiro consiste em gerar todas as situações de
escolha possíveis. No exemplo da Tabela 1, tanto para a rota a quanto a rota b há 9
combinações possíveis, que, quando cruzadas, resultam em 81 (92) diferentes situações
de escolha. Já os desenhos fatoriais fracionados são uma seleção de situações de
escolha a partir do desenho fatorial completo. Um tipo de desenho fatorial fracionado
bastante conhecido é o desenho ortogonal, em que a correlação entre os níveis dos
atributos do desenho é igual a zero. Outro tipo é o desenho eficiente (o escolhido para
esta pesquisa), que minimiza as variâncias previstas para os parâmetros que serão
estimados pelos modelos de escolha discreta. Estes desenhos serão detalhados ainda
nesta seção.

Finalmente, a terceira etapa para a criação de um experimento de escolha declarada


consiste na construção do questionário que será apresentado aos entrevistados, quer seja em
papel, através do computador, presencialmente ou pela internet etc. Um elemento importante
que diz respeito a esta etapa é a aleatorização das situações de escolha: não devem ser
apresentadas sempre na mesma ordem aos entrevistados. É possível também aleatorizar a
sequência em que os atributos aparecem dentro de cada situação de escolha.

Os parágrafos seguintes desta seção são dedicados à descrição dos desenhos eficientes
(seu embasamento teórico e requerimentos à sua aplicação) e as informações expostas se
baseiam fortemente em Bliemer e Rose (2009), Ortúzar e Willumsen (2011) e no manual do
software Ngene 1.1 (CHOICE METRICS, 2011).

Desenhos eficientes

Esta modalidade de desenho gera um grupo de situações de escolha tal que, quando
transformado em questionário de pesquisa e aplicado a uma amostra, permite estimar modelos
de escolha discreta cujos parâmetros tenham as menores (co)variâncias possíveis (sendo,
portanto, mais confiáveis e qualificando o desenho como um desenho eficiente), sem com isto
47

requerer amostras maiores. Alternativamente, os desenhos eficientes permitem atingir


(co)variâncias para os parâmetros iguais às obtidas através de outros tipos de desenhos, porém
usando amostras menores.

Idealmente, o procedimento para encontrar o melhor desenho eficiente exigiria que,


para todas as combinações de S situações de escolha que poderiam ser formadas a partir do
desenho fatorial completo, fossem calculadas medidas de ineficiência. E a combinação das S
situações de escolha com a menor ineficiência seria considerada o desenho ótimo. No entanto,
em geral a quantidade de combinações possíveis é tão grande que torna inviável este
procedimento. Portanto, são usados algoritmos para selecionar desenhos e medir sua
ineficiência, em um processo iterativo até que um desenho satisfatoriamente eficiente seja
encontrado (ou seja, com a medida de ineficiência suficientemente baixa), muito embora a
descrição de tais algoritmos esteja fora do escopo deste trabalho.

Medir a ineficiência de um desenho é medir o “quão pequena” está a (co)variância dos


parâmetros associados a ele, através do cálculo da matriz de variância e covariância
assintótica PQ (definida na eq. 12). No entanto, os valores estimados para os parâmetros,
necessários para o cálculo de PQ , não estão disponíveis, pois somente serão obtidos após a
aplicação do desenho a uma amostra, seguida da estimação dos modelos. Para contornar esta
dificuldade, são usadas aproximações para os parâmetros: valores que se acredita serem
próximos aos que serão obtidos quando o modelo for estimado. Resultados de outras
pesquisas ou mesmo experimentos piloto podem ser usados para definir as aproximações para
cada parâmetro, que podem ser valores fixos ou aleatórios (com distribuições de
probabilidade geralmente normais ou uniformes). Caso não se tenha conhecimento algum
sobre o valor dos parâmetros, o valor zero é usado no lugar das aproximações. Detalhamentos
do cálculo de PQ , que pode tanto utilizar métodos de simulação quanto ser feito
analiticamente, estão fora do escopo deste trabalho.

Um indicador de ineficiência bastante usado (e o adotado nesta pesquisa) é o D_error,


calculado como o determinante da matriz P , que é a matriz de variância e covariância para
apenas um indivíduo:
48

m_+nnon = +T(P ) ⁄p (16)

Quando são usadas distribuições de probabilidades para as aproximações dos


parâmetros, tem-se o Bayesian D_error (Db_error) dado por:

(17)
mq _+nnon = 6 +T(P ) ⁄p
:( )
9

Para que ambos os indicadores se tornem independentes do tamanho do experimento


(ou seja, da quantidade L de parâmetros estimados), a matriz P é normalizada pela potência
1/L.

Outro indicador interessante relacionado aos desenhos eficientes é o S_estimate, que


fornece uma indicação do tamanho mínimo da amostra para que se estimem parâmetros
significativamente diferentes de zero. Os tamanhos mínimos de amostra são calculados para
cada um dos parâmetros, de modo que o maior tamanho de amostra calculado corresponde à
indicação da amostra mínima para o desenho. No entanto, a realização do experimento com a
amostra do tamanho indicado não garante parâmetros estatisticamente significativos, de modo
que o uso deste indicador é mais apropriado para comparar desenhos diferentes do que para
determinar os tamanhos das amostras.

Vale mencionar também o B_estimate, uma medida do grau de balanceamento das


utilidades das alternativas que fazem parte de cada situação de escolha do desenho. Este
indicador está relacionado à quantidade de informação (para fins de modelagem) que pode ser
obtida a partir de cada situação. Para maximizar esta quantidade de informação, o desenho
eficiente é gerado de modo que as utilidades das alternativas de uma mesma situação de
escolha não sejam nem muito próximas (pelo risco de que o indivíduo selecione uma
alternativa aleatoriamente), nem muito distantes (a ponto de tornar uma alternativa muito
superior à outra e dispensar o uso de regras compensatórias de decisão, como ocorre quando
há alternativas dominantes). Não há um valor ideal para o B_estimate, mas ele costuma variar
entre 70% e 90% para os desenhos eficientes.

Além das definições necessárias à primeira e segunda etapas da criação de um


experimento, cabe formalizar mais quatro definições prévias à criação do desenho
49

(acompanhadas de comentários e exemplos), bem como uma observação pertinente a respeito


do modelo econométrico e sua especificação. A numeração desta lista é contínua à da lista das
definições da segunda etapa:

11. Aproximações para os parâmetros do componente determinístico da função


utilidade
Conforme mencionado anteriormente, podem ser valores fixos ou aleatórios. Dado que
o desenho eficiente depende fortemente da acurácia das aproximações fornecidas,
igualar as aproximações a zero só é recomendado em caso de total desconhecimento
dos valores dos parâmetros;

12. Indicador de ineficiência a ser usado pelos algoritmos


É necessário definir qual indicador se deseja que o algoritmo utilize (para esta
pesquisa foi escolhido o Db_error);

13. Restrições ao desenho


É possível impor restrições ao desenho, caso se deseje evitar determinadas
combinações de níveis de atributos. No exemplo da Tabela 1, por exemplo, é possível
evitar situações de escolha em que (pelo menos) uma das alternativas tenha custo
muito alto e tempo de viagem igualmente alto, por se considerar que tal combinação
não seria realista;

14. Quantidade de blocos


É possível criar blocos de situações de escolha, de modo que o mesmo entrevistado
não precise responder a todas as situações do desenho. Um desenho com 24 situações
de escolha, por exemplo, pode ter 2 blocos de 12 situações ou 3 de 8.
Cabe comentar que a quantidade de situações de escolha à qual cada indivíduo é
submetido não pode ser grande a ponto de causar fadiga (visto que ela influencia os
mecanismos de escolha);

15. Sobre o tipo de modelo econométrico e sobre a especificação do componente


determinístico da função utilidade
É importante ressaltar que as matrizes Ωs e Ω dependem tanto do modelo
econométrico adotado quanto da especificação da parte determinística da utilidade.
Portanto, diferentes modelos (no que diz respeito ao tipo e à especificação) produzem
50

diferentes matrizes Ωs e Ω , de modo que um desenho gerado para determinado


modelo não necessariamente produzirá resultados igualmente eficientes para outro.
Apesar disto, é comum adotar especificações MNL mesmo quando se pretende estimar
outros tipos de modelos após a coleta dos dados (como modelos ML, por exemplo),
pelo fato de que o tempo computacional para gerar desenhos eficientes a partir de
especificações MNL é pequeno.
51

3 METODOLOGIA

A natureza da pesquisa desenvolvida é descritiva (no que se refere aos seus objetivos)
e experimental (no que se refere aos procedimentos técnicos utilizados).

De acordo com Gil (2002, p. 42), “as pesquisas descritivas têm como objetivo
primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o
estabelecimento de relações entre variáveis”. Já as pesquisas experimentais, também de
acordo com Gil (2002, p. 47), consistem essencialmente em “determinar um objeto de estudo,
selecionar as variáveis que seriam capazes de influenciá-lo, definir as formas de controle e de
observação dos efeitos que a variável produz no objeto”.

Neste trabalho, o fenômeno estudado (através de técnica experimental) é o


comportamento de escolha de linha de ônibus, que é função dos seis atributos já descritos nos
objetivos do estudo, na Seção 1.1: (1) existência de painel no ponto, (2) intervalo de tempo
programado para a passagem de veículos consecutivos da mesma linha, (3) possível atraso em
relação a este intervalo programado, (4) tempo de viagem dentro do veículo até o destino, (5)
ocupação do veículo quando chega ao ponto e (6) valor da tarifa. Usando a terminologia de
Gil (2002), entende-se que os atributos são as variáveis que influenciam o fenômeno
estudado.

A seguir serão apresentados os métodos de coleta e de análise de dados escolhidos


para o desenvolvimento da pesquisa.

3.1 Métodos para coleta de dados

Para a coleta de dados foi realizado um experimento de escolha declarada com


desenho eficiente aplicado à comunidade da Universidade de São Paulo (USP), que foi
precedido por dois experimentos piloto, também de escolha declarada e com desenho
eficiente, conforme mostra a Figura 1. Os resultados do primeiro experimento piloto (taxas
marginais de substituição entre atributos) foram utilizados para criar o desenho eficiente do
segundo experimento piloto. E os resultados deste último (intervalos de variação dos
52

coeficientes dos atributos e taxas marginais de substituição entre atributos), por sua vez,
foram utilizados para criar o desenho eficiente do experimento final. A elaboração e os
resultados do primeiro e do segundo experimento piloto são apresentados, respectivamente,
nos Apêndices A e B, enquanto a elaboração do experimento final é objeto do Capítulo 4 e
seus resultados são descritos no Capítulo 5.

A Figura 1 também mostra as definições que precederam a realização do experimento


final, com a mesma nomenclatura utilizada no Capítulo 4.

Cabe comentar que a ferramenta Ngene 1.0 (www.choice-metrics.com) foi utilizada


para criar os desenhos eficientes dos dois experimentos piloto e do experimento final.

Figura 1 – Sequência de etapas para coleta de dados


53

3.2 Métodos para análise de dados

As etapas da análise de dados (ou seja, das repostas obtidas no experimento final) são
exibidas na Figura 2, e desenvolvidas no Capítulo 5.

A primeira etapa, de caracterização da amostra, refere-se à classificação


socioeconômica e relativa a hábitos de uso de ônibus dos entrevistados. Todas as etapas
consecutivas a ela referem-se à estimação de modelos de escolha discreta ML panel a partir
das respostas de todos os entrevistados da amostra.

O modelo base contém apenas os efeitos principais dos atributos das alternativas,
enquanto os demais visam estudar a não linearidade das preferências, as interações entre
atributos e a variabilidade sistemática das preferências dos entrevistados, esta última
explorada através de um modelo com interações entre os atributos e as variáveis
socioeconômicas e de uso de ônibus dos entrevistados.

Todos os modelos estimados respondem à questão de pesquisa apresentada no


Capítulo 1, ao objetivo geral e ao primeiro objetivo específico da pesquisa (descritos na Seção
1.1). Os modelos com interações entre atributos, especificamente, também respondem ao
segundo objetivo específico, enquanto o modelo com variabilidade sistemática das
preferências responde também ao terceiro objetivo específico.

Figura 2 – Sequência de etapas para análise de dados


54

Encontrar os melhores modelos, que são os apresentados neste trabalho, envolveu um


processo iterativo de especificação, estimação e análise de modelos. Ao todo,
aproximadamente mil modelos foram estimados, todos usando o software Biogeme
(BIERLAIRE, 2003). Especificamente para os modelos que envolviam interações, a
impossibilidade de estimar todas as especificações possíveis (que no caso do modelo com
variabilidade sistemática das preferências, chegava à ordem de 1050), exigiu a utilização de
heurísticas para que se chegasse a bons modelos dentro do período de tempo disponível para a
realização das análises. A principal delas consistiu em incluir na especificação todas as
interações de interesse e, após estimar o modelo, a interação cujo coeficiente tivesse o menor
valor do teste t (desde que fosse estatisticamente não significativo) era retirada da
especificação. O modelo era novamente estimado e o procedimento era repetido até que
restassem apenas coeficientes estatisticamente significativos no modelo.

Cabe salientar que os modelos estimados usando as heurísticas tinham todos


especificação MNL. Somente após um bom modelo ser encontrado, sua especificação era
transformada em ML panel, em geral sem grandes alterações nos resultados. Este
procedimento teve grande impacto no tempo total para a estimação das centenas de modelos
criados durante a aplicação das heurísticas, visto que o tempo de processamento
computacional para estimar um MNL é bastante inferior ao tempo para estimar um ML panel.
55

4 EXPERIMENTO COM DESENHO EFICIENTE

É objeto deste capítulo a elaboração do experimento para coleta de dados usado nesta
pesquisa, que faz uso de técnicas de escolha declarada e foi construído a partir de um desenho
eficiente (sendo que as atividades relativas à elaboração e envio do questionário à amostra já
foram descritas no Capítulo 3). No entanto, antes da descrição das etapas de sua elaboração,
faz-se necessária uma exposição prévia do contexto do experimento.

Em cada situação de escolha foram apresentadas ao entrevistado duas linhas diferentes


de ônibus que podem levá-lo até um destino determinado para que compareça a um
compromisso. As linhas, no entanto, têm itinerários diferentes e não passam pelo mesmo
ponto, de modo que a escolha a ser feita é entre uma ou outra combinação de linha e ponto.
Adicionalmente, apenas um dos pontos tem painel eletrônico exibindo os intervalos de tempo
previstos para passagem das linhas.

Além da existência de painel no ponto, as alternativas se diferenciam pelos seguintes


atributos:

(1) intervalo de tempo programado para a passagem de veículos consecutivos da


mesma linha;
(2) possível atraso em relação a este intervalo programado;
(3) tempo de viagem dentro do veículo até o destino;
(4) ocupação do veículo quando chega ao ponto;
(5) custo da viagem (representado pelo valor da tarifa).

Abaixo é apresentada a instrução comum a todas as situações de escolha, seguida de


um exemplo de tabela (na Figura 3) com as características de cada alternativa de uma situação
de escolha:

“Suponha que você irá de ônibus a um compromisso e que tanto a LINHA 1 quanto a
LINHA 2 servem para levá-lo(a) até o local desejado. Porém, estas linhas não passam pelo
mesmo ponto. Você tem, então, duas alternativas: andar em uma direção até o PONTO 1 e
pegar a LINHA 1 ou andar em outra direção até o PONTO 2 e pegar a LINHA 2.
56

Considere que os tempos de caminhada até qualquer um dos pontos são pequenos e
parecidos. Os pontos podem ou não ter painel eletrônico mostrando quanto tempo falta para
o ônibus passar. Levando em conta esta e outras características de cada alternativa
(apresentadas na tabela abaixo), qual você escolhe?”

PONTO 1 + LINHA 1 PONTO 2 + LINHA 2

A linha está programada para passar a cada: 20 minutos 15 minutos

Mas pode demorar até: 39 minutos 29 minutos

O ponto tem painel eletrônico? Sim Não

O tempo de viagem (dentro do ônibus) é: 50 minutos 50 minutos

A passagem custa: R$ 3,00 R$ 3,30

Nem vazio, nem lotado.


Quase vazio. Todos os bancos estão
O ônibus costuma estar: Você poderá viajar ocupados e você terá que
sentado. viajar em pé (com poucas
outras pessoas em pé).

Figura 3 – Exemplo de tabela com as características das alternativas

Cabe destacar as seguintes características do contexto do experimento:

• os pontos ficam em direções opostas, de modo que não é possível passar por um
deles enquanto se dirige ao outro;
• o tempo de caminhada para acessar o ponto é considerado pequeno e semelhante
para ambas as alternativas. Ou seja, trata-se de uma característica que não as
diferencia (não torna uma superior à outra);
• o possível atraso da linha não é exibido diretamente nas situações de escolha, e sim
indiretamente: é somado ao intervalo programado e esta soma é apresentada ao
entrevistado como um tempo máximo de espera pelo ônibus;
• a razão de haver dois pontos diferentes é permitir que o painel esteja presente para
apenas uma alternativa, o que não seria possível caso ambas as linhas de ônibus
passassem pelo mesmo ponto de parada (supondo que o painel exiba informações
sobre todas as linhas que passem pelo ponto);
• a decisão do entrevistado é tomada sem que ele conheça o intervalo de tempo
previsto para a passagem da linha pelo ponto (ele sabe apenas que um ponto tem
painel e outro não, mas não sabe qual a informação mostrada pelo painel).
57

As etapas para criação do desenho eficiente são descritas na próxima seção, que é
seguida da apresentação de informações adicionais que foram coletadas dos entrevistados
(dados socioeconômicos e referentes a hábitos de uso de ônibus) e de comentários a respeito
da obtenção da amostra e da operacionalização do experimento.

4.1 Criação do desenho eficiente

São objeto desta seção as definições prévias à criação do experimento com desenho
eficiente, bem como uma breve descrição do desenho obtido.

Salienta-se que desenhos diferentes foram criados e avaliados, sob um conjunto de


definições diferentes das apresentadas a seguir. No entanto, o conteúdo das seções seguintes
refere-se apenas ao desenho escolhido para realização do experimento.

4.1.1 Alternativas

Conforme mencionado na introdução deste capítulo, são duas as alternativas deste


experimento, e foram apresentadas sem rótulos: Ponto 1 + Linha 1 e Ponto 2 + Linha 2.

As definições acima correspondem às listadas na Seção 2.5.3: (1) Alternativas que


farão parte do experimento e (5) Forma de identificação das alternativas: com rótulos ou
não.

4.1.2 Atributos

São seis os atributos escolhidos para o experimento (sendo que todos são comuns a
ambas as alternativas) e estão detalhados na Tabela 2 (que traz também a notação de seus
coeficientes no componente determinístico da função utilidade):
58

Coeficientes na
Atributos Níveis
função utilidade

Existência de painel no
1 = Sim / 0 = Não β_display
ponto

Intervalo de tempo
programado para a
passagem de veículos 5 / 10 / 15 / 20 minutos β_interv
consecutivos da mesma
linha

Possível atraso em
relação ao intervalo 4 / 9 / 14 / 19 minutos β_atraso
programado

Tempo de viagem dentro


20 / 30 / 40 / 50 minutos β_tviagem
do veículo

Mínima (dummy: ocup0)


“Quase vazio. Você poderá viajar sentado”.
Intermediária (dummy: ocup1)
“Nem vazio, nem lotado. Todos os bancos estão
Ocupação do veículo ocupados e você terá que viajar em pé (com β_ocup0 e
quando chega ao ponto poucas outras pessoas em pé)”. β_ocup1
Máxima
“Lotado. Todos os bancos estão ocupados e você
terá que viajar em pé (com muitas outras pessoas
em pé)”.

Custo da viagem 3,00 / 3,30 R$ β_custo

Tabela 2 – Detalhamento dos atributos do experimento

Para os atributos intervalo, atraso e tempo de viagem, a quantidade de níveis escolhida


(quatro) permitiu representá-los com amplitude suficiente e, ao mesmo tempo, utilizar
intervalos pequenos entre níveis consecutivos. O uso de apenas dois ou três níveis iria
requerer que a amplitude fosse reduzida ou que fossem adotados intervalos maiores entre
níveis consecutivos. E a adoção de intervalos maiores poderia gerar situações de escolha nas
quais a combinação dos valores dos três atributos fosse muito mais atrativa para uma
alternativa do que para outra, havendo o risco de que nem mesmo se os demais atributos da
outra alternativa fossem bastante positivos (como presença do painel, tarifa menor ou baixa
ocupação do veículo, por exemplo), eles seriam suficientes para compensar a desvantagem de
59

sua combinação de intervalo, atraso e tempo de viagem, caracterizando uma situação de


escolha bastante desbalanceada.

Cabe comentar que, para o atributo tempo de viagem, mais especificamente, os níveis
selecionados estão dentro do intervalo de duração das viagens com transporte público
registradas pela Pesquisa Origem e Destino 2007 da RMSP (COMPANHIA DO METRO-
POLITANO DE SÃO PAULO, 2008).

Para o atributo painel, a definição de dois níveis é óbvia, enquanto que para o atributo
ocupação, o fato de ser uma variável categórica motivou a escolha de três níveis (cujas
descrições utilizadas no experimento são também apresentadas na Tabela 2) e o uso de duas
variáveis dummy (para representar o atributo no componente determinístico da função
utilidade). A primeira das variáveis dummy (ocup0), cujo coeficiente é β_ocup0, assume o
valor 1 quando o nível de ocupação é mínimo, e 0 caso contrário. Já a outra variável (ocup1),
cujo coeficiente é β_ocup1, assume o valor 1 quando o nível de ocupação é intermediário, e 0
caso contrário. Deste modo, quando a ocupação do veículo é máxima, tanto ocup0 quanto
ocup1 assumem o valor 0. O nível máximo do atributo ocupação é dito nível base desta
codificação dummy. A Tabela 3 a seguir sumariza a relação entre os níveis do atributo
ocupação e as duas variáveis dummy:

Ocupação do veículo ocup0 ocup1


Mínima 1 0
Intermediária 0 1
Máxima 0 0
Tabela 3 – Relação entre atributo ocupação e variáveis dummy

No que se refere ao atributo custo, seu primeiro nível (R$3,00) corresponde ao valor
da tarifa municipal de ônibus no período da realização do experimento. Optou-se por limitar o
nível máximo deste atributo a 10% acima do nível mínimo, de modo a manter o realismo do
contexto do experimento. O nível máximo foi fixado, portanto, em R$3,30. Nenhum nível
intermediário (como R$3,15, por exemplo) foi adicionado pelo risco de que diferenças
menores entre as tarifas de duas alternativas (como 10 ou 15 centavos, por exemplo) não
fossem suficientes para diferenciá-las quanto ao custo, implicando em situações de escolha
com menores chances de coletar informações sobre o comportamento dos entrevistados.
60

O conteúdo desta seção corresponde às seguintes definições listadas na Seção 2.5.3:


(2) Atributos que caracterizarão cada alternativa; (7) Intervalo de variação de cada atributo
e (8) Níveis de cada atributo.

4.1.3 Restrições ao desenho

Os níveis dos atributos intervalo, atraso e tempo de viagem foram segmentados em


dois grupos: “valores menores” e “valores maiores” (conforme Tabela 4 abaixo), de modo que
duas alternativas concorrentes tivessem valores para o mesmo atributo que pertencessem ao
mesmo grupo (o grupo dos “valores menores” ou o grupo dos “valores maiores”). Por
exemplo: se a alternativa 1 tivesse intervalo de 5 minutos, atraso de 14 minutos e tempo de
viagem de 30 minutos, a alternativa 2 deveria ter intervalo de 5 ou 10 minutos (mas nunca de
15 ou 20 minutos), atraso de 14 ou 19 minutos (mas nunca de 4 ou 9 minutos) e tempo de
viagem de 20 ou 30 minutos (mas nunca de 40 ou 50 minutos).

Atributo Valores menores Valores maiores


Intervalo 5 10 15 20
Atraso 4 9 14 19
Tempo de viagem 20 30 40 50
Tabela 4 – Estratégia para combinar atributos intervalo, atraso e tempo de viagem

Esta estratégia foi adotada com a finalidade de evitar que a combinação dos atributos
intervalo, atraso e tempo de viagem tornasse uma alternativa muito mais atrativa do que a
outra, ocasionando os mesmos riscos (descritos na seção precedente) da utilização de menor
quantidade de níveis para estes três atributos.

O conteúdo desta seção corresponde à seguinte definição listada na Seção 2.5.3: (13)
Restrições ao desenho.
61

4.1.4 Especificação econométrica

O modelo MNL foi adotado, e o componente determinístico da utilidade ( ) para o


indivíduo n e a alternativa i, foi especificado apenas com os efeitos principais, conforme
mostra a equação abaixo:

= _ ∙ + _ tT+n ∙ tT+n +
_ Tn o ∙ Tn o + _T u+v ∙ T u+v +
_oUw 0 ∙ oUw 0 + _oUw 1 ∙ oUw 1 + (18)

_Uw To ∙ Uw To

O conteúdo desta seção corresponde às seguintes definições listadas na Seção 2.5.3:


(3) Tipo de modelo econométrico a ser estimado e (4) Especificação do componente
determinístico da função utilidade para todas as alternativas.

4.1.5 Aproximações para parâmetros

Foram adotadas distribuições uniformes para as aproximações dos coeficientes,


deduzidas a partir do intervalo de variação do coeficiente do tempo de viagem (β_tviagem) e
das taxas marginais de substituição entre variáveis, ambos obtidos a partir dos modelos de
escolha discreta estimados com os resultados do segundo experimento piloto (conforme a
Tabela 21 do Apêndice B).

A partir da distribuição de β_tviagem ~ U (-0,125 , -0,081), as distribuições para os


demais coeficientes foram derivadas. Por exemplo: o valor médio para a razão entre os
coeficientes do custo e do tempo de viagem é de 20,45 (conforme a Tabela 21 do Apêndice
B). Assim, a distribuição para β_tviagem é multiplicada por 20,45 para que se obtenha a
distribuição para β_custo: U (-2,556 , -1,656).

As aproximações das distribuições uniformes obtidas para os coeficientes que fazem


parte da eq. (18) estão sumarizadas na Tabela 5 a seguir:
62

Aproximação para
Coeficiente
distribuição uniforme
β_display (0,350 , 0,229)

β_interv (-0,177 , -0,115)

β _atraso (-0,160 , -0,104)

β_tviagem (-0,125 , -0,081)

β_ocup0 (1,783 , 2,720)

β_ocup1 (1,135 , 1,731)

β_custo (-2,544 , -1,668)

Tabela 5 – Aproximações para coeficientes

O conteúdo desta seção corresponde à seguinte definição listada na Seção 2.5.3: (11)
Aproximações para os parâmetros do componente determinístico da função utilidade.

4.1.6 Situações de escolha

Com base em outros estudos da literatura da área de Transportes (como o de


Navarrete, 2010) e na experiência do segundo experimento piloto (em que cada entrevistado
respondeu a 6 situações de escolha), optou-se pela criação de 24 diferentes situações de
escolha agrupadas em 3 blocos, de modo que cada entrevistado desse 8 respostas.

Acredita-se que esta quantidade não tenha causado fadiga, dado que a forma de
comunicação das situações de escolha aos entrevistados era de fácil compreensão e o número
de atributos para análise foi limitado a seis. Além disso, 80% dos entrevistados levaram no
máximo 12 minutos para o preenchimento do questionário.

Cabe comentar que o número de situações de escolha geradas respeitou as


recomendações quanto ao balanceamento dos níveis dos atributos (visto que há atributos com
2, 3 e 4 níveis, sendo seu mínimo múltiplo comum igual a 12) e quanto à quantidade de
coeficientes a serem estimados nos modelos de escolha discreta.
63

Conforme mencionado anteriormente, a medida de ineficiência escolhida para criar o


desenho foi o Db_error.

O conteúdo desta seção corresponde às seguintes definições listadas na Seção 2.5.3:


(6) Balancear níveis dos atributos no desenho: sim ou não; (9) Quantidade S de situações de
escolha a serem criadas; (12) Indicador de ineficiência a ser usado pelos algoritmos; (14)
Quantidade de blocos.

4.1.7 Desenho eficiente criado

O desenho criado conforme as definições precedentes é apresentado na Tabela 22 do


Apêndice C. A título de informação, o valor do Db_error do desenho foi igual a 0,1061, e
para o indicador B_estimate o valor foi de 81,71 (encontrando-se dentro do intervalo entre
70% e 90%, comum para desenhos eficientes). Já seu S_estimate foi de 10,71. Ou seja:
recomenda-se que o desenho (todas as 24 situações de escolha) seja respondido pelo menos
11 vezes, o que equivale a 33 entrevistados respondendo 1 bloco com 8 situações de escolha
cada um. Conforme será descrito no próximo capítulo, a quantidade de respondentes obtida no
experimento (1179) foi bastante superior ao limite mínimo indicado pelo S_estimate.

4.2 Informações adicionais coletadas

A seguir são apresentadas outras variáveis coletadas no experimento: variáveis


socioeconômicas dos entrevistados e quanto aos hábitos de uso do ônibus. As opções de
resposta (ou seja, os valores que estas variáveis podem assumir) também foram listadas:

• Local de residência:
− RMSP;
− Fora da RMSP (entrevistado é solicitado a indicar estado e município);

• Frequência de uso de ônibus urbano ou metropolitano:


− Nunca;
− 1 a 2 vezes por mês;
− 1 a 2 vezes por semana;
64

− 3 ou mais vezes por semana;

• Presença de painéis eletrônicos nos pontos que costuma usar:


− Sim;
− Não;

• Sexo:
− Feminino;
− Masculino;

• Faixa de idade:
− Até 17 anos;
− Entre 18 e 25 anos;
− Entre 26 e 30 anos;
− Entre 31 e 35 anos;
− Entre 36 e 40 anos;
− Entre 41 e 45 anos;
− Entre 46 e 50 anos;
− Entre 51 e 55 anos;
− Entre 56 e 60 anos;
− Entre 61 e 65 anos;
− Entre 66 e 70 anos;
− 71 anos ou mais;

• Ocupação:
− Estudo;
− Estudo e trabalho / estágio;
− Trabalho / estágio;
− Outra;
Observação: após a coleta dos dados, concluiu-se que a categoria “Trabalho /
estágio” é inadequada, visto que só pode fazer estágio quem é estudante.
Assim, os entrevistados que são estudantes fazendo estágio podem ter
selecionado tanto a ocupação “Estudo e trabalho / estágio” quanto a
ocupação “Trabalho / estágio”, de modo que não se sabe quantos
entrevistados, dentro da categoria “Trabalho / estágio”, são estudantes.

• Grau de escolaridade:
− Ensino Fundamental (mesmo que incompleto);
− Ensino Médio (mesmo que incompleto);
65

− Superior incompleto;
− Superior completo;
− Pós-graduação (mesmo que incompleto);

• Quantidade de automóveis, camionetes ou peruas no domicílio:


− Nenhum;
− 1;
− 2;
− 3;
− 4 ou mais;

• Quantidade de motocicletas no domicílio:


− Nenhum;
− 1;
− 2;
− 3;
− 4 ou mais;

• Renda bruta mensal aproximada do domicílio:


− Até R$ 1.400,00;
− Mais de R$ 1.400,00 e até R$ 2.800,00;
− Mais de R$ 2.800,00 e até R$ 4.900,00;
− Mais de R$ 4.900,00 e até R$ 7.000,00;
− Mais de R$ 7.000,00 e até R$ 10.500,00;
− Mais de R$ 10.500,00 e até R$ 14.000,00;
− Mais de R$ 14.000,00.

Cabe comentar que os limites inferior e superior de cada faixa de renda são múltiplos
de R$700,00, que é o valor aproximado do salário mínimo vigente no Estado de São Paulo na
época da elaboração do experimento.

4.3 Amostra e operacionalização

O público alvo desta pesquisa foi determinado por conveniência. Pela facilidade de
envio do questionário de pesquisa, foi adotada a comunidade da USP, dos campi localizados
no município de São Paulo, abrangendo alunos (predominantemente), professores e
funcionários.
66

A amostra, portanto, foi determinada pela quantidade de respostas obtidas a partir do


público alvo. Ressalta-se que nem o público alvo, nem a amostra, são representativos da
população de usuários de ônibus da RMSP. No entanto, a interpretação das respostas do
experimento à luz das características socioeconômicas dos entrevistados torna os resultados
obtidos a partir da amostra mais próximos do comportamento dos passageiros da RMSP.

O questionário da pesquisa foi construído com a ferramenta Qualtrics


(www.qualtrics.com) e hospedado numa página da internet. Uma cópia da tela inicial do
questionário é exibida no Apêndice D.

O envio do questionário à comunidade da USP ficou a cargo do Serviço de


Comunicação Social da Escola Politécnica, e ocorreu por meio de correio eletrônico, além de
ter sido divulgado no site da Escola Politécnica e em seu perfil numa rede social virtual.

Cabe salientar que, no questionário, as situações de escolha foram apresentadas aos


entrevistados individualmente, de modo que uma nova situação só aparecesse na tela quando
o participante tivesse feito a escolha para a situação anterior, não sendo permitido voltar à
situação anterior para alterá-la ou consultá-la.

As oito situações de escolha apresentadas a cada entrevistado, o foram em sequência


aleatória. A localização das alternativas 1 e 2 na tabela com suas características também
mudava: ora a alternativa 1 estava à direita (e a 2 à esquerda), ora o contrário. A ordem de
apresentação dos atributos nesta tabela também se alterava: ora o atributo painel era o
primeiro da lista, ora o terceiro.
67

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O experimento obteve 1179 respostas completas de indivíduos residentes na RMSP, a


partir das quais foram realizadas análises que se dividem em cinco categorias (conforme a
Figura 2 da Seção 3.2):

(1) caracterização da amostra;


(2) estimação do primeiro modelo para o comportamento da amostra (chamado de
modelo base);
(3) estudo da não linearidade das preferências;
(4) estudo dos efeitos das interações entre atributos sobre as preferências; e
(5) estudo da variabilidade sistemática das preferências entre os entrevistados;

As cinco categorias de análise são descritas a seguir e correspondem, na mesma


sequência apresentada no parágrafo precedente, às cinco seções deste capítulo.

5.1 Caracterização da amostra

A seguir são descritas as características da amostra sob a perspectiva socioeconômica


e relativa a hábitos de uso de ônibus e também sob a perspectiva do comportamento não
compensatório.

5.1.1 Caracterização socioeconômica e relativa ao uso de ônibus

Na amostra coletada predominam usuários frequentes de ônibus, conforme se verifica


na Figura 4: 80% usam semanalmente este modo de transporte, sendo que 65,4% do total de
entrevistados usam 3 ou mais vezes por semana. Apenas 5% da amostra não é usuária de
ônibus e os restantes 15% usam esporadicamente.

No entanto, mesmo com a alta proporção de usuários de ônibus na amostra, apenas


11,4% do total de entrevistados declararam que há painéis eletrônicos nos pontos de ônibus
68

que costumam utilizar (o que talvez seja um reflexo da quantidade de painéis na RMSP,
proporcionalmente à quantidade de pontos), conforme mostra o mesmo gráfico.

Figura 4 – Segmentação por frequência de uso de ônibus e uso de pontos com painel (% sobre o total da
amostra)

No que se refere a sexo e idade, 59,5% dos respondentes são do sexo masculino e
63,7% tem até 25 anos (conforme a Figura 5), o que é reflexo das características do público
para o qual o questionário foi enviado: a comunidade dos campi da USP situados na cidade de
São Paulo, com predominância de alunos de graduação (sabe-se que houve intensa divulgação
à comunidade da Escola Politécnica1). Destaca-se que o desequilíbrio entre o sexo masculino
e o feminino ocorre apenas para a primeira faixa de idade (até 25 anos): aproximadamente
35% dos entrevistados desta faixa são do sexo feminino e 65% do masculino. Para as duas
outras faixas de idade (entre 26 e 35 anos e a partir de 36 anos), a quantidade de homens e
mulheres na amostra é igual ou muito semelhante.

______________
1
O envio do questionário à comunidade da USP ficou a cargo do Serviço de Comunicação Social da Escola
Politécnica, e não se teve acesso à lista completa das unidades da universidade para cujos alunos, professores e
funcionários o questionário foi enviado.
69

Figura 5 – Segmentação por idade e sexo (% sobre o total da amostra)

Como se verifica na Tabela 6, e novamente em conformidade com as características do


público para o qual o questionário foi enviado, 81,1% dos entrevistados se declararam
estudantes (e pode-se inferir que cursam essencialmente a graduação ou a pós-graduação),
sendo que aproximadamente a metade (42,5% do total da amostra) não exerce atividade
remunerada simultaneamente, ao contrário dos restantes (38,6% do total da amostra), que
também trabalham ou fazem estágio. Quanto aos 14,4% que declarou o trabalho ou o estágio
como sua atividade, cabe lembrar que os entrevistados que são estudantes fazendo estágio
podem ter selecionado tanto a ocupação “Estudo e trabalho / estágio” quanto a ocupação
“Trabalho / estágio”, de modo que não se sabe quantos entrevistados, dentro da categoria
“Trabalho / estágio”, são estudantes (conforme mencionado na Seção 4.2).

O nível de escolaridade, conforme esperado, é alto: 54,7% já iniciaram o curso


superior (porém ainda não o completaram), 11,1% já terminaram o curso superior (porém não
iniciaram uma pós-graduação), 30% já iniciaram uma pós-graduação (quer a tenham
completado ou não) e os 4,2% restantes têm o Ensino Fundamental ou Médio iniciado (quer
os tenham concluído ou não).
70

Escolaridade / Fund. / Superior Superior Pós-


Total
Ocupação Médio * incompleto completo graduação *

Estudo 3,1% 31,6% 0,6% 7,2% 42,5%

Estudo e trabalho
0,3% 21,8% 3,7% 12,7% 38,6%
/ estágio
Trabalho /
0,4% 1,3% 5,4% 7,3% 14,4%
estágio

Outra 0,3% 0,1% 1,4% 2,8% 4,5%

Total 4,2% 54,7% 11,1% 30,0% 100%

Tabela 6 – Segmentação por ocupação e escolaridade (% sobre o total da amostra, * mesmo que
incompleto)

Quanto à posse de automóveis no domicílio (aqui se incluem também as camionetes e


peruas), conforme se verifica na Figura 6, a amostra se concentra em três categorias:
indivíduos que vivem em domicílios sem automóveis (24,3% dos entrevistados), com 1
automóvel (35,9%) e com 2 automóveis (26,2%). Os 13,7% restantes correspondem a
entrevistados em cujos domicílios há 3 ou mais automóveis.

Ao analisar a posse de motocicletas, verifica-se que pequena parcela da amostra possui


motocicleta no domicílio (apenas 6,2%), sendo que os entrevistados com 4 ou mais
automóveis no domicílio são aqueles que, proporcionalmente, possuem mais motos
(aproximadamente 17% deles possuem motos).
71

Figura 6 – Segmentação por quantidade de automóveis e motocicletas no domicílio (% sobre o total da


amostra)

A amostra é distribuída por todas as faixas de renda domiciliar, conforme pode ser
verificado na Figura 7, com predominância das três faixas centrais: de R$2.800,00 a
R$4.900,00 (20,4% dos entrevistados), de R$4.900,00 a R$7.000,00 (18,9%) e de R$7.000,00
a R$10.500,00 (18,6%).

Figura 7 – Segmentação por renda do domicílio em R$ (% sobre o total da amostra)


72

5.1.2 Caracterização quanto ao comportamento não compensatório

A análise das respostas dadas por cada entrevistado permitiu identificar aqueles que
apresentaram comportamento não compensatório. Foram encontrados quatro tipos de
comportamentos não compensatórios:

1. quando, para todas as situações de escolha, o entrevistado selecionou a alternativa que


estava na mesma posição (à direita ou à esquerda da tabela que mostrava os atributos
das alternativas);
2. quando, para todas as situações de escolha, o entrevistado selecionou a alternativa de
menor tarifa, caracterizando o comportamento lexicográfico quanto ao custo. Destaca-
se que, em nenhuma situação de escolha do experimento, as alternativas tinham tarifas
iguais;
3. quando, para todas as situações de escolha, o entrevistado selecionou a alternativa com
painel eletrônico, caracterizando o comportamento lexicográfico quanto ao painel.
Destaca-se que, em todas as situações de escolha do experimento, apenas uma das
alternativas tinha painel;
4. quando, para todas as situações de escolha, o entrevistado selecionou a alternativa com
maior nível de conforto, caracterizando o comportamento lexicográfico quanto ao
conforto. Destaca-se que, em apenas 1 das 24 situações de escolha do experimento, os
níveis de conforto das alternativas eram iguais.

Pela Tabela 7 verifica-se que quase 25% dos entrevistados apresentaram algum tipo de
comportamento não compensatório, sendo que os mais frequentes foram quanto ao custo
(5,8% da amostra) e principalmente quanto ao conforto (17,3% da amostra).
73

Comportamento Quant. %
Não compensatório 290 24,6%
1. Sempre escolhe alternativa da direita/esquerda 4 0,3%
2. Lexicográfico quanto ao custo 68 5,8%
3. Lexicográfico quanto ao painel 14 1,2%
4. Lexicográfico quanto ao conforto 204 17,3%
Compensatório 889 75,4%
Total 1179
Tabela 7 – Segmentação quanto ao comportamento compensatório

Ressalta-se que o comportamento supostamente não compensatório apresentado no


experimento não significa que o entrevistado:

(a) tenha de fato usado regras não compensatórias para suas escolhas. Ou seja: pode
ter usado regras compensatórias cujo resultado foi idêntico, para o conjunto de
situações de escolha que lhe foi apresentado, ao resultado das escolhas feitas por
um indivíduo que usasse regras realmente não compensatórias. Por este motivo,
os 290 indivíduos que apresentaram comportamento não compensatório serão
mantidos na amostra e incluídos nas análises das seções seguintes; ou,

(b) sempre use regras não compensatórias para suas decisões. Ou seja: pode tê-las
usado para as situações de escolha que lhe foram apresentadas, mas não
necessariamente o faria para outras combinações de níveis dos atributos, ou
mesmo para níveis dos atributos fora dos intervalos de variação adotados no
experimento.

O efeito do comportamento não compensatório sobre os modelos de escolha discreta


estimados é bastante coerente. Em comparação a um modelo ML panel estimado apenas com
os efeitos principais e para a amostra completa (denominado modelo base e explorado na
próxima seção), quando dela são retirados os 204 lexicográficos quanto ao conforto e o
modelo é reestimado, os coeficientes do atributo conforto diminuem em valor absoluto,
enquanto os coeficientes dos demais atributos sofrem aumento em seus valores absolutos. Já
quando são retirados da amostra os 68 lexicográficos quanto ao custo (ao invés dos
lexicográficos quanto ao conforto), é o coeficiente do custo que cai em valor absoluto, ao
74

mesmo tempo em que aumentam, também em valor absoluto, os demais. Ao se retirar da


amostra os 14 lexicográficos quanto ao painel (ao invés dos outros grupos de lexicográficos),
as alterações no modelo também são coerentes embora muito discretas, dado que este grupo é
bastante pequeno. Para o último grupo com comportamento não compensatório (os que
sempre escolheram a alternativa na mesma posição), não foi estimado nenhum modelo, tal
como feito para os demais grupos, por se tratar de apenas 4 entrevistados. A apresentação e a
discussão destes modelos está no Apêndice E. No entanto, recomenda-se sua leitura após a
Seção 5.2 a seguir.

5.2 Modelo base para o comportamento da demanda

Nesta seção é apresentado o modelo base, o mais simples dentre os estimados neste
estudo, por ser especificado apenas com os efeitos principais dos seis atributos e sem levar em
consideração que há variabilidade de preferências entre os entrevistados. Trata-se de um
modelo ML panel estimado a partir das 8 respostas de cada um dos 1179 entrevistados,
totalizando 9432 observações. Os resultados são mostrados na Tabela 8, à qual foram
adicionadas duas colunas à direita: a primeira indicando a disposição a pagar (em R$) pelo
acréscimo ou decréscimo (sempre aquele que aumentar a utilidade) de uma unidade de cada
atributo, e a segunda indicando a taxa marginal de substituição de uma unidade de cada
atributo por minutos de viagem.

Antes de iniciar a interpretação do modelo, cabe fazer uma observação, válida para
todos os modelos apresentados neste capítulo e também nos apêndices. Quando a utilidade
marginal de um atributo tem sinal positivo, quanto maior seu valor absoluto, maior é sua
contribuição para a satisfação do indivíduo e para o aumento da utilidade. Já quando a
utilidade marginal tem sinal negativo, quanto maior seu valor absoluto, maior é sua
contribuição para a insatisfação do indivíduo e para o aumento da desutilidade.
75

Erro Disposição Taxa


Parâmetro Valor Teste t
padrão a pagar substit.
β_display 0,328 0,026 12,870 -0,119 -5,0
β_interv -0,165 0,008 -21,950 0,060 2,5
β_atraso -0,068 0,007 -9,250 0,025 1,0
β_tviagem -0,066 0,004 -15,570 0,024 --
β_ocup0 2,750 0,072 38,240 -1,000 -41,7
β_ocup1 1,720 0,050 34,340 -0,625 -26,1
β_custo -2,750 0,106 -25,830 -- 41,7
σ_ panel -0,302 0,057 -5,320 -- --
Número de observações: 9432
Número de indivíduos: 1179
L (0) = -6537,76
L (β) = -5219,88
- 2 · [L (0) - L (β)] = 2635,77
ρ2 = 0,202
ρ2 ajustado = 0,200
Tabela 8 – Modelo base

Verifica-se que todos os parâmetros têm os sinais esperados (os coeficientes para custo
e tempo têm sinal negativo, enquanto aqueles que indicam mais conforto e presença de painel
no ponto têm sinal positivo) e são diferentes de zero ao nível de significância de 5%, o que,
no caso do parâmetro σ_panel, indica que o modelo está capturando as correlações não
observadas entre as respostas dadas por um mesmo entrevistado.

Quanto ao teste da razão da máxima verossimilhança e ao rho quadrado ajustado, o


resultado do primeiro rejeita a hipótese de que os parâmetros sejam iguais a zero, e o segundo
(que tem valor igual a 0,200) representa o poder explicativo do modelo e será um importante
elemento para comparação com os modelos apresentados nas seções seguintes.

A análise dos coeficientes do custo e do tempo de viagem sugere que o valor do tempo
é baixo para a amostra entrevistada, visto que o indivíduo estaria disposto a pagar apenas 2,4
centavos para reduzir 1 minuto de viagem (ou R$1,44 / hora). Esta taxa é inferior à obtida no
segundo experimento piloto, que foi de 4,9 centavos por minuto de viagem (ou R$2,94 /
hora), conforme se verifica na Tabela 21 do Apêndice B.
76

A comparação entre os coeficientes do intervalo programado entre veículos e do atraso


mostra que 1 minuto de intervalo exerce 2,43 vezes mais influência na decisão do que 1
minuto de atraso. Esta diferença entre os valores dos coeficientes também se reflete na taxa
marginal de substituição de 1 minuto de intervalo e de 1 minuto de atraso por minutos de
viagem: 2,5 e 1,0 minutos de viagem, respectivamente, sendo que a primeira das taxas está de
acordo com as relações costumeiramente encontradas entre tempo de espera e de viagem nos
estudos da área de Transportes, a exemplo do que concluiu Wardman (2004). Pelo fato de o
atraso ser uma espera com duração desconhecida e não justificada, conforme a proposição de
Maister (1985) reproduzida na Seção 2.2.2, se esperava que seu coeficiente fosse superior (ou,
no mínimo, semelhante) ao coeficiente do intervalo programado entre veículos. Possíveis
razões para a menor importância do atraso (e o baixo valor relativo de seu coeficiente) nos
resultados do experimento são:

(a) situações de escolha com atrasos grandes (de 14 ou 19 minutos, por exemplo) e
intervalos pequenos (como 5 minutos), que podem ter sido interpretadas como
pouco realistas pelos entrevistados;
(b) presença de entrevistados, na amostra, que não usam ônibus ou que usam
esporadicamente. Eles podem não saber avaliar o atraso e suas implicações,
conforme será mostrado na Seção 5.5 e no Apêndice H;
(c) forma adotada para comunicar o atraso no experimento, que pode não ter
enfatizado adequadamente o atributo. O atraso foi comunicado indiretamente
através do tempo máximo de espera (que é soma do intervalo com o atraso), e
como uma possibilidade que poderia ou não ocorrer e teria duração variável (sem
a indicação, contudo, de probabilidades de ocorrência);
(d) ausência, no experimento, do motivo específico da viagem (ex.: trabalho,
educação etc.) e de um limite de tempo para chegar ao destino, correspondente ao
horário de um compromisso e representando pressão de tempo.

No que se refere ao painel, sua presença no ponto de ônibus gera a mesma utilidade
que a redução de 5 minutos de viagem (ou 2 minutos de intervalo, ou 4,8 minutos de atraso), e
o entrevistado estaria disposto a pagar cerca de 12 centavos a mais na tarifa se o ponto
estivesse equipado com painel.
77

Quanto à ocupação do veículo, verifica-se que a utilidade marginal de passar do nível


máximo para o intermediário (igual a 1,720) é superior à utilidade marginal de passar do nível
intermediário para o mínimo (igual a 1,030). Em outras palavras, descobrir que o ônibus não
está lotado (embora se tenha que viajar em pé), gera mais satisfação do que, já sabendo que o
ônibus não está lotado, descobrir que será possível viajar sentado. Isto também se reflete na
disposição a pagar para viajar com mais conforto, que é de R$0,63 quando se passa do nível
máximo da ocupação para o intermediário, e de R$0,37 quando se passa do intermediário para
o mínimo. Semelhante situação ocorre com as taxas marginais de substituição entre a
ocupação do veículo e o tempo de viagem, muito superiores às encontradas nos resultados do
segundo experimento piloto, conforme a Tabela 21 do Apêndice B, e aos resultados de Kim;
Lee e Oh (2009).

A comparação do coeficiente da presença do painel com os dois coeficientes de


ocupação do veículo mostra que a utilidade marginal gerada pelo nível mínimo da ocupação é
8,4 vezes maior do que a utilidade marginal gerada quando há painel no ponto. Já a razão
entre as utilidades marginais do nível intermediário da ocupação e da presença do painel é 5,2.
Uma possível explicação para a maior importância da ocupação do veículo na decisão dos
entrevistados é que, quando se trata do tempo de espera, o painel é o mecanismo que revelará
a previsão do tempo de espera pelo ônibus (sendo que a previsão em si não é fornecida ao
entrevistado no experimento), enquanto que, em se tratando do conforto durante a viagem, a
própria previsão do nível de ocupação a ser encontrado é comunicada ao entrevistado.

5.3 Não linearidade das preferências

O objetivo da especificação desenvolvida nesta seção é explorar a possível existência


de não linearidade para os coeficientes do intervalo programado entre veículos, do atraso e do
tempo de viagem. Assume-se que os primeiros minutos de espera, quer seja devida ao
intervalo programado quer ao atraso, ou de viagem influenciam a decisão do usuário com
intensidade diferente dos últimos minutos de espera ou viagem. Para tanto, foi estimado um
modelo ML panel piecewise, cuja especificação é brevemente descrita a seguir.
78

O que diferencia o modelo ML panel piecewise e o modelo base apresentado


anteriormente, é que os atributos intervalo programado, atraso e tempo de viagem foram
separados em duas partes, conforme as equações abaixo:

tT+n = tT+n _ + tT+n _x, dado que:


tT+n _ = min ( tT+n , 10)
tT+n _x = max(0, tT+n − 10)

Tn o = Tn o_ + Tn o _x, dado que:


Tn o_ = min( Tn o, 9)
Tn o_x = max(0, Tn o − 9)

T u+v = T u+v_ + T u+v_x , dado que:


T u+v_ = min (T u+v, 30)
T u+v_x = max (0, T u+v − 30)

De modo que a especificação do componente determinístico da utilidade para o


indivíduo n e a alternativa i se torna:

= _ ∙ +
_ tT+n _ ∙ tT+n _ + _ tT+n _x ∙ tT+n _x +
_ Tn o_ ∙ Tn o_ + _ Tn o_x ∙ Tn o_x +
_T u+v_ ∙ T u+v_ + _T u+v_x ∙ T u+v_x + (18)

_oUw 0 ∙ oUw 0 + _oUw 1 ∙ oUw 1 +


_Uw To ∙ Uw To

sendo que, para apenas uma das duas alternativas é acrescentado à o termo σ_panel, que
captura as correlações não observadas entre as repostas do mesmo entrevistado.

Devido à separação dos atributos em duas partes, quando, por exemplo, o atraso
associado à determinada alternativa for de 14 minutos, a variável atraso_a será igual a 9, e a
variável atraso_b igual a 5 (sendo 14 a soma de ambas). Cada uma das novas variáveis é
multiplicada por um coeficiente diferente, o que significa que cada um dos primeiros 9
minutos de atraso terá uma contribuição diferente para a utilidade do que cada um dos 5
últimos minutos de atraso.
79

Os resultados do modelo ML panel piecewise são apresentados na Tabela 9, à qual foi


acrescentada uma coluna à direita com os valores dos parâmetros no modelo base. Observa-se
que todos os parâmetros do modelo em discussão têm os sinais esperados e são diferentes de
zero ao nível de significância de 5%.

Verifica-se que o coeficiente do intervalo programado entre veículos é maior para os


primeiros 10 minutos de espera (β_interv_a = -0,189), decrescendo 18,5% em valor absoluto a
partir do décimo primeiro minuto (β_interv_b = -0,154). Ou seja: quanto mais próximo o
momento da chegada do ônibus ao ponto, menor a desutilidade marginal da espera associada
ao intervalo programado.

Já o coeficiente do atraso apresenta comportamento oposto ao do intervalo


programado entre veículos: a utilidade marginal dos 9 primeiros minutos de atraso
(β_atraso_a = -0,047) aumenta quase 2,5 vezes para os minutos seguintes (β_atraso_b =
-0,117). Uma possível explicação para a diferença entre os coeficientes do intervalo e do
atraso é que, ao contrário das esperas finitas advindas do intervalo, as esperas advindas do
atraso não são programadas (de modo que não se sabe quando o ônibus chegará ao ponto),
tornando a desutilidade marginal do atraso maior na medida em que ele cresce.

O coeficiente do tempo de viagem tem comportamento semelhante ao do intervalo


programado entre veículos, visto que é maior para os primeiros 30 minutos dentro do veículo
(β_tviagem_a = -0,097), e sofre queda de 62,9% em valor absoluto para os seguintes
(β_tviagem_b = -0,036). Aplicando raciocínio semelhante ao usado para interpretar o
coeficiente do intervalo, pode-se deduzir que, quanto mais próximo o momento do
desembarque, menor a desutilidade marginal do tempo de viagem.
80

Parâmetro Valor Erro padrão Teste t Modelo Base

β_display 0,302 0,028 10,770 0,328


β_interv_a -0,189 0,011 -17,180
-0,165
β_interv_b -0,154 0,011 -14,190
β_atraso_a -0,047 0,011 -4,450
-0,068
β_atraso_b -0,117 0,013 -8,980
β_tviagem_a -0,097 0,006 -15,790
-0,066
β_tviagem_b -0,036 0,006 -6,200
β_ocup0 2,890 0,079 36,800 2,750
β_ocup1 1,760 0,052 33,860 1,720
β_custo -3,130 0,126 -24,900 -2,750
σ_ panel -0,308 0,056 -5,470 -0,302
Número de observações: 9432 9432
Número de indivíduos: 1179 1179
log L (0) = -6537,76 -6537,76
log L (β) = -5191,33 -5219,88
- 2 · [ log L (0) - log L (β) ] = 2692,86 2635,77
2
ρ = 0,206 0,202
2
ρ ajustado = 0,204 0,200
Tabela 9 – Modelo ML panel piecewise

As taxas marginais de substituição entre os dois coeficientes do intervalo (β_interv_a e


β_interv_b) e os dois coeficientes do tempo de viagem (β_tviagem_a e β_tviagem_b) são
apresentados na Tabela 10 (abaixo), bem como as taxas marginais de substituição entre os
dois coeficientes do atraso (β_atraso_a e β_atraso_b) e os dois coeficientes do tempo de
viagem.

β_interv_a β_interv_b β_atraso_a β_atraso_b


(até o 10º (a partir do 11º (até o 9º (a partir do 10º
minuto) minuto) minuto) minuto)
β_tviagem_a
(até o 30º 1,95 1,59 0,48 1,21
minuto)
β_tviagem_b
(a partir do 31º 5,25 4,28 1,31 3,25
minuto)
Tabela 10 – Taxas marginais de substituição (em minutos de viagem)
81

Verifica-se, pela análise da Tabela 10, que tanto a taxa marginal de substituição entre
o intervalo e o tempo de viagem, quanto entre o atraso e o tempo de viagem apresentam
variação. Destaca-se a primeira, que varia entre 1,59 e 5,25. Entende-se, portanto, que a
redução de 1 minuto no final da espera (quando esta é decorrente de intervalo superior a 10
minutos) pode ser trocada por 1,59 minutos adicionais no início da viagem. Similarmente, a
redução de 1 minuto no início da espera (quando esta é decorrente de intervalo) pode ser
trocada por 5,25 minutos adicionais no final da viagem (para viagens com duração superior a
30 minutos).

A Tabela 11 (abaixo) traz as taxas marginais de substituição entre a presença do painel


e o intervalo programado entre veículos, o atraso e o tempo de viagem.

β_display

β_interv_a
-1,60
(até o 10º minuto)
β_interv_b
-1,96
(a partir do 11º minuto)
β_atraso_a
-6,43
(até o 9º minuto)
β_atraso_b
-2,58
(a partir do 10º minuto)
β_tviagem_a
-3,11
(até o 30º minuto)
β_tviagem_b
-8,39
(a partir do 31º minuto)
Tabela 11 – Taxas marginais de substituição (em minutos de intervalo, atraso ou viagem)

Assim como se verificou na Tabela 10, as taxas marginais de substituição da Tabela


11 também apresentam variação, destacando-se: a taxa de -6,43 entre a presença do painel e o
atraso, o que significa que a presença do painel pode ser trocada por 6,43 minutos adicionais
no início do atraso, e a taxa de -8,39 entre a presença do painel e o tempo de viagem, o que
significa que a presença do painel pode ser trocada por 8,39 minutos adicionais no final da
viagem (para viagens com duração acima de 30 minutos).
82

Pode-se dizer que a inclusão da não linearidade das preferências na especificação leva
a um modelo que melhor explica o comportamento da amostra, visto que o rho quadrado
ajustado do modelo em discussão é de 0,204, enquanto o do modelo base é de 0,200.

5.4 Influência das interações entre atributos

As especificações apresentadas nesta seção visam explorar a influência das interações


entre atributos no comportamento da amostra.

Cabe lembrar, como exposto na Seção 3.2, que os modelos aqui apresentados são o
resultado de um processo iterativo de especificação, estimação e análise de aproximadamente
mil outros modelos. Desta forma, quando determinada interação não faz parte de um modelo
apresentado, entende-se que, durante o processo iterativo, ela não se mostrou estatisticamente
significativa ou, mesmo tendo se mostrado significativa, apresentava sinal contrário ao
esperado, ou ainda fazia parte de um modelo com poder explicativo inferior ou incoerente
com o comportamento de escolha de linha. Esta observação também é válida para o modelo
discutido na próxima seção.

Três modelos ML panel contendo interações entre atributos são apresentados na


Tabela 12, à qual foi acrescentada, à direita, uma coluna com os valores dos parâmetros no
modelo base. Todos os coeficientes dos três novos modelos têm os sinais esperados e são
diferentes de zero ao nível de significância de 5%. Os valores do erro padrão e do teste t para
os parâmetros dos três modelos podem ser encontrados no Apêndice F.
83

Modelo Modelo Modelo


Parâmetro Modelo Base
Int.1 Int.2 Int.3
β_display -- -- 0,304 0,328
β_interv -0,158 -0,166 -0,171 -0,165
β_interv_display -- 0,022 -- --
β_atraso -0,071 -0,069 -- -0,068
β_atraso_interv{5,10} -- -- -0,044 --
β_atraso_interv{15,20} -- -- -0,097 --
β_atraso_display 0,017 -- -- --
β_tviagem -0,081 -0,063 -0,070 -0,066
β_tviagem_ocup0 0,025 0,010 0,011 --
β_tviagem_ocup1 0,014 -- -- --
β_ocup0 1,890 2,390 2,380 2,750
β_ocup1 1,230 1,700 1,700 1,720
β_custo -2,730 -2,760 -2,880 -2,750
σ_ panel -0,292 -0,305 -0,303 -0,302
Número de observações: 9432 9432 9432 9432
Número de indivíduos: 1179 1179 1179 1179
log L (0) = -6537,76 -6537,76 -6537,76 -6537,76
log L (β) = -5230,17 -5212,36 -5205,60 -5219,88
- 2 · [ log L (0) - log L (β) ] = 2615,18 2650,82 2664,32 2635,77
2
ρ = 0,200 0,203 0,204 0,202
2
ρ ajustado = 0,198 0,201 0,202 0,200
Tabela 12 – Modelos ML panel com interações entre atributos

A interação entre o tempo de viagem e a ocupação do veículo é comum aos três


modelos, e age de maneira a diminuir a desutilidade marginal do tempo de viagem, revelando
a importância do conforto para a redução da insatisfação gerada durante o deslocamento. O
efeito desta interação sobre os três modelos pode ser assim sumarizado:

• o modelo Int.1 é o único que interage tanto com o nível mínimo quanto com o nível
intermediário da ocupação. É, também, o que apresenta maior intervalo de variação
para a utilidade marginal do tempo de viagem: o coeficiente deste atributo é igual a
-0,081 (β_tviagem) quando o veículo está lotado, -0,067 (β_tviagem +
β_tviagem_ocup1) quando a ocupação é intermediária, e -0,056 (β_tviagem +
β_tviagem_ocup0) quando o veículo está quase vazio;
84

• no modelo Int.2, o coeficiente do tempo de viagem é igual a -0,063 (β_tviagem)


quando o veículo está lotado ou com ocupação intermediária, e igual a -0,053
(β_tviagem + β_tviagem_ocup0) quando o veículo tem ocupação mínima;
• no modelo Int.3, a utilidade marginal do tempo de viagem é de -0,070 (β_tviagem)
quando o ônibus está lotado ou com ocupação intermediária, e de -0,059
(β_tviagem + β_tviagem_ocup0) quando o veículo está quase vazio.

A seguir, aspectos específicos de cada modelo serão apresentados.

(a) Modelo ML panel com interações 1

O modelo Int.1 também apresenta interação entre o atraso e a presença de painel no


ponto, substituindo o efeito principal deste último atributo. Verifica-se que a utilidade
marginal do atraso cai 23,9% em valor absoluto quando há painel no ponto: passa de -0,071
(β_atraso) na situação sem painel, para -0,054 (β_atraso + β_atraso_display) na situação com
painel, o que confirma a eficácia do painel em tornar menos custosa a espera pelo ônibus
devida ao atraso.

Quando o coeficiente do atraso atinge seu valor absoluto máximo (ou seja, -0,071,
quando não há painel no ponto) e o coeficiente do tempo de viagem, o seu valor absoluto
mínimo (ou seja, -0,056, quando o veículo tem ocupação mínima e se pode viajar sentado),
tem-se a maior taxa marginal de substituição entre atraso e tempo de viagem obtida a partir do
modelo em discussão: 1,27 minutos de viagem por minuto de atraso. Já quando o coeficiente
do atraso alcança seu valor absoluto mínimo (ou seja, -0,054, quando há painel no ponto) e o
coeficiente do tempo de viagem, o seu valor absoluto máximo (ou seja, -0,081, quando é
necessário viajar em pé e o ônibus está lotado), tem-se a menor taxa marginal de substituição
entre os dois atributos: 0,67 minutos de viagem por minuto de atraso.

Destaca-se que as interações incluídas e a ausência do efeito principal da presença de


painel não tornam este modelo superior ao modelo base em sua capacidade de explicar o
comportamento de escolha dos entrevistados, visto que o rho quadrado ajustado cai de 0,200
no modelo base para 0,198 no modelo em discussão.
85

(b) Modelo ML panel com interações 2

Este modelo, ao invés da interação entre a presença de painel e o atraso (como ocorre
em Int.1), apresenta a interação entre o primeiro atributo e o intervalo programado entre
veículos. Neste modelo, o efeito principal da presença do painel também é substituído pela
interação.

Observa-se que a presença do painel também diminui o custo da espera associada ao


intervalo programado entre veículos: a utilidade marginal do intervalo cai 13,3% em valor
absoluto quando há painel no ponto, passando de -0,166 (β_interv) na situação sem painel,
para -0,144 (β_interv + β_interv_display) na situação com painel.

As taxas marginais de substituição entre intervalo e tempo de viagem também variam


para o modelo em discussão, tal como ocorre entre atraso e tempo de viagem no modelo Int.1.
A maior taxa, de 3,13 minutos de viagem por minuto de intervalo, ocorre quando não há
painel no ponto durante a espera e o ônibus está quase vazio, sendo possível viajar sentado. Já
a menor taxa, de 2,29 minutos de viagem por minuto de intervalo, está associada à presença
de painel no ponto e aos níveis intermediário e máximo da ocupação do ônibus.

Verifica-se que a especificação deste modelo, com a inclusão das interações e a


ausência do efeito principal da presença de painel, torna seu poder explicativo, que é de 0,201,
discretamente superior ao do modelo base, que é igual a 0,200.

(c) Modelo ML panel com interações 3

No último dos três modelos (Int.3), além da interação entre o tempo de viagem e a
ocupação do veículo, o atraso interage com duas variáveis dummy: a primeira indica se o
intervalo programado entre veículos é igual a 5 ou 10 minutos, e a segunda indica se o
intervalo é igual a 15 ou 20 minutos.

Os resultados mostram que a utilidade marginal do atraso, quando é precedido de um


intervalo programado menor (ou seja, de 5 ou 10 minutos) é igual a -0,044, e aumenta 2,2
vezes em valor absoluto, tornando-se igual a -0,097 quando o atraso é precedido de um
intervalo maior (ou seja, de 15 ou 20 minutos). Pode-se concluir, então, que o atraso gera
86

mais insatisfação quando ocorre após um período maior de espera decorrente do intervalo
programado.

A taxa marginal de substituição entre atraso e tempo de viagem também varia para
este modelo: de 0,63 minutos de viagem por minuto de atraso, quando o atraso é precedido de
intervalo programado menor e o ônibus tem ocupação intermediária ou máxima, a 1,64
minutos de viagem por minuto de atraso, quando o intervalo que precede o atraso é maior e o
ônibus está quase vazio.

Assim como no modelo Int.2, o rho quadrado ajustado do modelo em discussão


também é discretamente superior ao do modelo base, além de ser o maior dentre os três
modelos apresentados na Seção 5.4.

5.5 Variabilidade sistemática das preferências

No modelo apresentado nesta seção, a variabilidade sistemática das preferências entre


os entrevistados é explorada. Para tanto, variáveis socioeconômicas e de uso de ônibus foram
incluídas na especificação do componente determinístico da utilidade, através da sua interação
com os atributos das alternativas.

Cabe comentar que a variabilidade puramente aleatória das preferências também foi
explorada, através da estimação de modelos ML panel random coefficients, sob duas
especificações diferentes: a primeira assumindo que os coeficientes dos atributos têm
distribuição normal de probabilidades e a segunda admitindo que os coeficientes variam de
acordo com uma distribuição uniforme. No primeiro caso, apenas os coeficientes do tempo de
viagem e do nível mínimo da ocupação do veículo apresentaram variação aleatória. Já para o
segundo modelo, foram os coeficientes do tempo de viagem e do intervalo programado entre
veículos que exibiram variação aleatória. Os resultados de ambos os modelos são
apresentados e brevemente discutidos no Apêndice G, visto que suas contribuições para a
compreensão do comportamento de escolha de linha são menores.
87

Os resultados do modelo em discussão nesta seção (que é ML panel) são exibidos na


Tabela 13, à qual foi acrescentada uma coluna à direita com os valores dos parâmetros no
modelo base.

Verifica-se expressivo aumento do rho quadrado ajustado no modelo em discussão:


passa de 0,200 (valor no modelo base) para 0,217, indicando que o acréscimo das interações
na especificação torna o modelo superior quanto à capacidade de explicar o comportamento
de escolha dos entrevistados.

Antes de prosseguir com a análise mais detalhada do modelo, cabe apresentar as


variáveis dummy utilizadas na especificação:

• autos4 - assume valor 1 quando, no domicílio do entrevistado, há quatro ou mais


automóveis, e 0 em caso contrário;
• estudante - assume valor 1 quando o entrevistado é estudante e não trabalha ou faz
estágio, e 0 em caso contrário;
• freqmensal - assume valor 1 quando o entrevistado usa ônibus de 1 a 2 vezes por
mês, e 0 em caso contrário;
• freqsemanal - assume valor 1 quando o entrevistado usa ônibus semanalmente, e 0
em caso contrário;
• freqsemanal3 - assume valor 1 quando o entrevistado usa ônibus 3 ou mais vezes
por semana, e 0 em caso contrário;
• idade36 - assume valor 1 quando o entrevistado tem 36 anos ou mais, e 0 em caso
contrário;
• posgrad - assume valor 1 quando o entrevistado já iniciou a pós-graduação (quer a
tenha concluído ou não), e 0 em caso contrário;
• renda - assume valor 0 quando o entrevistado tem renda domiciliar até R$1.400 ou
entre R$4.900 e R$7.000, e 1 quando o entrevistado tem qualquer outra renda
domiciliar;
• renda14mil - assume valor 1 quando a renda domiciliar do entrevistado é acima de
R$14.000, e 0 em caso contrário;
• superiorcomp - assume valor 1 quando o entrevistado já concluiu o Ensino
Superior, porém não ingressou na pós-graduação, e 0 em caso contrário.
88

Dentre as variáveis socioeconômicas e de uso de ônibus, apenas três não fazem parte
deste modelo e, portanto, parecem não afetar (ao menos diretamente) o comportamento de
escolha de linha. São elas: uso de pontos de ônibus equipados com painel eletrônico, sexo e
quantidade de motocicletas no domicílio.

Observa-se que, dependendo das características socioeconômicas e de uso de ônibus


dos entrevistados, as utilidades marginais dos atributos e, por consequência, as taxas
marginais de substituição entre atributos se alteram fortemente. Dois exemplos importantes
são o valor do tempo e a disposição a pagar pelo painel. Um indivíduo que (simultaneamente)
tenha 4 ou mais automóveis no domicílio, tenha iniciado a pós-graduação (quer a tenha
concluído ou não), tenha 36 anos ou mais, tenha renda domiciliar acima de R$14.000 e não
use ônibus com frequência igual ou superior a 3 vezes por semana, terá valor do tempo de
28,3 centavos de real por minuto de viagem (aproximadamente R$17,00/hora), bastante acima
do valor do tempo no modelo base, que é de 2,4 centavos por minuto de viagem (R$1,44/
hora). Outro indivíduo que tenha as mesmas características, com exceção do fato de que pode
ter qualquer quantidade de automóveis (ou mesmo não ter automóveis), estará disposto a
pagar 76,6 centavos pela disponibilidade de painel no ponto, sendo esta taxa no modelo base
bastante inferior (aproximadamente 12 centavos).

Salienta-se que o efeito das variáveis socioeconômicas e de uso de ônibus sobre os


atributos pode se dar tanto diretamente (como é o caso, por exemplo, do efeito da renda sobre
o custo), quanto indiretamente. Neste segundo caso, acredita-se que a variável represente
determinado grupo de entrevistados e sintetize seu conjunto de características, sendo possível
admitir que é este conjunto que determina a influência do atributo sobre o comportamento.
89

Parâmetro Valor Erro padrão Teste t Modelo Base

β_display 0,341 0,026 13,190 0,328


β_interv -0,161 0,008 -19,940 -0,165
β_interv_autos4 -0,094 0,039 -2,450 --
β_interv_superiorcomp -0,048 0,021 -2,300 --
β_atraso -- -- -- -0,068
β_atraso_freqmensal -0,066 0,017 -3,850 --
β_atraso_freqsemanal -0,080 0,008 -9,860 --
β_tviagem -0,066 0,004 -15,100 -0,066
β_tviagem_autos4 -0,060 0,021 -2,900 --
β_ocup0 2,410 0,098 24,540 2,750
β_ocup0_autos4 1,140 0,327 3,500 --
β_ocup0_renda 0,658 0,088 7,470 --
β_ocup0_estudante -0,260 0,065 -4,030 --
β_ocup1 1,350 0,076 17,780 1,720
β_ocup1_autos4 0,765 0,258 2,970 --
β_ocup1_renda 0,463 0,081 5,730 --
β_ocup1_superiorcomp 0,372 0,093 4,000 --
β_custo -2,690 0,187 -14,370 -2,750
β_custo_freqsemanal3 -0,799 0,183 -4,360 --
β_custo_renda14mil 0,518 0,249 2,080 --
β_custo_posgrad 0,617 0,194 3,180 --
β_custo_idade36 1,110 0,271 4,090 --
σ_ panel -0,287 0,061 -4,710 -0,302
Número de observações: 9432 9432
Número de indivíduos: 1179 1179
log L (0) = -6537,76 -6537,76
log L (β) = -5096,82 -5219,88
- 2 · [ log L (0) - log L (β) ] = 2881,90 2635,77
2
ρ = 0,220 0,202
2
ρ ajustado = 0,217 0,200
Tabela 13 – Modelo ML panel com variáveis socioeconômicas e de uso do ônibus

A seguir as interações para cada um dos atributos serão analisadas, com exceção do
atributo presença de painel no ponto, para o qual nenhuma interação com variáveis
socioeconômicas ou de uso de ônibus foi significativa.
90

(a) Atributo intervalo programado entre veículos

O efeito do intervalo programado entre veículos no comportamento de escolha de


linha é reforçado pelas interações com as variáveis dummy autos4 e superiorcomp. Devido a
estas interações, o coeficiente do intervalo passa a variar entre -0,161 e -0,303, ou seja: 2%
abaixo e 84% acima (ambos em valor absoluto) do seu valor no modelo base.

Quanto à interação com autos4, infere-se que indivíduos com maior disponibilidade de
automóveis se incomodem mais com as esperas do transporte público.

Já a influência da variável superiorcomp sobre o intervalo é, provavelmente, indireta.


Esta variável representa um grupo com baixa presença de entrevistados que usam ônibus
semanalmente e maior parcela de indivíduos que exercem atividade profissional (trabalho ou
estágio), comparativamente às demais categorias da variável socioeconômica escolaridade
(conforme se verifica no Apêndice I); estas características, conjuntamente, podem influenciar
o efeito do intervalo programado sobre o comportamento.

(b) Atributo atraso

No modelo em análise, o atraso interage com as variáveis dummy freqmensal e


freqsemanal, fazendo com que seu coeficiente passe a variar entre -0,066 e -0,080, ou seja:
3% abaixo e 18% acima (ambos em valor absoluto) do seu valor no modelo base.

Verifica-se que usuários com frequência semanal são um pouco mais intolerantes ao
atraso do que usuários com frequência mensal. Uma possível explicação é que os usuários
semanais sofrem as consequências negativas do atraso mais vezes do que os usuários
esporádicos.

No entanto, o coeficiente β_atraso (que, no modelo em discussão, representa a


influência do atraso na decisão dos não usuários de ônibus), é igual a zero2, o que significa
que os entrevistados que não usam ônibus não levam em consideração a possibilidade de atra-

_______________
2
Um modelo com especificação similar à exibida na Tabela 13, porém incluindo β_atraso, foi estimado e os
resultados mostraram que β_atraso era estatisticamente igual a zero. Por este motivo, este coeficiente foi
retirado da especificação final, cujos resultados são os apresentados na Tabela 13.
91

so em sua decisão. Infere-se que este grupo não tenha experiência de uso de ônibus e,
portanto, não saiba avaliar este atributo. Cabe comentar que um modelo ML panel
especificado apenas com os efeitos principais dos atributos e estimado a partir das respostas
dos 59 entrevistados que não usam ônibus, resultou em β_atraso estatisticamente igual a zero
(conforme se verifica no Apêndice H).

(c) Atributo tempo de viagem

O efeito do tempo de viagem no comportamento de escolha de linha é reforçado pela


interação com a variável dummy autos4, de modo que seu coeficiente passa a variar entre -
0,066, valor igual ao observado no modelo base, e -0,126, que está 91% acima (em valor
absoluto) do observado no modelo base. Entende-se que entrevistados com maior
disponibilidade de automóveis se incomodem mais com os tempos de viagem do transporte
público3.

(d) Atributo ocupação do veículo (nível mínimo da ocupação)

As variáveis dummy autos4, renda e estudante interagem com o nível mínimo da


ocupação do veículo (sendo que apenas a última enfraquece o efeito do atributo), de tal forma
que seu coeficiente passa a variar entre 2,150 e 4,208, ou seja: 22% abaixo e 53% acima do
seu valor no modelo base.

Quanto à interação com autos4, infere-se que a maior disponibilidade (e consequente


uso) de automóveis habitue os indivíduos a condições de conforto superiores às encontradas
no ônibus.

Já a interação com a variável renda mostra que os indivíduos com renda domiciliar até
R$1.400 e entre R$4.900 e R$7.000 valorizam menos o conforto do que os demais. Sugere-se
que os indivíduos com a mais baixa categoria de renda tenham maior dependência do ônibus
(de fato, 93% deles usam ônibus semanalmente, e 62,5% não possuem automóvel no domicí-

_________
3
De fato, o tempo médio das viagens com transporte coletivo na RMSP é de aproximadamente 67 minutos,
contra 31 minutos para as viagens com transporte individual, segundo a Pesquisa Origem e Destino 2007 para
a RMSP (COMPANHIA DO METROPOLITANO DE SÃO PAULO, 2008).
92

lio), e por este motivo valorizem o conforto com menor intensidade do que valorizam outros
atributos (como o custo, por exemplo).

Quanto aos indivíduos da faixa de renda domiciliar entre R$4.900 e R$7.000, sugere-
se que a menor importância dada ao conforto na decisão se deva ao fato de que este grupo é o
que mais concentra lexicográficos quanto ao custo: 24 indivíduos, o que corresponde a 35%
de todos os lexicográficos quanto ao custo da amostra e 11% dos entrevistados desta faixa de
renda. Lexicográficos quanto ao custo fazem suas escolhas com base somente no valor da
tarifa, em detrimento dos demais atributos.

No que se refere à interação com a variável estudante, acredita-se que sua influência
seja indireta e esteja relacionada a outras características do grupo de entrevistados que são
estudantes, como a maior presença de usuários semanais de ônibus e a maior parcela de
entrevistados do sexo masculino ou com até 25 anos, comparativamente às demais categorias
da variável socioeconômica ocupação, conforme se verifica no Apêndice I.

(e) Atributo ocupação do veículo (nível intermediário da ocupação)

Três variáveis dummy interagem com o nível intermediário da ocupação do veículo,


todas reforçando seu efeito sobre o comportamento: autos4, renda e superiorcomp. Destaca-
se que as duas primeiras também interagem com o nível mínimo da ocupação (também
reforçando seu efeito), de modo que as explicações para estas interações são as mesmas
expostas anteriormente.

Devido às interações, o coeficiente do nível intermediário da ocupação do veículo


passa a variar entre 1,350 e 2,950, ou seja: 22% abaixo e 72% acima do seu valor no modelo
base.

No que se refere à variável superiorcomp, acredita-se que sua influência seja indireta.
Características do grupo de entrevistados que já concluíram o Ensino Superior, tais como a
menor presença de indivíduos que usam ônibus semanalmente e a maior parcela de
entrevistados do sexo feminino, comparativamente às demais categorias da variável
socioeconômica escolaridade, (conforme se verifica no Apêndice I), podem influenciar o
efeito do nível intermediário da ocupação sobre o comportamento de escolha de linha.
93

(f) Atributo custo

O atributo custo interage com as variáveis dummy freqsemanal3, renda14mil, posgrad


e idade36, sendo freqsemanal3 a única que intensifica o efeito do custo sobre o
comportamento de escolha de linha. Devido a estas interações, o coeficiente do custo passa a
variar entre -0,445 e -3,489, ou seja: 84% abaixo e 27% acima (ambos em valor absoluto) do
seu valor no modelo base.

No que se refere à interação com a variável freqsemanal3, uma explicação plausível é


que, ao andar mais de ônibus, cresce a participação deste modo para as despesas individuais.
Além disto, este grupo tem, comparativamente às demais categorias da variável frequência de
uso de ônibus, pequena proporção de entrevistados que exercem atividade remunerada
(trabalho ou estágio) e maior concentração de entrevistados nas faixas de renda domiciliar
mais baixas (conforme se verifica no Apêndice I).

A influência da variável renda14mil sobre o efeito do custo é direta e, conforme o


esperado, enfraquece seu efeito.

Acredita-se que o efeito das variáveis posgrad e idade36 sobre o custo seja indireto.
Em ambos os casos, características tais como a menor proporção de entrevistados que usam
ônibus semanalmente e a maior proporção de indivíduos nas faixas de renda domiciliar acima
de R$7.000 (comparativamente às demais categorias das variáveis socioeconômicas
escolaridade e idade, conforme se verifica no Apêndice I), podem justificar a interação.
94

6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

O objetivo geral desta pesquisa foi medir a influência, na escolha de linha, de painéis
eletrônicos nos pontos de ônibus que informam os intervalos de tempo previstos para
passagem das linhas. Um experimento de escolha declarada com desenho eficiente foi
aplicado a uma amostra de 1179 entrevistados pertencentes à comunidade da USP.

Os entrevistados são predominantemente jovens com até 25 anos (63,7% da amostra),


do sexo masculino (59,5%), usuários frequentes de ônibus (80%), estudantes (81,1%) e com
pelo menos um automóvel no domicílio (75,5%).

Para analisar os resultados, foram estimados os seguintes tipos de modelos ML panel:


apenas com efeitos principais, a partir dos quais se obtiveram as taxas médias de substituição
entre atributos; considerando a não linearidade das preferências; incorporando as interações
entre atributos; e considerando a variabilidade sistemática das preferências entre indivíduos.

Todos os modelos respondem à questão de pesquisa formalizada no Capítulo 1,


confirmando que a presença do painel no ponto de ônibus tem, sim, influência sobre a escolha
da linha. Além desta, as demais conclusões da pesquisa foram:

• a presença de painel no ponto produz a mesma utilidade que a redução de 5 minutos


de viagem, e os entrevistados estariam dispostos a pagar, em média, cerca de
R$0,12 adicionais para que o ponto tivesse painel;
• a existência de painel no ponto diminui a desutilidade marginal da espera, e isto
ocorre com mais intensidade quando a espera está associada ao atraso do que
quando está associada ao intervalo programado entre veículos. No caso do atraso, a
desutilidade marginal da espera cai 24% ao passar da condição “sem painel” para a
condição “com painel”. Já no caso do intervalo, a queda é de 13%;
• a taxa marginal de substituição entre tempo de espera associado ao intervalo
programado e tempo de viagem está, em média, dentro das expectativas: 1 minuto
de espera equivale a 2,5 minutos de viagem. Já a taxa entre o tempo de espera
95

associado ao atraso e o tempo de viagem é, em média, bastante inferior ao que se


esperava: 1 minuto de espera por atraso equivale a 1 minuto de viagem;
• a desutilidade marginal do atraso é 2,2 vezes maior quando ele é precedido por
intervalos programados maiores (15 ou 20 minutos), do que quando precedido por
intervalos menores (5 ou 10 minutos);
• os efeitos do intervalo programado, do tempo de viagem e do atraso sobre o
comportamento não são lineares: a desutilidade marginal do intervalo é maior para
os primeiros 10 minutos de espera, e decresce 19% para os minutos seguintes; já a
desutilidade marginal do tempo de viagem é maior para os primeiros 30 minutos de
viagem, e decresce 63% para os minutos seguintes; e a desutilidade marginal do
atraso é menor para os primeiros 9 minutos de espera, aumentando em 149% para
os minutos seguintes;
• o valor médio do tempo de viagem, decorrente das características socioeconômicas
da amostra, é considerado baixo: R$1,44 / hora;
• o maior conforto durante a viagem diminui a desutilidade marginal do tempo de
viagem: a possibilidade de viajar sentado em um veículo quase vazio (ao invés de
viajar em pé em um veículo lotado) reduz a desutilidade marginal do tempo de
viagem entre 16% e 31%, dependendo da especificação adotada para o componente
determinístico da utilidade. Já a possibilidade de viajar em pé em um veículo não
lotado reduz a desutilidade marginal do tempo de viagem em 17%;
• viajar sentado em um veículo quase vazio (ao invés de viajar em pé em um veículo
lotado) produz, em média, a mesma utilidade que reduzir em cerca de 42 minutos o
tempo de viagem. Já a possibilidade de viajar em pé em um veículo não lotado
produz, em média, a mesma utilidade que reduzir em cerca de 26 minutos o tempo
de viagem;
• há bastante variabilidade sistemática das preferências entre os entrevistados, de
modo que o comportamento de escolha de linha é significativamente afetado pelas
características socioeconômicas e de uso de ônibus dos indivíduos. Verifica-se que
o valor do tempo, para determinado grupo de entrevistados, pode chegar a
R$17,00/hora, enquanto a disposição a pagar pelo painel pode chegar a R$0,77.
96

Acredita-se que, dada a baixa importância relativa do coeficiente do atraso nos


resultados dos modelos, a forma de comunicação deste atributo no experimento não foi
suficiente para capturar a complexidade do comportamento dos entrevistados em relação ao
atraso e à sua interação com o painel. Sugere-se, para experimentos futuros, comunicar as
probabilidades de ocorrência de diversos valores de atraso, por exemplo: 50% de
probabilidade de não haver atraso, 30% de probabilidade de ocorrer atraso de 5 minutos e
20% de probabilidade de ocorrer atraso de 8 minutos.

Em estudos futuros, sugere-se, ainda, estudar a influência do painel em contextos com


diferentes motivos de viagem (trabalho, estudo, lazer etc.) e condições de pressão de tempo, e
também em função da confiabilidade da informação fornecida pelos painéis, além da
investigação da incorporação e do uso da informação em tempo real no processo decisório dos
passageiros.

Cabe ressaltar que os resultados obtidos são específicos para a amostra coletada e não
representam as preferências de um usuário de ônibus médio da RMSP. No entanto, a
metodologia adotada pode ser estendida a outras amostras, com a finalidade de representar
mais fielmente o comportamento de tais usuários.

Acredita-se que esta pesquisa, ao incorporar a presença de painel no ponto como


elemento adicional da decisão, permita ampliar o entendimento da decisão de escolha de
linha, revelando a importância relativa da expectativa de redução da incerteza durante a etapa
de espera pelo ônibus (e, portanto, da expectativa de uma experiência de espera mais
positiva), frente a outros atributos do transporte público por ônibus.
97

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102

APÊNDICE A – PRIMEIRO EXPERIMENTO PILOTO

(a) Contexto do experimento

Com a finalidade de descrever o contexto do experimento, é apresentada a seguir a


instrução dada em todas as situações de escolha, seguida de um exemplo de tabela (na Figura
8) com a caracterização das alternativas:

“Suponha que você tem um compromisso, e tanto a LINHA 1 quanto a LINHA 2


podem deixá-lo(a) no local do compromisso. O tempo de viagem (dentro do ônibus) é igual
para as duas linhas. No entanto, estas linhas não passam pelo mesmo ponto. Você tem, então,
duas alternativas: andar até o PONTO 1 e pegar a LINHA 1 ou andar até o PONTO 2 e
pegar a LINHA 2. Considere que os tempos de caminhada até os pontos são pequenos, e que
apenas um dos pontos tem painel eletrônico mostrando quanto tempo falta para o ônibus
passar. Levando em conta as características de cada alternativa (apresentadas na tabela
abaixo), qual você escolhe?”

PONTO 1 + LINHA 1 PONTO 2 + LINHA 2

A linha está programada para passar a cada: 18 minutos 12 minutos

Mas pode demorar até: 26 minutos 24 minutos

O ponto tem painel eletrônico? Sim Não

Figura 8 – Exemplo de tabela com as características das alternativas do primeiro piloto

(b) Principais definições prévias à criação do experimento

As duas alternativas do experimento (Ponto 1 + Linha 1 e Ponto 2 + Linha 2) foram


caracterizadas pelos atributos constantes na Tabela 14 a seguir:
103

Coeficientes na
Atributos Níveis
função utilidade

Existência de painel no ponto 1 = Sim / 0 = Não β_display

Intervalo de tempo programado


para a passagem de veículos 6 / 12 / 18 minutos β_interv
consecutivos da mesma linha

Possível atraso em relação ao


4 / 8 / 12 minutos β_atraso
intervalo programado

Tabela 14 – Atributos para primeiro experimento piloto

O modelo econométrico escolhido foi o MNL, e o componente determinístico da


função utilidade ( , onde n refere-se ao indivíduo, e i à alternativa), idêntico para ambas as
alternativas, foi especificado com efeitos principais e interações:

= _ ∙ + _ tT+n ∙ tT+n +
_ Tn o ∙ Tn o +
_ tT+n _ ∙ ( tT+n ∙ )+ (19)

_ Tn o_ ∙ ( Tn o ∙ )

Não foram adotadas aproximações para os coeficientes (a fim de criar o desenho


eficiente). Ao invés disto, todos os coeficientes da eq. (19) foram definidos como iguais a
zero.

Optou-se pela criação de 12 situações de escolha, agrupadas em 6 blocos (de modo


que cada entrevistado respondesse a 2 situações de escolha). O indicador de ineficiência
escolhido para ser usado pelo algoritmo (para criação do desenho eficiente) foi o D_error.

(c) Desenho eficiente criado

O desenho criado, mostrado na Tabela 15, é balanceado para os níveis dos atributos
painel e intervalo. No entanto, não é para os níveis do atributo atraso: o nível 4 minutos
apareceu 10 vezes no desenho, enquanto o 8 minutos apareceu 6, e o 12 minutos apareceu 8
vezes.
104

Sit. Ponto 1 + Linha 1 Ponto 2 + Linha 2


Bloco
escolha
Painel Intervalo Atraso Painel Intervalo Atraso
1 1 1 6 8 0 6 12
1 2 1 18 4 0 18 8
2 3 0 18 8 1 12 12
2 4 0 12 12 1 6 4
3 5 1 12 8 0 12 12
3 6 1 12 4 0 18 4
4 7 1 6 4 0 6 8
4 8 0 18 4 1 12 8
5 9 0 12 4 1 6 4
5 10 0 18 12 1 6 4
6 11 1 18 4 0 12 12
6 12 1 6 12 0 18 12
Tabela 15 – Desenho eficiente para o primeiro experimento piloto

(d) Resultados da coleta de dados

A partir das 118 respostas obtidas (2 situações de escolha respondidas por cada um dos
59 entrevistados) foi estimado o modelo MNL mostrado na Tabela 16 abaixo:

Erro
Coeficiente Valor Teste t
padrão
β_display 1,760 0,425 4,140
β_interv -0,347 0,084 -4,150
β_atraso -0,255 0,088 -2,890
Número de observações: 118
Número de indivíduos: 118
L (0) = -81,79
L (β) = -66,26
- 2 · [L (0) - L (β) ] = 31,06
ρ2 = 0,190
ρ2 ajustado = 0,153
Tabela 16 – Modelo MNL estimado com resultados do primeiro experimento piloto
105

APÊNDICE B – SEGUNDO EXPERIMENTO PILOTO

(a) Contexto do experimento

Com a finalidade de descrever o contexto do experimento, é apresentada a seguir a


instrução dada em todas as situações de escolha, seguida de um exemplo de tabela (na Figura
9) com a caracterização das alternativas:

“Suponha que você irá de ônibus a um compromisso e que tanto a LINHA 1 quanto a
LINHA 2 servem para levá-lo(a) até o local desejado. Porém, estas linhas não passam pelo
mesmo ponto. Você tem, então, duas alternativas: andar em uma direção até o PONTO 1 e
pegar a LINHA 1 ou andar em outra direção até o PONTO 2 e pegar a LINHA
2. Considere que os tempos de caminhada até os pontos são pequenos. Os pontos podem ou
não ter painel eletrônico mostrando quanto tempo falta para o ônibus passar. Levando em
conta esta e outras características de cada alternativa (apresentadas na tabela abaixo), qual
você escolhe?”

PONTO 1 + LINHA 1 PONTO 2 + LINHA 2

A linha está programada para passar a cada: 20 minutos 15 minutos

Mas pode demorar até: 39 minutos 34 minutos

O ponto tem painel eletrônico? Não Sim

O tempo de viagem (dentro do ônibus) é: 50 minutos 50 minutos

A passagem custa: R$ 3,00 R$ 3,30

Lotado.
Quase vazio. Todos os bancos estão
O ônibus costuma estar: Você poderá viajar ocupados e você terá que
sentado. viajar em pé (com muitas
outras pessoas em pé).

Figura 9 – Exemplo de tabela com as características das alternativas do segundo piloto

(b) Principais definições prévias à criação do experimento

Alternativas e atributos

As duas alternativas do experimento (Ponto 1 + Linha 1 e Ponto 2 + Linha 2) foram


caracterizadas pelos atributos constantes na Tabela 17 a seguir:
106

Coeficientes na
Atributos Níveis
função utilidade
Existência de painel no
1 = Sim / 0 = Não β_display
ponto

Intervalo de tempo
programado para a
passagem de veículos 5 / 10 / 15 / 20 minutos β_interv
consecutivos da mesma
linha

Possível atraso em
relação ao intervalo 4 / 9 / 14 / 19 minutos β_atraso
programado
Tempo de viagem dentro
20 / 30 / 40 / 50 minutos β_tviagem
do veículo
Mínima (dummy: ocup0)
“Quase vazio. Você poderá viajar sentado”.
Intermediária (dummy: ocup1)
“Nem vazio, nem lotado. Todos os bancos estão
Ocupação do veículo ocupados e você terá que viajar em pé (com β_ocup0 e
quando chega ao ponto poucas outras pessoas em pé)”. β_ocup1
Máxima
“Lotado. Todos os bancos estão ocupados e você
terá que viajar em pé (com muitas outras pessoas
em pé)”.

Custo da viagem 3,00 / 3,30 R$ β_custo

Tabela 17 – Atributos para segundo experimento piloto

Ressalta-se que estes atributos e seus níveis são exatamente os mesmos utilizados no
experimento para coleta de dados desta pesquisa (descrito no Capítulo 4).

Foram criadas duas variáveis dummy (ocup0 e ocup1) para representar efeitos não
lineares do atributo ocupação. A Tabela 18 a seguir sumariza a relação entre o atributo e as
variáveis dummy:
107

Ocupação do veículo ocup0 ocup1


Mínima 1 0
Intermediária 0 1
Máxima 0 0
Tabela 18 – Relação entre atributo ocupação e variáveis dummy

Restrições ao desenho

Os níveis dos atributos intervalo, atraso e tempo de viagem foram segmentados em


dois grupos: “valores menores” e “valores maiores” (conforme Tabela 19 abaixo), de modo
que duas alternativas concorrentes tivessem valores para o mesmo atributo que pertencessem
ao mesmo grupo (o grupo dos “valores menores” ou o grupo dos “valores maiores”).

Atributo Valores menores Valores maiores


Intervalo 5 10 15 20
Atraso 4 9 14 19
Tempo de viagem 20 30 40 50
Tabela 19 – Estratégia para combinar atributos intervalo, atraso e tempo de viagem

Esta restrição é exatamente a mesma aplicada ao experimento para coleta de dados


desta pesquisa (descrito no Capítulo 4).

Especificação econométrica

O modelo econométrico escolhido foi o MNL, e o componente determinístico da


função utilidade ( , onde n refere-se ao indivíduo, e i à alternativa), idêntico para ambas as
alternativas, foi especificado com efeitos principais e interações:
108

= _ ∙ + _ tT+n ∙ tT+n +
_ Tn o ∙ Tn o + _T u+v ∙ T u+v +
_oUw 0 ∙ oUw 0 + _oUw 1 ∙ oUw 1 + _Uw To ∙ Uw To +
_ tT+n _ ∙ ( tT+n ∙ )+
(20)
_ Tn o_ ∙ ( Tn o ∙ )+
_T u+v_oUw 0 ∙ (T u+v ∙ oUw 0 ) +
_T u+v_oUw 1 ∙ (T u+v ∙ oUw 1 ) +

Aproximações para parâmetros

Foram adotadas distribuições uniformes aproximadas para os coeficientes (a fim de


criar o desenho eficiente), derivadas de referências da literatura da área de Transportes. As
aproximações para todos os coeficientes da eq. (20) e as referências utilizadas estão listadas
abaixo:

• β_tviagem ~ U (-0,08 , -0,02)


Adotaram-se valores próximos aos encontrados por Carvalho e Strambi (2012) e
Navarrete (2010). Ambas as pesquisas estimaram coeficientes para o tempo de viagem
no transporte público para usuários de São Paulo e Santiago do Chile,
respectivamente.

• β_interv ~ U (-0,24 , -0,03)


Adotou-se o intervalo encontrado por Wardman (2004) para a taxa marginal de
substituição entre intervalo e tempo de viagem: (β_intervalo / β_tviagem) ϵ [1,5 , 3,0].
Então, fez-se: β_interv ~ U (-0,08 · 3 , -0,02 · 1,5) = U (-0,24 , -0,03).

• β_atraso ~ U (-0,24 , -0,03)


Adotou-se o mesmo raciocínio aplicado a β_interv.

• β_display ~ U (0,18 , 1,44)


A partir das taxas marginais de substituição entre painel e intervalo (β_display /
β_intervalo = -5,07) e entre painel e atraso (β_display / β_atraso = -6,90) obtidas dos
resultados do primeiro experimento piloto (conforme Tabela 16 do Apêndice A), foi
adotada a aproximação: β_display / β_interv ~ β_display / β_atraso ~ -6,00.
E então, fez-se: β_display ~ U (-0,03 · -6 , -0,24 · -6) = U (0,18 , 1,44).
109

• β_ocup0 ~ U (0,40 , 1,60)


Adotou-se o resultado encontrado por Kim; Lee e Oh (2009), segundo o qual o usuário
de ônibus aceitaria que o tempo de viagem aumentasse em 20 minutos se pudesse
viajar sentado ao invés de viajar em pé em um veículo com alta ocupação. Portanto,
foi adotada a taxa: β_ocup0 / β_tviagem = -20,00.
E então, fez-se: β_ocup0 ~ U (-0,02 · -20 , -0,08 · -20) = U (0,40 , 1,60).

• β_ocup1 ~ U (0,20 , 0,80)


Adotou-se o resultado encontrado por Kim; Lee e Oh (2009), segundo o qual o usuário
de ônibus aceitaria que o tempo de viagem aumentasse em 10 minutos se pudesse
viajar em pé (porém com a possibilidade de se movimentar com facilidade dentro do
veículo) ao invés de viajar em pé em um veículo com alta ocupação. Portanto, foi
adotada a taxa: β_ocup1 / β_tviagem = -10,00.
E então, fez-se: β_ocup1 ~ U (-0,02 · -10 , -0,08 · -10) = U (0,20 , 0,80).

• β_custo ~ U (-1,60 , -0,24)


Adotou-se uma faixa de variação como referência para o valor do tempo: de R$3,00
por hora a R$5,00 por hora. Segue breve descrição da dedução desta referência: a
renda média familiar mensal para a RMSP em outubro de 2007 (divulgada pela
pesquisa Origem e Destino 2007 da RMSP, igual a R$2211,00) foi corrigida pela cesta
básica e pelo salário mínimo para valores de dezembro de 2012 (período da realização
deste experimento piloto) e arredondada para R$3500,00. Para um mês com 180 horas
de trabalho, esta renda corresponde a aproximadamente R$20,00 por hora trabalhada.
Supondo que a renda de um indivíduo da família (e lembrando que a maior parte da
amostra que seria pesquisada era composta por estudantes) varie entre 30% e 50% da
renda familiar, tem-se que a renda média individual varia de R$6,00 a R$10,00 por
hora. Supondo que o valor comportamental do tempo de viagem (para uma viagem
genérica, não necessariamente a trabalho) seja a metade disto, tem-se que: β_custo /
β_tviagem ϵ [3 , 5] em R$/h. Portanto foram adotadas as taxas: β_tviagem / β_custo =
5/60 e β_tviagem / β_custo = 3/60.
E então, fez-se: β_custo ~ U (-0,08 · 60/3 , -0,02 · 60/5) = U (-1,60 , -0,24).

• β_interv_display ~ U (0,006 , 0,048)


Adotou-se a relação encontrada por Dziekann e Kottenhoff (2007), segundo a qual os
painéis têm potencial para reduzir o tempo percebido de espera em até 20%. Muito
embora, neste experimento, a decisão do entrevistado seja tomada sem que ele “veja”
a informação mostrada pelo painel, admitiu-se que 1 minuto de espera com painel
produz 80% da utilidade de 1 minuto de espera sem painel (ou seja: 20% a menos).
Portanto, foi adotada a taxa: (β_interv + β_interv_display) / β_interv = 0,80, que
equivale a β_interv_display = -0,20 · β_interv.
E então, fez-se: β_interv_display ~ U (-0,03 · -0,20 , -0,24 · -0,20) = U (0,006 ,
0,048).
110

• β_atraso_display ~ U (0,006 , 0,048)


Adotou-se o mesmo raciocínio aplicado a β_interv_display.

• β_tviagem_ocup0 ~ U (0,012 , 0,048)


Adotou-se a relação encontrada por Wardman e Whelan (2011), segundo a qual 1
minuto de viagem em pé em veículo de alta ocupação (lotado) produz a mesma
utilidade que 2,5 minutos de viagem em uma situação confortável (viajar sentado).
Portanto, foi adotada a taxa: β_tviagem / (β_tviagem + β_tviagem_ocup0) = 2,5, que
equivale a: β_tviagem_ocup0 = -0,60 · β_tviagem.
E então, fez-se: β_tviagem_ocup0 ~ U (-0,02 · -0,60 , -0,08 · -0,60) = U (0,012 ,
0,048).

• β_tviagem_ocup1 ~ U (0,008 , 0,032)


Adotou-se a relação encontrada por Wardman e Whelan (2011), segundo a qual 1
minuto de viagem em pé em veículo de alta ocupação (lotado) produz a mesma
utilidade que 1,67 minutos de viagem também em pé, porém com possibilidade de se
movimentar com facilidade no interior do veículo. Portanto, foi adotada a taxa:
β_tviagem / (β_tviagem + β_tviagem_ocup1) = 1,67, que equivale a:
β_tviagem_ocup1 = -0,40 · β_tviagem.
E então, fez-se: β_tviagem_ocup1 ~ U (-0,02 · -0,40 , -0,08 · -0,40) = U (0,008 ,
0,032).

Situações de escolha

Optou-se pela criação de 24 situações de escolha, agrupadas em 4 blocos (de modo


que cada entrevistado respondesse a 6 situações de escolha), respeitando o balanceamento
entre níveis do mesmo atributo. O indicador de ineficiência escolhido para ser usado pelo
algoritmo (para criação do desenho eficiente) foi o Db_error.

(c) Desenho eficiente criado

O desenho criado é mostrado na Tabela 20, a seguir:


111

Ponto 1 + Linha1 Ponto 2 + Linha 2


Situação de
escolha

Ocupação

Ocupação
Tempo de

Tempo de
Bloco

Intervalo

Intervalo
viagem

viagem
Atraso

Atraso
Painel

Painel
Custo

Custo
1 1 1 10 9 40 0 3,3 1 10 9 40 2 3
1 2 1 15 4 30 1 3 0 15 9 30 0 3,3
1 3 0 5 14 40 0 3,3 1 10 14 50 1 3
1 4 1 20 4 50 2 3,3 0 20 4 40 1 3
1 5 1 5 9 20 2 3 0 5 4 30 1 3,3
1 6 0 15 14 20 1 3,3 0 20 14 20 0 3
2 7 0 20 14 30 1 3,3 1 20 19 20 2 3
2 8 1 20 19 30 2 3,3 0 20 14 30 1 3
2 9 0 5 19 20 0 3 1 5 19 20 2 3,3
2 10 0 20 19 50 0 3 1 15 19 50 2 3,3
2 11 0 5 14 40 1 3 1 10 14 40 0 3,3
2 12 0 10 4 50 0 3 1 5 9 40 1 3,3
3 13 1 20 9 20 1 3 0 15 4 30 0 3,3
3 14 0 20 9 20 1 3,3 0 15 9 30 2 3
3 15 1 15 19 30 1 3 0 15 14 20 0 3,3
3 16 0 5 4 40 2 3 1 10 9 50 1 3,3
3 17 1 5 4 50 2 3 0 5 4 50 1 3,3
3 18 1 10 19 50 2 3,3 0 5 19 50 1 3
4 19 1 15 14 20 2 3,3 1 20 19 20 0 3
4 20 1 15 4 50 1 3,3 0 15 4 40 0 3
4 21 0 15 9 30 0 3 1 20 4 20 2 3,3
4 22 1 10 9 30 0 3,3 1 10 9 30 2 3
4 23 0 10 14 40 2 3 0 10 19 50 0 3,3
4 24 0 10 19 40 0 3,3 1 5 14 40 2 3
Tabela 20 – Desenho eficiente para segundo experimento piloto

(d) Resultados da coleta de dados

A partir das 210 respostas obtidas (6 situações de escolha respondidas por cada um dos
35 entrevistados) foram estimadas dezenas de modelos diferentes. Para aqueles cujos
coeficientes tiveram os sinais esperados e foram estatisticamente significativos, foram
calculadas as taxas marginais de substituição entre cada atributo e o tempo de viagem. Os
valores médio, mínimo e máximo para cada taxa são exibidos na Tabela 21 abaixo:
112

Relações Média Mínimo Máximo


β_display / β_tviagem -2,81 -1,38 -3,96
β_interv / β_tviagem 1,42 1,19 1,67
β_atraso / β_tviagem 1,28 1,08 1,50
β _ocup0 / β_tviagem -21,86 -24,41 -17,65
β_ocup1 / β_tviagem -13,91 -15,75 -12,44
β_custo / β_tviagem 20,45 17,65 22,63

Tabela 21 – Taxas marginais de substituição a partir do segundo experimento piloto

Ainda para estes mesmos modelos, o valor do coeficiente do tempo de viagem variou
entre -0,125 e -0,081.
113

APÊNDICE C – DESENHO EFICIENTE DO EXPERIMENTO

Ponto 1 + Linha 1 Ponto 2 + Linha 2


Situação de
escolha

Ocupação

Ocupação
Tempo de

Tempo de
Bloco

Intervalo

Intervalo
viagem

viagem
Atraso

Atraso
Painel

Painel
Custo

Custo
1 1 0 10 19 20 0 3,3 1 5 14 30 1 3
1 2 1 5 14 30 2 3 0 10 19 20 1 3,3
1 3 1 10 4 30 2 3 0 5 9 30 1 3,3
1 4 1 20 14 20 1 3,3 0 15 19 30 0 3
1 5 0 5 19 50 1 3,3 1 10 14 40 2 3
1 6 0 15 14 40 0 3,3 1 15 14 40 2 3
1 7 1 15 9 30 0 3,3 0 20 4 20 1 3
1 8 0 20 4 50 2 3 1 20 4 50 0 3,3
2 9 1 15 19 20 1 3 0 20 19 20 0 3,3
2 10 0 5 9 50 0 3 1 5 9 40 2 3,3
2 11 0 10 14 30 2 3 1 10 14 30 0 3,3
2 12 0 20 4 30 0 3,3 1 15 9 20 2 3
2 13 0 15 9 40 1 3 1 15 4 50 0 3,3
2 14 1 10 9 50 1 3,3 0 5 9 40 2 3
2 15 1 10 9 50 2 3 0 10 4 50 2 3,3
2 16 1 20 9 40 1 3 0 20 9 50 0 3,3
3 17 0 20 4 20 0 3,3 1 20 4 20 2 3
3 18 0 15 4 40 2 3 1 15 4 40 1 3,3
3 19 1 10 19 20 1 3,3 0 10 19 20 0 3
3 20 1 20 19 50 0 3 0 15 14 50 1 3,3
3 21 1 15 19 20 2 3,3 0 20 19 30 1 3
3 22 0 5 14 40 2 3,3 1 10 19 50 1 3
3 23 1 5 14 30 0 3,3 0 5 14 30 2 3
3 24 0 5 4 40 1 3 1 5 9 40 0 3,3
Tabela 22 – Situações de escolha do desenho do experimento
114

APÊNDICE D – TELA INICIAL DO QUESTIONÁRIO DE PESQUISA

Figura 10 – Tela inicial do questionário de pesquisa


115

APÊNDICE E – INFLUÊNCIA DO COMPORTAMENTO


LEXICOGRÁFICO

(a) Modelo base sem os 204 lexicográficos quanto ao conforto

Conforme se verifica na Tabela 23, todos os parâmetros deste modelo são diferentes
de zero ao nível de significância de 5% e têm os sinais esperados. Em comparação com o
modelo base (cujos resultados estão na coluna à direita da tabela), observa-se que houve
queda de β_ocup0 e discreta diminuição de β_ocup1. Pode-se supor que os lexicográficos
quanto ao conforto sempre escolham a alternativa que lhes permita viajar sentados, porém
utilizam regras compensatórias quando nenhuma das alternativas tem veículo com ocupação
mínima. Os coeficientes dos demais atributos apresentam aumento do valor absoluto. Estas
variações (em relação ao modelo base) são coerentes com o fato de se retirar da amostra os
indivíduos que aparentemente valorizam apenas o conforto em sua decisão em detrimento dos
demais atributos.

Conforme esperado, houve queda da disposição a pagar para viajar com mais conforto
(ou seja, em veículo com menor ocupação), explicada conjuntamente pela redução dos
coeficientes β_ocup0 e β_ocup1 e pelo aumento em valor absoluto do coeficiente β_custo.

Acredita-se que as seguintes características socioeconômicas e de uso de ônibus deste


grupo de usuários possam estar relacionadas ao seu comportamento lexicográfico quanto ao
conforto:

• maior concentração de não usuários de ônibus (10% contra 5% para a amostra


completa);
• maior proporção de entrevistados com idade igual ou superior a 36 anos (23%
contra 13% para a amostra completa);
• maior concentração de entrevistados do sexo feminino (46% contra 41% para a
amostra completa);
• maior proporção de entrevistados nas faixas de renda domiciliar acima de R$7.000
(50% contra 44% para a amostra completa).
116

Na Tabela 32 do Apêndice I pode ser encontrada a classificação socioeconômica e


relativa ao uso do ônibus para os três grupos de lexicográficos.

Parâmetro Valor Erro padrão Teste t Modelo Base


β_display 0,365 0,028 13,290 0,328
β_interv -0,200 0,008 -24,360 -0,165
β_atraso -0,109 0,008 -13,780 -0,068
β_tviagem -0,078 0,005 -17,180 -0,066
β_ocup0 2,550 0,074 34,390 2,750
β_ocup1 1,700 0,053 31,810 1,720
β_custo -3,110 0,115 -27,020 -2,750
σ_ panel 0,215 0,079 2,730 -0,302
Número de observações: 7800 9432
Número de indivíduos: 975 1179
log L (0) = -5406,55 -6537,76
log L (β) = -4430,16 -5219,88
- 2 · [ log L (0) - log L (β) ] = 1952,78 2635,77
2
ρ = 0,181 0,202
2
ρ ajustado = 0,179 0,200
Tabela 23 – Modelo base sem os lexicográficos quanto ao conforto

(b) Modelo base sem os 68 lexicográficos quanto ao custo

Conforme mostra a Tabela 24, todos os parâmetros deste modelo são diferentes de
zero ao nível de significância de 5% e têm os sinais esperados. Em comparação com o modelo
base (cujos resultados estão na coluna à direita da tabela) observa-se que houve queda do
valor absoluto do coeficiente do custo (β_custo) e aumento do valor absoluto dos demais
coeficientes, o que é coerente com o fato de se retirar da amostra os indivíduos que
aparentemente usam apenas o valor da tarifa em sua decisão em detrimento dos demais
atributos. Como consequência, a disposição a pagar aumentou para todos os atributos.

Sugere-se que as seguintes características socioeconômicas e de uso de ônibus deste


grupo estejam relacionadas ao seu comportamento lexicográfico quanto ao custo:

• maior concentração de usuários com frequência semanal de uso de ônibus (97%


contra 80% para a amostra completa);
117

• maior proporção de entrevistados que se dedicam exclusivamente ao estudo (62%


contra 42% para a amostra completa);
• maior proporção de entrevistados sem automóvel no domicílio (35% contra 24%
para a amostra completa);
• maior proporção de entrevistados nas faixas de renda domiciliar abaixo de R$7.000
(78% contra 55% para a amostra completa).

Parâmetro Valor Erro padrão Teste t Modelo Base


β_display 0,385 0,027 14,130 0,328
β_interv -0,178 0,008 -22,370 -0,165
β_atraso -0,089 0,008 -11,510 -0,068
β_tviagem -0,074 0,005 -16,240 -0,066
β_ocup0 3,080 0,081 37,840 2,750
β_ocup1 1,910 0,055 34,390 1,720
β_custo -2,490 0,109 -22,790 -2,750
σ_ panel 0,226 0,076 2,970 -0,302
Número de observações: 8888 9432
Número de indivíduos: 1111 1179
log L (0) = -6160,69 -6537,76
log L (β) = -4725,88 -5219,88
- 2 · [ log L (0) - log L (β) ] = 2869,63 2635,77
2
ρ = 0,233 0,202
2
ρ ajustado = 0,232 0,200
Tabela 24 – Modelo base sem os lexicográficos quanto ao custo

(c) Modelo base sem os 14 lexicográficos quanto ao painel

Para este modelo, assim como para os anteriores, todos os parâmetros são diferentes
de zero ao nível de significância de 5% e têm os sinais esperados (conforme mostra a Tabela
25). Em comparação com o modelo base, observa-se que houve queda do coeficiente do
painel (β_display), o que é condizente com uma amostra que não contenha indivíduos que,
aparentemente, sempre escolhem a alternativa com painel. Os demais coeficientes oscilaram
discretamente, geralmente com acréscimo do valor absoluto.
118

No que se refere às características socioeconômicas e de uso de ônibus deste grupo,


não é possível relacioná-las ao comportamento lexicográfico dado o pequeno tamanho do
grupo (apenas 14 entrevistados).

Parâmetro Valor Erro padrão Teste t Modelo Base


β_display 0,300 0,026 11,680 0,328
β_interv -0,170 0,008 -22,210 -0,165
β_atraso -0,067 0,007 -9,060 -0,068
β_tviagem -0,067 0,004 -15,690 -0,066
β_ocup0 2,810 0,074 38,260 2,750
β_ocup1 1,760 0,051 34,500 1,720
β_custo -2,800 0,108 -25,860 -2,750
σ_ panel -0,321 0,056 -5,700 -0,302
Número de observações: 9320 9432
Número de indivíduos: 1165 1179
log L (0) = -6460,13 -6537,76
log L (β) = -5122,27 -5219,88
- 2 · [ log L (0) - log L (β) ] = 2675,73 2635,77
2
ρ = 0,207 0,202
2
ρ ajustado = 0,206 0,200
Tabela 25 – Modelo base sem os lexicográficos quanto ao painel
119

APÊNDICE F – MODELOS COM INTERAÇÕES ENTRE ATRIBUTOS

Parâmetro Valor Erro padrão Teste t


β_interv -0,158 0,008 -20,710
β_atraso -0,071 0,008 -9,200
β_atraso_display 0,017 0,002 7,760
β_tviagem -0,081 0,006 -13,100
β_tviagem_ocup0 0,025 0,005 5,390
β_tviagem_ocup1 0,014 0,004 3,170
β_ocup0 1,890 0,160 11,790
β_ocup1 1,230 0,149 8,220
β_custo -2,730 0,109 -25,110
σ_ panel -0,292 0,058 -5,070
Número de observações: 9432
Número de indivíduos: 1179
log L (0) = -6537,76
log L (β) = -5230,17
- 2 · [ log L (0) - log L (β) ] = 2615,18
ρ2 = 0,200
ρ2 ajustado = 0,198
Tabela 26 – Modelo ML panel com interações entre atributos (1)

Parâmetro Valor Erro padrão Teste t


β_interv -0,166 0,008 -21,910
β_interv_display 0,022 0,002 10,710
β_atraso -0,069 0,007 -9,240
β_tviagem -0,063 0,004 -14,620
β_tviagem_ocup0 0,010 0,003 3,330
β_ocup0 2,390 0,124 19,290
β_ocup1 1,700 0,050 34,350
β_custo -2,760 0,108 -25,470
σ_ panel -0,305 0,057 -5,400
Número de observações: 9432
Número de indivíduos: 1179
log L (0) = -6537,76
log L (β) = -5212,36
- 2 · [ log L (0) - log L (β) ] = 2650,82
ρ2 = 0,203
ρ2 ajustado = 0,201
Tabela 27 – Modelo ML panel com interações entre atributos (2)
120

Parâmetro Valor Erro padrão Teste t


β_display 0,304 0,027 11,130
β_interv -0,171 0,008 -21,860
β_atraso_ interv{5,10} -0,044 0,010 -4,480
β_atraso_interv{15,20} -0,097 0,012 -8,240
β_tviagem -0,070 0,004 -16,020
β_tviagem_ocup0 0,011 0,003 3,680
β_ocup0 2,380 0,123 19,380
β_ocup1 1,700 0,051 33,420
β_custo -2,880 0,113 -25,350
σ_ panel -0,303 0,057 -5,310
Número de observações: 9432
Número de indivíduos: 1179
log L (0) = -6537,76
log L (β) = -5205,60
- 2 · [ log L (0) - log L (β) ] = 2664,32
ρ2 = 0,204
ρ2 ajustado = 0,202
Tabela 28 – Modelo ML panel com interações entre atributos (3)
121

APÊNDICE G – VARIABILIADE ALEATÓRIA DAS PREFERÊNCIAS

(a) Modelo ML panel random coefficients com distribuição normal de probabilidades

O modelo estimado é apresentado na Tabela 29 e todos os seus parâmetros são


diferentes de zero ao nível de significância de 5% e têm os sinais esperados. Verifica-se que
β_tviagem tem média (µ) de -0,062 (valor semelhante ao encontrado para o coeficiente no
modelo base) e desvio padrão (σ) igual a 0,138, o que significa que o coeficiente do tempo de
viagem será negativo com probabilidade de 67,36%. Já β_ocup0 assume média de 3,070
(superior ao valor do coeficiente no modelo base) e desvio padrão de -0,568, o que significa
que este coeficiente é sempre positivo.

Em comparação com o modelo base, houve aumento nos valores absolutos dos demais
coeficientes e o rho quadrado ajustado sofreu elevação discreta, indicando que o modelo em
discussão é um pouco superior ao modelo base quanto à capacidade de reproduzir o
comportamento de escolha dos entrevistados.

Parâmetro Valor Erro padrão Teste t Modelo Base


β_display 0,330 0,032 10,240 0,328
β_interv -0,185 0,012 -15,850 -0,165
β_atraso -0,070 0,010 -6,840 -0,068
β_tviagem (µ) -0,062 0,007 -9,270
-0,066
β_tviagem (σ) 0,138 0,022 6,150
β_ocup0 (µ) 3,070 0,147 20,830
2,750
β_ocup0 (σ) -0,568 0,234 -2,430
β_ocup1 1,930 0,091 21,190 1,720
β_custo -3,330 0,210 -15,870 -2,750
σ_ panel -0,353 0,069 -5,080 -0,302
Número de observações: 9432 9432
Número de indivíduos: 1179 1179
log L (0) = -6537,76 -6537,76
log L (β) = -5210,58 -5219,88
- 2 · [ log L (0) - log L (β) ] = 2654,36 2635,77
ρ2 = 0,203 0,202
ρ2 ajustado = 0,201 0,200
Tabela 29 – Modelo ML panel random coefficients com distribuição normal
122

(b) Modelo ML panel random coefficients com distribuição uniforme de probabilidades

Todos os parâmetros do modelo estimado (apresentado na Tabela 30) são diferentes de


zero ao nível de significância de 5% e têm os sinais esperados. Verifica-se que β_interv tem
média (µ) igual -0,183 (superior ao valor do coeficiente no modelo base) e varia com
distribuição uniforme dentro do intervalo de µ – s (-0,483) a µ + s (0,117), o que significa que
a probabilidade deste coeficiente ter sinal negativo, conforme se espera, é de 80,5%. Já
β_tviagem tem média de -0,055 (inferior ao valor do coeficiente no modelo base) e varia com
distribuição uniforme dentro do intervalo de -0,282 a 0,172, o que significa que há uma
probabilidade de 62,1% (não muito alta, porém razoável) de que este coeficiente tenha sinal
negativo, conforme se espera.

Em comparação com o modelo base, houve alteração nos valores dos coeficientes dos
demais atributos, e o rho quadrado ajustado teve discreto aumento, indicando que a
especificação do modelo em discussão é superior à do modelo base (e também à do primeiro
modelo discutido neste apêndice) quanto à capacidade de reproduzir o comportamento de
escolha dos entrevistados.

Parâmetro Valor Erro padrão Teste t Modelo Base


β_display 0,326 0,031 10,480 0,328
β_interv (µ) -0,183 0,011 -17,440
-0,165
β_interv (s) -0,300 0,100 -3,010
β_atraso -0,058 0,010 -5,930 -0,068
β_tviagem (µ) -0,055 0,006 -8,960
-0,066
β_tviagem (s) 0,227 0,039 5,860
β_ocup0 2,990 0,094 31,890 2,750
β_ocup1 1,900 0,070 27,240 1,720
β_custo -3,330 0,185 -18,030 -2,750
σ_ panel -0,381 0,068 -5,630 -0,302
Número de observações: 9432 9432
Número de indivíduos: 1179 1179
log L (0) = -6537,76 -6537,76
log L (β) = -5206,35 -5219,88
- 2 · [ log L (0) - log L (β) ] = 2662,84 2635,77
ρ2 = 0,204 0,202
ρ2 ajustado = 0,202 0,200
Tabela 30 – Modelo ML panel random coefficients com distribuição uniforme
123

APÊNDICE H – MODELO ML PANEL PARA NÃO USUÁRIOS

Coeficiente Valor Erro padrão Teste t


β_display 0,349 0,133 2,630
β_interv -0,198 0,039 -5,140
β_atraso -0,006 0,037 -0,150
β_tviagem -0,093 0,023 -4,100
β_ocup0 3,480 0,419 8,320
β_ocup1 2,160 0,280 7,710
β_custo -1,950 0,526 -3,700
σ_ panel 0,302 0,301 1,000
Número de observações: 472
Número de indivíduos: 59
log L (0) = -327,16
log L (β) = -220,48
- 2 · [ log L (0) - log L (β) ] = 213,67
ρ2 = 0,326
ρ2 ajustado = 0,302
Tabela 31 – Modelo ML panel estimado a partir das respostas dos não usuários
124

APÊNDICE I – CLASSIFICAÇÃO SOCIOECONÔMICA E DE USO DE


ÔNIBUS

Toda a Lexic. quanto Lexic. quanto Lexic. quanto


amostra ao conforto ao custo ao painel
Frequência de uso do ônibus
Nunca 5% 10% 3% 14%
1 a 2 x mês 15% 15% 0% 21%
1 a 2 x semana 15% 15% 16% 0%
3 ou mais x semana 65% 60% 81% 64%
Sexo
Feminino 41% 46% 32% 36%
Masculino 59% 54% 68% 64%
Idade
Até 25 anos 64% 50% 72% 50%
Entre 26 e 35 anos 23% 27% 22% 36%
A partir de 36 anos 13% 23% 6% 14%
Ocupação
Outra 4% 6% 0% 0%
Estudo 42% 31% 62% 57%
Trabalho / estágio 14% 19% 6% 21%
Estudo e trabalho / estágio 39% 44% 32% 21%
Escolaridade
Fundamental / Médio * 4% 4% 3% 0%
Superior incompleto 55% 46% 68% 50%
Superior completo 11% 11% 7% 0%
Pós-graduação * 30% 39% 22% 50%
* mesmo que incompleto
Automóveis no domicílio
Nenhum 24% 23% 35% 43%
1 36% 41% 34% 14%
2 26% 23% 24% 29%
3 9% 6% 7% 14%
4 ou mais 5% 7% 0% 0%
Renda do domicílio
Até R$ 1.400 6% 5% 16% 14%
De R$ 1.401 a R$ 2.800 10% 9% 12% 14%
De R$ 2.801 a R$ 4.900 20% 25% 15% 21%
De R$ 4.901 a R$ 7.000 19% 12% 35% 14%
De R$ 7.001 a R$ 10.500 19% 21% 9% 14%
De R$ 10.501 a R$ 14.000 11% 12% 7% 7%
Mais de R$ 14.000 15% 17% 6% 14%
Tabela 32 – Classificação socioeconômica e quanto ao uso de ônibus dos lexicográficos
125

Toda a Fund. / Superior Superior


Pós-grad.*
amostra Médio* incomp. comp.
Frequência de uso do ônibus
Nunca 5,0% 0,0% 3,4% 7,6% 7,6%
1 a 2 x mês 15,0% 6,1% 11,2% 19,1% 21,8%
1 a 2 x semana 14,6% 10,2% 12,7% 11,5% 19,8%
3 ou mais x semana 65,4% 83,7% 72,7% 61,8% 50,8%
Presença de painel nos pontos
Não se aplica 5,0% 0,0% 3,4% 7,6% 7,6%
Não 83,6% 89,8% 87,3% 76,3% 78,8%
Sim 11,4% 10,2% 9,3% 16,0% 13,6%
Sexo
Feminino 40,5% 34,7% 34,6% 47,3% 49,7%
Masculino 59,5% 65,3% 65,4% 52,7% 50,3%
Idade
Até 25 anos 63,7% 81,6% 92,6% 40,5% 17,2%
Entre 26 e 35 anos 23,2% 4,1% 6,5% 35,1% 52,0%
A partir de 36 anos 13,1% 14,3% 0,9% 24,4% 30,8%
Ocupação
Outra 4,5% 6,1% 0,2% 12,2% 9,3%
Estudo 42,5% 75,5% 57,7% 5,3% 24,0%
Trabalho / estágio 14,4% 10,2% 2,3% 48,9% 24,3%
Estudo e trabalho / estágio 38,6% 8,2% 39,8% 33,6% 42,4%
Automóveis no domicílio
Nenhum 24,3% 20,4% 21,9% 26,7% 28,2%
1 35,9% 44,9% 31,9% 42,0% 39,5%
2 26,1% 22,4% 29,1% 20,6% 23,2%
3 9,0% 8,2% 11,9% 3,8% 5,6%
4 ou mais 4,7% 4,1% 5,1% 6,9% 3,4%
Motos no domicílio
Nenhuma 93,8% 95,9% 93,8% 91,6% 94,4%
1 5,5% 4,1% 5,3% 8,4% 5,1%
2 0,7% 0,0% 0,9% 0,0% 0,6%
Renda do domicílio
Até R$ 1.400 6,1% 10,2% 7,3% 3,1% 4,5%
De R$ 1.401 a R$ 2.800 10,3% 8,2% 12,4% 5,3% 8,8%
De R$ 2.801 a R$ 4.900 20,4% 28,6% 19,8% 28,2% 17,2%
De R$ 4.901 a R$ 7.000 18,9% 18,4% 19,1% 22,1% 17,5%
De R$ 7.001 a R$ 10.500 18,6% 12,2% 16,4% 16,8% 24,0%
De R$ 10.501 a R$ 14.000 10,7% 4,1% 11,2% 9,9% 11,0%
Mais de R$ 14.000 15,0% 18,4% 13,8% 14,5% 16,9%

Tabela 33 – Classificação socioeconômica e de uso de ônibus por escolaridade (*mesmo que incompleto)
126

Toda a Não 1a2 1a2 3 ou mais x


amostra usuários x mês x semana semana
Painel nos pontos
Não se aplica 5,0% 100,0% 0,0% 0,0% 0,0%
Não 83,6% 0,0% 86,4% 90,7% 87,8%
Sim 11,4% 0,0% 13,6% 9,3% 12,2%
Sexo
Feminino 40,5% 47,5% 39,5% 38,4% 40,7%
Masculino 59,5% 52,5% 60,5% 61,6% 59,3%
Idade
Até 25 anos 63,7% 42,4% 49,2% 55,2% 62,2%
Entre 26 e 35 anos 23,2% 27,1% 25,4% 25,0% 31,3%
A partir de 36 anos 13,1% 30,5% 25,4% 19,8% 6,5%
Ocupação
Outra 4,5% 5,1% 7,3% 8,1% 3,0%
Estudo 42,5% 23,7% 33,9% 43,6% 45,7%
Trabalho / estágio 14,4% 35,6% 23,7% 15,1% 10,5%
Estudo e trabalho / estágio 38,6% 35,6% 35,0% 33,1% 40,9%
Escolaridade
Fundamental / Médio * 4,2% 0,0% 1,7% 2,9% 5,3%
Superior incompleto 54,7% 37,3% 40,7% 47,7% 60,8%
Superior completo 11,1% 16,9% 14,1% 8,7% 10,5%
Pós-graduação * 30,0% 45,8% 43,5% 40,7% 23,3%
* mesmo que incompleto
Automóveis no domicílio
Nenhum 24,3% 3,4% 5,1% 21,5% 30,9%
1 35,9% 16,9% 31,1% 40,1% 37,5%
2 26,1% 39,0% 32,8% 24,4% 24,0%
3 9,0% 22,0% 20,3% 9,3% 5,3%
4 ou mais 4,7% 18,6% 10,7% 4,7% 2,3%
Motos no domicílio
Nenhuma 93,8% 93,2% 91,0% 94,2% 94,4%
1 5,5% 6,8% 7,3% 4,7% 5,2%
2 0,7% 0,0% 1,7% 1,2% 0,4%
Renda do domicílio
Até R$ 1.400 6,1% 0,0% 2,8% 5,8% 7,4%
De R$ 1.401 a R$ 2.800 10,3% 5,1% 5,1% 9,3% 12,2%
De R$ 2.801 a R$ 4.900 20,4% 10,2% 13,0% 15,7% 23,9%
De R$ 4.901 a R$ 7.000 18,9% 6,8% 15,3% 18,6% 20,8%
De R$ 7.001 a R$ 10.500 18,6% 11,9% 22,0% 21,5% 17,6%
De R$ 10.501 a R$ 14.000 10,7% 22,0% 10,2% 14,5% 9,1%
Mais de R$ 14.000 15,0% 44,1% 31,6% 14,5% 9,1%

Tabela 34 – Classificação socioeconômica por frequência de uso de ônibus


127

Estudo e
Trabalho /
Todos Outra Estudo trabalho /
estágio
estágio
Freq. de uso do ônibus
Nunca 5,0% 5,7% 2,8% 12,4% 4,6%
1 a 2 x mês 15,0% 24,5% 12,0% 24,7% 13,6%
1 a 2 x semana 14,6% 26,4% 15,0% 15,3% 12,5%
3 ou mais x semana 65,4% 43,4% 70,3% 47,6% 69,2%
Painel nos pontos
Não se aplica 5,0% 5,7% 2,8% 12,4% 4,6%
Não 83,6% 84,9% 88,2% 73,5% 82,2%
Sim 11,4% 9,4% 9,0% 14,1% 13,2%
Sexo
Feminino 40,5% 60,4% 32,7% 52,9% 42,2%
Masculino 59,5% 39,6% 67,3% 47,1% 57,8%
Idade
Até 25 anos 63,7% 9,4% 86,2% 18,8% 62,0%
Entre 26 e 35 anos 23,2% 22,6% 12,2% 40,6% 29,0%
A partir de 36 anos 13,1% 67,9% 1,6% 40,6% 9,0%
Escolaridade
Fundamental / Médio * 4,2% 5,7% 7,4% 2,9% 0,9%
Superior incompleto 54,7% 1,9% 74,3% 8,8% 56,5%
Superior completo 11,1% 30,2% 1,4% 37,6% 9,7%
Pós-graduação * 30,0% 62,3% 17,0% 50,6% 33,0%
* mesmo que incompleto
Automóveis no domicílio
Nenhum 24,3% 13,2% 22,8% 24,7% 27,0%
1 35,9% 49,1% 32,7% 38,8% 36,7%
2 26,1% 32,1% 29,3% 25,9% 22,0%
3 9,0% 3,8% 10,4% 4,7% 9,7%
4 ou mais 4,7% 1,9% 4,8% 5,9% 4,6%
Motos no domicílio
Nenhuma 93,8% 96,2% 94,8% 92,4% 93,0%
1 5,5% 3,8% 4,2% 6,5% 6,8%
2 0,7% 0,0% 1,0% 1,2% 0,2%
Renda do domicílio
Até R$ 1.400 6,1% 5,7% 9,6% 0,0% 4,6%
De R$ 1.401 a R$ 2.800 10,3% 5,7% 11,0% 2,9% 13,0%
De R$ 2.801 a R$ 4.900 20,4% 15,1% 20,6% 20,6% 20,7%
De R$ 4.901 a R$ 7.000 18,9% 18,9% 18,0% 14,7% 21,5%
De R$ 7.001 a R$ 10.500 18,6% 15,1% 15,4% 24,7% 20,2%
De R$ 10.501 a R$ 14.000 10,7% 18,9% 10,4% 12,9% 9,2%
Mais de R$ 14.000 15,0% 20,8% 15,2% 24,1% 10,8%

Tabela 35 – Classificação socioeconômica e de uso de ônibus por ocupação


128

Toda a Entre 26 e 35 A partir de


Até 25 anos
amostra anos 36 anos
Freq. de uso do ônibus
Nunca 5,0% 3,3% 5,8% 11,7%
1 a 2 x mês 15,0% 11,6% 16,4% 29,2%
1 a 2 x semana 14,6% 12,6% 15,7% 22,1%
3 ou mais x semana 65,4% 72,4% 62,0% 37,0%
Painel nos pontos
Não se aplica 5,0% 3,3% 5,8% 11,7%
Não 83,6% 86,6% 80,7% 74,7%
Sim 11,4% 10,1% 13,5% 13,6%
Sexo
Feminino 40,5% 34,9% 50,0% 51,3%
Masculino 59,5% 65,1% 50,0% 48,7%
Ocupação
Outra 4,5% 0,7% 4,4% 23,4%
Estudo 42,5% 57,5% 22,3% 5,2%
Trabalho / estágio 14,4% 4,3% 25,2% 44,8%
Estudo e trabalho / estágio 38,6% 37,5% 48,2% 26,6%
Escolaridade
Fundamental / Médio * 4,2% 5,3% 0,7% 4,5%
Superior incompleto 54,7% 79,5% 15,3% 3,9%
Superior completo 11,1% 7,1% 16,8% 20,8%
Pós-graduação * 30,0% 8,1% 67,2% 70,8%
* mesmo que incompleto
Automóveis no domicílio
Nenhum 24,3% 20,8% 38,3% 16,2%
1 35,9% 33,3% 37,2% 46,1%
2 26,1% 28,5% 16,8% 31,2%
3 9,0% 12,0% 4,0% 3,2%
4 ou mais 4,7% 5,5% 3,6% 3,2%
Motos no domicílio
Nenhuma 93,8% 94,3% 93,1% 92,9%
1 5,5% 4,9% 6,6% 6,5%
2 0,7% 0,8% 0,4% 0,6%
Renda do domicílio
Até R$ 1.400 6,1% 6,8% 6,6% 1,9%
De R$ 1.401 a R$ 2.800 10,3% 11,5% 9,9% 5,8%
De R$ 2.801 a R$ 4.900 20,4% 21,7% 20,8% 13,0%
De R$ 4.901 a R$ 7.000 18,9% 19,3% 21,2% 13,0%
De R$ 7.001 a R$ 10.500 18,6% 15,4% 22,3% 27,3%
De R$ 10.501 a R$ 14.000 10,7% 10,8% 9,9% 11,7%
Mais de R$ 14.000 15,0% 14,5% 9,5% 27,3%

Tabela 36 – Classificação socioeconômica e de uso de ônibus por idade

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