1. INTRODUÇÃO
A industrialização nos países “periféricos” de um modo geral tem sofrido uma influência
dominante das tecnologias já testadas e vendida em “pacotes” pelos países desenvolvidos. Isso
criou graves distorções, visto que foram aplicadas tecnologias em contextos com estágios de
desenvolvimento, climas, culturas bem distintos daqueles onde essas tecnologias foram geradas.
Uma das conseqüências é o descontrole na instalação de plantas em países
“periféricos”, dando origem a uma capacidade produtiva superior a demanda, o que leva a
queda dos preços de produtos semi - elaborados e intermediários, causando graves problemas
às empresas menos produtivas. (Rattner, 1988)
Nas décadas de 50 e 60, surgem intelectuais nos países “periféricos” que se insurgem e
contestam abertamente esta dependência e subjugação econômico - cultural.
Nas ciências sociais, uma corrente importante e ainda de grande atualidade, desenvolveu
o conceito de redução sociológica. A redução sociológica aparece como a concretização de
uma conduta, de segmentos da população a quem cabe a responsabilidade de liderança de uma
comunidade, de desenvolver e criar um método apropriado, tendo em vista a assimilação crítica
da produção científica universal. (Guerreiro Ramos, 1965)
Na mesma linha de raciocínio, surgiram os pressupostos de modernização. Daí a
conveniência de nos debruçarmos sobre esta concepção tão utilizada na atualidade.
O fenômeno de modernização é também estudado por Guerreiro Ramos (1967). Para
este autor, a modernização abordada por diferentes autores pode ser descrita como algo situado
entre dois pólos de um contínuo, um dos quais é denominado Teoria N e o outro Teoria P.
A Teoria N distingue sociedades desenvolvidas das sociedades em desenvolvimento,
considerando-se as primeiras como sociedades paradigmáticas e nas quais as sociedades
subdesenvolvidas veriam a imagem do seu futuro . Assim, importaria elaborar indicadores de
modernização, para que as ações das pessoas fossem direcionadas para atingir o
desenvolvimento.
Já a Teoria P defende que a dicotomia sociedades desenvolvidas X sociedades em
desenvolvimento não corresponde integralmente a realidades concretas. Deve-se entender
estarem todas as sociedades em processo de desenvolvimento, pois em todas elas coexistem o
atrasado e o moderno. Ao se descobrirem indicadores de modernização, estes só tem sentido se
forem aplicada as possibilidades de desenvolvimento de cada sociedade per si.
Consideramos que a Teoria P engloba os pressupostos teóricos da redução sociológica.
Assim, importava-nos conhecer, para o presente estudo, as concepções assumidas pelas
lideranças empresariais. Estas podem eventualmente alterar o quadro de escolhas de tecnologias
apropriadas ao desenvolvimento auto - sustentado ou alternativo face às tecnologia existentes no
atual quadro da industrialização brasileira.
Pretendemos descobrir, através do trabalho de campo, como os gerentes do topo
visualizavam a modernização e se eles estavam interessados em procurar novas e mais viáveis
formas de aplicação dos recursos existentes. Interessava -nos também saber se sua visão era
unidimensional, ou seja, restrita à dimensão econômica.
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Analisar nas atitudes desses gerentes qual a sua perspectiva face aos condicionantes
existentes, e se foram ensaiados modelos de mudanças tecnológicas que tenham implícitas uma
preocupação pelas diferentes dimensões sócio - culturais de tecnologia.
Objetivos da pesquisa
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Modernização X Modernidade
países periféricos dos centros capitalistas. São sintomas desse quadro, de acordo com Lechner
(1990):
- tendências de integração transnacional que produzem processos de
desintegração nacional;
3. METODOLOGIA
3.1 Universo e amostra
O setor minerador foi escolhido como universo de pesquisa por diferentes razões, entre
as quais:
A escolha das empresas do universo que constituem a amostra obedeceu aos seguintes
critérios:
a) empresas que passaram por mudança tecnológicas nos últimos cinco anos,
refletindo processos e aplicação adaptadas às suas especificidades;
Estas empresas manifestam aos centros de pesquisa, de forma sistemática, interesse por
consultorias, mudanças de processos tecnológicos, aplicações adaptadas às suas especificidades,
qualificação e treinamento do seu corpo técnico, preocupações com questões sócio - culturais e
ecológico - ambientais. Definida da amostra dentro dos critérios pretendidos, o nosso objeto de
estudo foi constituído pelos gerentes diretamente ligados aos processos de mudanças. Segundo
os entrevistados nos centros de pesquisa, foi destacado o papel relevante dos gerentes de
desenvolvimento e planejamento tecnológico como potenciais agentes de mudança nas empresas.
Nos centros de pesquisa, foram aplicadas entrevistas abertas, focando quatro pontos
básicos: fontes de financiamento, empresas mais dinâmicas em pesquisa, confronto entre centros
de pesquisa nacionais e internacionais, a modernização do setor minerador.
O estudo proposto envolveu o uso de fontes primárias e fontes secundárias nas empresas
indicadas pelos centros de pesquisa, e que aceitaram participar no mesmo.
Modelo de Modernização
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TEORIA P TEORIA N
4. APURAÇÃO DE DADOS
DIMENSÕES
Ciência- Economia Sócio- Política Ecológico-
QUESTÕES Tecnologia Cultural Ambiental
Uma escolha
1 Várias escolhas
Uma certeza
2 Várias certezas
Uma solução
3 Várias soluções
Evol. unilinear
4 Múlt. possib.
Alta administ.
5 Várias contrib.
Neutralidade
6 Compromisso
soc. parad.
7 graus diversos
desenvol.
PONTOS Teoria N
TOTAIS
Teoria P
FONTE: criação da autora
Para melhor situarmos cada respondente, propusemos uma pontuação diferente para
cada uma das teorias: um ponto em cada resposta N e dois pontos em cada resposta P. Após
obtermos a pontuação de cada empresa, em cada uma das dimensões, tivemos a posição relativa
de cada uma delas. Foram preenchidos oito quadros correspondentes a cada uma das empresas
entrevistadas.
EMPRESAS
N P N P N P N P N P N P
SAMITRI 2 10 2 10 0 10 0 0 0 10 4 40
SAMARCO 3 8 3 8 0 8 0 0 0 8 6 32
FERTECO 4 6 4 6 0 6 0 0 0 6 8 24
8
MBR 5 4 5 4 0 0 0 0 0 4 10 12
CSN 0 14 0 14 0 14 0 2 0 14 0 58
MORRO VELHO 0 14 0 14 0 14 0 14 0 14 0 70
CBMM 0 14 0 14 0 14 0 14 0 14 0 70
FOSFÉRTIL 2 10 2 10 0 10 0 10 0 10 4 50
FONTE: dados da pesquisa
Pela análise do quadro 3, torna-se por demais evidente que mais da metade dos gerentes
inquiridos nas empresas assinaladas, têm uma percepção e uma atuação dentro das variáveis da
Teoria P de modernização.
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5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
- o mercado;
- disponibilidade de reservas:
- viabilidade econômico - técnica;
- proteção do meio ambiente;
- treinamento e qualificação regular dos técnicos;
- segurança e higiene dos trabalhadores;
- concorrência;
- prolongamento da vida das reservas;
- observância das normas padrão de qualidade total, ISO 9000 e 9002.
Na maioria das empresas, os gerentes dão atenção a todos os fatores apontados, como
forma de sobrevivência no mercado e proteção das reservas para as futuras gerações.
Aparecem como excepção a Samarco, Samitri e Ferteco, onde há forte incidência sobre
os três fatores.
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Observa-se por parte da maioria dos gerentes, uma tendência para uma atuação
atendendo ao compromisso social da empresa no seu contexto.
- não basta implantar a tecnologia mais avançada para o setor. Pensamos ser
necessário que todos os atores organizacionais usufruam os benefícios daí decorrentes ao invés
do treinamento e desenvolvimento da qualificação de apenas grupos restritos de técnicos;
- atribuição ao Estado de todas as responsabilidades dos problemas econômicos
- sociais do País, subestimando o papel e a responsabilidade social da instalação de usinas nas
comunidades;
Os projetos de reflorestamento e minimização da depredação ambiental devem sair do
papel e constituir uma prática corrente da maioria das empresas estudadas, embora já façam
parte da sua filosofia.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GARCIA, Ramon M. Tecnologia Apropriada: amiga ou inimiga oculta? Rev. Adm. Emp. Riode
janeiro: FGV, v.27, n.3, p.26-38, Jul/Set., 1987.
PAIVA, Vanilda. Simpósio Guerreiro Ramos: resgatando uma obra. Rev. Adm. Pub., Rio de
Janeiro: Zahar, 1991.
RATTNER, Henrique. Política Industrial: projeto social brasileiro. São Paulo, 1988.