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A modernização versus modernidade na indústria mineradora *

1. INTRODUÇÃO
A industrialização nos países “periféricos” de um modo geral tem sofrido uma influência
dominante das tecnologias já testadas e vendida em “pacotes” pelos países desenvolvidos. Isso
criou graves distorções, visto que foram aplicadas tecnologias em contextos com estágios de
desenvolvimento, climas, culturas bem distintos daqueles onde essas tecnologias foram geradas.
Uma das conseqüências é o descontrole na instalação de plantas em países
“periféricos”, dando origem a uma capacidade produtiva superior a demanda, o que leva a
queda dos preços de produtos semi - elaborados e intermediários, causando graves problemas
às empresas menos produtivas. (Rattner, 1988)
Nas décadas de 50 e 60, surgem intelectuais nos países “periféricos” que se insurgem e
contestam abertamente esta dependência e subjugação econômico - cultural.
Nas ciências sociais, uma corrente importante e ainda de grande atualidade, desenvolveu
o conceito de redução sociológica. A redução sociológica aparece como a concretização de
uma conduta, de segmentos da população a quem cabe a responsabilidade de liderança de uma
comunidade, de desenvolver e criar um método apropriado, tendo em vista a assimilação crítica
da produção científica universal. (Guerreiro Ramos, 1965)
Na mesma linha de raciocínio, surgiram os pressupostos de modernização. Daí a
conveniência de nos debruçarmos sobre esta concepção tão utilizada na atualidade.
O fenômeno de modernização é também estudado por Guerreiro Ramos (1967). Para
este autor, a modernização abordada por diferentes autores pode ser descrita como algo situado
entre dois pólos de um contínuo, um dos quais é denominado Teoria N e o outro Teoria P.
A Teoria N distingue sociedades desenvolvidas das sociedades em desenvolvimento,
considerando-se as primeiras como sociedades paradigmáticas e nas quais as sociedades
subdesenvolvidas veriam a imagem do seu futuro . Assim, importaria elaborar indicadores de
modernização, para que as ações das pessoas fossem direcionadas para atingir o
desenvolvimento.
Já a Teoria P defende que a dicotomia sociedades desenvolvidas X sociedades em
desenvolvimento não corresponde integralmente a realidades concretas. Deve-se entender
estarem todas as sociedades em processo de desenvolvimento, pois em todas elas coexistem o
atrasado e o moderno. Ao se descobrirem indicadores de modernização, estes só tem sentido se
forem aplicada as possibilidades de desenvolvimento de cada sociedade per si.
Consideramos que a Teoria P engloba os pressupostos teóricos da redução sociológica.
Assim, importava-nos conhecer, para o presente estudo, as concepções assumidas pelas
lideranças empresariais. Estas podem eventualmente alterar o quadro de escolhas de tecnologias
apropriadas ao desenvolvimento auto - sustentado ou alternativo face às tecnologia existentes no
atual quadro da industrialização brasileira.
Pretendemos descobrir, através do trabalho de campo, como os gerentes do topo
visualizavam a modernização e se eles estavam interessados em procurar novas e mais viáveis
formas de aplicação dos recursos existentes. Interessava -nos também saber se sua visão era
unidimensional, ou seja, restrita à dimensão econômica.
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Analisar nas atitudes desses gerentes qual a sua perspectiva face aos condicionantes
existentes, e se foram ensaiados modelos de mudanças tecnológicas que tenham implícitas uma
preocupação pelas diferentes dimensões sócio - culturais de tecnologia.

Objetivos da pesquisa

Foi objetivo deste trabalho pesquisar o grau de influência de características da redução


sociológica em atitudes de liderança de empresas ligadas à busca de mudanças tecnológicas
adaptadas às especificidades do setor a ser estudado.
Após a descrição do objetivo geral do trabalho, destacam-se como objetivos
específicos:
a) Descobrir características de redução sociológica presentes na percepção e
atuação de gerentes do topo;

b) Relacionar características significativas da incorporação da redução


sociológica com os pressupostos da Teoria N e Teoria P de modernização na
atuação dos gerentes;

c) Verificar se existe convergência na atuação dos gerentes entre os pressupostos


da Teoria P e a capacidade de influir sobre mudanças tecnológicas;

d) Analisar os impactos dos pressupostos das Teorias P e N inseridos na atuação


de institutos de pesquisa e instituições governamentais de fomento tecnológico sobre
as empresas em estudo.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Com base em contribuições de alguns autores, a escolha de tecnologias deveria


considerar a convergência e harmonização de diferentes variáveis para o desenvolvimento
econômico: científico - tecnológicas, econômicas, sociais, culturais, políticas e ecológicas, tendo
em vista não só o crescimento do bem estar de toda a população, como o desenvolvimento auto
- sustentado e de longo prazo. Para levar tal opção, torna -se indispensável a criação de
alterações administrativas e metodológicas no interior das organizações. (Garcia, 1987)

2.1 A contribuição de Guerreiro Ramos e a Teoria de redução sociológica

O conceito da redução sociológica aparece nos anos 50 por meio de intelectuais do


Instituto de Sociologia e Estudos Brasileiros - ISEB. Estes sofreram forte influência do
existencialismo e tentaram “reduzir” o mesmo, do plano do indivíduo para o plano da nação. A
necessidade de criar uma ideologia adaptada às condições brasileiras, levou os teóricos a
tentarem desenvolver um tipo de racionalização traduzido por metas e etapas de desenvolvimento
que se concretizaram no nacional desenvolvimentismo. (Paiva, 1983)

Assim, a redução sociológica é fruto de:


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- uma necessidade social de uma comunidade no caminho de edificação do seu


próprio processo evolutivo não deixando de lado as experiências adquiridas em
outras comunidades;
- um esforço de encontrar um método que conduza a uma sistematização da
assimilação da produção científica exógena.

“A prática de transplantações literais, largamente realizada


nos países de formação colonial como o Brasil, implica a concepção
ingênua de que os produtos culturais produzem os mesmos efeitos em
qualquer contexto”. (Guerreiro Ramos, 1965:107)

2.2 A importância da teoria da modernização e os pressupostos da Teoria N e Teoria P

Os autores que haviam tratado de modernização até ao estudo de Guerreiro Ramos,


foram posicionados pelo autor num contínuo cujos pólos correspondem a Teorias N e P. A
Teoria N entende como pressuposto de modernização a lei de necessidade histórica, que leva
a sociedade a tentar alcançar o estágio em que se encontram as chamadas sociedades
desenvolvidas. Estas sociedades representam, para as chamadas sociedades “em
desenvolvimento”, a imagem de seu futuro. (Guerreiro Ramos, 1967)
Os teóricos da Teoria N usam dicotomias para representar seus modelos: “nações
desenvolvidas” versus “nações em desenvolvimento”; sociedades “paradigmas” versus
sociedades “seguidoras”. Assim, os que se referem aos “obstáculos ao desenvolvimento” ou
“pré - requisitos para a modernização” acabam ficando condicionados pelos pressupostos
determinísticos da Teoria N, ou seja, segue m um rígido arquétipo de modernização que
seentificava com o estágio da Europa Ocidental ou dos Estados Unidos.
Já a Teoria P, por seu turno, considera dois aspectos básicos na noção de modernização:
a) Parte do pressuposto de que a “modernidade” não se encontra localizada num
lugar qualquer do mundo e que o processo de modernização não deve seguir qualquer modelo
pré - determinado;

b) Qualquer nação terá sempre possibilidade próprias de modernização e sua


efetivação não pode ser colocada em uso pela sobreposição de qualquer modelo normativo
rígido e completamente alheio àquelas possibilidades.

Modernização X Modernidade

Podemos encontrar em autores mais recentes diferenças entre os conceitos de


modernização e modernidade. A modernização, segundo Lechner (1990), é a racionalidade
instrumental e sua evolução opõe-se à modernidade que é considerada a racionalidade
substantiva, ou seja, categoria mais ligada à autodeterminação política e autonomia de valores.
A modernização teria a ver com a previsibilidade e o controle dos processos sociais e
naturais. Para o autor, a relação entre ambas ocasiona uma tensão permanente, uma constante da
época moderna.
A questão colocada seria a compatibilização entre a modernização e a modernidade, o
que é um processo contraditório e denota um dilema em que se encontram submergidos os
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países periféricos dos centros capitalistas. São sintomas desse quadro, de acordo com Lechner
(1990):
- tendências de integração transnacional que produzem processos de
desintegração nacional;

- potencialização da tensão entre modernização e modernidade que divide


os seus âmbitos institucionais.

Deste modo, as expressões próprias da modernização, como o mercado e


desenvolvimento científico - tecnológico, aparecem como mecanismos tópicos de integração
transnacional e, por outro lado, as instituições de modernidade, o estado democrático, acabam
dizendo respeito a uma esfera nacional.
As categorias da racionalidade técnico - instrumental ligadas ao custo - benefício, se
manifestam na eficiência, produtividade e competitividade.
Os valores da racionalidade substantiva têm a ver com a soberania popular, direitos
humanos (cidadania) e ecologia que deveriam ser normas universais. Lechner (1990) assinala que
a modernidade sofre um déficit institucional ao enfrentar a dinâmica colocada pela modernização
nos países periféricos.

3. METODOLOGIA
3.1 Universo e amostra
O setor minerador foi escolhido como universo de pesquisa por diferentes razões, entre
as quais:

- o estado de MG é a região brasileira com maior tradição e expressão na


produção mineral - mais de 50% do seu PIB é representado pela mineração e
pela indústria transformadora dos seus bens minerais (IBRAM, 1992);

- interesse em conhecer a evolução da tecnologia da extração mineral, que se


traduz no grande desenvolvimento de Geologia (pesquisa mineral), engenharia de
minas (lavras e tratamento de minerais) e tecnologia mineral em geral (novos
minerais, novos usos, reciclagem, etc);

- utilização no país de origem da autora - Moçambique.

A escolha das empresas do universo que constituem a amostra obedeceu aos seguintes
critérios:

a) empresas que passaram por mudança tecnológicas nos últimos cinco anos,
refletindo processos e aplicação adaptadas às suas especificidades;

b) demanda freqüente por novas rotas tecnológicas com o apoio de centros


de pesquisa;
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c) desenvolvimentos de programas de pesquisa a médio e longo prazo;

d) competitividade no mercado interno e externo;

e) característica de tamanho, faturamento e produção semelhantes.

Realizamos entrevistas e consultas com as seguintes instituições:

- Fundação Centro Tecnológico do Estado de MG. CETEC / MG;


- Departamento de Minas da Escola de Engenharia da UFMG;
- Comissão Nacional de Energia Nuclear, CNEN / UFMG;
- Departamento Nacional de Produção Mineral, DNPM;
- Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado de Minas Gerais.

As diferentes informações obtidas salientaram aspectos relevantes que apoiaram uma


seleção prévia para o estudo amostral pretendido.
Os centros de pesquisa assinalaram no universo do setor minerador as seguintes
empresas:

- Samarco, Samitri, CSN - Mineração Casa da Pedra, Mineração Morro Velho,


MBR, CVRD Km 14, CBMM, Ferteco, Fosfértil e Arafértil.

Estas empresas manifestam aos centros de pesquisa, de forma sistemática, interesse por
consultorias, mudanças de processos tecnológicos, aplicações adaptadas às suas especificidades,
qualificação e treinamento do seu corpo técnico, preocupações com questões sócio - culturais e
ecológico - ambientais. Definida da amostra dentro dos critérios pretendidos, o nosso objeto de
estudo foi constituído pelos gerentes diretamente ligados aos processos de mudanças. Segundo
os entrevistados nos centros de pesquisa, foi destacado o papel relevante dos gerentes de
desenvolvimento e planejamento tecnológico como potenciais agentes de mudança nas empresas.

3.2 Coleta de dados

Nos centros de pesquisa, foram aplicadas entrevistas abertas, focando quatro pontos
básicos: fontes de financiamento, empresas mais dinâmicas em pesquisa, confronto entre centros
de pesquisa nacionais e internacionais, a modernização do setor minerador.

O estudo proposto envolveu o uso de fontes primárias e fontes secundárias nas empresas
indicadas pelos centros de pesquisa, e que aceitaram participar no mesmo.

Foi aplicado um roteiro de entrevistas, operacionalizado pela visão dicotômica de


modernização. (Guerreiro Ramos, 1967)

Modelo de Modernização
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No quadro abaixo destacam-se sete questões significativas da visão dicotômica de


modernização, a partir das quais se desenvolveu o roteiro das entrevistas.
O nosso objetivo ao usar este modelo teve um sentido puramente didático, visando
apenas encontrar um guia teórico de apoio à pesquisa de campo, tentando visualizar as
tendências existentes e se as mesmas se prendiam mais às variáveis da Teoria N ou às da Teoria
P.

Quadro 1 - Modelo de Modernização

TEORIA P TEORIA N

1. UMA ESCOLHA 1. VÁRIAS ESCOLHAS


2. CERTEZA ABSOLUTA 2. GRAUS VARIÁVEIS DE CERTEZA
3. LIMITES HUMANOS AO CONHECI-MENTO 3. CONHECIMENTO LIMITADO CON-DUZ A
COMPLETO DA ESCOLHA PERFEITA DIFERENTES ALTERNATIVAS VIÁVEIS
4. PROCESSO DE EVOLUÇÃO UNILI-NEAR 4. MÚLTIPLAS POSSIBILIDADES DE EVOLUÇÃO
5. ESTABELECER REQUISITOS PARA REALIZAÇÃO
5. DESCOBERTA DE MÚLTIPLAS POS-SIBILIDADES
DA OPÇÃO PERFEITA PARA CONTRIBUI-ÇÕES DIFERENCIADAS DOS
ATO-RES SOCIAIS
6. NEUTRALIDADE DO CIENTISTA 6. COMPROMISSO SOCIAL DOS ATO-RES
7. MODELO PARAGMÁTICO DE SOCIE-DADES 7. TODAS AS SOCIEDADES ESTÃO EM CONSTANTE
DESENVOLVIDAS DESENVOLVIMENTO
Elaborado a partir da teoria de modernização de Guerreiro Ramos, Alberto. A modernização em nova
perspectiva: em busca do modelo de possibilidade . Rev. Adm. Emp., Rio de Janeiro, FGV / EBAP, v.2, n.2, p.7-
44, 1967.

Pretendemos comprovar as seguintes hipóteses;

1º - Verifica-se a preferência dos gerentes por variáveis da Teoria P,


tanto nas suas percepções, quanto em sua atuação nas organizações ;

2º - As percepções dos gerentes demonstram preferência pelas variáveis


da Teoria P, mas suas ações estão ligadas com maior freqüência a variáveis da Teoria
N.

4. APURAÇÃO DE DADOS

Para apuração de dados por empresa, construímos o quadro 2, de dupla entrada. No


eixo vertical colocamos as sete questões do roteiro de entrevistas em sua divisão dicotômica. No
eixo horizontal, destacamos as cinco dimensões a atender nas escolhas de tecnologias. A
evolução destas dimensões apresenta caráter cumulativo, no processo de modernização de cada
país, de acordo com as características de redução sociológica inerentes ao nosso modelo.
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QUADRO 2 - APURAÇÃO DE DADOS POR EMPRESA

DIMENSÕES
Ciência- Economia Sócio- Política Ecológico-
QUESTÕES Tecnologia Cultural Ambiental
Uma escolha
1 Várias escolhas
Uma certeza
2 Várias certezas
Uma solução
3 Várias soluções
Evol. unilinear
4 Múlt. possib.
Alta administ.
5 Várias contrib.
Neutralidade
6 Compromisso
soc. parad.
7 graus diversos
desenvol.

PONTOS Teoria N
TOTAIS
Teoria P
FONTE: criação da autora

Para melhor situarmos cada respondente, propusemos uma pontuação diferente para
cada uma das teorias: um ponto em cada resposta N e dois pontos em cada resposta P. Após
obtermos a pontuação de cada empresa, em cada uma das dimensões, tivemos a posição relativa
de cada uma delas. Foram preenchidos oito quadros correspondentes a cada uma das empresas
entrevistadas.

Em seguida, procedemos à análise comparativa dos resultados nas empresas


pesquisadas, construindo o quadro 3, que permite a comparação da pontuação obtida em cada
uma das dimensões.
QUADRO 3- PONTUAÇÃO POR EMPRESAS
DIMENSÕES
Ciência- Economia Sócio- Política Ecológico- TOTAIS
Tecnologia Cultural Ambiental

EMPRESAS
N P N P N P N P N P N P
SAMITRI 2 10 2 10 0 10 0 0 0 10 4 40
SAMARCO 3 8 3 8 0 8 0 0 0 8 6 32
FERTECO 4 6 4 6 0 6 0 0 0 6 8 24
8

MBR 5 4 5 4 0 0 0 0 0 4 10 12
CSN 0 14 0 14 0 14 0 2 0 14 0 58
MORRO VELHO 0 14 0 14 0 14 0 14 0 14 0 70
CBMM 0 14 0 14 0 14 0 14 0 14 0 70
FOSFÉRTIL 2 10 2 10 0 10 0 10 0 10 4 50
FONTE: dados da pesquisa

Como se vê no quadro 3, a pontuação total na Teoria P foi obtida pelas seguintes


empresas:

- CBMM e MINERAÇÃO MORRO VELHO

Seguem-se, por ordem decrescente de pontuação na Teoria P:


- CSN - Mineração Casa da Pedra, com 58 pontos;
- FOSFÉRTIL, com 50 pontos;
- SAMITRI, com 40 pontos;
- SAMARCO, com 32 pontos;
- FERTECO, com 24 pontos;
- MBR, com 12 pontos.

Podemos assinalar algumas características comuns nas empresas que atingiram a


totalidade da pontuação na teoria P:

- mercado cativo e / ou mercado controlado pela própria empresa;

- as empresas anteciparam-se à legislação na recuperação do meio - ambiente


depredado (início da década de 70);

- preocupação centrada em todos os aspectos relacionados com as dimensões


do nosso modelo.

Relativamente às restantes empresas, estas estão ainda demasiado ligadas às dimensões


tecnológicas e econômicas, em graus diversos, como se pode ver pela pontuação total obtida.
Por outro lado, parece-nos evidente, pela pontuação obtida na Teoria N, que esta
corresponde muito pouco às percepções dos gerentes na atualidade. Contudo, em casos bem
delimitados, é possível constatar algumas atuações com certas características da Teoria N.
Pelo quadro 3, também é notória nas primeiras cinco empresas registradas, uma falha
muito grande das questões correspondentes à dimensão política. Verificamos que apenas três
empresas - Morro Velho, CBMM e FOSFÉRTIL - se preocupam com questões ligadas à auto
- suficiência criada por uma filosofia conhecida entre os trabalhadores e às inovações criadas
com vista à redução da dependência externa.

Pela análise do quadro 3, torna-se por demais evidente que mais da metade dos gerentes
inquiridos nas empresas assinaladas, têm uma percepção e uma atuação dentro das variáveis da
Teoria P de modernização.
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Deste modo, é verdadeira a hipótese apresentada, isto é:


“Verifica-se a preferência dos gerentes por variáveis da teoria P, tanto
nas suas percepções, quanto em sua atuação nas organizações.”

5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Como resultado d amostra dos gerentes pesquisada, podemos concluir:

a) Quanto aos critérios que estiveram na origem das mudanças


As chefias / alta administração definem, quase sempre, o momento de aplicação
das mudanças tecnológicas. Por vezes, este processo é realizado em parceria com outras
empresas e com instituições de pesquisa;

- as sugestões são aceitas na medida e que não se oponham à rentabilidade da


organização como um todo, tal como se detectou na Samarco, Samitri e Ferteco;

- as mudanças tecnológicas no setor minerador são resultantes de exigências do


mercado, seminários e descobertas realizadas no dia - a - dia pelos técnicos das empresas, como
se observou na Fosfértil, CBMM, CSN.

Deste modo, é consenso entre os gerentes, de que os processos de aplicação de


mudanças tecnológica se baseiam em diferentes contribuições dos diferentes atores
organizacionais.

b) Quanto aos fatores mais influenciadores nos processos de mudanças:

- o mercado;
- disponibilidade de reservas:
- viabilidade econômico - técnica;
- proteção do meio ambiente;
- treinamento e qualificação regular dos técnicos;
- segurança e higiene dos trabalhadores;
- concorrência;
- prolongamento da vida das reservas;
- observância das normas padrão de qualidade total, ISO 9000 e 9002.

Na maioria das empresas, os gerentes dão atenção a todos os fatores apontados, como
forma de sobrevivência no mercado e proteção das reservas para as futuras gerações.
Aparecem como excepção a Samarco, Samitri e Ferteco, onde há forte incidência sobre
os três fatores.
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Observa-se por parte da maioria dos gerentes, uma tendência para uma atuação
atendendo ao compromisso social da empresa no seu contexto.

c) Quanto às conseqüências das escolhas feitas:

- melhor aparelhamento dos Recursos Humanos;


- busca de especialistas dotados de embasamento teórico para conjugar variáveis
de produção, de reservas minerais e de pesquisa;
- criação de centros de treinamento das empresas;
- treinamento interno e em instalações de terceiros;
- aumento substancial, nos anos 80, de investimentos na recuperação ambiental;
- disputa do mercado concorrencial com estratégias adequadas;
- introdução do sistema de qualidade total;
- padrões de administração com base no que se faz de mais moderno no mundo;
- criação de economias de escala, com base no acréscimo da qualidade e
produtividade.

d) Quanto à percepção do Brasil para se tornar um país moderno, foi ressaltado


que:

- se priorize a educação do povo e se retirem as crianças marginalizadas da rua, e


a luta contra os privilégios dos políticos e da classe alta seja uma constante;
- O Estado privatize todas as empresas e abarque todos os setores sociais com
especial realce para a educação e saúde;
- as desigualdades regionais sejam eliminadas através de uma revolução cultural;
- se minimizem os fortes contrastes criados pela grande concentração de renda,
usando-se mecanismos fiscais e outros;
- a classe política resgate a conduta ética, eliminando práticas corruptas e
comportamentos avessos à moralidade pública tão usuais nas elites políticas do País.

Podemos concluir que, uma modernização de acordo com os pressupostos da Teoria P


poderia levar a compatibilização da racionalidade instrumental e substantiva, eliminando o
processo contraditório e a tensão permanente, dilema em que se encontram submergidos os
países periféricos , comprometendo o seu desenvolvimento equilibrado.
Os pressupostos da Teoria P favorecem a evolu ção das categorias de modernidade -
soberania, cidadania, direitos humanos, estado democrático. Por seu turno, as categorias de
modernização - mercado, desenvolvimento científico - tecnológico e as diferentes dimensões
tecnologia apareciam como aliadas e não fomentadoras de conflito.
Deste modo, a integração transnacional poder-se-ia efetuar sem ruptura / conflito, como
ocorre quando se encara a modernização segundo os pressupostos da Teoria N.
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Recomendações finais e sugestões

O processo de coordenação, iniciado em Maio de 1992, entre centro de pesquisas e


empresas se dinamize, evitando-se descurar a capacitação tecnológica interna existente.
Sugere-se a criação de um consórcio entre os centros de pesquisa que possibilite a
pesquisa a médio e longo prazos.
Sobre alguns aspectos da Teoria N, ainda patentes, ressaltamos;

- não basta implantar a tecnologia mais avançada para o setor. Pensamos ser
necessário que todos os atores organizacionais usufruam os benefícios daí decorrentes ao invés
do treinamento e desenvolvimento da qualificação de apenas grupos restritos de técnicos;
- atribuição ao Estado de todas as responsabilidades dos problemas econômicos
- sociais do País, subestimando o papel e a responsabilidade social da instalação de usinas nas
comunidades;
Os projetos de reflorestamento e minimização da depredação ambiental devem sair do
papel e constituir uma prática corrente da maioria das empresas estudadas, embora já façam
parte da sua filosofia.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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janeiro: FGV, v.27, n.3, p.26-38, Jul/Set., 1987.

GUERREIRO RAMOS, Alberto. Redução sociológica: introdução ao estudo da razão


sociológica. 2 ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1965.

GUERREIRO RAMOS, Alberto. A modernização em nova perspectiva: em busca do


modelo e possibilidade. Rev. Adm. Pub., Rio de Janeiro, FGV / EBAP, v.1, n.2, p.7-44,
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LECHNER, Norbert. A modernidade e a modernização são compatíveis? O desafio da


democratização americana. Lua Nova, n.21, p.73-86, Set. 1990.

MINERAÇÃO DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE. Belo Horizonte, DNPM /


IBRAM, 1992.

PAIVA, Vanilda. Simpósio Guerreiro Ramos: resgatando uma obra. Rev. Adm. Pub., Rio de
Janeiro: Zahar, 1991.
RATTNER, Henrique. Política Industrial: projeto social brasileiro. São Paulo, 1988.

* Artigo com base na dissertação de mestrado: Modernização x modernidade- mudanças


tecnológicas no setor minerador CEPEAD/UFMG, Belo Horizonte, 1992

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