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1 Objetivos
Esse experimento tem como objetivo estudar as caracterı́sticas da radiação emitida por um corpo
aquecido em diferentes temperaturas e reproduzir a lei da radiação de Planck.
2 Introdução
Em geral, o espectro da radiação térmica emitido por um objeto aquecido depende da sua composição.
Entretanto, a experiência mostra que é possı́vel idealizar um objeto aquecido que emite um espectro
de caráter universal. Trata-se do corpo negro, que são corpos cujas superfı́cies absorve toda a radiação
térmica que neles incidem. Todos os corpos negros, numa temperatura T , emitem radiação térmica de
mesmo espectro.
Um corpo negro pode ser idealizado por uma cavidade ressonante dotada de um pequeno orifı́cio.
Praticamente, toda a radiação que vem do meio externo e que entra na cavidade através do orifı́cio,
não conseguindo sair dela, acaba sendo absorvida pelas suas paredes. Por causa das agitações térmicas,
as partı́culas carregadas que compõem as paredes da cavidade ressonante oscilam e produzem radiação
térmica. A radiação térmica emitida através do orifı́cio da cavidade ressonante é denominada de radiação
de cavidade e tem caracterı́stica espectral de radiação de corpo negro. A figura 1 mostra o comporta-
mento experimental da radiância espectral RT (λ) em função do comprimento de onda λ, para diferentes
temperaturas T , caracterı́stico de um corpo negro tı́pico.
1
Lei de Stefan-Boltzmann e Lei do deslocamento de Wien
Em 1879, Josef Stefan usando argumentos empı́ricos, mais tarde demonstrados teoricamente por Ludwig
Edward Boltzmann, propôs que a radiância total de um corpo negro fosse proporcional a quarta potência
da temperatura T , isto é,
RT = σT 4 (1)
Esta equação é conhecida como lei de Stefan-Boltzmann, onde σ = 5,67 × 10−8 W/(m2 K4 ) é denominado
de constante de Stefan-Boltzmann.
Em 1893, usando argumentos da termodinâmica, Wilhelm Carl Werner Otto Fritz Franz Wien mostrou
que o valor do comprimento de onda λmax , para o qual a radiância espectral RT é máxima, é inversamente
ao valor da temperatura T , isto é,
1
λmax ∝ (2)
T
A constante de proporcionalidade desta equação é conhecida como constante de Wien e foi obtida ex-
perimentalmente, tal que λmax T = 2,9 × 10−3 mK. Esse comportamento ficou conhecido como ”lei do
deslocamento de Wien”, pois observa-se desvio do vermelho para o azul do deslocamento do valor máximo
de RT no espectro da radiação térmica, como mostra a figura 1.
Contudo, tanto a lei de Stefan-Boltzmann como a lei do deslocamento de Wien, baseadas na Termo-
dinâmica, não conseguiam explicar a radiação do corpo negro, pois, de acordo com essas leis, para grandes
valores de λ a radiância espectral RT tenderia ao infinito. Isto não é o que se observado experimentalmente.
Teoria de Rayleigh-Jeans
Uma outra tentativa de explicação da radiação do corpo negro, desta vez baseada na Teoria Eletro-
magnética, foi proposta por John William Strutt Rayleigh e James Hopwood Jeans, associando-se a luz
à vibração das moléculas que compõem as paredes internas da cavidade. Eles utilizaram a teoria clássica
para estudar a densidade de energia da radiação de cavidade, ou de corpo negro. O espectro de radiação
emitido através do orifı́cio pode ser definido por uma radiância espectral RT (ν), onde ν = λc é a frequência
da luz emitida. Entretanto, é mais útil definir o espectro de radiação em termos de uma densidade de
energia ρT (ν) contida no interior da cavidade ressonante.
A densidade de energia espectral ρT (ν) num intervalo de frequências entre ν e ν +dν, pode ser calculada
contando o número de modos eletromagnéticos Dν (ν)dν, no mesmo intervalo de frequências, multiplicando
o valor pela energia hεi de cada modo e dividindo o resultado pelo volume V da cavidade:
Dν (ν)dν
ρT (ν)dν = hεi (3)
V
A função Dν (ν) define o número de modos ν por unidade de intervalo de frequência dν e é denominado
de densidade de estados eletromagnéticos.
A partir das propriedades básicas do eletromagnetismo clássico, é possı́vel calcular os modos eletro-
magnéticos discretos associados às ondas eletromagnéticas estacionárias confinadas no interior da cavidade
ressonante. Dessa forma, obtem-se:
8πV 2
Dν (ν)dν = ν dν (4)
c3
onde c = 3,00 × 108 m/s é a velocidade da luz e a eq.(3) se torna:
8πν 2
ρT (ν)dν = hεidν (5)
c3
Do ponto de vista da teoria clássica, a energia média total hεi tem o mesmo valor para todos os
modos eletromagnéticos na cavidade, independentemente de suas frequências ν. No equilı́brio térmico,
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em média, as contribuições da energia cinética e potencial para a energia total, são iguais a 12 kB T , onde
kB = 1,38 × 10−23 J/K é a constante de Boltzmann. Logo, nessas condições, a energia média total será
hεi = kB T . Substituindo esse valor na eq.(5), obtem-se:
8πν 2
ρT (ν)dν = kB T dν (6)
c3
Esta equação é conhecida como a teoria de Rayleigh-Jeans para a radiação de corpo negro. Ao contrário
das leis de Stefan-Boltzmann e do deslocamento de Wien (Termodinâmica), a teoria proposta por Rayleigh
e Jeans (Teoria Eletromagnética) discorda dos resultados experimentais para altas frequências, ou pequenos
valores de λ.
ou seja, a energia total média tende a kB T , como na teoria clássica, quando a frequência tende a zero, mas
tende a zero quando a frequência tende ao infinito.
Planck observou que, em vez de assumir valores contı́nuos, a energia ε deveria assumir somente valores
discretos distribuı́dos uniformemente como ε = 0; 1∆ε; 2∆ε; 3∆ε..., onde ∆ε é uma porção constante
obtida da diferença entre valores consecutivos da energia. Usando essa energia discreta para encontrar o
princı́pio da equipartição da energia, observa-se que quando ∆ε kB T , o valor de hεi ≈ kB T , isto é,
praticamente igual ao resultado clássico. Por outro lado, quando ∆ε kB T , hεi ≈ 0, reproduzindo o
resultado experimental da radiação do corpo negro. Como Planck precisava obter o primeiro resultado
para baixas frequência ν e o segundo para grandes valores de ν, então propôs que o valor hεi deveria ser
proporcional a ν, tal que:
hεi = hν (8)
onde onde h é a constante de proporcionalidade, conhecida como a constante de Planck. Cálculos poste-
riores permitiram que Planck determinasse o valor de h, ajustando resultados teóricos com dados experi-
mentais, obtendo h = 6,63 × 10−34 Js.
Assumindo hεi = nhν, com n = 1, 2, 3..., no cálculo da distribuição de partı́culas clássicas de Boltz-
mann, que dá origem ao princı́pio da equipartição da energia, obtém-se:
hν
hεi = (9)
ehν/kB T
−1
Substituindo-se esta energia média (eq.(9)) na densidade de energia espectral ρT (ν) dada pela eq.(5),
obtém-se a densidade de energia no intervalo de frequências entre ν e ν + dν que descreve o espectro de
um corpo negro de acordo com o modelo quântico de Planck, como:
8πh ν3
ρT (ν)dν = 3 hν/k T dν (10)
c e B −1
Este resultado está de acordo com os resultados experimentais.
A lei de Stefan-Boltzmann, dada na eq.(1), e a lei do deslocamento de Wien, dada na eq.(2), podem
ser obtidas a partir da fórmula de Planck. Nestes casos, é conveniente tratar o espectro de corpo negro
em termos de comprimento de onda λ em vez de frequência ν.
3
Como ν = c/λ, então dν/dλ = −c/λ2 . De um modo geral, para quaisquer funções F (λ) e F (ν), a
transformação é dada por:
λ2
F (ν) = F (λ) (11)
c
Usando a transformação dada pela eq.(11) na função da densidade de energia espectral ρT (ν) descrita
na eq.(10), esta se torna:
8πhc 1
ρT (λ)dλ = 5 hc/λk
dλ (12)
λ e BT − 1
A lei de Stefan-Boltzmann pode ser obtida integrando a fórmula de Planck (eq.(12)) sobre todo o
espectro de comprimento de onda λ. A lei do deslocamento de Wien pode ser obtida encontrando o ponto
de máximo da função ρT (λ), fazendo:
ρT (λ)
=0 (13)
dλ
cujo resultado é
hc
λmax T = ≈ 2,898 × 10−3 mK (Lei de Wien) (14)
4,965kB
3 Aparato Experimental
O experimento da radiação do Corpo Negro consiste basicamente de uma fonte de luz em uma cavidade
escura (idealizada como o corpo negro) na qual existe um pequeno orifı́cio pelo qual a luz sai. A luz é
colimada por uma fenda colimadora e em seguida focalizada em um prisma onde é difratada, separando
os comprimentos de onda λ e formando assim um espectro de cores, desde a região do IR até UV.
Com o auxı́lio de um espectrofotômetro prisma, a intensidade da luz é medida em função do ângulo de
espalhamento. Esse procedimento é feito manualmente variando-se lentamente a posição do sensor de luz
frente ao espectro da luz difratada pelo prisma. Todo o espectro desde λ = 400 a 2500 nm, aproximada-
mente, é captado pelo sensor e digitalizado. Os comprimentos de onda para os ângulos correspondentes
são calculados utilizando as equações para um espectrofotômetro prisma. A intensidade relativa de luz
pode então ser representada graficamente como uma função do comprimento de onda à medida em que o
espectro da luz é varrido pelo sensor, gerando a curva caracterı́stica de corpo negro.
À medida em que a intensidade da luz da lâmpada aumenta, a temperatura da cavidade também
aumenta. Assim, repetindo-se a medida é possı́vel verificar como o pico da curva, correspondente ao λmax ,
varia com o aumento da temperatura. A temperatura T do filamento de tungstenio da lâmpada pode ser
estimada indiretamente através da determinação da resistência do filamento através da medida da tensão
e da corrente aplicada. A restsitência R é dada por:
R = R0 [1 − α0 (T − T0 )] (15)
onde R0 = 0,84Ω é a resistência do filamento à temperatura ambiente, T0 = 300 K, e α0 = 4,5 × 10−3 K−1
é o coeficiente térmico do tungstênio à temperatura ambiente. Isolando T , temos:
R
R0
−1
T = T0 + (16)
α0
Experimentalmente, o valor de R pode ser determinado a partir da Lei de Ohm, V = RI, medindo-se os
valores de V e I no filamento e substituı́ndo na equação 16.
Este equipamento possui dois sensores ligados à interface computacional (programa DataStudio): i )
sensor de luz, que capta a intensidade da luz do espectro, e ii ) sensor de movimento de rotação, resposável
pela leitura do ângulo relativo entre a direção da luz e o sensor de luz.
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4 Procedimento, Dados e Análises Experimentais
4. Verifique as taxas de leitura dos sensores: Sensor de Luz e Sensor de Movimento de Rotação = 100
Hz.
4.2 Medidas
5. Ajuste a fenda colimadora para #4. Ajuste a fenda do sensor de luz para #1 (0,1 mm).
6. No programa Pasco Capstone, encontre a janela Gerador de Sinais e mude a tensão CC para 10 V
DC.
CUIDADO: Se 10 volts for aplicado no filamento luz de corpo negro por um longo perı́odo, a
vida útil do bulbo será reduzida. Apenas ligue a lâmpada quando estiver coletando dados.
Não exceda 10 V !.
7. Gire o braço do sensor e procure pelo espectro difratado no anteparo de fendas do sensor de luz.
Todas as cores do espectro, do vermelho ao violeta, estão presentes?
8. Reposicione a lente focalizadora de modo a obter uma imagem mais nı́tida possı́vel do espectro no
anteparo.
9. Rode o braço do sensor de luz, cuidadosamente, no sentido anti-horário até encostar no batente.
ATENÇÃO: Esta será a posição inicial para todas as varreduras. (Se ao iniciar sua medida e o braço
do sensor estiver em uma posição diferente de zero, a posição do pico no gráfico não estará correta).
12. Pressione o botão “Iniciar” no Pasco Capstone e mova lentamente o braço no sentido horário. É
importante que esse movimento seja sempre no mesmo sentido (horário), caso contrário o sensor de
movimento de rotação pode se perder e indicar um ângulo errado.
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13. Ao iniciar a varredura, verifique se o ângulo cresce positivamente. Caso positivo continue a varre-
dura vagarosamente. Caso contrário, pare a coleta dos dados acionando o botão “Parar” no Pasco
Capstone, inverta os conectores do sensor de movimento rotativo e reinicie a coleta de dados. Mova
lentamente o braço varrendo todo o espectro até zero graus (a posição onde o sensor está direta-
mente oposto à fonte de luz). O gráfico de intensidade versus comprimento de onda irá parar por
volta de λ = 2500 nm porque o vidro dos equipamentos ópticos do espectrômetro não transmite
comprimentos de onda maiores do que 2500 nm.
14. Existe um pico no gráfico de intensidade versus ângulo quando o sensor está alinhado com a fonte
de luz (ângulo 0o no goniômetro, aproximadamente) porque alguma luz passa direto por cima do
prisma. Este pico permite a determinação exata do ângulo inicial. Pressione o botão “Calcular”no
Pasco Capstone e introduza este ângulo na variável “Init”.
15. Uma vez determinado o ângulo inicial, utilize a aba “Medida”. Nesta aba, é possı́vel observar o
gráfico de I × λ e os valores da tensão V e da corrente i no filamento.
16. Para a tensão ajustada em 10 V DC no Gerador de Sinais, faça 5 medidas da intensidade da luz em
função do comprimento de onda.
17. Para cada medida, anote o valor da tensão V e da corrente i no filamento. Estes valores serão usados
para calcular a temperatura. Anote também o valor de λmax correspondente ao pico no gráfico (maior
intensidade). Use a tabela 1.
18. Repita os passo de 15, 16 e 17 para as tensões 7 V e 4 V aplicadas ao filamento. Para estas medidas,
não é necessário varrer todas as posições até o centro como anteriormente (passo 12) porque o ângulo
já foi determinado. Meça somente a região sensı́vel.
20. Calcule a temperatura T no filamento usando os valores de V e i (item 17) e a equação (16).
Anote na tabela 1.
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• Comprimento de onda
21. Usando os valores de T obtidos no item 20, utilize a equação de Wien (eq.(14)) para calcular os
comprimentos de onda máximo λmax para V = 4, 7 e 10 V.
22. Compare os valores de λmax experimentais (item 19) com os valores de λmax calculados pela eq.(14)
(item 21). Quais as diferenças percentuais?
• Temperatura
23. Utilize agora os valores de λmax experimentais obtidos dos gráficos (item 19) para calcular as tem-
peraturas T usando a eq.(14).
24. Compare os valores de T encontrados no item anterior com os valores de T calculados no item 20.
Quais as diferenças percentuais?
• Constante de Planck
25. Determine o valor da constante de Planck h usando novamente a equação (14). Utilize os valores de
λmax experimentais obtidos no item 19 e as temperaturas T calculadas no item 20. Faça uma média
dos valores obtidos e compare com o valor da literatura h = 6,63 × 10−34 Js. Quais as diferenças
percentuais?
Questões
1. Como a cor do bulbo muda com a temperatura? A composição de cores do espectro muda com
a temperatura? Considerando os comprimentos de onda de máxima intensidade porque o bulbo é
vermelho a baixas temperaturas e branco a altas temperaturas?
2. Para altas temperaturas temos mais intensidade (área do gráfico intensidade versus comprimento de
onda) na região visı́vel do espectro ou na região do infravermelho do espectro? Como podemos fazer
uma lâmpada incandescente mais eficiente emitindo mais luz na região do visı́vel?
3. Qual é o comprimento de onda de intensidade máxima do nosso Sol? Qual é a cor do Sol? Por quê?
Referências
Manuais PASCO: Blackbody Radiation EX-9971A e EX-5529