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Série Retrospectiva

10 Principais julgados de
DIREITO CIVIL 2020
Márcio André Lopes Cavalcante

1) Em ação revisional de contrato de locação comercial, o reajuste do aluguel deve refletir o valor
patrimonial do imóvel locado, considerando, inclusive, em seu cálculo, as benfeitorias e acessões
realizadas pelo locatário com autorização do locador
Se não houver consenso entre as partes, em sede de ação revisional de locação comercial, o novo
aluguel deve refletir o valor patrimonial do imóvel locado, inclusive decorrente de benfeitorias e
acessões nele realizadas pelo locatário, pois estas incorporam-se ao domínio do locador,
proprietário do bem.
STJ. Corte Especial. EREsp 1.411.420-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 03/06/2020 (Info 678).

2) O condomínio, por ser uma massa patrimonial, não possui honra objetiva e não pode sofrer dano moral
Os condomínios são entes despersonalizados, pois não são titulares das unidades autônomas,
tampouco das partes comuns, além de não haver, entre os condôminos, a affectio societatis, tendo
em vista a ausência de intenção dos condôminos de estabelecerem, entre si, uma relação jurídica,
sendo o vínculo entre eles decorrente do direito exercido sobre a coisa e que é necessário à
administração da propriedade comum.
Caracterizado o condomínio como uma massa patrimonial, não há como reconhecer que seja ele
próprio dotado de honra objetiva. Qualquer ofensa ao conceito (reputação) que possui perante a
comunidade representa, em verdade, uma ofensa individualmente dirigida a cada um dos
condôminos, pois quem goza de reputação são os condôminos e não o condomínio, ainda que o ato
lesivo seja a este endereçado.
Diferentemente do que ocorre com as pessoas jurídicas, qualquer repercussão econômica negativa
será suportada, ao fim e ao cabo, pelos próprios condôminos, a quem incumbe contribuir para todas
as despesas condominiais, e/ou pelos respectivos proprietários, no caso de eventual desvalorização
dos imóveis no mercado imobiliário.
Assim, o condomínio, por ser uma massa patrimonial, não possui honra objetiva e não pode sofrer
dano moral.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.736.593-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/02/2020 (Info 665).

3) É possível a cobrança, por parte de associação, de taxas de manutenção e conservação de


loteamento fechado de proprietário não-associado?
É inconstitucional a cobrança por parte de associação de taxa de manutenção e conservação de
loteamento imobiliário urbano de proprietário não associado até o advento da Lei nº 13.465/2017,
ou de anterior lei municipal que discipline a questão, a partir da qual se torna possível a cotização
dos proprietários de imóveis, titulares de direitos ou moradores em loteamentos de acesso
controlado, que:
i) já possuindo lote, adiram ao ato constitutivo das entidades equiparadas a administradoras de
imóveis; ou
ii) sendo novos adquirentes de lotes, o ato constitutivo da obrigação esteja registrado no
competente Registro de Imóveis.
STF. Plenário. RE 695911, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 14/12/2020 (Repercussão Geral – Tema 492) (Info 1000).
4) O interesse jurídico no ajuizamento direto de ação de usucapião independe de prévio pedido na
via extrajudicial
A tentativa de usucapião extrajudicial não é condição indispensável para o ajuizamento da ação de
usucapião.
Mesmo que estejam preenchidos os requisitos para a usucapião extrajudicial, o interessado pode
livremente optar pela propositura de ação judicial.
O próprio legislador deixou claro, no art. 216-A da Lei de Registros Públicos, que a existência da
possibilidade de usucapião extrajudicial não traz prejuízo à busca da usucapião na via jurisdicional:
Art. 216-A. Sem prejuízo da via jurisdicional, é admitido o pedido de reconhecimento extrajudicial
de usucapião (...)
STJ. 3ª Turma. REsp 1.824.133-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 11/02/2020 (Info 665).

5) A busca e apreensão da alienação fiduciária em garantia, prevista no art. 3º do DL 911/69, é


compatível com a CF/88, não violando as garantias do devido processo legal, do contraditório e da
ampla defesa
O art. 3º do Decreto-Lei nº 911/69 foi recepcionado pela Constituição Federal, sendo igualmente
válidas as sucessivas alterações efetuadas no dispositivo.
STF. Plenário. RE 382928, Rel. Min. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em 22/09/2020
(Info 995).

6) O prazo de 5 dias para pagamento da integralidade da dívida é material e, portanto, contado em


dias corridos
O prazo de cinco dias para pagamento da integralidade da dívida, previsto no art. 3º, § 2º, do
Decreto-Lei nº 911/1969, deve ser considerado de direito material, não se sujeitando, assim, à
contagem em dias úteis, prevista no art. 219, caput, do CPC/2015.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.770.863-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 09/06/2020 (Info 673).

7) Em dissolução de vínculo conjugal, é possível a partilha de direitos possessórios sobre bem


edificado em loteamento irregular, quando ausente a má-fé dos possuidores
Caso concreto: em um processo de divórcio litigioso, foi reconhecido que seria possível a partilha
dos direitos possessórios sobre um imóvel localizado em área irregular.
Em alguns casos, a falta de regularização do imóvel que se pretende partilhar não ocorre por má-fé
ou desinteresse das partes, mas por outras razões, como a incapacidade do poder público de
promover a formalização da propriedade ou, até mesmo, pela hipossuficiência das pessoas para dar
continuidade aos trâmites necessários para a regularização. Nessas situações, os titulares dos
direitos possessórios devem sim receber a tutela jurisdicional.
A melhor solução para tais hipóteses é admitir a possibilidade de partilha dos direitos possessórios
sobre o bem edificado em loteamento irregular, quando não for identificada má-fé dos possuidores.
A solução resolve em caráter particular e imediatamente, a questão que diz respeito somente à
dissolução do vínculo conjugal, relegando a um segundo e oportuno momento as eventuais
discussões acerca da regularidade e da formalização da propriedade sobre o bem imóvel.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.739.042-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 08/09/2020 (Info 679).
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Retrospectiva– Principais Julgados de Direito Civil 2020


8) Não é possível o reconhecimento de uniões estáveis simultâneas
A preexistência de casamento ou de união estável de um dos conviventes, ressalvada a exceção do
artigo 1.723, § 1º, do Código Civil, impede o reconhecimento de novo vínculo referente ao mesmo
período, inclusive para fins previdenciários, em virtude da consagração do dever de fidelidade e da
monogamia pelo ordenamento jurídico-constitucional brasileiro.
STF. Plenário. RE 1045273, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 18/12/2020 (Repercussão Geral – Tema 529).

9) Não pode ser decretada a prisão civil do devedor de alimentos devidos em razão da prática de ato ilícito
Os alimentos devidos em razão da prática de ato ilícito possuem natureza indenizatória (arts. 948,
950 e 951 do Código Civil) e, portanto, não se aplica o rito excepcional da prisão civil como meio
coercitivo para o adimplemento.
Exemplo: João cometeu homicídio contra Pedro e foi condenado a pagar pensão mensal de 3 salários
mínimos aos filhos da vítima. Caso ele se torne inadimplente, o juiz não poderá decretar prisão civil
como meio coercitivo para o pagamento.
STJ. 4ª Turma. HC 523.357-MG, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 01/09/2020 (Info 681).

10) É válido o testamento particular que, a despeito de não ter sido assinado de próprio punho pela
testadora, contou com a sua impressão digital
O art. 1.876, § 2º do Código Civil afirma que um dos requisitos do testamento particular é que ele
seja assinado pelo testador. Vale ressaltar, contudo, que o STJ decidiu que:
É válido o testamento particular que, a despeito de não ter sido assinado de próprio punho pela
testadora, contou com a sua impressão digital.
Caso concreto: a falecida deixou um testamento particular elaborado por meio mecânico; o
testamento foi lido na presença de três testemunhas, que o assinaram; vale ressaltar, no entanto,
que esse testamento não foi assinado pela testadora em razão de ela se encontrar hospitalizada na
época e estar com uma limitação física que a impedia assinar; para suprir essa falta de assinatura, a
testadora colocou a sua impressão digital no testamento; as testemunhas, ouvidas em juízo,
confirmaram o cumprimento das demais formalidades e, sobretudo, que aquela era mesmo a
manifestação de última vontade da testadora; o STJ considerou válido o testamento.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.633.254-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/03/2020 (Info 667).

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