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CIBERCULTURA

Ontologia da liberdade na rede:


a guerra das narrativas na internet e a
luta social na democracia

RESUMO
Esse artigo visa, em retrospectiva, analisar os fundamentos políticos que regem os discursos de
liberdade que são disseminados pelos atores que constroem a internet de hoje e de ontem. Esta
análise visa extrair um modo de compreender a economia do poder em disputa, instaurada pelos
diferentes atores em conflito da sociedade em rede. Para tanto vamos avaliar os processos de
narração coletiva dos acontecimentos públicos, entendidos como laboratórios dessas disputas.
Desta avaliação vai emergir que as novas narrativas multitudinárias vão fazer a passagem do
modelo informacional das mídias, que privilegia a acumulação quantitativa proprietária de
elementos, para o modelo comunicacional das multimídias, que privilegia a coordenação da
ação coletiva nos movimentos.

PALAVRAS-CHAVE
Acontecimento
Biopolítica
Cibercultura

ABSTRACT
This paper aims to analyze in retrospect the political foundations that rule the discourses of
freedom spread by the agents who build the Internet yesterday and today. This analyze trace a
way to understand the struggle’s power economy made by the different agents in conflict in the
network society. We are going to evaluate the processes of collective discourse of public events,
understood as laboratories of this struggles. From this evaluation will raise the new multitudi-
nary discourse as a road doing the passage of informational model, with its privilege of quan-
titative accumulation of owner elements, to the communicational model of multi-medias that
privilege the collective action coordination in the social movements.

KEYWORDS
Event
Biopolitic
Cyberculture

Henrique Antoun
Professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFRJ/RJ/BR.
henrique.antoun@eco.ufrj.br

Fábio Malini
Professor do Departamento de Comunicação da UFES/ES/BR.
fabiomalini@gmail.com

286 Revista Famecos • Porto Alegre • v. 17 • n. 3 • p. 286-294 • setembro/dezembro • 2010


Ontologia da liberdade na rede

Na década de 1990, o uso da internet, asso- A partir destas transformações da comunica-


ciado às dinâmicas de produção e consumo de ção em rede vai emergir o choque de poderes en-
portais, transformou a rede num enorme labora- tre as mídias de massa e as interfaces de usuários
tório da publicidade. E, de certa forma, a dinâ- como um fato inegável. A mídia irradiada cada
mica de fragmentação, legitimada pela infinida- vez mais ressalta seu poder de atingir uma quan-
de de redes de pequenos mundos centralizados, tidade imensa de populações em uma só tacada,
empurrava a web para uma experiência majorita- para ressaltar a virtude mantenedora de sua sus-
riamente baseada no download de sites, que de- tentação financeira. Do ponto de vista da forma-
veriam – dentro da utopia de felicidade eterna da ção cultural, porém, a produção de subjetividade
nova economia – se revelar, antes, como start ups da mídia massiva esbarra em seu produto mais
de modelos empresariais do capitalismo de risco. notório: os fans – esses pequenos fanáticos com
A internet de hoje se transmutou, sem dúvida. momentâneas opiniões compactas disseminados
A atuação social, a mobilização e o engajamento em profusão pelo poder da irradiação (Jenkins,
viraram um valor da rede, se contrapondo àquele 2006). Ela só consegue produzir seus efeitos em
pensamento de felicidade eterna da web comer- prazo curto, gerando estes pequenos fanatismos
cial, que contaminava a economia e a política. Em oscilantes em torno de suas causas. Desde o seu
grande medida, essa metamorfose está ligada à surgimento, a mídia distribuída tem se contrapos-
emergência das dinâmicas ativistas, presentes já to através de seus usuários a estes efeitos acacha-
no final dos anos 90, que resgataram o sentido pantes de achatamento da diversidade cultural
originário do peer to peer na internet. Este resga- promovida pelos processos de indução e falsea-
te deu à rede um novo uso ao promover diver- mento de opinião típicos desta comunicação
sas inovações que vão do Napster ao Pirate Bay, unilateral onde poucos falam para muitíssimos.
dos blogs aos mashups, dos sistemas de troca de Embora a mídia irradiada de massa seja uma
arquivo às mídias sociais colaborativas, do jorna- valiosa máquina de construção e destruição ins-
lismo cidadão neozapatista à tuitagem iraniana. tantânea de reputação social; as mídias distri-
buídas de coletivos tem se revelado uma pode-
rosa máquina de criação e sustentação de repu-
A internet de hoje se transmutou, sem dúvida. tação duradoura, funcionando em longo pra-
A atuação social, a mobilização e o engajamento zo. Enquanto a mídia massiva extrai seu poder
viraram um valor da rede, se contrapondo da sensação de “todo mundo esta falando isso”
àquele pensamento de felicidade eterna da subentendido em seu uníssono; as interfaces de
usuários encontram o seu poder ancorado na
web comercial, que contaminava a sensação de “meus amigos recomendam” vincu-
economia e a política. lado à suposta confiabilidade da fonte da comu-
nicação.
A emergência destas inovações gerou todo Esse artigo visa, em retrospectiva, analisar os
um conjunto novo de disputas e conflitos sobre a fundamentos políticos que regem os discursos
produção e a regulação da liberdade na internet, de liberdade que são disseminados pelos atores
pois todo o valor no capitalismo cognitivo está que constroem a internet de hoje e de ontem.
radicado em fazer os conectados livres perma- Esta análise visa extrair um modo de compreen-
necerem dentro dos limites programáveis e das der a economia do poder em disputa, instaurada
conexões pré-estabelecidas nas interfaces, para re- pelos diferentes atores em conflito da sociedade
colher da multidão toda a sua produção social. É em rede. Para tanto vamos avaliar os processos
o paradigma do “tudo é meu” na produção co- de narração coletiva dos movimentos sociais nos
laborativa (Malini, 2008). Na contra mão deste acontecimentos públicos, entendidos como labo-
movimento de retenção, há outro que visa inflar ratórios dessas disputas. Desta avaliação vai ser
de liberdade a rede, a partir da disseminação de proposto que as novas narrativas multitudinárias
dispositivos aceleradores da socialização e do vão fazer a passagem do modelo informacional
compartilhamento de conhecimentos, informa- das mídias – que privilegia a acumulação quanti-
ção e dados, seguindo novos modelos de direito tativa proprietária de elementos narrativos – para
público. Estas ações coletivas de disseminação o modelo comunicacional das multimídias, que
abrem um conflito com a governança capitalista privilegia a coordenação da ação coletiva através
da liberdade na rede. da conversação atual durante os movimentos.

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Biopoder na internet: a liberdade negativa tos, chamada por ele de biopoder. Ela investiria
da fábrica social na vida como um todo, ativando-a e a pondo a
A internet é um campo social, como muitos atuar. O biopoder operaria com mecanismos que
outros, onde a liberdade está em disputa. Na ver- têm por função “produzir, insuflar, ampliar as li-
dade, quando dizemos “liberdade” entende-se aí berdades, introduzir um 'a mais' de liberdade por
os mecanismos e atos autônomos de cooperação meio de um 'a mais' de controle e de intervenção”
social que permitem o exercício do poder (e do (Foucault, 2008a, p. 92). Na lógica instaurada por
contrapoder), a produção social e a ativação de ele, já não se governa somente o corpo das popu-
afetos geradores da psicologia. Em certo sentido, lações. Torna-se objeto de governo todo o meio
essa definição complementa a acepção spinosista ambiente, a comunicação, os conhecimentos e os
do homem livre como sendo aquele que se reali- afetos das populações.
za na sociedade civil, onde se vive de acordo com Esse governo se exerce através da geração in-
leis comuns, e não na solidão e no isolamento, cessante de riscos tanto para limitar a indepen-
onde se obedece apenas a si mesmo. dência (portanto, a ação livre); quanto para ex-
A liberdade assim pensada está longe de se pandir o medo. Os riscos e suas vítimas e algozes
esgotar no sentido liberal de “direito de ter pro- virtuais fazem aceitáveis os discursos e as práti-
priedade” (de ideias, de mercado, de terras, etc.), cas de segurança, geradores das comunidades ou
ou de “ter força para suplantar o outro” como dos guetos. A sociedade dos perfis da internet é
quer o sentido hobbesiano. Hoje o cerne do de- um bom exemplo disso, pois a sua configuração
bate sobre liberdade está no direito de produção dilui o comum, valorizando a personalidade e
autônoma de formas de vida, que não sejam atra- as egolatrias. Será igualmente sobrevalorizada a
vessadas pela força estatal, nem pela mercantili- segurança informacional, através do discurso da
zação do capital, mas por “direitos comuns” que “credibilidade da informação” da grande mídia e
as protejam e as liberem ao mesmo tempo. Não é seus gatekeepers em oposição à multiplicidade dos
à toa que o movimento social mais importante da pontos de vista tecidos na cobertura informativa
primeira década do século XXI foi a disputa pelo dos acontecimentos sociais por milhares de sujei-
controle dessa produção comum protegida e par- tos na rede através de blogs e redes sociais. Esta
tilhada. Disputas endógenas ao capital – como a multidão de desconhecidos produz uma cober-
que contrapõe o Google à Microsoft exprimin- tura dos acontecimentos através de conversações
do a forte tensão entre a computação em nu- singulares próprias, logo estigmatizadas como
vem e a indústria do licenciamento – e exógenas produto de amadores, de falsas individualidades
a ele – a disputa entre a cultura da colaboração ou de anônimos irresponsáveis.
peer-to-peer e a cultura da permissão proprietária. A liberdade na rede – para aqueles que que-
Na internet se percebe um vasto movimento rem transformá-la em commoditie 2.0, é uma
de redução da oferta de liberdade (travestida de liberdade negativa, pois concebida como uma
inflação), vinculado às medidas de cercamento liberdade regulada por leis de direito autorais e
(enclosures) da liberdade nos sistemas contro- propriedade intelectual, autorizando a realiza-
lados de informação – o império da liberdade ção do sonho fordista das corporações de mídia:
mercantilizada na rede. Neste sentido, tal como “transformar-se em grande fábrica que monitora
analisa Castells (2009, p. 421), os dispositivos da as atividades de todos online” (Barbrook, 2003). E
web 2.0 vão se transformar em estupendos ins- com isso são capazes de mobilizar um biopoder
trumentos de negócios através da estratégia de produtor de discursos, práticas cotidianas, atitu-
mercantilização da liberdade para a acumulação des e processos de aprendizagem constituídos
de capital. Deste modo vão realizar o “cercamen- nas máquinas participativas da internet.
to” (enclosure) da terra comum da comunicação Essa estratégia das corporações de mídia on-
livre, vendendo às pessoas o acesso aos produtos line acaba por intensificar a cultura dos fãs, que
da comunicação global em rede em troca de sua povoa a internet com a reprodução dos bordões e
renúncia à sua privacidade e da sua conversão temas disseminados nos canais da mídia massa,
em arco e alvo da seta publicitária. ocupando a rede participativa com assuntos do
Essa mercantilização da vida – das conversas momento e uma agenda social efêmera e especu-
e quadros da vida contidos na internet -, guarda lar. A profusão dos sites de fãs de ídolos e progra-
relação com o debate aberto por Foucault sobre mas da cultura de massa, as conversas recorren-
uma nova arte de governar a liberdade dos sujei- tes sobre os temas das TVs e grandes jornais, e

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Ontologia da liberdade na rede

as repetições em cascata de bordões e ritornelos net torna-se um internauta preso à terra que ele
propagandísticos erguem um gigantesco tsuna- mesmo povoou. Isto corrobora a visão de Negri e
mi onde se guarda a maior parte do que existe na Hardt (2005), quando sustentam o poder redutor
internet (Jenkins, 2006), em tudo distante da re- da capacidade de cooperação e de comunicação
combinação criadora e da atitude libertária pre- promovida pela propriedade privada dos bens
conizada em vários mantras (Terranova, 2004). informacionais.
Além de mídias de fãs e celebridades, a inter- Essas capacidades são as bases da inovação
net participativa se vê mergulhada na lógica dos numa economia onde o valor se concentra na
“pequenos Roberto Marinho” – uma classe de qualidade imaterial do trabalho, ou seja, na com-
(micro) blogueiros e perfís de redes sociais cuja petência de incorporar nos processos e nos pro-
principal tarefa será a de caçar usuários pára- dutos a informação, a cultura e o afeto. A crítica
quedistas, pautando-se exclusivamente por as- brota da constatação do valor cooperativo do tra-
suntos do momento e por trocas incestuosas de balho imaterial, tornando impossível para o seu
links com outros blogueiros. Eles criam um cam- produto se limitar a ser propriedade um único
po restrito de perspectivas e configuram uma indivíduo, ao invés de pertencer a uma atividade
ecologia na qual as ideias e as informações são comum cooperativa. Embora a internet em sua
sempre as mesmas através de diferentes blogs. configuração econômica atual veicule uma ideo-
Na verdade, trata-se de uma estratégia de ex- logia de liberdade desregulada, na prática ela
trair vantagens financeiras, publicitárias e de au- é subsumida por arquiteturas e protocolos que
diência, que transbordará, depois, na busca por mantém a cultura sobredeterminada por um bio-
modelos de negócio baseados na reunião desses poder estimulador da criação de subjetividades.
micro pop stars da irrelevância online. Eles fun- Por isso, embora haja verdade na conversa
cionam como pequenas árvores aproveitando-se em torno da Web 2.0 com seus blogs, wikis, folkso-
de pequenos rizomas, à medida que centralizam nomics, YouTubes e redes sociais; ela dificilmente
uma acumulação (de capital de todo o tipo) que coincidiria com a opinião veiculada pelos apólo-
traga para si os dividendos políticos e monetá- gos da internet sobre o significado da mudança
rios dessa cultura massiva dos fãs online, geran- na comunicação e nos negócios. Na nova web,
do comunidades virtuais que funcionam através eles anunciam, a publicidade encontraria a nova
de efeitos especiais e imagens narcisistas. voz dos grupos da cultura da mídia, um público
O efeito colateral dessa “liberdade negativa”, auto organizado e participativo que a transfor-
promovida pelas corporações de mídia online, mariam em uma honesta recomendação crítica
será a propriedade e a fragmentação dos bens co- dos usuários.
muns, para além de uma busca incessante pela Os usuários se transformariam em sócios das
produção de repetições balbuciantes dos fãs on- empresas através de sua cooperação interessada
line. Nessa perspectiva, a cultura se vê ameaça- e a colaboração e a livre expressão uniria em-
da pelos códigos de copyright estabelecidos pelo presários e usuários nesse poderoso ambiente
capital midiático, ditando os modos pelos quais de negócios integrados (Levine; Locke; Searls
os bens culturais devem circular e serem usados. e Weinberger, 2000). Mesmo o quadro de idílio
Na onda 2.0, dá-se com uma mão para se retirar parecendo atraente, basta que os interesses das
com a outra. empresas se vejam ameaçados por iniciativas dos
“Nunca o copyright protegeu um leque tão usuários para o conflito explodir e o confronto
amplo de direitos, contra um leque tão amplo de aparecer em toda sua violência (Antoun; Lemos
atores, por um tempo tão longo” (Lessig, 2005). e Pecini, 2007).
Ao ponto dos conteúdos produzidos pelos ci-
dadãos tornarem-se propriedade intelectual dos A liberdade positiva, ou a biopolítica na rede
proprietários dos sites colaborativos da internet. A existência de um biopoder midiático na
Exercido por uma multiplicidade de sujeitos, internet, que controla a vida e se apropria da
o poder de criar em rede – a colaboração – vai riqueza produzida em comum nas redes mais
sendo cada vez mais freado pelo poder de co- avançadas de computação em nuvem, não sig-
brar para que se crie em rede – a permissão. Essa nifica entoar um refrão apocalíptico que expres-
usurpação praticada pelos oligopólios indus- se somente a subsunção da vida no capital. Isso
triais da cultura e da mídia instaura uma espécie porque o trabalho imaterial da multidão não se
de feudalismo digital, onde o usuário da inter- esgota numa relação de comando ao biopoder.

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Todo processo de dominação encontra um limi- prova do controle do biopoder, numa espécie de
te, que pode se transformar em resistência. Nes- darwinismo tecnológico do bem.
se sentido, a biopolítica é a potência de a vida
governar-se nos espaços onde se desenvolvem A guerra das narrativas e a luta social
lutas, relações e produções de poder; enquanto na democracia
o biopoder é um poder contra a autonomia da Podemos pensar que o poder da mídia de
vida, procurando fazê-la submeter-se aos centros massa deixou de ser um poder moderno, sob a
transcendentes de governo. forma de uma ação sobre a ação presente, para se
A biopolítica é o conjunto de atos de resis- tornar um poder de controle, investindo a ação
tência e de contra insurgência de vidas que não sobre a ação futura (Deleuze, 1992; Foucault,
aceitam a captura do controle e reivindicam uma 2008). Mais do que um lugar disciplinar de ir-
economia da cooperação mantenedora dos bens radiação e circulação de palavras de ordem
comuns dentro de um direito e de um espaço pú- (Deleuze; Guattari, 1980; Foucault, 1977), ele se
blico, para além da noção de que este deva ser revela como um poder de atualização da memó-
regulado e garantido por um estado, portanto, ria nas comunicações.
por um agente de força exterior às singularida- No caso da mídia massiva trata-se de um mo-
des anárquicas da multidão. Longe de ser uma nopólio sobre a atualização das informações; um
experiência de anarquia, trata-se de uma experi- poder de mobilizar, processar e narrar o passa-
ência democrática constituída por direitos sem- do, tornando-o atual. A massa só pode acessar o
pre abertos e potencializadores da liberdade. passado comum através das atualizações feitas
Na prática, num momento em que o biopoder pela grande mídia corporativa. Isto configura um
cria e programa redes de captura do comum, não imenso poder sobre os mecanismos de lembran-
é de se estranhar o surgimento das redes de con- ça e esquecimento social das populações. Através
trapoder funcionando da mesma forma, ou seja, dele eu relaciono um passado qualquer com um
criando e programando redes autônomas, anteci- acontecimento da atualidade para balizar a deci-
pando novos direitos e desejando a democracia. são de agir do sujeito social.
Em sua teorização, Antonio Negri (2003) associa Este passado vai ser apresentado sob a forma
a biopolítica “como a representação material da de grafos e diagramas, dando foros de previsibi-
capacidade do trabalho vivo (imaterial) de apre- lidade às imagens estratigráficas do que já foi que
sentar-se como excedente”. Isso significa que, se transforma desta maneira em um será. Este
mesmo em regime de comando pós-moderno de passado é atualizado para mobilizar as esferas
destruição do comum e expropriação da coope- de decisão e ação social sendo preferencialmente
ração, o trabalho imaterial excede o biopoder, investido para endossar ou inibir os programas
porque pode ser realizado fora de uma relação eleitorais de candidatos a cargos executivos, as
de comando empresarial. imagens públicas de candidatos majoritários em
O trabalho imaterial produz resultados, no épocas de eleição e às discussões legais acopla-
campo da inovação e da linguagem, por exem- das a decisões parlamentares para criação ou
plo, que não ficam encarnados exclusivamente transformação de leis existentes.
na empresa, mas diluídos em cada uma das sin- A entrada em cena da internet veio quebrar
gularidades que cooperaram para produzi-los. esse monopólio da narração. Através de suas
Daí muitos autores problematizarem a dimensão interfaces qualquer usuário podia tornar atuali-
biopolítica da cópia, para além da fobia autoral zável qualquer informação, liberando sua comu-
capitalista, pois ela é ao mesmo tempo a condi- nicação. O investimento comunicacional dos mo-
ção para constituição de novos valores de uso, e vimentos sociais e coletivos passava a responder
também de novos valores de troca. pelo alcance ou frequência de uma informação
O capitalismo das redes se vê jogado desta qualquer, conectando entre si diferentes inter-
maneira para uma infindável contradição, pois faces e promovendo sua disseminação (Antoun,
sem socialização das cópias não há novos usos 2004). Não só os usuários podem conectar qual-
criativos, e sem novos usos criativos não há gera- quer informação antiga que esteja na rede com
ção de valor de troca. Talvez o fenômeno biopo- uma atual; como eles podem determinar o al-
lítico mais intenso seja o movimento de compar- cance de uma informação atual, replicando-a por
tilhamento de arquivos peer to peer na internet, diferentes interfaces. A comunicação partilhada
pois ele foi capaz de fazer arquiteturas de uso à nas interfaces coletivas de parceria (peer to peer)

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reposiciona o tipo de passado que importa na de- Nasce daí a noção de que um amplo monito-
cisão de ação. ramento e uma incessante vigilância devem fazer
A estatística preditiva das imagens estrati- parte desta relação, pois aí estaria em jogo a for-
gráficas cede lugar aos projetos comuns dos co- mação dos sujeitos sociais e o comando da ação
letivos comunicacionais. A questão deixa de ser coletiva. Caberia às mídias cuidarem para os su-
a eliminação do que nos ameaça para se tornar jeitos fazerem parte da renovação da demanda
a construção ou invenção do que nos interessa social; seja preenchendo os papéis necessários à
(Antoun, Lemos e Pecini, 2007). É, nesse sentido, continuação da sociedade, seja querendo os pro-
que essa biopolítica da rede se ativa como uma dutos e serviços oferecidos pelas empresas. Ca-
liberdade positiva, no sentido que essa atividade beria ao público não abdicar de seu lugar ativo
dos usuários, de construírem de forma singular, em sua própria formação, rejeitando tudo o que
e nem por isso disputado, conflitivo e contraditó- pudesse subjugá-lo ou submetê-lo aos ditames
rio, um campo mais extenso dos significados dos da soberania social em detrimento da formação
acontecimentos sociais, em que entrelaçam nar- de sua subjetividade. São questões do saber cul-
rativas que esmiúçam fatos, ideias dados, ima- tural e do poder governamental envoltas na co-
gens, que ampliam a capacidade da rede de re- municação social (Antoun, 2009).
velar sentidos que até então se reprimia na lógica Mas no outro pólo está a relação do sujeito
gatekeeper dos mídias online tradicionais, com a com a verdade contida ou ausente no meio aon-
sua política para internet baseada na lógica do de ele vai se formar. Trata-se de pensar quais
olhe, mas não toque, em que desacreditar e des- chances ele tem de desenvolver uma subjetivi-
credenciar as mídias participativa dos usuários. dade própria, de pôr em questão as escolhas que
Importante assinalar a perda do monopólio o meio lhe oferece ou interdita em função de
da edição e reprodução das falas e imagens pe- tornar-se este ou aquele sujeito (Foucault, 2004,
las TVs e demais mídias massivas. O poder de p. 253-280). Um meio perverso recusaria ao su-
atualização das imagens dos blogs, do YouTube jeito qualquer chance de se furtar a um destino
e do Twitter proporcionado a seus usuários deu social tornado provável que o aguardasse e lhe
um diferente alcance às suas narrativas. Podendo acenasse antes mesmo de seu nascimento.
escolher o que atualizar das imagens disponíveis A questão reconsiderada nesta perspectiva
para narrar o acontecimento e conversar, a mídia nos faz perceber o envolvimento da questão da
livre pôde decidir a quem imputar a responsabi- justiça neste jogo do sujeito com a verdade de
lidade pelo conflito. As imagens e os discursos sua própria formação. Um meio de formação que
feitos pelas mídias de massa uma vez reprodu- predeterminasse completamente o sujeito seria
zidos e analisados e reutilizados se revelavam totalmente injusto; o destino do sujeito teria sido
apropriadas para sustentar narrativas diferentes escrito muito antes dele vir a existir e as narra-
da história contada pelas mídias corporativas. tivas de sua história sempre desembocariam em
Deste modo, blogueiros, tuiteiros e tubeiros fize- um certo grupo de resultados pré existentes ao
ram frente aos discursos dos veículos massivos seu surgimento (Deleuze, 1991, p. 93-116).
através das imagens e falas produzidas por estas
próprias mídias, na medida em que tinham o po- Multimídias: dos meios de informação aos
der de atualizá-las de modo diferente, mesclan- meios de coordenação
do-as com suas próprias falas e imagens. Assim, a narrativa noticiosa, que sempre es-
Temos neste debate dois pólos importantes. teve atrelada àqueles que detinham a capacidade
De um lado está em jogo a relação dos meios com de irradiar informação (a imprensa), hoje está em
as populações enquanto constituem um público; todos os lugares virtuais, que se comportam cada
onde vai sobressair a questão do lugar que este vez mais como mídias de multidão (multimídias),
público ocupa nesta relação. Trata-se de saber ou seja, mídias cujas produções se dão de forma
se ele é um consumidor relativamente passivo articulada e cooperativa, cujo produto final é exi-
formado pelos produtos oferecidos pelo meio – bido de forma pública e livre, para públicos es-
produtos estes que participam ativamente de sua pecíficos, que ao mesmo tempo, são mídias para
formação cultural conformando sua subjetivida- outros públicos.
de –; ou se o público participa como um usuário, A natureza das multimídias é de portar uma
determinando ativamente os produtos de sua linguagem desencarnada da mediação da mídia
própria formação. irradiada, desorganizando o modo tradicional da

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notícia, ao mesmo tempo em que elas organizam Em pouco tempo, o movimento era tão gran-
uma linguagem cooperativa, dialógica, múltipla de que, revoltados contra a pouca informação
e comum. Esta linguagem vai criar uma onda sobre os acontecimentos veiculada pela CNN, os
integrada, revelando as perspectivas indepen- usuários começaram a usar uma hashtag adicio-
dentes de opinião. Talvez o exemplo atual mais nal: a #cnnfail, empurrando a rede de televisão
amadurecido seja o do que aconteceu nos con- americana para dentro da agenda midiática da
flitos iranianos ocorridos após a reeleição de multidão.
Ahmadinejad. O exemplo ilustra como a biopo- “Tiger Woods não é a história mais importan-
lítica das multi-mídias sofre tentativas de blo- te no mundo hoje #CNNfail”2, afirmava o tuiteiro
queios do poder soberano, do poder disciplinar, @lilobri, que criticava a insistência do canal de
do biopoder, ao mesmo tempo em que excede tevê em valorizar escândalos sexuais nos EUA
todos eles através da potência coordenadora da no lugar de uma cobertura ampla sobre os assun-
comunicação. tos globais. O #cnnfail foi subproduto de um dos
O caso é por demais conhecido. Em 12 de ju- maiores temores do biopoder online, o comen-
nho, após derrota nas urnas, Hossein Mousavi tário.
reinvindica a vitória, acusando governo de frau- Este geralmente tem a função de revelar não
dar as eleições, beneficiando assim o candidato somente omissões, mas as posições políticas, his-
da situação, Ahmadinejad. Um dia depois do tóricas e de classe do poder em rede. Não é à toa
resultado, ao mesmo tempo, nas ruas de Teerã, que os mídias tradicionais só liberam comentá-
enquanto os apoiadores de Ahmadinejad come- rios naquelas reportagens que agitam os fascistas
moram a vitória, os de Mousavi, convocados via ou acalmam os ingênuos. A partir do momento
sms, entram em choque com a polícia. que o comentário ganha mais audiência do que a
O resultado dos conflitos, no outro dia, foi a própria agenda midiática, as mídias são forçadas
suspensão da rede de internet e de telefonia mó- a mencioná-los, quando não investigá-los.
vel, numa tentativa de desacelera o processo de
socialização e mobilização dos militantes. No Na prática, a narrativa noticiosa baseada
contra ataque, hackers passam a oferecer endereço
de proxy via direct message no Twitter, reconectan- em hashtags foi utilizada para troca de
do a cibercultura iraniana, que estava sem acesso informação mútua, organização tática dos
aos serviços de telefonia local. A partir daí a in- protestos, globalização dos fatos, localização
ternet torna-se o locus da informação e do com- de testemunhas/fontes, relatos multimídia de
partilhamento de opinião sobre a insurgência
iraniana. E o caso virará paradigma na história registros do cotidiano, promoção de ideologias,
da comunicação por demonstrar que a narração conversação social e agendamento da mídia.
dos acontecimentos públicos na web não prescin-
de de um encadeamento com a mídia irradiada, No caso da eleição iraniana, como em ou-
mas somente um entrelaçamento com a esfera de tros casos, a multidão conectada executa um pa-
publicação dos próprios públicos das redes e mí- nóptico às avessas, em que as celas não param de
dias sociais online. monitorar a torre, disputando com a mídia cor-
Essa invenção biopolítica criou um novo uso porativa a primazia da comunicação. Esse mo-
para a web, a cobertura jornalística p2p das mul- nitoramento vigilante contínuo das celas, numa
timídias, em tempo real, baseada na hashtag, que cobertura multi-mídias, serve como um depura-
será massificada através de seus para descre- dor da construção social dos acontecimentos na
ver micro acontecimentos cotidianos e grandes grande imprensa, em proveito próprio, por fazer
eventos internacionais. Não se tratava de parti- esta martelar as idéias comuns que a multidão
cipação, senão da construção de mídia livres e defende.
autônomas.
No Twitter a multidão coopera adotando a Considerações finais
hashtag1 #iranelection. São 220 mil tweets/dia usan- A experiência iraniana, que depois se re-
do a palavra-chave, distribuindo fotos, vídeos, petirá, em outros casos, como o de #honduras,
textos, áudios, enfim, toda uma gama de regis- #michaeljackson, #forasarney, #haiti, provocou
tros históricos que nenhum grupo de mídia deti- uma nova linguagem jornalística, a “hashtag
nha. storytelling”, uma espécie de Napster da narrati-

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Ontologia da liberdade na rede

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