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Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB

Departamento de Tecnologia Rural e Animal – DTRA


Curso de Zootecnia

SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE OVINOS

Campus Juvino Oliveira


Itapetinga, abril 2007
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB
Departamento de Tecnologia Rural e Animal – DTRA
Curso de Zootecnia

SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE OVINOS

Campus Juvino Oliveira


Itapetinga, abril 2007
INTRODUÇÃO

As dificuldades de desenvolvimento da ovinocultura no Brasil seguem as tendências


mundiais. Embora explorada em diversos países, a atividade apresenta pouca expressão
econômica, pois é praticada geralmente em sistema extensivo e com baixo nível
tecnológico. A produção mundial de caprinos e de ovinos representa apenas 5% do
volume total das carnes. No entanto, no período de 2003 a 2005, esse segmento cresceu
6,5%, conseguindo o maior avanço relativo dentre os principais tipos de carne
comercializados.
De acordo com dados do Anualpec de 2004, o rebanho ovino do Brasil é de 14.672,366
cabeças, e tendo a região Nordeste com o maior efetivo do rebanho com 7.938,114 e a
Bahia é ainda o estado com maior numero de cabeças 2.950,475.
Nos últimos anos, tem sido registrada uma crescente demanda por carne ovina no Brasil,
com ênfase na região sudeste (Siqueira, 2000) e Nordeste (Souza e Morais, 2000).
Para que essa demanda se mantenha, existe uma necessidade em oferecer ao mercado
consumidor um produto diferenciado agregando a este uma melhor qualidade. O produtor
deve colocar no mercado uma carne proveniente de animais jovens, criados de maneira
adequada, variando os sistemas de criação existentes, de forma que obtenha carcaças de
primeira qualidade, não deixando de considerar na prática dos diferentes sistemas a
alimentação, os animais, o manejo sanitário e as instalações.
Entretanto, para se estabelecer um sistema de produção em pastejo, deve-se levar
em consideração fatores ligados ao solo, à planta e ao animal. Por outro lado, Siqueira
(1999) alerta que em pastejo, conforme as condições climáticas, a incidência de
verminose pode ser um fator limitante para a exploração da ovinocultura, pelo fato de os
parasitas reduzirem, de maneira significativa, a produtividade dos animais. Diante disso,
há duas alternativas: uma, é realizar a rotação de pastejo; outra é retirar os animais da
pastagem e mantê-los em sistema de confinamento ou semi-confinamento.
O SISTEMA DE PRODUÇÃO

Sistema é um conjunto de elementos de tal forma ordenados que estão dirigidos a um


objetivo. Se um desses elementos não funciona bem, toda cadeia entra em desequilíbrio.
(FUCHS, 1995).
Os ovinos estão classificados, no que se refere ao seu hábito alimentar, em ruminantes,
na categoria Selecionadores Intermediários, com preferência pelas gramíneas (ARAÚJO,
1999).
Segundo Valverde (2000), os ovinos têm preferência pelas gramíneas de porte baixo ou
médio, por revelar capacidade de pastejar mais junto ao solo, sendo tal comportamento
ligado, principalmente, a sua estrutura buco-maxilar de preensão do alimento, onde
permite utilizar os lábios, a língua e os dentes. Também diferencia a preferência entre
ovinos lanados e deslanados, sendo que, o lanado prefere muito mais gramíneas,
enquanto o deslanado pode revelar preferência por ingestão de espécies arbustivas,
talvez em razão do ambiente onde foram selecionados.
Para Siqueira (2000), não há um sistema padrão para a criação de ovinos que funcione
de maneira eficiente em todas as regiões, devendo-se levar em consideração as
características climáticas, a localização, a disponibilidade de alimentos e a raça.
Entre os sistemas de criação de ovinos destacam-se: sistema de criação exclusivo a
pasto ou extensivo, semi-intensivo ou semi-confinamento e intensivo ou confinamento.

EXTENSIVO

o animais criados soltos, exclusivamente a pastos


o sistema característico de grandes propriedades
o o animal sofre com variações de clima, quantidade e qualidade de alimentos
o animais destinados, principalmente, à produção de carne e peles

SEMI-EXTENSIVO

o animais permanecem a pasto apenas parte do dia, recebendo suplementação


alimentar em cochos
o sistema adotado tanto para a produção de carne, quanto para a produção leiteira

INTENSIVO

o sistema característico de pequenas e médias propriedades


o requer maior investimento e mão-de-obra especializada
o sistema adotado, quase que exclusivamente, à produção leiteira
o o animal recebe alimentação balanceada em cochos
SISTEMA EXTENSIVO OU EXCLUSIVO A PASTO

Nesse sistema, os ovinos ficam soltos em grandes áreas ou pastos e o criador não exerce
nenhum controle sobre eles, principalmente sobre sua reprodução. É o sistema
tradicional, o mais antigo e o mais adotado, além de ser o que apresenta o menor custo
para o criador. É o sistema predominante, principalmente nas regiões Norte e Nordeste
onde as condições são precárias, principalmente as de alimentação, com a criação de
animais de baixa produtividade, porém com alta rusticidade. Os animais são soltos no
início do dia e recolhidos ao entardecer, permanecendo cercados ou sob abrigos apenas
no período da noite, onde existem alguns perigos adicionais, como o de predadores
naturais, ou para alguma prática de manejo. Nestas condições, a expressão do potencial
genético dos animais torna-se limitada, devido à descontinuidade do valor nutritivo das
forragens, em função das características climáticas e da própria fisiologia das plantas
forrageiras. Nesse sistema, os principais inconvenientes são; a baixa rentabilidade entre
outros motivos, à alta mortalidade, maior probabilidade de doenças e verminoses.
A utilização de forrageiras como fonte primária de energia na dieta de ruminantes
apresenta grandes vantagens econômicas para o desenvolvimento da ovinocultura,
entretanto torna-se necessário a escolha da planta forrageira, o conhecimento da
extensão em que a forragem atenda as exigências nutricionais dos animais, a
estacionalidade das mesmas, o manejo das pastagens e a conservação de alimentos
para os períodos de escassez (SILVA SOBRINHO, 2001).
Considerando-se a grande diversidade de condições ambientais verificadas no Brasil,
onde é possível o desenvolvimento de uma ovinocultura de qualidade com grandes
perspectivas de futuro, é lícito pensar em sistemas de criações diferentes. Não se pode
esquecer, no entanto que o elemento central desses sistemas é a criação do cordeiro ao
pé da mãe com o máximo uso de forragens, alimento por excelência para os ruminantes e
de menor custo (PEREZ, 1996).
CREEP FEEDING

“Creep feeding” é um sistema de alimentação utilizado durante a fase de cria no qual se


permite que apenas os cordeiros lactentes tenham acesso, através de um pequeno
dispositivo de passagem (creep), a uma suplementação alimentar exclusiva (creep ration),
normalmente concentrada e disposta em comedouros privativos (creep feeder), à qual as
ovelhas lactantes não têm acesso.
De acordo com Macedo et al. (1999) a suplementação alimentar dos cordeiros em
sistema de “creep-feeding” (sistema em que o comedouro é cercado, apresentando
possibilidade de acesso somente aos cordeiros) a partir dos 10 dias de idade é uma forma
de acelerar o desenvolvimento ruminal e melhorar os ganhos. Deve-se oferecer uma
ração palatável de alto nível energético com proteína bruta na faixa de 14% e adequado
teor de minerais. Composta por 88,5% de grãos de milho, 10% de farelo de soja, 1% de
calcário calcítico e 0,5% de Premix mineral.
Thomas e Kott (1989), estudaram o uso do “creep-feeding” para cordeiros em
crescimento, cujas mães permaneceram em pastos com baixa disponibilidade de matéria
seca, tendo encontrado efeito significativo da suplementação (P<0,001) sobre a
velocidade de ganho de peso.

SEMI-INTENSIVO OU SEMI-CONFINAMENTO

Os ovinos são criados em pequenos cercados, currais e abrigos para protegê-los do sol, e
das intempéries, são soltos para pastar durante a maior parte do tempo, saindo em geral
pela manhã e retornando ao meio dia ou à tarde sendo a sua alimentação
complementada com ração concentrada, para fornecer alguns dos nutrientes que só o
pasto não pode suprir as exigências dessa espécie.
Quando criado por esse sistema, os reprodutores são em geral, mais resistentes e se
desenvolvem mais e mais rapidamente do que quando criados pelo sistema intensivo.

Vantagens:
 Controle de reprodução;
 Condições sanitárias;
 Facilidade de manejo;
 Proteção dos animais nas horas mais quentes do dia;
 Possibilidade de criar animais mais dóceis e mais fácil de manejá-los;
SISTEMA INTENSIVO OU CONFINAMENTO

A pecuária intensiva geralmente abrange pequenos rebanhos, criados em pequenas


áreas e submetidos a muitos cuidados com higiene e saúde, que requerem maior
quantidade de mão-de-obra. Embora o custo da criação seja elevado, é compensado pelo
lucro obtido com a alta produtividade: o objetivo é criar o melhor animal no menor tempo e
pelo menor custo. Para isso, investe-se também na aplicação de métodos zootécnicos.
Em um sistema de confinamento objetiva-se atingir um ótimo ganho de peso diário, mas
para que esse objetivo venha a ter sucesso, deverá ser oferecida aos animais uma dieta
de boa qualidade, recomendando-se um ganho médio diário de 200g/dia.
Uma vez que os ovinos são animais altamente susceptíveis ao parasitismo, o
confinamento vem sendo mencionado frequentemente como uma solução para tal entrave
na criação de ovinos jovens. JORDAN e MARTEN (1968) verificaram que cordeiros
mantidos em pastagens apresentaram ganho de peso 40-60% inferior do que cordeiros
em confinamento. Segundo os autores não só o parasitismo foi responsável pelo menor
ganho de peso, mas também a inabilibadade dos animais em consumirem quantidades
adequadas de matéria seca (MS) e de nutrientes.
Quando o objetivo é colocar no mercado carcaças de animais jovens, o sucesso do
sistema em confinamento dependerá do manejo que foi realizado no período de pré-
confinamento, onde os animais devem receber dietas com alta digestibilidade que não
leve ao acúmulo de material fibroso indigestível no rúmen, pois para o desenvolvimento
deste é necessário que o consumo de alimento sólido não seja significativo até 3
semanas de idade para que seja estabelecida a função ruminal e o hábito de comer.
Mudanças abruptas na alimentação podem afetar o desempenho destes animais, e o
baixo desempenho ocorre, em parte por que são necessários alguns dias para adaptação
a uma nova dieta a ser fornecida gradativamente antes de iniciar o confinamento.
Os custos com alimentação representam a parte mais onerosa do sistema de
confinamento. Os alimentos mais econômicos são os que os ovinos podem colher por si
próprios. Entretanto quando confinados, eles deverão receber no cocho 100% da sua
alimentação.
A decisão de confinar depende do tipo de animal que será utilizado para que o resultado
seja economicamente viável. Devido ao maior custo de produção em confinamento os
animais devem ser selecionados com bom potencial para ganho de peso e conversão
alimentar. O período de confinamento varia de acordo o peso final almejado, o potencial
de ganho de peso dos animais e o tipo de alimentação que serão submetidos.
No nordeste, VASCONCELOS et al. (2000) recomendam que os ovinos sejam confinados
por um período de 56 - 70 dias, iniciando quando os animais atingirem peso corporal de
15 kg.
O manejo Sanitário no confinamento deve ser primordial, duas semanas antes de iniciar o
confinamento os cordeiros devem ser vacinados contra clostridioses, vermifugados para
combater principalmente a presença dos helmintos e coccidioses, posteriormente deve
ser feito acompanhamento com exames de fezes para assegurar que não há infestação
desses endoparasitos.
Deve-se ter uma grande preocupação com a relação Ca:P na dieta de cordeiros, que
deve ser mantida próxima de 2:1. devido a uma grande detecção de cálculo urinário
formado em condições de confinamento compostos de fosfatos de cálcio, magnésio e
amônio. Para prevenir o aparecimento desta enfermidade recomenda-se a adição de
0,5% de cloreto de amônio ou 0,5% de sulfato de amônio na dieta de ovinos em
confinamento.
CONCLUSÃO

Para melhorar a eficiência da produção ovina é necessária a utilização de estratégias de


alimentação que atendam aos objetivos do sistema de criação. Para tanto, a adoção de
um plano nutricional racional e econômico é imprescindível.
Para que seja possível a aplicação destas estratégias de alimentação, o balanceamento
das dietas deve levar em consideração a demanda nutricional dos animais e, desse
modo, evitar deficiências ou desperdícios.
A adoção de um manejo inadequado poderá levar a uma diminuição no peso ao nascer
dos cordeiros, menor vigor dos cordeiros nascidos, maior mortalidade de cordeiros e
menores taxas de crescimento. Estes fatores estão correlacionados diretamente com a
produtividade do rebanho e, portanto, um manejo incorreto poderá diminuir esta
produtividade e, conseqüentemente, o retorno econômico do produtor.
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