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POLÍTICA EXTERNA PERÍODO REGENCIAL:

***No período do Reconhecimento da Independência, Amado Cervo e Doratioto


divergem frontalmente quantos a teorias da política externa adotada por D. Pedro I, no
Período Regencial, por outro lado, estes autores convergem em alguns pontos. A
diferença repousa na medida em que Amado Cervo enfatiza o “amadurecimento do
discurso anti-tratados”. Para este autor, a Regência foi um período engessado, onde os
Tratados não podiam ser revogados, mas, conforme expirava o vencimento de alguns,
eles não eram renovados. Desde a abertura do Parlamento, em 1826, há um
fortalecimento gradual do discurso anti-tratados. Na Regência, este discurso chega ao
Gabinete e ao Senado a partir de 1831. No Segundo Reinado ele vai conquistar o
Conselho de Estado. Cervo, destaca, ainda, que a responsabilidade por formular a
Política Externa Brasileira era do Conselho de Estado. Já a implementação desta
Política Externa competia à Secretaria de Negócios Estrangeiros. Destarte, com a
extinção do Conselho de Estado, de 1834 até 1841, o Brasil ficou desprovido de um
órgão que articulasse a Política Externa do país. O resultado desta carência de um Órgão
Próprio para organizar questões externas, é que as discussões acerca da matéria
invadiram o Parlamento, que desde 1830 estava comprometido em aprovar os relatórios
“prestação de contas” anuais da Secretaria de Negócios Estrangeiros. Em 1831, pela lei
que definiu a atribuição dos Regentes, ficou estabelecido que a negociação de qualquer
tratado que envolvesse questões internacionais, deveria ser submetida ao Parlamento.
Principalmente, se houver declaração de guerra envolvida. Assim, o Parlamento
assumiu um papel muito importante nos debates acerca do posicionamento da Política
Externa Brasileira. Neste sentido, embora no Período Regencial não tenha havido
nenhum assunto decisivo quanto à Região do Prata, Cervo cita que apesar da Regência
marcar um período de “imobilismo/neutralidade benigna” da Política Externa Brasileira
no que se referia ao Prata, foi neste momento que se articulou duas opiniões muito
importantes sobre o assunto: a) A primeira é pacifista, frontalmente contrária a uma
intervenção militar no Prata; b) A segunda com caráter intervencionista, favorável ao
Brasil recorrer à intervenção militar para garantir seus interesses na região do Prata,
principalmente, para combater Juan Manuel Rosas, fenômeno que emergiu na Região
do Prata, na década de 1830. Na visão do Cervo, os Regentes ficaram em uma
“POSIÇÃO DEFENSIVA E REATIVA” não somente contra o Rosas, na questão do
Prata, mas em relação a todas as questões de Política Externa
***Já Doratioto, que pensa Política Externa a partir de uma perspectiva de processo
decisório em que é necessário entender a Política Interna, para compreender a
Política Externa, não enfatiza a questão do “discurso anti-tratados”, uma vez não
associar este discurso à teoria industrialista que só existe na Doutrina do Amado Cervo.
Para Doratioto, existiam evidências concretas de uma possível “ameaça Europeia na
Amazônia” e esta era uma questão fundamental e que foi negligenciada por Amado
Cervo. Doratioto explica a Política Externa do Período Regencial a partir do conflito
existente entre o grupo político que concentra o poder no Rio de Janeiro contra as
oligarquias regionais. Este embate pode ser lido sob uma perspectiva de grupos sociais,
onde com a abdicação de D. Pedro I, “...de repente assumiu a hegemonia do governo do
Rio de Janeiro uma ala que representava os interesses dos seguintes grupos sociais: a
burocracia governamental e as elites latifundiárias, proprietárias de terras e escravos
do Rio de Janeiro, São Paulo e Mina Gerais, o “centro-sul”, onde a metrópole havia se
interiorizado e houve enraizamento de interesses portugueses”. Esta elite latifundiária
estava progredindo se baseando na atividade principal da produção de café. Destarte, o
que explica as rebeliões que ocorreram na Regência, é o confronto entre o projeto
centralizador, monárquico, baseado na manutenção do latifúndio, da escravidão e da
ordem sócio-econômica, proposto pelo grupo central, contra um projeto
descentralizador, com maior autonomia, associado às Oligarquias regionais, ligadas a
produção de outros gêneros agrícolas, que vão mobilizar “o povão” e, muitas vez, vão
perder o controle destes setores populares, principalmente, no caso da Balaiagem e da
Cabanada. Segundo Doratioto: “No Período Regencial, a burocracia governamental do
Rio de Janeiro, apoiada pela elite local e, também, pelas elites de São Paulo e Minas
Gerais, buscou manter o Estado Monárquico Centralizado e, por isso, enfrentou a
resistência armada de oligarquias regionais e setores populares...”. “...Nesse período,
a fragilidade do Estado Brasileiro impediu que se tivesse uma Política Externa ativa.
Além disso, os Tratados assinados na década de 1820 constituíam restrição adicional a
iniciativas nessa área”, eles não podiam ser revogados antes do prazo e mantinham a
arrecadação em baixa.
Em suma, as oligarquias regionais empunharam armas para resistir a burocracia do Rio
de Janeiro, as elites do centro-sul, a metrópole interiorizada e o projeto de Estado
Centralizador Monárquico!
Inobstante o projeto de Avanço Liberal ter proposto descentralização, ele foi
encabeçado pela elite burocrática aliada as oligarquias cafeeiras do centro-sul, como
uma estratégia para manter o Estado Monárquico centralizado e garantir a unidade
territorial. Por exemplo, eles concedem “autonomia” às Assembleias Provinciais para
contratar e demitir funcionários públicos, mas, resguardam para o poder central o direito
de nomear o Presidente da Província, no caso, o cargo mais alto, a autoridade máxima,
dentro das Assembleias, era ocupado por um indivíduo que defenderia os interesses do
Rio de Janeiro e não das oligarquias regionais. Isso gera um confronto entre a posição
do Presidente da Província nomeado pelo Poder Central, que é Liberal Moderado contra
uma elite, que domina a Assembleia Provincial, formada majoritariamente por Liberais
Exaltados. Esse não é o único fator que desencadeia as Revoltas Provinciais, porém, é o
mais emblemático.
Cervo e Doratioto convergem quando dizem que a fragilidade do Estado Brasileiro, que
ainda não tinha se consolidado, estava dividido, as elites brigavam entre si, não havia
uma identidade brasileira, um sentimento de pertencimento, de nacionalidade, com
arrecadação congelada, exército sucateado, etc, etc, impediu articulações relacionadas a
Política Externa na Regência. Esta é outra forma de dizer que houve um imobilismo ou
uma neutralidade benigna.
***Tráfico Negreiro: A pressão britânica pela proibição do tráfico de escravos,
prevista no acordo firmado na Convenção em 1826, ratificado em 1827 e válido a partir
de março de 1830. Pelo acordo, estava garantido o direito de visita em tempos de paz e
caso um navio suspeito de ser negreiro fosse apreendido, seria julgado em Tribunais
Mistos. Em 1831, a Lei Feijó apenas regulamentou esta questão, que já estava valendo
desde março de 1830. Acontece que o Brasil era um Estado frágil, permeado por
interesses escravocratas, o poder estava sob o controle dos burocratas do Rio de Janeiro
e da elite cafeicultora, neste momento, o comércio de café estava em alta e isso
aumentava a demanda por mão-de-obra escrava no centro-sul. Obviamente, a abolição
do tráfico não era uma pauta de interesse do grupo que estava no poder. Por isso, os
historiadores dizem que “A Lei Feijó era uma lei para inglês ver”! Portanto, o tráfico
não foi interrompido, mas intensificado para o centro-sul, a marinha britânica
permaneceu reprimindo o tráfico, continuou julgando as tripulações nos Tribunais
Mistos, principalmente em Serra Leoa, onde havia um Juiz brasileiro e um Juiz inglês.
Durante a Regência o Estado era frágil, não estava estruturado e não tinha condições
para exigir o cumprimento da Lei Feijó. Além disso, o Estado não podia se submeter à
pressão britânica sob pena de parecer mais fraco ainda. Entre 1831 e 1832 houve uma
pequena diminuição na importação de escravos legalmente, na clandestinidade
permaneceu igual. Mas, logo em 1832 o tráfico ganha força novamente e o Feijó junto
com o Ministério da justiça não tinha condições de reprimir a continuidade da atividade.

***Ameaça Europeia na Amazônia: Em 1835, Feijó percebeu que não tinha forças
para combater e controlar as Revoltas que pipocavam em várias regiões do território.
Considerando a precariedade do exército brasileiro, não havia como combater,
principalmente, rebeliões que ocorriam, concomitantemente, no extremo norte e no
extremo sul do País. Em razão disso, solicitou, secretamente, a ajuda da França e da
Inglaterra para pôr fim à Revolta da Cabanagem, que estava ocorrendo no extremo
norte, na Região Amazônica. A Inglaterra e a França negaram o pedido de socorro.
Acontece que, através deste “pedido de socorro”, Feijó alertou França e Inglaterra que a
Amazônia estava desorganizada e desguarnecida, atraindo as duas potências
expansionistas para a Região. Lembrando que tanto Inglaterra, quanto a França,
possuíam territórios próximos à Amazônia e eram historicamente conhecidas por
avançar territórios alheios.
1. A França foi a primeira a iniciar as investidas para avançar o território
Amazônico. É consabido que, por força dos Tratados de Ultrecht, em 1713,
foram estabelecidas as fronteiras entre a Guiana Francesa e o Brasil, onde a
França reconheceu que o limite seria o Rio Oiapoque. O Tratado
reconheceu que o Amapá pertencia para Portugal, as duas margens do
Amazonas eram portuguesas e proibiu o comércio da França ao Sul do
Oiapoque. Quando Portugal, em 1815, por força da Ata Final do Congresso
de Viena, é obrigado a retirar suas tropas de Caiena, D. João retirou as tropas
até o Rio Oiapoque, reafirmando o limite do Tratado de Ultecht. Tudo estava
em paz até 1830, na “Revolução de Julho”, quando ascendeu ao trono o Rei
Luiz Felipe, o “Rei Cidadão ou Burguês”, representante da Monarquia
Constitucional, nos moldes liberais. A burguesia estava no poder novamente,
precisava ganhar dinheiro e se expandir. Necessariamente, via de regra,
governos burgueses são expansionistas. O “Rei Burguês”, então, retoma o
projeto expansionista na Amazônia. Os franceses avançam em direção ao
Rio Amazonas. Na França, assim como em vários outros países, existiam
institutos oficiais para fazer História e Geografia Nacionais. No caso da
França, havia a Sociedade Oficial de Paris, que tinha alguns historiadores e
geógrafos como membros oficiais da instituição, dentre eles havia um
Irlandês chamado David Warden. David Warden, intencionalmente, com o
apoio do governo francês, redige um mapa que “confunde” o Rio Oiapoque
com o Rio Araguari. Após a conclusão do mapa, em 1834, a França
reivindica que a fronteira entre o Império Brasileiro e a Guiana Francesa
deveria ser limitada pelo Rio Amazonas e não mais pelo Rio Oiapoque. Em
1836, portanto, tropas francesas ocupam militarmente toda a Região da
Guiana e do Amapá até o Rio Araguari. O Pará, onde estava ocorrendo a
Cabanagem, agora estava muito próximo na nova fronteira estabelecida.
Ocorre que, no Pará ainda havia um governo leal ao Rio de Janeiro, lutando
contra os grupos que se rebelaram contra o Poder central, contra o Rio de
Janeiro, contra o centro-sul. O Presidente da Província do Pará era Soares da
Andrea que pretendia enviar um destacamento brasileiro para retirar os
Franceses da “nova fronteira”. O Rio de Janeiro protestou, mas a França
quedou-se inerte e ignorou o apelo brasileiro. Então, o Soares da Andrea
pressupõe que é capaz de combater os franceses, obviamente, que não era e o
Império Brasileiro tinha consciência disso e não apoia uma ofensiva contra
os Franceses, até porque, neste momento, o governo estava mais preocupado
em conter as rebeliões internas. Por isso não houve confronto militar para
tentar expulsar os invasores. Em 1837, já no governo do Araújo Lima,
quando já estava funcionando o “Ministério das Capacidades”, o Brasil
ciente que não conseguia enfrentar a França sozinho, percebeu que era
necessário “habilidade diplomática” para jogar com os conflitos “intra-
europeus”, ou seja, se aliar a um inimigo da França que tivesse força militar
para combatê-la em posição de igualdade ou superioridade. Como solução
para tentar reestabelecer a fronteira determinada pelo Tratado de Ultrecht e
pela Ata do Congresso de Viena, o Brasil resolve, obviamente, se aliar a sua
“amiga” herdada do Império Português, a Inglaterra. O Rio de Janeiro,
portanto, solicita, em 1839, o apoio britânico. Neste momento, a Inglaterra
aceita o pedido de ajuda e concede o apoio para expulsar os franceses do
território brasileiro. Isso ocorreu, porque a Grã-Bretanha também tinha
território próximos a Guiana Francesa e estava se sentido ameaçada pela
política expansionista da França, além disso, obviamente, também tinha
interesse no território Amazônico. Ou seja, a França ameaçada a Guiana
Inglesa que já pertencia à Inglaterra e a Amazônia, território desejado pelos
britânicos. A Inglaterra, então, solicita à França a retirada de suas tropas
militares do território brasileiro, o que corresponde ao Amapá, pelos
Tratados reconhecidos pela Inglaterra. Em 1841, a França aceitou e
concordou em retirar seu posto militar do território brasileiro, mas, solicitou
que o território fosse considerado “Zona Neutra”, sem tropas francesas ou
brasileiras, até que seja decidido, em caráter definitivo, para quem pertencia
o território compreendido entre o Oiapoque o Araguari.
2. A Inglaterra, neste período, possuía a Guiana Inglesa, que fazia fronteira
com território brasileiro, onde hoje está localizado o Estado de Roraima.
Roraima, neste momento, ainda não era considerado um Estado, mas, já
tinha uma definição que fazia parte do território brasileiro. O limite da
fronteira entre a Guiana Inglesa e Roraima seria o encontro das Bacias
hidrográficas de 2 Rios: De um lado, o Rio Amazonas e, de outro Lado, o
Rio Essequibo. A Inglaterra havia concordado com o limite estabelecido.
Acontece que, após os eventos ocorridos na Regência, ficou claro que o
Império Brasileiro não tinha condições de defender a Amazônia. Em 1833, A
Inglaterra ocupou, pela primeira vez, as Ilhas Malvinas e Brasil se
posicionou a favor da Argentina, mesmo sendo aliado histórico da Grã-
Bretanha. Em 1835, o Governo Britânico contratou um alemão para fazer
uma expedição a fim de realizar um levantamento da geografia física Guiana
Inglesa. Quando foi a campo para fazer sua pesquisa, este alemão
ultrapassou os limites e visitou o “Distrito do Pirara”, onde hoje é Roraima,
localizado no lado brasileiro da fronteira. Nesta ocasião, percebeu que o
local era habitado somente por indígenas que, em tese não eram brasileiros,
assim, o Brasil não tinha como reclamar o Uti Possidetis sobre aquele
território. O pesquisador, então, comunica sua “descoberta” ao governo
Inglês. A Inglaterra fica eufórica com a notícia, pois não bastasse o território
ser habitado só por índios, havia indícios que nas proximidades da região
haviam minas de pedras preciosas. Portanto, há interesse econômico,
estratégico, geopolítico e o governo britânico não vai desperdiçar “a
informação privilegiada” contida no relatório elaborado pelo alemão. Em
1838, a Inglaterra enviou um missionário protestante, Thomas Yound, para
colonizar e estabelecer o domínio britânico na região, cravar bandeiras
Inglesas, converter os indígenas e ensinar a língua inglesa para os nativos.
Em 1839, Soares da Andrea, Presidente da Província do Pará, já estava quase
controlando totalmente a Cabanagem, que iniciou em 1835 e terminou em
1840. Por conta disso, Soares pressupõe novamente que tem força militar
capaz de conter a Inglaterra. Assim, ele envia uma tropa para o Distrito do
Pirara, expulsa o Missionário Britânico, ocupa o território para garantir a
soberania brasileira, com um destacamento brasileiro, enviado diretamente
do Pará. Em resposta, o governo da Grã-Bretanha desloca suas tropas da
Guiana Inglesa e envia uma intimação para que o destacamento brasileiro
retire as tropas brasileiras do Distrito do Pirara. Obviamente, o Soares da
Andrea não tinha condições de “peitar” a Inglaterra. Isso gera um impasse,
inclusive, porque o próprio alemão que fez o relatório informando que o
território estava vazio, só tinha índios e minas de pedras precisas,
confeccionou um mapa definindo a fronteira de acordo com o que Brasil
queria. A Inglaterra não aceitou definir a fronteira nos limites propostos pelo
alemão e o impasse continua. Em 1842, o Brasil vai propor um acordo no
sentido de “declarar o Distrito do Pirara, atual Estado de Roraima, também
como “Zona Neutra” e, enfim, a Grã-Bretanha aceita e retira suas tropas. Em
razão disso tanto a questão do Amapá, quanto a questão do Distrito do
Pirara, ficam pendente, para ser resolvida no futuro.
***Intervenção, ascensão e projeção do Rosas, na região sul, no Prata, na Guerra
Civil, no Uruguai: Neste momento a Revolução Farroupilha estava em curso, inclusive,
os Farroupilhas haviam declarado uma República, fato que impedia o exército brasileiro
chegasse para combater os próprios Farroupilhas ou mandar tropas à antiga Província da
Cisplatina, atual Uruguai. A Farroupilha, inclusive, somente se sustentava porque os
Colorados, Uruguaios, estavam financiando a Revolução e permitindo a exportação de
produtos farroupilhas por Montevideo, porque Porto Alegre estava bloqueada Pela
Marinha Brasileira. Diante desta conjuntura, onde o exército estava sucateado, a Guarda
Nacional enfraquecida, a baixa arrecadação, entre outros problemas, o Estado Brasileiro
estava engessado e sem qualquer possibilidade de oferecer reação naquela região. Em
paralelo a isso, ascendia ao poder, na Argentina, no Prata, um federalista, que almejava
reconquistar os territórios do grande “Reino do Prata”, Juan Manoel de Rosas que, em
1835, estabeleceu a Confederação Argentina e se aliar a um grupo, no Uruguai, que
defende interesses convergentes com a causa de Rosas. Inobstante ser Federalista, Rosas
representava os interesses da elite de Buenos Aires. Assim, almeja que o Porto de
Buenos Aires centralizasse todo o comércio local, correspondendo ao único porto
autorizado para escoar a produção das províncias do Interior, excluindo o Porto de
Montevideo. A pretensão se Rosas, apesar de ser um federalista, era centralizar o Poder
Político da Confederação, em Buenos Aires. Enquanto isso, no Uruguai, está se
estruturando um conflito entre dois grupos sociais com interesses divergentes,
denominados: Blancos e Colorados. Os Colorados ligados ao comércio e ao liberalismo.
Os Blancos se aproximavam da perspectiva do Rosas, um estancieiro, são anti-liberais e
mantêm um discurso nacionalista. Naturalmente, Blancos e Colorados entram em
Guerra Civil. O Primeiro Governante do Uruguai Independente era um Colorado,
Frutuoso Rivera, o sucessor de Rivera, entretanto, é um Blanco, Manuel Oribe. Ao final
do governo do Oribe, Rivera se rebela e dá início a uma guerra civil, em 1839, quando
os Colorados tomam a Capital, Montevideo, mas, não conseguem derrotar os Blancos
no interior. A guerra vai se agravar de maneira dramática, Montevideo ficou quase 10
anos sitiada pelos Blancos. Neste momento, Montevideo era chamada de “Nova Tróia”.
Para os Uruguaios é chamada de “Guerra Grande”. Enquanto os Colorados ficavam
sitiados em Montevideo, pelos Blancos, Rosas resolveu intervir no Uruguai, ao lado dos
Blancos, porque havia identidade ideológica entre eles, ambos eram nacionalistas e anti-
liberais. Por outro lado, a ideologia liberal, aproximava os Colorados da Inglaterra. A
ideologia Colorada se achegava, também, as convicções do Governo Brasileiro, mas a
“relação íntima” existente entre Colorados e Farroupilhas, neste momento, obstava uma
aliança com o Rio de Janeiro. Destarte, incialmente, os Colorados puderam contar
apenas com a ajuda dos britânicos. Enquanto isso, Rosas continuou a ofensiva do lado
que lhe interessava e o Governo Brasileiro, durante a Regência, continuava neutro. O
Brasil não havia compreendido o perigo que Rosas representava. Neste contexto, o
Governo Brasileiro, na Regência, conformou duas opiniões acerca do que estava
acontecendo no Prata: a) A primeira é pacifista, frontalmente contrária a uma
intervenção militar no Prata; b) A segunda com caráter intervencionista, favorável ao
Brasil recorrer à intervenção militar para garantir seus interesses na região do Prata. No
segundo Reinado, surge uma terceira posição, que acreditava na necessidade da
utilização de todos os recursos diplomáticos em questões relacionadas ao Prata e, na
hipótese da Diplomacia esgotar as tratativas de paz, sem lograr os resultados esperados,
deveria ser recorrido à Guerra. Este inclusive, é o posicionamento do político brasileiro,
nascido na França, Paulino José Soares de Souza, o Visconde do Uruguai, um dos três
mais importantes Chanceleres do Império, fez parte da Trindade Saquarema, vai mudar
de postura no decorrer do Segundo Reinado. Na década de 1840, o Brasil vai consolidar
o entendimento de que Rosas pretendia anexar o Uruguai à Argentina. Na Regência não
havia essa interpretação.
***Segundo Doratioto, o lema do Rosas era “Morte aos Selvagens Unitários”! Ser
centralizador, não equivale a ser Unitário. Do ponto de vista econômico, Rosas
representava os interesses portenhos, que pretendiam concentrar as Receitas da
Alfândega de Buenos Aires, em Buenos Aires e distribuir um menor parcela disso para
o interior. Boa parte das províncias que estavam resistindo a Buenos Aires também era
formada por federalista, mas queriam outra forma de distribuição das receitas da
alfândega de Buenos Aires.
***Com efeito, é possível comparar a Regência Brasileira com a situação da América e
Espanhola, no período compreendido entre 1810 e 1825, quando a América Espanhola
foi tomada por guerras de independência, movimentos por liberdade e ausência de um
rei legítimo ocupando o trono.
***No final da Regência, havia inúmeras rebeliões pipocando, o confronto parlamentar
existente entre as Assembleias Provinciais e o Executivo, ocupado pelo presidente
Provincial, nomeado pelo Rio de Janeiro, transbordava para os setores populares,
causando o medo de eclodir uma revolução de escravos, de haver uma fragmentação da
Unidade Territorial, enfim, medo que o Brasil vivenciasse a experiência anárquica
ocorrida na América Espanhola, de 1810 até 1825. Para Doratioto, a Regência garantiu
o fim das Revoltas Provinciais e a interrupção do projeto centralizador dos Regressistas,
quando convenceu as oligarquias regionais, que centralizar a Monarquia, era
conveniente para elas, pois era a única maneira de manter o status quo, a ordem sócio-
econômica baseada na escravidão, no latifúndio, na agroexportação, garantir a
manutenção da Unidade territorial através da mediação entre as oligarquias reginais, era
necessário uma unidade nacional entre as elites regionais. Para Doratioto, o processo de
amadurecimento das elites regionais, que antes resistiam à centralização, e durante a
Regência se convenceram que este modelo de centralização enraizado na figura do
Monarca, era o único que viabilizava a manutenção da escravidão, do status quo, da
ordem, do latifúndio, na monarquia, da unidade territorial. Era o único projeto capaz de
viabilizar a construção de um Estado com condições de superar os desafios externos,
por exemplo, peitar a Inglaterra na questão do tráfico e combater o Rosas no Prata. Este
Projeto foi chamado de “Projeto Saquarema”, não atoa, Ilmar Matos um importante
teórico do Período Colonial, que escreveu a tese da moeda colonial, desenvolveu a tese
chamada “Tempo Saquarema” que, em síntese, explica que não importava qual o grupo
que estava no controle do poder, todos estavam convencidos que o Estado Monárquico
Centralizado era a única forma de resolver os problemas da época e garantir o status
quo. Doratioto, não dá muito importância a divisão entre Progressistas e Regressistas,
porque durante toda a Regência os grupos sociais que estão no poder são os mesmos,
burocratas do Rio de Janeiro e as oligarquias cafeeiras do centro-sul. Tanto na
centralização, quanto na descentralização, os projetos implantados servem aos interesses
dessas elites.

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