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FACULDADE LUTERANA DE TEOLOGIA - FLT


DIOGO RENGEL

TRABALHO EXEGÉTICO E PRÉDICA

SÃO BENTO DO SUL


ABRIL DE 2014
2

FACULDADE LUTERANA DE TEOLOGIA - FLT


DIOGO RENGEL

TRABALHO EXEGÉTICO E PRÉDICA (Lc 19.28-40): O Rei humilde em


um mundo soberbo

Traba lho apr esent ado na disc iplina de


Avaliação Final da Faculdade Luterana de
Teologia, como requisito parcial à obtenção de
g r a u d e B a c h a r e la d o e m T e o lo g ia .

SÃO BENTO DO SUL


ABRIL DE 2014
3

SUMÁRIO

1. ANÁLISE DO TEXTO E SÍNTESE EXEGÉTICA......................................................... 4


1.1 Comparação de Traduções ....................................................................................... 4
1.2 Estruturação e Contexto ........................................................................................... 5
1.3 Intertextualidade ...................................................................................................... 7
2. REFLEXÕES TEOLÓGICAS ...................................................................................... 13
3. REFLEXÕES HERMENÊUTICAS .............................................................................. 14
4. QUADRO TEÓRICO HOMILÉTICO .......................................................................... 15
5. REFLEXÕES POIMÊNICAS ....................................................................................... 16
6. REFLEXÕES HOMILÉTICAS .................................................................................... 16
7. SUBSÍDIOS LITÚRGICOS.......................................................................................... 17
8. PREGAÇÃO................................................................................................................. 18
4

1. ANÁLISE DO TEXTO E SÍNTESE EXEGÉTICA

Para dar início a um trabalho exegético é preciso dar atenção aos aspectos mais gerais
do texto bíblico. Por isso, tornam-se importantes as comparações do texto de Lc 19.28-40
entre várias traduções, a análise literária, traduções de alguns versículos 1 a partir do texto
original, contextos e também a estrutura do texto.

1.1 Comparação de Traduções

Neste ponto, quer-se perceber as variações mais significativas entre diferentes


traduções para que, a partir daí, possa se fazer as traduções mais necessárias e chegar à
conclusão de como o texto fica mais bem interpretado. Abaixo, seguem as diferenças entre
quatro traduções: a saber, Almeida Revista e Atualizada (ARA), Nova Versão Internacional
(NVI), Bíblia de Jerusalém (BJ) e Linguagem de Hoje (LH):

ARA NVI BJ LH
“O Senhor precisa “O Senhor precisa “O Senhor precisa “O Mestre precisa
dele” (v. 34). dele” (v. 34). dele” (v. 34). dele” (v. 34).
“Então, o trouxeram Levaram-no a Jesus, Levaram-no então a Então eles levaram o
e, pondo as suas lançaram seus Jesus, estendendo as jumentinho para
vestes sobre ele, mantos sobre o suas vestes sobre o Jesus, puseram as
ajudaram Jesus a jumentinho e fizeram jumentinho, fizeram suas capas sobre o
montar” (v.35). com que Jesus com que Jesus animal e ajudaram
montasse nele (v.35). montasse (v.35). Jesus a montar
(v.35).
No versículo 37, a
LH faz uso de um
--------------------------------- ---------------------------------- ----------------------------------
termo inexistente nas
outras versões:
Jerusalém!
“Por todos os “Por todos os “Por todos os “Por tudo que tinham
milagres que tinham milagres que tinham milagres que eles visto” (v.37).
visto” (v.37). visto” (v.37). tinham visto” (v.37).
Mais uma vez, a
tradução do v. 38
---------------------------------- ---------------------------------- ----------------------------------
pela LH varia
grandemente das
outras traduções.
“Mestre, repreende “Mestre, repreende “Mestre, repreende “Mestre, mande que
teus discípulos” teus discípulos” teus discípulos” os seus seguidores
(v.39). (v.39). (v.39). calem a boca.”
(v.39).
1
A comparação de traduções mostrará os versículos que precisam ser traduzidos a partir do grego.
5

Fazendo a comparação de traduções, pode-se perceber que a Bíblia na Linguagem de


Hoje é a que mais difere. Por outro lado, isto pode ser explicado. Esta versão tem por objetivo
ser mais acessível e inteligível a leitores iniciantes da Bíblia, portanto, não merece tanta
atenção como as dissensões nas outras traduções. Embora as variações não sejam tão
extremas, o versículo que precisa ser traduzido é o trinta e cinco (35), pois é o que mais difere
após uma primeira aproximação:
Kαὶ ἤγαγον αὐτὸν πρὸς τὸν Ἰησοῦν καὶ ἐπιρίψαντες αὐτῶν τὰ ἱμάτια ἐπὶ τὸν πῶλον
ἐπεβίβασαν τὸν Ἰησοῦν. (Original)
E guiaram ele (o burrinho) até Jesus, e lançaram as túnicas deles sobre o burrinho e
colocaram Jesus sobre (ele). (Tradução)
Pode-se perceber que é um versículo um pouco mais complicado para tradução. Por
isso, a tendência nas traduções é fazer algumas adaptações para tornar o texto mais
compreensível. Por outro lado, olhando para o texto original é possível entender o que o
mesmo quer dizer.

1.2 Estruturação e Contexto

Neste momento, torna-se importante verificar a coesidade da perícope, bem como sua
localização dentro de um complexo de textos bíblicos. Também o contexto vivencial e
histórico de Lucas 19.28-40 merece análise.
Quanto à integridade da delimitação desta perícope constata-se o seguinte:2
 Todas as versões bíblicas verificadas delimitam o texto nestes versículos (ARA, BJ,
NVI, LH e Nestle Aland).
 A perícope que antecede é uma parábola, ou seja, de um gênero diferente.
 Mudança geográfica e de tema também.
 O texto possui pé e cabeça.
 Mudança cronológica na perícope posterior (Quando Jesus chegou... v.41).
Diante destas inúmeras evidências, pode-se concluir que a perícope de Lc 19.28-40
possui, sim, coesão e integridade!
Para compreender melhor um texto bíblico, também é importante analisá-lo em partes
(sem esquecer-se do todo, claro). Portanto, a partir da análise do texto, pode-se estruturá-lo da
seguinte forma: 3
2
Como apoio a tais constatações foi utilizado o livro de: WEGNER, Uwe. Exegese do Novo Testamento:
Manual de metodologia. São Leopoldo, Sinodal. 1998. p. 85-88.
6

V. 28 - Introdução.
29 a 31- Desenrolar da história tendo Jesus como sujeito!
32 a 35– Discípulos obedecem as ordens de Jesus e tornam-se sujeitos na cena.
36 a 38 – Enquanto Jesus aproximava-se de Jerusalém ia sendo aclamado.
39 a 40 – Diálogo entre os fariseus e Jesus encerra a perícope. (Conclusão!)

O texto sobre a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém está inserido dentro do bloco
dos evangelhos, especificamente, no livro de Lucas. Anteriormente, Jesus exercia seu
ministério na Galiléia (Lc 4.14-9.50), e neste momento ele estava a caminho de Jerusalém
(9.51-19.44). Ou seja, remete-se aos anos em torno de 30-33 d.C. Lawrence remete este
acontecimento, especificamente, ao ano 33, no domingo antecedente a própria morte.4 No
caso desta perícope, Jesus estava quase avistando Jerusalém, pois estava junto ao monte das
oliveiras. Então, logo após realizar sermões, trazer ensinamentos e curar pessoas, Jesus vai
montado em um burrinho em direção à Jerusalém.
Após este acontecimento (Lc 19. 41ss) Jesus chora ao avistar Jerusalém, purifica o
templo e, diariamente, ensinava no templo. E desta forma, Jesus ia sendo recebido por alguns
e rejeitado por outros.
Aqui, torna-se importante a pergunta pelo gênero literário e também o sitze im leben
(lugar vivencial) do texto estudado. Silva é claro ao dizer que tal tarefa não é nada fácil. 5
Analisando os exemplos mencionados por Silva, poderia se classificar a perícope de Lc 19.28-
40 no gênero literário: Saga de um herói. Neste caso, “o centro do relato é um herói
(personagem positivo) ou um vilão (personagem negativo).”6 Jesus é o personagem central
positivo que está sendo enfatizado no relato deste texto. Por outro lado, também existe uma
controvérsia entre Jesus e alguns fariseus. Esse tipo de texto também pode ser caracterizado
como novela.
Quanto ao seu sitze im leben parece estar muito mais ligado à liturgia e ao culto do que
qualquer outro dos exemplos existentes. Neste modelo cabem “as várias situações da vida
humana ligadas à religião: peregrinação, chegada a um santuário, votos e sacrifícios.” 7 No
caso da entrada triunfal de Jesus, Ele está peregrinando rumo a Jerusalém que também era
uma espécie de santuário para o povo de Israel, onde encontrava-se o templo. Portanto, trata-

3
Estruturação do próprio autor.
4
LAWRENCE, Paul. Atlas Histórico e Geográfico da Bíblia. Barueri: SBB, 2008. p.145.
5
SILVA, M.D. Cássio. Metodologia de Exegese Bíblica. 3.ed. São Paulo: Paulinas, 2009. p. 232.
6
Ibid., p. 191.
7
Ibid., p. 232.
7

se de uma saga, ou novela, cujo lugar vivencial é o culto e a liturgia. Boyer diz que o relato da
entrada triunfal de Jesus é tão importante que é “um dos poucos eventos, na história de Cristo,
registrado em todos os quatro evangelhos.” 8

1.3 Intertextualidade

Neste passo, quer-se olhar, atenciosamente, para o conteúdo do texto, bem como para
as correlações bíblicas. Análise de termos, textos sinóticos e o debate com fontes secundárias
também são importantes neste ponto.

Análise de termos: Os termos que, a princípio, parecem ser relevantes para a pesquisa
são: O verbo estender (ὑποστρωννύω), louvar, exaltar (εὐλογέω) e gritar, clamar (κράζω). O
verbo ὑποστρωννύω, por sua vez, ocorre apenas neste versículo bíblico, o que torna difícil a
análise. Ou seja, trata-se de um hapax-legómenon (palavras que aparecem somente uma vez
na Bíblia).9
εὐλογέω: São 41 menções ao verbo, 8 ocorrências do adjetivo e o substantivo
aparece em 16 oportunidades. 10 Interessante é que, nos evangelhos, somente o verbo aparece
com mais frequência. Por isso, a atenção estará voltada, muito mais, para as aparições do
verbo nos textos bíblicos. Becker diz que “comparado com o significado fundamental da
benção no AT, o NT dá menos destaque tanto ao conceito como ao ato.”11
Pode-se perceber que, em muitos casos, o termo é utilizado para designar a benção da
parte de Jesus em direção às pessoas (Mt 14.19; 26.26; Mc 8.7; Lc 13.35). Por outro lado,
outras pessoas também são sujeitos no uso do termo: Simeão e Isabel, por exemplo (Lc 2.34;
1.42). No caso da perícope de Lc 19.28-40, o uso do termo é um cumprimento de algo que
Jesus havia dito no capítulo 13, versículo 35.
Becker diz que a forma verbal εὐλογημένος (eulogeménos) “não somente expressa
louvor e saudação, como também reconhece que Deus abençoou a pessoa saudada. Jesus é
saudado com esta exclamação.”12 Isto significa que, quando o povo aclama a Jesus como
“bendito”, eles também reconhecem que Jesus já lhes tinha abençoado. A aclamação do povo

8
BOYER, Orlando. Espada Cortante v.2. Pindamonhangaba: Ibad. p. 227.
9
SCHALKWIJK, L. F. Coinê: pequena gramática do grego neotestamentário. MG: Ceibel, 2004. p. 77.
10
Concordância Fiel do Novo Testamento. vol. 1 – Grego-Português. São Paulo: Editora Fiel, 1994. p. 336.
11
LINK, H.G. In: COENEN Lothar, BROWN Colin. Dicionário internacional de teologia do Novo
Testamento. vol. 1. 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 2000. p. 214.
12
Ibid., p. 214.
8

é uma resposta para a benção que Jesus já havia concedido. E mais, “esta forma de saudação
também dá as boas-vindas ao reino de Deus, iniciado por Deus com a vinda do Messias (Mc
11:10).”13
Além disto, uma das derivações do termo também pode caracterizar o culto racional
das pessoas em relação a Deus. Paulo fala, em Romanos 12, do culto racional ( λογικὴν
λατρείαν). “O culto aceitável consiste no serviço apresentado por aqueles que realmente
compreendem o evangelho e desejam assumir suas implicações em todas as esferas da
vida.”14 A pergunta que fica é: Será que os que aclamaram a entrada de Jesus em Jerusalém
fizeram integramente?
κράζω: São 55 aparições do termo, sendo que, a maior parte delas, está nos
evangelhos, no livro de Atos, escrito por Lucas e também no Apocalipse de João.15 Os
escritos paulinos, por sua vez, fazem pouquíssimo uso deste termo. O vocábulo pode ser
traduzido como: Clamar ininteligivelmente, gritar, chamar e convocar. 16 Aliás, Carson já
identifica que o próprio termo já identifica um grito. “O vb. krazo tem uma derivação
onomatopática, kr + vogal + gutural, o que reflete o grasnido do corvo.”17
Na perícope de Lc 19.28-40, onde o termo é utilizado, alguns fariseus pedem que
Jesus mande os discípulos se calarem no momento em que eles estão aclamando a Jesus. Mas
Jesus diz que se eles se calarem, ou seja, não clamarem, até as pedras clamarão. Carson
identifica esta passagem como uma metáfora de personificação. Diante deste dito até mesmo
curioso de Jesus, pergunta-se pela relevância deste termo, pois também este versículo parece
central na perícope.
No geral, pode-se perceber que o clamor é algo que parte de pessoas que estão
desesperadas diante de Jesus (Mt 9.27; 15.22; Mc 10.47, etc.). Carson diz que, “o clamor que
se retrata nos Salmos frequentemente pulsa com a certeza de que Deus responderá.” 18 Aliás, o
clamor sempre vem acompanhado da esperança, pois, ao contrário, não precisaria clamar. Por
outro lado, também nos pedidos para que Cristo fosse crucificado este termo é utilizado. O
que fica claro é que são clamores genuínos que brotam das pessoas. Hora para clamar e
aclamar a Jesus, hora para crucificá-lo.

13
LINK, H.G. In: COENEN Lothar, BROWN Colin. Dicionário internacional de teologia do Novo
Testamento. vol. 1. 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 2000. p. 214.
14
PETERSON, D.G. In: In: ALEXANDER, T.D.; ROSNER, B.S. Novo Dicionário de Teologia Bíblica. São
Paulo: Vida, 2009. p. 557.
15
Concordância Fiel do Novo Testamento. vol. 1 – Grego-Português. São Paulo: Editora Fiel, 1994. p. 446.
16
GINGRICH, F. Wilbur. Léxico do Novo Testamento– Grego| Português. São Paulo: Vida Nova, 2007. p.120.
17
CARSON, D.A. In: COENEN Lothar, BROWN Colin. Dicionário internacional de teologia do Novo
Testamento. vol. 1. 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 2000. p. 359.
18
Ibid., p. 360.
9

Também Cristo é o sujeito do clamor (Mt 27.50). “Quando, finalmente, Ele clama, não
é um som inarticulado; é a oração ao Seu Pai que leva Sua obra na cruz ao seu clímax
bendito.”19 No livro de apocalipse, por sua vez, “a pletora de gritos dramáticos reforça o
pensamento de que o fim vem de modo rápido e cataclísmico.” 20 Pode-se perceber que o
termo é utilizado em diferentes ocasiões, tendo diferentes sujeitos. Por outro lado, o que
transparece é que o clamor brota de lábios desesperados que, no geral, anseiam um encontro
com o Senhor. São gritos de pessoas que reconhecem sua fraqueza e limitação diante do Deus
altíssimo.

Correlação Bíblica: Aqui, quer-se olhar para os textos paralelos que contribuem para
a compreensão da perícope. Ou seja, textos que estão direta ou indiretamente ligados à Lc
19.28-40 e que precisam ser analisados. Além dos relatos sinóticos (Mt 21.1-9; Mc 11.1-10;
Jo 12.12-16), outros textos podem ser lembrados em sua relação com este.
A primeira passagem que chama a atenção é a de Lc 13.35: Eis que a vossa casa vos
ficará deserta. E em verdade vos digo que não mais me vereis até que venhais a dizer:
Bendito o que vem em nome do Senhor! Aliás, a frase grifada em negrito é muito similar
àquela encontrada em Lc 19, com exceção da inclusão do termo rei, que acontece em Lc
19.38. Alguns pesquisadores dizem que “aqui está se referindo explicitamente ao rei. E
somente o Evangelho de Lucas traz as palavras ‘paz’ e ‘glória’; Lucas pode ter optado por
estas em lugar de ‘Hosana’, pois seus leitores gentios não a compreenderiam. A palavra
‘glória’ transmite o significado.”21
Outras similaridades interessantes com este texto dizem respeito a outros momentos
em que a chegada de Jesus era motivo de alegria. No seu nascimento, por exemplo. Após ser
concebido (sua chegada), uma milícia celestial louvava a Deus dizendo: Glória a Deus nas
maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem (Lc 2.14). Da mesma
forma, quando Jesus é levado à Jerusalém para ser apresentado ao Senhor, Simeão O toma nos
braços e louva ao Senhor (Lc 2.28.). É interessante que a presença de Jesus sempre causa
algum efeito, pois não poderia ser diferente com o filho do Homem.
Outro fato interessante é que as multidões seguiam a Jesus (Mc 5.24; Mt 4.25; 9.8; Mt
21.9, etc.). Obviamente que alguma coisa de diferente este homem. O fato de as multidões o

19
CARSON, D.A. In: COENEN Lothar, BROWN Colin. Dicionário internacional de teologia do Novo
Testamento. vol. 1. 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 2000. p. 360.
20
Ibid., p. 361.
21
Bíblia de Estudo Genebra. 2. Ed. Barurei, SP. Sociedade Bíblica do Brasil; São Paulo: Cultura Cristã, 2009.
p. 1355.
10

seguirem e o aclamarem como Bendito também tem significado importante dentro do Novo
Testamento. Por isso, a análise de detalhes do conteúdo também se concentrará em alguns
destes aspectos percebidos aqui, na correlação bíblica.

Análise de Detalhes do Conteúdo: Neste momento, faz-se necessário o uso de fontes


secundárias que auxiliam na pesquisa sobre a perícope. O uso de comentários, dicionários
teológicos e livros de teologia bíblica servem como apoio.
Na perícope de Lc 19.28-40 Jesus está indo em direção a Jerusalém (v. 28). “Ao entrar
na cidade santa, cavalgando num jumentinho, completara Seu maravilhoso ministério na
Peréia.”22 Jesus ia com os peregrinos até a cidade de Jerusalém, por causa da páscoa. Mas, ao
contrário da multidão, Jesus não chegou no mesmo instante em Jerusalém, pois parou junto ao
monte das oliveiras, próximo a Betânia e Betfagé (v.29), fronteira com Jerusalém.
Interessante como os autores destes relatos se preocupam também com a questão geográfica.
“A importância que a tradição deu ao acontecimento também pode ser
vista nos repentinos esforços em localizá-lo. [...] O cortejo dos
peregrinos se aproximava de Jerusalém pela estrada de Jericó, onde do
lado leste da cidade se estendia o monte das oliveiras. Este monte
longo, com três pontos altos, era o divisor de águas para os peregrinos,
depois de vinte e cinco quilômetros e mil metros de subida. Dali
podia-se ver com um olhar toda a cidade.”23

Mas como o povo sabia que Jesus chegaria a Jerusalém? Como já estavam o
esperando? As palavras de Rienecker resumem o motivo do encontro da multidão com Jesus
no dia da entrada triunfal:
“A massa dos peregrinos da festa havia continuado a marcha até a
capital no dia anterior, espalhando o boato da chegada de Jesus a
Betânia. Isso motivou uma porção de pessoas a irem até Betânia na
manhã seguinte, a fim de ver Jesus e também Lázaro.”24

Ao parar junto ao monte das Oliveiras, Jesus pede para dois discípulos irem adiante
buscar um burrinho, lhes dando todas as coordenadas (v.30-31). Pergunta-se: Quem eram
esses discípulos? Não há resposta, diz Boyer. 25 Rienecker, por sua vez, diz que “com certeza
Pedro foi um dos dois discípulos enviados, pelo que se explica a precisão na descrição dos
detalhes em Marcos.”26 Já o segundo discípulo permanece como incógnita. De qualquer

22
BOYER, Orlando. Espada Cortante v.2. Pindamonhangaba: Ibad. p. 216.
23
POHL, Adolf. Evangelho de Marcos: Comentário Esperança. Curitiba: Esperança, 2004. p. 321.
24
RIENECKER, Fritz. Evangelho de Lucas: Comentário Esperança. Curitiba: Esperança, 2004. p. 393.
25
BOYER, Orlando. Espada Cortante v.2. Pindamonhangaba: Ibad. p. 229.
26
RIENECKER, Fritz. Evangelho de Lucas: Comentário Esperança. Curitiba: Esperança, 2004. p. 393.
11

forma, interessante é o fato de que Jesus sabia exatamente o que iria acontecer naquele
momento em que os discípulos iriam buscar o burrinho. Claro, Ele era Deus, Ele é Deus!
As palavras de Jesus, com certeza, também confortaram e, em boa medida,
despreocuparam os discípulos. Eles não precisavam procurar um burrinho, muito menos
negociá-lo, só precisavam ir até lá achar e pegar, pois o Senhor precisava Dele. “Uma mão
poderosa está agindo. ‘Achar’, aqui e no v.4, não é resultado de uma busca diligente, mas da
direção divina.”27 Era na direção divina que as coisas iam sendo encaminhadas. Não só aqui,
mas em todo o ministério de Jesus. E foi assim que, logo os discípulos conseguiram o
burrinho para trazê-lo até Jesus. “O fato de que diante da frase ‘o Senhor precisa dele!’ o
proprietário do jumentinho concordou em entregar o animal aos discípulos, conforme Jesus
havia previra, permite concluir que esse homem com certeza conhecia o Senhor e o havia
reconhecido como ‘O Senhor’.”28 Trata-se de um título messiânico, não de um pronome de
tratamento que denota respeito. O dono do burrinho O reconhecia como o Messias enviado
por Deus.
O Senhor precisa dele (v. 31). “O título de ku,rioς foi provavelmente vinculado muito
cedo com as aparições do ressuscitado e depois teve uma difusão maior, até chegar quase a ser
o nome de Jesus (cf. Lc 19.31,34).29 Ou seja, ao ir se aproximando do tempo da paixão, Jesus
já admitia títulos messiânicos para si. Para Rienecker, “até então Jesus havia se distanciado
das aclamações do povo. Agora ele pretendia revelar-se como o Messias no meio da
multidão.”30 Até mesmo porque sua morte logo chegaria e esta revelação não mudaria a
trajetória de seu ministério.
Um burrinho que nunca havia sido montado era o que o Senhor precisava. Mas por
quê? Alguns dizem que “o fato de ninguém tê-lo montado indica que não era destinado ao uso
secular, e assim serviria perfeitamente para um propósito sagrado.” 31 A entrada triunfal de
Jesus aconteceria montado em um burrinho, um jumentinho. “O jumento como montaria
representava, neste contexto, a vida paradisíaca, ainda não contaminada. Em contraste com
isto, montar a cavalo, este costume introduzido mais tarde, era considerado coisa de
opressores e incrédulos.”32 Aliás, também no contexto vétero-testamentário o uso do cavalo

27
POHL, Adolf. Evangelho de Marcos: Comentário Esperança. Curitiba: Esperança, 2004. p. 322.
28
RIENECKER, Fritz. Evangelho de Lucas: Comentário Esperança. Curitiba: Esperança, 2004. p. 393.
29
SCHNELLE, Udo. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Paulus, 2010. p. 631.
30
RIENECKER, Fritz. Evangelho de Lucas: Comentário Esperança. Curitiba: Esperança, 2004. p. 393.
31
Bíblia de Estudo Genebra. 2. Ed. Barurei, SP. Sociedade Bíblica do Brasil; São Paulo: Cultura Cristã, 2009.
p. 1355.
32
POHL, Adolf. Evangelho de Marcos: Comentário Esperança. Curitiba: Esperança, 2004. p. 322.
12

tinha esse ideal militar e de domínio, sendo colocado em oposição a vida em submissão a
Deus (Sl 20.7).
“É importante notar que tudo o que aconteceu teve origem em Jesus: o
plano, a tarefa dos mensageiros, sua ida obediente, a entrega do
animal, as vestes à guisa de sela para que ele pudesse montar, assim
como a aclamação. E ele foi andando, sem armas, em silencio e até
chorando (Lc 19.41), porém de forma alguma como lunático que deixa
o controle para seus discípulos. A ação é dele. Agora que ele chega ao
seu local de sofrimento, eles só podem gritar seu reconhecimento do
Messias. [...] Sua realeza culmina na morte obediente.”33

É o rei humilde no mundo soberbo! Talvez não tenha sido do modo como muitos
esperavam. Deus se revela nas situações adversas. E isto fica ainda mais claro na glorificação
que acontece na cruz. Era o cumprimento do texto de Zacarias 9.9: Alegra-te muito, ó filha de
Sião; exulta, ó filha de Jerusalém: eis aí te vem o teu Rei, justo e Salvador, humilde, montado
em jumento, num jumentinho, cria de jumenta [ARA]. João relata que os próprios discípulos, a
princípio, não haviam compreendido a entrada de Jesus em um jumentinho (Jo 12.16). A cruz
se tornara o critério para a compreensão dos acontecimentos pré-pascais.
E assim Jesus ia sendo aclamado, as pessoas iam esticando suas vestes para que ele
pudesse passar (v. 36-38). Bendito é o Rei que vem em nome do Senhor! “O povo queria
render-lhe a maior homenagem.”34 Fizeram isto o adorando em alta voz e também estendendo
as próprias vestes. Pohl diz que “estender as capas aos pés de uma pessoa de honra era um
gesto comum de homenagem. Junto com isto podiam-se espalhar ervas aromáticas ou
flores.”35 Aliás, faz lembrar as situações em que as pessoas se submetem a outras estendendo
as vestes sobre lugares sujos para que elas possam passar.
A menção ao Sl 118.26 também traz um aspecto interessante. Ela sempre foi utilizada
no plural com o intuito de receber os peregrinos que vinham para o culto festivo, mas aqui é
direcionado, em especial, para Jesus de Nazaré, o Rei! 36 Interessante é que o relato paralelo de
Mateus quer deixar claro que o louvor em alta voz é para Jesus, e não simplesmente para os
que estão chegando para o culto: Hosana ao Filho de Davi... (Mt 21.9.b).
No relato de Lucas, Jesus é aclamado como o Rei, que os relatos sinóticos não
mencionam. “Dessa maneira se reconhece a dignidade real de Jesus. Ele é o Rei enviado por
Deus.”37 Agora existe paz no céu e glória nas maiores alturas, pois o plano de Deus está se

33
POHL, Adolf. Evangelho de Marcos: Comentário Esperança. Curitiba: Esperança, 2004. p. 323.
34
BOYER, Orlando. Espada Cortante v.2. Pindamonhangaba: Ibad. p. 231.
35
POHL, Adolf. Evangelho de Marcos: Comentário Esperança. Curitiba: Esperança, 2004. p. 323.
36
Ibid., p. 323.
37
RIENECKER, Fritz. Evangelho de Lucas: Comentário Esperança. Curitiba: Esperança, 2004. p. 394.
13

cumprindo. E como já foi mencionado, faz lembrar o louvor dos anjos no dia do nascimento
do Senhor. “E Jesus? Jesus aceita a honra que lhe cabe. Afinal, ele é realmente ‘o rei de
Israel’.”38
Os fariseus, por sua vez, não estavam satisfeitos. Não concordavam com o júbilo do
povo, mas estavam ali escondidos entre os discípulos. Para eles, “o senhor devia proibir o
júbilo aos discípulos. Visto que Jesus não era aquilo que seus discípulos proclamavam, o
júbilo da multidão, segundo a opinião dos fariseus, não passava de blasfêmia.” 39 Certamente,
estes fariseus faziam parte das inúmeras pessoas que esperavam um Messias contrário ao que
lhes surgiu. Algum guerrilheiro que pudesse implantar justiça e paz, mas não alguém montado
em um jumentinho.
Ora, se os discípulos não clamassem, as pedras clamariam (v.40). “A expressão ‘as
pedras clamarão’ é proverbial (Hc 2.11). Aqui ela representa uma alusão velada à destruição
de Jerusalém, sendo que as pedras da cidade do templo representavam o juízo condenatório de
Deus.”40 Clamar ao Senhor foi um gesto do reconhecimento de Jesus como: O Senhor. Uma
atitude impossível de ser controlada. Hc 2.11: Porque a pedra clamará da parede, e a trave
lhe responderá do madeiramento [ARA]. Se o povo não clamasse, as próprias pedras
atestariam contra os fariseus que Jesus era o Senhor.

2. REFLEXÕES TEOLÓGICAS

A perícope de Lc 19.28-40 nos transmite algumas afirmações teológicas que merecem


destaque:
 Jesus Cristo é o Senhor enviado por Deus (o Messias)!
 Vem disposto a ser humilde (Fp 2.5-11): “Ele precisa de um Jumentinho”
 Ele sempre tem os que o aceitam (Discípulos), e os que o rejeitam (Fariseus).

Levando em consideração as afirmações teológicas do texto, também pode se perceber


o seu escopo em alguns pontos:
 Jesus é obediente em relação a sua missão (vai até Jerusalém).
 Podendo ter tudo, abre mão, a fim de ter nada (Precisa dos discípulos, do burro).

38
DE BOOR, Werner. Evangelho de João II: Comentário Esperança. Curitiba: Esperança, 2004. p. 46.
39
RIENECKER, Fritz. Evangelho de Lucas: Comentário Esperança. Curitiba: Esperança, 2004. p. 394.
40
Ibid., p. 395.
14

 Ele não precisa de posses para ser reconhecido como O Senhor! (Centro).
 Muitos não o recebem como Senhor (fariseus, por exemplo).

3. REFLEXÕES HERMENÊUTICAS

A perícope de Lucas 19.28-40 traz alguns enfoques teológicos bastante interessantes.


Olhando os mesmos no ponto anterior (Cap. 2), pode-se perceber que é um texto que fala
muito para os dias de hoje. O mundo é marcado pelo ateísmo prático! Por outro lado, é
plurirreligioso, sendo que causa muitas confusões. Em alguns casos, até o espiritismo vira
religião cristã. Quem de fato é Jesus? O que ele veio fazer na terra 2000 anos atrás? Como a
trajetória dele se reflete na vida do ser humano dos dias de hoje? São algumas perguntas que o
texto nos responde.
O texto é direcionado, principalmente, para os contextos urbanos onde a negação de
Deus e de Jesus Cristo é ainda mais preocupante. Ou seja, se os fariseus e tantos outros já
negavam a Jesus Cristo, muito mais nos dias de hoje. É para estas pessoas que o texto está
direcionado. Pessoas que pensam que seus bens são a garantia de vida. Jesus mostra que não
são. Aliás, ele mesmo desapega de todo e qualquer bem material, mesmo podendo ter tudo o
que queria. O texto quer falar para as pessoas que confiam no Messias da ciência, da
tecnologia, do individualismo, etc.. Nos tempos de Jesus também esperavam um Messias
humanamente poderoso e diferenciado, mas estavam iludidos. A perícope de Lc 19.28-40
também quer apresentar um estilo de vida que vai contra os padrões do mundo, pois a alegria
e a salvação não estão baseadas ali, mas naquele que foi obediente até a morte.
O texto tem uma mensagem especial para os mais diferentes públicos. A seguir alguns
ensinamentos que o texto traz para o autor do texto, para uma comunidade e para a sociedade
em geral.
Para mim: Penso que o texto traz alguns ensinamentos interessantes para minha vida.
Acredito que, durante meu futuro ministério, preciso estar muito mais focado naquilo que
Deus quer de mim do que naquilo que eu quero. Jesus não procurava os próprios interesses,
não era egoísta, mas era obediente. Não preciso buscar honras próprias, esse não é o objetivo.
Minha glória precisa estar no Senhor! Também acredito que, assim como Jesus, o ministério é
algo onde eu preciso abrir mão de muitas coisas para fazer o que Deus quer. Aliás, o texto só
surte este efeito em mim porque também para mim Jesus é o Senhor.
15

Para comunidade: A perícope traz ensinamentos também para a igreja de Cristo. Ele
convida os seus servos a abrir mão de suas paixões a fim de fazer a vontade de Deus. Convida
o seu povo a humildade. E mais, nos convida a aclamar a Jesus como Rei. Esta também é a
tarefa da igreja: Pregar Jesus Cristo como Senhor. Se sua igreja não fizer a sua parte, alguém
estará fazendo (talvez, até mesmo as pedras). Pregá-lo como O Cristo de Deus! Ele não é
apenas um mestre, um líder, mas é Rei, o Messias de Deus que precisa ser anunciado. Ele é
aquele que teve sua trajetória na terra para que, a partir disto, a vida de pessoas pudesse ser
transformada.
Sociedade: Jesus Cristo quer ser Senhor também da vida daqueles que vivem sem Ele.
Ele veio para buscar e salvar o perdido (Lc 19.10). Também aqueles que o rejeitam são alvo
de sua missão. Ele não pode ser compreendido e apreendido por meio da razão, somente a fé
consegue apreender esse Jesus.

4. QUADRO TEÓRICO HOMILÉTICO

Público Alvo: Comunidade Cristã em um contexto urbano.


Contexto: Uma comunidade com cerca de 2000 membros. Localizada no centro de uma
cidade com aproximadamente 50.000 habitantes que é rodeada por muitas oportunidades
profissionais, relacionais e de lazer. Ou seja, uma comunidade com um público de boa classe
social, rodeados pelas tendências urbanas que estão predominando (shoppings, cinemas, lojas,
jogos, religiões, seitas, etc.).
Objetivo Geral: Trazer a consciência das pessoas que Cristo é o Senhor, ou seja, que ele é
Deus.
Objetivos Específicos: Levá-los a compreensão de quem eles realmente são (Discípulos ou
Fariseus?)! Que eles sintam e relembrem do amor de Jesus para com eles. Instruir e encorajar
a proclamar o senhorio de Jesus Cristo / Viver integralmente este Evangelho pelo qual foram
alcançados / Saber que não é o que temos que nos traz salvação, mas aquilo que somos por
causa de Jesus.
16

5. REFLEXÕES POIMÊNICAS

As afirmações teológicas também refletem os aspectos poimênicos do texto. A


afirmação de Jesus é o Senhor e, sendo assim, é o Messias enviado por Deus é motivo de
conforto! Muitas pessoas amparam suas esperanças em muitas pessoas, objetos e filosofias.
Saber que Jesus é o Messias que já foi enviado por Deus me conduz a um sentimento de
esperança que não está baseado naquilo que é criado por mãos humanas, mas naquilo que é
plano de Deus! Jesus foi enviado como Messias não somente para as pessoas daquele tempo,
mas isto tem reflexos para os meus dias hoje!
Ele foi obediente até a morte! Jesus sabia que sua ida até Jerusalém também era
sinônimo de morte! E se ele foi fiel naquele tempo, também nos dias de hoje se mostrará fiel
por meio de sua palavra. Os crentes em Cristo não precisam desesperar, pois aquele que
prometeu também é fiel para cumprir (Hb 10.23).
Jesus foi humilde e mesmo que tudo estava sob seu controle, ele precisava das pessoas
a sua volta, de um jumentinho, etc. Boyer reflete muito bem este caráter poimênico do texto
quando escreve:
“Crês que o Senhor Jesus precisa de ti? Como Rei, precisa de súditos.
Como Mestre, carece de discípulos. Como Capitão, necessita de
soldados. Como Trabalhador, deve ter serventes. Como Amigo, anela
companheiros. Como Amante, Ele quer homens, mulheres, jovens e
crianças dedicados a Ele. Sua necessidade é a nossa oportunidade.” 41

As palavras de Boyer também refletem o caráter do papel sacerdotal (1 Pe 2.9) que


deve estar presente nos crentes. Trabalhar para Jesus também é poimênico e desenvolve
conforto libertador. E mais, o seu povo é chamado a anunciar o senhorio de Cristo aos que
não o reconhecem como tal. Para os que não o conhecem, ainda há tempo, Ele vem ao
encontro dos que precisam, assim como foi até Jerusalém.

6. REFLEXÕES HOMILÉTICAS

Neste ponto é importante destacar a estruturação formal que a prédica também seguirá.
Ou seja, apresenta-se a dinâmica da pregação.

41
BOYER, Orlando. Espada Cortante v.2. Pindamonhangaba: Ibad. p. 230.
17

Estrutura:
Introdução: Como introdução à mensagem será feita uma analogia em relação à
esperança messiânica nos tempos de Jesus. Do mesmo modo como as pessoas
pensam e planejam a chegada de um filho, por exemplo, também o povo de Israel
esperava o Messias “dos sonhos”. A pergunta que fica é: Deixamos de amá-lo (o
filho) e aceitá-lo porque fomos frustrados em nossos planos, ou o amamos e
aceitamos porque ele é um presente de Deus? Além de ser um modelo mais lúdico
de introdução, também faz com que as pessoas usem a própria imaginação para
fazer associações.

Desenvolvimento em 3 pontos:
1) O Rei humilde em um mundo soberbo (o abrir mão)!
2) Ele é o Messias de Deus, O Senhor!
3) Você O aceita, ou O rejeita? O anuncia, ou O nega?

Conclusão: O desfecho da pregação retomará aspectos que foram importantes


desde a introdução da mensagem. Isto tem o objetivo de repetir algumas coisas
para que o público possa apreender mais facilmente o conteúdo.42

7. SUBSÍDIOS LITÚRGICOS

O texto poderia ser pregado no domingo anterior à Páscoa, conhecido liturgicamente


como “Domingo de ramos”. Aliás, é justamente nesta época anterior à Páscoa que o texto
aconteceu historicamente.
Textos paralelos que apoiam ou embasam a pregação são: Sl 118.26; Zc 9.9; Jo 12.12-
19. O texto do Evangelho de João, apesar de ser um dos textos sinóticos, traz algumas
diferenças interessantes e também serviria como apoio.
Levando em consideração também o período da semana da paixão, alguns cânticos
que estão relacionados com este período, texto e pregação são: Há momentos (Az 151); Jesus
Cristo é Rei (HPD 95); Louvado seja o meu Senhor (Az 93); Oh, bem cego eu andei (HPD
198); etc..

42
Slides acompanhariam a mensagem como recurso visual.
18

8. PREGAÇÃO

Bom dia! Quantos de vocês já têm filhos? Quantos de vocês ainda querem ter filhos?
Com certeza, muitas pessoas já têm filhos ou pretendem ter. São presentes de Deus pra vida
das pessoas. Mas tendo, ou não, o fato é que quando nós pensamos em ter um filho, pensamos
e planejamos também como ele deveria ser, ou seja, nós criamos expectativas. Muitas frases
saem da nossa boca: Ah, poderia ser um menino! Ah, poderia ser uma menina! Poderia vir
com olhos verdes! Que puxe a mãe, porque o pai... Ou, que tenha o rosto como o da mãe! As
pernas como as do pai! Etc, Etc.. Nós vamos imaginando em nossa mente como ele deveria
ser. Certamente, alguns de vocês que já tem filhos, ou estão pensando em ter, pensam e já
pensaram estas coisas.

Mas e se suas expectativas e planos fossem frustrados? Digamos que o seu filho tenha
nascido totalmente diferente do que você esperava. Quem sabe, infelizmente ele veio parecido
com o pai. Quem sabe, e essas coisas também podem acontecer, tenha nascido até com
alguma doença, anomalia, alergia, ou algo assim. Ela continua sendo presente de Deus para
você? Você ainda o amaria? Mesmo que estivesse fora daquilo que era sua expectativa, você
ainda o aceita como presente de Deus para sua vida? Creio que sim! Vocês já entenderão
porque fiz vocês pensarem nisto.

Nós estamos na quaresma, especificamente no domingo que antecede a páscoa que


também é conhecido como? (Deixar que falem...) Domingo de Ramos! E neste dia, nos
lembramos de um texto onde Jesus entra na cidade de Jerusalém aclamado por muitos
discípulos. Creio que a história é comum para nós. Muitas pessoas iam adorando ao Senhor,
mas nem todas... Muitos não o aceitaram como enviado de Deus (Messias).

Foi por isso que falei com vocês sobre a expectativa da chegada de um filho. Assim
como nós criamos expectativas em relação à vinda de uma criança, também os judeus tinham
a expectativa messiânica que era relacionada à chegada do Messias. Esperavam por um
Messias vitorioso e poderoso materialmente. Alguém que dominasse e subjugasse o Império
Romano e que, literalmente, trouxesse a paz pelo fio da espada. Mas não foi bem assim! E por
isso, muitos o rejeitaram e o ignoraram. Entretanto, da mesma forma, continuava sendo
presente de Deus para o povo. Porém, não foi recebido como presente, pois foi rejeitado por
muitos. As perguntas que cabem a nós são: Quem é Jesus Cristo para você? Você O
reconhece como presente de Deus para sua vida? Aliás, a quaresma e a Páscoa só fazem
19

sentido caso você saiba verdadeiramente quem é Jesus. Você O reconhece como O Messias de
Deus que foi enviado para te salvar? É neste sentido que o texto de Lucas 19.28-40 quer nos
convidar a refletir nesta manhã. Convido a comunidade para que possam abrir as suas Bíblias
no Evangelho de Lucas, Capítulo 19, vv. 28-40.

Leitura (Lucas 19.28-40).43

Depois de exercer seu ministério na Galiléia, Jesus estava a caminho de Jerusalém


para consumar completamente o seu ministério aqui na terra. Neste momento, Jesus está
chegando perto de Jerusalém com vários outros peregrinos que iam para a festa de páscoa. E
nós queremos entender este texto em três pontos: 1) O Rei humilde em um mundo soberbo (o
abrir mão)! 2) Ele é o Messias de Deus, O Senhor! 3) Você O aceita, ou O rejeita? O anuncia,
ou O nega?
O Rei humilde em um mundo soberbo! Realmente, o texto deixa claro que Jesus
Cristo vem como um rei humilde inserido em um mundo soberbo. A soberbia humana
também lhes fazia acreditar que o Messias viria como um líder político opressor pronto para
implantar a paz por meio da espada. Jesus frustra as pessoas porque isto não acontece! Foi a
mesma soberbia do mundo que também cegou aqueles que O rejeitaram. Apesar de Jesus
poder, sim, vir ao mundo de modo soberano, ele esvazia-se a si mesmo, vindo a ser servo (Fp
2.7). Jesus abre mão, sendo que não tinha nem onde reclinar a sua cabeça (Mt 8.20). Jesus
precisa até mesmo de um jumentinho, conforme diz o texto. Neste momento do ministério,
Ele está cumprindo a profecia de Zc 9.9, mas nem os próprios discípulos haviam
compreendido isto (Cf. Relato de João 12). Aliás, a própria figura do burrinho é uma afronta à
esperança messiânica, pois no modelo de expectativa messiânica presente na época, Ele
deveria vir montado em um cavalo (figura de guerra) e não em um jumentinho.
Este texto, em primeiro lugar, é uma afronta a toda e qualquer tipo de teologia da
prosperidade distorcida que se prega por aí. Neste tipo de pregação insistem em dizer que
você não pode se conformar com a pobreza e com a falta de bens materiais, mas o exemplo de
Jesus nos mostra o contrário. Como podem pregar tal aberração? Poderiam até mesmo
associar o jumentinho que nunca foi montado com um carro 0 km: “Ah, Jesus queria o
burrinho ‘do ano’!”. Poderiam, mas tal associação o texto não nos permite fazer. O fato de o
burrinho nunca ter sido montado significava que ele seria usado somente para o uso sagrado, e
não profano. Quantas vezes nós também deixamos o mundo fechar os nossos olhos para

43
Desenvolvimento e aplicação vão sendo intercaladas ao longo da prédica.
20

Jesus? Será que a soberbia do mundo também não tem nos afastado de Jesus e do exemplo de
humildade que ele mesmo nos dá? Jesus abriu mão de muitas coisas que poderia ter a fim de
cumprir o seu ministério. E você? O que tem lhe impedido de chegar a Jesus ou de exercer o
seu ministério? Não estou dizendo que Ele quer que sejamos pobres e que venhamos a largar
tudo o que temos. Não! O dinheiro não é problema. Ter dinheiro não é problema! O problema
é quando o dinheiro tem você! Quem é o Senhor? Quem é o escravo? Várias coisas podem
fechar os nossos olhos para Jesus. No seu caso, o que é? Qual é o seu Messias? O Messias da
tecnologia? Dos bens materiais? Ou Jesus Cristo? Deus nos convida a não ser como aqueles
que estavam interessados apenas no que viam em Jesus (milagres, curas, etc.). Antes, Ele nos
convida a prestar atenção em quem Ele é! Sua fé está baseada naquilo que Jesus faz ou
naquilo que Ele é?
Jesus era humilde a ponto de precisar de um burrinho! Não que fosse um animal inútil,
ele era muito nobre naquela região, mas o fato é que Jesus estava precisando. Você já parou
pra pensar que, talvez, você tá correndo atrás de coisas que você não precisa? Jesus estava
atrás somente de sua necessidade e sabia que Deus iria supri-lo. Aliás, isto fica claro no texto!
Quantas vezes este mundo soberbo também tenta nos impor valores que não nos servem para
nada? E muitos nos dizem: “Ah, você precisa de um carro novo!” “Sua casa poderia ser
melhor, não é?” “Ei, esse seu aparelho eletrônico é ultrapassado.” A lista de exemplos é ainda
maior. Mas a pergunta é: O que você precisa? A pergunta não é: O que você quer, mas o que
você precisa? Talvez você esteja louco correndo atrás de tanta coisa, mas Deus está querendo
te dizer que você não precisa ter aquilo que você não precisa. Você precisa de Jesus Cristo! O
que é essencial para sua vida? O que acrescenta? O que não acrescenta? Deus está disposto a
te dar tudo aquilo que você precisa! E mais ainda: Livrar-te daquilo que você quer! Como diz
a música: “Você correu como um tolo, atrás do que os olhos veem. E procurou mundo afora
coisas que você já tem!”.
Esse primeiro ponto quer nos mostrar um convite do próprio Cristo a sermos humildes,
sabendo que não precisamos daquilo que não precisa, mas de Jesus Cristo, aquele que nos dá
o que realmente precisamos.
Ele é o Messias de Deus, O Senhor! O texto nos diz que logo que Jesus ia descendo
em direção a Jerusalém ele ia sendo aclamado e louvado: Bendito é o Rei que vem em nome
do Senhor! Paz no céu e glória nas maiores alturas! Não poderia ser diferente! Aliás, em
outros momentos a chegada de Jesus também foi sinônimo de louvor e alegria. No seu
nascimento, por exemplo, um coral de anjos dava glórias pela Sua chegada ao mundo.
21

Interessante ainda é que essa é uma menção a um texto de Sl 118.26. E esta era uma
espécie de canto de recepção dos peregrinos que iam chegando a Jerusalém para o culto
festivo da páscoa. Mas nesse caso, e nesse texto, o entoar de vozes tinha um caráter especial.
Era uma aclamação de Jesus como O Messias de Deus. O Rei que vinha em nome do Senhor
era o próprio Jesus. Se antes as pessoas entoavam esse canto para todo um grupo de pessoas,
agora, o alvo é apenas Jesus. Quando os discípulos cantam isto e estendem as vestes para que
Jesus pudesse passar, eles estão reconhecendo que Jesus Cristo é o Senhor que foi enviado por
Deus. Aliás, é muito interessante o fato de que os discípulos estendem suas vestes para que
Jesus passe. Isto nos faz lembrar aquelas cenas que são comuns em filmes onde, geralmente, o
cavalheiro tira uma de suas vestes e coloca sobre uma poça d´água para que a mulher possa
passar. Esta também é uma prova de reconhecimento da outra pessoa. E foi mais ou menos
assim que os discípulos fizeram, reconhecendo assim o senhorio de Cristo. E Jesus? Jesus
aceitou todo louvor e toda a homenagem, pois ele sabia que era mesmo o Cristo de Deus! Isto
também é identificado quando ele mesmo usa para si o título de Senhor, que era um título
messiânico.
Esse texto tem como objetivo principal mostrar que Jesus é o Senhor! Além de Cristo
admitir títulos messiânicos para si (Senhor), também uma multidão de discípulos lhe
reconheciam como tal. Esta confissão é tão importante para aquela época quanto para a nossa!
Aliás, a base da salvação também está ancorada no reconhecimento de Jesus como aquele que
foi enviado por Deus, ou seja, o Messias Ungido: Crê no Senhor Jesus e serás salvo (At
16.31a).
Este é o segundo ponto da pregação: Jesus Cristo é o Senhor enviado por Deus, o
próprio Deus! Como você o compreende? Alguns dias atrás eu ouvi o relato de um espírita na
televisão dizendo que eles também eram cristãos. Era um documentário sobre diversos grupos
religiosos e de como eles compreendiam a quaresma. E foi isto que o líder espírita afirmou.
Ele disse que eram cristãos, pois também liam a Bíblia e acreditavam em Deus. Que nós não
sejamos enganados por este tipo de afirmação! Cristãos são somente aqueles que reconhecem
a Cristo como Senhor e Salvador, ao contrário, não confessam a mesma fé que nós. Somente
aqueles que entenderam que Jesus Cristo é o próprio Deus! “Deus de Deus e Luz da Luz”,
como confessa um hino antigo.
Você O aceita ou O rejeita? O anuncia ou O nega? E neste sentido falamos do
terceiro ponto desta pregação! Como você reage diante da confissão de que Cristo é o Senhor?
Se para você Jesus é apenas um estranho que não faz parte da sua vida, quero que você saiba
que Ele quer ser o Senhor também da sua vida. Ele quer te dar aquilo que você precisa, quer
22

ser Senhor da sua vida, guiar a você pelo caminho perfeito da Sua vontade. Você se sente
perdido? Jesus tem a você como alvo também! Saiba disso! E nós, enquanto igreja, queremos
acompanha-lo nesta caminhada.
Também naquela época alguns o rejeitaram. Dentre a multidão existiam os fariseus
que pediam para que Jesus mandasse os discípulos, literalmente, calarem a boca! Pediam
justamente porque não acreditavam naquele conteúdo e ainda o encaravam como blasfêmia!
Alguém que diz poder perdoar pecados e se denomina como Senhor? O Messias montado em
um jumentinho? Pobre? Filho de carpinteiros? Impossível! Mas apesar de negá-Lo, eles
também eram alvo do amor de Deus! Se você não crê, saiba que, ainda assim, você é um alvo
do amor de Deus. Ele quer alcançá-lo.
Em seguida, Jesus diz para os fariseus: Se eles calarem, as próprias pedras clamarão.
O impressionante nas palavras de Jesus não está no acontecimento de que as pedras poderiam
vir a falar, mas no fato de que é impossível que aqueles que reconhecem o senhorio de Cristo
fiquem, simplesmente, calados. O clamor e o louvor brotam espontaneamente dos lábios
daqueles que anseiam por um encontro com o Senhor. Foi isto que aconteceu naquele
momento em que Jesus era recebido perto de Jerusalém.
Você tem anunciado o Senhorio de Cristo? Com quem você pode ser identificado?
Com um discípulo ou com um fariseu? Não existe caminho médio, ou você o aceita ou já está
rejeitando. Como tem sido o seu testemunho diante de outras pessoas? Calamos-nos, ou
deixamos que as pedras clamem e testemunhem em nosso lugar? Que você se sinta
encorajado pelo Senhor Jesus a proclamar Seu senhorio e tudo o que Ele pode fazer na vida
das pessoas. A entrada triunfal de Jesus em Jerusalém tem o seu ápice na morte de cruz. A
obediência de Cristo tem a cruz como caminho a ser percorrido. E é por conta desta cruz que
podemos ter a certeza de que o ministério obediente de Jesus teve como alvo: Você e eu! Que
não nos envergonhamos desse evangelho e deste Senhor, pois foi por meio dEle que fomos
libertados.
A minha oração é que você saiba que Jesus quer te dar tudo aquilo que você precisa.
Que o mundo soberbo não tire o seu foco daquilo que é o mais importante: Jesus Cristo! Ele é
o Senhor que foi enviado por Deus! Aquele que nos amou de tal forma que morreu em uma
cruz para salvar a você e a mim. Só podemos anunciá-lo como Senhor! Este é o nosso gesto
de gratidão! Que o Senhor nos abençoe, amém!
23

BIBLIOGRAFIA

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Vida, 2009.
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