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1https://ponte.org/viverei-pela-minha-filha-diz-mae-de-laura-vermont-mulher-trans-assassinada-ha-4-
anos/
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De acordo com a ANTRA (Associação Nacional de Travestis e
Transsexuais), no primeiro semestre de 2020 foram registrados 89 homicídios de pessoas
transsexuais e travestis no país, o que representa um assustador aumento de 39% com relação
ao mesmo período do ano anterior. Na prática, é sabido que os números são maiores, diante da
subnotificação, já que os dados oficiais a respeito são extremamente frágeis. O Brasil é o país em
que mais morrem travestis e transsexuais no mundo, conforme dados internacionais da ONG
Transgender Europe (TGEU)2.
2 https://oglobo.globo.com/sociedade/brasil-segue-no-primeiro-lugar-do-ranking-de-assassinatos-de-
transexuais-23234780
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Tal testemunha relatou que viu XXX em um posto de gasolina às 4:00,
suja de sangue, e teria tentado fugir dos policiais, que foram prestar socorro. Afirma que
presenciou quando XXX tomou a viatura e colidiu com um muro. Ocorre que a delegada de
plantão e o investigador de polícia desconfiaram – por óbvio - da versão apresentada pelo Sr.
XXX pela riqueza de detalhes, pela aparência de encenação e também por tê-lo visto
conversando com os policias XXXX por aproximadamente 30 minutos, antes de ter sido
formalmente apresentado como testemunha dos fatos pelos milicianos.
Após a realização destas diligências externas, que fizeram cair por terra
as alegações dos milicianos, o policial XXX retornou à delegacia e confessou que havia
mentido perante a autoridade policial, assumindo que XXX fora baleada, ao argumento de que
ela havia apresentado resistência à abordagem e de que, segundo sua avaliação, meios menos
letais não teriam sido suficientes para contê-la. Justificou a mentira alegando medo de sofrer
sanções e de se prejudicar. Também afirmou, quanto à indicação do local onde havia sangue, que
não sabia ao certo qual lugar deveria preservar.
Os autores foram alertados pelo Sr. XXX, o mesmo que antes havia
filmado XXX andando ferida, que a filha estava em perigo e imediatamente se dirigiram ao local
do crime, encontrando a filha já desacordada, com a face contra o chão e ensanguentada.
4 De acordo com o laudo do IML “com base nos achados de exame necroscópico, concluíamos que a morte
foi em consequência de traumatismo craniencefálico e insuficiência respiratória decorrente à ação de
agente contundente”.
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os agentes públicos com os quais tiveram contato, desde os policiais até os funcionários do
hospital se referiram a XXXX usando pronomes masculinos, em claro desrespeito à identidade de
gênero com a qual se identificava e era reconhecida pela família e pela comunidade.
Ante o exposto, em razão (i) da morte de XXXX sem que fosse prestado o
devido socorro; (ii) das falhas na abordagem policial e pelas injustas agressões perpetradas
pelos policias contra uma pessoa já muito machucada, com chutes e disparo de arma de fogo;
(iii) da negligência em proteger a vítima de violência transfóbica; e, por fim, (iv) da conduta dos
policias que mentiram ao prestar depoimentos, com o intuito de prejudicar a investigação, os
autores fazem jus à indenização pelos danos sofridos, conforme adiante se especificará.
DO DIREITO
XXX faleceu vítima das lesões produzidas pelas agressões praticadas por
cinco homens, que atualmente aguardam julgamento pelo homicídio. Contudo, conforme acima
narrado, os policiais militares que atenderam a ocorrência não só não prestaram o devido
socorro, sendo que os próprios familiares levaram XXX até o hospital, como agrediram XXX
com um chute e um disparo de arma de fogo no seu braço esquerdo. Repita-se: XXX já estava
muito ferida e não estava armada, assim não representava nenhum risco aos policiais. Como se
não bastasse, os policias ainda mentiram em seu depoimento, ocultando a verdade dos fatos e
colocando a investigação em risco.
Com efeito, é essencial frisar que culpa exclusiva da vítima não houve.
Até porque, os policiais são treinados para enfrentar situação de perigo a fim de obter os
menores gravames possíveis à população. No caso concreto, contudo, a conduta gerou o maior
gravame possível, ou seja, gerou maior lesão à vítima, a quem não foi prestado o socorro
necessário.
Não há sequer indício de que Laura tenha dado causa a que os policiais a
chutassem e efetuassem disparos de arma de fogo em sua direção, visto que se encontrava
sozinha no momento da ação, estava bastante machucada, não trazia consigo nenhum
armamento, deste modo não apresentava nenhum perigo iminente. Não cabe ao Estado alegar
que os policiais agiram em legítima defesa. Contudo, sendo a responsabilidade do Estado
objetiva, de todo modo, seria completamente irrelevante esta demonstração.
5 Manual Prático de Direitos Humanos Internacionais, ESMPU, Brasilia, DF, 2010, Coordenador: Sven Peterke, capítulo
§16 - O direito à vida e a pena de morte- André de Ramos Carvalho , pag 247
6 Resolução AG/RES. 2175 (XXXVI-0/06), O direito à verdade, de 6 de junho de 2006
Por outro lado, o causador dos danos morais, no caso, o Réu, precisa ser
responsabilizado pelos atos de seus agentes, responsabilização que tem o condão de impor
Assim, o quantum deve, pelo Juiz e só por ele, ser contemplado à luz da
equanimidade e a par de critérios que, além de uma solução ponderada, consigam satisfazer o
dogma constitucional da mais completa indenização.
Vale frisar que há muito o nível social dos lesados não é mais entendido
majoritariamente como uma das circunstâncias a serem analisada pelo julgador na fixação da
indenização. A ideia de que aqueles que pertencem às classes menos favorecidas
economicamente devem receber uma indenização menor do que os integrantes das elites
demorou para ser rechaçada, embora seja completamente descabida. Sofrimento pela morte de
um filho ou de um pai é sofrimento da mesma forma entre ricos e pobres.
Tal verba indenizatória, por sua natureza alimentar, deve mesmo ser
paga de uma só vez, consoante iterativo entendimento pretoriano a respeito da matéria, afinado,
aliás, com o disposto nos arts. 33 e 100 do Ato das Disposições Transitórias da CF/88,
representando a posição prevalente na doutrina e na jurisprudência sobre o assunto.
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DOS PEDIDOS
Outrossim, requer-se:
Com base no artigo 425, inciso VI, do Código de Processo Civil, declara-
se que são autênticas as cópias dos documentos que instruem a presente ação.