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Resumo
O sistema de produção enxuta trouxe grandes mudanças para o cenário industrial a partir da
década de 50. Essa filosofia utilizada de grandes ferramentas para a diminuição dos
desperdícios de produção tais como o Seis Sigma, o Kaizen, o Brainstorming, o Sistema
Kanban, o Programa 5S, o Poka Yoke, entre outros. Como esse mesmo intuito, Womack &
Jones (1998) desenvolveram recentemente a metodologia MFV (Mapeamento do Fluxo de
Valor). O objetivo deste artigo é avaliar a efetividade da utilização da ferramenta MFV aplicada
a um processo de uma empresa do ramo automobilístico, por meio da comparação dos mapas
do estado atual e futuro. O fluxo mapeado é de alta criticidade pois seu tempo de ciclo impacta
diretamente no atendimento à linha de produção. O intuito é otimizar o valor agregado do
processo através da eliminação dos desperdícios a fim de tornar o fluxo mais enxuto e criar
condições para o aprimoramento contínuo do mesmo. Ao desenvolver o mapa atual foi possível
identificar desperdícios como: o excesso de transporte, movimentações e de esperas. A partir
daí a equipe buscou propor ações a fim de eliminar os desperdícios e consequentemente,
diminuir o tempo de ciclo total do processo. Após o desenvolvimento do MFV possível prever
um aumento de 78,51% do valor agregado. A eficiência dos resultados obtidos deve-se a
diminuição dos desperdícios identificados: espera, transporte e movimentação.
1. Introdução
As organizações cada vez mais têm desenvolvido seu escopo e desdobrado suas metas,
uma vez que, devido à grande competitividade de mercado, o objetivo deve ir muito além de
produzir e vender bens e/ou serviços. Independente do sistema de produção adotado (artesanal,
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Engenharia de Produção
UFCAT - Universidade Federal de Catalão
bruna.melo@crago.adm.br
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manual ou enxuto), é necessária uma visão holística e sistemática na busca da eficiência dos
processos produtivos. Essa eficiência, por sua vez, pode ser medida e acompanhada por
indicadores de tempo de entrega, desperdícios e qualidade. Segundo Womack e Jones (2004),
existe desperdícios em toda parte e o grande antídoto para o desperdício é o pensamento enxuto.
Ainda segundo os autores:
O pensamento enxuto é uma forma de especificar valor, alinhar na melhor
sequencia as ações que criam valor, realizar essas atividades sem interrupção toda vez
que alguém as solicita e realizá-las deforma cada vez mais eficaz. Em suma, o
pensamento é enxuto porque é uma forma de fazer cada vez mais com cada vez menos
– menos esforço humano, menos equipamento, menos tempo e menos espaço – e, ao
mesmo tempo, aproximar-se cada vez mais de oferecer aos clientes exatamente o que
eles desejam. (WOMACK, 2004).
2. Fundamentação Teórica
2.1. Produção Enxuta
O sistema de produção enxuta, ou sistema Toyota de produção surgiu no Japão após a
segunda guerra mundial, como uma forma de adaptação já que não se tinham os recursos
disponíveis para atender o modelo de produção em massa, que era o conceito apresentado por
Henry Ford e que se baseava na produção em larga escala.
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Fonte: 4Lean.net
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O Lean Institute Brasil (2011) define o Mapeamento de Fluxo de Valor (MFV) como um
diagrama simples de todas as tarefas envolvidas nos fluxos de material e informação,
necessárias para atender aos clientes do pedido à entrega.
Pode-se definir como objetivo da aplicação do MFV: a) representar graficamente, de
acordo dados coletados no local, o estado atual do processo analisado; e b) a partir da análise
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do estado atual, propor um estado futuro onde seja possível um fluxo contínuo do processo,
eliminando as atividades do fluxo que geram desperdícios (ORTIZ et al 2012).
De acordo com o manual de Rother e Shook (2003), o Mapeamento do Fluxo de Valor
deve ser desenvolvido em quatro etapas, as quais estão representados na Figura 03.
Para delinear o MFV são utilizados símbolos para representar características e detalhes
do processo. Símbolos estes pré-definidos, mas que não impedem que a equipe responsável
inclua novos, de acordo com as suas necessidades.
Na Tabela 01 estão representados todos os símbolos utilizados nos mapeamentos (do
estado atual e futuro) deste estudo de caso:
Tabela 01 – Ícones
3. Procedimentos Metodológicos
3.1. Classificação da Pesquisa
A Tabela 02 indica os métodos e as técnicas que foram abordadas para o
desenvolvimento deste trabalho:
Tabela 02 – Classificação da Pesquisa
A pesquisa foi elaborada com base nos fundamentos teóricos e práticos da filosofia de
Produção Enxuta além de seguir o manual de Rother e Shook (2003) para aplicação da
ferramenta MFV (Mapeamento do Fluxo de Valor).
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4. Estudo de Caso
4.1. Contextualização
A empresa em questão é uma montadora automobilística, cuja fábrica operada desde
1998. Desde o início das atividades da fábrica, parte dos insumos são adquiridos de
fornecedores nacionais, porém o grande volume de materiais produtivos é de fornecedores
estrangeiros. Em 2015 a empresa passou por um processo de fragmentação, onde partes do
processo produtivo (solda, pintura e montagem dos sistemas de motor e transmissão) foram
migrados dando origem a duas novas empresas.
Nesse cenário, surgiu a problemática em que para alguns materiais os fornecedores
importados não conseguiam destiná-los para as empresas onde eles de fato seriam utilizados no
processo de fabricação dos automóveis. Sendo assim, as três empresas do grupo recebem nos
lotes de materiais produtivos itens para os quais não têm demanda de consumo.
Como contenção, a medida adota é fazer a expedição para as demais empresas, de acordo
com a demanda de consumo de cada um dos itens. No entanto, o fluxo de informações
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(migração e escrituração das NF’s e geração do saldo contábil dos itens) é mais lento do que o
fluxo de materiais (disponibilização das peças fisicamente para serem expedidas).
5. Conclusões Finais
Após o desenvolvimento do Mapeamento do Fluxo de Valor, a equipe apresentou aos
gestores tanto o mapa atual quanto o mapa futuro, além das melhorias propostas. Foi possível
prever um aumento de 78,51% do valor agregado uma vez que no estado atual (Figura 05) o
valor é de apenas 20,39% em comparação a 98,9% no estado futuro (Figura 08).
No estudo de caso em questão, o que garantiu a eficiência dos resultados foi o fato de
que a equipe conseguiu atuar diminuindo os desperdícios que foram identificados no processo
(espera, transporte e movimentação).
Se observarmos as cartas de operação do estado atual e futuro é possível perceber que
houve poucas intervenções no tempo de ciclo das atividades. Ou seja, podemos destacar que
existe oportunidade de novas melhorias aplicadas a execução das atividades em cada uma das
etapas.
É importante também salientar que, se tivéssemos observado as etapas do processo
isoladamente não teria sido possível evidenciar os excessivos tempos de espera que existem na
cadeia. Fato este, que confirma que a eficiência dos resultados depende da visão sistêmica de
todas as etapas e partes interessadas do fluxo, e que vai contra a visão ‘departamentalizada’ que
muitas empresas adotam.
Embora os resultados obtidos sejam satisfatórios, ainda cabem duas observações: a) a
coleta de dados do estudo de caso foi feita por amostragem, que é a metodologia adotada pela
empresa na aplicação da ferramenta MFV. Essa amostragem pode ser considerada como uma
‘fotografia’ do processo, ou seja, é o resultado do momento exato em que a equipe realiza a
atividade de cronometragem. Podemos concluir então que a confiabilidade dos cálculos de
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tempo de ciclo total e do valor agregado seria maior se os dados fossem obtidos através de
estudos de tempos e métodos; b) é fundamental não considerar a aplicação do MFV, ou de
qualquer outra ferramenta da qualidade e de resolução de problemas, como um fim, mas sim
como uma etapa de um ciclo em busca da melhoria contínua dos processos.
Referências Bibliográficas
OHNO, T.: O sistema Toyota de produção: além da produção em larga escala. Porto
Alegre: Bookman, 1997.
WOMACK, J. P.; JONES, D.T.; ROOS, D. A máquina que mudou o mundo. 3 ed. Rio de
Janeiro: Campus, 1992.
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WOMACK, J. P.; JONES, D. T. A mentalidade enxuta nas empresas lean thinking: elimine
o desperdício e crie riqueza. Tradução de Ana Beatriz Rodrigues e Priscilla Martins Celeste.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. Título original: Lean thinking.