1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 4
3 A FAMÍLIA................................................................................................... 8
5.4 O (a) psicólogo (a) como um (a) trabalhador (a) do sistema único de
assistência social (suas) ........................................................................................ 53
2
7 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 67
3
1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável -
um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum
é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que
lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.
Bons estudos!
4
2 A PSICOLOGIA SOCIAL
Fonte: diariors.com.br
5
Frente a este contexto, tem como objetivo analisar o contexto histórico do
surgimento da Psicologia Social até os dias atuais e o papel do psicólogo social e suas
contribuições e intervenções no contexto da sociedade contemporânea.
O aporte teórico da pesquisa contou com autores tais como: Lane e Codó (2010
apud Almeida F; 2018), Campos et al. (2012 apud Almeida F; 2018), Bock (2013 apud
Almeida F; 2018), dentre outros estudiosos da temática.
A Psicologia Social pode ser compreendida como uma área de conhecimento
psicológico que tem seus primórdios nos estudos de Wundt no que tange aos objetos
de estudo de sua Völkerpychologie (psicologia dos povos, das massas), a saber: a
língua, a religião, os costumes, os mitos, a magia e os fenômenos similares.
Para o referido pesquisador, tais fenômenos não poderiam ser estudados
através de experimentos tais como os que se realizavam no laboratório de psicologia
experimental. Entretanto, em decorrência da força positivista, dos efeitos do
reducionismo dos fenômenos sociais, da individualização e americanização da
Psicologia Social, pode-se dizer que, a herança de Wundt foi uma psicologia
experimental que não era social e uma psicologia social que não era experimental. Se
a psicologia se tornou por primeiro uma ciência experimental na Alemanha, foi a
psicologia social que se tornou depois uma ciência experimental nos Estados Unidos
(FARR, 2002, p. 59 apud Eidelwein K; 2007).
A Psicologia Social se desenvolveu como conhecimento científico sistemático
por volta do fim da I Guerra Mundial, diante do objetivo de compreender as crises e
convulsões que abalavam o mundo. A partir da II Guerra, ela atingiu seu auge nos
EUA dentro de uma perspectiva positivista-funcionalista, onde a sociedade era
compreendida como o pano de fundo sob o qual o indivíduo desenvolvia suas ações.
7
Entretanto, a Psicologia Social não diz respeito apenas aos trabalhos
desenvolvidos no campo comunitário, uma vez que é definida por seu objeto de estudo
e não pelo local de atuação profissional.
Diante disso, cabe mencionar que o social não é compreendido como algo
natural, evidente, mas como resultado de uma construção histórica decorrente de
lutas entre forças contraditórias.
A partir do momento em que um conjunto de forças se sobrepõe a outro,
surgem certos “disfuncionamentos” que, ao não serem regulados de uma maneira
relativamente informal no tecido da sociedade, geram um movimento de
“problematização” do social e criação de alguns espaços institucionais, onde um
“corpo profissional especializado passará a se ocupar de tais „disfuncionamentos‟”
(SILVA, 2005, p. 18 apud Eidelwein K; 2007).
Então, não se trata de um social que servirá de pano de fundo para as ações
profissionais, mas sim de um contexto a partir do qual as profissões – Psicologia
(Social) e Serviço Social – se constituem e são permanentemente tensionadas.
[...] o atual quadro sócio histórico não se reduz a um pano de fundo para que
se possa, depois, discutir o trabalho profissional. Ele atravessa e conforma o
cotidiano do exercício profissional do Assistente Social [e do psicólogo], 7
afetando as suas condições e as relações de trabalho, assim como as
condições de vida da população usuária dos serviços sociais (IAMAMOTO,
2006, p. 19 apud Eidelwein K; 2007).
3 A FAMÍLIA
8
Entretanto, as representações sociais elaboradas pelos seus membros sobre
tal realidade, referenciadas em cada classe social, constituem a perspectiva central
desta tarefa.
O conhecimento sobre a família (ENGELS, 1978; SEGALEN, 1999; ARIÈS,
1981, apud Araújo W; 2003) elaborado a partir de princípios teórico-conceituais e
conduzido com rigor metodológico, permitiu compreendê-la cientificamente,
favorecendo possibilidades de intervenção ideológica, política, cultural, educacional e
religiosa. As políticas públicas para a família se estabeleceram, assim, a partir deste
contexto teórico, buscando atender suas limitações e possibilidades, enquanto
organização social.
Da mesma forma, os processos educacionais, religiosos ou culturais sobre a
família são permeados a partir deste contexto teórico-científico, possibilitando um
construto sócio cognitivo capaz de gerar tentativas de estabilidade na dinâmica social
da organização familiar.
Dessa maneira, “a ciência [sobre a família] desempenha um importante papel
como fonte de conhecimento do cotidiano e (...) como autoridade para legitimar e
justificar decisões cotidianas e posições ideológicas” (WAGNER, 2000:4 apud Araújo
W; 2003). As explicações científicas possibilitam, assim, a sistematização do cotidiano
tanto quanto a justificação de convicções ideológicas existentes. Aquelas dão unidade
à compreensão da realidade, ao mesmo tempo em que são utilizadas como
fundamento para intervir ideologicamente na realidade.
O processo de construção do conhecimento sobre um determinado objeto é,
além do contexto do rigor científico, elaborado a partir da comunicação desenvolvida
nos grupos sociais e dos resultados obtidos pela mesma.
Surgem, assim, formas de pensar sobre as coisas, resultantes de processos
discursivos e socialmente construídos, elaborados pelo grupo, vindo a constituir as
representações sociais. Estas delimitam características e sentidos dos objetos
pesquisados nos contextos culturais dos indivíduos e grupos sociais, ainda que o
conhecimento popular não tenha ideia da racionalidade científica presente nas teorias.
O conhecimento científico sobre a família não se situa diferentemente do
contexto referido anteriormente. As diversas teorias, elaboradas histórica e
culturalmente, permearam a construção das representações sociais sobre família.
9
A família punaluana, a família sindiásmica, a família monogâmica, a família
patriarcal e a família nuclear burguesa (ENGELS, 1978 apud Araújo W; 2003) são
facetas deste procedimento científico.
Compreendê-las de acordo com o seu momento histórico, cultural e social,
possibilitam visualizar a realidade atual da família e suas representações sociais.
Estas deveriam determinar os elementos estratégicos das ações e programas
desenvolvidos pelas políticas públicas.
Porém, o que é família? Como conceituamos esta instituição? A necessidade
de defini-la apresenta-se pelo fato da busca de uma linguagem a mais próxima
possível do real, assim como do cuidado metodológico com as diversas intervenções
ideológicas nesta realidade.
10
Observa-se ainda a utilização deste termo para designar, metaforicamente,
grupos políticos, culturais, religiosos ou comerciais, que tentam relacionar o sentido
de família com os seus interesses pragmáticos (SEGALEN, 1999:20 apud Araújo W;
2003). “Resumindo: uma definição geral da família não pode ter importância científica
desde que não existe uma família em geral. Existem tipos históricos específicos, de
associações familiares” (CERRONI, 1971:13 apud Araújo W; 2003).
Fonte: gerar.org.br
11
Podemos entender a questão social como um fenômeno que se dá entre a
contradição do capital com o trabalho, onde aqueles que contribuem para o
crescimento e riqueza de um país, através da sua força de trabalho não têm a
participação no momento de usufruir dos frutos deste crescimento. Sobretudo na
distribuição de renda que se concentra nas mãos de poucos.
Como consequência disto se desencadeia vários fenômenos que
podemos chamar de expressões da questão social, como bem coloca Pastorin:
12
Atualmente as políticas públicas já consideram tais questões, seja no
planejamento e/ou na base do atendimento, com vistas na perspectiva da garantia
dos direitos através de um modelo emancipatório que responda as necessidades
sociais, principalmente no âmbito da família.
Nessa perspectiva a proteção social da família deve estar apoiada em uma
política que configure um conjunto de ações, cuidados, atenções, benefícios e
auxílios, a fim de garantir a família acesso as condições de fortalecimento ao seu
desenvolvimento social e humano e aos seus direitos de cidadania.
Sendo assim, se entendermos que a questão social independente do seu
desencadeamento, seja social, econômico, político e cultural interfere de forma
veemente na família. É evidente que o assistente social ao atuar no enfrentamento da
Questão Social sempre estará atuando com famílias e para tal precisa ter a real
compreensão dos diversos arranjos familiares e das demais diversidades postas
nessa realidade.
Assim, a Assistência Social prevê em seus princípios e diretrizes à atenção as
famílias, “a partir do seu território de vivência, com prioridade para aquelas com
registros de fragilidades, vulnerabilidades e presença de vitimizações entre seus
membros”. (LEGISLAÇÃO SOCIAL, 2007, p.481 apud Melo M; 2012).
Entretanto, com todo respaldo garantido pelas políticas públicas, um dos
grandes desafios é imprimir nas famílias o sentimento de pertencimento, pois, o que
se pode observar é que muitas famílias ao se encontrarem diferentes dos padrões
impostos, se sentem inseguras para buscar condições de enfrentamentos das
situações em que estão inseridas.
Para atuar no enfrentamento da Questão Social é preciso decifrar as
desigualdades sociais em seus vários recortes, como por exemplo, de gênero, raça,
etnia, religião, nacionalidade, meio ambiente e demais recortes socioculturais. Tendo
como desafio cotidiano decifrar as possibilidades de resistência e empoderamento dos
sujeitos. (Iamamoto, 2004, p.114 apud Melo M; 2012).
De acordo com Romanelli (2001 apud Gomes C et al., Silva P; Pessini M; 2011)
a família vem se destacando como uma instituição privada, sendo responsabilizada
13
pela produção social, transmissora de padrões culturais e a coordenação a vida social.
Constitui-se também como formadora de grupos sociais, oferecendo afetividade e
sociabilidade.
Dessa forma, as modificações demonstram a heterogeneidade dos novos
arranjos domésticos, referindo-se ao tamanho da família, ao número de filhos e ao
aumento de famílias mono- parentais.
No âmbito do serviço social, esses índices marcam a necessidade de
construção de órgãos que encarem a família como eixo fundamental das atuações,
considerando, que é em seu interior que os indivíduos se formam e produzem suas
condições de existência. (SILVA et al., 2004 apud Gomes C et al., Silva P; Pessini M;
2011). Em consonância com Silva et al. (2004 apud Gomes C et al., Silva P; Pessini
M; 2011) a família sempre foi assunto de preocupação das políticas públicas. Essa
justificativa é devida ao núcleo familiar que simboliza a estrutura básica da sociedade
envolvendo os objetivos do Estado em garantir que os direitos fundamentais de seus
integrantes sejam preservados.
Não há uma única definição familiar, estática, visto que se trata de uma
instituição de transformações históricas. Todavia essa forma de pensar implica em
resinificar a representação familiar em termos de organização e estrutura, tornando
referência a família nuclear, embasado na diversidade.
Dessa maneira como afirma Carneiro (2004 apud Gomes C et al., Silva P;
Pessini M; 2011) as políticas sociais trabalham com várias perspectivas, dentre elas
a centralidade dessa família, apostando em sua capacidade de cuidados e proteção,
na qual a intervenção do Estado seja de caráter temporário. Outra perspectiva é
direcionada a família em estar protegendo seus membros, garantido pelo Estado
através das políticas sociais e políticas públicas.
A família brasileira hoje quer ser reconhecida como instância de cuidados e
proteção, porém a mesma precisa ser cuidada, protegida atribuindo à
responsabilidade pública.
A proteção à família tornou-se uma estratégia vinculada às políticas sociais, em
especial pela Política de Assistência Social, como alvo dos programas definidos como
unidades de intervenção, como é o caso do Programa Bolsa Família. Porém é de
suma importância esclarecer que o programa Bolsa Família assim como uma política
social, não tem a capacidade de superar a pobreza das famílias, de forma que a
14
pobreza é resultado de como a sociedade se organiza na produção de suas relações
e desigualdades, fundamentadas entre o capital e o trabalho.
A centralidade da família enquanto direitos sociais devem ser efetivados pelo
Estado, de maneira que as políticas estejam voltadas às unidades familiares, como
propõe Carneiro (2004 apud Gomes C et al., Silva P; Pessini M; 2011).
De acordo com Carvalho (2000 apud Gomes C et al., Silva P; Pessini M; 2011)
a família tem como princípios estar promovendo cuidados de proteção, aprendizado,
construção de identidade entre outros gerenciadores que leve melhor qualidade de
vida a seus membros e dessa forma efetive a inclusão social nas comunidades em
que estão inseridos.
É preciso compreender a família em seu movimento, dentro de uma
organização e reorganização, devido aos novos arranjos familiares bem como os
estigmas sobre as formas diferenciadas, evitando a naturalização dos grupos sociais
de desorganização e reorganização em relação a determinados contextos
socioculturais. É preciso refletir sobre o significado família numa sociedade
contemporânea e principalmente no lugar que a mesma ocupa dentro de uma política
social. As expectativas em relação à família contemporânea vêm sendo direcionadas
de um imaginário coletivo, passivo de idealizações sobre o símbolo de família nuclear.
Osório (1996 apud Gomes C et al., Silva P; Pessini M; 2011) afirma, no entanto,
que não existe conceito único a respeito de família, muito menos definição enquanto
a sua estrutura fixa perante a sociedade. Não é uma expressão passível de
conceituação, porém tão somente de descrição, sendo possível descrever suas várias
estruturas assumidas por essa família de acordo com a evolução histórica.
Dessa forma obtém-se um conceito operativo para família como unidade básica
da integração social. Entretanto não basta apenas situar a família dentro desses novos
arranjos do contexto sócio-histórico, evolutivo do processo civilizatório. É importante
observar nas famílias os papéis distintos que cada membro exerce, sendo principal
em todas as culturas.
A nova constituição familiar, como propõe Osório (1996 apud Gomes C et al.,
Silva P; Pessini M; 2011), há três tipos de relações familiares, sendo elas, aliança
(casal), filiação (pais e filhos) e consanguinidade (irmãos), do mais, há outros
referenciais como o parentesco denominado de relações de pessoas que se vinculam
pelo casamento, ou pela existência de filhos por ancestrais comuns etc.
15
A família é caracterizada como modelo natural, na qual visa assegurar a
sobrevivência biológica da espécie, juntamente ao desenvolvimento psíquico dos
descendentes, a aprendizagem e a interação social.
Além de preservar a espécie, o papel de nutrir e proteger, dentre outros
aspectos como a transmissão de valores éticos, estéticos, religiosos e culturais,
podendo se apresentar em nove tipos de composição familiar distintas: nuclear
(incluindo duas gerações, com filhos biológicos); extensa (vários membros com laços
de parentesco, incluindo três ou quatro gerações); adotivas temporárias; adotivas que
podem ser bi-raciais ou multiculturais; casais, famílias mono parentais (chefiadas por
pai ou mãe) casais homossexuais (com ou sem crianças) famílias reconstituídas
(depois do divórcio) e várias pessoas vivendo junto sem laços legais, mais com forte
compromisso mútuo.
De acordo com o autor supracitado, os papéis familiares não correspondem
aos indivíduos na maioria das vezes, pois nem sempre há uma ligação entre o sujeito
e o papel a ser desempenhado na família. Diante o modelo sócio-histórico as funções
da família ficam estagnadas a reprodução sexual e a socialização, permitindo a
reprodução, acrescentados a funções econômicas.
As funções familiares são pautadas em mecanismos biológicos, psicológicas e
sociais, tais desempenhos estão vinculados as estruturas familiares ao processo
civilizatório, responsáveis pela organização dos indivíduos como agente processador
das mudanças humanas, tanto no âmbito individual como no coletivo, proposto por
Osório (1996 apud Gomes C et al., Silva P; Pessini M; 2011).
O desempenho biológico da família é dirigido não apenas para a reprodução, e
sim a sobrevivência dos sujeitos através dos cuidados ministrados ao longo da vida,
porém não é descartada a ideia de que a família tenha uma função reprodutiva. A
função biológica da família se resigna a assegurar a sobrevivência dos novos seres,
de cuidados requeridos como características da espécie humana.
As funções psicossociais são norteadas a questões de alimento afetivo, ou
seja, a importância do afeto provida pelos pais ou sob rogados a esse cuidado. Sem
esses cuidados o ser humano não desabrocha, não desenvolve seus aspectos que
interligam o afeto, o emocional, como contextualiza Osório (2002 apud Gomes C et
al., Silva P; Pessini M; 2011).
16
A função social da família frente ao processo civilizatório resigna a transmissão
das pautas culturais dos agrupamentos étnicos, entre outras funções como a
preparação para o exercício da cidadania, lembrando que a família constitui a principal
agência formadora do indivíduo, de acordo com Osório (1996 apud Gomes C et al.,
Silva P; Pessini M; 2011) compõe o primeiro dos muitos grupos que esses sujeitos
irão participar ao longo da vida.
Pode-se afirmar então que a família é um grupo predestinado a desenvolver
funções que envolvam os indivíduos num modelo biopsicossocial, permitindo o
crescimento e a facilitação do processo de individualização, afirma Osório (1996 apud
Gomes C et al., Silva P; Pessini M; 2011).
As exigências da sociedade contemporânea e as condições mínimas baseadas
nas relações de posse e poder, norteadas por aspectos culturais ao longo do século,
diferenciam-se de acordo com cada cultura. Visto que essas relações de dominação
e posse sempre existiram, na qual o papel do homem aparece como o provedor, e o
da mulher como reprodutora e cuidadora da casa e dos filhos.
Contudo essa relação de dominação vem tomando novos rumos acerca dos
diferentes arranjos familiares de um mesmo contexto. Essas mudanças podem ser
observadas na transformação do modelo nuclear (pai+mãe+filho) para a família
descasada (mãe+filho ou pai+filho) em seguida re-casada
(pai+esposa/madrasta+filho; mãe+esposo/padrasto+filhos) essa passagem de um
modelo a outro de família determina aos indivíduos que pertencem a novos
ajustamentos às alterações de relacionamento, papéis e estrutura familiar e esse
processo de mudança é caracterizado na maioria das vezes como um momento de
crise. De acordo com Osório (2002 apud Gomes C et al., Silva P; Pessini M; 2011) a
família organiza sua história num longo processo de construção de significados para
as experiências vividas dentro das demarcações da sua cultura.
A família parece estar mais viva do que nunca, sua vitalidade é derivada dessa
contemporaneidade em buscar saída para os maus estares vigentes da aldeia global
que habitamos, por isso perde sua estrutura multifuncional, sendo unidade de
produção e consumo, depositário do mecanismo de transmissão cultural de valores e
normas, de integração social de seus membros.
17
O que se percebe perante a sociedade moderna é que a família tende a reduzir
a família nuclear, limitando o número de papéis desempenhados, dessa forma
considera-se importante a ação que a família desempenha na sociedade
contemporânea. Porém essa família que vem se transformando de acordo com a
evolução histórica, vem ganhando nova forma, novos membros, assumindo novos
papéis na família e na sociedade, como propõe Osório (2002 apud Gomes C et al.,
Silva P; Pessini M; 2011).
A questão da sexualidade vem adotando um novo rumo, a mulher que antes
tinha a função de cuidadora, passa agora ser provedora e através deste origina-se à
crise familiar, ou seja, a mudança, pois a nuclearização não é unívoca de perda de
centralidade da família.
De acordo com Osório (1996 apud Gomes C et al., Silva P; Pessini M; 2011)
há uma expectativa em relação a essa família tendo como símbolo a família nuclear,
pois é essa que irá produzir cuidados, proteção, aprendizados capazes de promover
melhor qualidade de vida a seus membros. A família vive num contexto, que pode ser
fortalecedora ou esfalecedora de suas possibilidades e potenciais.
Devemos estar atentos que a família circula, num modo particular, criando uma
cultura familiar própria, para comunicar-se e interpretar comunicações, com suas
regras, ritos e jogos.
Fonte: coracaofiel.com.br
19
Estão preocupados em saber quem são esses homens e essas mulheres e
seus comportamentos em diversas etapas da vida, sendo preciso lembrar que para
se obter uma compreensão precisa é valido considerar as etapas do ciclo de vida que
está passando cada família.
Hoje em dia para cada classe social se tem uma demanda, exemplo disso são
as famílias de classe média que está priorizando cada vez mais a educação dos filhos,
o plano de saúde, obtendo-se cada vez mais as reduções do número de filhos além
de mudanças que atingem o gênero feminino.
É de grande importância estar atentos enquanto profissionais da área das
ciências sociais, sobre essa geração contemporânea, os filhos de hoje tendem a
ficarem mais tempo na casa de seus pais, mesmo tendo eles condições de uma vida
independente ou ao saírem da casa dos pais por motivo de casamento ou em função
de trabalho, retornam.
Muitas vezes os que separam retornam, com seus filhos, aumentando o
número de pessoas na casa e ampliando a família, como propõe Osório (2009 apud
Gomes C et al., Silva P; Pessini M; 2011).
Através dessas colocações percebemos o movimento familiar em suas
complexidades e heterogeneidade, podendo assim refletir em torno dessa família e
não apenas de uma família estática e fechada. Entretanto as conversações em família
proporcionaram inventar a vida privada acarretada de sentimentos individualizados,
caracterizados pela transmissão de tradições e valores.
Diante os fatos cada família organiza sua história para construir significados e
experiências dentro dos limites da sua cultura, como contextualiza Szymanski (2005
apud Gomes C et al., Silva P; Pessini M; 2011).
Ainda se referindo ao mesmo autor as tendências globais refletem significativas
mudanças no contexto familiar a exemplo disso percebemos que as famílias tendem
a serem menores, vistos que as famílias sempre foram mais numerosas, a
disponibilizar menos mobilidade para as crianças, as famílias ficam menos tempo
juntas, ou seja, houve um aumento nos membros das famílias que passaram a
trabalhar.
Perante os fatos as crianças passam mais tempo em creches, nas escolas,
diminuindo o contato entre adultos e crianças e assim ocorre maior interação com
grupos de amigos do que com a própria família.
20
A família tende a ser menos estável socialmente, esse evento é percebido
através do declínio das uniões formais, junto com os divórcios como também o
aumento de novas uniões.
E consonância com o autor supracitado, a diversidade faz com que haja
mudança no foco da estrutura familiar nuclear como modelo de organização familiar,
passando a ser considerada como novas demandas em relação à convivência entre
as pessoas na família e sua relação com a comunidade e com a sociedade. Diante de
todas essas proposições teóricas sobre família, a mesma se destaca como rede de
apoio e solidariedade perante a sociedade moderna.
Fonte: la-psicologia.net
O termo Psicologia Comunitária ainda é bastante novo e amplo, sendo, por isso
mesmo, de difícil conceituação. O termo em si é ambíguo e varia de acordo com o
referencial teórico considerado e/ou a práxis do psicólogo que o define. São comuns
os termos “Psicologia na Comunidade” (Bender, 1978 apud Gomes A; 1999);
“Psicologia do Desenvolvimento Comunitário” (Escovar, 1979 apud Gomes A; 1999);
“Saúde Mental Comunitária” (Berenger, 1982 apud Gomes A; 1999); “Psicologia
Comunitária/na Comunidade” (Bonfim, 1992 apud Gomes A; 1999); etc. Esta
ambiguidade de termos para definir uma das ramificações da Psicologia Social, não
se constitui, por si só, num indício de fragilidade. “Esta indefinição não decorre de
insuficiência, mas é própria da constituição desse saber”. (Nascimento, 1990).
21
D’Amorim (1980, p.104 apud Gomes A; 1999) chama a atenção para algumas
vantagens dessa indefinição, diz ela, “esta dificuldade de identificação está na base
de duas implicações para o treinamento do psicólogo comunitário: a fragmentação do
conceito de psicologia comunitária valoriza a criatividade e a flexibilidade no
treinamento dos psicólogos e o respeito pelas diversas concepções neste domínio
embora um esforço deve ser feito para valorizar os elementos comuns e manter os
canais de comunicação”.
Os psicólogos sociais vêm realizando um esforço para definir a Psicologia
Comunitária e superar a ambiguidade apontada acima, e convém considerá-lo.
Bender (1978, p. 18 apud Gomes A; 1999): “Eu a definiria como uma tentativa para
tornar mais efetivos os campos da Psicologia Aplicada no fornecimento de seus
serviços e mais receptivos às necessidades e carências das comunidades por eles
servidas”. Escovar (1979, p. 2 apud Gomes A; 1999): “A Psicologia Comunitária, ou
psicologia do desenvolvimento, é uma espécie de jardim com caminhos que se
bifurcam e de onde grupos de psicólogos tomam distintos rumos na base de decisões
axiológicas ou políticas”
Montero (1980, p.3 apud Gomes A; 1999), influenciado por Escovar (1979 apud
Gomes A; 1999), propõe a seguinte definição: “uma psicologia para o
desenvolvimento, entendido este como o processo mediante o qual o homem adquire
maior controle sobre seu meio ambiente”.
Marin (1980, p. 71 apud Gomes A; 1999): “Em um sentido, a Psicologia Social
Comunitária desenvolvida na América Latina é uma aproximação multidisciplinar para
a solução de problemas sociais”.
Brea (1985, p. 169 apud Gomes A; 1999): “A ausência de um marco teórico
articulado nos leva a definir a psicologia comunitária como a aplicação de
conhecimentos da psicologia em um determinado contexto geográfico social; este
modelo serve de correção para os diferentes modelos teóricos que integram esta
disciplina”.
Gallindo (1981, p.13 apud Gomes A; 1999): “A Psicologia Comunitária é um
movimento dentro de um campo maior de psicologia aplicada e que se caracteriza
como uma nova abordagem para se lidar com os problemas de comportamento
humano. Ela enfatiza mais o ambiente social do que fatores intrapsíquicos como
determinantes da saúde mental”.
22
Andery (1986, p. 203 apud Gomes A; 1999): “A palavra psicologia na
comunidade vem sendo usada para designar a instrumentalização de conhecimentos
e de técnicas psicológicas que possam contribuir para uma melhora na qualidade de
vida das pessoas e grupos distribuídos nas inúmeras aglomerações humanas que
compõem a grande cidade”.
Franco (1988, p. 70 apud Gomes A; 1999): “A Psicologia Comunitária se
caracteriza por trabalhar com sujeitos sociais em condições ambientais específicas,
atento às suas respectivas psiques. Seus objetivos se referem a melhoria das relações
entre os sujeitos e entre estes e a natureza. Nesta perspectiva está todo o esforço
para a mobilização das comunidades na busca de melhores condições de vida”
Uma análise dessas diversas definições demonstra alguns aspectos
comuns a Psicologia Comunitária, embora a mesma seja o estuário de
diferentes correntes psicológicas.
Uma visão pragmática da psicologia, isto é, uma preocupação com a
aplicação prática dos achados da psicologia a situações sociais
concretas, e pouco interesse com questões de natureza teórica e
científica.
Uma ênfase psicológica voltada para a melhoria da qualidade de vida
das comunidades como objeto do saber psicológico.
Primado das questões interpessoais, a comunidade, em lugar da
preocupação tradicional da psicologia, o indivíduo e as questões
intrapsíquicas.
O termo Psicologia Comunitária, portanto, inclui os estudos que se vêm
realizando na Psicologia Social Aplicada às Comunidades, o Movimento de Saúde
Mental Comunitário, a Psicologia do Desenvolvimento Comunitário e o Movimento de
Ação Comunitária na América Latina, e outros fazeres de psicologia relacionados a
comunidade. Este termo pode ser compreendido como uma visão pragmática da
psicologia, que busca o desenvolvimento e a aplicação de técnicas psicológicas que
sejam relevantes para a melhoria da qualidade de vida da comunidade.
23
4.1 Práticas da psicologia social comunitária: desafios e impactos
24
Em outras palavras, devemos perguntar se:
A realização dessas práticas psicossociais em comunidade é, de fato,
prioritária?
Estará atendendo a que necessidades e de quem?
Trará impactos e mudanças relevantes e, se sim, na perspectiva de
quem?
Para responder a estas indagações - que podem permitir que compreendamos
as possibilidades de conscientização nos profissionais envolvidos e na comunidade
participante – devemos considerar três dimensões (Freitas, 2000, 2001, 2003 apud
Freitas M; 2018):
A dimensão do próprio trabalho realizado: identificando os envolvidos,
suas motivações e compromissos;
A dimensão das relações entre comunidade e agentes externos
(profissionais): identificando a natureza da relação travada e o tipo de
participação de cada um; e
A dimensão da construção de ações coletivas e comunitárias:
identificando o tipo de ação implementada, no âmbito mais coletivo ou
mais individual, e os resultados alcançados (sejam mais coletivos ou
mais individuais).
Proceder a uma análise, considerando estas três dimensões, permite que se
caracterize o tipo de trabalho compreendendo as repercussões na vida cotidiana dos
mais diferentes participantes e, consequentemente, nas possibilidades de avanço ou
recuo da consciência dentro desses trabalhos (Montero, 2003a, 2003b apud Freitas
M; 2018 apud Freitas M; 2018).
25
Comunitária, no Brasil e na América Latina, permite que hoje tenhamos maior clareza
sobre os diferenciais desta forma de atuar.
Necessariamente trata-se de um tipo de trabalho que vai para além da
investigação, do estudo ou da análise abstrata, como mecanismos principais em si.
Depreende-se a finalidade da Psicologia Social Comunitária em quatro aspectos:
como prática, como conhecimento, como possibilidade de mudança e como
intervenção. Neste último – o da ação ou intervenção psicossocial nas relações do
cotidiano – delineia-se uma forma de ação em que os agentes comunitários (interno e
externo) se implicam numa relação partícipe e partilhada quanto a problematização
da realidade, o que permitirá uma elaboração de alternativas a serem implementadas
através de processos de formação e capacitação de lideranças e agentes
comunitários.
Derivado disto encontramos as origens teóricas e metodológicas que
sustentam a realização destes trabalhos. As bases conceituais do campo marxiano,
da sociologia rural, da investigação-ação-participante (IAP) e da Psicologia Social
Latino-americana da Libertação orientam estas práticas.
As estratégias metodológicas ancoram-se nos trabalhos da educação popular
e de adultos, da cultura popular, todos apoiados na filosofia de Paulo Freire, na mesma
medida as práticas de pesquisa participante e pesquisa ação, presentes nos trabalhos
com os camponeses nos anos 1960 e 1970, orientados pelos trabalhos junto aos
movimentos sociais e populares no continente latino-americano, receberam
influências dos aportes de Orlando Fals Borda.
Ha, também, uma dimensão intrínseca à filosofia e aos compromissos
assumidos por esse trabalho. Fala-se, aqui, da dimensão sócio histórica do homem,
compreendendo-o como ator social e, também, atribuindo à comunidade elementos
centrais das relações comunitárias. Assim, a comunidade, através de tais trabalhos,
ao longo destas últimas décadas, passa a ser vista como um ator social, e cuja
compreensão psicossocial torna-se decisiva para entender os processos de
participação e de conscientização.
Estas dimensões - intrínsecas à prática da Psicologia Social Comunitária –
apontam para dois aspectos importantes: sobre a ação humana e sobre o
comprometimento político.
26
Detectar e compreender a dimensão sócio-política da ação humana (seja do
profissional ou da comunidade), leva-nos a falar dos significados que a prática do
trabalho, a cada etapa, tem para cada um dos atores envolvidos.
Isto pode ajudar a entender os porquês de alguns avanços e retrocessos,
mesmo quando parece que o trabalho já não possui mais nenhum impedimento para
a sua boa realização. O outro aspecto aponta para a natureza do comprometimento
político e social do trabalho. Isto nos remete a identificar que impactos e retornos este
tipo de prática tem produzido e dirigidos para que participantes e setores da
população, mostrando também dificuldades para sua realização, assim como lacunas
no processo de formação dos profissionais.
Ao se olhar a prática cotidiana das pessoas e dos trabalhos comunitários
realizados podemos ir encontrando liames entre as possibilidades de mudança da
sociedade, as formas de participação, enfrentamento e sobrevivência das pessoas, e
suas vidas cotidianas (Freitas, 2005 apud Freitas M; 2018).
Portanto, ao entender a vida cotidiana, poderemos entender as participações e
não participações nas práticas comunitárias, nas redes de solidariedade, nas
convivências cotidianas e nos processos de conscientização. Poderemos encontrar
caminhos para que a vida cotidiana possa se transformar em práticas de liberdade e
justiça (não só individuais, mas principalmente coletivas) e, consequentemente, de
mudança social.
Para isso, então, torna-se imprescindível, também, a preparação e
desenvolvimento de um Processo de Educação, Formação e Capacitação dos
diferentes Agentes Sociais, Comunitários e Educacionais (sejam internos ou
externos), que estejam implicados com a construção de uma consciência crítica e
comprometido com a melhoria da vida das pessoas.
27
submissas e dominadas, como primeiro passo para uma degradante situação de
submissão.
Segundo Campos (1995 apud Valverde D; 2011) a Organização Mundial da
Saúde conceitua saúde como sendo um bem-estar físico mental e social, e não
apenas a ausência da doença ou enfermidade.
A preocupação com o bem-estar, a identificação e atendimento das
necessidades de cuidados de saúde no ser humano, aliados ás estratégias e as ações
técnico – cientificas referentes ao cuidado físico e emocional constitui em requisitos
essenciais para a eficácia do processo de saúde. Sendo assim, saúde é uma harmonia
do bem-estar físico psicológico e ambiente social.
Os problemas de saúde mental deveriam ser encarados de maneira mais
abrangentes do que restrita, desde que eles entrelaçam com muitas outras facetas do
bem-estar social, tais como emprego, habita e educação. Uma intervenção
comunitária, em alguma medida pode ser dada se houver sofrimento, seja no
indivíduo, de um grupo e/ou de uma comunidade. Porém pode-se também trabalhar
na prevenção, evitando assim um problema futuro.
Segundo Freitas (1999 apud Valverde D; 2011), os instrumentos utilizados para
intervenção, e também construídos no desenvolvimento do trabalho, podem ser:
entrevistas (muitas vezes coletivas), conversas informais (em locais variados), visitas
as casas da população ou alguma festividade, diários de campo (registro de
acontecimentos importantes, ideias que possam contribuir para ações), resgate
histórico e cultural da comunidade ( por meio de representantes da igreja, centros de
convivências, pessoas significativas).
Assim, o psicólogo na comunidade busca pela integração e interdisciplinaridade
nas intervenções comunitárias, possibilidades de ampliar novos caminhos e ganhar
espaço nos mais variados contextos. A psicologia social comunitária surge como uma
nova abordagem dentro do movimento da psicologia aplicada para lidar com os
problemas de comportamento humano, desenvolvendo ações de prevenção,
promoção, proteção e reabilitação da saúde psicológica e psicossocial, tanto em nível
individual quanto coletivo, priorizando o coletivo. Valoriza, assim, a construção de
práticas comprometidas com a transformação social.
28
4.4 Áreas de intervenção
29
O âmbito de aplicação,
As técnicas e estratégias utilizadas e
A duração.
Quanto ao (1) objetivo ou destinatário da intervenção: este constitui-se nas
comunidades, organizações e instituições que se caracterizam pela sua
complexidade, pela sua interação ecológica com o ambiente e evolução dinâmica.
Relativamente ao:
Estado inicial: constata-se que a Intervenção Social parte da avaliação do
estado inicial do sistema a modificar, que é composto pela estrutura social interna, a
sua relação com o meio, a sua história e a sua cultura, sendo planeada a intervenção
para interferir ou influenciar a evolução destes componentes ao nível do ritmo e/ou da
direção de desenvolvimento.
No que concerne ao tipo de mudança: o objetivo final da Intervenção Social
é a mudança da vida dos indivíduos, que pode ser alcançada pela mudança das
estruturas e dos processos sociais. No âmbito dos:
Objetivos e metas: estes serão fixados de acordo com a direção a imprimir à
mudança, sendo indeterminados à partida, pelo que é necessária uma avaliação
prévia para se saber quais os efeitos que pretendem.
O âmbito de aplicação: terá que ter em conta a multidimensionalidade e
complexidade do desenvolvimento humano, podendo identificar-se um conjunto de
áreas privilegiadas de intervenção como a educação, a saúde mental, o abuso de
substâncias, a utilização dos tempos livres, o sistema judicial, o sistema religioso e
outros.
As técnicas e estratégias utilizadas: implicam o desenvolvimento de práticas
inovadoras em domínios como o psicossocial, o político- administrativo, o
organizativo, a saúde pública e o ambiental ou ecológico.
Finalmente, a duração: que pode diferir se a intervenção implicar mudanças
estruturais, reorganizações ou dinamização e mobilização de comunidades, criação
de estruturas associativas e resolução de conflitos grupais, terá que ser de longa
duração e exigirá uma planificação inicial.
São também fatores de duração a dimensão da população a abranger e a
profundidade da mudança que se pretende, quer a nível pessoal quer a nível
institucional.
30
O resultado imediato da intervenção social é a mudança social e em última
instância a mudança individual. Por isso, parece-nos pertinente estabelecer aqui o
paralelo entre a intervenção social e a intervenção comunitária (Sánchez-Vidal, 1991
apud Ornelas J; 1997) que assume uma esfera de ação específica ao realçar a
importância do papel ativo e participativo dos indivíduos, a interação entre os agentes
de intervenção e o grupo-alvo, o carácter restrito da intervenção e a valorização do
grupo alvo como sujeito e razão de ser da intervenção, ao ponto de estes
influenciarem a direção do processo interventivo.
No domínio da Intervenção Comunitária predomina o enfoque dado à criação
de recursos comunitários em ligação com as ações concretizadas pela própria
comunidade com maior ou menor índice de apoio externo, partindo-se assim do
pressuposto que as comunidades possuem os recursos potenciais para gerarem a
dinâmica do desenvolvimento.
31
que isso possa produzir efeitos nas decisões a nível local, governamental e em outras
instâncias de poder.
A identificação dos métodos e técnicas desenvolvidos que comprovem a
capacidade de captar o interesse dos diferentes grupos por temáticas relacionadas
com o programa, constitui-se numa das áreas relevantes, tal como o é a atenção dada
à necessidade de promover e facilitar o contato entre diversos grupos em conflito que,
por sua vez pode ser operacionalizada através da participação em reuniões locais
com âmbito mais alargado que são cruciais para a obtenção de informação necessária
para a tomada de decisões relacionadas com a implementação do Programa de
Intervenção.
Os outros domínios deste processo são o do envolvimento dos membros da
comunidade na planificação e execução do programa de ação bem como a
clarificação dos limites da execução do Programa comunitário, mantendo deste modo
um dos seus atributos base que é o carácter restritivo da Intervenção.
Desde o momento em que os profissionais decidem concretizar o programa, a
metodologia das aproximações sucessivas e explorações, diretas na comunidade,
deverão ser levadas a efeito, com o objetivo de estabelecer as prioridades e poder
selecionar os métodos e tipos de intervenção com maior probabilidade de eficácia.
O seguinte conjunto de questões parece ser relevante para avaliar da
adequabilidade dos métodos selecionados:
Quais as áreas fundamentais de intervenção?;
Quais as necessidades prioritárias sentidas pelo grupo-alvo?;
Quais os problemas do grupo e que soluções técnicas específicas
devem ser implementadas?;
Quais são e onde se localizam os elementos em maior risco?
32
4.6 A construção da psicologia social como ciência e o papel do psicólogo.
A Psicologia Social é vista como uma senhora de pouco mais de 100 anos, cujo
período mais vindouro é caracterizado pelas últimas seis décadas, sendo sua gênese
marcada por uma dupla paternidade, ora pautada na Psicologia, ora fundamentada
na Sociologia.
A Psicologia Social, apesar de apresentar um longo passado, sua história como
disciplina científica ainda é curta. As preocupações sobre a relação entre sujeito e
sociedade tiveram início com o desenvolvimento do pensamento filosófico.
No entanto, os antecedentes da Psicologia Social como disciplina científica
remetem à segunda metade do século XIX, momento em que a Psicologia e a
Sociologia estão se estabelecendo como disciplinas científicas, independentes da
Filosofia, influenciadas, assim como as demais ciências humanas, pelo
desenvolvimento do positivismo. É neste contexto de reflexão acerca destas duas
disciplinas que se manifestará uma perspectiva psicossocial.
Neste período, diversas áreas de estudos discutiram a relação entre indivíduo
e sociedade, tais como a Filosofia, Antropologia e Biologia, fomentando publicações
de autores como Hebert Spencer, Wilhelm Wundt e Emile Durkheim, além dos
mencionados Gustav Le Bon e Gabriel Tarde. Todos estes influenciaram de forma
direta ou indireta os trabalhos de McDougall e Ross, mostrando-se relevantes e
impactantes no processo de formação da Psicologia Social (RODRIGUES, et al; 2013
apud Almeida F; 2018).
Percebe-se desta forma que o século XIX foi um período propulsor das ideias
que culminariam na publicação dos dois primeiros manuais de Psicologia Social. Por
um lado, a perspectiva individual e instintiva de McDougall (1908 apud Almeida F;
2018), por outro, a perspectiva sociológica e interacionista de Ross (1908 apud
Almeida F; 2018) (CAMPOS, et al; 2011 apud Almeida F; 2018).
McDougall é o primeiro psicólogo a escrever um manual de Psicologia Social,
cujas ideias estão apoiadas dentro da abordagem evolucionista britânica. Assim, as
críticas dirigidas a ele referem- se ao reducionismo biológico.
33
No entanto, o enfoque de McDougall teve ampla aceitação, repercutindo no
desenvolvimento dos instintos. Porém, ocorreu uma proliferação excessiva por parte
dos pesquisadores acerca de tipologias diversas, os quais tentavam justificar vários
comportamentos a partir deste construto. Tal movimento no estudo dos instintos levou
a sua decadência.
Portanto, surgiram duas concepções de Psicologia Social, uma de orientação
mais psicológica e inatista, e outra mais interessada nos fenômenos coletivos, com
base sociológica. A partir do início do século XX, quando esta nova área do
conhecimento amplia seu escopo, tanto a Psicologia Social psicológica quanto a
Psicologia Social sociológica ganharam grande impulso nos Estados Unidos, embora
trilhando direções distintas.
34
Já no início do século XX vários eram os caminhos pelos quais a Psicologia
Social poderia se desenvolver. Além da Psicologia dos povos de Wundt, também
surgiu como alternativa uma nova corrente psicológica, a Psicologia da Gestalt, a qual
teve grande influência no desenvolvimento da Psicologia Social em longo prazo.
Bernardes e Medrado (2014 apud Almeida F; 2018) afirma que esta matriz do
pensamento psicológico surgiu em oposição à ideia de Wundt de que o estudo da
percepção só seria possível através da decomposição de suas partes, e que o objetivo
da Psicologia deveria ser estudar a análise da consciência, decompondo em
elementos mais simples as sensações e os sentimentos.
Contudo, não resta dúvida de que a principal linha em que a Psicologia Social
se desenvolveu inicialmente foi fruto da influência das teorias evolucionistas,
sobretudo com os estudos sobre instintos de McDougall, cuja principal ideia é a de
que grande parte do comportamento humano pode ser explicada por fatores instintivos
ou genéticos, criticando duramente os métodos subjetivos utilizados que eram até
então adotados na Psicologia, defendendo o uso do método experimental e aplicação
de métodos objetivos que vinham sendo empregados na Psicologia animal.
A Psicologia Social remete como disciplina, às décadas imediatamente
posteriores à Segunda Guerra Mundial, fruto do êxodo de cientistas sociais da Europa
para os Estados Unidos em busca de refúgio, em decorrência do Nazismo. Os
psicólogos europeus, com conteúdos teóricos e metodológicos fortemente voltados à
fenomenologia, depararam-se lá com teóricos que carregavam uma postura
pragmática. Após a Guerra, os americanos ajudaram a reconstruir as universidades
europeias, para as quais exportaram o modelo chamado de Psicologia Social
psicológica preponderante nos Estados Unidos da América.
Os principais focos de resistência a esse enfoque individualista foram
encontrados nos grupos organizados por Moscovici (França) e por Tajfel (Inglaterra),
que contribuíram de maneira significativa para o desenvolvimento de uma Psicologia
Social européia (JACÓ-VILELA, A.M. e SATO, 2010 apud Almeida F; 2018).
Apesar de se identificar algumas tentativas direcionadas a mesclar os dois
ramos da Psicologia Social, a exemplo do programa de Pós-Graduação conjunto da
Psicologia-Sociologia na Universidade de Michigan, entre 1946 e 1967, suas
diferenças tornam duvidosa a possibilidade de integração, justificando a necessidade
de se contemplar as duas formas distintamente.
35
A Psicologia Social Psicológica consolidou-se nos Estados Unidos, em um
período em que esse país começou a adquirir força no cenário internacional. De fato,
este se caracterizou como o terreno fértil para o desenvolvimento da perspectiva
behaviorista, principalmente refletida nas ideias de Floyd Allport.
Este autor primou por definir os conto-nos da Psicologia Social como disciplina
objetiva, de base experimental e focada no indivíduo (LIMA, 2010 apud Almeida F;
2018).
Contemporaneamente a psicologia social é tida como o estudo cientifico da
maneira como pensamentos, sentimentos e comportamentos de uma ou mais
pessoas são influenciados pelas características de outrem. Assim, os psicólogos
sociais examinam essas questões, procuram entender como as pessoas influenciam
umas às outras e estudam fatores que determinam a interação humana, a atração
interpessoal.
Para Lane e Codó (2010, p. 31 apud Almeida F; 2018) “o psicólogo social
enxerga o homem como um ser que vivem em grupos, sociedades, culturas e organiza
sua vida em relação a outros seres humanos, influencia e é influenciado pela história,
pelas instituições e pelos comportamentos”.
Através do trabalho do psicólogo social nos auxilia a entender a necessidade
que sentimos do outro e a importância da comunicação frente ao comportamento
alheio. Os psicólogos sociais se interessam em saber como as pessoas influenciam
umas às outras no contexto da sociedade, entender as atitudes, como o preconceito
se forma, a conformidade e saber se as pessoas se comportam diferente quando
estão em grupo ou sozinhas.
Outra abordagem que tem sido foco do psicólogo social é a atuação frente as
políticas públicas, colaborando para que as pessoas possam desenvolver e
compreender suas habilidades e utilizá-las para romper com a vulnerabilidade. Ou
seja, instrumentalizar as pessoas para que rompam com a situação de manipulação
e opressão.
37
Em reação a tal individualização, a Psicologia Social irá assistir a outras
mudanças de rumo, responsáveis pelo desenvolvimento de abordagens que se voltam
novamente para a análise de eventos e processos histórica e culturalmente situados
e dinâmicos (FERREIRA, 2010 apud Reis D et al., Santana J; Alves M; Costa L; 2019).
A ênfase maior dada ao indivíduo ou à sociedade fez com que diferentes
autores começassem a defender a existência de duas modalidades de Psicologia
Social: a Psicologia Social Psicológica e a Psicologia Social Sociológica.
A Psicologia Social Psicológica, segundo a definição de G. Allport (1954 apud
Reis D et al., Santana J; Alves M; Costa L; 2019), que se tornou clássica, procura
explicar os sentimentos, pensamentos e comportamentos do indivíduo na presença
real ou imaginada de outras pessoas (FERREIRA, 2010 apud Reis D et al., Santana
J; Alves M; Costa L; 2019).
Já a Psicologia Social Sociológica, segundo Stephan e Stephan (1985 apud
Reis D et al., Santana J; Alves M; Costa L; 2019), tem como foco o estudo da
experiência social que o indivíduo adquire a partir de sua participação nos diferentes
grupos sociais com os quais convive.
Em outras palavras, os psicólogos sociais da primeira vertente tendem a
enfatizar principalmente os processos interindividuais responsáveis pelo modo pelo
qual os indivíduos respondem aos estímulos sociais, enquanto os últimos tendem a
privilegiar os fenômenos que emergem dos diferentes grupos e sociedades
(FERREIRA, 2010 apud Reis D et al., Santana J; Alves M; Costa L; 2019).
Para além dessa já hoje clássica divisão, a Psicologia Social desdobrou-se,
mais recentemente, em outra vertente, qual seja a Psicologia Social Crítica (Álvaro &
Garrido, 2006 apud Reis D et al., Santana J; Alves M; Costa L; 2019) ou Psicologia
Social Histórico-Crítica (Mancebo & Jacó-Vilela, 2004 apud Reis D et al., Santana J;
Alves M; Costa L; 2019), expressões que abarcam, na realidade, diferentes posturas
teóricas. Assim é que, de acordo com Hepburn (2003 apud Reis D et al., Santana J;
Alves M; Costa L; 2019), tanto o Socioconstrucionismo (Gergen, 1997 apud Reis D et
al., Santana J; Alves M; Costa L; 2019) e a Psicologia Discursiva (Potter & Wetherell,
1987), como a Psicologia Marxista, o pós-modernismo e o feminismo, entre outros,
contribuem atualmente para o campo da Psicologia Social Crítica (FERREIRA, 2010
apud Reis D et al., Santana J; Alves M; Costa L; 2019).
38
Tais perspectivas guardam em comum o fato de adotarem uma postura crítica
em relação às instituições, organizações e práticas da sociedade atual, bem como do
conhecimento até então produzido pela Psicologia Social a esse respeito. Nesse
sentido, colocam-se contra a opressão e a exploração presentes na maioria das
sociedades e têm como um de seus principais objetivos a promoção da mudança
social como forma de garantir o bem-estar do ser humano (HEPBURN, 2003 apud
Reis D et al., Santana J; Alves M; Costa L; 2019).
A evolução da Psicologia Social nas diferentes partes de mundo vem
ocorrendo, de certa forma, associada às várias modalidades ou vertentes da
disciplina. Assim é que, na América do Norte, e mais especialmente nos Estados
Unidos da América, a Psicologia Social Psicológica foi e continua sendo a tendência
predominante.
Já na Europa, é possível se notar uma preocupação maior com os processos
grupais e socioculturais, que sempre estiveram na base das preocupações da
Psicologia Social Sociológica. Por outro lado, na América Latina, verifica-se a adoção
da Psicologia Social Crítica como abordagem preferencial à análise dos graves
problemas sociais que costumam assolar a região (HEPBURN, 2003 apud Reis D et
al., Santana J; Alves M; Costa L; 2019).
Farr (2010 apud Reis D et al., Santana J; Alves M; Costa L; 2019) faz uma
análise importante sobre o desenvolvimento da história da Psicologia Social cindida
na tradição europeia sociológica e americana psicológica. O autor mostra em seu livro
"As raízes da psicologia social moderna" como a história da psicologia social está
ligada de forma direta aos acontecimentos históricos e políticos da sociedade,
principalmente relacionados às grandes guerras mundiais.
Ele aponta que, com a migração de psicólogos austríacos e alemães,
seguidores da corrente gestaltistas, para a América deu-se o conflito entre
a Fenomenologia e o Positivismo, entre o Behaviorismo e a Gestalt, o que gerou a
psicologia social cognitivista americana.
E com isso ele mostra que é deste conflito que Allport relacionou as raízes
da psicologia social à Europa e suas flores ao solo americano (FLORES, 2014
apud Reis D et al., Santana J; Alves M; Costa L; 2019).
39
Fenomenologia:
No pensamento setecentista, descrição filosófica dos fenômenos, em
sua natureza aparente e ilusória, manifestados na experiência aos
sentidos humanos e à consciência imediata.
Positivismo:
Sistema criado por Auguste Comte 1798-1857 que se propõe a ordenar
as ciências experimentais, considerando-as o modelo por excelência do
conhecimento humano, em detrimento das especulações metafísicas ou
teológicas; comtismo.
Behaviorismo:
Teoria e método de investigação psicológica que procura examinar do
modo mais objetivo o comportamento humano e dos animais, com
ênfase nos fatos objetivos (estímulos e reações), sem fazer recurso à
introspecção.
Com isso, Farr (2010 apud Reis D et al., Santana J; Alves M; Costa L; 2019)
faz crítica à maneira como Allport e Jones, estudiosos da história da psicologia,
trataram a história da psicologia social de maneira substancialmente positivista,
dividindo sua composição epistemológica da experimental.
Ou seja, de um lado os autores colocaram a tradição Europeia metafísica,
trazida da fenomenologia, e de outro o aspecto experimental americano, proveniente
do behaviorismo (FLORES, 2014 apud Reis D et al., Santana J; Alves M; Costa L;
2019). Outro traço da filosofia positivista contida na explicação de Allport, segundo
Farr (2010 apud Reis D et al., Santana J; Alves M; Costa L; 2019), se encontra na
colocação de August Comte, filósofo conhecido como pai do positivismo, no lugar de
fundador da psicologia social, com o intuito de defendê-la como ciência.
Neste sentido, tanto Allport, quanto Jones veem a psicologia social sociológica
de maneira menos científica do que a psicologia social produzida pela América do
Norte, especificamente nos Estados Unidos (FLORES, 2014 apud Reis D et al.,
Santana J; Alves M; Costa L; 2019).
Pode-se pensar que Allport, ao declarar Comte o fundador da psicologia social,
cometeu o que Goodwin (2005 apud Reis D et al., Santana J; Alves M; Costa L; 2019)
chamou maneira Personalística de investigar a história, que vê nos atos dos
personagens históricos a fonte de compreensão para a história.
40
Farr (2010 apud Reis D et al., Santana J; Alves M; Costa L; 2019) destaca o
risco de determinar nomes de fundadores e/ou ancestrais para explicar a origem das
ciências, pois isto pode impregnar a história com a visão de um ou outro autor
(FLORES, 2014 apud Reis D et al., Santana J; Alves M; Costa L; 2019).
Também é importante considerar que o interesse e a posição teórica de um
estudioso da história da psicologia podem provocar interpretações errôneas sobre as
intenções conceituais e teóricas de um autor.
Este é o caso do que cometeu Boring com Wundt. Conforme Abib (2009 apud
Reis D et al., Santana J; Alves M; Costa L; 2019), a história que mais se conhece
sobre Wundt é que ele foi o fundador da psicologia como ciência a partir do
estabelecimento do laboratório em Leipzig.
Contudo, ficou desconhecido na história da psicologia e em seus
manuais, o posicionamento de Wundt sobre a psicologia como uma área
intermediária entre a fisiologia e a cultura:
Abib (2009 apud Reis D et al., Santana J; Alves M; Costa L; 2019) aponta que,
devido a interesses políticos e ideológicos do nazismo, existiu na psicologia a
necessidade de valorizar os estudos de controle e seleção, o que se opunha à
proposta de Wundt.
No entanto, não era só este fator que levou à desconsideração da psicologia
social de Wundt, mas também a forte corrente positivista da época com a qual esse
autor não concordava, pois não admitia que os processos mentais mais profundos
fossem estudados de maneira experimental. Farr (2010 apud Reis D et al., Santana
J; Alves M; Costa L; 2019) mostra que Wundt havia elencado três tarefas para sua
vida: criar uma psicologia experimental, uma metafísica científica e uma psicologia
social.
41
Segundo Farr (2010 apud Reis D et al., Santana J; Alves M; Costa L; 2019) os
historiadores da psicologia ignoram a contribuição de Wundt sobre as questões
sociais.
Abib (2009 apud Reis D et al., Santana J; Alves M; Costa L; 2019) afirma que,
O projeto de Wundt foi derrotado, não só na esfera dos interesses intelectuais ligados
à prática e da ideologia do controle social, mas também no campo da metafísica
elementarista, da epistemologia unitária e das condições da instituição acadêmica
alemã (2009, p. 205 apud Reis D et al., Santana J; Alves M; Costa L; 2019).
A forte tradição positivista separou os objetos de pesquisa com os quais a
psicologia poderia lidar e também definiu como essa ciência poderia trabalhar com
seus objetos de estudo que, claramente, deveria se restringir às pesquisas
experimentais.
É neste contexto que se pode observar a separação entre uma psicologia que
se dedicaria aos processos psicológicos elementares de uma psicologia que se
voltaria ao estudo das relações entre sujeito, sociedade e cultura, e, de que forma o
profissional de Psicologia utiliza seu fazer ético, principalmente no que diz respeito a
atuação no contexto das políticas públicas, onde a Psicologia social e mais
desenvolvida (LOPES, 2014 apud Reis D et al., Santana J; Alves M; Costa L; 2019).
42
A LOAS propõe que as políticas públicas na área da assistência devem ser
descentralizadas e participativas, prevendo ações nas três esferas de governo que
atuem de forma articulada com a finalidade de organizar e executar os programas em
suas respectivas esferas, Estados, Distrito Federal e Municípios (BRASIL,1993 apud
Morais J; et al., Fonseca H, Gonçalves N; 2017).
Em 2004 é implementada a Política Nacional de Assistência Social (PNAS)
aprovada pela resolução n° 15 do Conselho Nacional de Assistência Social, que
expressa a criação e consolidação das diretrizes da LOAS, enquanto a Norma
Operacional Básica do Sistema Único da Assistência Social (NOB/SUAS) é aprovada
em 2005, através do mesmo conselho visando a implementação e consolidação do
SUAS, como modelo de organização da Assistência determinada pela PNAS.
O SUAS constitui-se como meio de organização e regulação em todo território
nacional dos serviços programas, projetos e demais benefício sócio assistencial de
caráter continuado ou eventual, possibilitando ainda a normatização destes serviços
e sistema de monitoramento e criação de indicadores.
Trata-se de um sistema público não contributivo, voltado para quem dela
necessitar, caracterizando-se ainda como descentralizado, participativo, sendo o
responsável pela gestão da política de proteção social brasileira (BRASIL, 2009 apud
Morais J; et al., Fonseca H, Gonçalves N; 2017). O Sistema Único da Assistência
Social integra uma política pactuada nacionalmente e descentralizada da assistência
social, com ações voltadas para o fortalecimento da família.
Desta forma a PNAS, supervaloriza a família e coloca o eixo estruturante da
Matricialidade Familiar, como forma de garantir a efetiva proteção da família, através
da inclusão sociocultural, na qual a família torna-se o núcleo social básico de acolhida,
autonomia, sustentabilidade e protagonismo social (MESQUITA, 2011 apud Morais J;
et al., Fonseca H, Gonçalves N; 2017).
Tais garantias são desenvolvidas mediante a oferta pública de espaços e
serviços continuados e articulados na proteção social básica pelos Centros de
Referência da Assistência Social (CRAS) e na proteção social especial pelos Centros
de Referência Especializada da Assistência Social (CREAS) e equipamentos que
compõem a rede de alta complexidade.
43
A oferta de serviço conforme a PNAS é dada conforme seu nível de
complexidade, sendo dividida em proteção social básica e especial. A proteção social
básica tem como objetivos prevenir situações de risco por meio do desenvolvimento
das potencialidades e aquisições e comunitários. Destina-se à população que vive em
situação de vulnerabilidade social decorrente da pobreza, privação (ausência de
renda, precário ou nulo acesso aos serviços públicos, dentre outros) e, ou, fragilização
de vínculos afetivos – relacionais e de pertencimento (BRASIL, 2004 apud Morais J;
et al., Fonseca H, Gonçalves N; 2017).
A proteção social de Assistência Social se ocupa das vitimizações, fragilidades,
contingências, vulnerabilidades e riscos que o cidadão, a cidadã e suas famílias
enfrentam na trajetória de seu ciclo de vida, por decorrência de imposições sociais,
econômicas, políticas e de ofensas à dignidade humana. A proteção social de
Assistência Social, em suas ações, produz aquisições materiais, sociais,
socioeducativas ao cidadão e suas famílias para suprir suas necessidades de
reprodução social de vida individual e familiar; desenvolver suas capacidades e
talentos para a convivência (BRASIL, 2009 apud Morais J; et al., Fonseca H,
Gonçalves N; 2017).
A Proteção Social Básica tem como objetivo prevenir situações de risco por
meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições, e o fortalecimento de
vínculos familiares e comunitários na qual o acompanhamento é realizado pelos
Centros de Referência da Assistência Social (CRAS).
A Proteção Social Especial que prevê o acompanhamento de famílias e
indivíduos em situação de risco social e cuja vivência é a de violação de direitos, cujo
acompanhamento é realizado pelos Centros de Referência Especializados da
Assistência Social (CREAS) e a rede de alta complexidade, materializada na forma de
abrigos, albergues, entre outros cujo foco é de sujeitos em situação de risco social,
havendo uma conjuntura de rompimentos dos vínculos familiares e comunitário
(BRASIL, 2009 apud Morais J; et al., Fonseca H, Gonçalves N; 2017).
Em relação ao aspecto processos de trabalhos nos equipamentos sociais nos
níveis de Proteção Social Básica e Especial, a Norma Operacional de Recursos
Humanos do SUAS – NOB-RH/SUAS/2006, alteram de forma significativa, do ponto
de vista político e conceitual, os rumos da Assistência Social e da atuação profissional.
A NOB-RH/2006 além de representar uma regulação para o campo profissional, no
44
tocante à composição das equipes de referência que prestam serviços,
particularmente nas unidades estatais CRAS e CREAS, afirma o reconhecimento de
que a profissionalização da Assistência Social é de relevância inquestionável para a
defesa e garantia de direitos atribuídos a uma política pública. Trata-se, ainda, de
reconhecer a necessidade da adoção de diretrizes técnico- políticas para o
enfrentamento da complexa realidade social brasileira, e dos ainda persistentes altos
índices de desigualdade social e situações de violência e violação dos direitos no país
(CFP, 2013 apud Morais J; et al., Fonseca H, Gonçalves N; 2017).
A partir destes serviços, o olhar da Assistência volta-se para as famílias e
grupos sociais de um dado território, espaço onde se manifestam as vulnerabilidades
e riscos sociais, por meio de fenômenos complexos e multifatoriais que atingem as
sociedades e os modos de vida na contemporaneidade, como fome, pobreza,
desemprego, violência, drogas e as mais diversas formas de discriminação, além de
situações de desastre e calamidade.
O SUAS se configura como um relevante espaço de mecanismo de luta e
ampliação dos canais de participação da sociedade, se opondo a ideologia neoliberal
e possibilitando aos profissionais da área da Psicologia uma intervenção qualificada
diante da sociedade civil.
Fonte: clipartpanda.com
45
Ainda que regulamentada no Brasil no ano de 1962, a Psicologia, enquanto
ciência e profissão, se aproximou do campo das políticas públicas apenas após a
promulgação da Constituição Federal de 1988, quando a Seguridade Social passou a
ser composta pelas políticas de Saúde, Assistência Social e Previdência Social.
Nos anos que sucederam a redemocratização do país, a profissão foi se
transformando e se constituindo a partir do processo histórico e das mudanças
materiais ocorridas passando a compor, primeiro, a política de Saúde e,
posteriormente, com a implementação do Sistema Único de Assistência Social, a
política de Assistência Social.
Nos primeiros anos do SUAS, esta classe profissional passou a integrar as
equipes multiprofissionais dos serviços oferecidos pelo mesmo, tornando-se
obrigatória – em todos os níveis de complexidade – em 2011, após a criação da
Resolução do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) n° 17 de 2011 (CFP,
2016 apud Almeida N; 2017).
A deliberação do SUAS como sistema organizador da Política Nacional de
Assistência Social ocorreu 2003, durante a IV Conferência Nacional de Assistência
Social e, regulamentada em 2004, iniciou-se no ano seguinte, com a alteração da Lei
Orgânica de Assistência Social (LOAS - Lei 8.742/1993 apud Almeida N; 2017) pela
Lei 12.435/2011. Desde então, a Psicologia passou a ser uma das profissões mais
importantes desta política, exigindo novos olhares sobre a profissão e sua relação
com o novo campo de atuação.
Objetivamos refletir sobre aspectos fundamentais à constituição da Psicologia
e suas especificidades no cenário brasileiro, buscando compreender as condições
concretas do processo de sua inserção na Assistência Social, suas contradições e as
possíveis contribuições para esta área.
Cientes da complexidade dos fenômenos que envolvem esta área de atuação
e, partindo do pressuposto de uma compreensão materialista, histórico e dialética da
realidade, defendemos uma concepção de homem que compreenda o indivíduo para
além de suas vivências pessoais e interpessoais, mas como ser que se constitui a
partir das condições histórico-sociais e que, sendo assim, entenda que as relações de
classe são intrínsecas à formação de sua personalidade.
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Desse modo, apresentaremos uma discussão sobre a ontologia do ser social
na teoria de Marx e Engels e sobre a Psicologia Histórico-Cultural, que se fundamenta
no materialismo histórico-dialético. Além dos autores da Teoria Histórico-Cultural,
embasamo-nos nas contribuições de Duarte (2013 apud Almeida N; 2017) e Saviani
(2012 apud Almeida N; 2017) acerca dos problemas da subjetividade e individualidade
na perspectiva de Marx.
Por fim, analisaremos, com base nesse enfoque teórico, as consequências da
organização da sociedade de classes para o processo de constituição humana,
refletindo sobre as possíveis contribuições da Psicologia para seu enfrentamento.
47
Tais aspectos tornam-se indispensáveis em uma análise crítica da inserção do
psicólogo na área da Assistência Social. Partir de princípios como os predominantes
historicamente na Psicologia redunda em uma prática conservadora e superficial
diante da realidade da população atendida pelas políticas públicas de Assistência
Social. Além disso, cabe uma análise da recente presença da Psicologia nos setores
públicos da Assistência Social.
Isso se revela nas pesquisas realizadas (Botomé, 1979; Conselho Federal de
Psicologia, 1988), que traçam um perfil da atuação do psicólogo, com predominância
em consultórios particulares, demarcando o elitismo da profissão. Mello (1975 apud
Senra C; et al., Guzzo R; 2012), em estudo publicado no início da década de setenta,
realiza uma crítica aos rumos da profissão, apontando que a Psicologia pela natureza
de seu conhecimento deveria ser “muito mais que uma atividade de luxo” (p. 109).
Campos (1983 apud Senra C; et al., Guzzo R; 2012) afirmava que as
contingências do mercado de trabalho estariam “empurrando” o psicólogo para as
classes subalternas e que esta migração exporia as insuficiências teórico-técnicas da
Psicologia tradicional.
Esses estudos pontuaram, portanto, o elitismo da profissão, com a prática do
psicólogo restrita àqueles que poderiam pagar pelos serviços profissionais, tornando
inacessível o atendimento psicológico para a maior parte da população.
O Conselho Federal de Psicologia reconhece, ao publicar referências técnicas
para o exercício profissional para a área da assistência social, que “a despolitização,
a alienação e o elitismo marcaram a organização da profissão e influenciaram na
construção da ideia de que o (a) psicólogo (a) só faz Psicoterapia” (Conselho Federal
de Psicologia e Conselho Federal de Serviço Social, 2007, p. 20 apud Senra C; et al.,
Guzzo R; 2012).
Uma análise da realidade concreta de vida das pessoas, a partir de uma
compreensão histórica e social de constituição dos indivíduos exige, no entanto, novos
posicionamentos da Psicologia e do fazer psicológico (o sofrimento psíquico não é
igual para todos – ricos e pobres). Bock (1999 apud Senra C; et al., Guzzo R; 2012)
discute as limitações sociais do trabalho do psicólogo restrito aos consultórios
particulares ou escritórios para a interferência ou a melhoria das condições de vida
das pessoas atendidas.
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Dados de uma pesquisa solicitada pelo Conselho Federal de Psicologia
(Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística, 2004 apud Senra C; et al., Guzzo
R; 2012) indicam que 55% dos participantes informaram que sua atividade principal
era “atendimento clínico individual ou em grupo” e 53% que seu local de trabalho é o
consultório particular (41%) e clínica (12%). Exercem suas atividades em políticas
públicas de saúde, segurança ou educação 11% dos entrevistados.
Mesmo considerando essa configuração profissional, ainda majoritariamente
atuando de modo individual e com uma abordagem clínica, o envolvimento e a
presença dos profissionais nos espaços públicos têm crescido, sobretudo em
organizações não-governamentais e no poder público.
Fonte: lanueva.com
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Desta inserção no campo da Assistência Social decorrem inúmeros desafios
para o profissional de Psicologia. Em 2005, Senra apud Senra C; et al., Guzzo R; 2012
conduziu um estudo em que os psicólogos da rede municipal de assistência puderam
relatar as dificuldades encontradas em sua de Desenvolvimento Social, 2004).
A Política Nacional de Assistência Social propõe uma maior integração das
ações da Assistência Social, mas o lugar do psicólogo nessa conjuntura ainda se
encontra em construção. Há a permanência de dificuldades antigas para aqueles
profissionais que já atuam na área e novos desafios que exigem a construção de
estratégias de superação e fortalecimento para que seja possível o desenvolvimento
das ações e o aprofundamento do debate sobre o papel do psicólogo e as
contribuições da Psicologia para a Assistência Social.
50
Ao profissional de Psicologia cabe a análise da ausência histórica de
investimento do Estado nessas comunidades, culminando com a inexistência e
insuficiência de espaços e equipamentos públicos, assim como a necessidade de
revisitar as próprias intervenções da Psicologia, que precisam transpor os limites de
uma sala, para um outro modelo de atendimento fundamentado em uma análise crítica
da profissão (Parker, 2007 apud Senra C; et al., Guzzo R; 2012).
Existem inúmeros desafios a serem enfrentados na construção do lugar do
psicólogo nas políticas públicas de Assistência Social, em especial na atualidade, com
a implementação do SUAS.
Em alguns municípios, a contratação de muitos psicólogos oficializa-se por
meio de ONGs, sob a justificativa de impedimentos fiscais e legais pelos gestores
municipais e a ausência de concursos públicos para o cargo. A inserção profissional,
articulada dessa forma, precariza o serviço público, além de assumir contornos de
desvalorização da categoria profissional com baixos salários e alta rotatividade de
profissionais.
Botarelli (2008, p.52 apud Senra C; et al., Guzzo R; 2012) apresenta proposição
semelhante ao afirmar que, ao considerarmos a agenda neoliberal no setor das
políticas públicas, a probabilidade de envolvimento profissional do psicólogo por
delegação do CRAS no chamado ‘terceiro Setor’ é mais promissora do que
propriamente o desenvolvimento de trabalhos no âmbito do estado, mesmo que a
ocupação seja significativamente maior também no setor público comparativamente
às primeiras décadas após a regulamentação da assistência.
Este contexto de terceirização do serviço público remete o psicólogo a um lugar
de subalternidade aos gestores das ONGs, no atendimento dos interesses específicos
de cada entidade. Os profissionais contratados pelas ONGs vivenciam dilemas
semelhantes aos profissionais do Poder Público, mas em sua maioria participam
pouco pelo temor da perda do emprego vulnerável e instável resultado do tipo
precarizado de contrato de trabalho.
Destacamos assim que, embora haja hoje uma preocupação crescente com a
formulação de parâmetros e diretrizes para a atuação do psicólogo no SUAS, mais
especificamente nos CRAS (Conselho Federal de Psicologia, 2007a; CFP e CFESS,
2007 apud Senra C; et al., Guzzo R; 2012), isso não se traduz em uma prática
profissional, de acordo com as diretrizes estabelecidas.
51
Muitas vezes as diretrizes são subvertidas obedecendo aos interesses
dominantes da gestão municipal ou da direção das ONGs.
Por outro lado, os psicólogos (servidores públicos concursados) vivenciam os
dilemas estruturais da atuação, que sofre as repercussões das mudanças
administrativas e os impactos da falta de investimento em infraestrutura tanto para as
comunidades quanto para os próprios serviços públicos. Mesmo com um contrato
mais estável, esses profissionais também sofrem o temor da retaliação, dependendo
da postura assumida pelos gestores municipais da Assistência Social.
Observamos, portanto, que os avanços no discurso pertinentes à área da
Assistência Social, assim como da própria Psicologia, ainda não são acompanhados
de avanços no cotidiano da ação. Documentos oficiais não garantem a ocorrência na
gestão dos municípios, muito menos a competência profissional para o exercício em
condições totalmente adversas.
Nesse sentido, Botarelli (2008 apud Senra C; et al., Guzzo R; 2012) alerta para
os riscos, na implantação dos CRAS, dentre uma das discussões na área: a permuta
de plantões sociais centralizados para a periferia da cidade sem uma reflexão sobre
ações de cunho transformador e com o agravante do isolamento das pessoas
excluídas em seu próprio território.
A prática profissional do psicólogo no âmbito da Política Nacional de
Assistência Social configura desafios para além de uma atuação técnica (abordagens
e metodologias psicológicas), pois esta inserção no campo de atuação é contraditória
e muitas vezes tensa na articulação entre os profissionais, sua prática profissional e a
instituição pública. Não se resolvem as questões sociais e a falta de acesso da
população ao atendimento psicológico disponibilizando o profissional sem uma
formação adequada ou infraestrutura de trabalho.
Pontuamos, assim, a importância do olhar crítico dos profissionais da
Psicologia que atuam na área da Assistência Social e da articulação necessária entre
a prática e a produção de conhecimento acumulada pela Psicologia nos últimos anos,
especialmente, no contexto latino-americano com realidade social semelhante.
52
5.4 O (a) psicólogo (a) como um (a) trabalhador (a) do sistema único de
assistência social (suas)
53
Dado isto, não podem ser vistas de maneira isolada as dimensões econômicas
daquelas que concernem às dimensões subjetivas e existenciais.
Conforme afirma Scalon (2011, apud SANTOS, 2014 apud Medeiros S; 2015)
todas as sociedades vivenciam desigualdades manifestadas em variados aspectos:
prestígio, poder, renda, entre outras, mas o ponto central é em que níveis de
desigualdade são toleráveis. Embora o pressuposto básico da cidadania seja a
igualdade no acesso aos direitos, a realidade brasileira corresponde ainda à pratica
do privilégio onde, à grande maioria, os direitos são subtraídos.
Há um fenômeno psicológico a ser considerado nessa conjuntura, tal como
proposto pela psicologia sócio histórica, que será reflexo da condição social,
econômica e cultural, revelando a concretude da desigualdade social (SANTOS, 2014
apud Medeiros S; 2015). A atuação do psicólogo, mais uma vez, faz-se de suma
importância para ampliar, por meio de estudos da Psicologia, a visibilidade da
dimensão subjetiva dos fenômenos sociais. As lacunas teóricas a esse respeito são
sinalizadas por Bock e Gonçalves (2009 apud Medeiros S; 2015) e Santos (2014 apud
Medeiros S; 2015).
Faz-se válido considerar a dimensão objetiva que relaciona a pobreza e a
desigualdade social diretamente à má distribuição de renda à população (BOCK, 2010
apud SANTOS, 2014 apud Medeiros S; 2015). No entanto, uma análise que não
privilegie a dimensão subjetiva da desigualdade negligencia a complexidade do
fenômeno social.
Assim, a intervenção interdisciplinar proposta para o trabalho no SUAS, com
famílias em situação de vulnerabilidade e risco socioeconômico, se compromete com
o esforço interpretativo para a compreensão da desigualdade social no Brasil. Esta
pode ser considerada uma realidade complexa que inclui elementos contraditórios
(SANTOS, 2014 apud Medeiros S; 2015). Tal fato coloca o profissional de Psicologia
como um agente fundamental para a superação da dicotomia indivíduo-sociedade.
No contexto da Assistência Social, mais especificamente no CRAS, as funções
atribuídas aos Psicólogos, enquanto componentes das equipes técnicas, constituem
uma tentativa de superação das desigualdades sociais e pobreza no país. A política,
basilar que normatiza a atuação apela para a noção de ‘compromisso social’ da
Psicologia, a capacidade de dirigir um olhar atento à realidade socioeconômica do
sujeito/usuário para além do que é dado.
54
Assim, cabe a este profissional problematizar o contexto no qual se inscreve a
necessidade do usuário, a qual não se restringe ao âmbito individual. Tornando a
política, o quanto possível, isenta do assistencialismo, da rotulação, da marginalização
da pobreza e da alienação de quem necessita dos serviços prestados. É atender à
necessidade e não ao necessitado.
A mudança de paradigma proposta pela inserção no campo social manifesta-
se no olhar atento para os aspectos subjetivos sem perder de vista a conjuntura na
qual estão inseridos.
O psicólogo comprometido socialmente enfatiza, em sua prática, que a
desigualdade social não é um processo natural, mas que vem de uma construção
coletiva e consolidada no cotidiano das relações estabelecidas pelos sujeitos. Advém
de práticas sociais e são reafirmadas por crenças e valores (SANTOS, 2014 apud
Medeiros S; 2015).
Há, assim, um entrelaçamento das dimensões objetivas e subjetivas.
Justamente neste aspecto, faz-se relevante inserir um profissional que, a partir de uma
análise crítica, venha a identificar possibilidades de intervenção preventiva. Deverá,
assim, evitar que os indivíduos sejam expostos a situações de vulnerabilidade e risco
social. Isto está no cerne da política de Proteção Social Básica da Assistência Social.
Não é possível compreender a constituição da subjetividade individual sem
apreciar a subjetividade dos espaços sociais que colaboram para a sua construção
(MARTINEZ, 2005 apud Santos, 2014 apud Medeiros S; 2015).
Os aspectos subjetivos do social não se contrapõem aos aspectos das
subjetividades individuais, mas se constituem mutuamente. Esta reflexão permite
inferir uma possível tendência de que qualquer indivíduo possa ser influenciado por
seu contexto de vida e de trabalho.
Assim, também o Psicólogo, no exercício de sua função, não está isento de tais
repercussões. Os fatores que venham a incidir, de um modo direto ou indireto, na
constituição da subjetividade do psicólogo social, mais especificamente, remetem a
noção de Determinante Social de Saúde. Faz-se necessário, assim, indagar acerca
de como se dá o exercício dessa função: que meios e instrumentos esses profissionais
dispõe para ‘o fazer’ na Assistência Social desde sua formação acadêmica? Quais
repercussões desta prática, até então nova, trariam para esses profissionais em
termos de Saúde?
55
Dito de outro modo, é provável que os fatores circunscritos no contexto de
trabalho da Assistência Social venham a “adentrar” na subjetividade dos Psicólogos
influenciando nos seus modos de executar o trabalho, nos seus hábitos de vida e
saúde, nisto constitui-se o entendimento dos Determinantes Sociais de Saúde. Tal
como afirmaram Badiziak e Moura (2010 apud Medeiros S; 2015) estes são elementos
que irão permitir que a saúde seja alcançada ou não. Faz-se, então, necessário uma
reflexão acerca de como se ocorre este processo.
A formação dos Psicólogos, em sua maioria, ainda privilegia referenciais
teóricos técnicos que desconsideram a relevância de aspectos objetivos, históricos e
sociais no desenvolvimento humano (BOCK, 2001, apud SANTOS, 2014 apud
Medeiros S; 2015). O contato de Psicólogos com o “social” produz repercussões em
suas vidas, objetiva e subjetivamente, proveniente da tensão invisibilidade/concretude
da desigualdade, sendo a pratica dos profissionais moldada também sob o efeito da
afetação de tal processo (SANTOS, 2014 apud Medeiros S; 2015). Uma questão
relevante a ser colocada é sobre quais elementos podem contribuir para o avanço da
prática profissional e, em consequência, da atenção aos sujeitos da política.
56
Social (CRAS) e do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas)
e têm sido contratados em quase todas as cidades brasileiras que vem implantado
seus sistemas de proteção social (Macedo & Dimenstein, 2011 apud Lima F et al.,
Schneider; 2018).
A atuação do psicólogo, enquanto trabalhador da Assistência Social, deve ter
como foco, mediado por seu saber e sua técnica, no fortalecimento dos usuários como
sujeitos de direitos e na garantia de aplicação das políticas públicas em larga escala
(CFP, & CFESS, 2007 apud Lima F et al., Schneider; 2018).
A criação do Creas rompe com a lógica da política de Assistência Social dividida
por segmentos sociais (crianças, adolescentes, pessoas com deficiência, idosos) ou
tipos de demandas (violência sexual, medidas socioeducativas etc.), ao fazer coexistir
serviços antes dispersos na rede sócio assistencial e que possuíam pouca ligação
entre si, como é o caso do Programa Sentinela, do Serviços de Acompanhamento a
Adolescentes em Cumprimento de Medida Socioeducativa, assim como o Serviço de
Orientação e Apoio Especializado a Crianças, Adolescentes e Famílias.
O objetivo foi o de reunir estas várias ações em um único centro, com a
finalidade de ofertar atenção continuada e especializada às famílias e indivíduos com
direitos violados (Ribeiro, 2010 apud Lima F et al., Schneider; 2018).
A autora esclarece ainda que o Programa Sentinela (Serviço de Enfrentamento
à Violência, Abuso e Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes), implantado
em 2001, passou em 2004 a ser um serviço de ação continuada, tendo sido inserido,
finalmente, em 2005, como uma das ações do SUAS, a ser incorporado pelos Creas.
Sendo assim, como um antigo programa, que possuía estrutura física, material e de
recursos humanos, em muitas cidades, o Programa serviu, na verdade, de base para
a estruturação de muitos Creas no país (Ribeiro, 2010 apud Lima F et al., Schneider;
2018). A composição das equipes de cada serviço ofertado pela Assistência Social
deve obedecer às orientações descritas pela Norma Operacional Básica de Recursos
Humanos do SUAS (NOB-RH) (Brasil, 2006 apud Lima F et al., Schneider; 2018), que
prevê a presença do psicólogo nas equipes de referências dos CRAS e Creas.
Além disso, as diretrizes técnicas de funcionamento de cada serviço são
descritas por meio de publicações específicas produzidas pelo Ministério de
Desenvolvimento Social (MDS). Os conselhos de classe também atuam como órgãos
de regulação da atividade profissional no âmbito da Assistência Social.
57
Com base na complexidade que envolve o trabalho da proteção social, fica
evidente a necessidade de se construir intervenções a partir de uma perspectiva
interdisciplinar. Não é possível acreditar que, apenas uma área de conhecimento, seja
capaz de dar conta de fenômenos tão complexos e que possuem inúmeros fatores
que os determinam.
Desta forma, a inclusão dos profissionais da Psicologia nas equipes de
referência do SUAS visa contribuir para equacionar as diferentes dimensões
intrincadas nos problemas que têm como base a desigualdade social.
Fonte: ibrasfor.com.br
58
Sofrimento que surge da situação de ser tratado como inferior, subalterno, sem
valor, apêndice inútil da sociedade” (Sawaia, 2001, p. 56 apud Lima F et al., Schneider;
2018). Nessa direção, a compreensão da vulnerabilidade psicossocial de famílias
brasileiras, que acabam por necessitar das políticas públicas de proteção social, deve
ser base para o planejamento das ações dos profissionais, evitando a culpabilização
dos indivíduos ou da célula familiar, ao fundamentar uma análise mais complexa da
situação.
Consequentemente, a atuação da Psicologia deve superar a tradição
subjetivista de visão do mundo e de compreensão do fenômeno psi. Ela parte, assim,
do pressuposto de que, apesar de o sofrimento ser vivido pelo indivíduo em sua
singularidade, sua gênese é social, o que exige uma clareza na forma de compreender
a desigualdade social e a maneira como o psicólogo atua sobre ela (CFP, 2011 apud
Lima F et al., Schneider; 2018). Dessa forma, sua atuação no SUAS não deve ter foco
no indivíduo, mas nos contextos produtores de vulnerabilidade.
Sendo assim, não cabe uma atuação no modelo clínico clássico, mas sim uma
ação com foco social comunitário. Estes são caminhos já apontados por alguns
estudos, como descreve o estudo de revisão de Motta, Castro e Pizzinato (2015 apud
Lima F et al., Schneider; 2018), Ribeiro e Goto (2012 apud Lima F et al., Schneider;
2018) e a dissertação de Ribeiro (2010 apud Lima F et al., Schneider; 2018).
Na análise de sua atuação, contudo, vários estudos verificaram que as ações
dos psicólogos ainda não possuem uma base consistente, voltada para as
peculiaridades do campo da Assistência Social. Apesar das normativas da Política
Nacional de Assistência Social (PNAS), ainda persistem ações de psicólogos no
SUAS de caráter exclusivamente clínico tradicional, focadas em práticas
psicoterapêuticas (Andrade, & Romagnoli, 2010; Macêdo, Alberto, Santos, Souza, &
Oliveira, 2015a; Macêdo, Pessoa, & Alberto, 2015b apud Lima F et al., Schneider;
2018). Por outro lado, outros estudos revelaram que as práticas destes profissionais
estão sendo desenvolvidas, pouco a pouco, de acordo com as diretrizes de atuação
da profissão no contexto da Assistência Social (Reis, & Cabreira, 2013; Cordeiro,
Batista, Carvalho, & Carmo, 2016 apud Lima F et al., Schneider; 2018).
Estes achados indicam que a variação depende dos locais de atuação, da
formação que o psicólogo recebeu e do desenvolvimento específico do campo de
práticas em cada território.
59
O desenvolvimento do trabalho social com famílias e indivíduos deve se
constituir como norteador do trabalho das equipes do Creas. A concepção de
vulnerabilidade e risco social como um evento que emerge em um determinado
contexto e que se constitui a partir da ação de inúmeros elementos é essencial para
a execução de um trabalho deste nível.
A reflexão sobre a complexidade das situações nas quais as famílias e
indivíduos usuários deste Centro estão envolvidos permite viabilizar a construção de
redes de proteção à medida que se compreende que a atuação isolada, quer seja de
um profissional, de um serviço, ou de uma política, não será capaz de dar conta dessa
complexidade. Apostar na capacidade das famílias e indivíduos, referenciados no
território, é desenvolver um trabalho social de emancipação, auxiliando-os na
promoção de sua autonomia com o suporte dos serviços e programas sociais públicos
necessários (NECA, 2010 apud Lima F et al., Schneider; 2018).
Os casos acompanhados pelo Creas envolvem violações de direitos e são
atravessados por tensões no âmbito individual, familiar e comunitário e podem
acarretar na fragilização e até mesmo no rompimento de vínculos (Brasil, 2012 apud
Lima F et al., Schneider; 2018).
Quando a psicologia foi instituída como profissão no Brasil, por meio da Lei
4.119/62 (Brasil, 1962 apud Ribeiro M; 2014), a formação e a atuação do
psicólogo estruturaram-se em torno de três principais áreas: a clínica, a
escolar e a industrial. Dentre essas áreas, a que mais teve destaque na
formação e prática foi a área clínica, com a concepção clássica de atuação
individualizada e voltada para as classes média e alta da população. Tal
concepção trouxe algumas consequências para a atuação do psicólogo,
porque, ao reproduzir noções de atendimento individualizado e curativo, os
psicólogos, geralmente, se remetiam somente a fenômenos mentais e
pessoais, desconsiderando as influências que os contextos sociais,
econômicos e políticos exerciam sobre o sujeito (Botomé, 1979/2010; Ferreira
Neto, 2004; Yamamoto, 2007 apud Ribeiro M; 2014).
A equipe que não possuir um olhar ampliado sobre estas questões corre o risco
de reduzir seu atendimento a uma tecnocracia, a uma burocratização, promovendo,
ao invés de garantia, uma nova violação de direitos, uma vez que não viabiliza o
acesso a serviços que estimulem a autonomia, àqueles que historicamente estão à
margem da proteção social. Este é um desafio para a atuação dos psicólogos, em
articulação com as equipes interdisciplinares atuantes no SUAS.
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A defesa do compromisso ético e político dos profissionais vinculados à
Assistência Social é a diretriz central do SUAS (Brasil, 2006 apud Lima F et al.,
Schneider; 2018). Compromisso que já está colocado para a Psicologia enquanto
ciência e profissão, uma vez que se postula sua ação como forma de atuar frente aos
determinantes sociais, econômicas e sociais que produzem sofrimento ético-político
(Cordeiro et al., 2016; Macêdo et al., 2015a; Senra, & Guzzo, 2012 apud Lima F et al.,
Schneider; 2018).
Ao psicólogo que trabalha com políticas públicas é fundamental a compreensão
de que as situações que afetam às famílias e aos indivíduos com os quais ele atende
revelam a tonalidade ética da vivência da desigualdade social. E, por isso, seu fazer
deve ser posicionado, apontando para a transformação social, para a alteração das
condições de vida destas pessoas atendidas (Bock, 1999; Sawaia, 2001 apud Lima F
et al., Schneider; 2018).
É um compromisso ético do psicólogo neste espaço contribuir para melhorar os
fluxos e articulação da rede tendo em vista que o trabalho no Creas é de natureza
interdisciplinar, intersetorial e interinstitucional. Dessa forma, “é necessário a ‘saída
do casulo’, do solo das certezas para atuar na multiplicidade do viver cotidiano”, como
afirmam Chimainski, Ubessi, Martins e Jardim (2016 apud Lima F et al., Schneider;
2018), atuando junto ao território e sua base comunitária.
Consequentemente, a atuação da Psicologia, no âmbito do SUAS, deve se dar
por meio do atendimento psicossocial, segundo relato dos próprios profissionais (Flor,
& Goto, 2015 apud Lima F et al., Schneider; 2018). Isso implica no desafio de se
construir respostas diferenciadas que levem em conta as características do território
de origem do usuário e que promovam a melhoria das condições de vida dos usuários
(CFP, 2012 apud Lima F et al., Schneider; 2018).
A base desse tipo de intervenção é, então, a contextualização dos processos
de vulnerabilidade e violação de direitos, de forma a identificar as determinantes
destes processos e auxiliar na mudança destas condições.
Contudo, para que os profissionais do Creas possam realizar seu trabalho de
forma ético-política, algumas condições são necessárias, o que implica que “nas
políticas sociais é necessário que o profissional psicólogo vá além das normas
técnicas da profissão, que ele abdique da posição ingênua e acrítica a respeito dos
61
mecanismos de dominação atual e diagnostique tais aspectos no território de atuação”
(Flor, & Goto, 2015, p. 31 apud Lima F et al., Schneider; 2018).
Sendo assim, a proposição de mudanças nos determinantes que produzem
desigualdades sociais envolve o questionamento de relações de poder historicamente
construídas.
A inserção do psicólogo na política de Assistência Social requer uma
investigação ampliada a respeito das condições de trabalho no SUAS. Analisar essas
condições significa pautar não só o acesso a direitos para os usuários, mas também
a oferta do tipo de contrato de trabalho, de infraestrutura, de salários dignos, de
jornada de trabalho condizente com as exigências da categoria, de formação
permanente, entre outros aspectos que evitam a precarização do trabalho e garantem
condições de qualificação da atuação profissional (CFP, 2012 apud Lima F et al.,
Schneider; 2018).
Impõem-se, portanto, a necessidade de analisar as condições concretas que
estão postas para os trabalhadores psicólogos do SUAS, especialmente no que diz
respeito aos vínculos de trabalho estabelecidos, posto que estes estão diretamente
relacionados com a qualificação dos serviços ofertados para a população.
Sendo assim, o trabalho do psicólogo, que ganha contornos ético-políticos no
campo da Assistência Social, necessita de uma análise das condições objetivas que
determinam o fazer dos psicólogos que atuam junto a famílias e indivíduos que tiveram
seus direitos violados, visando a qualificação de sua atuação. Da mesma forma,
necessário se faz discutir os contornos teóricos e técnicos de sua atuação, a fim de
avaliar de as ações desenvolvidas estão de acordo com os princípios e exigências da
PNAS.
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6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
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DA SILVA SANTIAGO, Rafael. O DIREITO DE FAMÍLIA CONTEMPORÂNEO:
ENTIDADE FAMILIAR CONSTITUCIONALIZADA. Periodicos, [S. l.], p. 1-10, 2013.
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PACHECO GOMES, Camila et al. A NOVA CONFIGURAÇÃO FAMILIAR: A
FAMÍLIA CONTEMPORÂNEA USUÁRIA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS. Cac-php, [S.
l.], p. 1-13, 9 out. 2011.
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7 BIBLIOGRAFIA
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