INTRODUÇÃO
No final do século XIX alguns fatos importantes na história das radiações
ionizantes ocorreram: a descoberta dos raios X por Wilhem Conrad Röntgen em 1895,
constatação da radioatividade natural do urânio por Henri Becquerel em 1896, a
separação do polônio e do rádio por Pierre e Marie Curie em 1898.
A partir dessas descobertas, a radiação ionizante passou a ser amplamente
utilizada na indústria e na Medicina, com finalidade de pesquisa, diagnóstico e
tratamento de doenças.
Do ponto de vista físico, as radiações podem ser classificadas em corpusculares
e eletromagnéticas. As radiações corpusculares possuem massa (elétrons, prótons,
nêutrons) e as eletromagnéticas são ondas com diferentes comprimentos e a mesma
velocidade, que é a da luz.
Para fins biológicos as radiações podem ser classificadas em não ionizantes e
ionizantes. As radiações não ionizantes são aquelas que não possuem energia
suficiente para realizar ionização de átomos biologicamente importantes. As radiações
ionizantes caracterizam-se por promover ionização, isto é, quando interagem fazem
com que elétrons sejam ejetados da órbita do átomo. Pequena parte da energia das
radiações ionizantes é gasta com excitação, quando os elétrons apenas mudam de
órbita no átomo. Importante propriedade física destes agentes, que interfere no efeito
biológico, é a transferência linear de energia (LET), que é a taxa de energia liberada
pela radiação por unidade de caminho percorrido. A densidade de ionização produzida
num dado meio depende da massa, velocidade e carga. Partículas com pequenas
velocidades ou pesadas (grande massa) por exemplo, dissipam sua energia em pequena
trajetória e ionizam mais densamente. As radiações corpusculares apresentam alta
densidade de ionização em pequeno trajeto e são consideradas de alto LET. As
eletromagnéticas ionizam esparsamente percorrendo maior trajeto e são consideradas
de baixo LET.
A energia das radiações é também fator importante a ser considerado. Quanto
maior a energia, maior a capacidade de penetração no meio absorvedor.
Outro aspecto físico que influencia no efeito biológico é a taxa de dose, que é a
quantidade de energia liberada num determinado tempo. De modo geral, podemos
3
dizer que quanto menor a taxa de dose, menor a eficácia radiobiológica pois aumenta
a chance de reparo da lesão radioinduzida. Basicamente, o efeito biológico depende da
densidade de ionização no tempo (taxa de dose) e no espaço (LET).
Com o amplo uso das radiações em diversas áreas de atuação humana, efeitos
indesejáveis ocorreram. Dessa forma, houve a necessidade de se conhecer os
mecanismos de ação destes agentes e como respondem os diversos tecidos após
interação. A área de conhecimento que estuda os efeitos biológicos das radiações
ionizantes é a radiobiologia.
Em relação a radioterapia, onde se deseja destruir o tecido patológico e
preservar o tecido normal adjacente, o conhecimento dos efeitos biológicos das
radiações e a aplicação dos conceitos de radiobiologia têm ajudado no
desenvolvimento de estratégias terapêuticas mais eficazes e seguras.
MECANISMO DE AÇÃO
As radiações ionizantes podem interagir diretamente com componentes
celulares como DNA, proteínas e lipídeos, provocando alterações estruturais. É o
chamado efeito direto e constitui cerca de 30% do efeito biológico das radiações.
Podem também interagir com o meio onde os constituintes celulares e as próprias
células estão suspensas ou seja, a água, produzindo radicais livres. Neste caso temos o
efeito indireto que corresponde a cerca de 70% do efeito biológico produzido pelas
radiações. A maior probabilidade de ocorrência do efeito indireto deve-se ao fato da
água ocupar parcela substancial da composição celular. Além disto, os radicais livres
também podem ser produzidos devido à ionização de outros constituintes celulares,
particularmente os lipídeos.
O principal radical livre oxidante resultante da radiólise da água é o hidroxil. A
recombinação dos radicais livres leva à formação de outros componentes como o
peróxido de hidrogênio (H2O2). Quando os radicais hidroxil reagem com moléculas
orgânicas, formam-se radicais livres orgânicos.
4
CROMOSSOMOS
Quebras e rearranjos cromossômicos podem ser induzidos pela radiação. Podem
ocorrer fragmentos acêntricos, dicêntricos e anéis (mutações instáveis) e translocações
e inversões (mutações estáveis).
MEMBRANAS
A radiação interage com as proteínas estruturais e com os lipídeos de membrana
provocando a peroxidação lipídica. Sugere-se que como conseqüência da peroxidação
lipídica as membranas apresentam enfraquecimento em sítios especiais enquanto que a
maior parte dela apresenta aumento de rigidez, prejudicando sua função.
CICLO CELULAR
A fase de mitose (M), é extremamente sensível à radiação, pois existe grande
possibilidade de “fixação” da lesão radioinduzida. Acredita-se que este fato ocorra
devido à grande compactação do DNA. Isto aumenta a probabilidade de interação,
provocando aberrações cromossômicas e morte celular, o que corresponde ao aumento
da radiosensibilidade. A grande campactação da cromatina torna as lesões inacessíveis
às enzimas reparadoras.
A fase de síntese (S) é a menos sensível à radiação possivelmente devido à
duplicidade do conteúdo informacional. Isto poderia tornar viável a atuação dos
mecanismos de reparo.
A radiação provoca retardo em G2/M. Acredita-se que isto acontece para haver
o reparo da lesão radioinduzida, antes da divisão celular. Observou-se que a falta de
retardo em G2 está associada ao aumento da radiosensibilidade. Ocorre também o
retardo em G1/S. Este controle na fase de síntese (S) evita a replicação de DNA
lesado. O retardo em G1 após lesão em DNA radioinduzida está associado à presença
das proteínas p53 e p21 e pode resultar em reparo do DNA ou morte celular por
apoptose.
PELE
A radiação provoca lesão nas células da camada basal da epiderme, que sofrem
apoptose e/ou morte clonogênica. Ocorre também lesão nos melanócitos, podendo
haver deposição de melanina derme, que se não for fagocitada provocará
hiperpigmentação. Alterações vasculares, em particular a obliteração, é causada em
parte devido a liberação de fatores de crescimento, como o fator de crescimento
derivado de plaquetas (“platelet derived growth factor” – PDGF) e o FGF (“fibroblast
growth factor”)das células endoteliais. Estes atuam como fatores parácrinos para o
crescimento de músculo liso, acarretando espessamento da camada íntima dos vasos.
Após irradiação a pele poderá apresentar radiodermite aguda ou crônica. A
radiodermite aguda pode ocorrer após exposição acidental à radiação ou durante o
curso da radioterapia. A radiodermite crônica pode ocorrer como seqüela da
radiodermite aguda (após doses altas), ou em profissionais que trabalham com
radiação e ficam sujeitos a doses crônicas e contínuas, sem haver previamente a reação
aguda.
Radiodermite aguda (estágios) – durante o curso de 4 semanas de radioterapia
após mastectomia devido ao câncer de mama (dose 4500 – 5000cGy), por exemplo,
nenhuma reação de pele é observada inicialmente. A epilação ocorre em cerca de 14
dias após início do tratamento. Em 3 semanas desenvolve-se o eritema principal e a
pele apresenta-se quente, avermelhada e edematosa. Geralmente a paciente queixa-se
de desconforto e prurido. Entre 4 à 5 semanas ocorre descamação que algumas vezes
progride para dermatite exfoliativa. A regeneração da nova pele inicia-se cerca de 1
9
semana depois do término do tratamento e está completa por volta da terceira semana.
A função da glândula sudorípara é restabelecida dentro de 2 semanas. No entanto, a
secreção da glândula sebácea não é restabelecida. Os pêlos começam a crescer em
cerca de 1 mês depois de terminada a radioterapia e podem apresentar características
diferentes e coloração mais escura do que a original. A reação da pele aumenta com o
aumento da dose de radiação, com o tamanho da área irradiada e varia nas diversas
partes do corpo. As áreas mais suscetíveis incluem aquelas mais sujeitas à umidade e
fricção como a axila, região inguinal, vulva e ânus, e as que apresentam baixo
suprimento sangüíneo como a região dorsal das mãos, dorso e sola dos pés.
Radiodermite crônica (estágios) – a pele pode apresentar lesões tardias,
geralmente permanentes, como: isquemia, pigmentação, espessamento, teleangiectasia
e ulceração. Antigamente, devido ao uso de aparelhos de baixa energia (ortovoltagem)
tais lesões ocorriam mais amiúde. Nos dias atuais, estas alterações tornaram-se menos
freqüentes devido a introdução dos equipamentos de alta energia (megavoltagem). A
doença malígna secundária é uma complicação após exposição à doses crônicas de
radiação.
OROFARINGE
A reação aguda na mucosa ocorre devido à morte das “células precursoras” da
camada basal do epitélio, e estas células que deveriam substituir aquelas perdidas da
mucosa não o fazem por um tempo, dependendo da dose de radiação. Posteriormente,
as células precursoras que sobrevivem à irradiação irão proliferar a fim de reparar a
mucosa.
Durante a radioterapia clássica, a reação aguda na mucosa (edema e eritema),
tem início no final da segunda e é máxima no final da terceira semana. Nesta fase o
paciente queixa-se de: “secura” na boca, perda do paladar, dor de garganta e disfagia.
A recuperação do epitélio ocorre em 1 mês após o término do tratamento. Alterações
tardias como fibrose, teleangiectasia e espessamento da parede das arteriolas são
observadas em meses ou anos após o final do tratamento. Como resultado da
cicatrização a mucosa fica mais suscetível à ulceração após mínimo trauma.
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PULMÃO
A lesão inicial ocorre nos pneumócitos tipo II havendo liberação precoce de
surfactante. Estas alterações são detectadas em minutos à horas depois da irradiação,
no microscópio eletrônico.
A radiação pode provocar pneumonite, que ocorre em 4 a 6 semanas após o
término da radioterapia com doses acima de 25Gy. Manifesta-se clinicamente por
dispnéia, tosse não produtiva e sensação de aperto no torax.
A fibrose pulmonar também pode ocorrer no volume irradiado. O grau de
fibrose e de dispnéia depende da dose de radiação e de fatores como infecção
secundária e doença pulmonar pré-existente (doença pulmonar obstrutiva crônica,
doença pulmonar industrial).
A dose de tolerância do pulmão é de 16 a 20Gy para a radioterapia clássica.
SÍNDROME AGUDA DA RADIAÇÃO (SAR)
Esta síndrome descreve os efeitos clínicos após irradiação de corpo inteiro com
doses únicas acima de 0,5Gy. Foi observada após a explosão da bomba atômica em
Hiroshima e Nagasahi, testes nucleares no pacífico e acidentes como os de Chernobyl
e Goiânia.
A SAR ocorre devido à falência em três órgãos e sistemas: hemocitopoético
(doses entre 1 a 10Gy), gastrointestinal (doses entre 10 e 50Gy) e sistema nervoso
central (doses acima de 50Gy). O período prodrômico manifesta-se poucas horas
depois da irradiação e caracteriza-se por náuseas, vômito, dor de cabeça, fraqueza e
vertigem. Posteriormente ocorre período latente de poucos dias. A evolução dos
sintomas depende da dose de radiação e suas manifestações são mais precoces quanto
maior a dose de radiação. (Tabela 1)
15
a morte ocorra por impacto único num alvo importante, por exemplo o DNA. As
demais lesões seriam reparadas. Portanto, a situação seria de “tudo ou nada”, isto é,
um impacto (lesão irreparável) num alvo vital e a célula morre. Caso contrário, a
célula sobrevive porque os impactos em alvos menos importantes são reparados
completamente. Na região exponencial da curva, considera-se que a morte é devido
principalmente a múltiplos impactos que interagem (Fig. 1).
Para as radiações de alto LET (partículas α, nêutrons), a curva de sobrevida é
uma linha reta desde sua origem. A curva aproxima-se de uma exponencial em
função da dose (Fig. 1).
MODELO LINEAR QUADRÁTICO
É atualmente o escolhido para descrever as curvas de sobrevida. Este modelo
propõe que os eventos letais induzidos pela radiação são conseqüentes a dois
componentes: linear(α) e quadrático(β). O componente linear (α) assume que o
número de eventos letais é proporcional à dose de radiação e deve-se à uma
passagem (“track”) do elétron (αD). O componente quadrático (β) propõe que o
número de eventos letais é proporcional ao quadrado da dose, onde dois eventos
subletais interagem para produzir um evento letal, e é conseqüente à duas passagens
(“track”) do elétron (βD2) (Fig. 2).
A forma da curva dose/resposta para morte celular e carcinogênese depende
do rearranjo entre os cromossomos. Se as quebras em dois cromossomos forem
resultantes de um único elétron, a probabilidade de interação entre as duas quebras
é proporcional à dose e isto resulta em relação linear (α) entre dose e efeito. Este
processo é predominante nas doses baixas. Nas doses altas, as quebras entre dois
cromossomos resultam de passagens separadas de elétrons. Neste caso, a
probabilidade de interação entre as duas quebras para formar uma lesão letal, como
o dicêntrico por exemplo, é proporcional ao quadrado da dose (β).
O componente α aproxima-se da lesão por impacto único e o β aproxima-se
da lesão por múltiplos impactos.
18
RLSL
Já discutido anteriormente e parece ocorrer mais nos tecidos normais e menos
nos tumores. Portanto, o fracionamento propicia otimização do tratamento, quanto a
poupar o tecido normal em relação ao tumor.
Redistribuição
A sensibilidade das células varia dependendo da fase do ciclo celular. Após
irradiação com a dose de 2Gy as células que estão nas fases mais sensíveis (G2 e
mitose) morrem e aquelas da fase mais resistente sobrevivem (síntese tardia S).
Posteriormente, as células sobreviventes a esta dose progridem no ciclo celular e vão
para as fases mais sensíveis. As células com grande capacidade proliferativa, por
exemplo os tumores, têm ampla taxa de distribuição quando se movem de uma
mitose para outra. Este fato assegura redistribuição precoce das células parcialmente
sincronizadas (que estavam nas fases mais resistentes). Como resultado, com o
tempo, maior proporção de células sobreviventes estará nas fases mais sensíveis do
ciclo celular do que imediatamente após irradiação. Tal redistribuição produz “auto
sensibilização” da população como um todo e não ocorre em células não
proliferativas. Portanto, com o fracionamento da dose, espera-se um “lucro”
terapêutico, permitindo redistribuição no ciclo celular das células tumorais
sobreviventes e não daquelas do tecido normal de resposta lenta. Dessa forma, a
resposta diferencial ao fracionamento entre o tecido não proliferativo de resposta
lenta e o de resposta aguda, pode ser em parte devido à diferente redistribuição no
ciclo celular entre as doses de radiação.
Repopulação
A divisão e a volta ao crescimento das células após tratamento, ocorre devido
ao recrutamento das células quiescentes para a proliferação. Os tecidos de resposta
rápida mostram esta capacidade proliferativa mais precoce do que os de resposta
lenta. Dessa forma, prolongando o tempo de tratamento na radioterapia, poupa-se
pouco o tecido de resposta lenta mas o tecido de resposta rápida é poupado e a
23
Reoxigenação
É o processo pelo qual as células que são hipóxicas antes da irradiação se
tornam oxigenadas depois. Foi demonstrada experimentalmente pela observação de
que a proporção de células hipóxicas num tumor, é a mesma antes e depois da
irradiação. Se a reoxigenação não ocorresse, a proporção de células hipóxicas deveria
aumentar na medida em que as células bem oxigenadas mais sensíveis morrem após
irradiação. A rapidez com que a reoxigenação ocorre não é conhecida para tumores
humanos. Em animais varia, mas em geral ocorre rapidamente, entre 6 a 24 horas.
Existem dois tipos de hipóxia, a aguda e a crônica. A crônica resulta da difusão
limitada do oxigênio para o tecido. A aguda deve-se ao fechamento temporário dos
vasos sangüíneos e é transitória. Se a reoxigenação for rápida e completa, as células
hipóxicas terão pequena influência no resultado do fracionamento. O componente de
reoxigenação rápida deve-se a reoxigenação das células agudamente hipóxicas na
medida em que os vasos sangüíneos abrem e fecham. O componente lento é devido
à reoxigenação das células cronicamente hipóxicas, na medida em que o tumor
“encolhe”.
A reoxigenação pode ocorrer devido a redução na população de células
tumorais, sem perda dos vasos sangüíneos, resultando em maior densidade de vasos.
Ocorre também pela perda seletiva das células melhor oxigenadas, reduzindo a
distância que o oxigênio deve se difundir para as células hipóxicas.
24
OXIGÊNIO HIPERBÁRICO
Logo após a identificação da hipóxia como potente causa de resistência do
tumor, protocolos clínicos com oxigênio hiperbárico foram iniciados. No entanto, na
maioria dos protocolos o número de pacientes foi pequeno e foram usados
27
Para as radiações de alto LET, quando comparadas com as de baixo LET, o RBE
aumenta para as doses baixas e também para doses menores por fração. Isto deve-se
ao fato da curva de dose/resposta para as radiações de baixo LET, apresentar um
“ombro” (possibilidade de reparo) e as de baixo LET praticamente não apresentarem
(ausência de reparo). Portanto, nestas situações o RBE aumenta, indicando a maior
eficácia das radiações de alto LET em induzir a morte celular. O
efeito do oxigênio (OER) é cerca de 3 para radiações de baixo LET, diminui para LET
da ordem de 30Kev/μm, e é 1 para LET de cerca de 160Kev/μm.
Em resumo, as radiações de alto LET têm maior eficácia de morte celular e
efeito de oxigênio menor.
Os prótons são interessantes para a radioterapia devido à distribuição física da
dose e também por apresentarem propriedades biológicas semelhantes aos raios X,
(RBE semelhante ao do RX de 250 kV e OER de 2,5 a 3). O LET de entrada é cerca de
0,5keV/μm, aumentando para um valor teórico máximo de 100 keV/μm num curto
trajeto quando a partícula é freada.
CONCEITO DE TOLERÂNCIA
A importância em se preservar o tecido normal foi logo reconhecida na
radioterapia e diferentes esquemas de fracionamento, protração e de dose total,
geralmente referidos como relação tempo/dose, foram desenvolvidos. Com intenção
de correlacionar vários esquemas de tempo/dose com resultados clínicos, Strandqvist
realizou revisão de 280 casos de carcinoma de pele e lábio acompanhados por 5
anos. Colocou num gráfico duplo log a dose total e o tempo de tratamento e
desenvolveu uma série de linhas chamadas curvas do isoefeito. Estas linhas
relacionavam o esquema do tratamento com resultados clínicos incluindo a cura da
doença, ocorrência de complicações severas (necrose de pele), eritema e
descamação de pele. O autor observou que algumas relações de tempo/dose, apesar
de curar a doença, também produziram severas complicações tardias e outras não
resultaram em complicações tardias severas mas houve recorrência ou resistência do
29
Dessa forma, a dose de tolerância para o tecido normal diminui quando os esquemas
de tratamento usam doses maiores por fração.
HIPERFRACIONAMENTO
Consiste em administrar doses menores por fração do que no fracionamento
convencional e maior número de frações, sem alterar o tempo de duração do
tratamento. O objetivo é aumentar o ganho terapêutico entre o tumor e o tecido normal
de resposta lenta. A dose por fração geralmente varia entre 1,15 à 1,25Gy e o intervalo
entre as frações não deve ser menor do que 4h, para dar tempo de ocorrer o RLSL
(reparo da lesão subletal). Este esquema permite aumentar a dose final em 15 a 20%
sem elevar a quantidade de lesão no tecido normal de resposta lenta. É indicado onde o
tratamento convencional está limitado pela tolerância do tecido normal de resposta
lenta.
FRACIONAMENTO ACELERADO
Consiste em diminuir a duração do tempo total de tratamento usando a
mesma dose por fração do fracionamento convencional. O objetivo é minimizar o
crescimento do tumor durante o tratamento. Em alguns tumores, as células
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clonogênicas dobram o número rapidamente, e boa parte dos tumores tem potencial
para acelerar a taxa de crescimento após insulto terapêutico. Seria indicado para
tumores de crescimento rápido como linfoma de Burkitt e carcinoma inflamatório de
mama, por exemplo. Atualmente, alguns Serviços de Radioterapia têm usado o
conceito e a fórmula do tempo potencial de dobra do tumor (Tpot), como ensaio
preditivo, particularmente para selecionar pacientes com tumores de crescimento
rápido e que poderiam se beneficiar de esquemas de fracionamento acelerado.
Brevemente, o Tpot é o tempo de dobra de uma população celular com fração de
crescimento (“growth fraction” – GF) menor que 1 (GF < 1) e sem perda de células.
Em outras palavras, é a taxa de aumento de células numa população capaz de
proliferar continuamente. O Tpot pode ser estimado em tumores usando-se
citometria de fluxo. Tumores com Tpot curto (menor que 4 dias) podem repopular se
o fracionamento se extender.
O tratamento pode ser realizado 6 dias por semana ou 7 vezes em 5 dias, por
exemplo. O mais comum é fazer o tratamento convencional mais “boost”. Se o
tratamento for realizado em duas vezes por dia, o intervalo mínimo de 4h deve ser
respeitado. Uma estratégia consiste em fazer o “boost” próximo ao final do
tratamento. É que o tecido normal de resposta aguda regenera melhor próximo ao
final do tratamento e pode tolerar melhor a radiação do que no início do mesmo,
quando as células estão saindo do estado de homeostase.
HIPERFRACIONAMENTO ACELERADO
Consiste também em diminuir o tempo de duração do tratamento. O tecido
normal de resposta aguda apresenta maior toxicidade limitando assim o tratamento.
O efeito tardio é praticamente o mesmo que para o tratamento convencional. Um
exemplo de hiperfracionamento acelerado é administrar duas vezes por dia uma dose
por fração que esteja entre o limite superior do hiperfracionamento (1,25Gy) e o
limite inferior do fracionamento convencional, ou seja, menor que 1,8Gy. Portanto,
1,6Gy duas vezes por dia representa um esquema de hiperfracionamento acelerado.
33
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Legenda:
Survival = sobrevida
Densely ionizing (neutrons or α-rays) = ionização densa (nêutrons ou radiação α)
Sparsely ionizing x-rays = ionização esparsa (raios X)
45
Legenda:
Linear – Quadratic Relation = Relação linear quadrática
Effect = Efeito
Quadratic = Quadrática
46
Legenda:
Survival = sobrevida
Densely ionizing (neutrons or α-rays) = ionização densa (nêutrons ou radiação α)
Sparsely ionizing x-rays = ionização esparsa (raios X)
47
Legenda:
Surviving Fraction = Fração sobrevida
Cell Survival Curve for Single Doses = Curva de sobrevida para doses únicas
Effective Survival Curve for a Multi-Fraction Regimen = Curva de sobrevida efetiva para
esquemas de multifracionamento
Effective = Eficaz
48