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Intervenções em Problemas dos Olhos 6

Catarata

1 – INTRODUÇÃO

A elaboração deste trabalho surge no âmbito do Ensino Clínico VIII, de


Enfermagem Médico-Cirúrgica, integrado no 4º ano 7º semestre, no curso de
Licenciatura em Enfermagem, tendo como tema de trabalho: Intervenções em
Problemas dos Olhos – Cataratas.
O tema surgiu pelo facto da patologia mais frequente a nível do serviço de
Oftalmologia ser as Cataratas, embora a área de Oftalmologia não ser o objectivo
principal deste ensino clínico, como maioritariamente dos doentes do serviço de
Oftalmologia/Gastrenterologia são do foro oftálmico (cataratas), assim desenvolver-
se-á este trabalho.
Tendo em conta o tema proposto, traçámos os seguintes objectivos:
Æ Conhecer a anatomia e fisiologia do olho humano;
Æ Definir a Catarata e a sua etiologia;
Æ Desenvolver a fisiopatologia da Catarata;
Æ Enunciar os exames de diagnóstico para identificação da Catarata;
Æ Descrever os métodos de tratamento, principalmente o tratamento
cirúrgico;
Æ Enumerar os cuidados de enfermagem no pré e pós-operatório da
cirurgia à Catarata.

O presente trabalho está estruturado numa única parte. Esta é composta por
dois capítulos teóricos, realizada a partir da consulta e análise bibliográfica.
Num primeiro capítulo abordarei a anatomia e fisiologia do olho humano. Num
segundo capítulo abordarei uma das patologias do olho – a Catarata, tendo em
conta a sua etiologia, fisiopatologia, exames de diagnóstico, tratamento e
intervenções de enfermagem no pré e pós-operatório da cirurgia de remoção da
Catarata.
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Assim, com a realização deste trabalho espero contribuir para a aquisição de


novos conhecimentos e consolidação dos já existentes, permitindo uma melhor
prática de cuidados de enfermagem.
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2 – ANATOMIA E FISIOLOGIA DO OLHO

A visão é a nossa principal orientação no mundo. Tudo o que dele


conhecemos, é adquirido através da visão (PHIPPS, SANDS e MAREK, 2003).
Para poder intervir sobre este órgão do sentido, é necessário em primeiro
lugar reconhecer a sua estrutura anatómica e fisiológica, para melhor compreensão
de qualquer patologia associada.

2.1 – CAMADA DO OLHO

O globo ocular tem três revestimentos, ou camadas, principais (FIGURA 1).

FIGURA 1 – Secção horizontal do olho esquerdo

Fonte: PHIPPS, Wilma J.; SANDS, Judith K.; MAREK, Jane F., - Enfermagem
Médico-Cirúrgica: Conceitos e Prática Clínica. 6ª ed. Loures : Lusociência,
cop.2003.4ºvol..ISBN 972-8383-65-7 p.2058.
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A camada espessa, exterior, consiste na esclerótica opaca (branca) e na


córnea transparente. Estas estruturas unem-se no sulco cornoescleral ou limbo. A
camada vascular intermédia, ou úvea, é composta por três partes: coróide, corpo
ciliar e íris, a qual contém uma abertura, no centro, a que se dá o nome de pupila.
A retina, que é a terceira camada, e a mais interior, do olho, compõe-se por
duas partes: uma parte sensitiva e uma camada de epitélio pigmentado. A parte
sensitiva contém os fotorreceptores (bastonetes e cones). Estes fotorreceptores
fazem sinapses, na retina, com os neurónios bipolares e, depois, com os neurónios
ganglionares, tornando-se estes nas fibras do nervo óptico que transmitem
informação visual ao cérebro.
Os cones, que são em menor número que os bastonetes, estão concentrados,
sobretudo, junto do centro da retina, numa zona designada por mácula (FIGURA 2).

FIGURA 2 – Vista de corte do olho

Fonte: PHIPPS, Wilma J.; SANDS, Judith K.; MAREK, Jane F., - Enfermagem
Médico-Cirúrgica: Conceitos e Prática Clínica. 6ª ed. Loures : Lusociência,
cop.2003.4ºvol..ISBN 972-8383-65-7 p.2058.

São considerados os receptores da visão diurna e da visão cromática, e


permitem-nos ver as imagens nítidas. Os bastonetes, se encontram sobretudo na
periferia da retina, são os receptores da visão sombria ou nocturna. Os bastonetes
contêm rodopsina, uma proteína fotossensível que é rapidamente esgotada pela luz.
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A regeneração lenta da rodopsina, que depende da presença de vitamina A, justifica


o tempo necessário para adaptação de uma luz clara a uma luz sombria (PHIPPS,
SANDS e MAREK, 2003).

2.2 – CÂMARAS DO OLHO

O interior do globo ocular está dividido em dois compartimentos (anterior e


posterior). O compartimento anterior compreende o espaço entre a parte posterior
da córnea e o cristalino, e o compartimento posterior consiste no espaço entre a
superfície posterior do cristalino e a retina.
O compartimento anterior está por sua vez subdividido numa câmara anterior
(entre a córnea e a íris) e uma câmara posterior (entre a íris e o cristalino). Este
compartimento contém um líquido límpido designado por humor aquoso, cuja função
consiste em fornecer nutrientes e envolver o cristalino e a córnea. O humor aquoso,
que é produzido pelo corpo ciliar na câmara posterior, passa para a câmara anterior
através da pupila e sai do olho através das estruturas de filtragem, na junção da íris
com a córnea (ângulo da câmara anterior). As estruturas de filtragem são compostas
pela rede trabecular e por um canal tubular envolvente, para o qual drena o humor
aquoso (canal de Schlemm).
O canal de Schlemm tem vários canais de saída que drenam para as veias
esclerais e episclerais. O humor aquoso passa por estes canais de saída, acabando
por ser absorvido pela circulação geral (FIGURA 3).

FIGURA 3 – Circulação do Humor Aquoso

Fonte: PHIPPS, Wilma J.; SANDS, Judith K.; MAREK, Jane F., - Enfermagem
Médico-Cirúrgica: Conceitos e Prática Clínica. 6ª ed. Loures : Lusociência,
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O compartimento posterior é o maior dos dois e contém uma substância


transparente gelatinosa, a que se dá o nome de humor vítreo. A estrutura do humor
vítreo pode ser descrita como fibras finas de colagénio, que se cruzam entre si para
formar a armação que ajuda a manter a forma do globo ocular. Esta rede fibrosa
torna-se mais densa na porção mais exterior do vítreo, especialmente nas zonas de
forte ligação entre o vítreo e a retina. Estas ligações verificam-se no bordo anterior
da retina, na pupila, no equador do olho e na mácula. O humor vítreo é límpido,
permitindo assim a transmissão de luz à parte posterior da retina (PHIPPS, SANDS
e MAREK, 2003).

2.3 – CRISTALINO

O cristalino é uma estrutura biconvexa, transparente, situada imediatamente


atrás da íris e da pupila. Está ligado ao corpo ciliar por múltiplos ligamentos
suspensores designados por zónulas. O cristalino, que é o mecanismo de focagem
de precisão do olho, permite que a imagem focada na retina seja nítida (PHIPPS,
SANDS e MAREK, 2003).

2.4 – MÚSCULOS OCULARES

São dois tipos de músculos oculares: extrínsecos e intrínsecos. Os seis


músculos extra-oculares são músculos voluntários extrínsecos que controlam os
movimentos extra-oculares de cada olho (TABELA 1 e FIGURA 4).
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FIGURA 4 – Músculos Extra-Oculares

Fonte: PHIPPS, Wilma J.; SANDS, Judith K.; MAREK, Jane F., - Enfermagem
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cop.2003.4ºvol..ISBN 972-8383-65-7 p.2059.

Os músculos recto externo e recto interno controlam, respectivamente, a


abdução e a adução com os outros quatro. Os músculos rectos movimentam o olho
para cima e para baixo e no sentido do nariz, ao passo que os músculos oblíquos,
também, controlam o movimento de elevação e depressão mais o movimento no
sentido do ouvido. As acções simultâneas dos músculos de cada olho são
combinadas pelo cérebro. Os músculos involuntários intrínsecos, dentro do olho, são
os músculos ciliares (no corpo ciliar), que controlam a forma do cristalino, e os
músculos esfincteriano e dilatador da pupila, na íris, que controlam a dimensão da
pupila e, consequentemente, a quantidade de luz que entra no olho (PHIPPS,
SANDS e MAREK, 2003).
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TABELA 1 – Músculos Extra-Oculares

NOME FUNÇÃO
Recto superior Faz rodar o olho para cima e na direcção do nariz
Recto inferior Faz rodar o olho para baixo e na direcção do nariz
Recto externo Movimenta o olho no sentido da região temporal
Recto interno Movimenta o olho no sentido do nariz
Pequeno
Faz rodar o olho para cima e na direcção da região temporal
oblíquo
Grande oblíquo Faz rodar o olho para baixo e na direcção da região temporal

Fonte: PHIPPS, Wilma J.; SANDS, Judith K.; MAREK, Jane F., - Enfermagem
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2.5 – PÁLPEBRAS CONJUNTIVAS

As pálpebras são constituídas por camadas finas de pele, músculo, tecido


fibroso e membrana mucosa. A sua principal finalidade consiste em proteger o olho
de irritação exterior, de distribuir as lágrimas na região interior do olho, interromper e
limitar a quantidade de luz que entra no olho. A conjuntiva, a membrana mucosa que
reveste a pálpebra (conjuntiva palpebral) e que se extende pela esclerótica interior, é
especialmente importante. Esta membrana e os seus vasos sanguíneos fornecem
nutrientes, anticorpos e leucócitos à córnea avascular. A conjuntiva e as glândulas,
dentro da pálpebra, segregam muco e gordura, o que ajuda a manter a córnea
húmida e limpa e diminui o atrito aquando do encerramento das pálpebras (PHIPPS,
SANDS e MAREK, 2003).

2.6 – SISTEMA LACRIMAL

O sistema lacrimal é constituída pela glândula lacrimal e por um sistema de


drenagem de lágrimas (FIGURA 5).
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FIGURA 5 – Sistema Lacrimal

Fonte: PHIPPS, Wilma J.; SANDS, Judith K.; MAREK, Jane F., - Enfermagem
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A glândula lacrimal produz as lágrimas que circulam pelo olho e entram no


sistema de drenagem pelo lado nasal. De cada vez que a pálpebra pestaneja, as
lágrimas são bombeadas pela acção do pestanejo e circulam por toda a superfície
ocular. As lágrimas correm por pequenos orifícios, nas pálpebras (pontos lacrimais)
e canais (canalículos) para o saco lacrimal. Daqui drenam para o ducto nasolacrimal
através da abertura do meato inferior da cavidade nasal. As lágrimas mantêm a
superfície ocular e a conjuntiva humedecidas e lubrificadas. Também contêm uma
enzima que funciona como agente antibacteriano (PHIPPS, SANDS e MAREK,
2003).

2.7 – ÓRBITA

O olho encontra-se dentro dos limites da órbita óssea. Esta órbita é uma
cavidade de forma cónica, formada pela união dos ossos cranianos e faciais. O
globo ocular ocupa apenas cerca de um quinto do espaço da órbita. O restante é
ocupado pela glândula lacrimal, músculos, vasos sanguíneos, nervos e tecido
adiposo. Este serve de almofada de protecção do olho. O nervo óptico sai da órbita
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na parte posterior, transmitindo ao cérebro a informação visual do olho (PHIPPS,


SANDS e MAREK, 2003).

2.8 – FISIOLOGIA DA VISÃO

Os raios de luz que entram no olho desviam-se (refracção) quando façam


pelas superfícies curvas da córnea e através de várias estruturas (mais posteriores)
do olho (humor aquoso, cristalino e humor vítreo), centrando-se na retina. A córnea
proporciona a maior alteração de refracção da luz que entra no olho, proporcionando
o cristalino a focagem da precisão da luz transmitida, posteriormente, à retina.
O olho consegue adaptar-se (acomodação) à visão e objectos a distâncias
várias, achatamento ou espessamento do cristalino. A visão para perto requer
contracção dos músculos ciliares, no corpo ciliar. Esta contracção permite ao
músculo ciliar avançar, relaxando as zónulas ligadas ao cristalino. Este último
aumenta a sua convexidade para desviar os raios de luz com maior precisão, de
modo que os raios se foquem na retina. A acomodação também é facilitada pela
alteração da dimensão da pupila. Na visão para perto, a íris contrai a pupila para
forçar os raios de luz a passar pelo cristalino, mais pequeno, mas mais espesso. As
pupilas também se contraem com a luz, para proteger a retina de estimulação
intensa.
Os raios de luz são absorvidos pelos fotorreceptores na retina, são
transformados em actividade eléctrica e transmitidos, por intermédio do nervo óptico,
às zonas do córtex visual do cérebro, para processamento. As fibras do nervo óptico
(IIº par craniano) dividem-se no quiasma óptico; a parte média de cada nervo
atravessa para o lado contrário, sendo os impulsos então transmitidos ao córtex
visual. Deste modo, a informação visual recebida por cada olho é transmitida
simultaneamente a ambos os lados do cérebro. A visão bilateral proporciona
percepção de profundidade (PHIPPS, SANDS e MAREK, 2003).
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2.9 – ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS COM O ENVELHECIMENTO

O envelhecimento afecta muitos aspectos da função visual, tanto a nível


fisiológico como anatómico. A diminuição da flexibilidade e da elasticidade do
cristalino leva a um dos primeiros sinais de envelhecimento – menor capacidade de
o olho focar (acomodar-se) para trabalho de perto e minucioso (presbiopia).
Com o processo de envelhecimento, a visão de cor da pessoa idosa diminui,
contribuindo para a alteração da percepção de profundidade. Isto causa maiores
dificuldades em distinguir as cores na extremidade azul do espectro; no entanto, as
cores quentes são mais fáceis de diferenciar. Uma pupila pequena (meiose senil)
aumenta esta distorção de cor. Afecta igualmente a quantidade de luz que chega à
retina periférica e a capacidade da pessoa de se adaptar à luz sombria e à
escuridão. Dai que o idoso tenha visão nocturna diminuída. As pessoas com mais de
60 anos necessitam de quase duas vezes mais de luz para ver do que aos vinte
anos.
Esta necessidade acrescida de luz para trabalho de perto, também, pode criar
problemas de ofuscação. Esta é como que um véu de luminância que se sobrepõe à
imagem retiniana, mascarando e reduzindo o brilho dos objectos no campo visual. A
ofuscação está relacionada com maior dispersão de luz no olho, causado por
alterações na córnea, na esclerótica, no cristalino e no vítreo.
O campo visual também começa a diminuir com a idade, afectando a
extensão da visão. Não se sabe ao certo se esta diminuição é causada por
alterações da retina, diminuição da dimensão da pupila ou perda de transparência
do cristalino.
A diminuição de transparência do cristalino, a qual começa na quinta década
da vida, não está completamente percebida. A compressão das fibras do cristalino, o
amarelecimento deste último e a eficácia da circulação do humor aquoso, todos
podem ter alguma influência no aumento da opacidade do cristalino, levando à
formação de catarata.
A produção de humor aquoso cai drasticamente na sexta década da vida. Isto
vai compensar a drenagem reduzida e pouca profundidade da câmara anterior, e
permite ao olho manter uma pressão intra-ocular relativamente estável.
A quantidade e a qualidade das lágrimas também diminuem com a idade,
alem de que as lágrimas tende a evaporar-se mais rapidamente. Os olhos passam a
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ter um aspecto apagado, verificando-se uma sensação de aperto, aspereza ou


secura. Também a drenagem das lágrimas é menos eficaz, o que poderá criar um
bloqueio no sistema. Uma das alterações oculares mais comuns, inerentes ao
envelhecimento, é o arco senil. Este aro acinzentado, envolta da periferia da córnea
é consequência de depósitos de gordura. Outra alteração importante na córnea é a
sua mudança de forma. Ela tende a achatar, tendo como resultado uma curvatura
irregular na sua superfície. A luz que entra no olho tem tendência a ser refractada a
vários ângulos, o que leva a uma imagem distorcida e desfocada (astigmatismo)
(PHIPPS, SANDS e MAREK, 2003).
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3 – CATARATA

A catarata é uma causa comum de má visão, especialmente entre os mais


idosos, porém é tratável (SILVA, 2007).
Neste capítulo irei expor a sua etiologia, fisiopatologia, diagnóstico, formas de
tratamento, bem como os cuidados de enfermagem a doente submetido a cirurgia
para a remoção de Catarata.

3.1 – ETIOLOGIA

A catarata é a diminuição da transparência, ou opacidade, do cristalino, que


conduz a enevoamento indolor progressivo da visão, acabando em perda de visão
(PHIPPS, SANDS e MAREK, 2003) (FIGURA 6).

FIGURA 6 – Olho evidenciando Catarata

Fonte: Centro de Oftalmologia

Segundo o doutor Rufino Silva (2007) pode ser comparada a uma janela que
é coberta de geada ou embaciada com vapor.
Nas figuras seguintes pode-se comparar o aspecto do cristalino num olho
normal, com catarata pequena e com catarata mais desenvolvida (FIGURA 7, 8 e 9).
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FIGURA 7– Olho normal

Fonte: Médicos de Portugal, 2005

FIGURA 8 – Olho com Catarata pequena

Fonte: Médicos de Portugal, 2005

FIGURA 9 – Olho com Catarata mais desenvolvida (cristalino mais opaco)

Fonte: Médicos de Portugal, 2005


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Catarata

A causa mais comum da catarata está relacionada com o envelhecimento do


olho. Existem contudo, outras causas, tais como, diabetes, traumatismo, tóxicas,
hereditária, etc.

Por esta razão é possível classificar a catarata em 4 tipos:

 Catarata Senil - relacionada com o processo de envelhecimento natural.


Raramente surge antes dos 60 anos.
 Catarata Congénita - São hereditárias ou surgem devido a algumas
infecções que a mãe teve durante a gravidez (Rubéola, etc.).
 Catarata Traumática - Provocadas por traumatismo ocular. A transparência
do cristalino pode ser destruída por ferida perfurante ou contusão. A catarata
pode resultar de ingestão de substâncias nocivas, como dinitrofenol ou
naftaleno
 Catarata Secundária - É uma catarata que surge como consequência duma
patologia prévia ocular - uveite, glaucoma, alta miopia, corticoterapia local; ou
extra ocular - diabetes, doenças imunológicas, doença endócrina, terapêutica
crónica sistémica, etc. (PHIPPS, SANDS e MAREK, 2003).

Os principais factores de risco da Catarata são descritos na tabela 2.


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TABELA 2 – Factores de Risco da Catarata

FACTORES DE RISCO

Idade: a incidência aumenta drasticamente após os 65 anos

Sexo: as cataratas são ligeiramente mais comuns na mulher


Exposição a luz ultravioleta:
 Mais comum em pessoas que vivem em climas quentes e soalheiros;
 Mais comum em pessoas com actividade maioritariamente ao ar livre
Elevada dose de exposição a radiações
Efeitos medicamentosos: uso de corticosteróides, fenotiazinas e certos agentes
quimioterapêuticos
Diabetes Mellitus mal controlada: acumulação de sorbitol (subproduto da glucose)

Traumatismo Ocular

Fonte: PHIPPS, Wilma J.; SANDS, Judith K.; MAREK, Jane F., - Enfermagem
Médico-Cirúrgica: Conceitos e Prática Clínica. 6ª ed. Loures : Lusociência,
cop.2003.4ºvol..ISBN 972-8383-65-7 p.2087.

3.2 – FISIOPATOLOGIA

A catarata senil resulta de diminuição de proteínas, acumulação de água e


aumento do teor de sódio, que desintegram as fibras normais do cristalino.
Desconhecem-se as causas destas alterações patológicas. As cataratas geralmente
desenvolvem-se bilateralmente, mas a ritmos diferentes.
O primeiro sintoma da catarata é a perda gradual da visão (FIGURA 10). O
grau da perda depende da localização e extensão da opacidade.
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FIGURA 10– Visão enevoada com Catarata

A B
A- visão normal
B- visão enevoada devido a Catarata

Fonte: Médicos de Portugal, 2005

As pessoas com opacidade na parte central do cristalino, geralmente,


conseguem ver melhor na penumbra, altura em que a pupila está dilatada. A pessoa
com presbiopia pode conseguir ler sem óculos, na fase inicial da formação da
catarata, porquanto a maior convexidade do cristalino cria uma miopia artificial.
As manifestações clínicas da catarata encontram-se descritas na TABELA 3.

TABELA 3 – Manifestações Clínicas da Catarata

MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

Visão gradualmente enevoada, indolor e perda de visão


 A visão periférica pode ficar afectada primeiro;
 A visão para perto, inicialmente, pode melhorar;
Ofuscação: à noite e com muita luminosidade
Halos em volta das luzes
Perda da capacidade de distinguir cores
Opacidade turva, esbranquiçada, da pupila

Fonte: PHIPPS, Wilma J.; SANDS, Judith K.; MAREK, Jane F., - Enfermagem
Médico-Cirúrgica: Conceitos e Prática Clínica. 6ª ed. Loures : Lusociência,
cop.2003.4ºvol..ISBN 972-8383-65-7 p.2087.
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Segundo doutor Rufino Silva (2007) a rapidez da evolução da catarata varia


entre as pessoas e pode até mesmo variar entre os dois olhos. A maior parte das
cataratas associadas com o envelhecimento progride gradualmente durante vários
anos. Outras cataratas, particularmente em pessoas mais jovens e as portadoras de
diabetes, podem avançar rapidamente no espaço de alguns meses, levando a uma
deterioração da visão. Não é possível fazer uma previsão exacta do tempo do
desenvolvimento das cataratas em determinado indivíduo.

3.3 – EXAMES DE DIAGNÓSTICO

Não existem exames de diagnóstico especificamente para as cataratas. O


diagnóstico é feito por observação directa do cristalino, mercê de oftalmoscópio,
após dilatação da pupila. A evolução da catarata é vigiada ao longo do tempo. Antes
da cirurgia, podem fazer-se ecografia, pelo método A ou B, queratometria, contagem
de células endoteliais e testes de medição da acuidade potencial. O método A
permite medir o comprimento do olho, bem como calcular a potência da lente intra-
ocular (LIO) que será necessária. A querotometria mede a curvatura da córnea e
também é usada para determinar a potência da LIO. O método B pode ser usado
para avaliar a saúde da retina, se a densidade da catarata não permitir a
visualização ao oftalmoscópio. A contagem das células endoteliais avalia a saúde da
córnea e a capacidade desta de suportar a cirurgia. O teste de medição da acuidade
potencial permite ao cirurgião certificar-se de que a cirurgia à catarata irá aumentar a
acuidade visual do doente (PHIPPS, SANDS e MAREK, 2003).

3.4 – TRATAMENTO

A Catarata é uma patologia que afecta o campo visual normal do indivíduo,


pelo que é necessário um tratamento eficaz e segura que restabeleça a acuidade
visual normal.
Neste ponto irei expor os diferentes modos de tratamento: médico e cirúrgico.
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3.4.1 – Tratamento médico

A medicação não desempenha qualquer papel no tratamento da catarata.


Anestésicos, anti-inflamatórios e antibióticos, todos são usados após cirurgia, para
facilitar o processo de cicatrização e promover o conforto do doente. (PHIPPS,
SANDS e MAREK, 2003)

3.4.2 – Tratamento cirúrgico

A cirurgia é tratamento de eleição das cataratas, podendo ser usada em


praticamente todos os doentes. A cirurgia é o tratamento definitivo das cataratas,
podendo ser usado, com segurança e eficácia, em idosos de idade avançada. A taxa
de êxito situa-se entre os 90% e 95%. Antigamente, considerava-se que a catarata
tinha de “amadurecer” para ser retirada com êxito. Actualmente a sua remoção faz-
se quando a diminuição da visão interfere nas actividades da vida diária do
indivíduo. A saúde geral da pessoa é a variável mais importante. (PHIPPS, SANDS
e MAREK, 2003)
Segundo o Centro de Oftalmologia do Algarve actualmente a cirurgia da
catarata é eficaz e eficiente em cerca de 98% dos doentes. Esta cirurgia não
necessita de anestesia geral, salvo em situações muito particulares, podendo ser
feita sem internamento e com anestesia local. O tempo de cirurgia é pequeno
variando entre 20 e 30 minutos.

O método de remoção das cataratas mais usado é a extracção


extracapsular. Neste procedimento, apenas a parte anterior da cápsula são
retirados, utilizando-se técnicas, como irrigação e aspiração, ou facoemulsificação
(vibração ultra-sónica para partir o cristalino) (PHIPPS, SANDS e MAREK, 2003).
A Facoemulsificação consiste numa incisão muito pequena (2,8 - 3 mm),
que facilita a cicatrização e diminui a inflamação pós-operatória.
Através dessa incisão aspira-se a opacificação (Cortex e Núcleo) da catarata
(FIGURA 11) e substituímo-la por uma lente (FIGURA 12).
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Catarata

FIGURA 11 - Aspiração do córtex da Catarata

Fonte: Centro de Oftalmologia do Algarve

FIGURA 12 – Colocação da lente

Fonte: Centro de Oftalmologia do Algarve

Para esta técnica ter a máxima eficácia, sem complicações é aconselhável


que a catarata não esteja muito dura (ou seja, não esteja muito evoluída), pelo que
se deve atrasar muito a decisão operatória.

A extracção extracapsular deixa a cápsula posterior do cristalino intacta, o


que evita separação do humor vítreo e facilita a colocação do implante de lente
(FIGURA 13).
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FIGURA 13 – Extracção de catarata extracapsular, ficando a cápsula posterior


do cristalino intacta

Fonte: PHIPPS, Wilma J.; SANDS, Judith K.; MAREK, Jane F., - Enfermagem
Médico-Cirúrgica: Conceitos e Prática Clínica. 6ª ed. Loures : Lusociência,
cop.2003.4ºvol..ISBN 972-8383-65-7 p.2088.

A remoção de cataratas também pode ser feita por extracção intracapsular, o


que implica a remoção de todo o cristalino e da sua cápsula circundante, utilizando-
se sonda de congelação que adere à superfície do cristalino (FIGURA 14). Esta
técnica foi em tempos popular, mas já raramente é usada.

FIGURA 14 – Extracção de catarata intracapsular com remoção total do


cristalino e da cápsula

Fonte: PHIPPS, Wilma J.; SANDS, Judith K.; MAREK, Jane F., - Enfermagem
Médico-Cirúrgica: Conceitos e Prática Clínica. 6ª ed. Loures : Lusociência,
cop.2003.4ºvol..ISBN 972-8383-65-7 p.2088.
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O implante de lente intra-ocular (IIO) é o método preferido para repor a


potência de focagem do cristalino. Coloca-se uma lente da câmara posterior, de
polimetilmetacrilato, atrás da íris, no momento da cirurgia, que é suportada pela
parte posterior da cápsula do cristalino que foi deixado. Este tipo de implante não
está condicionado à íris ou à pupila par apoio, e raramente sai da sua posição. É o
tipo de implante de lente mais usado por se considerar ser a posição de lente que
mais se aproxima do cristalino natural, pelo que a ampliação é mínima.
Se durante a cirurgia, não for introduzida lente intra-ocular, a pessoa tem que
usar uma lente externa (PHIPPS, SANDS e MAREK, 2003)..

3.5 – INTERVENÇÕES DE ENFERMAGEM JUNTO DA PESSOA SUBMETIDA A


CIRURGIA

A cirurgia à catarata carece de cuidados de enfermagem no pré e pós-


operatório, adquirindo especial relevância a orientação do doente para as medidas a
adoptar no pós-operatório, para o completo restabelecimento, sem incidentes.

3.5.1 – Cuidados Pré-Operatórios

Os principais cuidados de enfermagem no pré-operatório consistem em


dilatação e curarização da pupila do olho a operar, após o que tem início a sedação.
Além disso, o enfermeiro deve certificar-se de que o doente de que o doente
percebeu todas as explicações dadas sobre a cirurgia, restrições e cuidados no pós-
operatório. (PHIPPS, SANDS e MAREK, 2003).

3.5.2 – Cuidados Pós-Operatórios

A maioria dos doentes recebe alta em pouco tempo. Devido aos avanços
continuados na técnica cirúrgica, o doente não tem de restringir as suas actividades
de forma substantiva, sendo incentivado a retomar as actividades de vida normais
de autocuidado logo que se sinta capaz para tal.
Intervenções em Problemas dos Olhos 28
Catarata

3.5.2.1 – Ensino ao Doente/Família

O doente deve ser ensinado a ter cuidado na lavagem da cara ou cabelo,


para evitar que entre água e sabão no olho operado.
Outro aspecto importante passa por instruir o doente no sentido de evitar
levantar pesos, fazer exercícios vigorosos, exercícios isométricos ou esforço durante
a dejecção, a fim de evitar flutuações na PIO.
A maioria dos doentes recebe medicação pós-operatória para alívio da
inflamação e promoção da cicatrização. Podem ser utilizados anti-inflamatórios,
antibióticos, analgésicos, cicloplégicos e midriáticos. A dilatação da pupila alivia o
desconforto e impede que íris cole ao implante de lente. A dilatação da pupila requer
uso de óculos de sol, uma vez que o olho não está em condições de responder
naturalmente à luz. Podem administrar-se -bloqueantes ou inibidores da anidrase
carbónica para reduzir a formação de humor aquoso e prevenir o aumento da PIO
no pós-operatório.
O enfermeiro deve certificar de que o doente e o prestador de cuidados
compreendem a finalidade de toda a medicação prescrita e que sabem administrá-la
correctamente. É comum prescrever-se gotas oftálmicas. Se forem receitadas várias
soluções ou pomadas, tópicas, o enfermeiro lembra o doente de que deve aguardar
2 a 5 minutos entre cada gota e que a pomada é aplicada em último lugar.
O enfermeiro revê as precauções de segurança e lembra ao doente que a
percepção de profundidade, inicialmente fica comprometida após a cirurgia, pelo que
o risco de lesão é maior. Há que ter cuidado especial em escadas, e a condução
está proibida até indicação do médico em contrário (TABELA 4) (PHIPPS, SANDS e
MAREK, 2003).
.
Intervenções em Problemas dos Olhos 29
Catarata

TABELA 4 – Normas de Cuidados à pessoa após cirurgia às Cataratas

NORMAS DE CUIDADOS
PESSOA APÓS CIRURGIA ÀS CATARATAS
1. Colocar o doente em decúbito dorsal ou sobre o lado não-operado para evitar
pressão no olho operado;
2. Manter as grades da cama levantadas, conforme seja necessário, para
protecção;
3. Colocar a mesa-de-cabeceira do lado não-operado (para que o doente se
volte para esse lado);
4. Colocar a campainha à mão;
5. Insistir em evitar actividades que aumentem a PIO (por exemplo, espirrar,
tossir, vomitar, fazer força na dejecção ou dobrar-se, abruptamente, levando a
cabeça abaixo da cintura).
Fonte: PHIPPS, Wilma J.; SANDS, Judith K.; MAREK, Jane F., - Enfermagem
Médico-Cirúrgica: Conceitos e Prática Clínica. 6ª ed. Loures : Lusociência,
cop.2003.4ºvol..ISBN 972-8383-65-7 p.2090.

3.6 – COMPLICAÇÔES

As principais complicações da cirurgia às Cataratas são: infecção, hemorragia


e PIO elevada.
O doente deve ser orientado de modo a comunicar de imediato sempre que
surjam secreções, epífora, hemorragia ou diminuição da acuidade visual. É de
esperar irritação e desconforto após a cirurgia, mas a dor aguda é sinal de
complicação, pelo que deve ser de imediato comunicado. A ocorrência de dor
intensa significa que houve rotura na posição da íris, provocando aumento da PIO.
Isto pode necessitar de correcção cirúrgica para preservar a visão do doente
(PHIPPS, SANDS e MAREK, 2003).
Intervenções em Problemas dos Olhos 30
Catarata

4 – CONCLUSÃO

A busca incessante do conhecimento, traduz-se numa constante aquisição de


saber e numa evolutiva controvérsia do saber já adquirido, comparando com a
evolução do dia-a-dia de todo o raciocínio lógico de tudo o que se aprendeu.
Após a realização deste trabalho, posso tirar algumas ilações, das quais
destaco as seguintes:
Æ A Catarata é uma opacidade do cristalino, que ocorre mais frequentemente
em consequência do processo de envelhecimento;
Æ As Cataratas podem ser retiradas cirurgicamente, com êxito, em que os
implantes de lente intra-ocular restabelecem a visão.

Finalizo este trabalho com a ideia de que contribuirá para a melhoria na


prestação de cuidados de enfermagem aos tantos doentes que integram o serviço
de Oftalmologia/Gastrenterologia para intervenção cirúrgica de remoção de
Catarata.
Intervenções em Problemas dos Olhos 31
Catarata

BIBLIOGRAFIA

 Cirurgia da Catarata [em linha].[citado em 20 de Novembro de 2007].


Disponível em <URL: http://www.centrodeoftalmologia.com/cirurgia.htm>

 Guia de orientação para a alta [em linha]. Portal da Saúde, 24 de Novembro


de 2005 [citado em 20 de Novembro de 2007]. Disponível em <URL:
http://www.portaldasaude.pt/portal/conteudos/informacoes+uteis/oftalmologia/
guiaorientacaoalta.htm>

 PHIPPS, Wilma J.; SANDS, Judith K.; MAREK, Jane F., - Enfermagem
médico cirúrgica: conceitos e prática clínica. 6ª ed. Loures : Lusociência,
cop.2003.4ºvol..ISBN 972-8383-65-7 p.2057-2061; 2086-2091.

 Saiba o que é uma catarata, as suas causas e os seus sintomas [em linha].
Revisto em 29 de Novembro de 2005. [citado em 20 de Novembro de 2007].
Disponívelem<URL:http://www.portaldasaude.pt/portal/conteudos/enciclopedi
a+da+saude/doencas/doencas+oftalmologicas/catarata.htm >

 SILVA, Rufino. Catarata [em linha]. Revisto em 25 de Janeiro de 2007


[citado em 20 de Novembro de 2007]. Disponível em
<URL:http://www.medicosdeportugal.iol.pt/action/2/cnt_id/241/>

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