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Acórdãos TRP Acórdão do Tribunal da Relação do Porto

Processo: 0435156
Nº Convencional: JTRP00037328
Relator: JOSÉ FERRAZ
Descritores: EXECUÇÃO
EMPRÉSTIMO BANCÁRIO
TÍTULO EXECUTIVO
Nº do Documento: RP200411040435156
Data do Acordão: 11/04/2004
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S
Privacidade: 1
Meio Processual: APELAÇÃO.
Decisão: ALTERADA A SENTENÇA.
Área Temática: .
Sumário: Um contrato em que uma entidade bancária concede a alguém um empréstimo, sob a forma de abertura de crédito
assinado pelo devedor, alegando aquela entidade que este não pagou uma prestação vencida e todas as que lhe seguiram
pode servir de título executivo em execução a instaurar contra o devedor.
Reclamações:
Decisão Texto Integral: Acordam em conferência no Tribunal da Relação do Porto

Por apenso à execução ordinária nº .../2002, instaurada pelo Banco X.............., SA, no Tribunal Judicial da comarca de ............., contra
B............ e mulher C............. e contra D............., S.A., veio esta última deduzir embargos de executado alegando que não existe título
executivo para sustentar o pedido executivo e há contradição entre esse pedido e a causa de pedir, o que determina a nulidade de todo o
processo, concluindo a pedir a sua absolvição do pedido executivo.

A exequente contestou os embargos, alegando que não ocorrem as contradições invocadas pela embargante nem há falta de título,
pedindo a improcedência dos embargos.

Foi proferido despacho saneador, em que, entendendo-se não existir a alegada contradição entre o pedido e a causa de pedir, nem falta ou
insuficiência do título executivo, e a dívida líquida e exigível, julgou os embargos improcedentes.
É dessa decisão que a embargante traz o presente recurso de apelação, concluindo as suas alegações da seguinte forma:
A - Dos autos, resultou que o documento número 1, junto com o requerimento executivo não é título executivo.
B - A acção executiva depende de dois pressuposto: um pressuposto formal, constituído pelo título executivo (artigo 45º do C.P.C.) e um
pressuposto material, constituído por uma obrigação certa e exigível (artº 802º do C.P.C.).
C - O título executivo é o meio legal de demonstração da existência do direito do exequente ou que estabelece, de forma ilidível, a
existência desse direito – cujo lastro corpóreo ou material é um documento, que constitui, certifica ou prova um obrigação exequível, que
a lei permite que sirva de base à execução, o que não acontece no caso vertente.
D - No caso vertente há uma clara e inequívoca contradição entre ambos os pressupostos formais e materiais tal como constam no
requerimento executivo e documento 1, junto com este.
E - A Meritíssima juiz interpretou incorrectamente as normas dos arts. 45º, 46º, 193, 449º, 802º, 805º, 811º-A,

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F - pelo que a decisão gora recorrida deve ser revogada, e substituída por outra que proteja a recorrente, considerando procedentes os
embargos.
Termina dever ser dado provimento ao recurso, revogando-se o despacho recorrido, no sentido da procedência dos embargos.

Nas suas contra-alegações, o embargado defende que deve ser negado provimento ao recurso, mantendo-se a decisão recorrida.

II. Delimitando-se o objecto do recurso pelas conclusões formuladas pela recorrente (arts. 684º, nº 3 e 4, e 690º, nº 1, do C.P.C), emergem
como questões a resolver neste recurso
a) se o documento 1 junto com o requerimento executivo constitui título executivo,
b) se há contradição entre esse título e o pedido ou a obrigação exequenda, como emerge do requerimento executivo.
c) se a obrigação exequenda é certa e exigível.

III. Não vindo fixada na decisão recorrida, considera-se a seguinte matéria de facto:
1) A exequente instaurou execução ordinária, para o pagamento de quantia certa, contra B............. e mulher C.............. e contra a aqui
embargante, apresentando como título executivo o documento junto (por certidão) a fls. 110/120, que titula o contrato celebrado, em
24.04.1995, entre a exequente (aí designada por “IC”) e os primeiros executados (aí designados por “Devedor”), de que se transcrevem as
seguintes cláusulas:
1ª - A “IC” concede ao “Devedor” um empréstimo, sob a forma de abertura de crédito, no montante de Es. 60.000.000$00 (sessenta
milhões de escudos), que se destina a financiar a construção(ões) a implantar no(s) prédio(s) adiante descrito(s) e hipotecado(s).
2ª - O prazo do contrato é de três anos, contados a partir desta data.
3ª - O capital mutuado vencerá juros à taxa anual de 16,5%.
7ª - O capital e juros serão pagos em 12 prestações trimestrais nos termos dos parágrafos seguintes:
§ 1º - Das 12 prestações estabelecidas nesta cláusula as 8 primeiras compreendem apenas juros, sendo pagas postecipadamente, a
primeira das quais três meses após esta data.
§ 2º - As restantes 4 prestações trimestrais serão de Esc. 15.000.000$00 (quinze milhões de escudos), cada uma, compreendendo o capital
ao qual acrescem os respectivos juros.
8ª - Quando uma prestação não for paga no seu vencimento, todo o montante em dívida, bem como as despesas que lhe acrescem, nos
termos do presente contrato, ficarão sujeitas ao pagamento de juros moratórios, à taxa contratual, acrescida da sobretaxa de mora, que
neste momento se fixa em 4% ao ano (...).
10ª - Se vier a ser modificado o prazo de duração do empréstimo, ou alterada a taxa de juro, a “IC” fará novo cálculo das prestações a
pagar, cujo montante comunicará oportunamente ao devedor.
16ª - São a cargo do “devedor” as despesas relacionadas com o registo da hipoteca e com o seu eventual reforço e também as judiciais e
extrajudiciais. São ainda da sua conta as resultantes da emissão dos títulos de distrate e respectivos cancelamento.
As despesas judiciais e extrajudiciais para feitos de registo são calculadas em Esc. 2.400.000$00.
(...)
20ª (...)
Pelo segundo outorgante(s) foi ainda dito, na qualidade em que outorga(m):
Que é exacto o relatório feito e, por isso, confessa(m) a dívida, aceita(m) este contrato com todas as condições que precedem, a cujo
inteiro cumprimento fica(m) obrigado(s).
(...)
2) Por título particular, de 24.04.1995, referido em i), a exequente emprestou aos primeiros executados a quantia de € 299.278,74.
3) A quantia mutuada foi efectivamente entregue aos primeiros executados por crédito na sua conta de Depósitos à Ordem nº 001 da

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Agência de ........... do exequente.
4) Os primeiros executados movimentaram e utilizaram em proveito próprio esse valor.
5) Para garantia do pagamento do capital mutuado, juros de mora de 20,5% (incluída a sobretaxa de mora) e demais despesas, os
primeiros executados hipotecaram a favor do exequente o imóvel descrito no artigo 4º do requerimento executivo.
6) A hipoteca encontra-se definitivamente registada a favor do exequente, relativamente às fracções autónomas identificadas no artigo 5º
do requerimento executivo, cuja propriedade se encontra registada a favor da embargante, por as adquirir por compra e venda aos
primeiros executados.

IV. 1) Entende a embargante que o Doc. 1 junto pela exequente não é título executivo por não importar a constituição ou o
reconhecimento de uma obrigação pecuniária de montante determinado ou determinável nos termos do artigo 805º do CPC.
Nas suas alegações, reafirma existir uma contradição na cláusula sétima do contrato invocado pelo exequente, quanto ao numero de
prestações para amortização do empréstimo, que no cláusula 7ª se afirma serem doze e no seu § 1º serem dez.
Mas do § 1º dessa cláusula não se extrai a referida contradição, pois que aí se estipula que das “12 prestações estabelecidas nesta cláusula
as 8 primeiras ...” e não seis como aquela refere. Na citada cláusula contemplam-se sempre doze (12) prestações em que deveriam ser
pagos o empréstimo e os respectivos juros.
Não ocorre a mencionada contradição no documento que implique com os requisitos de exequibilidade do título.

Trata-se de um documento particular, a que por força de disposição especial foi atribuída força executiva (Lei de 16 de Abril de 1874 e
Decreto de 07 Janeiro de 1876) e, embora documento particular, por esses diplomas, é equiparado a escritura pública (ver Ac. STJ,
24/1/95, BMJ 443/303). Caí no âmbito da al. d) do artigo 46º do CPC. Pelas cláusulas insertas no contrato, não pode deixar de se concluir
que importa a constituição e reconhecimento de obrigações pecuniárias.
Se integrado na alínea c) desse artigo 46º, tratando-se de documento particular assinado pelo devedor, que titula um empréstimo
bancário, constituiria título executivo se importasse constituição ou reconhecimento de obrigações pecuniárias, cujo montante seja
determinado ou determinável nos termos do artº 805º do CPC, isto é, mediante meras operações aritméticas, acrescendo que para prova
dos mútuos celebrados por estabelecimentos bancários, independentemente do valor, é suficiente o documento particular assinado pelo
mutuário (DL nº 32765, de 29/4/1943).
Aquele documento está assinado pelos primeiros executados (os devedores) e nele se revela que estes se obrigaram ao pagamento de
determinadas (quantificadas) importâncias pecuniárias ao Banco. Pelo contrato celebrado, emprestou-lhes este a quantia de € 299.278,74,
obrigando-se aqueles ao seu reembolso nas condições acordadas, em quatro prestações finais, de montante determinado, além do
pagamento dos juros calculados a taxa fixada por acordo e a pagar em prazo certo. No escrito confessam e aceitam a dívida ao banco
bem como o seu pagamento nos termos convencionados. Pelo contrato celebrado ficam aqueles executados adstritos à obrigação de
restituição das quantias mutuadas e respectivos juros (arts.395º do Cód. Com. e 1142º do CC). No documento que titula o empréstimo,
ficou logo acertado o montante de cada prestação, no que respeita ao capital, a taxa de juros e o prazo de pagamento das prestações. A
liquidação da obrigação relativa aos juros determina-se ou liquida-se por simples cálculos aritméticos (cfr. cláusulas 1ª, 7ª e 20ª atrás
reproduzidas).
O DOC. 1 (oferecido como título executivo) importa a constituição e o reconhecimento de obrigações pecuniárias de montante
determinado ou determinável, nos termos do artigo 805º do CPC (redacção anterior ao DL 38/03, de 8/3) no que respeita ás obrigações
emergentes do mútuo.
Como título enquadrado na al. d) do artº 46º citado, é título executivo e sê-lo-ia sempre como documento particular, sem que, nesta
qualidade, porque não determinada nem determinável por simples cálculo aritmético, o fosse para o peticionado a título de despesas.

Aspecto diferente é saber se é título suficiente para demonstrar a obrigação exequenda.

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2) A execução é o meio próprio para a realização da prestação não cumprida, para a reparação de direito que há-de estar definido no
título que serve de base à execução.
Por ela visa-se, não a definição do direito violado, que deve constar do titulo, mas a realização concreta e efectiva desse direito (art. 4º, nº
3, do CPC).
Toda a execução tem por base um título, pelo qual se determinam o fim e os limites da acção executiva (art. 45º, nº 1, do CPC). O título
executivo constitui, assim, “documento que formaliza, por disposição da lei, a faculdade da realização coactiva da prestação não
cumprida” (M. Teixeira de Sousa, Estudos Sobre o Novo Processo Civil, 607/608) ou “o documento de acto constitutivo ou certificativo de
obrigações, a que a lei reconhece eficácia de servir de base ao processo de executivo (Manuel de Andrade, Noções Elementares de
Processo Civil, 1979, pág. 58), é condição necessária para se recorrer à acção executiva, pois sem ele não deve esta ser instaurada.
O título constitui o pressuposto formal da acção executiva destinado a conferir à pretensão substantiva um grau de certeza suficiente
para consentir a subsequente agressão patrimonial aos bens do vendedor (J. Lebre de Freitas e outros, C.P.C. Anotado, I/87). Certifica,
embora de forma ilidível, a existência do direito que o exequente quer ver satisfeito. Trata-se, pois, de documento certificativo ou o
instrumento probatório da obrigação exequenda; faz fé da existência de dívida enquanto se não demonstrar o contrário, bastando ao
exequente a exibição do título pelo qual a obrigação é constituída ou reconhecida para recorrer à acção executiva.
O título, que não se confunde com a causa de pedir na execução, é o instrumento documental da demonstração da obrigação exequenda,
fundamento substantivo da execução (Ac. STJ, de 15/05/03 e 18/01/2000, procs. 02B3251 e 99A1037, em dgsi.pt). Constitui o documento
do qual consta a exequibilidade de uma pretensão e, consequentemente, a possibilidade da realização coactiva da correspondente
prestação por via execução. Na presença desse documento, dada a relativa certeza da existência da dívida nele demonstrada, é dispensada
a fase declarativa para definir o direito do exequente, sem prejuízo de se vir a demonstrar, na oposição do executado por meio de
embargos, que a obrigação não existe.
De qualquer modo o objecto da execução tem de corresponder ao objecto da situação acertada no título, pelo qual se determina também
os seus limites (nomeadamente, o quantum da prestação), que não deve exceder a previsão constante do documento (artigo 45º do CPC)

No caso, vem alegado pelo exequente nos seguintes pontos do requerimento executivo:
1º - “a exequente, por título particular outorgado em 24.04.95, empresou aos primeiros executados, solidariamente e a prazo, a
importância de € 299.278,74 (...) a liquidar em doze prestações trimestrais e nas demais condições constantes do referido título que se
junta ...”.
8º - “os primeiros Executados não pagaram a prestação que se venceu em 24.01.2002, nem as que a seguir se venceram, determinando,
como determinou o vencimento de toda a dívida”.
10º - “a quantia exequenda derivada do aludido financiamento”, a que se reporta a cláusula primeira do contrato atrás reproduzida,
ascende a € 27.169,14 nesta data (02.07.2002), que compreende
a) € 12.008,63, referente a capital;
b) € 3.189,36, relativa a juros de mora (...);
c)das despesas extrajudiciais que o exequente se veja obrigado a efectuar para haver o seu crédito, as quais, nos termos da artigo 15º do
doc. 1, se contam em € 11.971,15”.

Na convenção das partes acertada no Doc. 1 (dado à execução como título), o termo do contrato aí documentado ocorreria a 24/04/98.
Suposto o pontual cumprimento, nessa data estariam cumpridas as obrigações a que os primeiros executados se vincularam.
O decurso desse prazo não significa que essas obrigações se tivessem extinguido, nomeadamente pelo pagamento das quantias mutuadas.
A não ocorrer, aqueles continuavam onerados com o encargo do pagamento dos valores em dívida com o acréscimo dos juros de mora,
salvo qualquer acordo para alterar os termos da obrigação, incluindo o prazo de pagamento ou fixação de novas prestações

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É inequívoco que, no requerimento executivo, o banco pede com referência à relação jurídica de crédito estabelecida com os executados
em 1995 e demonstrada no título que dá à execução. O exequente não só alega os factos constitutivos da obrigação exequenda como junta
o documento (titulo) que a comprova. Nele alicerça o pedido.
Não há notícia (nem foi alegada) da extinção completa das obrigações contraídas. Nesse sentido, nada é alegado pela embargante.
Não há correspondência entre o pedido e a obrigação exequenda com as possibilidades do contrato junto como Doc. 1” (o título) apenas
no que se relaciona com o montante da dívida. O título oferecido à execução permitiria mais que a pretensão executiva, a obrigação cujo
cumprimento o Banco quer está dentro dos limites desse documento.
O título do contrato de abertura de crédito é o fundamento invocado para a exigência do pagamento da quantia (no que respeita
directamente ao empréstimo) em causa na execução.
Diz o exequente que “os executados não pagaram a prestação que se venceu em 24.01.2001, nem as que a seguir se venceram”, que
liquida em montante certo de € 12.008,63, a que faz acrescer os juros, a taxa inferior à prevista no contrato e é neste aspecto que a
embargante se concentra para atacar o título e afirmar a inexistência da dívida. Limita-se, face à referência do banco a prestações a
partir de 1/2001, a afirmar que a obrigação exequenda, no valor atrás referido (e juros), não existe ou se existir não poderia dizer
respeito a tal contrato (titulado pelo DOC.1) – cfr. artº 18º da petição de embargos. Não esclarece a que outro negócio poderia dizer
respeito a dívida nem alega uma qualquer causa de extinção da obrigação demonstrada no título - para poder provar, como lhe incumbia,
nos embargos, esse facto impeditivo ou extintivo do direito invocado pelo exequente - que o banco deriva do “financiamento” (ver artº 10º
do requerimento executivo) e, assim sendo, é aquela uma alegação inconcludente.
O que acontece, pelo teor do requerimento executivo, é que o Banco não esclarece a razão de só pedir determinado valor inferior ao do
contrato, ou do valor das prestações fixadas no contrato, e porque se reporta a quantias devidas a partir de 24/1/2001; não expôs toda a
situação de facto que aclare a razão do pedido inferior ao comportado pelo título e a razão da data de vencimento muito posterior à data
do termo do contrato inserto no Doc. 1 referido.
A alegação nada mais significa que a afirmação do montante do empréstimo concedido aos primeiros executados ainda em dívida. Tal
como no artigo 10º afirma, “a quantia exequenda” deriva “do aludido financiamento”, sendo este o demonstrado pelo titulo executivo.
O pedido contém-se nos limites do título, não o excede nem o contraria.
A obrigação exequenda encontra aí o suporte objectivo necessário e suficiente.
Nem a causa daquele, na afirmação do credor, é outra que não seja o contrato titulado pelo Doc. referido.
Basta atender no teor dos arts. 1º a 7º e 10º do requerimento executivo, para se chegar necessariamente a essa conclusão.
Por outro lado, também não existe contradição entre o título e o pressuposto material da execução, entendido por este, como a
embargante, como a obrigação que aquele certifica ou demonstra.
A obrigação dos primeiros executados - a embargante é chamada à execução por causa da garantia que incide sobre imóveis registados a
seu favor (artº 56º, nº 2, do CPC) - cabe nos limites do título, é dele que a exequente faz emergir essa obrigação, decorrendo esta da
relação contratual que o título documento (o contrato de empréstimo incumprido por aqueles). Mesmo se entenda ser esta relação e não a
própria obrigação exequenda a causa de pedir (cfr. artº 811º, nº 1. c), do CPC) o pedido não está em contradição com esse fundamento
nem em oposição ao documento que a titula.
O hiato na exposição dos factos referido, no requerimento executivo, por forma a esclarecer (o que a exequente fez, mas tarde, na
contestação dos embargos) a razão de só pedir prestações com referência a partir de 24/1/2001, não obsta se interprete a declaração
constante desse requerimento no sentido de que a pretensão do exequente se refere apenas aos valores não pagos e devidos em função do
contrato, interpretação conforme o documento que serve de título, que é instrumento suficiente de demonstração da obrigação
exequenda (art. 45º, nº 1, do CPC).
Nos embargos, o executado ocupa posição semelhante à de autor mas aqueles são apenas um meio de defesa contra a pretensão executiva
contra ele deduzida pelo exequente. Aí, poderá o executado aduzir – consoante a natureza do título dado á execução - qualquer
fundamento com vista á destruição dos efeitos do título executivo e da execução, quer esses fundamentos sejam de natureza processual

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quer sejam de natureza substantiva.
Não ocorrendo falta de título nem estando o pedido nem a obrigação exequenda em contradição com ele e não se afirmando razões de
natureza substantiva que, provadas pela embargante, afastassem a obrigação que aquele comprova, os embargos não podem proceder.
Não padece o requerimento executivo dos vícios apontados pela recorrente.

3) É certa a obrigação cuja prestação se encontra qualitativamente determinada.


A certeza da obrigação relaciona-se com a própria prestação ou com o seu objecto e não com o quantitativo da prestação, que tem a ver
com a liquidação; a obrigação cujo objecto se encontra determinado.
O credor tem o direito de exigir judicialmente o cumprimento da obrigação e de executar o património do devedor quando a obrigação
não for por este voluntariamente cumprida (artigo 817º do Cód. Civil).
Há falta de cumprimento voluntário da obrigação depois do seu vencimento.
A obrigação é exigível desde que se encontre vencida. A exigibilidade tem a ver com o tempo do vencimento da obrigação.
Para que o obrigado possa ser compelido judicialmente a cumprir aquilo a que se obrigou, deverá a obrigação ser exigível, como tal se
considerando a dívida cujo pagamento pode ser exigido em juízo. Só pode promover-se a execução de obrigação que seja certa e exigível
(art. 802º do Cód. Proc. Civil), e esta só é exigível depois de vencida.

Verifica-se que no título não está quantificada a obrigação dos executados, no que respeita ao encargo com despesas. Expressa-se na
cláusula 16ª do contrato que “são a cargo do “devedor” as despesas relacionadas com o registo da hipoteca e com o seu eventual reforço e
também as judiciais e extrajudiciais. São ainda da sua conta as resultantes da emissão dos títulos de distrate e respectivos cancelamento”.
Não tem a finalidade da sua quantificação a fixação de um valor concreto para efeitos de registo, como consta da citada cláusula. As
despesas poderão ser superiores ou inferiores a esse valor e é o das despesas efectivas aquele que será devido pelos executados.
E, na execução, pede a exequente “despesas extrajudiciais que o exequente se veja obrigado a efectuar para haver o seu crédito, as quais,
nos termos da artigo 15º do doc. 1 se contam em € 11.971,15”.
Facilmente se verifica que a obrigação ainda nem se venceu, além de se desconhecer o montante (a obrigação não foi liquidada).
Só após a realização das despesas e a comunicação aos executados a exigir o pagamento da quantia despendida, a dívida se vence (cfr. Ac.
RC, de 13/02/96, CJ, 1996, I, 31). Ora, se as despesas ainda nem foram feitas, desconhecendo-se também quais as concretas despesas que
se tornarão necessárias para a exequente “haver o seu crédito” não pode vir exigir o pagamento de despesas que ainda não concretizou.
Só no final da lide, e após a realização das despesas para cobrar o seu crédito emergente do mútuo celebrado, poderá apresentar aos
executados o total exacto das despesas extrajudiciais que venha a suportar e recorrer ao tribunal no caso do seu não pagamento.
A quantia peticionada a título de “despesas” respeita a obrigação não vencida e, por isso, não é ainda exigível o seu cumprimento. Não
pode instaurar-se execução para o seu cumprimento por a tal obstar o artº 802º do CPC.

V. Nestes termos, dando-se parcial provimento ao recurso, revoga-se em parte a decisão recorrida e, em consequência, absolve-se a
embargante do pedido formulado na execução na parte relativa às despesas de € 11.971,15 (onze mil, novecentos e setenta e um euros e
quinzes cêntimos), mantendo-se aquele decisão na parte restante.
Custas por recorrente e recorrida, incluindo as devidas na 1ª instância, na proporção de decaimento.
Porto, 4 de Novembro de 2004
José Manuel Carvalho Ferraz
Nuno Ângelo Rainho Ataíde das Neves
António do Amaral Ferreira

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