Referência bibliográfica: PALLARES-BURKE, Maria Lúcia Garcia. Educação das
massas: uma "sombra" no século das luzes. In: Brasil 500 anos : tópicas em história da educação[S.l: s.n.], 2001.
A proposta do despotismo esclarecido para a educação de massas nas regiões
focalizadas relacionando com o propósito das igrejas reformadas.
As propostas de despotismo esclarecido que institucionalizava a educação para as
massas como parte obrigatória, pareciam de todo modo em ir contra ao que acreditavam aqueles que se deleitavam no conhecimento medieval, que assentia a ignorância como uma benção para as massas, pois era capaz de gerar estabilidade e harmonia, uma vez que não há contestação do poder hierárquico vigente, como apresentado no subtítulo “os usos da ignorância”. Destacando-se os reinados de Frederico II da Prússia e Maria Tereza da Austria foram conceituados e contextualizados segundo a ótica do despotismo esclarecido. De certa forma irônica, ambos os casos se tratam da instituição do ensino compulsório, que aos moldes iluministas demonstrava certo avanço perante o quadro ainda de transição em relação à estagnação social geral antes vista no medievo. Entretanto o que se transcreveu na realidade sequer tinha o objetivo de alcançar parcelas de mobilidade social. No caso da Prussia especificamente, dois decretos são chaves para entender como funcionou a educação compulsória, com o principal lema de que tal imposição não viria “por coerção e sim por amor a Deus”, como citado por August Hermann Francke. O decreto de 1763 que tinha como principal objetivo a escola primária compulsória para toda a população com idade entre cinco e treze anos e protestantes. Já o decreto de 1765 visava completar o anterior e abrigar a grande massa católica que haviam sido incorporados ao reino, o mentor que redigiu o segundo decreto foi o agostiniano Felbiger, figura importante como reformista da igreja católica. Por causa do seu caráter único de reformador católico Maria Tereza da Austria que acabara de sair de um conflito com a Prússia foi chamado para gerir a reforma do seu plano educacional. Por causa da extinção da ordem jesuítica a Austria estava com sérios problemas no que tange seu processo educacional, por isso, Felbiger é convidado e elabora em 1774 o decreto que levava seu nome, que estabelecia a educação compulsória dos seis aos doze anos. O decreto dava conta também de outros setores antes deixados de lado na Prússia, como a especialização dos professores, passo importante para uma educação de qualidade. A realidade vivida em ambos os países de primeira análise parece uma unidade promissora de desenvolvimento e ultrapassagem das barreiras sociais. Entretanto, nunca foi de objetivo principal em ambos os casos que as camadas mais deficitárias pudessem alcançar sequer o ensino superior, dirá uma mudança no seu quadro social. No caso da Prússia, após os estudos básicos os filhos de camponeses deveriam ser alocados na agricultura, artesanato ou outras profissões liberais, até mesmo aqueles filhos de burgueses que prosperavam socialmente eram impedidos de continuar seus estudos. No caso austríaco a elite conseguia o acesso ao ensino superior automaticamente por linhagem sanguínea, enquanto a plebe passaria por um rigoroso exame e neste demonstrar um “talento excepcional”. Por isso, vemos que os ideais iluministas influenciaram demasiadamente o modelo educacional nessas localidades, entretanto, seus principais objetivos não confluíam na realidade com o conceito de educação universal e irrestrita, que só passa a valer mais de cem anos a partir dali.