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O lava-pés •
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Jesus de Nazaré •
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o evangelista limita-se a dizer laconicamente: «E, logo após o bocado,
entrou nele Satanás» (13, 27).
Para João, aquilo que aconteceu a Judas já não é explicável psico-
logicamente. Acabou sob o domínio de outrem: quem rompe a amiza-
de com Jesus, quem se recusa a carregar o seu «jugo suave» não chega
à liberdade, não se torna livre, antes pelo contrário torna-se escravo
de outras potências; ou mesmo: o facto de atraiçoar essa amizade já
resulta da intervenção de outro poder, ao qual se abriu.
Entretanto a luz, vinda de Jesus, que caíra na alma de Judas não
se tinha apagado totalmente. Há um primeiro passo rumo à conversão:
«Pequei» – diz ele aos seus mandantes. Procura salvar Jesus, devolven-
do o dinheiro (cf. Mt 27, 3-5). Tudo o que de grande e puro recebe-
ra de Jesus permanecia gravado na sua alma; não podia esquecê-lo.
A segunda tragédia dele, depois da da traição, é já não conseguir
acreditar num perdão. O seu arrependimento torna-se desespero. Já
só se vê a si mesmo e às suas trevas, já não vê a luz de Jesus – aquela
luz que pode iluminar e vencer as próprias trevas. Deste modo faz-nos
ver a forma errada do arrependimento: um arrependimento que já não
consegue esperar, mas só vê a própria obscuridade, é destrutivo, não
é um verdadeiro arrependimento. Faz parte do justo arrependimento
a certeza da esperança – uma certeza que nasce da fé no poder maior
da Luz que Se fez carne em Jesus.
João conclui dramaticamente o trecho sobre Judas com estas pa-
lavras: «[Judas] tendo tomado o bocado de pão, saiu logo. Fazia-se
noite» (13, 30). Judas vai para fora num sentido mais profundo: entra
na noite, vai-se embora da luz para a escuridão. O «poder das trevas»
apoderou-se dele (cf. Jo 3, 19; Lc 22, 53).
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Jesus de Nazaré •
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A Última Ceia •
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A Última Ceia •
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A Última Ceia •
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O processo de Jesus •
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O processo de Jesus •
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Jesus de Nazaré •
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O processo de Jesus •
Tal como, a partir da fé, é preciso ler de modo totalmente novo a afir-
mação de Caifás acerca da necessidade da morte de Jesus, assim tam-
bém se deve fazer com a palavra de Mateus sobre o sangue: lida na
perspectiva da fé, ela significa que todos nós precisamos da força pu-
rificadora do amor, e tal força é o seu sangue. Não é maldição, mas
redenção, salvação. Só com base na teologia da Última Ceia e da Cruz,
presente na totalidade do Novo Testamento, é que a palavra de Mateus
sobre o sangue adquire o seu sentido correcto.
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O processo de Jesus •
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Jesus de Nazaré •
Com esta fórmula, estamos perto daquilo que Jesus pretende di-
zer quando fala da verdade e de que veio ao mundo para dar teste-
munho dela. No mundo, verdade e opinião errada, verdade e mentira
estão continuamente misturadas e são quase indissociáveis. A Verdade,
em todas as suas grandeza e pureza, não aparece. O mundo é «verda-
deiro» na medida em que reflecte Deus, o sentido da criação, a Razão
eterna donde brotou. E torna-se tanto mais verdadeiro quanto mais se
aproximar de Deus. O homem torna-se verdadeiro, torna-se ele mes-
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O processo de Jesus •
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O processo de Jesus •
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O processo de Jesus •
lação era a punição que, no direito penal romano, era infligida como
castigo concomitante da condenação à morte (Hengel/Schwemer, p.
609). Em João, diversamente, a flagelação aparece como um acto co-
locado durante o interrogatório; uma disposição que o prefeito, em
virtude do seu poder, estava autorizado a respeitar. Era uma punição
extremamente bárbara; o condenado «era açoitado por vários algozes
até estes se cansarem e a carne do criminoso se despegar e pender em
pedaços ensanguentados» (Blinzler, p. 321). Rudolf Pesch comenta: «O
facto de Simão de Cirene ter de carregar, em vez de Jesus, a traves-
sa da cruz e de Jesus morrer tão depressa está provavelmente ligado
à tortura da flagelação, durante a qual outros criminosos já morriam»
(Markusevangelium, II, p. 467).
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Jesus de Nazaré •
Por fim, Pilatos senta-se na cadeira do juiz. Diz uma vez mais: «Aqui
está o vosso Rei!» (Jo 19, 14). Depois, pronuncia a sentença de morte.
Sem dúvida, a grande Verdade de que falara Jesus continuou a
ser-lhe inacessível; mas a verdade concreta daquele caso, Pilatos co-
nhecia-a bem. Sabia que aquele Jesus não era um criminoso político e
que a realeza por Ele reivindicada não constituía nenhum perigo po-
lítico. Sabia, pois, que devia libertá-l’O.
Como prefeito, representava o direito romano, no qual se basea
va a pax romana, a paz do império que abraçava o mundo. Por um
lado, esta paz era assegurada por meio da força militar de Roma; mas,
por outro, só com a força militar não se pode estabelecer nenhuma
paz. A paz funda-se na justiça. A força de Roma era o seu sistema ju-
rídico, a ordem jurídica com que os homens podiam contar: Pilatos –
repetimo-lo – conhecia a verdade de que se tratava neste caso e sabia,
portanto, que ela exigia dele a justiça.
Mas, no fim, venceu nele a interpretação pragmática do direito:
mais importante do que a verdade do caso era a força pacificadora do
direito; talvez tenha sido este o seu pensamento e assim se justificou a
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