Você está na página 1de 24

ANA PAULA AFONSO

CARLOS MORRA
FRANCISCO ALBERTO

IVONE JOSÉ DOS SANTOS MANTEIGA

MARINO DA CONCEIÇÃO AMÉRICO ARMANDO SOARES


MIAMI AGOSTINHO TSAMBA
ODETE VASCO MARIANO MUGUERRIMA

ROGÉRIA MARIA DA CONCEIÇÃO LAISSE

TEMA: SISTEMA DE INFORMAÇÃO EM SAÚDE

TRABALHO DE INVESTIGAÇÃO: CURSO DE LICENCIATURA EM NUTRIÇÃO

1
ANA PAULA AFONSO
CARLOS MORRA
FRANCISCO ALBERTO

IVONE JOSÉ DOS SANTOS MANTEIGA

MARINO DA CONCEIÇÃO AMÉRICO ARMANDO SOARES


MIAMI AGOSTINHO TSAMBA
ODETE VASCO MARIANO MUGUERRIMA

ROGÉRIA MARIA DA CONCEIÇÃO LAISSE

TEMA: SISTEMA DE INFORMAÇÃO EM SAÚDE

Trabalho de pesquisa apresentado à Faculdade


de Ciências de saúde da Universidade
Zambeze para o propósito de avaliação como
requisito parcial e necessário para a conclusão
da cadeira de Epidemiologia.

2
ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO...................................................................................................................................4
1.1. Objectivos....................................................................................................................................5
1.1.1. Geral....................................................................................................................................5
1.1.2. Específicos...........................................................................................................................5
1.2. Metodologia.................................................................................................................................6
2. REVISÃO DE LITERATURA............................................................................................................7
2.1. Transição epidemiológica............................................................................................................7
2.2. Transição Nutricional e Alimentar.............................................................................................10
2.2.1. Evolução das Mudança de Padrões Nutricionais e Alimentares...............................................11
2.2.2. Conceitos.................................................................................................................................13
2.3. Vigilância em Saúde..................................................................................................................15
2.3.1. Conceitos...........................................................................................................................15
2.3.2. Vigilância em saúde pública e suas funções essenciais......................................................16
2.3.3. Abrangência da vigilância..................................................................................................17
2.3.4. Características gerais dos sistemas de vigilância................................................................18
2.3.5. Critérios de identificação de prioridades............................................................................20
2.3.6. Aplicações da Vigilância Epidemiológica..........................................................................20
3. CONCLUSÃO...................................................................................................................................23
3.1. Referências bibliográficas..........................................................................................................24

3
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho de pesquisa tem como objectivo abordar acerca do sistema de
informação em saúde, transição epidemiológica, nutricional e alimentar, incluindo a vigilância
em saúde. A fim de incrementar os conhecimentos sobre a cadeira de epidemiologia, do curso de
licenciatura em nutrição.
O Sistema de Informação em Saúde é conjunto de instrumentos, normas e actividades
relacionadas entre si e que produz informação útil para a tomada de decisões na área de saúde.
Permitir que os trabalhadores de saúde e (outros) possam tomar as melhores decisões possíveis
de acordo com as suas responsabilidades.
Portanto, o SIS apoia esta acção, porque a informação recolhida ilustra as mudanças nas
condições de saúde, no estado de saúde e nas prioridades de saúde. O pessoal de saúde precisa de
um conjunto de informações para conhecer a sua área de saúde e programar, gerir e avaliar os
serviços de saúde, com destaque para: Principais problemas de saúde que afectam a população a
ser servida; Recursos disponíveis para o sector de saúde; Volume do trabalho realizado;
Qualidade desse trabalho; e Resultados do esforço dos trabalhadores da saúde.

A partir da segunda metade do século XIX, os países considerados pólos centrais da


economia mundial por seu desenvolvimento industrial, apresentaram mudanças significativas em
seu perfil epidemiológico.
De uma forma geral, essas mudanças foram condicionadas por dois fatores principais: 1.
Alterações associadas à estrutura etária da população, ocorridas ao longo do processo de
transição demográfica, conforme discutido anteriormente; 2. alterações de longa duração nos
padrões de morbidade e de mortalidade, havendo a substituição gradual das doenças infecciosas
e parasitárias e das deficiências nutricionais pelas doenças crónico-degenerativas e aquelas
relacionadas a causas externas. Surgido assim o marco da transição epidemiológica e nutricional.

A vigilância tem dois significados internacionalmente consagrados em saúde pública: um que


poderíamos denominar de clássico, aplicado inicialmente nos fins do século passado, tem sua
utilização vinculada aos conceitos de isolamento e quarentena. O conceito de vigilância, é
definido pela específica mas limitada função de observar contatos de pacientes atingidos por
moléstias graves como a cólera, a varíola e a peste. Seu propósito era detectar os primeiros
sintomas para a rápida instituição do isolamento.

4
1.1. Objectivos

1.1.1. Geral
 Analisar a abordagem acerca dos sistemas de informação em saúde.

1.1.2. Específicos
 Definir os conceitos de transição epidemiológica, nutricional e alimentar;
 Descrever o percurso da transição epidemiológica, nutricional e alimentar;
 Descrever as bases e elementos da vigilância em saúde.

5
1.2. Metodologia
Para a concretização dos objectivos deste trabalho utilizou-se como metodologia a pesquisa
bibliográfica. Pois o presente trabalho de pesquisa foi de revisão de literatura. Esta pesquisa
bibliográfica assentou-se também em artigos técnicos e científicos relacionados com esta
matéria.
O tipo de pesquisa utilizado neste presente trabalho foi o descritivo (pois o que se pretende é
abordar acerca do sistema de informação em saúde).
A técnica de pesquisa adoptada neste trabalho foi a seguinte: efectuou-se uma pesquisa
bibliográfica, através da consulta de manuais, que abordam assuntos ligados à transição
epidemiológica, transição nutricional e alimentar, e o sistema de informação em saúde, fez-se
também a consulta de artigos científicos, teses, dissertações, monografias, pesquisas científicas,
explanações e definições de conceitos importantes utilizados durante a pesquisa desse trabalho, e
por outro lado foi feita a pesquisa na internet como forma de conhecer as actuais abordagens
acerca dos conceitos básicos sobre o sistema de informação em saúde.

6
2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. Transição epidemiológica


A palavra transição (do latim transitione) tem como significados actos, efeitos ou modos de
passar lentamente de um lugar, estado ou assunto para outro. Remete à noção de passagem,
trajeto ou trajetória (tal como definido pelo Dicionário Aurélio), sobressaindo, o caráter
processual, portanto, de movimento, que o termo designa. Quando se fala de transições em saúde
pública, inserem-se sob este rótulo diferentes movimentos transicionais que percorrem a história
da população humana, gerando “impressões” em cada configuração social específica. Para os
objetivos deste capítulo, focalizaremos o fenômeno nos contextos demográfico e epidemiológico,
visando a apresentar alguns movimentos transicionais ocorridos nas populações humanas de uma
forma geral, conferindo destaque aos processos conceituados como transição demográfica e
transição epidemiológica (Pontes et al, 2009).

Entende-se por transição epidemiológica as mudanças ocorridas no tempo nos padrões de


morte, morbidade e invalidez que caracterizam uma população específica e que, em geral,
ocorrem em conjunto com outras transformações demográficas, sociais e econômicas (Omram,
2001; Santos-Preciado et al., 2003 apud Schramm et al, 2004).

Teixeira (2012) apud Pereira et al (2015), conceituou transição epidemiológica como


complexas mudanças nos padrões saúde/doença e nas interações entre os mesmos, com
influência de outros fatores consequentes e determinantes demográficos, econômicos e sociais.

Essa teoria levantada pelo autor é composta de proposições centrais, a saber: existe uma
prolongada e gradativa mudança nos padrões de mortalidade e adoecimento, sendo as doenças
infecciosas substituídas por doenças degenerativas e agravos produzidos pelo homem; nesta
transição de padrões do processo saúde-doença, as mais profundas e significativas mudanças
ocorrem nas crianças e mulheres jovens; as mudanças que caracterizam a transição
epidemiológica estão diretamente relacionadas às transições demográficas e no também no
padrão e ritmo de vida dos indivíduos, nos determinantes e nas mudanças consequentes na
população, organizados ainda em três modelos básicos de transição epidemiológica, conforme o
autor: modelo clássico ou ocidental, o modelo acelerado e o modelo contemporâneo ou
prolongado (Pereira et al, 2015).

7
Uma das principais características do processo de transição epidemiológica é o aumento na
prevalência de doenças crônicas não transmissíveis, surgindo com maior impacto em países
desenvolvidos. Algumas doenças são ainda mais frequentes a partir dos 60 anos, destacando-se
as doenças osteoarticulares, hipertensão arterial sistêmica (HAS), doenças cardiovasculares,
diabetes mellitus, doenças respiratórias crônicas, doenças transmissíveis (Pereira et al, 2015).

A definição do termo transição epidemiológica deve, dessa forma, ser integrado à um


conceito mais amplo apresentado por Schramm (2004) apud Pereira et al (2015), como transição
de saúde, que considera a inclusão de elementos de concepções e comportamentos sociais,
correspondentes aos aspectos básicos da saúde nas populações humanas.

A transição da saúde pode ser classificada em duas vertentes: uma delas contempla a
transição das condições de saúde na qual refere-se às mudanças na frequência, magnitude,
amplitude e condições de saúde, demonstradas através do número de mortes, doenças e
incapacidades. A outra diz respeito a resposta social organizada a estas condições que se
articulam e se materializam por meio dos sistemas de atenção à saúde, referindo-se a transição da
atenção sanitária, construída em grande parte pelo desenvolvimento social, econômico e
tecnológico mais abrangente (Pereira et al, 2015). O processo engloba três mudanças básicas:
 Substituição das doenças transmissíveis por doenças não-transmissíveis e causas externas;
 Deslocamento da carga de morbi-mortalidade dos grupos mais jovens aos grupos mais
idosos; e
 Transformação de uma situação em que predomina a mortalidade para outra na qual a
morbidade é dominante.

Segundo Chaimowicz (1997) apud Schramm et al (2004), existe uma correlação direta entre
os processos de transição epidemiológica e demográfica1. A princípio, o declínio da mortalidade
concentra-se seletivamente entre as doenças infecciosas e tende a beneficiar os grupos mais
jovens da população, que passam a conviver com fatores de risco associados às doenças crônico-

1
Conceitua-se transição demográfica, em termos demográficos estritos, como a passagem (transitione) de
um contexto populacional onde prevalecem altos coeficientes de mortalidade e natalidade, para outro, onde esses
coeficientes alcançam valores muito reduzidos. Esquematicamente o modelo da transição demográfica postula que
uma sociedade passa, em termos demográficos, por quatro fases ou estágios, antes de derivar uma sociedade
plenamente pós-industrial.

8
degenerativas e, na medida em que cresce o número de idosos e aumenta a expectativa de vida,
as doenças não-transmissíveis tornam-se mais frequentes.

A modificação no perfil de saúde da população em que as doenças crônicas e suas


complicações são prevalentes resulta em mudanças no padrão de utilização dos serviços de saúde
e no aumento de gastos, considerando a necessidade de incorporação tecnológica para o
tratamento das mesmas. Estes aspectos ocasionam importantes desafios e a necessidade de uma
agenda para as políticas de saúde que possam dar conta das várias transições em curso. A
escalada tecnológica, a pouca valorização na educação médica e de outros profissionais em
relação aos aspectos referentes à promoção e prevenção, a necessidade de novas instâncias de
cuidados (além do hospitalar e do ambulatorial clássicos), as marcantes deficiências qualitativas
e quantitativas da força de trabalho em saúde e o desenvolvimento de programas e políticas
custo-efetivas são elementos a serem considerados no desenvolvimento dos futuros modelos
tecno-assistenciais em saúde (Popkin, 1994; Goulart, 1999 apud Schramm et al, 2004).

Omram (1971) apud Pontes et al (2009), propôs três grandes eras, ou estágios, para a
transição epidemiológica, apresentadas esquematicamente a seguir:
 A “Era da Pestilência e da Fome”, que se estenderia até o final da Idade Média, caracterizada
por uma mortalidade elevada e flutuante, com predominância da desnutrição, das situações
relacionadas à saúde reprodutiva e das doenças infecciosas e parasitárias, em caráter
endêmico e epidêmico (às vezes pandêmico), com grande impacto na dinâmica populacional
(em termos demográficos, a fecundidade era alta, com coeficientes de natalidade em níveis
moderados ou elevados – aproximadamente 30 a 40 nascidos vivos por 1.000 habitantes),
levando a uma expectativa de vida média abaixo de 30 anos de idade;
 A “Era do Declínio das Pandemias”, que se estenderia da Renascença até o início da
Revolução Industrial, caracterizada pela redução progressiva das grandes pandemias e
epidemias, apesar de as doenças infecciosas e parasitárias continuarem a ser uma das
principais causas de morte. Nesse período, houve uma melhoria geral do padrão de vida, com
um aumento da esperança de vida para 40 a 50 anos de idade, em virtude da queda
progressiva dos coeficientes de mortalidade (entretanto, o coeficiente de natalidade
permaneceu em níveis elevados — 40 por 1.000 nascidos vivos) com variações no espaço e
no tempo. Esse contexto gerou um período sustentado de crescimento populacional e de

9
urbanização; até a segunda metade do século XIX, as doenças infecciosas e parasitárias e a
fome de caráter endêmico, apesar de terem reduzido em importância, mantinham-se entre os
principais problemas de saúde pública. Tal perfil epidemiológico estava relacionado com
falta de saneamento, habitações inadequadas, condições de trabalho insalubres e baixo nível
de escolaridade, propiciando condições para elevados coeficientes de mortalidade por
diarreia, varíola, peste, cólera e tuberculose, mesmo naqueles países mais industrializados.
 A “Era das Doenças Degenerativas e das Provocadas pelo Homem”, que se estenderia da
Revolução Industrial até o período contemporâneo, caracterizada pela redução ou
estabilização da mortalidade em níveis baixos, pela queda relativa da importância das
doenças infecciosas e parasitárias e pelo fato de as doenças crônico-degenerativas (doenças
cardiovasculares e neoplasias) e as causas externas se tornarem cada vez mais frequentes.
Nesse período, houve uma progressiva melhoria das condições sociais da população e
ocorreu a revolução científica, com a descoberta dos agentes etiológicos, antibióticos e
vacinas. Ocorreu também uma importante queda da fecundidade que se fez acompanhar pelo
envelhecimento da população. A expectativa de vida ao nascer aumentou gradualmente,
ultrapassando os 50 anos, tendendo com o tempo para idades cada vez maiores, acima dos 70
anos.

Omran (1996) apud Oliveira (2004), propõe mais dois estágios de evolução da transição
epidemiológica em potencial:
 Período do declínio da mortalidade por doenças cardiovasculares, modificações no estilo de
vida, doenças emergentes e ressurgimento de doenças;
 Período de longevidade paradoxal, emergência de doenças enigmáticas e capacitação
tecnológica para a sobrevivência do inapto.

2.2. Transição Nutricional e Alimentar


Toda evolução de saúde-doença na historia humana consiste em um processo de transição
(Frederiksen, 1969):

 Lenta: praticamente imperceptível – nos tempos pré-históricos;


 Rápida: Surpreendentemente rápida: nos últimos 100 anos e, sobretudo, a partir dos anos 50
do século XX.

a) Associado a um padrão de vida mais urbano e industrializado

10
b) Padrão alimentar e de atividade física
c) Mudanças na composição corporal e estatura dos indivíduos.

Basicamente, além de sua natureza qualitativa, o que caracterizaria a transição


epidemiológica seria a velocidade nas mudanças de sinais (+ e -) dos padrões de morbi-
mortalidade e, por conseguinte, a substituição da agenda temática dos problemas de saúde
coletiva. Este seria o aspecto, em sentido estrito, que delineia, de fato, o conceito e as
implicações pragmáticas da transição epidemiológica e, por extensão, da transição nutricional
(Popkin, 1993; Barreto & Carmo, 2000; Batista Filho & Rissin, 2003; Kac & Velásquez-
Meléndez, 2003).

2.2.1. Evolução das Mudança de Padrões Nutricionais e Alimentares


A mudança que caracteriza a transição nutricional poderia ser definida como a passagem de
um estágio bem primitivo, simbolizado pela ocorrência de formas graves de carências globais
(kwashiokor, marasmo nutricional) ou específicas (hipovitaminose A, escorbuto, beribéri,
raquitismo, osteomalacia, pelagra), constituindo manifestações de caráter dominantemente
agudo, para outro em que predominam DCNT. Entram, também, nesse estágio os processos
carenciais caracteristicamente crônicos, como o nanismo nutricional, a idiotia iodopriva, as
sequelas esqueléticas de deficiências vitamínicas e minerais e as anemias que, eventualmente,
podem ser agudas. É pertinente enfatizar a associação das carências nutricionais com um variado
conjunto de doenças infecciosas e parasitárias, compondo um modelo bem estabelecido de
morbi-mortalidade. Em termos deliberadamente simplificados, pode-se convencionar que a
redução ou desaparecimento das formas graves de desnutrição energético-proteica (kwashiorkor
e marasmo) constitui o indicativo epidemiológico do processo de transição em seu estágio
inicial.

Em um segundo momento, que caracterizaria a transição propriamente dita, as endemias e


manifestações epidêmicas das carências nutricionais passam a apresentar uma diminuição
progressiva em sua ocorrência. Em uma representação convencional, desapareceriam os casos
clínicos graves de Desnutrição Energético-Proteica (DEP), de carência de iodo (idiotia e tipos
mais avançados de bócio iodoprivo) e de hipovitaminose A. Pode-se eleger o início da
recuperação da estatura em escala populacional como o evento mais representativo desta fase.
Simultaneamente, reduz-se a incidência do Baixo Peso ao Nascer – BPN (menos de 2.500 g nos

11
nascidos vivos) para valores abaixo de 10%. Com base nos indicadores mais genéricos do
processo saúde-doença, descreve-se uma redução marcante da mortalidade infantil em especial
por doenças infecciosas. A base demográfica da pirâmide populacional passa a ter sua estrutura
expressivamente modificada, com a queda da mortalidade por doenças facilmente evitáveis e
curáveis, e da natalidade, prolongando-se a expectativa de vida a um ritmo que, em muitos
países, implicou ganhos médios de cinco a dez anos, em apenas uma década. Com o
prolongamento da vida, a modificação dos hábitos alimentares e a redução das atividades físicas,
a população ingressa em uma nova vertente do cenário epidemiológico.

O terceiro estágio seria representado pela correção do ‘déficit’ da estatura, resgatando-se,


fenotipicamente, o potencial genético do crescimento humano, até então dificultado pelas
adversidades socioambientais. Evidencia-se, por tendências históricas e mudanças sociais, uma
outra característica desta etapa: a instalação do sobrepeso/ obesidade, como um processo
pangeográfico e transsocial. Esta etapa da transição nutricional corresponde à construção de um
conjunto de co-morbidades reunidas em torno de fatores comuns de riscos: o diabetes mellitus,
principalmente do tipo 2, as doenças cardio e cerebrovasculares e alguns tipos importantes de
neoplasias, como o câncer de mama, da próstata, do cólon e do reto, correlacionados com o
estado de nutrição, com características do regime alimentar e hábitos de vida não saudáveis. Por
sua natureza e implicações, pode-se agregar a esse complexo de patologias as doenças
osteoarticulares. Estima-se que as DCNT, que representam entre 70% e 80% da carga de morbi-
mortalidade nos países desenvolvidos e já alcançam o primeiro patamar de importância
epidemiológica nas nações em desenvolvimento, poderiam ser substancialmente reduzidas com a
prática da alimentação e estilos de vida saudáveis (Opas/OMS, 2003; Sandhi et al., 2005). A
perspectiva plenamente evidenciada de mudar a situação que se define no estágio 3 da transição
epidemiológica constitui o próprio fundamento da Estratégia Global da Alimentação Saudável,
apoiada em alguns procedimentos, como a ingestão diária de 450 a 700 g de frutas, verduras e
legumes, redução do consumo de sal, de gorduras animais, ácidos graxos na forma trans, de
açúcares industrializados e de excedente calórico da dieta em relação às necessidades normais do
organismo. A aplicação, em escala populacional, dessas recomendações, ao lado das medidas de
promoção de hábitos de vida saudáveis, com o controle do tabagismo, do alcoolismo e do
sedentarismo, poderia constituir uma variante ou uma característica peculiar da transição
epidemiológica: a “compressão de morbidades crônicas” (Fries, 1983, 2000).

12
A representação esquemática da transição nutricional segundo modelos ainda que bem
delineados, estabelece, de fato, simplificações que impedem que se abranja, satisfatoriamente, a
realidade em suas diferentes manifestações socioambientais e culturais. É comum, em um
mesmo país e em um mesmo período, ocorrerem combinações de situações diversas e até
aparentemente conflituais. Como exemplo, o caso das anemias, que escapa das tendências
temporais dos outros problemas carenciais.

2.2.2. Conceitos
Entende-se por transição nutricional, o fenômeno no qual ocorre uma inversão nos padrões
de distribuição dos problemas nutricionais de uma dada população no tempo, ou seja, uma
mudança na magnitude e no risco atribuível de agravos associados ao padrão de determinação de
doenças atribuídas ao atraso e à modernidade (Kac e Meléndez, 2003). Essencialmente as
mudanças os padrões nutricionais das populações em transição nutricional, são determinados por
alterações na estrutura da dieta e na composição corporal dos indivíduos, resultando em
importantes modificações no perfil de saúde e nutrição.

O conceito de transição nutricional refere-se a mudanças seculares nos padrões de nutrição,


dadas as modificações da ingestão alimentar, como consequência de transformações econômicas,
sociais, demográficas e sanitárias (OPAS, 2000 apud Oliveira, 2004).

Segundo Pontes et al (2009), podemos definir transição nutricional como um fenômeno


caracterizado por modificações importantes no padrão de nutrição e consumo de uma dada
população, que acompanham mudanças econômicas, sociais e demográficas, associando-se a
alterações na magnitude bem como no risco atribuível a agravos vinculados ao padrão de
determinação de doenças do “atraso” e da “modernidade”, expressando-se como uma alteração e
mesmo uma inversão no perfil de distribuição dos problemas nutricionais das populações, em
geral, um trânsito da desnutrição para a obesidade.

De forma mais marcante, nos últimos anos, culminando um processo que tem início há algum
tempo, em especial nos países industrializados, a obesidade é hoje considerada uma doença
epidêmica, dada sua co-morbidade e sua influência no perfil de morbimortalidade dos diferentes
grupos populacionais. É tida como o mais importante transtorno nutricional nos países

13
desenvolvidos, devido ao aumento de sua prevalência, assumindo, progressivamente (Pontes,
2009).

Neste novo perfil, a urbanização determinou uma mudança nos padrões de comportamento
alimentar que, juntamente com a redução da atividade física nas populações, vem
desempenhando importante papel (Pinheiro et al, 2004).

Ao nos referirmos aqui à transição nutricional, é preciso esclarecer que este processo não
deve ser interpretado de maneira mecânica como melhoria geral das condições de vida e, por
conseguinte, do estado nutricional da população. Estudos de amplitude evidenciam a persistência
da fome e da desnutrição como problemas importantes, bem como o crescimento da obesidade,
em especial nas camadas sociais desfavorecidas, o que também expressa má alimentação e baixo
acesso a uma dieta equilibrada (Pontes, 2009).

A transição nutricional em curso na maioria dos países em desenvolvimento, expressa no


grande aumento da obesidade e sua coexistência com o baixo peso, constitui um dos fatores mais
importantes para explicar o aumento da carga dessas doenças em tais realidades. No âmbito da
Saúde Pública, coloca-se um desafio de grande complexidade, exigindo análise de como se
constituem os padrões alimentares, bem como dos padrões de atividade física. As evidências
disponíveis relacionadas aos padrões de atividade física apontam para um baixo gasto energético
e para o crescimento do sedentarismo (Pontes, 2009).

A transição nutricional ocorrida neste século resultou na chamada “dieta ocidental”


caracterizada pelos altos teores de gorduras, principalmente de origem animal, de açúcares e
alimentos refinados e baixos teores de carboidratos complexos e fibras (Monteiro et al, 2000). A
dieta ocidental e o aumento da obesidade estão amplamente associados com a alta prevalência de
doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e a diminuição da qualidade de vida da população
(Ferreira et al, 2005). Enquanto na Europa e nos países asiáticos a mudança de hábitos ocorreu
de forma gradual, o que se observa no ocidente é um acelerado ritmo de mudanças, tendo como
consequência doenças como diabetes, hipertensão e cardiopatias, que atingem todas as faixas
etárias e são configuradas como problemas de saúde pública (Batista-Filho & Rissin, 2003;
Francischi et al, 2000).

14
O consumo de gorduras saturadas está fortemente associado à ocorrência de doença
coronariana, assim como estudos evidenciam que o consumo de gordura de origem animal está
ligado à ocorrência de câncer de cólon, próstata e mamas (Sartorelli & Franco, 2003; Queiroz,
2008). Ainda envolvendo a composição lipídica da dieta, há evidências de que a obesidade possa
se relacionar à proporção de energia proveniente de gorduras, independentemente do total
calórico da dieta (Monteiro et al, 2000; Oliveira & Fisberg, 2003; Queiroz, 2008). Por outro
lado, há igualmente evidências de que dietas ricas em legumes, verduras e frutas cítricas
encontram-se associadas à ocorrência menor de alguns tipos de câncer, como os de pulmão,
cólon, esôfago e estômago (Kag & Velasquez-Mendelez, 2003). Embora os mecanismos
subjacentes à associação não estejam completamente esclarecidos, sabe-se que essas dietas são
usualmente pobres em gordura saturada e ricas em fibras e diversas vitaminas e minerais (Kag &
Velasquez-Mendelez, 2003; Batista-Filho et al, 2008).

A evolução do estado nutricional das populações é indicativa de um importante aumento do


sobrepeso, com tendência especialmente preocupante entre as crianças em idade escolar e os
adolescentes, bem como na população de baixa renda. No que se refere ao sobrepeso, a
prevalência global revela-se elevada (Pontes, 2009).

Consequência de novos estilos de vida impostos por um lado, pelo acesso a certos recursos e,
de outro, a má distribuição de renda, o desemprego, o confinamento resultante da violência, a
expansão do consumo de alimentos de alta densidade calórica, baixo custo e, igualmente, baixo
valor nutricional, e a propaganda de alimentos pelos meios de comunicação evidenciam que,
apesar dos esforços no setor alimentar-nutricional, há ainda a necessidade de intervenções em
diferentes níveis/setores para que se possa erradicar a fome e conter o avanço acelerado da
obesidade como problema sócio-sanitário (Pontes, 2009).

2.3. Vigilância em Saúde


2.3.1. Conceitos
Vigilância epidemiológica ou ainda vigilância em saúde pública é definida como a
contínua e sistemática coleta, análise e interpretação de dados, seguida de ampla disseminação da
informação analisada a todos que dela necessitam, com a finalidade de fundamentar e de tornar
ágeis as intervenções de saúde pública (Porta 2008 apud Waldman, 2012).

15
A vigilância epidemiológica é uma das mais importantes e úteis aplicações da
epidemiologia na prática sanitária e um dos instrumentos de uso mais consagrados nesse campo,
em todo o globo, sendo considerado um importante elo entre os serviços de saúde e a pesquisa,
voltados à contínua atualização das bases científicas das estratégias de controlo de doenças
(Waldman 1991 apud Waldman, 2012).

O termo vigilância entendido como um instrumento de saúde pública tem dois


significados consagrados internacionalmente, um deles, introduzido no final do século XIX, com
foco no acompanhamento de potenciais fontes de infecção e outro, que passa a ser usado em
meados do século passado, com a finalidade e analisar o comportamento de doenças na
comunidade e recomendar oportunamente, medidas efetivas de controlo (Thacker & Berkelman
1988 apud Waldman, 2012). Esses dois conceitos, assim como, os principais marcos históricos
do desenvolvimento da vigilância serão comentados a seguir (Waldman, 2012).
Pode ser entendido também como a “observação dos comunicantes durante o período
máximo de incubação da doença, a partir da data do último contato destes com um caso clínico
ou portador, ou da data em que o comunicante abandonou o local em que se encontrava a fonte
primária da infecção” (Schmid 1956 apud Waldman, 2012).
Seu propósito é detectar a doença, já em seus primeiros sintomas, para a rápida
instituição do isolamento, substituindo a prática restritiva da quarentena, até então vigente, por
uma conduta menos drástica (Langmuir 1976 apud Waldman, 2012). Portanto, esse conceito de
vigilância vincula-se aos de o isolamento e quarentena, que determinam, respectivamente, a
separação de indivíduos doentes (isolamento) ou potencialmente infectados (quarentena) de seus
contatos habituais (Romero & Troncoso 1981 apud Waldman, 2012).

No início dos anos 50, surge um novo conceito de vigilância em saúde, desta vez,
preocupado com o acompanhamento sistemático de doenças na comunidade, com o propósito
de oferecer bases científicas para o aprimoramento de estratégias aplicadas ao seu controle
(Langmuir 1971 apud Waldman, 2012).

2.3.2. Vigilância em saúde pública e suas funções essenciais


No elenco de funções consideradas essenciais e próprias do campo da saúde pública,
destacam-se a vigilância epidemiológica, a regulação e fiscalização sanitária, ambas integradas
com a denominação única de vigilância sanitária, assim como a pesquisa voltada à avaliação da

16
eficácia/efetividade de intervenções, acessibilidade e qualidade dos serviços de saúde e a
investigação e desenvolvimento de soluções inovadoras em saúde pública.

O adequado controle sanitário de produtos, insumos, tecnologias médicas, riscos


ambientais e serviços, pressupõe a utilização, de forma articulada, de algumas funções essenciais
de saúde pública, merecendo destaque: a vigilância epidemiológica, a regulação, a fiscalização
sanitária e a pesquisa (Muñoz e cols 2000; Waldman & Freitas 2008 apud Waldman, 2012).
Exemplifica-se, comentando as potenciais implicações em saúde pública, da introdução de novas
técnicas de criação intensiva de animais para produção de alimentos de consumo humano e a
necessidade da aplicação articulada da regulação, fiscalização sanitária - ambas englobadas na
vigilância sanitária -, vigilância epidemiológica e da pesquisa.

Num evento de pandemia pelo vírus influenza A H1N1, uma das hipóteses consideradas
foi a de que o início da disseminação do novo vírus teria ocorrido em alguma empresa de criação
intensiva de porcos. Isso porque, o confinamento de elevado número de suínos eleva o risco de
circulação do vírus influenza entre eles, por sua vez, a presença de humanos que atuam como
criadores, nesses ambientes, aumenta a probabilidade de que um desses criadores, albergando o
vírus da gripe humana, infecte-se também pelo vírus influenza suíno, criando condições
favoráveis para a recombinação dos dois vírus, resultando em uma nova estirpe que passa a
disseminar-se rapidamente na população humana, criando potencialmente uma situação de
emergência de saúde de âmbito internacional (Shinde et al 2009 apud Waldman, 2012).

Para a prevenção e controle de situações como essa, é indispensável a ação regulatória e


de fiscalização sanitária nesse tipo de atividade econômica. Além disso, é a vigilância
epidemiológica que garante a identificação precoce de epidemias decorrentes de agentes
emergentes, enquanto, a pesquisa deve assumir a responsabilidade pela rápida caracterização
desse novo vírus e o desenvolvimento da vacina específica (Fraser et al 2009 apud Waldman,
2012).

2.3.3. Abrangência da vigilância


A vigilância em saúde foi originalmente aplicada às doenças infecciosas, mas
progressivamente sua abrangência foi se ampliando para outros tipos de agravos, entre os quais
podemos citar: malformações congênitas, traumas e lesões, eventos adversos associados ao uso

17
de tecnologias de saúde, doenças associadas às exposições ambientais e doenças crônicas.
Constitui também importante instrumento para identificar doenças novas, comportamentos
modificados de doenças já conhecidas, doenças que ocorrem em situações inusitadas, assim
como para o monitoramento do impacto de intervenções (Waldman, 2012).

A crescente importância em saúde pública das doenças de decurso crônico (infecciosas e


não infecciosas) e o fato das mesmas apresentarem longos períodos de latência entre a exposição
e a doença, torna necessário o acompanhamento de mudanças na prevalência de determinadas
exposições na população ou em grupos populacionais definidos, que possam a médio ou longo
prazo, modificar a tendência da ocorrência dessas doenças. Em consequência, tivemos a
ampliação da abrangência da vigilância que além de eventos adversos à saúde, passa também a
acompanhar a prevalência de fatores de risco com o objetivo de fundamentar estratégias de
prevenção, avaliar sua efetividade e prever o aumento da incidência de doenças, como por
exemplo, a elevação da obesidade e de doenças cardiovasculares (Morabia 1996 apud Waldman,
2012).

2.3.4. Características gerais dos sistemas de vigilância


A vigilância em saúde não abrange somente a coleta de dados sobre o comportamento de
específicos eventos adversos à saúde em uma população definida, mas também a
responsabilidade de analisar essa informação à luz do conhecimento científico e elaborar as
bases técnicas que subsidiarão os serviços de saúde no estabelecimento e aplicação de
intervenções efetivas (Waldman, 2012).
A vigilância deverá adequar-se às peculiaridades de cada sistema de saúde, no entanto,
deverá apresentar três características que lhe são próprias: ser simples, de baixo custo e contínua,
esta última característica a diferencia da pesquisa. Por outro lado, deve ter obrigatoriamente três
componentes: i) coleta de dados; ii) análise dos dados; iii) a ampla distribuição das informações
analisadas (Waldman 1991; Lee et al 2010 apud Waldman, 2012).

A aplicação da vigilância em saúde abrange o acompanhamento de qualquer doença ou


tipo de evento adverso à saúde, podendo ser desenvolvida na forma de vigilância ativa ou passiva
e utilizar todas as fontes de informações necessárias e disponíveis (Waldman, 2012).

18
As características de um determinado evento adverso à saúde assim como da intervenção
necessária para o seu controle, condicionam o delineamento e a estratégia de desenvolvimento do
sistema de vigilância correspondente. Por exemplo, se o objetivo é prevenir a disseminação de
uma doença como a SARS-CoV, será indispensável que a vigilância seja global e necessário que
ela obtenha informação com agilidade e tão completa quanto possível, disseminado diariamente
as informações já analisadas, por meio de um Boletim Epidemiológico. Para tanto, deverá
identificar as fontes de informação mais adequadas e os usuários preferenciais das informações
disseminadas pelos Boletins Epidemiológicos (Nsubuga et al 2006 apud Waldman, 2012).

Quando se trata de doença com caráter crônico, onde o comportamento da mesma e a


prevalência dos fatores de risco mudam mais lentamente ao longo do tempo, a periodicidade da
coleta da informação, assim como da disseminação das mesmas já analisadas poderá obedecer a
intervalos mais amplos. Em resumo, para diferentes sistemas de vigilância com diferentes
objetivos e ações necessárias para atingi-los, necessitamos distintas fontes e fluxos de
informações (Nsubuga et al 2006 apud Waldman, 2012).

O princípio básico da vigilância é o de que deve ser delineada e implementada para


oferecer às autoridades sanitárias informações válidas (verdadeiras), no momento oportuno e ao
menor custo possível (Nsubuga et al 2006 apud Waldman, 2012).

Ao planejarmos um sistema de vigilância é importante considerarmos que o mesmo


poderá variar em metodologia, abrangência e objetivos, sendo também necessária a sua
adequação ao nível de complexidade e grau de desenvolvimento tecnológico dos sistemas de
saúde em que será implantada (CDC 1992 apud Waldman, 2012).

O uso da vigilância em um determinado sistema de saúde deverá ter uma ou mais das
seguintes finalidades (Lee et al, 2010 apud Waldman, 2012):
1. Identificar novas doenças ou eventos adversos à saúde.
2. Detectar epidemias e documentar a disseminação de doenças.
3. Estimar a magnitude da morbidade e mortalidade causadas por determinados agravos.
4. Identificar grupos e fatores de risco envolvendo a ocorrência de doenças, assim como
resíduos de fontes de infecção e de suscetíveis.

19
5. Recomendar, com bases objetivas e científicas, as medidas necessárias para prevenir ou
controlar a ocorrência de específicos agravos à saúde.
6. Avaliar o impacto de medidas de intervenção e a adequação das táticas e estratégias
aplicadas.
7. Revisar práticas antigas e atuais de sistemas de vigilância com o objetivo de propor novos
instrumentos metodológicos.

O uso regular da vigilância como instrumento de saúde pública pressupõe a existência de


programas continuados de formação e treinamento de recursos humanos, especialmente, de
epidemiologistas de campo. Por outro lado, é indispensável a avaliação periódica do desempenho
dos sistemas de vigilância, pois se de um lado, constitui instrumento simples e de baixo custo,
por outro, seu uso somente se justifica, caso fique demonstrada a sua utilidade. A avaliação de
sistemas de vigilância dispõe de metodologia própria, a qual será apresentada mais à frente, neste
capítulo (Waldman, 2012).

2.3.5. Critérios de identificação de prioridades


Para a identificação de prioridades para o desenvolvimento de sistemas de vigilância em
saúde devemos utilizar três critérios:
i) a magnitude do dano que toma como indicadores, taxas de incidência e prevalência e de
mortalidade, assim como a letalidade associada ao evento sob análise;
ii) ii) a vulnerabilidade do dano, que avalia a existência de grupos ou de fatores de risco ou
fatores de prognóstico suscetíveis a medidas específicas de intervenção, ou seja, a existência
de medidas específicas e eficazes de profilaxia e controle;
iii) iii) gravidade do dano, que avalia o impacto social e econômico da doença ou evento
adverso à saúde (índice de Produtividade Perdida; dias de Incapacidade no leito, dias de
trabalho perdido).

2.3.6. Aplicações da Vigilância Epidemiológica


São comuns às diferentes aplicações da vigilância em saúde. No entanto, como a vigilância é
um instrumento de uso abrangente no campo da saúde pública, existem alguns aspectos
particulares que devem ser observados conforme o foco de sua aplicação. Buscaremos assinalar
resumidamente as especificidades das principais aplicações da vigilância epidemiológica
(Waldman, 2012).

20
A. Vigilância de Doenças Infecciosas
As doenças infecciosas constituem não só a área de aplicação mais tradicional da vigilância,
mas também aquela em que o seu uso se faz de maneira mais extensa e diversificada, em virtude
de algumas características de seu comportamento, que consideradas em seu conjunto justificam a
sua manutenção na agenda de prioridades em saúde pública, a despeito de, em termos relativos, a
sua magnitude ter diminuído em comparação aos demais grupos de doenças. Entre tais
características, duas merecem destaque entre as que justificam a afirmação feita no parágrafo
anterior: a sua imprevisibilidade e o potencial para criar situações de grande impacto global, seja
em termos de morbi-mortalidade com repercussões até na estrutura demográfica de países mais
vulneráveis, seja em termos econômicos (Faucci & Morens 2012 apud Waldman, 2012).

B. Farmacovigilância
A farmacovigilância é o principal instrumento disponível pela saúde pública para conhecer o
perfil de segurança das tecnologias de saúde, constituindo hoje uma das mais importantes
aplicações da vigilância em saúde (Waldman et al 2011 apud Waldman, 2012). A sua origem
está de certa forma vinculada a investigação, em 1961, de uma epidemia de uma má-formação
congênita, extremamente rara, conhecida como focomelia, que atingiu milhares de crianças em
vários países. Os resultados dessa investigação apontaram a associação dessa má-formação com
o uso da talidomida durante a gravidez (Lenz 1962 apud Waldman, 2012). A revisão dos
protocolos das pesquisas realizadas previamente a comercialização deste fármaco, revelou que os
resultados eram insuficientes para sua aprovação e, alem disso, teriam sido erroneamente
interpretados (Laporte & Tognoni 1993 apud Waldman, 2012). Esse evento determinou
mudanças significativas na regulamentação dos procedimentos para o licenciamento e
comercialização de novos medicamentos e vacinas (WHO 2002 apud Waldman, 2012).

C. Vigilância ambiental
A vigilância ambiental requer a coleta, análise e disseminação de informações sobre
exposições ambientais potencialmente de risco e desfechos. Os desfechos de saúde de interesse
podem ser tanto óbitos como doenças, as exposições ambientais potencialmente de risco
abrangem os agentes químicos, físicos e biológicos encontrados no ar, água, solo e alimentos.
Estabelecer a associação entre esses desfechos e específicas exposições ambientais

21
potencialmente de risco, é um dos principais objetivos dessa aplicação da vigilância (Nsubuca et
al. 2006 apud Waldman, 2012).

D. Vigilância de traumas e lesões


Traumas e lesões constituem atualmente um dos mais relevantes problemas de saúde
pública, situando-se entre as dez principais causas de mortalidade em todo o mundo, sendo
responsável por cerca de cinco milhões de óbitos anualmente e causa de elevadas taxas de
incapacidade. Indivíduos de todos os estratos socioeconômicos estão sujeitos a risco de traumas e
lesões, porem as taxas de óbitos, por essa causa, são mais elevadas em países em
desenvolvimento (Nsubuca et al. 2006 apud Waldman, 2012).
A vigilância de traumas e lesões inclui o monitoramento da incidência, causas e
circunstâncias em que ocorrem casos fatais e não fatais, que podem ainda, ser classificados em
não intencionais e intencionais. (Holder et al 2001 apud Waldman, 2012).

E. Vigilância de doenças crônicas


O desenvolvimento de políticas de promoção da saúde pressupõe avaliações confiáveis da
magnitude de doenças e de eventos adversos à saúde, assim como de informações do custo
efetividade de intervenções e de estratégias. Todos esses pontos são críticos quando tratamos de
doenças não infecciosas, em sua maioria de evolução crônica (Nsubuga et al 2006 apud
Waldman, 2012).
Em 1999, estimava-se que as doenças não transmissíveis causaram aproximadamente 60%
dos óbitos em todo o mundo e as previsões da OMS, para 2020, com referência a países em
desenvolvimento ou recentemente industrializados são de que haverá um aumento de cerca de
50% nos óbitos por essas causas (Nsubuga et al 2006) apud Waldman, 2012.
Hipertensão, hipercolesterolemia, tabagismo, alcoolismo, obesidade e inúmeras doenças
associadas a esses fatores de risco, constituem problemas relevantes em saúde pública em todo o
globo.
A vigilância de fatores de risco, até recentemente, era desenvolvida somente em países
industrializados, no entanto, por iniciativa da OMS, temos assistido uma expansão da utilização
desse instrumento de forma a permitir a comparabilidade de dados entre diferentes países, no
entanto, os resultados ainda se mostram frágeis nos países em desenvolvimento (WHO 2003
apud Waldman, 2012).

22
3. CONCLUSÃO
A transição nutricional refere-se a modificações no perfil nutricional da população, caracterizada
pela redução da prevalência de desnutrição e aumento da prevalência da obesidade. Em meio a
essa mudança no perfil nutricional, destaca-se como causa e consequência a transição
epidemiológica, marcada por um modelo polarizado de transição que se caracteriza pela
coexistência de doenças infecciosas e não transmissíveis. A transição nutricional pela qual a
sociedade tem passado é caracterizada por uma dieta extremamente calórica, rica em açúcares e
gorduras, e insatisfatória quanto ao aporte nutricional, revelando as consequências que uma
alimentação sem qualidade pode trazer do ponto de vista da saúde. O surgimento e/ou
agravamento de patologias como a obesidade, a desnutrição, as dislipidemias, hipertensão,
diabetes, cardiopatias, dentre outras, além da diminuição qualidade de vida da população, estão
intimamente ligadas à alimentação do indivíduo.

23
3.1. Referências bibliográficas
 Batista Filho, M., Assis, AM., e Kac, G. 82007). Transição nutricional: conceito e
características. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz/Atheneu, pp. 445-460.
 Batista Filho, M.; Souza, A. I.; Miglioli, T. C.; Santos, M. C. (2008). )Anemia e obesidade:
um paradoxo da transição nutricional brasileira. Cad. Saúde Pública. Vol.24.
 Francischi, R. P. P. et al. (2000). Obesidade: atualização sobre sua etiologia, morbidade e
tratamento. Rev. Nutr. vol.13.
 Kac, G; e Meléndez, G. V. (2003). A transição nutricional e a epidemiologia da obesidade na
América Latina. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 19 (Sup. 1):S4-S5.
 Monteiro, C. A.; Mondini, L.; Costa R. B. L. (2000). Mudanças na composição e adequação
nutricional da dieta alimentar nas áreas metropolitanas do Brasil (1988-1996). Revista de
Saúde Pública, v. 34, n. 3, p.251-58.
 Oliveira, R. C. (2004). A transição nutricional no contexto da transição demográfica e
epidemiológica. Rev. Min. Saúde púb., a.3 , n.5 , p.16-23 – Jul./Dez.
 Pereira, R. A; Alves-Souza, R. A; e Vale, J. S. (2015). O processo de transição
epidemiológica no brasil: uma revisão de literatura. Revista Científica da Faculdade de
Educação e Meio Ambiente 6(1): 99-108, jan-jun.
 Pinheiro, A. R. O; Freitas, S. F. T; e Corso, A. C. T. (2004). Uma abordagem epidemiológica
da obesidade. Rev. Nutr., Campinas, 17(4):523-533, out./dez.,
 Pontes, R. J. S; Júnior, A. N. R; Kerr, L. R. S; e Bosi, M. L. M. (2009). Transição
Demográfica e Epidemiológica. em: https://www.researchgate.net/publication/275336326.
 Queiroz, F. L. N. (2008). Alimentação regional saudável em unidades produtoras de
refeições do sudeste brasileiro. 2008. 119 f. Dissertação (Mestrado em Nutrição Humana)-
Universidade de Brasília, Brasília.
 Schramm, J. M. A; Oliveira, A. F; Leite, I. C; Valente, J. G; Gadelha, A. M. J; Portela. M. C;
e Campos, M. R. (2004). Transição epidemiológica e o estudo de carga de doença no Brasil.
Ciência & Saúde Coletiva, 9(4):897-908.
 Waldmam, E. A. (2012). Vigilância como prática de saúde pública: Conceitos, Abrangência,
Aplicacações e Estratégias. In: Campos, GWS, Minayo, MCS, Bonfim JRA, Akerman, M,
Drumond Júnior, M e Carvalho, YM (orgs). Tratado de Saúde Coletiva, cap 15, pag 513-555,
Hucitec Editora Ltda, São Paulo.

24

Você também pode gostar