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Ciência da Madeira (Braz. J. Wood Sci.), Pelotas, v. 03, n. 01, p.

22-32, Maio de 2012


ISSN: 2177-6830

PROPOSTA DE PROGRAMA DE SECAGEM PARA A MADEIRA DE “GUAJARÁ”


(Micropholisvenulosa Mart. etEichler) Pierre, SAPOTACEAE

Djeison Cesar Batista1; Ricardo Jorge Klitzke2; Marcio Pereira da Rocha3

Resumo: A secagem da madeira é uma etapa imprescindível na geração de produtos de maior


valor agregado. O objetivo deste trabalho foi propor um programa de secagem em câmara
convencional para a madeira de guajará (Micropholisvenulosa) a partir do ensaio de taxa de
secagem a 100°C em amostras de pequenas dimensões. A avaliação da metodologia utilizada
constituiu o objetivo secundário deste trabalho. As equações aplicadas geraram as seguintes
informações para a construção do programa de secagem: temperatura inicial de bulbo seco
igual a 49°C, temperatura final de bulbo seco igual a 74°C e potencial de secagem igual a 1,7.
O ensaio de taxa de secagem mostrou que o guajará é uma espécie de secagem lenta,
devendo-se tomar as devidas precauções na condução da secagem para a obtenção de
produtos de maior valor agregado. A metodologia mostrou-se confiável, gerando parâmetros
adequados para o desenvolvimento de programas de secagem para uma espécie de
comportamento de secagem pouco conhecido. No entanto, o conhecimento prévio das
propriedades da madeira (anatômicas e físicas) suplantou a informação do potencial de
secagem (1,7), fornecido pela equação matemática na construção do programa de secagem.
Palavras-chave: Ensaio de taxa de secagem; madeira tropical; piso.

PROPOSAL OF DRYING SCHEDULE FOR “GUAJARÁ” WOOD


(Micropholisvenulosa Mart. etEichler) Pierre, SAPOTACEAE

Abstract: Kiln drying of wood is a very important step in the production of higher value
products. The aim of this work was to propose a drying schedule for conventional kiln drying
of guajará wood (Micropholisvenulosa) based on the drying tax test at 100°C with small
samples. The evaluation of the methodology was the secondary aim of the study. The utilized
equations resulted in the following information for drying schedule development: initial dry
bulb temperature of 49°C (322°F), final dry bulb temperature of 74°C (347°F) and potential

1
Engenheiro Florestal, M.Sc., Professor Assistente do Departamento de Ciências Florestais e da Madeira,
Universidade Federal do Espírito Santo, Jerônimo Monteiro, Espírito Santo, <djeison.batista@ufes.br>.
2
Engenheiro Florestal, D.Sc., Professor Adjunto do Departamento de Engenharia e Tecnologia Florestal,
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Paraná, <rklitzke@ufpr.br>.
3
Engenheiro Florestal, D.Sc., Professor Adjunto do Departamento de Engenharia e Tecnologia Florestal,
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Paraná, <mprocha@ufpr.br>.

Recebido em: 27/05/2011 e aceito em: 07/03/2012.


Batista et al.

of drying equal to 1.7. The drying tax test showed that guajará is a low drying species, in
which should be taken proper precautions on the kiln run in order to produce higher added
value products. The methodology utilized was proper for the generation of reliable parameters
for the development of a drying schedule for a species of unknown behavior in drying.
Although, previous knowledgment of wood properties (anatomical and physical) supplanted
the value of drying potential (1.7) generated by the mathematical equation in the development
of the drying schedule.
Keywords: drying tax test; tropical wood; wood flooring.

1 INTRODUÇÃO

A espécie “guajará” (Micropholisvenulosa), também conhecida como curupixá e


rosadinho, é nativa da flora brasileira, de ocorrência natural nos estados do Amazonas,
Rondônia, Pará e Maranhão (INSTITUO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS-IPT, 2010a),
portanto, conhecida como espécie de madeira tropical, em distinção às espécies plantadas.
O guajará tem sido estudado recentemente como uma espécie tropical alternativa para a
geração de produtos de maior valor agregado, tais como pisos maciços e engenheirados, tendo
em vista a escassez das espécies mais utilizadas na geração destes produtos. De acordo com
informações do IPT (2010a), a madeira de guajará apresenta cerne e alburno indistintos pela
cor, bege rosado, brilho moderado, cheiro e gosto imperceptíveis, densidade média, dura ao
corte, grã ondulada à direita e textura fina.
De acordo com dados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (IBAMA, 2011), a madeira de guajará possui densidade básica de 0,67 g/cm³, o
que a classifica como espécie de densidade média. Ainda segundo IBAMA (2011), a madeira
e guajará possui contração total radial, tangencial e volumétrica respectivas de 4,7%, 9,7% e
14,0%, resultando em coeficiente de anisotropia de contração igual a 2,0, o que a classifica
como de estabilidade dimensional média.
A secagem é uma etapa obrigatória para a conversão da madeira em produtos de maior
valor agregado, pois confere melhoria em várias propriedades, tais como redução de massa,
aumento da resistência mecânica, redução da anisotropia de contração, aumento da resistência
a organismos xilófagos, dentre outras. Na confecção de produtos de maior valor agregado a
secagem da madeira também é imprescindível por tornar propícios os acabamentos, colagem e
revestimentos.

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Na secagem da madeira realizada em câmara convencional são aplicados programas de


secagem visando obter a qualidade desejada para a geração de produtos de maior valor
agregado. As diferentes espécies florestais exigem profundo conhecimento tecnológico de
suas propriedades para o desenvolvimento dos programas de secagem. Além dos fatores
inerentes à espécie, a secagem da madeira também é influenciada por características do
ambiente de secagem, tipo de equipamento e sua correta operação, dentre outras.
De acordo com Klitzke (2007), as características mais relevantes concernentes à espécie
que são mais relevantes na secagem da madeira são anatomia, densidade e anisotropia de
contração e inchamento. O conhecimento das propriedades tecnológicas da madeira a secar,
portanto, são muito importantes quando se deseja desenvolver programas de secagem.
Com respeito à anatomia de angiospermas dicotiledôneas, os elementos de vasos são as
principais células responsáveis pelo transporte de líquidos no vegetal, e também exercem
papel fundamental na secagem de madeiras. As fibras são responsáveis pela sustentação do
vegetal e exercem papel secundário na condução de líquidos e, somadas aos elementos de
vasos constituem a maior proporção do lenho das angiospermas dicotiledôneas (BURGER;
RICHTER, 1991). Assim, entender as características destes dois tipos celulares, bem como a
forma de comunicação entre eles é importante para a secagem da madeira.
Costa (2006) desenvolveu um estudo sobre a anatomia de madeiras da família
Sapotaceae, incluindo onze espécies de Micropholis spp., dentre elas a espécie
Micropholisvenulosa. Segundo a autora, os resultados obtidos das onze espécies estudadas
são característicos para todo o gênero, salvo algumas exceções, e são descritos a seguir:
porosidade difusa; vasos múltiplos de dois e três predominantes, ocorrendo também vasos
solitários e eventualmente múltiplos de quatro ou mais; diâmetro tangencial médio dos lumes
dos vasos de 64 µm; 25 vasos/mm²; placa de perfuração simples; pontoação intervascular
pequena, com diâmetro médio de 4 µm; presença de tilos comuns e esclerificados nos vasos (a
presença não se aplica a todos os vasos em um mesmo espécime).
Portanto, de acordo com os resultados da anatomia da madeira de Micropholis spp.
obtidos por Costa (2006), a madeira de guajará apresenta aspectos que dificultam a secagem,
como elementos de vasos e pontoações intervasculares de diâmetro pequeno, além da
presença de tiloses (ainda que não seja abundante), que obstruem a movimentação de líquidos
no interior dos elementos de vaso.
O objetivo principal do trabalho foi propor um programa de secagem em câmara
convencional para a madeira de guajará (Micropholisvenulosa). A avaliação da metodologia
utilizada constituiu o objetivo secundário deste trabalho.

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2 MATERIAL E MÉTODOS

A metodologia foi embasada no pressuposto de Terazawa (1965) citado por Brandão


(1989), a qual estabelece que pequenas amostras de madeira quando submetidas ao ensaio de
taxa de secagem a altas temperaturas, apresentam comportamento semelhante em secagem
convencional. Embasado nessa metodologia, Ciniglio (1998) obteve equações de regressão
linear simples para a determinação dos parâmetros do programa de secagem ― temperatura
inicial de bulbo seco, temperatura final de bulbo seco e potencial de secagem, os quais foram
utilizados no trabalho.
A madeira de guajará utilizada neste trabalho foi amostrada de pilhas de tábuas verdes
que seriam utilizadas na produção de pisos maciços em uma indústria da Região
Metropolitana de Curitiba, Paraná. Foram amostradas catorze tábuas com as dimensões
nominais de 30 mm de espessura por 150 mm de largura e com 2000 mm de comprimento.
De cada tábua foi retirado um corpo de prova da porção central para o ensaio de taxa de
secagem, com as dimensões nominais de 30 x 150 x 250 mm, e dois corpos de prova de
umidade inicial das extremidades daquele com 50 mm de comprimento, de acordo com a
Figura 1.

2000 m m
15 0 mm

CORPO DE UI
30 mm PROVA
UI

50 m m
25 0 mm
50 mm

Figura 1. Esquema de amostragem dos corpos de prova.


Figure 1. Specimens sampling scheme.
UI: umidade inicial.

Depois de confeccionados e devidamente identificados, os corpos de prova de umidade


inicial foram pesados em balança digital com precisão 0,01 g, determinando-se a massa
úmida. Em seguida, foram levados à estufa a 103 ± 2 °C e foram repetidamente pesados até
obterem massa seca constante. A umidade inicial foi determinada pelo método gravimétrico,
de acordo com a Equação 1.

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(MU − MS)
UI = x 100 (Equação 1)
MS
Em que UI = umidade inicial (%); UM = massa úmida (g); MS = massa seca (g).

Os corpos de provado ensaio de taxa de secagem foram inicialmente selados nos topos
com acetato de polivinila e tiveram a massa inicial determinada em balança digital (0,01 g).
Com paquímetro digital (0,01 mm de precisão) mediu-se a espessura, a largura e o
comprimento dos corpos de prova, para determinação da área, que foi utilizada nas Equações
4, 5 e 6. Em seguida, os corpos de prova foram levados à estufa (pré-aquecida), sem
circulação de ar, à temperatura constante de 100 °C.
Durante o ensaio de taxa de secagem acompanhou-se o número de rachaduras de topo
(análise visual) e a perda de massa, em balança digital (0,01 g de precisão), em intervalos de
três em três horas. O tempo médio de ensaio foi de 120 horas.
A perda de umidade neste ensaio foi acompanhada com base na Equação 2
(BRANDÃO, 1989).

MA(UI + 100)
UA = [ ] − 100 (Equação 2)
MI
Em que: UA = teor de umidade do corpo de prova em um instante qualquer (%) ; MA =
massa do corpo de prova nesse mesmo instante (g); UI = umidade inicial do corpo de prova
(%); MI = massa inicial do corpo de prova (g).

O ensaio de taxa de secagem foi encerrado quando os corpos de prova atingiram a


massa estimada a 5% de umidade. Para tal, foram utilizadas as Equações 3 e 4 (GALVÃO;
JANKOWSKY, 1985).

(100 x MI)
ME % = (Equação 3)
(100 + UI)
1 + X%
M % = MSE( ) (Equação 4)
100
Em que: ME0% = massa estimada a 0% de umidade(g); MX% = massa a X% de umidade (g).

Neste trabalho foram avaliadas as seguintes taxas de secagem: desde a condição de


umidade verde até 30% (taxa capilar), de verde a 5% e de 30% até 5% (taxa higroscópica).
Para tal, utilizaram-se, respectivamente, as Equações 5, 6 e 7.

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(MV − M % )
TS % = (Equação 5)
(T % x A)

(MV − M % )
TS % = (Equação 6)
(T % x A)

(M % − M %)
TS % % = (Equação 7)
(T % % x A)

Em que: TS x-y = taxa de secagem de um teor de umidade x a outro y (g/cm².h); MV = massa


verde, acima do PSF% (g); MX = massa a um determinado teor de umidade x (g); Tx-y =
tempo de secagem de um teor de umidade x a outro y (horas); A = área superficial do corpo
de prova (cm²).

Para a determinação da massa a 30% de umidade utilizou-se a Equação 4.


Terminado o ensaio de taxa de secagem, os dados obtidos foram aplicados às Equações
8, 9 e 10, obtidas por Ciniglio (1998), a seguir.

Temperatura inicial de bulbo seco= 27,9049 + 0,7881TVERDE-


(Equação 8)
30% + 419,0254TS % % + 1,9483R1

Temperatura final de bulbo seco= 49,2292 + 1,1834TVERDE-


(Equação 9)
30% + 2738685TS % + 1,0754R3

Potencial de secagem= 1,4586 – 304418TS % +


(Equação 10)
42,9653TS % % + 0,1424R2
Em que: R1 = rachaduras de topo, de verde a 5%; R2 = rachaduras de topo, de verde a 30%;
R3 = rachaduras de topo, de 30% a 5%.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A umidade inicial média obtida pelos corpos de prova do ensaio de taxa de secagem foi
de 55%. Andrade et al. (2001) estudaram o comportamento da taxa de secagem de treze
espécies e obtiveram umidade inicial média dos corpos de prova variando de 48,3%
(Eucalyptus tereticornis) a 162,7% (Pinus caribaea). A umidade inicial tem particular
influência na taxa de secagem capilar (verde a 30% de umidade), uma vez que quanto maior a

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umidade inicial, maior a massa de água retirada. No entanto, deve-se ressaltar que a água
capilar é aquela retirada com mais facilidade da madeira (SKAAR, 1972), demandando menor
tempo para sua secagem.
De acordo com a umidade inicial média dos corpos de prova a madeira encontrava-se
verde, o que validou a metodologia utilizada.
Na Tabela 1 são apresentadas as médias de taxa de secagem obtidas no ensaio a 100°C.

Tabela 1. Médias de taxa de secagem a 100°C para a madeira de guajará.


Table1. Averages of drying tax test at 100°C of guajará wood.
Taxa de secagem Média (g/cm².h)
Verde a 30% de umidade 0,0052
Verde a 5% de umidade 0,0109
De 30 a 5% de umidade 0,0034

As médias de taxa de secagem foram comparadas com as obtidas por Batista (2009)
para as espécies Eucalyptus saligna, Eucalyptus grandis e Eucalyptus dunnii, porque as
espécies de eucalipto são classificadas como de difícil secagem. Constatou-se que as médias
de taxa de secagem do guajará foram inferiores àquelas obtidas para as espécies de eucalipto,
portanto, espera-se que o guajará também seja uma espécie de secagem lenta.
As médias de taxa de secagem do guajará também foram comparadas àquelas obtidas
por Andrade et al. (2001) e constatou-se que foram inferiores às treze espécies estudadas
pelos autores. Quanto à taxa de secagem, o guajará se assemelhou mais a espécie itaúba
(Mezilaurus itauba), que apresentou taxas de secagem capilar, de verde a 5%, e de 30 a 5%
respectivamente iguais a 0,0085 g/cm².h, 0,0171 g/cm².h e 0,0049 g/cm².h. Assim, a espécie
itaúba foi considerada um bom comparativo, por apresentar densidade básica média de 0,69
g/cm³ (ANDRADE et al., 2001), próxima à média de 0,66 g/cm³ do guajará, e por serem
ambas espécies nativas da Região Amazônica (IPT, 2010b), portanto, classificadas
genericamente como madeiras “tropicais”.
O tempo médio de secagem desde a condição verde até 30% de umidade foi de 17,4h e
foram constatadas 2,5 rachaduras de topo, em média, ao longo de todo o ensaio de taxa de
secagem. Essas informações, aliadas às médias de taxa de secagem, resultaram nos
parâmetros para o desenvolvimento do programa de secagem para a madeira de guajará, a
saber: temperatura inicial de bulbo seco= 49°C; temperatura final de bulbo seco= 74°C;
potencial de secagem= 1,7.
A partir dessas informações foi elaborado um programa de secagem do tipo umidade-
temperatura para tábuas de até 28 mm, levando-se em consideração, também, o potencial de

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secagem, visando à produção de produtos de maior valor agregado. Para tábuas de dimensões
superiores, o programa de secagem deve ser modificado para condições mais amenas, de
acordo com a necessidade.
Chimelo et al. (1990) prepararam um programa de secagem para a espécie grumixava
(Micropholis gardnerianum), pertencente ao mesmo gênero do guajará, e utilizaram
temperatura inicial de bulbo seco (acima do PSF) de 50°C e temperatura final de bulbo seco
(a 10% de umidade) igual a 70°C. O potencial de secagem médio utilizado na fase
higroscópica de secagem foi de 2,5. Portanto, as temperaturas inicial e final de bulbo seco
geradas pelas equações encontram-se próximas às utilizadas por Chimelo et al. (1990),porém,
o potencial de secagem obtido foi abaixo do sugerido por estes autores. Esta comparação
entre espécies do mesmo gênero, no entanto, apenas norteia o técnico na elaboração de
programas de secagem para espécies pouco conhecidas, porque mesmo pertencendo ao
mesmo gênero, duas espécies podem ter comportamentos de secagem distintos. Esta teoria já
foi elucidada para espécies de Eucalyptus spp. (BATISTA, 2009), porém, necessitaria de
posterior elucidação para espécies nativas tropicais.
Na Tabela 2, a seguir, encontra-se o programa de secagem proposto para madeira de
guajará de até 28 mm, a partir da condição verde de umidade inicial e um teor de umidade
final desejado de 7%.

Tabela 2. Programa de secagem (condições desejadas) elaborado para a madeira e guajará


(Micropholisvenulosa).
Table 2. Drying schedule (wished conditions) developed for guajará wood
(Micropholisvenulosa).
TBS –
Umidade TBS TBU UE
Etapa TBU UR (%) PS
(%) (°C) (°C) (%)
(C°)
Aquecimento >30 49 49 0 100 - -
30 49 46 3 84 16 1,9
25 54 49 5 77 13 1,9
20 59 51 8 66 10 2,0
15 64 52 12 54 7,5 2,0
Secagem
10 69 50 19 37 5 2,0
7 74 49 25 25 3,5 2,0
Uniformização 5 74 61 13 54 7 -
Condicionamento 7 74 69 6 75 11 -
TBS = temperatura do bulbo seco (C°); TBU = temperatura do bulbo úmido (C°); UR = umidade relativa (%);
EU = umidade de equilíbrio (%); PS = potencial de secagem.

Iniciada a etapa de secagem propriamente dita, fixou-se o potencial de secagem entre


1,9 e 2,0, apesar da equação ter gerado o valor de 1,7. Essa medida foi adotada porque, para

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Batista et al.

espécies de eucalipto, conhecidamente de difícil secagem, os potenciais de secagem sugeridos


por diversos autores (CINIGLIO, 1998; SEVERO, 1998; ANDRADE et al., 2001;
BARBOSA et al., 2005) varia entre 2,0 e 2,5. Os potenciais de secagem utilizados para os
eucaliptos são considerados baixos por serem espécies que apresentam tensões de
crescimento, pequenos diâmetros de elementos de vasos e presença de tiloses, dentre outras
razões. Portanto, espera-se que a madeira de guajará não seja tão difícil de secar quanto os
eucaliptos, já que não apresentam tensões de crescimento tão acentuadas (espécie nativa, de
desenvolvimento natural) e por não possuir obstruções por tiloses tão marcantes (COSTA,
2006). Ainda, deve-se ressaltar que o potencial de secagem utilizado foi considerado
moderado, assim como o programa como um todo.
Andrade et al. (2001) desenvolveram um programa de secagem para a madeira de itaúba
com potencial de secagem entre 2,0 e 2,1 no limite higroscópico. Como discutido
anteriormente, a madeira de guajará apresentou médias de taxa de secagem semelhantes à
espécie itaúba estudada por Andrade et al. (2001), fato que auxilia na justificativa da
utilização de um potencial de secagem superior aos 1,7 gerados pela Equação 10.
A umidade final da madeira no programa foi estabelecida em 7% por simular a
utilização desta para a produção de pisos maciços, uma vez que a umidade final da madeira
está ligada ao produto final (PONCE; WATAI, 1985).
Da mesma maneira, estão propostas no programa as etapas de uniformização e
condicionamento: a uniformização é necessária porque os pisos maciços são produtos que
demandam uniformidade quanto à umidade final, buscando-se atingir padrões aceitáveis de
qualidade e o objetivo do condicionamento é deixar a madeira livre de tensões de secagem,
para que não ocorram empenamentos após as etapas posteriores de usinagem das peças.
Como todo programa de secagem, aquele desenvolvido para a madeira de guajará deste
estudo (Tabela 2) precisa ser testado na prática, devidamente avaliado e modificado de acordo
com as necessidades industriais. O aprimoramento dos programas de secagem é uma busca
constante, pois a redução do tempo de secagem está diretamente relacionada com a qualidade
e a todos os fatores que compõem a planilha de custos operacionais e custo final do produto.
No entanto, a elaboração técnica e criteriosa de programas serve como subsídio para a
secagem de espécies de comportamento pouco conhecido.

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4 CONCLUSÕES

A metodologia mostrou-se confiável, gerando parâmetros adequados para o


desenvolvimento de um programa de secagem para uma espécie de comportamento de
secagem pouco conhecido.
De acordo com o ensaio de taxa de secagem, o guajará (Micropholisvenulosa)
comportou-se como uma espécie de secagem lenta, demandando programas de secagem
suaves.
Embora a metodologia utilizada tenha proposto parâmetros adequados para o
desenvolvimento do programa de secagem, o conhecimento prévio das propriedades da
madeira (anatômicas e físicas) suplantou a informação do potencial de secagem (1,7) gerado
pela equação matemática na construção do programa de secagem.

5 REFERÊNCIAS

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secagem convencional. Scientia Forestalis, Piracicaba, n., p. 89-99, jun. 2001.

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