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REVISTA MAGIS
CADERNOS DE FÉ E CULTURA
PANORAMA RELIGIOSO
DO CATOLICISMO E DO
PROTESTANTISMO NO BRASIL
PANORAMA RELIGIOSO DO CATOLICISMO E DO
PROTESTANTISMO NO BRASIL
Marcelo Camurça
INTRODUÇÃO
Este texto pretende apresentar, de uma maneira suscinta, um panorama das princi-
pais matrizes e desenvolvimentos do Cristianismo no nosso pais, através de uma análise
de suas duas maiores configurações, quais sejam, o Catolicismo e o Protestantismo.
Buscaremos uma abordagem histórico-sociológica embasada nos trabalhos mais conhe-
cidos de especialistas das duas religiões, em que traçaremos a gênese, continuidade,
permanências e transformações destas matrizes no cenário da sociedade brasileira, suas
principais características e implicações sociais, tanto no campo interno destas religiões
(práticas, devoções, doutrinas etc), quanto nas influências passadas e recebidas na rela-
ção com a sociedade maior. Procuraremos estabelecer tipologias do Catolicismo e Pro-
testantismo, que representam modalidades distintas dentro destes grandes campos mar-
cados pelas suas diferenciações internas. Toda a tentativa de constituir tipologias, po-
rém, pode incorrer em reducionismos e esquematismos. Apesar deste risco, nosso inten-
to será o de fornecer uma visão panorâmica e introdutória para os interessados numa
primeira aproximação com este tema complexo, permitindo na seqüência, outros estu-
dos mais aprofundados.
CATOLICISMO
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rísticas comuns em oposição ao terceiro: os Catolicismos Popular e Pós Vaticano II par-
tilham da perspectiva "popular" em relação a perspectiva de "elite" do Romanizado; os
Catolicismos Romanizado e Popular partilham da perspectiva "tradicional" em oposição
a uma "modernidade" do Pós Vaticano II, e os Catolicismos Romanizado e Pós Vatica-
no II partilham de uma perspectiva "institucional" em oposição a marca "espontânea" do
Catolicismo Popular.
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A dinâmica da Paixão/Compaixão imprimirá um tipo comportamento nestas popu-
lações, que segundo Azzi, derivou-se da analogia entre a compaixão que Cristo demons-
trou pelo povo na sua paixão e a atitude que seus seguidores deviam ter. ao aceitar tam-
bém com resignação o sofrimento e manter uma atitude compassiva para com o sofri-
mento alheio, o que no entender deste autor, influiu no sentimento solidário "típico do
povo despojado de bens culturais e materiais na sociedade brasileira" (AZZIR, 1992
p.11)
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populares do Catolicismo, tem o mérito de apesar de todas as ingerências, seguir repro-
duzindo as relações sociais seja de parentesco, seja de vizinhança essenciais a cultura
popular, sobrevivendo nas periferias urbanas e zonas rurais quando confere as classes
populares uma Identidade autoproduzida em contraposição a identidade forjada pelas
elites. (OLIVEIRA, Pedro. R. 1994)
Centrado nos sacramentos, numa rígida moral sexual e no monopólio do clero por
sobre estes sacramentos e pelo ensinamento doutrinário, esta forma de catolicismo fará
do sacerdote o fulcro de todas as iniciativas cabendo ao leigo o seguimento delas. Den-
tre os sacramentos se marcará a centralidade da Eucaristia, concebida como presença
atualizada do Cristo nos Sacrários e ostensórios, objeto de total veneração. Concepção
segundo Antoniazzi, quase que reificada, com ênfase mais no significado que no signif-
cante, "mais no visível que no mistério" (ANTONIAZZI, A. 1990). A simbologia da
Unidade mística em Cristo substituída pela adoração a sua presença explicita na hóstia
exposta no Ostensório, fonte de autoridade e poder. Vale dizer que o sacerdote é minis-
tro exclusivo deste sacramento.
Com relação ao Catolicismo Popular, mantém por um lado, uma atitude "moder-
na" de controle dos seus "excessos" e "supertições", por outro lado, na perspectiva de
sua domesticação, almeja escudar-se nele, partindo desta catolicidade (depois de refrea-
da/contida dos seus elementos leigos e sociais) e fazê-la de anteparo à tendência de lai-
cização em curso na modernidade. Neste sentido, promove a substituição das "relíquias"
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dos Santos do Catolicismo Popular pela "presença viva" do Cristo materializada nos
ostensórios expostos a veneração dos crentes. Perpetram uma critica corretiva "as de-
monstrações exteriores que fazem ruído mas não purificam o coração" (revista "Mensa-
geiro de Jesus") pois defendem expressar a fé católica dentro do recinto do templo sob o
controle do clero em contraposição ao catolicismo popular, leigo e social (AZZI, R.
1992 p. 18). Sua forma organizativa é paroquial, em que a população de determinada
localidade se agrupa em tomo de uma Igreja a cargo do pároco ou de uma Ordem religi-
osa. De lá emanam minunciosas regras provindas dos catecismos cuja a não-observância
deveria ser acusada em confissão e o senso de fé de cada fiel deveria seguir a orientação
desta hierarquia.
Defendem uma renovação no campo bíblico, tendo como enfoque principal uma
visão bíblica da história humana como história de salvação e libertação do homem, ba-
seada na referência ao povo judeu cativo no Egito; sua estrutura de cativeiro e demanda
de libertação. Estimulam uma abertura para a Palavra e a Bíblia na doutrina e liturgia
católicas com a criação de "círculos bíblicos" que realizam suas reuniões mesmo com a
ausência do padre, o que levou alguns autores a falarem de uma "protestantização" da
Igreja Católica. Sua estruturação passa ser menos paroquiana como a do modelo Roma-
no e mais social, espraiada pelos diversos segmentos da sociedade: as Pastorais (CIMI,
CPT, Pastoral do Menor, Operária ele.) Embora organizado e de "vanguarda", ocupa
percentuais ainda pequenos da população católica. Propugnam uma redução da ritualís-
tica: "benção do Santíssimo", procissões, confissão auricular etc. em prol desta postura
mais exegética com a Bíblia e mais militante com a devoção. Realçam a moral social
por sobre a moral sexual, expressa na "opção pelos pobres" (preferencial, não exclusi-
va).
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RELAÇÃO ENTRE AS TRÊS MATRIZES DO CATOLICISMO BRASI-
LEIRO
Nos últimos anos, o Catolicismo Popular passou a ser "descoberto" enquanto algo
relevante tanto pela Hierarquia da Igreja quanto pela sua ala "progressista" junto com
pesquisadores e teólogos ligados ao projeto "transformador". Da evitação e indiferença
passou-se a interação, que desdobra-se em tentativas de controle ou em iniciativas de
diálogo e relação. Do seu lado, o clero e laicato "conservador" almeja fazer do Catoli-
cismo Popular esteio contra a secularização da sociedade e reforço para instituição Igre-
ja. Quanto ao clero e laicato "progressista" com a superação de esquemas positivistas ou
de um marxismo reducionista passam a revalorizar as formas populares de catolicismo
não como um conjunto de práticas irracionais mas como expressão cultural rica e com-
plexa.
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DESDOBRAMENTOS DO CAMPO CATÓLICO E SUA IGREJA
Pela força de sua tradição e identificação com a cultura nacional que redunda nu-
ma penetração capilar nas reentrâncias da nossa sociedade, isto gera uma manutenção
de laços com a população que possui outras práticas religiosas embora considere o Ca-
tolicismo como a Religião: "religião que se nasce e que se tende a permanecer". Nos
momentos de crise procura-se o terreiro de Umbanda ou o Centro Espirita, mas retoma-
se a Igreja quando a situação estiver sanada. A filiação Evangélica é a tradição que es-
capa ao centro inclusivo católico. (ANTONIAZZI, A. 1990) Talvez por isso, a Igreja
continue mantendo uma atitude passiva quanto a evangelização missionária: "espera que
o povo a procure", sendo a atitude pastoral básica apenas zelar e manter o rebanho cons-
tituído (ANONIAZZI, A. 1990). O avanço das "seitas pentecostais" tem colocado para a
Igreja esta preocupação e alerta Junto com a percepção do seu despreparo frente a utili-
zação dos meios de comunicação de massa: a mídia. Contudo, alvissareiramente as dis-
cussões em tomo da forma de evangelizar levando em conta as culturas e a perspectiva
de "inculturação" a coloca no rol dos novos paradigmas e experiências da contempora-
neidade.
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PROTESTANTISMO
Embora hoje pela popularidade das Igrejas penecostais este nome esteja mais uma
vez associado a estas Igrejas (OLIVEIRA, Pedro A. Ribeiro de, 1984). Vale dizer, por-
tanto, que para além das classificações generalizantes, um evangélico ou protestante se
dirá principalmente ser batista, metodista, presbiteriano, congregacional ou membro da
Assembléia de Deus, Brasil para Cristo, Universal etc. ou seja de sua denominação ou
Igreja.
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PROTESTANTISMO DE IMIGRAÇÃO (1824)
Inicia-se a partir de 1835, ganhando impulso em 1870 com a proliferação das mis-
sões norte-americanas de metodistas, presbiterianos e batistas que através das "socieda-
des bíblicas" visavam a difusão da Bíblia e a organização das "escolas dominicais" para
o estudo do Evangelho. Patrocinado por funcionários do governo dos EUA no Brasil na
esteira do proselitismo do modelo norte-americano do "progresso anglo/saxão e protes-
tante" como quinta-essência do padrão civilizacional, buscaram através da fundação de
Escolas Americanas e do seu processo pedagógico atingir uma elite nativa e criar uma
mentalidade religiosa associada ao progresso.
De todas essas missões á que mais se expande é a Batista, pela sua capacidade de
incorporar a população leiga na evangelização (característica que também irá se eviden-
ciar nos pentecostais) (DREHER, M. 1984). Esta postura missionária arrojada e conver-
sionista não tardou entrar em choque com o Catolicismo hegemônico que passou articu-
lar de sua imbricação no Estado para neutralizar aquele "ideário exógeno": multas foram
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estabelecidas contra a divulgação de literatura protestante, assim como punições a fun-
cionários públicos e militares que freqüentavam os cultos protestantes ele.
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Porém no cômputo geral se identificam com os valores da sociedade americana da
liberdade/responsabilidade/êxito e prosperidade base da ideologia capitalista tão bem
traçada por Weber.
PENTECOSTALISMO (1910)
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Pentecostalismo encontraram a Salvação na revelação direta do Espirito Santo expressa
no fervor dos cultos.
Como fenômeno ainda em transição, nota-se nas Igrejas pentecostais mais antigas
indícios de institucionalização, hierarquização e sistematização de doutrina (constitui-
ção de Escolas Dominicais, construção de templos nas áreas não periféricas das cidades,
pregação mais fundamentada teologicamente). Como conseqüência dessas mutações.
surge também outra vertente no pentecostalismo, que segundo Gouveia de Mendonça
são as "igrejas de Cura Divina", marcadas pela "libertação" dos males físicos e mentais
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(obras de Satanás) de uma clientela. Estas igrejas centrariam suas atividades em curas
através da expulsão de demônios e exus, e possuiriam uma solidariedade interna frouxa.
tendo mais uma clientela que fiéis e em decorrência disto, incorreriam na "exploração
econômica", desta clientela. Por outro lado, outros autores como Monteiro, apresentado
na tese de Paul Freston (Monteiro, 1979), relativizam as teses da dinâmica de expansão
de um chamado "baixo pentecostatismo". Segundo ele uma comunidade para viabilizar-
se e expandir-se necessita de uma base sólida de adeptos regulares/missionados para o
seguimento de uma causa e possuidores de uma identidade distintiva, e este parece ser o
caso destas denominações ditas "setas". Quanto a questão da exploração econômica,
muitas das grandes igrejas institucionalizadas e históricas, mantém sem problemas, uma
clientela mais descompromissada que faz ofertas em dinheiro.
BIBLIOGRAFIA
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Paulo, Difel, 1977. p. 41.
OLIVEIRA, Pedro, A, Ribeiro. "Religião Popular e Política" in Revista Eclesiástica
Brasileira (REB) nº 54, Vozes julho, 1994.
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