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Análise Criminal

Créditos:

Profa. Betânia Totino Peixoto – Professora da UFMG/CEDEPLAR

Curso Análise Criminal – Módulo 1


SENASP/MJ - Última atualização em 24/10/2008
Página 1
Apresentação

Segundo alguns autores há três tipos de mentiras sobre a estatística: as mentiras, as mentiras
sérias e as estatísticas. Veja algumas delas:

“Os números não mentem, mas os mentirosos forjam os números.”

“Se torturarmos os dados por bastante tempo, eles acabam por admitir qualquer coisa.”

O historiador Andrew Lang disse que algumas pessoas usam a estatística “como um bêbado utiliza um
poste de iluminação – para servir de apoio e não para iluminar”.

Quais são as razões para que esta visão persista?

Por que fazer análise criminal?

Estas são algumas das perguntas que servirão de busca para que você possa estudar
sobre o tema.

As principais razões para a produção de impressões distorcidas da realidade a partir das estatísticas são o
uso de pequenas amostras, a realização de distorções deliberadas, perguntas
tendenciosas, a elaboração de gráficos enganosos e a existência de pressões políticas.

Na perspectiva de contribuir para mudanças nesse cenário é que este curso tem como propósito a
construção de um alicerce que viabilize a ampliação da formação de analistas criminais
no Brasil, onde novos conteúdos relacionados às modernas técnicas de análise venham
a ser agregados em futuro próximo.

No curso você estudará os conceitos básicos de análise estatística que fundamentam o


processo de análise criminal.
Ao finalizar o curso, você será capaz de:

- Reconhecer a importância de se fazer análise criminal;


- Descrever os principais conceitos e aplicações da estatística criminal;
- Identificar as técnicas e instrumentos que possibilitam a coleta de informações;
- Aplicar os conceitos básicos relacionados a estatística para compreender melhor as técnicas utilizadas
na análise estatística criminal;
- Identificar os diferentes tipos de mapas relacionando às informações que reúnem; e
- Compreender os elementos conceituais e metodológicos necessários para a
operacionalização da análise criminal.

O curso está dividido em 5 módulos:

Módulo 1 – Por que fazer análise criminal?


Módulo 2 – Coleta de informações Módulo 3
– Análise Estatística Criminal
Módulo 4 – Sistemas de Informação Geográfica
Módulo 5 – Operacionalização da análise criminal.

Bom curso!

Módulo 1 – Por que fazer análise criminal?

Neste módulo, você estudará a importância da análise criminal frente à nova perspectiva de policiamento e a sua
contribuição para a gestão das ações de segurança pública.

Ao final, do módulo você deverá ser capaz de:

- Definir análise criminal e identificar as contribuições para a gestão da segurança pública;


- Compreender os aspectos relacionados à nova perspectiva de policiamento e a importância do foco
nas ações de análise criminal; e
- Classificar a produção de conhecimento em segurança pública de acordo com as vertentes utilizadas.
O conteúdo deste módulo está dividido em 5 aulas:

Aula 1 – A Análise criminal e seu campo de aplicação


Aula 2 – A análise criminal frente à nova perspectiva de policiamento
Aula 3 – Análise criminal X Alocação de recursos Aula
4 – Focalização das ações da análise criminal Aula 5 –
Vertentes básicas

Aula 1 – A análise criminal e seu campo de aplicação

O campo de aplicação da análise criminal pode ser descrito a partir de duas dimensões principais:

- Orientar os gestores quanto ao planejamento, execução e redirecionamento das ações do sistema de


segurança pública, contribuindo para uma melhor distribuição dos recursos materiais e humanos; e

- Dar conhecimento à população e a outros órgãos governamentais e não-governamentais quanto à


situação da segurança pública, auxiliando suas participações efetivas na gestão e execução das ações.

Definição

A definição de análise criminal abrange muito mais que um simples traçado de gráficos, tabelas e mapas.
Constitui-se no uso de uma coleção de métodos para planejar ações e políticas de
segurança pública, obter dados, organizá-los, analisá-los, interpretá-los e deles tirar
conclusões.

A realização da análise criminal envolve, principalmente, o uso de métodos estatísticos,


através dos quais tratam as informações para tentar conhecer as causas que determinam o fenômeno da
segurança pública, buscando identificar, no resultado final, quais influências cabem a cada uma dessas
causas.
Aula 2 – A análise criminal frente à nova perspectiva de policiamento

O modelo atual de alocação eficiente dos gastos públicos força a repensar a forma de
como se faz segurança pública. É uma obrigação dos profissionais dessa área questionar sobre os
resultados esperados da sua atividade profissional e como podem agir para cumprir com essa expectativa,
ou seja, fazer mais com menos recurso.

É preciso deixar de reagir diante de uma cadeia sem fim dos incidentes e passar a assumir como resultado
desejado a criação de um ambiente seguro, onde a execução de ações preventivas surge como
a principal estratégia para quebrar com essa seqüência de incidentes.

Esta é a nova perspectiva que contrasta com a forma tradicional de policiamento, em que o principal
resultado era o pronto atendimento à vítima fazendo com que o alcance de resultados dependesse somente
do aumento do efetivo e da compra de armas e viaturas.

Nova perspectiva

A nova perspectiva de policiamento requer que:

- A polícia examine de modo detalhado cada um dos problemas a serem abordados identificando
suas causas;
- Leve em consideração um leque bastante amplo de opções para intervir sobre essas causas; e
- Escolha a opção a ser utilizada com base em uma relação de custo e benefício, pautada no alcance de
resultados.

Observa-se uma mudança na lógica de gestão, pois o objetivo prioritário deixa de ser apenas a solução
dos crimes que já ocorreram e passa a ser a manutenção de um ambiente social onde não ocorra nenhum
crime, as pessoas possam andar nas ruas tranqüilamente e a sensação de segurança seja compartilhada por
todos, independentemente de suas características culturais, econômicas e naturais.
O trabalho do analista criminal

Atualmente, o trabalho do analista criminal está limitado à tabulação dos registros sobre
os crimes. Em poucas situações, observa-se a análise dos padrões de vitimização, tendo como
foco principal a identificação do perfil de quem deve ser preso e, em situações escassas, essa análise
busca identificar fatores urbanos e populacionais associados aos padrões de incidência criminal.

Essa situação fica ainda mais precária quando se questiona o uso das conclusões dessas análises na gestão
das ações e políticas de segurança pública. Os processos de tomada de decisão baseados na rotina e na
autoridade, marcados pela indiferença quanto aos resultados a serem alcançados em perspectiva
sistêmica, ainda prevalecem.

Uma das explicações para essa situação é a inexistência de analistas criminais bem treinados e
compromissados com sua atividade.

O bom analista criminal não espera uma demanda de informação para iniciar seu
trabalho. Espontaneamente, ele passa todo seu tempo de trabalho buscando identificar
problemas que devem ser resolvidos, avalia as principais causas do problema para
identificar as respostas com o maior potencial de efetividade e traça um projeto de
execução que sempre parte da diretriz que é preciso aprender com os resultados
alcançados, sejam positivos ou negativos.

Outro importante ponto a ser destacado no trabalho do analista criminal é a existência, entre esses
profissionais, de uma concepção modesta sobre a importância do seu trabalho, visto sempre como um
trabalho de bastidor. É preciso repensar essa concepção.

O analista criminal tem uma importância fundamental na garantia do sucesso do trabalho dos órgãos de
segurança pública, pois têm influência direta sobre o processo de tomada de decisão, quanto à forma de
resolver o problema.

Mais que uma fonte de informações, o analista criminal deve assumir o papel de conselheiro.
Mais que um técnico especialista em análise de dados, o analista criminal deve agir como um
pesquisador que visa trazer as melhores contribuições possíveis da ciência para o
aperfeiçoamento do trabalho policial.
No quadro funcional dos órgãos de segurança pública, o analista criminal é a pessoa com maior
conhecimento sobre o processo de produção e coleta de informações, a análise de dados e sobre a
avaliação de resultados. Além disso, é a pessoa com maior capacidade de encontrar fontes alternativas de
dados e relatórios que podem ser utilizados para dar sustentação e aperfeiçoar as análises a serem
empreendidas e as conclusões a serem alcançadas.

A importância do trabalho do analista criminal foi demonstrada em uma pesquisa sobre a efetividade
das estratégias de ação policial desenvolvida nos Estados Unidos, em 2003.

Veja na figura 1 um quadro de avaliação de resultados de diferentes estratégias de policiamento. As


estratégias selecionadas pela pesquisa foram distribuídas considerando dois eixos principais: a
focalização do objeto alvo da ação (eixo horizontal) e a ampliação do conjunto de
estratégias de policiamento utilizadas (eixo vertical).

A partir da figura 1, percebe-se que a perspectiva restrita apenas ao reforço da lei, foi trocada por uma
perspectiva mais abrangente que inclui uma aproximação da polícia com a comunidade e a
realização de ações sociais.

Figura 1: Efetividade das estratégias de ação policial (EUA / 2003)

Policiamento comunitário Policiamento orientado a problemas


Perspectivas
sociais e Respostas pautadas no policiamento a pé,
Respostas pautadas na investigação científica de
jurídicas incremento do contato pessoal entre polícia e
problemas específicos e o estabelecimento de um
comunidade, e esforços para aumentar a
processo de gestão orientado por resultados.
legitimidade da polícia diante da sociedade.
Evidências empíricas de forte ou moderada
Evidências empíricas de fraca ou moderada
relação com a diminuição na incidência criminal.
relação com a diminuição na incidência
criminal.
Diversidade de
estratégias
Estratégia tradicional Policiamento focado
Respostas pautadas no aumento do efetivo, Respostas pautadas em patrulhamento em áreas
diminuição do tempo de atendimento, aumento de concentração de crimes e esforço intensivo
do número de prisões e maior visibilidade da focalizado em crimes específicos.
polícia.
Evidências empíricas de fraca ou moderada
Perspectiva Falta evidência empírica que demonstre a relação com a diminuição na incidência criminal.
jurídica relação com a diminuição na incidência
criminal.

Baixo Focalizado Alto


Fonte: Skogan e Frydl (2004).
No contexto da estratégia tradicional, onde a focalização é inexistente (baixa) e a estratégia
envolve apenas o reforço da lei (perspectiva jurídica), a pesquisa conclui que não existem evidências
empíricas de um resultado efetivo das ações em relação à redução da incidência criminal. Por outro lado,
no policiamento orientado à problemas (Clarke & Eck, 2007), marcado pela focalização da ação e
pelo uso de um conjunto diversificado de estratégias orientadas para a solução dos
problemas abordados, a pesquisa identificou fortes evidências empíricas de um resultado efetivo em
relação à redução da incidência criminal.

O policiamento orientado a problemas tem como principal estratégia de intervenção a promoção de


mudanças nas condições que fazem do crime um problema repetitivo. Ele apresenta um grande avanço
em relação à estratégia tradicional de policiamento, pois objetiva um resultado mais efetivo do que o
alcançado pelas respostas reativas aos incidentes e pelas patrulhas policiais preventivas.

Aula 3 – Análise criminal X Alocação de recursos

O aumento de recursos financeiros investidos é o suficiente para o alcance de resultados efetivos na área de segurança pública?

No âmbito nacional, uma constatação científica de que a efetiva solução dos problemas de segurança
pública nunca resultará apenas do aumento dos recursos gastos pelos órgãos de segurança pública foi
exposta por Cerqueira e Lobão (2003). Baseados em informações sobre os fatores associados à incidência
de homicídios em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, entre 1980 e 2003, eles concluíram que o
aumento das despesas com segurança pública não está relacionado estatisticamente à redução da
incidência de homicídios.

Fatores associados à incidência de homicídios

Dos fatores considerados, a redução da desigualdade social foi o único relacionado diretamente à
redução da incidência de homicídios. Cabe ressaltar, que os autores consideraram os gastos em segurança
pública sem separá-los e sem analisar as possibilidades de distribuição e aplicação desses recursos.
Para alcançar resultados reais, não basta aumentar o volume de recursos financeiros
investidos, é preciso analisar as alternativas de intervenção e investir os recursos
conforme as relações entre custo e benefício encontradas para cada alternativa. Essa
questão aponta para a importância do analista criminal que fornece o subsídio para a tomada de decisão
quanto ao investimento. Por fim, a pesquisa destaca a necessidade de trabalhar com
estratégias de intervenção que ultrapassam o âmbito das ações tradicionais de polícia,
pois a melhor perspectiva de resultado foi observada quando reunidas todas as
estratégias de ação de forma conjunta – ações policiais, redução na desigualdade social
e aumento da renda per capita.

Antes de prosseguir, leia o texto em anexo: Recorte 1: “A análise criminal contribuindo para
mudanças na política nacional.”

Aula 4 – Focalização das ações e o trabalho da análise criminal

Em relação à dinâmica de trabalho do analista criminal, pode-se, de uma forma didática, dividi- la em
quatro etapas:

1- Sistematizar e analisar dados de segurança pública buscando identificar padrões de incidentes;

2 - Submeter esses padrões a uma profunda análise buscando identificar suas causas;

3 - Identificar formas de intervir nas relações causais encontradas para cessar a ocorrência dos incidentes;
e

4 - Avaliar o impacto das intervenções e caso identifique uma ausência de impacto, começar todo o
processo novamente.

No contexto do policiamento orientado a problemas, as formas de intervenção devem ser concebidas de


maneira ampla, não se restringindo apenas às ações tradicionais de polícia, e, por outro lado, o fluxo de
trabalho de análise envolve a contínua coleta e sistematização de novos dados que podem resultar em
mudanças radicais nas ações que já vêm sendo executadas.
A focalização das ações

Para a análise criminal ser mais eficiente, as quatro etapas expostas anteriormente precisam ser aplicadas
a um problema focalizado. Dois pontos merecem destaque quando se discute a questão da focalização das
ações:

- A valorização de uma perspectiva local de ação; e


- A focalização de tipos criminais específicos para intervenção.

- A valorização de uma perspectiva local de ação


Ao focar seu olhar em uma perspectiva mais local, o analista criminal ajuda fazendo com que seu
órgão seja mais bem informado, eficiente e capaz de usar seus recursos para reduzir o crime. A
perspectiva local atribui ao analista criminal maior capacidade para investigar e identificar as causas do
problema abordado. Essa orientação do trabalho numa perspectiva local propõe que o analista converse
com os policiais sobre como eles concebem seu trabalho, participe diretamente de atividades
desenvolvidas pelos órgãos de segurança pública, troque informações com profissionais das empresas de
segurança privada, crie uma rede com analistas criminais das regiões vizinhas, colete informações
diretamente com agressores e vítimas e busque contribuir para aprimorar os processos de coleta de
informação.

- A focalização de tipos criminais específicos para intervenção.


A focalização nos tipos criminais permite ao analista especificar as causas particulares, os atores e
as dinâmicas de cada tipo de crime, permitindo uma análise mais apurada do fenômeno criminal. Caso
essa focalização não seja realizada e se considere como problema uma categoria criminal ampla, por
exemplo, roubo, torna-se difícil identificar as causas do problema. Cada tipo de roubo – em
estabelecimento comercial, residência, transporte coletivo, de carga, dentre outros – possui suas causas
específicas, resulta de diferentes motivações e envolve atores distintos em termos do seu conhecimento,
habilidade e organização.

Cada tipo criminal específico tem causas particulares e recomenda-se que as intervenções sejam
focalizadas em cada um deles separadamente.
Aula 5 – Vertentes básicas

Magalhães (2007) destaca três grandes vertentes básicas do trabalho de produção de conhecimento
voltado para a gestão em segurança pública:

- Análise criminal estratégica – ACE;


- Análise criminal tática – ACT; e
- Análise criminal administrativa – ACA.

Análise criminal estratégica

Análise criminal estratégica (ACE) – Trata da atividade de produção do conhecimento voltado para
o estudo dos fenômenos e suas influências no longo prazo. Dentre seus principais focos estão:

- Formulação de políticas públicas;


- Produção de conhecimento para redução da criminalidade;
- Planejamento e desenvolvimento de soluções;
- Interação com outras secretarias na construção de ações de segurança pública;
- Direcionamento de investimentos;
- Formulação do plano orçamentário;
- Controle e acompanhamento de ações e projetos; e
- Formulação de indicadores de desempenho.

Seu principal objetivo é trabalhar na identificação das tendências da criminalidade. Por


exemplo, se o analista identifica que o fenômeno criminal apresenta uma tendência ascendente, essa
informação será utilizada para formular e determinar prioridades das ações dos operadores do sistema de
segurança pública.

Análise criminal tática

Análise criminal tática (ACT) – Trata da atividade de produção do conhecimento voltada para o
estudo dos fenômenos e suas influências no médio prazo. Essa vertente estuda o fenômeno criminal
visando fornecer subsídios para os operadores de segurança pública que atuam
diretamente “nas ruas”. Nesse sentido, o conhecimento é utilizado pelas polícias ostensivas e
investigativas. Dentre seus principais focos estão a:

- Produção de conhecimento para orientar as atividades de policiamento ostensivo nas atividades


preventivas e repressivas (Exemplo: Identificação de pontos quentes, correlacionando dia e horários
críticos); e

- Produção de conhecimento para subsidiar a polícia investigativa nas


soluções das ocorrências criminais, principalmente na busca da autoria e materialidade dos delitos.

Seu principal objetivo é trabalhar na identificação de padrões das atividades criminais.


Análise criminal administrativa

Análise criminal administrativa (ACA) – Trata da atividade de produção do conhecimento voltada


para o público alvo, ou seja, sua atividade assemelha a de um editor chefe que seleciona os assuntos que
serão divulgados para cada cliente. Dentre seus principais focos estão:

- Fornecimento de informações sumarizadas para seus diversos públicos – cidadãos, gestores públicos,
instituições públicas, organismos internacionais, organizações não-governamentais, etc.;
- Elaboração de estatísticas descritiva;
- Elaboração de informações gerais sobre tendências criminais;
- Comparações com períodos similares passados; e
- Comparações com outras cidades similares.

Seu principal objetivo é trabalhar as estatísticas criminais de forma descritiva.

Neste módulo são apresentados exercícios de fixação para auxiliar a compreensão do


conteúdo.

O objetivo destes exercícios é complementar as informações apresentadas nas páginas


anteriores.
1. Qual a definição da análise criminal?

( ) É constituída pelo uso de uma coleção de métodos para planejar ações e políticas de segurança pública,
obter dados, organizá-los, analisá-los, interpretá-los e deles extrair conclusões.
( ) É constituída pelo uso de uma coleção de métodos para traçar gráficos, tabelas e mapas.
( ) É constituída pelo uso de uma coleção de métodos para executar ações e políticas de segurança
pública.

Resposta correta:
É constituída pelo uso de uma coleção de métodos para planejar ações e políticas de segurança pública,
obter dados, organizá-los, analisá-los, interpretá-los e deles extrair conclusões.

2. A análise criminal se enquadra na perspectiva da segurança pública:


( ) Reativa
( ) Preventiva

3. A produção do conhecimento de gestão em segurança pública pode ser classificada


segundo três vertentes – Análise criminal estratégica (ACE), Análise criminal tática (ACT)
e Análise criminal administrativa (ACA). De acordo com essa classificação, marque as
alternativas corretas (podem ser marcadas mais de uma alternativa):

( ) A ACE trata da atividade de produção do conhecimento voltada para o estudo dos fenômenos e
suas influências no médio prazo.
( ) A ACT trata da atividade de produção do conhecimento voltada para o estudo dos fenômenos e
suas influências no longo prazo.
( ) A ACA trata da atividade de produção do conhecimento voltada para o público alvo.
( ) A ACT tem como principal objetivo trabalhar na identificação de padrões das atividades
criminais.
( ) A ACA tem como principal objetivo trabalhar na identificação de padrões das atividades
criminais.
Gabarito

1. É constituída pelo uso de uma coleção de métodos para planejar ações e políticas de segurança
pública, obter dados, organizá-los, analisá-los, interpretá-los e deles extrair conclusões.

2. Preventiva

3. A ACA trata da atividade de produção do conhecimento voltada para o público alvo, e


A ACT tem como principal objetivo trabalhar na identificação de padrões das atividades criminais.

Este é o final do módulo 1

Por que fazer análise criminal?

Anexo

Recorte 1: A análise criminal contribuindo para mudanças na política nacional


Gráfico 1: Projeção das taxas de homicídios (2004 a 2006)1

35,0

30,5 30,2
30,0
29,6
29,0 28,8 29,1

27,0 27,4

25,7
25,0
24,6 24,2
23,7 24,0
23,2
Taxas por 100 mil hab.

22,4

20,9
20,0 20,2
19,4
18,7 18,6

16,9 2004 - 2005 - 2006


15,0
14,6 14,6
PROJEÇÃO
13,7

Estratégia 1 – mesma renda per capita, desigualdade e gasto em segurança pública Estratégia 2 – diminuição da desigualdade social
10,0

Estratégia 3 – aumento da renda per capita


Estratégia 4 – aumento das despesas com segurança pública Estratégia 5 – estratégias 2,3 e 4 conjuntas
5,0

0,0
1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003

Fonte: IPEA

Pautado por essas constatações empíricas, nos contextos nacional e internacional, que expressam a
necessidade de repensar a segurança pública, deixando de lado abordagens centradas apenas na ação tradicional de
polícia e passando a adotar amplas ações de policiamento com ações sociais, o Governo Federal está empreendendo
esforços para promover essa mudança. Exemplos pioneiros dessa mudança foram as ações realizadas, em 2006
e 2007, para garantir a segurança durante os Jogos Pan-Americanos. Além da execução de ações típicas de
polícia, foram executadas ações de formação dos guias cívicos e brigadas socorristas, realizadas as Olimpíadas
Cariocas e a execução de ações envolvendo a promoção de espaços urbanos seguros, formação de policiais em
Policiamento Comunitário, criação dos Centros Integrados de Cidadania e a promoção de ações visando à atenção e
proteção de crianças e famílias em situação social precária.
Dando continuidade a esse processo, o Governo Federal lançou, em 2007, o Programa Nacional de
Segurança com Cidadania – PRONASCI. Fundamentado em uma perspectiva de policiamento orientado para
problemas, o programa envolve a execução de 94 ações que podem ser unidas a ações típicas de polícia e a ações
sociais. Um dos fundamentos do sucesso da ação do PRONASCI é a valorização da gestão local e,
conseqüentemente, a existência de equipes de gestão bem formadas nas áreas de atuação do programa.

1
Explicação do gráfico: Na parte amarela do gráfico estão os dados reais da taxa de homicídios por cem mil
habitantes de 1980 a 2003. A parte relativa a 2004, 2005 e 2006 são projeções da taxa de homicídios por cem mil
habitantes, dado algumas possíveis estratégias de política públicas, ou seja, o que aconteceria com a taxa de
homicídio. Na estratégia 1, o gestor não faz nada, ele deixa a renda per capita, a desigualdade social e o gasto em
segurança pública nos níveis de 2003, a taxa de homicídio continuou crescendo, como se pode ver na linha cinza. Na
estratégia 2, a desigualdade social é diminuída e a taxa de homicídio cai. Na estratégia 3, o gestor aumenta a renda
per capita e deixa a desigualdade social e o gasto em segurança pública constantes, mas o homicídio continua
crescendo. Na estratégia 4, o gestor aumenta apenas o gasto em segurança pública e a taxa de homicídio continua
aumentando, porém, a uma taxa menor que as estratégias 1 e 3. Na estratégia 5, a renda per capita e os gastos em
segurança pública aumentam e a desigualdade de renda diminui, o resultado é a maior queda na taxa de homicídio.
Para cada área é preciso identificar os problemas a serem abordados, suas causas e possíveis soluções. Cada
contexto trará respostas diferentes às intervenções empreendidas e, por essa razão, que gerarão distintas
modificações e aperfeiçoamentos das ações executadas. O sucesso do PRONASCI, no que diz respeito ao alcance de
reais impactos sobre a situação da segurança, tem como um de seus pontos fundamentais a valorização dos analistas
criminais como principais conselheiros no planejamento e na gestão das ações.
Análise Criminal

Curso Análise Criminal – Módulo 2


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Módulo 2 – Coleta de informações

Neste módulo, você estudará alguns dos métodos de abordagem dos fenômenos sociais que podem ser
utilizados para a elaboração de diagnósticos da situação da segurança pública e monitoramento de
resultados das ações e políticas. Cabe destacar que um método não exclui o outro. Muitas vezes é
preciso combiná-los, pois cada um possui vantagens e limitações; a combinação possibilita que se
complementem.

Ao final do módulo, você deverá ser capaz de:

- Descrever os métodos de abordagem;


- Enumerar os aspectos que devem ser observados na construção de um questionário; e
- Identificar as fontes de dados e informações de segurança pública.

O conteúdo deste módulo está dividido em 3 aulas:

Aula 1 – Métodos de abordagem

Aula 2 – Construção de um questionário

Aula 3 – Fontes de dados e informações de segurança pública

Aula 1 – Métodos de abordagem

A compreensão dos fenômenos sociais pode ser feita a partir de três abordagens. Para cada uma das
abordagens há algumas técnicas de análise específicas, veja:

Métodos de abordagem Técnicas de análise


Observar o comportamento que ocorre Análise de conteúdo, o estudo de caso e
naturalmente no âmbito real. análise de dados secundários.
Criar situações artificiais e observar o Avaliação de impacto (laboratórios).
comportamento antes das tarefas definidas para
as situações.
Perguntar às pessoas sobre o que fazem Survey e estudo de caso.
(fizeram) e pensam (pensaram).

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Veja na página seguinte, as características, vantagens e limitações de cada uma das
técnicas.

Análise de conteúdo

Alguns tópicos de pesquisa são suscetíveis ao exame sistemático de documentos, como romances,
poemas, publicações governamentais, músicas, boletins de ocorrências, etc. As informações trazidas
pelos documentos são sistematizadas buscando a existência de semelhanças.

As principais desvantagens do método são:

- O tipo de documento selecionado para o exame pode não ser a medida mais apropriada da questão ou
fenômeno a ser estudado; e
- A análise dos documentos sempre envolve um espaço de arbitrariedade.

Estudo de caso

O estudo de caso envolve a descrição e explicação abrangente dos muitos componentes de uma
determinada situação social.

Num estudo de caso, você busca coletar e examinar o máximo de informações


possíveis sobre o tema. Se o estudo é sobre a comunidade, você aborda a sua história, seus
aspectos religiosos, políticos, econômicos, geográficos, composição racial, etc. Em resumo, você
procura a descrição mais abrangente e tenta determinar as inter-relações lógicas dos seus vários
componentes.

Enquanto a maioria das pesquisas busca diretamente o conhecimento generalizado, o estudo de


caso busca o conhecimento abrangente de um só caso. Dessa forma, o conhecimento
produzido não é necessariamente generalizável.

Se o estudo de caso é realizado pelo pesquisador que é participante no evento ou grupo social
estudado este é denominado de Estudo de Caso com Observação Participante.

Na prática, como observador participante, o pesquisador pode ou não se revelar como tal. Essa decisão
tem importantes implicações metodológicas e éticas. O pesquisador admitir que está realizando um
estudo, pode afetar diretamente o fenômeno que pretende estudar.
Por outro lado, a não identificação do pesquisador pode ter implicações éticas relativas ao engano.
Como estudo de caso, a observação participante busca colher informações muito
detalhadas.

A grande desvantagem desse método é que o pesquisador dificilmente consegue manter procedimentos
sistemáticos de pesquisa.

Análise de dados secundários

A realização de pesquisas científicas não envolve, necessariamente, a coleta e análise de dados


originais (pesquisa de campo). Alguns tópicos de pesquisa podem ser estudados analisando dados já
coletados e compilados.

A análise dos dados secundários tem a grande vantagem da economia. O pesquisador não precisa arcar
com os custos de amostragens, entrevistas, codificações, recrutamento de sujeitos experimentais, etc. A
principal desvantagem do método é que o pesquisador fica limitado a dados já coletados e compilados
por outros, que podem não representar adequadamente a questão que lhe interessa.

Estes vários métodos de abordagem dos fenômenos sociais têm aplicações distintas quanto ao tipo de
pesquisa que se pretende realizar e tipo de informações a ser coletada. Eles também podem ser
utilizados de forma complementar quando necessário. Veja alguns exemplos:

Exemplo 1 – Pesquisas com grandes grupos


Quando se precisa de informações representativas da situação de grandes grupos sociais com menor
gasto de recursos e de forma mais rápida, utiliza-se surveys e também informações secundárias,
sistematizadas continuamente por órgãos de estatística oficial. Essas informações se agregam no
conjunto denominado de informações quantitativas e se caracterizam por buscar mensurar a
questão estudada em números ou categorias. A grande limitação dos dados quantitativos na realização
de pesquisas é que eles reduzem a realidade a algumas categorias, deixando de lado muita informação
que seria útil para uma melhor compreensão do fenômeno estudado.

Exemplo 2 – Pesquisas com informações mais detalhadas


Quando se verifica a necessidade de trabalhar com informações mais detalhadas, partimos para um
outro conjunto de informações denominado por informações qualitativas. As pesquisas
envolvendo a coleta dessas informações – análise de conteúdo e estudo de caso
– são normalmente mais difíceis e mais caras de serem realizadas. Ao mesmo tempo em que se
conhece a realidade de modo mais detalhado, perde-se capacidade de generalização dos conhecimentos
produzidos.

Exemplo 3 – Pesquisas na área de segurança pública


Como exemplo de pesquisas na área de segurança pública, é possível citar: as pesquisas que analisam
informações trazidas de bases de ocorrências registradas pelas polícias são do tipo análises de dados
secundários; as pesquisas de vitimização são do tipo survey; pesquisas que buscam avaliar de forma
mais detalhada a criminalidade, envolvendo entrevistas com moradores, são do tipo estudo de caso.
Caso a pesquisa mais detalhada seja realizada por alguém que passe a conviver com a comunidade, ela
passa a ser do tipo estudo.

Avaliação de impacto

A avaliação de impacto procura determinar os resultados das ações e políticas. Para


mensurar esses resultados não basta olhar o objeto de análise e ver o que aconteceu com ele depois da
aplicação da política.

Como os fenômenos sociais apresentam vários determinantes pode ser que o


resultado observado não seja conseqüência da ação e sim, de outro fator que incidiu
na população na mesma época. Isso significa que a melhora na situação da segurança
pública em uma região pode ser resultado, não da ação da polícia, mas da melhora na
situação socioeconômica da população.

Para garantir que as mudanças observadas são resultantes da política empreendida, é preciso comparar
o grupo em que ela foi implementada (chamado de tratado) com um grupo similar que não a
experimentou (chamado de controle).

Tratado = Grupo em que foi implementada a política.


Controle = Grupo similar em que não foi implementada a política.
Avaliação de impacto

Quando se está trabalhando com experimento aleatório, também chamado de experimento puro, é
bastante simples medir o impacto.

Os experimentos aleatórios são aqueles em que os “tratados” e “controles” são


escolhidos de forma aleatória na população. Esse tipo de estudo é muito usado na medicina
para testes de remédios.

Das pessoas escritas para o teste, são selecionados dois grupos de forma aleatória, por sorteio. Para um
grupo é distribuído o placebo (grupo controle) e para o outro grupo é dado o remédio (grupo tratado).
Depois do tratamento, compara-se a condição de saúde dos dois grupos.

Se o grupo tratado apresenta melhor condição de saúde de que o grupo controle, o remédio tem
resultado positivo. Caso contrário, o remédio não tem resultado.

Avaliação de impacto

Na prática, é quase impossível implementar experimentos aleatórios no caso de políticas públicas.


Existe um problema ético e moral. Sendo o objetivo fazer uma política de prevenção à criminalidade
em áreas de alta periculosidade da cidade, como escolher uma área que não vai receber essa política?
Isto é justo com a população desse local?

Normalmente, as ações e políticas têm desenhos não aleatórios e as avaliações devem buscar
desenhos não experimentais, denominados por avaliações de estudos observacionais ou
quase-experimentais.

A implicação do desenho não experimental para a avaliação do impacto é que o “controle” não pode
ser comparado diretamente com o “tratado”, pois os atributos de ambos não são, necessariamente,
equivalentes. Para fazer essa comparação é necessário que se apliquem técnicas estatísticas que tornam
o “controle” equivalente ao tratado*.

Existem várias técnicas, as mais usadas são pareamento com escore de propensão e diferenças em
diferenças. Neste curso não serão tratadas essas técnicas, pois exigem um
conhecimento avançado em estatística. Para mais detalhes, veja Ravallion (2001; 2005) e Heckman et al.
(1998).

Survey

Um survey é realizado quando se pretende construir enunciados sobre uma


população, isto é, descobrir a distribuição de certos traços e atributos, avaliar o
impacto de alguma política ou ação, etc.
Para viabilizá-la em termos técnicos e econômicos, a pesquisa é realizada em uma amostra
cientificamente selecionada da população, de forma a ser representativa da mesma. Essa seleção
científica da amostra permite a extrapolação dos resultados encontrados para a população, ou seja, se a
amostra é composta por 50% de homens, pode-se extrapolar o resultado dizendo que nossa população é
composta de 50% de homens.

A coleta de informações envolve sempre a aplicação de um questionário, que deve


priorizar a construção de questões com respostas fechadas, retirando ao máximo a
possibilidade de respostas abertas em formato de texto. Assim, esses instrumentos de coleta de
informação favorecem o uso de técnicas quantitativas para análise dos dados.

Aula 2 – Construção de um questionário

Um questionário pode ser definido como um “conjunto de perguntas sobre um determinado


tópico que não testa a habilidade do respondente, mas mede sua opinião, seus
interesses, aspectos de personalidade e informação biográfica”. (Yaremko et al., 1986).

O objetivo de uma pesquisa determina a forma do questionário e a maneira da sua


aplicação por meio dos conceitos e da população alvo.

Definição e a relação com a pesquisa

É possível verificar a seguinte interdependência entre a elaboração de um instrumento e a estratégia


de sua aplicação:
- O grau de complexidade dos conceitos determina o número de perguntas e sua forma de
apresentação;

- Existe relação recíproca entre características da população alvo e complexidade dos conceitos a
serem investigados, pois ambos determinam a maneira de transformação dos conceitos em perguntas e
sua administração;

- O tamanho da amostra determina o formato do questionário em relação ao tipo de entrevistas e ao


tamanho do seu conteúdo; e

- O tamanho da amostra é determinado pelos recursos disponíveis (tempo, dinheiro e recursos


humanos).

Elaboração de um questionário

Na elaboração de um questionário, o analista criminal deve estar atento também aos seguintes fatores:

- Contexto social da sua aplicação;


- Perguntas;
- Estrutura lógica na organização dessas perguntas; e
- Diferentes formas de coleta de informação.

No que diz respeito à administração do questionário, sendo ele observado como um instrumento de
coleta de informações é importante apontar que esse processo envolve sempre uma interação entre
pesquisador e respondente.

A interação pode ocorrer no âmbito de uma entrevista presencial, onde os dois atores são colocados
frente a frente numa relação de entrevistador e entrevistado, ou no âmbito da resposta a um
questionário encaminhado, por exemplo, via e-mail ou correio, onde ocorre uma interação entre os dois
atores, pela apresentação do questionário, a maneira como as questões foram escritas, o agradecimento
pela disponibilidade de responder ao questionário, dentre outros fatores. Ou seja, mesmo no
preenchimento de um questionário está ocorrendo uma entrevista, mas a relação entre entrevistado e
entrevistador está sendo mediada pelo questionário.
Contexto social da aplicação do questionário

A disposição do respondente em revelar algo sobre si mesmo, permitindo o pesquisador obter as


informações desejadas, varia conforme a situação. O pesquisador não tem poder sobre o
respondente e precisa convencê-lo de que vale a pena participar da pesquisa. Alguns
aspectos do contexto social e cultural na interação entre entrevistado e entrevistador devem ser
observados, como por exemplo:

- Criar e manter um ambiente de cortesia durante a entrevista;


- Levar a interação o mais sério possível, favorecendo a obtenção de respostas autênticas;
- Criar boa impressão sobre a imagem do pesquisador e da organização a qual ele representa;
- Ressaltar a relevância do assunto da pesquisa para o entrevistado;
- Promover uma aproximação do entrevistado e do entrevistador em termos culturais; e
- Realizar a pesquisa em um ambiente físico adequado para o alcance dos melhores resultados na
realização da pesquisa.

Estrutura lógica do questionário

Segundo Dillman (1978), três coisas devem ser feitas para maximizar as respostas a um questionário:
minimizar o custo para o respondente, maximizar as recompensas para o respondente e estabelecer
uma confiança de que a recompensa será concedida. Lembre das seguintes recomendações para o
estabelecimento da estrutura lógica do questionário:

- A primeira tarefa é estabelecer contato com o respondente em potencial e assegurar


sua cooperação. Para estabelecer confiança o entrevistador deve se apresentar e indicar com e para
quem trabalha. A seguir, precisa capturar o interesse do respondente pelo tema e para isso, sugere-se
ressaltar o quanto opiniões e experiências do respondente são importantes. São os primeiros momentos
da entrevista que importam para a disposição do respondente em cooperar. Nesse momento, o
questionário e sua importância devem ser apresentados da forma mais completa

- Como o respondente pode desistir da pesquisa a qualquer momento, persiste a


necessidade de continuar a manter seu interesse durante a realização da entrevista.
Alguns pontos merecem especial atenção para evitar a desistência no meio do processo da entrevista: a
tarefa deve parecer ser breve, é preciso reduzir ao máximo o esforço mental e
físico requerido, eliminar as possibilidades de embaraço, qualquer implicação de subordinação e custo
financeiro.

- O mínimo de cortesia na despedida consiste em um agradecimento pela valiosa


colaboração do respondente, seja de maneira verbalizada no fim da entrevista, seja de
maneira escrita no fim do questionário. Muitas pessoas participam de pesquisa por se sentirem
importantes em ter sua opinião valorizada ou por poder falar e ser ouvido. Comunicar resultados e/ou
facilitar o acesso a eles é outra forma importante de recompensar os respondentes.

A estrutura do questionário

Uma estrutura bem pensada contribui para reduzir o esforço físico e mental do
respondente. Além disso, assegura que todos os temas de interesse do pesquisador sejam tratados
numa ordem objetiva, mantendo o interesse do respondente em continuar. É preciso saber com
precisão por que se está incluindo cada pergunta no questionário.

- O primeiro princípio de estruturação é sempre direcionar do geral para o específico e do


menos delicado e impessoal para o mais delicado e pessoal.

- Um segundo princípio de estruturação é que a disposição das perguntas deve obedecer a uma
lógica de aproximação. Ao se pesquisar a situação de insegurança, primeiro se pergunta sobre a
cidade, depois sobre o bairro e então sobre a rua e casa onde o respondente reside.

- O terceiro princípio é garantir que as perguntas referentes a uma mesma temática


permaneçam sempre juntas e recebam uma introdução que ajude o respondente a
concentrar-se nela.

As perguntas

As perguntas iniciais servem para estabelecer um relacionamento de confiança entre


respondente e pesquisador. Nunca se deve começar o questionário por perguntas burocráticas
(nome, sexo, idade, renda familiar, etc.), pois essas questões só terão respostas autênticas quando o
respondente desenvolver certo grau de confiança no entrevistador.
As perguntas burocráticas devem ser inseridas sempre no final do questionário. Cabe
destacar também que perguntar o nome no início da entrevista contradiz qualquer
afirmação sobre o caráter confidencial da entrevista.

As perguntas

Uma boa pergunta é aquela que gera respostas fidedignas e válidas e, por essa razão,
devem apresentar algumas características básicas:

- A pergunta precisa ser compreendida e comunicada consistentemente;


- As expectativas quanto às respostas precisam ser explicitadas para os respondentes;
- Os respondentes devem ter todas as informações necessárias para a resposta; e
- Os respondentes precisam estar dispostos a responder.

Aspectos a serem observados

Os principais aspectos a serem observados devem ser a linguagem e a tipologia:

Linguagem

Quanto à linguagem usada na formulação das perguntas é preciso atentar para a sua
compreensão pela população alvo da pesquisa. Abreviações, gírias ou termos
regionais, termos especiais ou sofisticados que estejam acima da compreensão da
população alvo devem ser evitados.

Há dois problemas nos questionários relacionados à linguagem.

- A ambigüidade, ou seja, o questionário permite mais de uma interpretação da pergunta.

- As perguntas podem direcionar as respostas, então é preciso atentar para a escolha das palavras.

Uma vez elaborada as questões pergunte-se:


O respondente está entendendo o que o entrevistador está perguntando? O
enunciado da pergunta está induzindo a resposta?
Tipologia
Quanto ao tipo de perguntas, é possível elaborar perguntas abertas e fechadas.

- As perguntas abertas são indicadas quando não se conhece a abrangência e


variabilidade das possíveis respostas. Esse tipo de perguntas estabelece no início da entrevista
um clima receptivo entre pesquisador e respondente e, no final, captura as opiniões não cobertas pelas
perguntas fechadas.
As perguntas abertas também servem para reforçar ao respondente o real interesse
nas suas opiniões.

- As perguntas fechadas são aquelas em que são oferecidas opções para o


respondente escolher como resposta. Devem ser utilizadas quando se conhece os tópicos que
serão informados pelos respondentes.
Além disso, esse tipo de pergunta deve ser usado quando existem muitos
respondentes e pouco tempo para a pesquisa.

Problemas que devem ser evitados

A forma com que as perguntas são formuladas e ordenadas no questionário podem gerar alguns
problemas. Ao formular as perguntas é preciso verificar se elas não constituem ameaça
ao respondente.

Caso existam razões para supor que o respondente é “sensível” ao tema, é preciso verificar
maneiras de encontrar a informação sem provocar constrangimento.

Outro problema diz respeito ao entrevistado fornecer respostas falsas às perguntas.


Um dos motivos é que o respondente pode ter algo a esconder ou não saber como responder. Por fim,
se o respondente não lembrar de uma resposta, o entrevistador não deve deixá-lo constrangido. É
preciso frisar que as perguntas não constituem em um teste e que é natural não ter respostas para todas
as perguntas.

Escalas de respostas

Para tornar mais fácil a classificação das respostas às perguntas é necessário que se pense nas escalas
de respostas. As escalas podem ser classificadas em escala nominal, ordinal ou intervalar.
- Escala nominal – Utiliza símbolos ou números somente para identificar as pessoas, objetos
ou categorias. Por exemplo, o gênero, estado civil ou atributos como cor de cabelo, uso de bengala e
existência de tatuagem.

Mesmo para as medições em escala nominal é preciso se preocupar em estabelecer um bom


relacionamento com o respondente.

Ex.: A frase “Qual o estado civil de V. S.a ?” soa melhor do que solicitar simplesmente “Estado civil”.

Dependendo da população alvo e do objetivo da pesquisa, um maior ou menor número de alternativas é


apropriado.

Exemplo: A raça pode ter como categoria apenas a)brancos e b) não brancos ou a) brancos, b)
negros, c) pardos, d) indígenas, e) asiáticos e f) outros.

Qual o estado civil de V.Sa? Você registrou o crime na polícia?


Casado (a) Sim
Solteiro (a) Não
Desquitado (a)
Viúvo (a)
Outros

O importante é que as opções sejam mutuamente exclusivas e cubram todas as


alternativas.

- Escala ordinal – Além de identificarem as pessoas, objetos ou categorias, ocorre uma ordenação
desses elementos. Por exemplo, a hierarquização da percepção de níveis de violência entre diferentes
locais de uma cidade, status social ou ordem de chegada em uma competição.

Uma técnica de mensuração muito utilizada nas ciências sociais para levantar atitudes, opiniões e
avaliações é a construção de escalas likert. Nela, o respondente avalia um fenômeno numa escala de
geralmente cinco alternativas. : http://pt.wikipedia.org/wiki/Escala_de_Likert
O conteúdo das alternativas varia de acordo com o tema abordado na pergunta. Um ponto
interessante na utilização de escalas é a decisão quanto ao uso de número par ou
ímpar de alternativas, pois o uso de um número ímpar de alternativas indica que se
criou um ponto neutro no meio da escala, ou seja, foi aberto espaço para o
entrevistado expor uma posição neutra sobre o tema abordado.

Independentemente do número de alternativas, é importante que as opções estejam balanceadas, isto é,


as direções opostas de respostas devem possuir o mesmo número de opções.

Exemplo:

O quão
m termos gerais, o quão satisfeito você está com seguro,
as suas você sede
condições sente ao andar sozinho pelas ruas na região onde reside ao anoite
trabalho?
stante satisfeito Muito seguro
uito satisfeito Razoavelmente seguro
uco satisfeito Nada seguro
da satisfeito

Escala Interval

Na escala intervalar, as características são ordenadas conforme uma dimensão subjacente e os


intervalos entre as alternativas têm tamanho conhecido e podem ser comparados.

Por exemplo, o tamanho da população, o número de crimes registrados, o número de inquéritos


concluídos, etc.

Exemplo:

Quantas bicicletas existem na sua casa?

Você foi vítima de quantos roubos no ano


passado?
Aula 3 – Fontes de dados

O uso científico das informações de segurança pública e justiça criminal para a gestão de políticas,
envolve, não apenas informações específicas dessa área, mas também informações socioeconômicas e
urbanas necessárias para se contextualizar a sua situação. Essa contextualização permite, por exemplo,
identificar as causas sociais dos fenômenos de segurança pública e também aperfeiçoar a visão sobre o
resultado alcançado. Possibilita também verificar se as mudanças que ocorrem na segurança pública
têm também outras condições além da atuação dos órgãos dessa área.

Do ponto de vista da pesquisa social, há um consenso de que apenas as informações administrativas de


agências de segurança pública e justiça criminal não são suficientes para a compreensão dos
fenômenos relacionados à incidência criminal ou à violência.

Para uma visão efetivamente compreensiva dos fenômenos relacionados a tal problemática, como
enfatiza Kahn (2002), é necessário atentar para as condições gerais de vida da população.

Fontes de dados

Em seu artigo sobre a importância dos indicadores como instrumento auxiliar a prevenção municipal
da criminalidade, Kahn (2002) observa que o nível socioeconômico é um fator explicativo para o
predomínio de eventos criminais específicos em determinadas localidades, muito embora a explicação
da sua distribuição seja bastante complexa.

Citando uma pesquisa realizada em diversos bairros da cidade de São Paulo, Kahn (2002) percebe que
a distribuição espacial dos homicídios encontra uma forte associação com o reduzido nível
socioeconômico local. Observou, também, que acontecem mais crimes contra o patrimônio em bairros
cujos moradores apresentam uma renda média bastante elevada.

Dessa forma, é desejável, tanto quanto possível, que aos bancos de dados sobre
criminalidade – geralmente compostos por dados administrativos policiais, como
registros de ocorrências –, estejam agregados com as informações socioeconômicas
das populações locais e da infra-estrutura urbana.
Os dados freqüentemente trabalhados em sistemas de segurança pública e justiça criminal referem-se
ao uso de dados policiais, do Ministério Público, da Justiça e do sistema prisional para fins de
administração dos procedimentos de rotina. Em geral, essas informações não são utilizadas na área de
gestão, pois somente os dados das polícias estão organizados em banco de dados, os demais, na
maioria das vezes, não estão informatizados ou constituem arquivos de formulários.

Esses dados, geralmente, não contêm as informações necessárias para a avaliação de políticas públicas
de segurança ou programas particulares, porque faltam informações como as sociodemográficas dos
infratores ou demandantes dos serviços de justiça criminal, dentre outras. Em função disso, é preciso
pensar criativamente na utilização de outras possíveis fontes para complementar ou checar as
informações fornecidas pelas bases de dados oficiais.

Características e limitações dos registros das polícias militares e das polícias civis

- Os registros da Polícia Militar incluem crimes e ocorrências diversas, mas não


abrangem o conjunto total de crimes e, portanto, não podem ser usados como base
exclusiva de um sistema de informação criminal. O grande problema dessa base de dados está
relacionado à subnotificação dos crimes, ou seja, muitos indivíduos não reportam à polícia
os crimes sofridos.

- A Polícia Civil praticamente só registra crimes, mas deixa de registrar uma ampla
gama de incidentes que perturbam a segurança pública e não chegam a constituir
crime. Um dos grandes problemas dessa base de dados também é a subnotificação dos crimes.

Por causa das características dos dados gerados pelas polícias e suas limitações, muitas vezes são
necessárias fontes alternativas de informações. Veja nas próximas páginas quais são estas
fontes.

Fontes alternativas de informação

Na maior parte dos crimes, a única fonte alternativa possível são as pesquisas de vitimização, que
permitem não apenas estimar a incidência real do fenômeno, mas também o tamanho e o perfil da
subnotificação. Infelizmente, no Brasil, só foi realizada uma pesquisa de vitimização, de âmbito
nacional, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
no suplemento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) de 1988 e, desde aquele
momento, só existem algumas pesquisas eventuais por instituições privadas em alguns estados,
insuficientes para estabelecer qualquer série temporal.

No caso de roubos e furtos de carros, os dados das seguradoras são importantes para comprovar
tendências. Entretanto, como nem todos os carros estão segurados, as informações das seguradoras
devem conter menos registros que as das polícias.

No caso dos homicídios, os dados do Datasus/Ministério da Saúde são geralmente de uma


confiabilidade superior aos da polícia, pela própria natureza de sua produção e por estarem submetidos
a uma crítica mais detalhada. Mas, eles também apresentam problemas, como a existência de uma
categoria de mortes violentas de intencionalidade desconhecida, que incluiria homicídios, suicídios e
mortes acidentais. Para chegar a uma estimativa mais precisa, é necessário submeter essa categoria a
uma estimativa que reclassifica uma parte dela como homicídio. Além disso, a dificuldade maior para
utilizar esses dados como indicadores de segurança pública é a demora na sua divulgação,
justamente devido ao tempo dedicado à crítica dos dados. De qualquer forma, é muito importante
que, mesmo com certo atraso, tais registros sejam comparados com os da polícia, para testar a validade
dos últimos.

Existem inúmeras instituições públicas e privadas que compilam informações que podem ser relevantes
para a análise de crimes, criminosos ou vítimas específicas. Dentre outras, estão as agências de
regulação dos produtos controlados, como armas, álcool ou drogas, agências reguladoras que
fiscalizam instituições bancárias ou de segurança, autoridades fiscais e alfandegárias, departamentos de
segurança de instituições privadas, etc.

A página do Ministério da Justiça vem se institucionalizando nos últimos anos como referência
nacional em relação às informações de segurança pública. Destacam-se como exemplos de relatórios
disponíveis nessa página:
(http://www.mj.gov.br/data/Pages/MJCF2BAE97ITEMIDC5C3828943404A54BF47608963F4
3DA7PTBRIE.htm

- Ocorrências registradas pelas polícias civis (2001/2005);


- Perfil das vítimas e agressores nas ocorrências registradas pelas polícias civis (2004/2005);
- Perfil das organizações de segurança pública (2003/2005/2006);
- Efetivo das organizações estaduais de segurança pública (2001/2005/2006); e
- Custos da violência e criminalidade no Brasil (1999).
Outras fontes de informação

Uma das fontes de informações sobre segurança pública são os portais das Secretarias
Estaduais de Segurança Pública, da Polícia Civil e da Polícia Militar. Quando as
informações estatísticas não estão disponibilizadas no portal é preciso fazer um contato telefônico ou
por e-mail com os gestores dessas instituições solicitando-as.

Outras fontes importantes de informações de segurança pública são os grupos de pesquisa e portais
acadêmicos relacionados a essa questão. Veja no anexo 1 Endereços de páginas como contatar
com essas organizações de âmbito nacional.

Antes de prosseguir, leia o anexo 2 Pesquisas de vitimização.

Fontes de dados de informações socioeconômicas e urbanas

Uma das fontes de dados mais importantes para complementar as bases de segurança pública e justiça
criminal é o censo demográfico realizado pelo IBGE a cada dez de anos. Dentre outras
informações, o censo fornece o dado populacional, sem o qual seria impossível calcular as taxas de
crimes por 100 mil habitantes, fazer comparações entre diferentes unidades administrativas e
acompanhar tendências temporais. Do mesmo modo, informações como a composição etária e racial da
população, as taxas de urbanização, de desemprego, de migração, os indicadores de desigualdade
na distribuição de renda, as taxas de evasão escolar ou a composição das famílias, e outros fatores,
são cruciais para a interpretação precisa do significado das estatísticas criminais.

No anexo 3, Portais na internet você pode obter informações importantes para


contextualização da situação de segurança pública.

Neste módulo são apresentados exercícios de fixação para auxiliar a compreensão do


conteúdo.

O objetivo destes exercícios é complementar as informações apresentadas nas páginas


anteriores.
1. O método de pesquisa de avaliação de impacto inclui:

( ) Sistematização das informações trazidas pelos documentos, buscando a existência de


semelhanças.
( ) Determinação dos resultados das ações e políticas de segurança pública.
( ) Descrição e explicação abrangente dos muitos componentes de uma determinada situação
social.

2. Qual a principal vantagem da coleta de informação por dados secundários?

( ) O pesquisador não fica limitado a dados já coletados e compilados. ( ) O


pesquisador tem que selecionar a amostra de forma científica.
( ) O pesquisador não precisa arcar com os custos de amostragens, entrevistas e codificações.

3. Em relação às perguntas contidas no questionário, assinale a afirmativa FALSA:

( ) As perguntas devem apresentar cinco características básicas: a pergunta precisa ser compreendida e
comunicada consistentemente; as expectativas quanto às respostas precisam ser explicitadas para o
respondente; os respondentes devem ter todas as informações necessárias para a resposta e os
respondentes precisam estar dispostos a responder.
( X ) Quanto à linguagem usada na formulação das perguntas, é preciso atentar para a sua compreensão
pela população alvo da pesquisa. Abreviações, gírias ou termos regionais, termos especiais ou
sofisticados devem ser utilizados para facilitar a compreensão do entrevistado.
( ) As perguntas abertas são indicadas quando não se conhece a abrangência e variabilidade das
possíveis respostas. Esse tipo de pergunta estabelece no início da entrevista, um clima receptivo entre
pesquisador e respondente, e no final captura as opiniões não cobertas pelas perguntas fechadas.
( ) Perguntas em escala nominal utilizam símbolos ou números somente para identificar as pessoas,
objetos ou categorias.
( ) Nas perguntas em escala intervalar, as características são ordenadas conforme uma dimensão
subjacente e os intervalos entre as alternativas têm tamanho conhecido e podem ser comparados.
Gabarito

1. Determinação dos resultados das ações e políticas de segurança pública.

2. O pesquisador não precisa arcar com os custos de amostragens, entrevistas e codificações.

3. Quanto à linguagem usada na formulação das perguntas, é preciso atentar para a sua compreensão
pela população alvo da pesquisa. Abreviações, gírias ou termos regionais, termos especiais ou
sofisticados devem ser utilizados para facilitar a compreensão do entrevistado.

Este é o final do módulo 2

Coleta de informações

Anexos

Anexo 1 - Endereços de páginas

ACRE
SSP: www.ac.gov.br/sejusp Polícia
Militar: www.pm.ac.gov.br
Polícia Civil: www.ac.gov.br/policiacivil
Corpo de Bombeiros Militar: www.bombeiros.ac.gov.br

ALAGOAS
SSP: www.ssp.al.gov.br
Polícia Militar: www.pm.al.gov.br
Polícia Civil: www.pc.al.gov.br/
Corpo de Bombeiros Militar: www.cbm.al.gov.br

AMAZONAS
SSP: www.ssp.am.gov.br
Polícia Militar: www.pm.am.gov.br Polícia
Civil: www.policiacivil.am.gov.br
Corpo de Bombeiros Militar: www.cbm.am.gov.br
AMAPÁ
SSP: www.sejusp.ac.gov.br
Corpo de Bombeiros Militar: www.cbmap.hpg.ig.br

BAHIA
SSP: www.ssp.ba.gov.br
Polícia Militar: www.pm.ba.gov.br
Polícia Civil: www.ssp.ba.gov.br/policiacivil.asp

CEARÁ
SSP: www.seguranca.ce.gov.br Polícia
Militar: www.pm.ce.gov.br Polícia Civil:
www.policiacivil.ce.gov.br
Corpo de Bombeiros Militar: www.cb.ce.gov.br/index.asp

DISTRITO FEDERAL
SSP: www.ssp.df.gov.br
Polícia Militar: www.pmdf.df.gov.br
Polícia Civil: www.pcdf.df.gov.br
Corpo de Bombeiros Militar: www.cbm.df.gov.br

ESPÍRITO SANTO
SSP: www.sesp.es.gov.br Polícia
Militar: www.pm.es.gov.br Polícia
Civil: www.pc.es.gov.br
Corpo de Bombeiros Militar: www.cb.es.gov.br

GOIÁS
SSP: www.sspj.go.gov.br
Polícia Militar: www.pm.go.gov.br
Polícia Civil: www.policiacivil.goias.gov.br
Corpo de Bombeiros Militar: www.bombeiros.go.gov.br

MARANHÃO
SSP: www.sesec.ma.gov.br Polícia
Militar: www.pm.ma.gov.br
Corpo de Bombeiros Militar: www.cbm.ma.gov.br

MATO GROSSO DO SUL


SSP: www.sejusp.ms.gov.br Polícia
Militar: www.pm.ms.gov.br Polícia
Civil: www.pc.ms.gov.br/
Corpo de Bombeiros Militar: www.bombeiros.ms.gov.br/

MINAS GERAIS
SSP: www.sesp.mg.gov.br/
Polícia Militar: www.pmmg.mg.gov.br
Polícia Civil: www.sesp.mg.gov.br/
Corpo de Bombeiros Militar: www.bombeiros.mg.gov.br

PARÁ
SSP: www.segup.pa.gov.br/ Polícia
Militar: www.pm.pa.gov.br
Polícia Civil: www.policiacivil.pa.gov.br/
Corpo de Bombeiros Militar: www.bombeiros.pa.gov.br

PARANÁ
SSP: www.pr.gov.br/sesp/
Polícia Militar: www.pmpr.pr.gov.br
Polícia Civil: www.policiacivil.pr.gov.br
Corpo de Bombeiros Militar: www.bombeiros.pr.gov.br

PARAÍBA
SSP: www.ssp.pb.gov.br
Polícia Militar: www.pm.pb.gov.br
Polícia Civil: www.ssp.pb.gov.br

PERNAMBUCO
SSP: www.sds.pe.gov.br/
Polícia Militar: www.pm.pe.gov.br Polícia
Civil: www.policiacivil.pe.gov.br
Corpo de Bombeiros Militar: ww2.sds.pe.gov.br/cbmpe/
PIAUÍ
SSP: www.ssp.pi.gov.br/
Polícia Militar: www.pm.pi.gov.br
Polícia Civil: www.policiacivil.pi.gov.br

RIO DE JANEIRO
SSP: www.seguranca.rj.gov.br/
Polícia Militar: www.policiamilitar.rj.gov.br
Polícia Civil: www.policiacivil.rj.gov.br
Corpo de Bombeiros Militar: www.cbmerj.rj.gov.br/

RIO GRANDE DO NORTE


SSP: www.defesasocial.rn.gov.br/
Polícia Militar: www.pm.rn.gov.br/
Polícia Civil: www.defesasocial.rn.gov.br/policiacivil.asp
Corpo de Bombeiros Militar: www.cbm.rn.gov.br

RIO GRANDE DO SUL


SSP: www.sjs.rs.gov.br
Polícia Militar: www.brigadamilitar.rs.gov.br
Polícia Civil: www.pc.rs.gov.br
Corpo de Bombeiros Militar: www.brigadamilitar.rs.gov.br/bombeiros

RONDÔNIA
SSP: www.rondonia.ro.gov.br/orgaos.asp?id=23
Polícia Militar: www.pm.ro.gov.br
Polícia Civil: www.policiacivil.ro.gov.br
Corpo de Bombeiros Militar: www.cbm.ro.gov.br

SANTA CATARINA
SSP: www.ssp.sc.gov.br/
Polícia Militar: www.pm.sc.gov.br Polícia
Civil: www.policiacivil.sc.gov.br
Corpo de Bombeiros Militar: www.cb.sc.gov.br

SÃO PAULO
SSP: www.ssp.sp.gov.br
Polícia Militar: www.polmil.sp.gov.br
Polícia Civil: www.policia-civ.sp.gov.br/
Corpo de Bombeiros Militar: www.polmil.sp.gov.br/ccb

SERGIPE
SSP: www.ssp.se.gov.br
Polícia Militar: www.pm.se.gov.br
Corpo de Bombeiros Militar: www.cbm.se.gov.br

TOCATINS
SSP: www.to.gov.br/ssp/
Polícia Militar: www.pm.to.gov.br
Polícia Civil: www.to.gov.br/ssp/conteudo.php?id=40
Corpo de Bombeiros Militar: www.bombeiros.to.gov.br

RORAIMA
SSP: www.rr.gov.br/governo.php?area=secretarias
Polícia Militar: www.pm.rr.gov.br
Corpo de Bombeiros Militar: www.bombeiros.rr.gov.br

Quadro: Grupos de pesquisa e portais acadêmicos em segurança pública

INSTITUIÇÃO ENDEREÇO

CIS – Consórcio de Informações Sociais www.nadd.prp.usp.br


CRISP – Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública www.crisp.ufmg.br
ILANUD – Instituto Latino Americano da ONU para a Prevenção do Delito e o
www.ilanud.org.br
Tratamento do Delinqüente
Instituto Brasileiro de Ciências Criminais www.ibccrim.com.br
CESeC – Centro de Estudos de Segurança e Cidadania www.cesec.ucam.br
NECVU – Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana (UFRJ) www.necvu.ifcs.ufrj.br
NEV – Núcleo de Estudos de Violência da USP www.nev.prp.usp.br
NUPEVI – Núcleo de Estudos das Violências www.ims.uerj.br/nupevi
SEADE – Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados www.seade.gov.br
ISER: Instituto Superior de Estudos Religiosos www.iser.org.br
CLAVES – Centro Latino Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli www.claves.fiocruz.br
www.fjp.gov.br/produtos/c
Núcleo de Estudo em Segurança Pública da Fundação João Pinheiro
ees/nesp
Núcleo de Pesquisa em Justiça Criminal e Segurança Pública do Instituto de www.institutodeseguranca
Segurança Pública do Rio de Janeiro .rj.gov.br
Fonte: Elaboração do próprio conteudista.

Anexo 2 - Pesquisas de vitimização

Pesquisas de vitimização

Marcelo Durante1

A realização regular e em âmbito nacional de pesquisas de vitimização constitui uma


fonte indispensável de informações para o planejamento, monitoramento e avaliação de políticas de
segurança pública implementadas em âmbito local e regional, especialmente aquelas direcionadas para a
prevenção da violência e criminalidade. Seu impacto sobre as políticas públicas está relacionado, por
exemplo, à oportunidade da coleta continuada de informações sobre os eventos criminais não relatados às
polícias e às percepções da população acerca da sua exposição ao risco e da sua interação com os órgãos
de segurança pública. Essas informações complementam as estatísticas oficiais construídas a partir dos
relatos dos cidadãos às polícias. Os aspectos metodológicos ligados à realização desse tipo de pesquisa
fazem com que ela seja complexa e, por isso, relativamente mais cara do que outras pesquisas na área de
segurança pública, voltadas para a produção de bases de dados criminais.
As pesquisas de vitimização surgiram nos Estados Unidos na década de 60, como uma tentativa
de estimar a quantidade de crimes sofridos pela população e não comunicados aos órgãos
governamentais. Hoje em dia, em diversos países do mundo, governos ou institutos independentes
realizam, com intervalos regulares de tempo, pesquisas de vitimização com amostras da população.
Aparentemente, seria mais simples e econômico consultar as estatísticas oficiais para conhecer a
quantidade de crimes a que está sujeita a sociedade. No entanto, os dados oficiais nem sempre refletem a
real dimensão da violência e da criminalidade, e suas características. Isso porque as estatísticas oficiais
tanto nos países com sistemas de segurança pública mais avançados, quanto nos menos avançados,
refletem apenas os fatos criminosos e violentos que os cidadãos decidem relatar às autoridades policiais.
A disposição das vítimas de notificar os crimes sofridos à polícia depende de uma série de fatores
relacionados, por exemplo, com o estigma social associado a determinados

1
Coordenador geral de análise da informação do Ministério da Justiça. Tem experiência na área de
Sociologia, com ênfase em Segurança Pública.
tipos de crime, características do incidente e, até mesmo, a percepção da vítima sobre a eficiência do
sistema policial.
A primeira pesquisa de vitimização norte-americana, de 1966, descobriu que o volume de
vitimizações era quase o triplo da quantidade de eventos criminais relatados à polícia (Paixão, p. 47). O
British Crime Survey calculou no começo dos anos 90 que ocorrem na Inglaterra quatro vezes mais
crimes do que são registrados pela polícia. Ainda que o volume do subregistro varie de crime para crime e
de país para país, esse é um fenômeno generalizado. Entre os 20 países pesquisados pelo UNICRI
(Instituto Europeu de Criminologia da ONU), no período de 1988 e 1992, foi identificada uma taxa de
subnotificação da ordem de 51% para um conjunto de 10 crimes diferentes. No caso brasileiro, recente
pesquisa desenvolvida pelo PIAPS (Plano de Integração e Acompanhamento de Programas Sociais/MJ),
em 2001, mostrou que apenas 10% das vítimas de furto ou agressão sexual e 25% das vítimas de agressão
física ou roubo registraram os delitos na polícia.
É preciso deixar claro que as pesquisas de vitimização não substituem os levantamentos oficiais.
Elas constituem um instrumento complementar de coleta de dados que tem como objetivo dar conta de
uma realidade que não está presente nas estatísticas oficiais. Seu objetivo principal é mensurar os crimes
não registrados à polícia e as motivações que produzem o subregistro. Essas pesquisas podem, ainda,
fornecer um conjunto detalhado de informações essenciais para a criação de políticas de segurança
pública:
a) O perfil das vítimas dos delitos;
b) O perfil dos agressores;
c) O relacionamento entre vítimas e agressores;
d) As circunstâncias nas quais os incidentes ocorreram;
e) A experiência das vítimas com os agentes do sistema de segurança pública e justiça criminal;
f) As medidas tomadas pelos indivíduos objetivando a prevenção de delitos;
g) Os custos diretos e indiretos do crime para suas vítimas, em particular, e para a sociedade de um
modo geral;
h) Os níveis de eficácia das organizações policiais no controle da criminalidade;
i) O grau de exposição de diferentes grupos sociais à criminalidade;
j) As percepções coletivas sobre o crime; e
k) A percepção do público a respeito da atuação do Estado na área de segurança pública.

Tabela 1 – Subregistro das estatísticas oficiais de criminalidade no Brasil (2001)


Notificação por tipo de delito

Agressão sexual

Furto

Agressão física

Roubo

Roubo e furto de veículo

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Percentual de notificação

Fonte: PIAPS/MJ
.
No Brasil, a primeira pesquisa de vitimização de que se tem notícia foi o suplemento incluído na
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE, de 1988. A maior parte das pesquisas
de vitimização que foi realizada no Brasil ocorreu na década de noventa e, em razão do seu custo,
limitaram-se a algumas capitais, em particular na região sudeste do país. Como exemplos de pesquisas de
vitimização realizadas nos anos 90, existem os estudos do Banco Mundial realizados entre os anos de
1988 e 1999, nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo; a pesquisa de vitimização de Belo Horizonte
2002 realizada pelo Crisp/UFMG (Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública); a pesquisa
de vitimização realizada na cidade do Rio de Janeiro, no ano de 1996, pelo ISER – Instituto de Estudos
da Religião – em parceria com a Fundação Getúlio Vargas e, mais recentemente, a pesquisa de
vitimização 2002 e avaliação do PIAPS, realizada simultaneamente em quatro grandes cidades brasileiras
– São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Vitória – pelo Gabinete de Segurança Institucional da Presidência
da República, em parceria com o Ilanud e a FIA-USP.
Anexo 3 - Portais na internet

Informações sobre segurança pública

Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas – (www.ipeadata.gov.br)

Esse portal reúne dados macroeconômicos e regionais provenientes de várias fontes. Para a maioria
deles está disponível a série histórica, ou seja, o dado para vários períodos de tempo. Além
disso, o IPEA disponibiliza vários indicadores, que são estatísticas com metodologia de cálculo
desenvolvida pelo instituto em seus estudos e pesquisas.

Os dados são divididos por temas: agropecuária, balanço de pagamentos, câmbio, comércio exterior,
consumo e vendas, contas nacionais, demografia, economia internacional, educação, eleição, emprego,
estoque de capital, finanças públicas, financeiras, geográfico, habitação, IDH, indicadores sociais,
mercado de trabalho, moeda e crédito, população, preços, produção, projeções, salário e renda, saúde,
segurança pública, sinopse macroeconômica e transporte.

Figura 3: Portal do Ipeadata.

Fonte: www.ipeadata.gov.br
Ministério da Saúde – Banco de dados do Sistema Único de Saúde (DATASUS) –
(www.datasus.gov.br)

O portal do Datasus traz informações sobre mortalidade e sobrevivência, chamadas de estatísticas


vitais. Informações epidemiológicas e morbidade e informações sobre situação sanitária.
Também concentra informações sobre assistência a saúde da população, os cadastros das redes
hospitalares e ambulatoriais, o cadastro dos estabelecimentos de saúde, os recursos financeiros e
informações demográficas e socioeconômicas. Esses dados estão disponíveis para o Brasil,
estados e municípios, regiões metropolitanas, microregiões e aglomerados urbanos. A base de dados do
Datasus/MS é muito aplicada na área de segurança pública em trabalhos que utilizam os homicídios
registrados pelos atestados de óbitos. O datasus/MS fornece os dados das vítimas, segundo sexo, idade,
raça, etc.

Figura 4: Portal do Datasus.

Fonte: www.datasus.gov.br
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – (http://www.ibge.gov.br)
Conjunto extenso de informações socioeconômicas e urbanas disponíveis para o Brasil, estados e
municípios. São disponibilizadas séries de dados divididas em indicadores, população, economia e
geociências.

Os indicadores são fornecidos para as áreas de agropecuária, contas nacionais trimestrais, trabalho e
rendimento, indústria, pesquisa mensal de comércio e preços.

Os dados de população são divididos nas seguintes categorias:


 Indicadores sociais;
 Censos demográficos;
 Contagens da população;
 Estatísticas do registro civil;
 Pesquisa de orçamentos familiares (POFs);
 Pesquisa nacional de amostra por domicílio (PNAD); ]
 Tábuas completas de mortalidade;
 Projeção da população;
 Estimativas de população;
 Atlas de saneamento;
 Economia informal urbana;
 Assistência médico-sanitária;
 Saneamento básico;
 Sindicatos; e
 Pesquisa de esporte.

Em relação à economia, o IBGE disponibiliza informações sobre a indústria, serviços, agropecuária,


micro e pequenas empresas, cadastros e classificações econômicas, comércio, contas nacionais, contas
regionais, despesas públicas por funções, economia do turismo, produto interno bruto dos municípios,
estatísticas do cadastro central de empresas, finanças públicas do Brasil, fundações privadas e
associações sem fins lucrativos.

Os dados de geociências são: área territorial oficial, cartografia, geodésia, geografia e recursos
naturais.
Figura 5: Portal do IBGE.

Fonte: www.ibge.gov.br
Análise Criminal

Curso Análise Criminal – Módulo 3


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Módulo 3 – Análise estatística criminal

Neste módulo, você estudará os conceitos básicos relacionados ao estudo da estatística para compreender melhor as
técnicas utilizadas na análise estatística criminal.

Ao final do módulo, você deverá ser capaz de:

- Definir os principais conceitos relacionados à estatística;


- Correlacionar as séries estatísticas aos fatores básicos que a estruturam;
- Descrever as formas pelas quais as informações podem ser apresentadas estatisticamente;
- Identificar as técnicas utilizadas na estatística descritiva; e
- Definir análise de regressão.

O conteúdo deste módulo está dividido em cinco aulas:

Aula 1 – Conceitos básicos


Aula 2 – Séries estatísticas
Aula 3 – Apresentação dos dados
Aula 4 – Estatística descritiva Aula
5 – Análise de regressão

Aula 1 - Conceitos básicos

O termo estatística surgiu da expressão em latim– statisticum collegium – que significa palestra sobre
os assuntos do Estado. No século XVII, o termo Statistik foi utilizado designando a análise da dados
sobre o Estado. Entretanto, somente no início do século XIX o termo adquiriu o significado de coleta e
classificação de dados, que persiste até hoje. A análise estatística criminal consiste na aplicação da análise
estatística aos dados de criminalidade e segurança pública.

Clique nos termos abaixo para compreender melhor alguns conceitos básicos utilizados em
estatística.

- População: É um conjunto de indivíduos ou objetos que apresentam pelo menos uma característica

em comum.

- Censo: É uma coleção de dados relativos a todos os elementos de uma população.


- Amostra: É uma coleção de dados relativos a uma parte da população que a representa. É usada, na
maioria das vezes, por causa da impossibilidade e dos custos de coletar informações de todos os
elementos da população.

- Variáveis: São objetos que servem para guardar informações e permitem dar nomes a cada uma das
partes da informação que se quer guardar. Por exemplo, tratando-se de vitimização dos indivíduos, há
como variáveis distintas: quantos crimes o indivíduo sofreu, sua escolaridade, seu gênero, sua idade, etc.

- Fluxo de execução da análise estatística: O trabalho de análise estatística resulta da execução


de quatro etapas dispostas conforme o diagrama abaixo: coleta, crítica, apresentação e análise dos dados.

A execução do fluxo da análise estatística envolve sempre a possibilidade de se ter que retornar à
primeira etapa da pesquisa referente à coleta de dados. Tanto uma crítica dos dados pode mostrar que a
etapa de coleta não foi bem planejada ou executada, quanto às etapas de apresentação e análise dos dados
podem evidenciar que os dados coletados são insuficientes para garantir uma boa compreensão do
fenômeno estudado.

Figura 6: Fluxo da execução da análise estatística

Apresentação de dados

Coleta de dados Crítica de dados Elaboração de tabelas Análise

Elaboração de gráficos

Elaboração de mapas

Elaboração do próprio conteudista.

Coleta de Dados – Após a definição do problema a ser estudado e o estabelecimento do projeto de


pesquisa (objetivo, a forma pela qual os dados serão coletados, cronograma das

Curso Análise Criminal – Módulo 3


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atividades, custos envolvidos, exame das informações disponíveis e delineamento da amostra), o passo
seguinte é a coleta de dados, que consiste na busca ou compilação das informações em variáveis,
componentes do fenômeno a ser estudado.

Crítica dos dados – A revisão crítica dos dados procede com a finalidade de identificar e suprimir os
valores estranhos ao levantamento, os quais são capazes de provocar futuros enganos. Esses valores
podem ocorrer, principalmente, por problemas de preenchimento ou digitação dos questionários.

Apresentação dos dados – Convém que sejam organizados em conjunto de dados de forma prática e
racional, para facilitar sua apresentação no formato de tabelas, gráficos ou mapas. A execução dessa etapa
ocorre de forma interligada à próxima etapa referente à análise dos dados, pois com o desenvolvimento da
análise é possível descobrir outras tabelas, gráficos ou mapas que sejam necessários para uma melhor
compreensão do fenômeno estudado.

Análise – Análise das informações produzidas a partir da leitura das tabelas, gráficos e mapas,
sistematizando as conclusões em um relatório.

Elaboração de tabelas / Elaboração de gráficos / Elaboração de mapas - Estatística


descritiva: São técnicas analíticas utilizadas para resumir e apresentar os dados de uma pesquisa,
visando descrevê-la.

Estatística Descritiva: são técnicas analíticas utilizadas para resumir e apresentar os dados de uma
pesquisa, visando descrevê-la.

A execução desse fluxo da análise estatística envolve sempre a possibilidade de se ter que retornar à
primeira etapa da pesquisa referente à coleta de dados. Tanto uma crítica dos dados pode mostrar que a
etapa de coleta não foi bem planejada ou executada, quanto às etapas de apresentação e análise dos dados
podem evidenciar que os dados coletados são insuficientes para garantir uma boa compreensão do
fenômeno estudado.

Aula 2 - Séries estatísticas

Uma série estatística constitui uma coleção de dados estatísticos referidos a uma mesma ordem de
classificação, ou seja, uma seqüência de números que se refere a uma certa variável. Três fatores básicos
estruturam a construção de séries estatísticas:

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- Época – Fator temporal ou cronológico a que se refere o fenômeno analisado;
- Local – Fator espacial ou geográfico onde o fenômeno acontece; e
- Fenômeno – Espécie do fator que é descrito.

Esses fatores levam a existência de quatro tipos distintos de séries estatísticas: série temporal,
série geográfica e série específica.

Síntese dos tipos de séries estatísticas


SITUAÇÃO TEMPORAL GEOGRÁFICA ESPECÍFICA
Parte variável Época Local Fenômeno
Parte fixa Local e fenômeno Época e fenômeno Época e local

Elaboração do próprio conteudista.

Série temporal

A série temporal (cronológica, histórica, evolutiva ou marcha) é identificada pelo caráter variável
do fator cronológico.

Tabela 2 – Existência de plantão 24 horas nas DEAMs (Brasil-2003/2005)

Existência de 2003 2004 2005


plantão 24 horas

N. % N. Abs. % N. Abs. %
Abs.
SIM 61 21,11 54 20,22 41 18,39

NÃO 228 78,89 213 79,78 182 81,61

Total 289 100,00 267 100,00 223 100,00

Fonte: MJ/SENASP
Série geográfica

A série geográfica (territoriais, espaciais ou de localização) é identificada pelo caráter


variável do fator local.

Homicídios Dolosos
Tabela 3 –Unidades
Distribuição
da das vítimas de homicídio doloso e taxa de vítimas por 100 mil habitantes entre as unidades da
Taxas Vítimas /
Federação Vítimas 100mil hab.
federação
Acre
(Brasil – 2006) - Fonte:152
MS/SVS .
22,1
Alagoas 1.592 52,2
Amapá 191 31,0
Amazonas 689 20,8
Bahia 3.138 22,5
Ceara 1.677 20,4
Distrito Federal 646 27,1
Espírito Santo 1.699 49,0
Goiás 1.298 22,6
Maranhão 771 12,5
Mato Grosso 739 25,9
Mato Grosso do Sul 658 28,6
Minas Gerais 3.594 18,5
Para 1.945 27,4
Paraíba 807 22,3
Paraná 2.897 27,9
Pernambuco 4.215 49,6
Piauí 402 13,2
Rio de Janeiro 5.992 38,5
Rio Grande do Norte 405 13,3
Rio Grande do Sul 1.972 18,0
Rondônia 445 28,5
Roraima 64 15,9
Santa Catarina 649 10,9
São Paulo 7.274 17,7
Sergipe 560 28,0
Tocantins 192 14,4

Tabela 3 – Distribuição das vítimas de homicídio doloso e taxa de vítimas por 100 mil
habitantes entre as unidades da federação (Brasil – 2006) - Fonte: MS/SVS.
Série específica
A série específica (categórica ou por categoria) é identificada pelo caráter variável do fator fenômeno.

Indicadores criminais Número de Taxa por 100


ocorrências mil hab. (1)
Crimes violentos letais e intencionais 40.974 23,6
Crimes violentos não-letais contra 61.232 35,2
pessoa
Crimes violentos contra o patrimônio 903.773 519,6
Delitos envolvendo drogas 87.170 50,1
Delitos de trânsito 320.265 184,1
Homicídios dolosos 38.180 22,0
Tentativas de homicídio 36.080 20,7
Lesões corporais 696.774 400,6
Estupros 14.557 16,5
Atentados violentos ao pudor 10.355 7,8
Extorsões mediante seqüestro 475 0,4
Roubos 903.298 519,4
Furtos 2.022.896 1.163,1

Tabela 4 – Ocorrências registradas pelas polícias civis por número e taxas por 100 mil
habitantes (Brasil – 2005) - Fonte: MJ/SENASP.

Aula 3 – Apresentação dos dados

Uma vez que os dados foram coletados, deve-se ter atenção ao examiná-los, pois, muitas vezes, o
conjunto de valores é extenso e desorganizado e há risco de se perder a visão global do fenômeno
analisado. Para que isso não ocorra, é interessante reunir os valores em tabelas, gráficos ou mapas,
facilitando sua compreensão.
Um dos objetivos da construção de tabelas é sistematizar os valores que uma ou mais
variáveis podem assumir, para que tenhamos uma visão global da sua variação.

A tabela é uma maneira de apresentar resumidamente um conjunto de dados.

Construção de tabelas

Tabela 5 – Unidades operacionais dos corpos de bombeiros militares (Brasil - 2004)


Título da tabela - Conjunto de informações, as mais completas possíveis, respondendo às perguntas:
O quê? Quando? e Onde? – localizado no topo da tabela, além de contar a palavra “TABELA” e sua
respectiva numeração.

Corpo da tabela - É o conjunto de linhas e colunas que contêm informações sobre a variável em
estudo. A substituição de uma informação da tabela pode ser feita pelos seguintes sinais: (...) informação
é coletada, mas não está disponível; (–) informação não coletada e (?) quando há dúvida da validade da
informação.

Tipos de unidades operacionais dos Número de unidades


corpos de bombeiros operacionais
N.Abs (%)

Batalhões e grupamentos 190 17,6

Companhias e subgrupamentos 279 25,8

Centros executores de atividades 361 33,4


operacionais

Destacamentos com sede própria e 252 23,3


pelotões independentes

Total de unidades operacionais 1082 100,0

Fonte: MJ/SENASP.
Rodapé
Elementos complementares da tabela:
a) Fonte: Identifica o responsável (pessoa física ou jurídica) pela sistematização dos dados
numéricos;
b) Notas: É o texto que irá esclarecer de forma geral ou específica algum conteúdo da tabela; e
c) Chamadas: Símbolo remissivo atribuído a algum elemento de uma tabela que necessita de uma nota
específica.

Construção de gráficos

A construção de gráficos atende as mesmas finalidades da construção das tabelas – representar os


resultados de forma simples, clara e verdadeira, demonstrar a evolução do fenômeno em
estudo e observar a relação dos valores analisados. A disposição dos elementos é idêntica a
das tabelas.

- Título do gráfico
Conjunto de informações, as mais completas possíveis, respondendo às perguntas: O quê? Quando? e
Onde? – localizado no topo do gráfico, além de contar a palavra “GRÁFICO” e sua respectiva
numeração.

- Corpo do gráfico
É a representação gráfica da análise efetuada.

- Rodapé
Elementos complementares do gráfico:
a) Fonte: Identifica o responsável (pessoa física ou jurídica) pela sistematização dos dados
numéricos;
b) Notas: É o texto que irá esclarecer de forma geral ou específica algum conteúdo do gráfico; e
c) Chamadas: Símbolo remissivo atribuído a algum elemento do gráfico que necessita de uma nota
específica.
Tipos de gráficos
Gráficos em colunas

Conjunto de retângulos dispostos verticalmente, separados por um espaço.


Gráfico 2 – Percentual dos custos da violência e criminalidade em relação ao PIB Municipal (São
Paulo – 1999, Rio de Janeiro – 1995 e Belo Horizonte – 1999)

5
Percentual do PIB Municipal

0
São Paulo
Rio de Janeiro Belo Horizonte
Municípios

Fonte: CRISP, ILANUD e ISER


Gráficos de Barras

Conjunto de retângulos dispostos horizontalmente, separados por um espaço.


Gráfico 3 – Percentual da população que considera que a polícia faz um bom trabalho (34 países –
2002)

Fonte: Nuttall et al. (2002).


Gráficos em setores
Representação através de um círculo, por meio de setores, sendo muito utilizado quando se quer
comparar cada valor de uma série com o seu total (proporção).

Gráfico 4 – Percentual dos IMLs que possuem verba própria e percentual dos IMLs conforme
cobertura das despesas de manutenção pelas verbas próprias (Brasil - 2003)

Existência de verba própria Sim ( 16%)

Sim (
18%)

Não (
84%) Não (
82%)

Verba própria cobre todas as despesas de


manutenção

Fonte: MJ/SENASP.

Gráficos em de linhas ou curvas

Utilizado principalmente para representar séries temporais.


Gráfico 5 – Taxa de homicídios por 100 mil habitantes (Brasil – 1980/2005)
30
28 12 14 16 18 20 22 24 26
100 mil
taxa homicidios por 10

1986

1995

1998

2005
1980

1983

1989

1991

2000

2003

Fonte: MS/SVS.

Aula 4 – Estatística descritiva


ano

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Como você estudou na aula 1, a análise descritiva envolve técnicas para organizar, resumir e descrever os
dados de uma pesquisa.

Para facilitar a descrição dos dados são utilizados alguns parâmetros, apresentados a seguir, de forma
didática, divididos em cinco grupos:

- Parâmetros para comparação relativa;


- Distribuição de freqüência;
- Medidas de tendência central;
- Medidas de dispersão; e
- Análise de correlação.

Parâmetros para comparação relativa

Proporção
É obtida a partir do cálculo de uma parte do conjunto sobre o seu total. Considere 10
pessoas retidas em uma delegacia, das quais 4 são homens. A proporção de homens é de 4/10 = 0,4, ou
seja, temos 0,4 homens por pessoa retida na delegacia. Considere que 20 ocorrências são registradas em
um município, das quais 10 são homicídios dolosos. A proporção de homicídios é de 10/20 = 0,5, ou seja,
0,5 homicídios por ocorrência registrada no município.
Porcentagem
As porcentagens são obtidas a partir do cálculo das proporções, simplesmente
multiplicando-se o quociente obtido por 100. A palavra porcentagem significa “por cem”. Uma vez que a
soma das proporções é a igual a 1, a soma das porcentagens é igual a 100, a menos que as partes não
sejam mutuamente exclusivas e exaustivas. Assim, nos exemplos de proporção, há 40% de homens entre
as pessoas retidas e 50% de homicídios entre as ocorrências registradas no município.

Razão
Definida a razão de um número A em relação a um número B como “A dividido por B”, como por
exemplo, a razão de policiais por viatura no Brasil é de (policiais)/(viaturas) = 618.613 /
76.074 = 8,13, ou seja, há 8,13 policiais por viatura. Resta esclarecer que a razão busca relacionar
quantidades de itens diferentes, como: policiais por viatura, PIB por habitantes, recursos financeiros
gastos pela polícia militar pelo total do efetivo da polícia militar, etc.

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Tabela 6 – Gastos das polícias militares segundo tipo de gasto (Brasil – 2005)
Fonte: MJ/SENASP .
Cálculos da proporção, porcentagem e razão – Tabela 6

- Proporção de gastos com a folha de pagamento

5.516.952.440,11
Gasto com a folha de pagamento = 0,91
Gasto total 6.005.508.679,78

Para cada real gasto pelas polícias militares, 91 centavos são referentes à folha de pagamento

- Porcentagem de gastos com a folha de pagamento:

0,91 x 100 = 91%

Cerca dos 91% dos gastos das polícias militares são referentes à folha de pagamento.

Razão de gastos com folha de pagamento por gastos com aquisição de viatura.

Folha de pagamento 5.516.952.440,11 = 69,63


Aquisição de viaturas 79.226.268,00

Para cada um real gasto com aquisição de viatura são gastos R$ 69,63 com a folha de pagamento.
Tipo de gasto das polícias Valor gasto (R$)
militares

Folha de pagamento R$ 5.516.952.440,11


Material de consumo R$ 162.438.522,90
Aquisição de viaturas R$ 79.226.268,00
Outros R$ 246.891.448,77
Total R$ 6.005.508.679,78

Tabela 7 – Efetivo das polícias civis, segundo a categoria profissional (Brasil – 2005)
Fonte: MJ/SENASP.

Categorias Total do efetivo


profissionais
Polícia Civil
Delegado 5.479

Inspetor 9.655

Investigador e detetives 15.162

Agente 16.517

Papiloscopista 2.170

Escrivão 10.764

Carcereiro 2.145

Outros 8.988
Total 70.880
Fonte: MJ/SENASP.

Cálculos da proporção, porcentagem e razão – Tabela 7

15.162
- Proporção de investigadores e detetives: = 0,23

70.880

Para cada profissional do efetivo da polícia civil, existem 0,23 investigadores e detetives.

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- Porcentagem de investigadores e detetives:
0,23 x 100 = 23%

Cerca dos 23% do efetivo da Polícia Civil são investigadores e detetives.

Razão do efetivo de escrivães pelo efetivo de delegados:


10.764 = 1,9
5.479

Para cada delegado existem 1,9 escrivães.

Distribuição de freqüências

A distribuição de freqüência é o conjunto de mensurações de freqüências para os dados


observados.

- Freqüência absoluta: É o número de vezes que o valor de uma determinada variável é


observado.

- Freqüência absoluta acumulada: É a soma das freqüências absolutas dos valores inferiores ou
iguais ao valor dado.

- Freqüência relativa: É a razão da freqüência absoluta pelo número total de observações.

- Freqüência relativa acumulada: É a soma das freqüências relativas dos valores inferiores ou iguais
ao valor dado.

- Distribuição de freqüência: É uma forma de apresentar as freqüências. São apresentadas as


variáveis seguidas de suas freqüências absolutas.

Exemplo - Número de homicídios ocorridos em 16 cidades distintas

Tabela 8 – Distribuição de freqüência dos homicídios


Elaboração do próprio conteudista.

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Cidades Homicídios Cidades Homicídios
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Cidade 1 3 Cidade 9 5
Cidade 2 9 Cidade 6
10
Cidade 3 0 Cidade 8
11
Cidade 4 3 Cidade 10
12
Cidade 5 4 Cidade 12
13
Cidade 6 5 Cidade 12
14
Cidade 7 5 Cidade 14
15
Cidade 8 5 Cidade 18
16

Freqüência Freqüência
Número de Freqüência Freqüência
absoluta relativa
homicídios absoluta relativa
acumulada acumulada
0 1 1 0,0625 0,0625
3 2 3 0,1250 0,1875
4 1 4 0,0625 0,2500
5 4 8 0,2500 0,5000
6 1 9 0,0625 0,5625
8 1 10 0,0625 0,6250
9 1 11 0,0625 0,6875
10 1 12 0,0625 0,7500
12 2 14 0,1250 0,8750
14 1 15 0,0625 0,9375
18 1 16 0,0625 1,00
Total 16 1,00

Curso Análise Criminal – Módulo 3


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Distribuição de freqüências

- Freqüência absoluta: Na primeira coluna foram colocados, em ordem crescente, todos os possíveis
números de homicídios ocorridos em 16 cidades. Na segunda coluna, aparecem quantas cidades sofreram
aquele número de homicídios. Na tabela 8, a freqüência absoluta de 0 homicídio é um, ou seja, das 16
cidades analisadas somente uma delas teve 0 homicídio. A freqüência absoluta de 3 homicídios é dois, ou
seja, duas cidades tiveram 3 homicídios. A freqüência absoluta de 4 homicídios é um, ou seja, uma cidade
teve 4 homicídios, e assim por diante.

- Freqüência absoluta acumulada: Foi construída a terceira coluna da tabela 8, somando a cada
linha a freqüência absoluta. Na primeira linha, a freqüência absoluta acumulada coincide com a
freqüência absoluta (1). Na segunda linha soma-se a freqüência absoluta acumulada da primeira linha (1)
com a freqüência absoluta da segunda linha (2), obtendo uma freqüência acumulada 3. Na terceira linha,
soma-se a freqüência absoluta acumulada anterior (3) com a freqüência absoluta dessa categoria (1),
sendo a freqüência acumulada igual a 4, e assim por diante.

- Freqüência relativa: A freqüência relativa é dada pela divisão da freqüência absoluta da categoria
pelo número total de cidades, obtendo-se o percentual das cidades que sofreram aquele número de crimes.
Para obter a freqüência relativa de 0 homicídio divide-se a freqüência absoluta dessa categoria (1) pelo
total (16) – (1)/(16) = 0,0625, ou seja, 0,0625 das cidades têm 0 homicídio. Da mesma forma encontra-se
que 0,125 das cidades têm 3 homicídios, 0,625 das cidades têm 4 homicídios, 0,25 das cidades têm 5
homicídios. Multiplicando a freqüência relativa por cem, encontra-se a porcentagem das cidades com
determinado número de homicídios. Por exemplo: 0,0625 x 100 = 6,25, ou seja, 6,25% das cidades não
sofrem homicídios.

- Freqüência relativa acumulada: É obtida de forma similar a freqüência absoluta acumulada, ou


seja, somando a cada linha a freqüência relativa das categorias dos números de homicídio. Na primeira
linha, a freqüência relativa acumulada coincide com a freqüência relativa. Na segunda linha ao se somar a
freqüência relativa acumulada da primeira linha (0,0625) com a freqüência relativa da segunda linha
(0,125), resulta na freqüência acumulada de 0,1875.

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Gráficos utilizados na distribuição de freqüênciaHistograma é um gráfico de barras
justapostas, com a área das barras proporcional à freqüência absoluta.

Exemplo: Gráfico 6 – Histograma da distribuição de homicídios por cidade


77

66

5
5
at
Absoluta
u
ol
s
44
b
A 3
ay
F r eFrqeuqueênncciay

3
i
2
equênc
1
c
n 2
e 0 0 ,0 5,0 10,0 1 5 ,0
u
rq 1 2 , 57 ,51 2 , 51 7 , 5
Fe
r
F 0 VAR00001 Número de Homicídios
Elaboração do próprio conteudista.

Gráficos utilizados na distribuição de freqüência

- Polígono de freqüência: É a representação gráfica de uma distribuição de freqüências absolutas.


São gráficos de linhas que unem os pontos médios das bases superiores dos retângulos de um histograma.

- Polígono de freqüência acumulada: É a representação gráfica de uma distribuição de freqüências


absolutas acumuladas. São gráficos de linhas que unem os pontos correspondentes ao limite superior da
freqüência acumulada.

Gráfico 7 – Polígonos de freqüência e freqüência acumulada relativos a distribuição de homicídios por


cidade
18
Polígono de freqüência
Polígono de freqüência acumulada
16

14

12

10
Freqüência

0
0 3 4 5 6 8 9 10 12 14 18
Número de homicídio

Elaboração do próprio conteudista.

Medidas de tendência central

São indicadores que resumem a distribuição de um conjunto de dados e devem ser


utilizados quando se pretende comparar distintos grupos de dados, como por exemplo,
comparações entre diferentes regiões ou comparações de uma mesma região em tempos distintos, dentre
outras situações.

- Média: É a soma de todos os resultados dividida pelo total dos casos.

- Moda: É a observação que ocorre com maior freqüência em uma amostra.

- Mediana: É o valor da variável que ocupa a posição central nos dados, ou seja, que divide a amostra
ao meio.

Exemplo: Considerando os dados hipotéticos da aula anterior, mostrados na tabela 8, as medidas de


tendência central em relação à distribuição de homicídios por cidade é:
Variável Média Moda Mediana
Número de homicídio 7,4375 5 5,5

Elaboração do próprio conteudista.


Como calcular a média, a moda e a mediana

Média

Somam-se todos os homicídios ocorridos e divide-se por 16, que é o número de cidades.

Média = (0+3+3+4+5+5+5+5+6+8+9+10+12+12+14+18)/16 = 119/16 = 7,4375

Mediana: Há duas fórmulas para calcular a mediana:

- número de observação par: Mediana = (X(n/2)+ X[(n/2)+1])/2

- número de observação ímpar: Mediana = X[(n+1)/2]

Para o cálculo da mediana, o primeiro passo é a ordenação crescente das observações, como mostrado no
exemplo anterior (cálculo da média). Após a ordenação das observações, identifica-se cada uma delas por
um índice numérico. No exemplo citado X 2 é igual a 3, ou seja, a cidade 2, nesta seqüência de cidades em
ordem crescente de número de homicídios, possui 3 homicídios. No mesmo exemplo, a mediana é
calculada da seguinte forma:

Mediana = (X(n/2)+ X[(n/2)+1])/2 = (X(16/2)+ X[(16/2)+1])/2 = (X8+ X9)/2 = (5 + 6)/2 = 11/2 = 5,5

Moda: O valor que ocorreu com maior freqüência absoluta. No exemplo citado, o valor 5
ocorreu mais vezes, 4 vezes.

Outros conceitos

Para compreender melhor os cálculos das medidas apresentadas, conheça mais três

- Taxa bruta - é o estimador mais simples para o risco de ocorrência de um evento,


definindo-se como a razão entre o número de eventos ocorridos na área e o número de
pessoas expostas à ocorrência desse evento. O cálculo da taxa é desenvolvido quando se
precisa comparar a incidência de fenômenos entre diferentes regiões, com tamanho populacional
diferente, ou uma mesma região onde a população varia com o tempo. O valor da taxa é calculado pela
divisão do número de vítimas efetivas pelo tamanho da população de
risco, ou seja, pelo tamanho da população que poderia sofrer esse crime, e o valor obtido é multiplicado por 100
mil.

Quartis

São os valores que determinam uma divisão do conjunto de dados em quatro partes iguais.

Decis

São os valores que determinam uma divisão do conjunto de dados em dez partes iguais.

Exemplo

Veja a tabela 10 em anexo – Ocorrências de estupro registradas pelas polícias civis


segundo unidade da federação (Brasil – 2005)

Diferente da maior parte das ocorrências criminais, os estupros vitimam apenas mulheres e, por essa
razão, o cálculo de sua taxa tem como denominador a população feminina.

O cálculo da taxa de estupros em Rondônia é efetuado pela seguinte fórmula:

(número de estupro ocorridos em Rondônia) x (100.000) = 224x (100.000) = 30,03

(população feminina em Rondônia) 745.802

A importância do cálculo da taxa é verificada, por exemplo, quando observam que apesar da Polícia Civil
de São Paulo ter registrado 3.903 vítimas de estupro, em 2005, a unidade da federação com maior
incidência de estupros foi Roraima, com apenas 81 ocorrências registradas. Dado a diferença do tamanho
da população dessas UFs, em São Paulo foram 18,9 vítimas para cada grupo de 100.000 mulheres e, em
Roraima, 42,4 vítimas para cada grupo de
100.000 mulheres.

Cálculos

Para se determinar a taxa de uma região geográfica (que reúne várias UFs) não deve-se calcular a média
das taxas das UFs, pois esse cálculo não leva em consideração o tamanho da população de cada UF dentro
da região geográfica. O correto é somar as vítimas de todas as UFs, a população de todas
as UFs e realizar o cálculo da taxa média da região geográfica.

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Veja a seguir a diferença gerada a partir desses dois tipos de cálculo.

BRASIL, REGIÕES E POPULAÇÃO TOTAL DE TAXA POR


UNIDADES DA FEMININA OCORRÊNCIAS DE 100.000
FEDERAÇÃO ESTUPRO MULHERES

Região Sudeste 40.064.296 6.419 16,02

Minas Gerais 9.721.532 1.047 10,77

Espírito Santo 1.719.969 140 8,14

Rio de Janeiro 8.001.992 1.329 16,61

São Paulo 20.620.803 3.903 18,93

6.419 x (100.000) = 16,02


Taxa da Região Sudeste: 40.064.296

Média das taxas das UFs da Região Sudeste: 10,77 + 8,14 + 16,61 + 18,93 = 54,45 = 13,61

4 4

Cálculos

Moda: A amostra de taxa de estupro não apresenta moda, dado que as taxas de estupro entre as 27
unidades da federação não têm valores repetidos.

Mediana: Como a informação de 1 das UFs não está disponível, para o cálculo da mediana devem ser
consideradas apenas 26 UFs (número par de observações). Assim, a mediana será calculada através da
fórmula:

(X(n/2)+ X[(n/2)+1])
2

onde X é a taxa de estupro em cada UF e n é o numero de UFs

Mediana = (X(n/2)+X[(n/2)+1])/2 = (X(26/2)+X[(26/2)+1])/2 = (X13+X14)/2 = (18,8+18,93)/2 = 18,865

Identificação dos quartis

A identificação dos quartis pode ser exemplificada da seguinte forma

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4,94
6,27
7,32
8,14
8,89
10,52
10,77
11,27
Q1
11,44
11,74
16,61
16,91
18,8 Q2
18, 93
19,12
20,27
20,77
22,89
25,38
27,08
27,53 Q3
30,03
32,2
32,96
36,81
42,4

Figura 7: Identificação dos quartis para a distribuição de estupros entre as unidades da federação (Brasil
/ 2005) - Fonte: MJ/SENASP e IBGE.

Brasil/2005A Secretaria Estadual de Segurança Pública do Paraná não encaminhou informações sobre as
ocorrências de estupros no ano de 2005 para a SENASP. Portanto, essa unidade da Federação não foi
considerada nos cálculos.

Medidas de dispersão

É um conjunto de medidas que descrevem a variabilidade de um conjunto de dados e


permite verificar como os dados estão distribuídos em torno da tendência central.

São medidas de dispersão: amplitude, variância e desvio padrão.

Para que você entenda melhor os cálculos das medidas de dispersão, volte aos dados hipotéticos da
tabela 8.

- Amplitude: É a diferença entre o maior e o menor valor dos dados analisados. Se os dados
são categóricos, a amplitude é a diferença entre o limite superior da última categoria e o limite inferior da
primeira categoria.
Como calcular a Amplitude

Para calcular a amplitude subtrai-se o número de homicídios da cidade 16 (18), que é o maior, do
número de homicídios da cidade 3 (0), que é o menor.

Amplitude = 18 – 0 = 18

Medidas de dispersão

- Variância: É a medida do grau de dispersão dos dados em torno da média. Mostra o


quanto agrupado ou disperso estão os dados. A variância é representada por s2.

Como calcular a variância

Para o cálculo da variância na amostra, primeiramente, subtrai-se o número de homicídios em cada


cidade (Xi) da média da amostra ( X ) e eleva-se esse valor a segunda potência. Média = s²=[2.(3-
7,4375)]²+(9-7,4375)²+(0-7,4375)²+(4-7,4375)²+[4.(5-7,4375)]²+(6-7,4375)²+(8- 7,4375)²+(10-
7,4375)²+[2(12-7,4375)]²+(14-7,4375)²+(18-7,4375)²=

119/16 = 7,4375

s²=39,3828+2,4414+5,3164+11,8164+23,7656+2,0664+0,3164+6,5664+41,6328+43,0664+111
,5664=

Em seguida, somam-se as diferenças e divide-se o resultado pelo número de observação da amostra


menos um (n-1). Novamente, Xi representa o número de homicídios que ocorreram na
cidade i.
s² = 337,9374 = 337,9374 = 22,52917
16-1 15

2 ( X  X )2  ( X  X )2  ...  ( X  X )2
Logo: Variância = s  1 2 n
(n  1)

Média: É a soma de todos os resultados dividida pelo total dos casos.

Medidas de dispersão

- Desvio Padrão: É obtido através da raiz quadrada da variância. Sua representação é realizada
por σ.
Como calcular o desvio padrão
Após descobrir o valor da variância, calcula-se a sua raiz quadrada, esse resultado, é o valor do desvio
padrão.

s  s2  22,52971  4,74649

Todos os pacotes estatísticos, incluindo o Excel, fazem o cálculo da variância como do desvio padrão
desse valor automaticamente.

Tabela 11 – Medidas de dispersão

Variável Amplitude Variância (σ2) Desvio padrão (σ)


Número de homicídio 18 22,52917 4,74649

Elaboração do próprio conteudista.

Exemplo prático de uso das medidas de dispersão

Após o diagnóstico da situação de um estado, identifica-se que duas (2) regiões se destacam pelas altas
taxas de incidência de homicídios.

Comparando as medidas de dispersão das taxas municipais de homicídios para essas duas regiões,
descobre-se que em uma delas os valores estão mais dispersos do que na outra região. Isto significa que
na região onde os valores estão menos dispersos o problema da alta incidência de
homicídios está distribuído de forma ampla, atingindo grande parte dos municípios da
região.

Na região onde os valores estão mais dispersos ocorre o contrário: a incidência de


homicídios está concentrada em alguns poucos municípios e um outro conjunto
significativo de municípios tem incidência baixa de homicídios.

Nesse caso, identificar o grau de dispersão dos dados informará se é preciso planejar a ação
tendo como foco todos os municípios da região ou apenas alguns que têm a situação
mais precária.
Curso Análise Criminal – Módulo 3
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Página 28
Coeficiente de correlação

A análise de correlação tem como objetivo medir a intensidade ou grau de associação


linear entre duas variáveis, sem, no entanto, determinar a relação funcional entre elas,
ou seja, que uma variável é responsável pela alteração na outra.

A análise é realizada através da interpretação do coeficiente de correlação, permitindo


identificar se um fator está associado a outro: se o desemprego está associado à incidência criminal, se o
aumento do número de policiais está associado a uma redução da incidência de crimes e se o aumento do
salário dos policiais está associado a uma melhora na eficiência dos órgãos de segurança pública, dentre
outras relações.

Pelo coeficiente de correlação, é possível saber se o desemprego está associado ao


aumento da criminalidade, mas não é possível saber se é o desemprego que causa o
aumento do crime ou se é o aumento do crime que leva ao aumento no desemprego.

Coeficiente de correlação

Mede a intensidade de associação linear entre duas variáveis. Por exemplo, a associação entre
número de homicídio e número de armas de fogo. Seu cálculo é realizado com base na variância
da amostra, através da seguinte fórmula:

r = sxy / (sxsy)

sxy

( X i  X )(Yi  Y )
n1

Onde: sx é o desvio padrão da variável X, no exemplo, número de homicídio. sy é o desvio padrão da


variável Y, no exemplo, número de armas de fogo.

A interpretação do coeficiente de correlação não permite fazer inferências (deduções). Considerando o


exemplo da arma de fogo e do homicídio, suponha que o coeficiente de correlação seja 0,6, portanto
positivo. Pode-se afirmar que as duas variáveis se correlacionam positivamente, mas não pode prever o
número de homicídio com base no número de arma de fogo. Para se constatar a relação funcional entre as
duas variáveis e fazer a inferência, é necessário a análise de regressão, apresentada na subseção seguinte.

Curso Análise Criminal – Módulo 3


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Página 29
A interpretação desse coeficiente é simples. Considerando que r é sempre um valor entre -1 e
+1, temos:

- Se r = 0, não existe correlação;


- Quanto mais próximo de -1 ou de +1, mais forte é a correlação;
- Se r < 0 existe uma correlação negativa, ou seja, quando uma variável cresce a outra decresce. No
exemplo, quando o número de arma de fogo decresce, o número de homicídio cresce; e
- Se r > 0 existe uma correlação positiva, ou seja, quando uma variável cresce a outra também cresce. No
exemplo, quando o número de arma de fogo cresce, o número de homicídio cresce.

Os pacotes estatísticos calculam o coeficiente de correlação automaticamente.

Aula 5 – Análise de regressão

A análise de regressão procura determinar a relação funcional entre duas ou mais


variáveis. O termo regressão foi introduzido pela primeira vez em 1886, por Francis Galton, no estudo
da relação entre as alturas de pais e filhos. Hoje, os modelos de regressão são amplamente utilizados em
várias áreas do conhecimento, inclusive na análise criminal.

O principal objetivo da análise de regressão é modelar o relacionamento entre uma


variável (chamada de dependente) e outras variáveis (chamadas explicativas). Em outras palavras,
procura determinar em que medida as variáveis explicativas se relacionam com a variável
dependente. Para isso, estima-se o valor médio da variável dependente, a partir dos
valores das variáveis explicativas. Veja o exemplo.

No exemplo apresentado no cálculo do coeficiente de correlação (associação entre número de homicídio e


número de armas de fogo), não há interesse em saber somente a correlação entre a arma de fogo e o
homicídio, quer se saber em que medida um aumento ou diminuição no número de armas de fogo implica
no aumento ou diminuição de homicídios.

Para isso, estima-se uma regressão linear considerando como variável dependente o número de homicídio
e, como variável explicativa, o número de arma de fogo. Essa estimativa fornece uma equação, através da
qual, é possível inferir o número médio de homicídio de acordo com o número de arma de fogo.
Entretanto, como a regressão estima uma relação estatística, ela está
sempre sujeita a um erro. Toda a análise de regressão se baseia na correção desse erro
estatístico através de diversos métodos que variam de acordo com o tipo e distribuição
dos dados.

Para realizar a análise de regressão é necessário um conhecimento avançado em estatística e em álgebra,


fugindo do escopo desse curso. O conhecimento necessário para a realização de uma análise de regressão
é conteúdo suficiente para a realização de um curso especifico sobre o tema.

Para os interessados em aprofundar no assunto, dois manuais bastante conhecidos na área são
indicados: Wooldridge (Wooldridge, J.M. Introdução à Econometria: uma abordagem moderna, São
Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2006) e Gujarati (Gujarati, D. Econometria Básica. São Paulo,
Makron, 3ª edição, 2000).

Neste módulo são apresentados exercícios de fixação para auxiliar a compreensão do


conteúdo.

O objetivo destes exercícios é complementar as informações apresentadas nas páginas


anteriores.

1. Uma série estatística constitui uma coleção de dados estatísticos referidos a uma
mesma ordem de classificação. Quando o fator básico que estrutura a construção de
séries estatísticas é o fator descrito, podemos dizer que esta série é:

( ) Uma série temporal.


( ) Uma série geográfica. (
) Uma série específica. ( )
Uma série bipartida.
( ) Uma série espacial.
2. Uma vez que os dados foram coletados, muitas vezes o conjunto de valores é extenso
e desorganizado e seu exame requer atenção, pois há risco de perder a visão global do
fenômeno analisado. Para que isso não ocorra é interessante reunir os valores em:

( ) Tabelas, organogramas e mapas. ( )


Tabelas, cronogramas e mapas. ( )
Tabelas, fluxogramas e mapas.
( ) Tabelas, gráficos e mapas.

3. A análise descritiva se constitui de técnicas utilizadas para organizar, resumir e


descrever os dados de uma pesquisa. O parâmetro para a comparação relativa, obtido a
partir do cálculo de uma parte do conjunto sobre o seu total é denominado:

( ) Porcentagem (
) Razão
( ) Proporção

4. “A distribuição de freqüência é o conjunto de mensurações de freqüências para os


dados observados. A é o número de vezes que o valor de uma
determinada variável é observado”. Marque a alternativa correta que completa a frase
acima na área tracejada:

( ) Freqüência absoluta acumulada. ( )


Freqüência relativa acumulada. ( )
Freqüência relativa.
( ) Freqüência absoluta.
( ) Distribuição de freqüência.
Gabarito
1. Uma série específica.

2. Tabelas, gráficos e mapas.


3. Proporção
4. Freqüência absoluta.

Este é o final do módulo 3

Análise estatística criminal


Anexo - Tabela 10
Análise Criminal

Curso Análise Criminal – Módulo 4


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Página 1
Módulo 4 – Sistema de Informação Geográfica – SIG

Neste módulo, você estudará a representação dos dados e informações a partir de mapas.

Ao final do módulo, você deverá ser capaz de:

- Definir os principais conceitos relacionados à estatística espacial;


- Identificar os tipos de projeções cartográficas;
- Compreender a utilização de escalas;
- Identificar os diferentes tipos de mapas; e
- Correlacionar os diferentes tipos de mapa às informações que reúnem.

O conteúdo deste módulo está dividido em 4 aulas:

Aula 1 – Estatística espacial: conceitos básicos


Aula 2 – Projeções cartográficas
Aula 3 – Escala cartográfica
Aula 4 – Construção de mapas no SIG

Aula 1 – Estatística espacial: conceitos básicos

Geoprocessamento

Disciplina do conhecimento que utiliza técnicas matemáticas, computacionais e


geográficas destinadas à coleta e ao tratamento de informações espaciais. Envolve
também o desenvolvimento de sistemas (softwares) que utilizam esses dados. Esses
sistemas são chamamos de Sistemas de Informação Geográfica – SIG (Neste curso será utilizada a
sigla SIG – Sistema de Informação Geográfica), tradução da palavra inglesa Geographical Information
Systems (GIS).

Coleta de dados georeferenciados

Para que haja análise espacial, é necessário, antes de tudo, uma base cartográfica ou um mapa
digital da região foco do estudo.
A coleta da base cartográfica ou construção do mapa digital pode ser realizada por levantamentos
terrestres ou sensoriamento remoto. Essa coleta é muito onerosa, o que
=dificulta o acesso gratuito das bases e mapas.

Coordenadas geográficas

Constituem um sistema de linhas imaginárias que dividem a Terra. Elas foram criadas com o
objetivo de padronizar, universalmente, a localização espacial em qualquer ponto do globo terrestre. Para
entender o sistema de coordenadas é necessário se familiarizar com as noções de latitude, longitude e com
os pontos cardeais (Norte, sul, leste e oeste).

Latitude

É determinada pelos paralelos. Os paralelos são linhas imaginárias que cortam a Terra
no sentido leste-oeste, paralelas a linha do Equador. A linha do Equador é o paralelo mais
conhecido e corta o globo terrestre exatamente ao meio, dividindo a Terra em duas partes iguais. É por
esse motivo que seu nome deriva do radical grego equi que significa igual. Por convenção, a linha do
Equador é a latitude “zero”.

Conforme nos movemos para o norte ou para o sul, a latitude aumenta em proporções
iguais. Ao norte do equador, a latitude é positiva, ao sul é negativa. Dois outros paralelos também
famosos são os Trópicos de Câncer (23º26’00’’) e de Capricórnio (-23º27’09). As zonas tropicais
recebem esse nome porque estão situadas entre esses trópicos, na zona próxima ao Equador.

Figura 8: Distribuição das latitudes


Longitude

É determinada por linhas imaginárias que cortam o globo terrestre no sentido norte-sul,
passando pelos dois pólos. Essas linhas imaginárias são chamadas de meridianos. Ao
contrário dos paralelos, todos os meridianos dividem a Terra ao meio, porque todos passam nos pólos.
Em 1884, a International Meridian Conference adotou o meridiano de Greenwich como marco “zero”,
que é usado, universalmente, para a localização de pontos na Terra. Os outros meridianos foram
calculados em 180º para leste e oeste do meridiano de Greenwich, totalizando os 360º do globo terrestre.

Ao oeste do meridiano de Greenwich, a longitude é negativa, ao leste é positiva. Cada grau de longitude
é subdividido em 60 minutos, e esses em 60 segundos. Uma longitude é especificada no formato
grausº minutos' segundos''.

Figura 9: Distribuição das longitudes

Fonte: http://www.esteio.com.br/servicos/se_cartografia.htm .

Aula 2 – Projeções cartográficas

As projeções cartográficas são formas de representar a superfície terrestre em um


plano. A grande dificuldade das projeções cartográficas é representar uma superfície esférica em um
plano. Para resolver essa questão, há vários séculos, diferentes métodos para fazer projeções cartográficas
têm sido desenvolvidos. Eles são baseados em modelos matemáticos e cada um apresenta distorções
diferentes, em áreas distintas.

Compreendendo a questão
Imagine a abertura da esfera terrestre até o ponto em que ela fica plana. Se existem os pontos A, B e C na
Terra e eles apresentam a mesma distância entre si, quando essa representação for feita em uma
superfície plana, provavelmente, ocorrerão distorções da distância real entre os pontos.
Para facilitar o entendimento, imagine um desenho na superfície de uma bola de futebol. Ao cortá-la na
metade do diâmetro, e abri-la reta em cima de uma mesa como se quisesse criar uma “folha”, com a
intenção de manter o desenho, seria preciso rasgar a bola em pedaços ou distorcê-lo, aumentando o
tamanho de alguns pedaços e diminuindo outros. A mesma coisa acontece, quando se quer representar a
Terra em uma superfície plana.
Tipos de projeções
As projeções são divididas em três tipos básicos: plana, cônica e cilíndrica. Além disso, elas podem
ser secantes ou tangentes. A tangente coincide com o limite do globo e a secante corta o
globo na sua extremidade.

- Projeções planas (Azimutais)


São realizadas através de um plano tangente à esfera terrestre. No ponto de tangência está o centro da
representação cartográfica. As áreas próximas a esse ponto apresentam pequenas distorções e os distantes
apresentam grandes distorções ou desaparecem. Assim, a região da área de tangência aparece em
destaque. Seu maior uso é geopolítico, pois pode realçar a posição de um país, colocado no ponto de
tangência. Empresas multinacionais utilizam essa projeção colocando em destaque seu país sede. Os
mapas aeronáuticos e de navegação também a utilizam.

Figura 10: Projeções planas.


Projeções planas (Azimutais)

Fonte: http://www.esteio.com.br/servicos/se_cartografia.htm .

Projeções cônicas

As projeções cônicas representam a esfera terrestre sobre um cone imaginário que entra em contato com
ela em um dado paralelo. Suas distorções são pequenas perto desse paralelo e aumentam à medida que se
distanciam dele. Esse tipo de projeção é muito utilizado para representar áreas de latitude entre 30º e 60º
graus ou áreas de grande extensão latitudinal.
Figura 11: Projeções cônicas.

Fonte: http://www.esteio.com.br/servicos/se_cartografia.htm .
Projeções cilíndricas
Projetam a esfera terrestre sobre um cilindro. No caso da tangente, suas distorções aumentam à medida
que aumenta a latitude, ou seja, que se aproxima dos pólos. No caso da secante, as distorções são mais
distribuídas e reduzem nas proximidades dos pólos, como pode ser observado na figura 12. Esse tipo de
projeção é muito usado para representar toda a superfície terrestre, como nos mapas-múndi. Existem
vários tipos de projeções cilíndricas, cada qual com suas particularidades. A projeção mais antiga é a de
Mercator, de 1569. Nessa projeção, o espaçamento entre os paralelos adjacentes aumenta com a latitude
de forma que a distorção leste-oeste é acompanhada por idêntica distorção norte-sul.

Figura 12: Projeção cilíndrica tangente e secante.

Fonte: http://www.esteio.com.br/servicos/se_cartografia.htm .

Universal Transversa de Mercator


Uma projeção cilíndrica bastante utilizada é a Universal Transversa de Mercator (UTM).
Esse tipo de projeção foi proposta em 1950, com objetivo de abranger todas as longitudes. No sistema
UTM, a superfície terrestre é dividida em 60 fusos, com amplitude de 6º de longitude cada um. A latitude
é limitada a 84ºN e 80ºS, pois para latitudes maiores as distorções são significativas. A principal diferença
entre a projeção de Mercator e a UTM é que, na projeção de Mercator, o cilindro é paralelo ao eixo de
rotação da Terra e, na UTM, ele é perpendicular a esse.
Figura 14 – Projeção UTM

Fuso UTM 60 fusos

Figura 13: Projeção de Mercator.

Fonte: http://www.esteio.com.br/servicos/se_cartografia.htm .

Universal Transversa de Mercator

Fonte: http://www.esteio.com.br/servicos/se_cartografia.htm .
Aula 3 – Escala cartográfica

A escala cartográfica é um dos principais elementos de um mapa. O mapa é a


representação de uma área em tamanho reduzido. É através da escala que se identifica a
proporção existente entre o mundo real e a sua representação, ou seja, com a escala
cartográfica é possível calcular o tamanho real da área.
Existem duas formas de mostrar a escala em um mapa:

Forma numérica
A escala é apresentada por uma fração ou proporção, que indica a relação entre a
distância no mapa e a distância na área. Por exemplo, uma escala de 1:1.000.000 (um por um
milhão) significa que cada 1 centímetro no mapa equivale a 1.000.000 centímetros na área, ou seja, cada
1cm no mapa equivale a 10 quilômetros na área real.

Forma gráfica
A escala é apresentada como um segmento de reta em que uma unidade de medida na
reta equivale a uma determinada medida real, conforme relação determinada. Cada seqüência de
reta tem um centímetro, que equivale a dez quilômetros na área real, ou seja, cada 1cm no mapa é
proporcional a 10km na área representada. Por exemplo:
0 10 20 30 40 50
| | | | | | | (km - quilômetros)

Escala cartográfica

Para elaborar mapas de pequenas áreas não é preciso usar escalas que reduzam muito o seu tamanho.
Quanto menor for o denominador da escala, menor é a redução aplicada para a sua elaboração e maior
será a escala.

Acontece o contrário quando se representa áreas muito grandes, por ser preciso reduzir muito seu
tamanho, o denominador da escala é grande e, portanto, a escala é menor.

A escolha da escala é realizada de acordo com a informação que se pretende destacar.

Quando se quer representar elementos básicos de uma área sem seus detalhes, escolha
escalas pequenas, como nos mapas geopolíticos. Por outro lado, se estiver interessado
nos detalhes da área, escolha escalas grandes, como na plantas da construção civil.
Aula 4 – Construção de mapas no Sistema de Informação Geográfica – SIG

Um objeto geográfico pode ser representado em um mapa por ponto, linha ou polígono. Esses elementos
podem estar ligados a vários atributos. Os atributos são as propriedades do objeto espacial, ou seja, é a
base de dados que define esse objeto.

Pontos: Abrangem as entidades geográficas que são representadas por um par de coordenadas de
latitude e longitude, que permite sua localização espacial. Alguns exemplos de entidades geográficas
representadas por pontos são: ocorrências criminais como roubos ou homicídios, registros de
determinados tipos de doença, árvores, as lojas de uma rede de comércio, estações de trem, dentre
diversas outras representações.

Linhas: As linhas são formadas por um conjunto de pontos conectados. Os rios, as ruas, o trajeto das
viaturas policiais, de um criminoso serial, dentre diversas outras representações podem ser representadas
com linhas.

Polígono: É um conjunto de linhas fechadas sobre uma área. É possível representar a fronteira de
países, de municípios, a área de atuação de um comando da Polícia Militar, área de atuação de
um grupamento especial, área de favelas, com polígonos.

Sobreposição de temas

Na linguagem do SIG chama-se “tema” ou “camadas” uma coleção de objetos espaciais


de uma área específica. Para constituir uma representação cartográfica e organizá-la em forma de
mapa virtual, reúnem-se vários temas.

Os temas estão ligados a uma fonte de atributos e as definições de sua representação no mapa. Assim, os
temas representam cada tipo de informação que vai compor um mapa e os mapas são constituídos da
sobreposição dos temas. Imagine um mapa de ocorrências de roubos (pontos), outro mapa com as ruas
(linhas) e outro com os bairros (polígonos) de um centro urbano. A sobreposição vai permitir que todos
eles estejam representados na mesma imagem, permitindo a um analista observar como o padrão pontual
de distribuição se comporta nas ruas e nos bairros. Na figura abaixo é possível observar a composição de
um mapa que representa o relevo (polígono), as ruas (linhas) e os lotes (pontos) de uma determinada área.
Mapa 1 – Modelo de sobreposição de
camadas.

Tipos de mapas

O mapa é um excelente instrumento analítico. A representação de um fenômeno em forma de


mapa permite uma melhor visualização e entendimento da sua distribuição espacial,
além de deduções que outro tipo de análise não permite visualizar. Por exemplo, um mapa
com postos de polícia pode revelar a cobertura média dos postos policiais, um mapa de homicídios pode
revelar as áreas em que a polícia precisa concentrar seu efetivo, um mapa de crime cometido por um
maníaco pode ajudar a prever onde ele atuará novamente.

Os mapas mais utilizados na análise criminal são os mapas de ponto e os mapas


temáticos.

Vale destacar que não há um tipo de mapa mais recomendado que o outro. A escolha depende do tipo de
dado e do atributo a ser representado. Além disso, para um mesmo atributo podem ser gerados mapas
diferentes. Recomenda-se sempre a construção de mais de um mapa sobre o mesmo fenômeno analisado
para que se possa observar as variações e buscar o motivo delas.
Mapa de pontos

Nos mapas de pontos, sobre uma camada de mapa de polígono, aparecem os eventos ocorridos em
formato de pontos. Esses pontos também podem ser apresentados por alguma figura, como uma cruz ou
um boneco para representar eventos de homicídio.

Mapa 2 – Exemplos de mapas de pontos.


s ocorrências de homicídios registrados pela PC – MG em alguns bairrosHomicídios
do município
emdealguns quarteirões de um
izonte, em 1998 centro urbano, em 2005 (Mapa fictício)

Fonte: Ministério da Justiça – MJ/ Secretaria


Nacional de Segurança Pública – SENASP/ Coordenação Geral de Pesquisa.
Fonte: Polícia Civil de Minas Gerais.

Mapa Hot Spots

Nos últimos anos, um padrão pontual que ganhou muito reconhecimento na análise criminal, por sua
utilidade, é o mapa de Hot Spots, que significa “áreas quentes”. Esse mapa mostra qual a
densidade de concentração dos pontos, utilizando gradações de cores. O mapa apresenta
cores mais “fortes” nas áreas onde a densidade de eventos criminais é maior, ou seja, as áreas quentes. À
medida que a densidade diminui, as cores ganham tonalidades mais claras. Assim, surgem manchas no
mapa que indicam as regiões onde a criminalidade está mais concentrada.

A estimativa da densidade criminal de um local está na contagem dos casos dentro de um dado raio.
Essa contagem é ponderada pela distância em relação aos eventos vizinhos e suavizada por uma função
chamada de Kernel. Por isso, esse tipo de mapa também é chamado de mapa de Kernel. Essa função
associa os eventos vizinhos atribuindo cores diferentes dependendo da quantidade e da distância média
entre os eventos, calculando a concentração e revelando os Hot Spots.
Vantagens e desvantagens do mapa Hot Spots

As vantagens do mapa de Hot Spots são que possui uma visualização agradável, revela os locais, os
tamanhos e as formas das manchas criminais. As desvantagens são que não apresenta o número de
eventos e é capaz de causar distorções. As distorções acontecem porque a função de Kernel trabalha com
a densidade relativa entre os locais, sendo possível formar mapas iguais trabalhando com 10 crimes ou
com 1000 crimes.

Veja o mapa de Hot Spots (Kernel) dos homicídios ocorridos em Belo Horizonte (2002). As distâncias
acima do mapa mostram o tamanho do raio usado na análise. Observe como os mapas diferem de acordo
com o raio que é determinado pelo usuário para a análise. O raio determina o espaço no qual será
realizada a contagem de eventos. Assim, quanto maior o raio, menor é o detalhamento em
relação à distribuição dos crimes. Quando se busca identificar um quarteirão ou esquina mais
problemática, é preciso utilizar raios menores. Quando se busca identificar os bairros ou regiões mais
problemáticas, é preciso utilizar raios maiores.

Mapa 3 – Mapa de Kernel dos homicídios em Belo Horizonte (2002): variação no raio de análise

Fonte: http://www.crisp.ufmg.br/metodo_kernel.pdf .
Mapa temático

Através dos mapas temáticos apresenta-se a distribuição espacial do atributo de


interesse. Sua construção é realizada sobre uma camada de mapa de polígonos, em geral, uma divisão
da área estudada, sobre o mapa de bairros de uma cidade, municípios de um estado ou países de um
continente. Os polígonos são ordenados de acordo com o atributo de interesse e divididos em grupos.
Cada grupo de polígono é colorido com uma cor. Geralmente, as cores mais claras correspondem aos
menores valores do atributo e as cores mais escuras aos maiores valores.

Um exemplo de mapa de temático, na área de estudos criminais, é o mapa de taxas de ocorrências de


homicídios por 100 mil habitantes. O mapa temático é também muito utilizado em outras áreas do
conhecimento, como por exemplo, para mostrar municípios que concentram mais casos de dengue ou
níveis de alfabetização da população em municípios de uma determinada região.

Para determinar a divisão dos grupos de polígonos de acordo com o atributo de interesse, existem
algumas técnicas. Essas técnicas determinam quais os valores do atributo que abrangem cada um dos
grupos, ou seja, quais intervalos de valores do atributo devem ser considerados em cada grupo. Além
disso, determinam a quantidade de polígonos que cada grupo deve conter. Existem várias técnicas para a
divisão dos polígonos e o próprio analista criminal pode construir os intervalos, de acordo com o objetivo
do estudo.

Passos Iguais (Equal Ranges)


Os intervalos do atributo são divididos matematicamente em partes iguais. A diferença entre os extremos
de cada intervalo é a mesma para as classes. Por exemplo, se o menor valor for 10, o maior valor 50 e
há 4 intervalos, os intervalos serão de 10 em 10, independente do número de polígonos em cada classe.
Mapa 4 – Mapa temático por passos iguais.

Acima de 38,2 por 100 mil hab. Entre 28,3 e 38,2 por 100 mil hab.
Entre 18,3 e 28,3 por 100 mil hab. Abaixo de 18,3 por hab.

Taxas por 100 mil habitantes de crimes violentos letais intencionais registradas pelas
polícias civis no Brasil em 2005.

Fonte: Ministério da Justiça – MJ/ Secretaria Nacional de Segurança Pública – SENASP/ Secretarias
Estaduais de Segurança Pública/ Departamento de Pesquisa, Análise da Informação e Desenvolvimento
de Pessoal em Segurança Pública – Coordenação Geral de Pesquisa/ Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística – IBGE.
Quantil (Equal Counts)
Os intervalos do atributo possuem o mesmo número de polígonos. No mapa, a seguir, são 27 unidades da
federação e 4 intervalos, ou seja, serão aproximadamente 7 UFs em cada intervalo. Esse tipo de divisão é
muito usado em casos ordinais onde as legendas não se referem a valores, mas sim, a categorias de muito
ou pouco e de mais ou menos.

Mapa 5 – Mapa temático por Quantil.

Taxas por 100 mil habitantes de crimes violentos letais intencionais registradas pelas
polícias civis no Brasil em 2005.

Acima de 32,1 por 100 mil hab. Entre 22,2 2 32,1 por 100 mil hab.
Entre 18,0 e 22,2 por 100 mil hab. Abaixo de 18,0 por 100 mil hab.

Fonte: Ministério da Justiça – MJ/ Secretaria Nacional de Segurança Pública – SENASP/ Secretarias
Estaduais de Segurança Pública/ Departamento de Pesquisa, Análise da Informação e Desenvolvimento
de Pessoal em Segurança Pública – Coordenação Geral de Pesquisa/ Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística – IBGE.
Desvio Padrão (Standard Deviation)
Os intervalos são calculados com base na média e no desvio padrão dos valores nos cálculos de 1, 0.5 e
0.25 desvios padrões da média. Nesse caso, o número de classes não é definido pelo usuário e sim, pela
distribuição dos valores.

Mapa 6 – Mapa temático por desvio padrão.

Taxas por 100 mil habitantes de crimes violentos letais intencionais registradas pelas
polícias civis no Brasil em 2005.

Acima de 32,9 por 100 mil Hab. Entre 23,3 e 32,9 por 100 mil Hab.
Entre 13,8 e 23,3 por 100 mil Hab.
Abaixo de 13,8 por 100 mil Hab.

Fonte: Ministério da Justiça – MJ/ Secretaria Nacional de Segurança Pública – SENASP/ Secretarias
Estaduais de Segurança Pública/ Departamento de Pesquisa, Análise da Informação e Desenvolvimento
de Pessoal em Segurança Pública – Coordenação Geral de Pesquisa/ Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística – IBGE.

Aula 5 – Considerações sobre I3GEO

A implantação de sistemas de análise espacial tem como principais dificuldades a existência de


informações suficientemente qualificadas para fundamentar uma boa análise dos dados, gestores
formados para utilizar as informações como ferramenta de gestão e, no caso de ambientes urbanos, uma
base de endereços georeferenciados para localizar cada ocorrência criminal. A aquisição do sistema de
análise criminal é a parte mais fácil e menos custosa, onde
é possível também aproveitar os inúmeros sistemas de análise de estatística espacial, livres e gratuitos, já
disponíveis.

Em 2004, na CGTI (Coordenação Geral de Tecnologia da Informação do Ministério do Meio Ambiente –


http://www.mma.gov.br) teve início a implantação de um grupo específico de profissionais para tratar das
questões referentes ao processamento de dados geográficos. Em 2006, devido a grande demanda de
tecnologias de geoprocessamento, principalmente nas questões ambientais no Brasil, foi criada na CGTI
do Ministério do Meio Ambiente, a AGGT, uma equipe especializada em gerenciar bancos de dados
e aprimorar as ferramentas de internet para acesso aos dados geográficos do MMA.

Software I3GEO
Dentre alguns softwares desenvolvidos pela AGGT, destaca-se o I3GEO (Interface integrada para internet
de ferramentas de geoprocessamento) que é um software livre e de padrões abertos, facilitando o repasse
às instituições que desejarem, possibilitando que qualquer pessoa tenha acesso aos códigos de
programação.

O I3Geo é um aplicativo desenvolvido para o acesso e análise de dados geográficos.


Baseado em softwares livres, principalmente no Mapserver (http://mapserver.gis.umn.edu/), utiliza como
plataforma de funcionamento, navegadores para internet, como o Internet Explorer e o Firefox. Com o
objetivo de difundir o uso do geoprocessamento como instrumento técnico- científico e implementar uma
interface genérica para acesso aos dados geográficos existentes em instituições públicas, privadas ou não-
governamentais, o I3Geo pode ser utilizado e incorporado por qualquer instituição interessada sem
nenhum custo.

Adotando padrões internacionais de interoperabilidade, o I3Geo incorpora funcionalidades que facilitam o


acesso remoto a dados, permitindo o estabelecimento de redes cooperativas. Operações que normalmente
são encontradas apenas em programas para computadores pessoais, que operam em instalações locais,
estão disponíveis no I3Geo: geração de gráficos, análise de dados tabulares, operações espaciais, etc.

Neste módulo são apresentados exercícios de fixação para auxiliar a compreensão do


conteúdo.

O objetivo destes exercícios é complementar as informações apresentadas nas páginas


anteriores.
1. Marque as afirmativas falsas:

( ) Para que haja análise espacial, é necessário, antes de tudo, uma base cartográfica ou um mapa digital
da região foco do estudo. A coleta da base cartográfica ou construção do mapa digital pode ser realizada
por levantamentos terrestres ou sensoriamento remoto.
( ) A latitude é determinada pelos paralelos. Os paralelos são linhas imaginárias que cortam a Terra no
sentido norte-sul, paralelas a linha do Equador.
( ) As coordenadas geográficas constituem um sistema de linhas imaginárias que dividem a Terra. Elas
foram criadas com o objetivo de padronizar, universalmente, a localização espacial em qualquer ponto do
globo terrestre.
( ) O geoprocessamento é a disciplina do conhecimento que utiliza técnicas matemáticas, computacionais
e geográficas destinadas à coleta e ao tratamento de informações espaciais. Envolve também o
desenvolvimento de sistemas (softwares) que utilizam esses dados.
( ) A longitude é determinada por linhas imaginárias que cortam o globo terrestre no sentido leste-oeste,
passando pelos dois pólos. Essas linhas imaginárias são chamadas de meridianos.

2. A escala cartográfica é um dos principais elementos de um mapa. O mapa é a


representação de uma área em tamanho reduzido. É através da escala que se identifica a
proporção existente entre o mundo real e a sua representação, ou seja, com a escala
cartográfica é possível calcular o tamanho real da área. Qual a representação de forma
numérica de uma escala em que um centímetro no mapa equivale a doze quilômetros na
área real:

( ) 1: 120.000
( ) 1: 12.000
( ) 1: 1.200.000
( ) 1: 1.200
( ) 1: 12
3. Marque a afirmativa FALSA:

( ) Os pontos abrangem as entidades geográficas que são representadas por um par de coordenadas de
latitude e longitude, que não permite sua localização espacial.
( ) Polígono é um conjunto de linhas fechadas sobre uma área.
( ) As linhas são formadas por um conjunto de pontos conectados. É possível representar com linhas os
rios, as ruas, o trajeto das viaturas policiais, o trajeto de um criminoso serial, dentre diversas outras
representações.
( ) A representação de um fenômeno em forma de mapa permite uma melhor visualização e entendimento
da sua distribuição espacial, além de deduções que outro tipo de análise não permite visualizar.
( ) Na linguagem do SIG chamamos “tema” ou “camadas” uma coleção de objetos espaciais de uma
área específica. Para constituir uma representação cartográfica e organizá-la em forma de mapa virtual,
reúnem-se vários temas. Assim, os temas representam cada tipo de informação que vai compor um mapa
e os mapas são constituídos da sobreposição dos temas.

4. Marque a afirmativa correta:

( ) O mapa de Hot Spots, que significa “áreas quentes”, mostra qual a densidade de concentração dos
pontos, utilizando gradações de cores. O mapa apresenta cores mais claras nas áreas onde a densidade de
eventos criminais é maior. À medida que a densidade diminui, as cores ganham tonalidades mais escuras.
( ) Nos mapas de pontos, sobre uma camada de mapa de polígono, aparecem os eventos ocorridos em
formato de pontos. Esses pontos também podem ser apresentados por alguma figura.
( ) Através dos mapas temáticos, a distribuição espacial do atributo de interesse é apresentada. Sua
construção é realizada sobre uma camada de mapa de pontos, em geral, uma divisão da área estudada.
( ) No mapa temático em que a técnica aplicada para a estratificação dos atributos é o desvio padrão
(Standard Deviation), os intervalos são calculados com base na média e no desvio padrão dos valores
nos cálculos de 1, 0.5 e 0.25 desvios padrões da média. Nesse caso, o número de classes é definido pelo
usuário.
( ) No mapa temático em que a técnica aplicada para a estratificação dos atributos é o passos iguais
(Equal Ranges), os intervalos do atributo possuem mais ou menos o mesmo número de polígonos.
Gabarito

1. A latitude é determinada pelos paralelos. Os paralelos são linhas imaginárias que cortam a Terra no
sentido norte-sul, paralelas a linha do Equador; e
A longitude é determinada por linhas imaginárias que cortam o globo terrestre no sentido leste- oeste,
passando pelos dois pólos. Essas linhas imaginárias são chamadas de meridianos.
2. 1: 1.200.000
3. Os pontos abrangem as entidades geográficas que são representadas por um par de coordenadas de
latitude e longitude, que não permite sua localização espacial.
4. Nos mapas de pontos, sobre uma camada de mapa de polígono, aparecem os eventos ocorridos em
formato de pontos. Esses pontos também podem ser apresentados por alguma figura.

Este é o final do módulo 4

Sistema de Informação Geográfica – SIG


Análise Criminal

Curso Análise Criminal – Módulo 5


SENASP/MJ - Última atualização em 14/11/2008
Página 1
Módulo 5 – Operacionalização da análise criminal

A operacionalização de uma análise criminal envolve a formulação de um quadro de compreensão sobre


o problema analisado, buscando identificar suas causas. Esse quadro é responsável por criar os subsídios
necessários para o processo de tomada de decisão quanto às estratégias a serem adotadas para solucionar
o problema.

Neste módulo, considerando os fatores determinantes da incidência da criminalidade, você estudará os


conceitos de três correntes teóricas importantes na estruturação do trabalho de análise, bem como a
indicação dos caminhos pelos quais o analista criminal pode guiar sua metodologia de coleta, análise e
interpretação dos dados.

Ao final do módulo, será apresentada uma série de exemplos de gestão de políticas e ações de segurança
pública fundamentados na análise criminal de modo a trazer alguns subsídios que ajudem na difusão
dessa prática entre os órgãos de segurança pública brasileiros.

Ao final do módulo, você deverá ser capaz de:

- Reconhecer as contribuições das ciências sociais para a análise criminal;


- Analisar exemplos de boas práticas de análise criminal;
- Identificar os problemas mais comuns na análise criminal; e
- Enumerar os tópicos que compõem a estrutura de relatório.

O conteúdo deste módulo está dividido em 4 aulas:

Aula 1 – Contribuições das ciências sociais para a análise criminal


Aula 2 – Exemplos de gestão de políticas e ações de segurança pública
Aula 3 – Problemas comuns na análise de dados
Aula 4 – Estrutura de relatórios

Aula 1 – Contribuições das ciências sociais para a análise criminal


Dentre as abordagens que podem ser utilizadas no trabalho de análise criminal, destaca-
se a ecológica do crime, através das suas três principais correntes teóricas:

- Teoria das atividades rotineiras;


- Teoria dos lugares desviantes; e
- Teoria da desorganização social.

A abordagem ecológica do crime analisa os processos sociais,


através da perspectiva comunitária, enfatizando conceitos
epidemiológicos, biológicos e geográficos na explicação da
distribuição das taxas de crime.

O objetivo da abordagem

A revisão da abordagem ecológica do crime apresentada neste curso, tem como objetivo principal
destacar que o trabalho de análise criminal nunca pode se restringir apenas à lógica
ingênua de verificar se o recurso empregado pelos órgãos de segurança pública afeta a
incidência criminal. Vários são os fatores associados ao incremento ou diminuição da incidência.

Independente de termos órgãos policiais bem equipados e profissionais qualificados, todos os outros
fatores associados à desorganização social, à existência de lugares predispostos a condição de desviantes
e à presença de vítimas e agressores em potencial afetam diretamente a incidência criminal. Por essa
razão, um bom trabalho de análise criminal sempre deve considerar os diversos fatores
que influenciam, positiva ou negativamente, na incidência criminal.

Correntes teóricas

As três correntes teóricas trabalhadas são baseadas na ordem social. Cada uma dessas teorias privilegia
um aspecto específico da circunstância ligada à ocorrência do crime:

- A teoria das atividades rotineiras (anexo 1) abre espaço para a inserção dos conceitos da escolha
racional;

- A teoria dos locais desviantes (anexo 2) abre espaço para a inserção das características do
ambiente físico como um elemento importante na explicação do crime; e
- A teoria da desorganização social (anexo 3) abre espaço para a importância da identidade
social como fundamento do controle social sobre a criminalidade.

Para saber mais sobre cada uma das correntes teóricas,leia os anexos referentes a cada
uma delas.

Aula 2 – Exemplos de gestão de políticas e ações de segurança pública

Você estudará sobre alguns exemplos práticos de gestão de políticas e ações de segurança pública
fundamentados na análise criminal, de modo a trazer subsídios que ajudarão na difusão dessa prática
entre os órgãos de segurança pública.

Os exemplos “Favela, tráfico e homicídios”, “Desordem urbana: usando a metodologia de policiamento


orientado a solução de problemas”, “Avaliação da eficiência de ações: criação de buffers” e “Letalidade
policial” foram retirados do relatório Ferramentas e Técnicas de Análise Criminal, elaborado por Túlio
Kahn.

Os exemplos selecionados abordam várias dimensões da gestão, envolvendo não apenas a tomada de
decisão em termos das estratégias de ação policial no nível operacional.

O primeiro exemplo faz uma descrição de alguns procedimentos básicos de operacionalização da análise
criminal usados para traçar ações policiais na prevenção de roubos em transporte coletivo e de veículos e
identificação de criminosos.

Os demais exemplos evidenciam a necessidade de ampliar as estratégias de solução, ações envolvendo


problemas como a alta rotatividade dos profissionais dos postos de saúde de um município, em função da
gravidade da segurança pública, a alta incidência de desordem e conflito dentro de uma escola pública,
atropelamento de crianças e adolescentes e a incidência de roubos e furtos na praia.

O último exemplo traz a descrição do programa Fica Vivo, que baseado na análise criminal integra vários
atores, como universidades, polícias, Ministério Público, dentre outros, em prol da solução dos
homicídios em um aglomerado urbano da cidade de Belo Horizonte, desde 2002.
Cada região tem seus problemas e, por essa razão, precisa de remédios específicos para solucioná-los.

Mais do que sugerir remédios, os exemplos expostos têm o objetivo de destacar a


importância da realização de boas práticas de análise criminal, antes e durante, a
execução das ações e políticas de segurança pública.

Sem bons diagnósticos dos problemas a serem abordados e de um monitoramento contínuo dos resultados
alcançados pelas ações empreendidas, os recursos financeiros podem ser desperdiçados, vidas humanas
podem ser perdidas e nenhum resultado pode vir a ser alcançado, independentemente da boa vontade e
intenção que oriente a execução da ação.

Leia os exemplos na íntegra em anexo 4.

Leia também sobre o método IARA em anexo 5.

Veja na próxima aula uma síntese sobre os problemas mais comuns de análise de dados destacados
por Túlio Kahn e denominados por ele como fatos que levam a interpretações imprecisas das
estatísticas de segurança pública.

Aula 3 – Problemas comuns na análise de dados

Resumo do Manual de Interpretação de Estatísticas de Criminalidade, elaborado pela Coordenadoria de


Análise e Planejamento da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo.

1) Sazonalidade
A passagem do tempo não é linear, pois implica em mudanças climáticas, alteração das atividades sociais
e econômicas, favorecendo ou inibindo a ocorrência de determinados crimes. Em outras palavras, existem
diversas situações e fatores ligados ao calendário anual que explicam porque a criminalidade sobe ou
desce, sistematicamente, em certos momentos.

No verão, os dias são mais longos e as pessoas vão mais às ruas, aumentando as oportunidades para o
cometimento de crimes; nas férias, as pessoas viajam e deixam as casas desprotegidas, facilitando os
arrombamentos; também aumentam nas férias os mortos nos acidentes em estradas. Na volta às aulas,
crescem os furtos e roubos de automóveis em torno das universidades; nos finais de semana e feriados, as
pessoas estão mais em casa, aumentando a ocorrência de violência doméstica. O término da colheita
das safras agrícolas
desemprega grande quantidade de mão-de-obra migrante e pouco qualificada, aumentando o desemprego
e diminuindo a renda do trabalhador em certos períodos do ano, com efeitos sobre os roubos e
furtos. A recomendação é, sempre que possível, comparar períodos de tempo equivalentes: comparação
entre anos inteiros ou entre mesmos períodos de meses de dois ou mais anos.

2) O problema da unidade de análise

É um fato conhecido na criminologia que um grupo pequeno de locais é responsável por uma proporção
grande dos crimes que ocorrem na sociedade. Trata-se do fenômeno da concentração espacial do
crime, determinada por características sociodemográficas, geográficas, econômicas e
históricas dos locais – bairros, cidades ou estados.

É astuto comparar as taxas de criminalidade de um bairro com as de uma cidade, de uma cidade com as
de um estado, de um estado com as de um país, pois as unidades são bastante desiguais. A recomendação
é que se busque sempre comparar apenas unidades territoriais que sejam equivalentes
administrativamente: bairro com bairro, distrito policial com distrito policial, estado com estado, etc., e
sempre que possível com características sociais, econômicas e culturais semelhantes.

3) A escolha do período base de comparação


Dependendo do crime que se escolha e do período usado como base para a comparação, pode-se tanto
“provar” que a criminalidade está caindo como o contrário, dependendo da interpretação. Por isso, a
seleção do período base é uma questão de grande importância e, em sua escolha, devem ser considerados
dois aspectos:

- Deve-se tomar como base um período “normal”, onde os valores não sejam nem muito altos nem muito
baixos. Se o período base for atípico, o crime poderá estar superestimado ou subestimado nos meses de
comparação;

- Deve-se tomar um período base não muito distante do período de comparação. É difícil estipular a
priori quanto próximo ou distante deva ser esse período, porque essa escolha depende, dentre outros
fatores, da escala e do tamanho da série temporal. O melhor guia aqui é o bom senso ou, então, a
utilização de algum marco simbólico, como mudanças de administração ou alguma outra data que
represente um evento marcante.

4) Cálculos de porcentagens e taxas com bases muito pequenas


É comum encontrar manchetes alardeando aumentos elevados no percentual de crimes, que foram
baseadas em números absolutos pequenos, transmitindo uma sensação de insegurança que nem sempre
condiz com a realidade.

Embora não seja obrigatória, uma regra de etiqueta estatística recomenda cautela no cálculo percentual, se
a base for inferior a 100 casos, precaução redobrada com números absolutos inferiores a 30. Quanto
maior a base, menores as oscilações percentuais.

5) Tomar dados de notificação de crimes como se fossem o universo dos crimes

As estatísticas oficiais estariam corretas se todos os cidadãos vitimados relatassem às


autoridades os crimes de que foram vítimas, mas a experiência em diversos países,
desenvolvidos ou não, revela que isso raramente ocorre. A propensão por parte das vítimas
em notificar o crime sofrido varia com uma série de fatores e circunstâncias, relacionadas às percepções
da vítima, ao sistema policial ou ao tipo do crime e do bem roubado. Assim, é possível que o
aumento na estatística de determinado crime esteja refletindo um aumento na
“notificação”.

Medidas como a criação da delegacia da mulher, da delegacia participativa, da polícia comunitária, do


boletim de ocorrência pela internet, do termo circunstanciado preenchido pela Polícia Militar, Rodoviária
e Ambiental podem incentivar a notificação do crime, o que é algo positivo, e aparentar um aumento da
criminalidade que não ocorreu. Por essa razão, antes de interpretar o aumento dos índices de
criminalidade como aumento do crime, é preciso levantar que mudanças foram feitas e que podem estar
refletindo apenas um aumento na notificação de crimes.

6) Atividade policial

A dimensão dos indicadores de atividade policial de resultados (veículos recuperados, cargas recuperadas,
armas apreendidas, prisões efetuadas, cativeiros descobertos, etc.) varia com a quantidade de crimes. Por
isso, esses indicadores devem ser vistos, quando possível, em relação aos crimes, pois quanto maior a sua
incidência, maior a probabilidade de que a polícia consiga mais flagrantes, armas, entorpecentes, cargas e
veículos recuperados. Se analisados do ponto de vista de sua dimensão absoluta, esses indicadores podem
ser enganosos.
Por exemplo, se o volume absoluto de veículos roubados está caindo, o mesmo acontecerá em relação aos
veículos recuperados. Nesse caso, o mais correto é verificar qual a porcentagem de veículos
recuperados sobre o total de veículos roubados e furtados.

7) Certos indicadores refletem simultaneamente atividade policial e fenômenos criminais

Quando os homicídios aumentam ou caem, temos forte convicção de que realmente o indicador está
refletindo o fenômeno retratado, já que a notificação é elevada e o homicídio não varia bruscamente em
razão da maior ou menor atividade policial. Em contrapartida, as apreensões de entorpecentes ou de
armas de fogo têm uma interpretação ambígua: quando aumentam, pode ser tanto porque há mais drogas e
armas circulando quanto porque houve um aumento da atividade policial relacionada à repressão dos
crimes. Em outras palavras, estatísticas relacionadas a entorpecentes, armas, contravenções, crimes de
trânsito e a outros assuntos, podem ser “positivas” quando estão aumentando, se o aumento for reflexo da
intensificação do trabalho policial.

8) Diferenças conceituais entre as estatísticas de homicídio da segurança pública e


outros órgãos
Sobre a discrepância verificada entre os números de homicídio divulgados por diferentes instituições da
área de segurança pública e saúde cabe esclarecer que:

Cada instituição usa uma fonte e tem uma metodologia própria de coleta e análise dos dados, por isso, os
dados sempre conterão diferenças. Algumas instituições utilizam como fonte primária de seus dados de
homicídio a declaração de óbito, enquanto outras têm como fonte o boletim de ocorrência;

Na esfera da saúde, a preocupação está em identificar a natureza da morte do ponto de vista sanitário,
enquanto na segurança, a preocupação é de natureza jurídica e criminológica. Na declaração de óbito
poderá constar como causa básica da morte “perfuração do abdome por objeto contundente”, sendo
classificado como homicídio. Já pelo BO, dependendo da situação, poderá ser classificado como
homicídio doloso, homicídio culposo, latrocínio, morte a esclarecer, suicídio, lesão corporal seguida de
morte ou lesão corporal grave, porque na confecção do boletim, pode-se ainda não ter o resultado morte);
e

Por fim, resta esclarecer que a declaração de óbito utiliza o endereço de residência da vítima, enquanto o
BO o endereço da ocorrência. Se a vítima mora em um lugar, mas morre em outro, num local se
contabilizará um homicídio a menos e em outro um a mais, dependendo da fonte.
9) Identificação de tendências

Para que possamos falar com algum grau de confiabilidade sobre uma tendência de aumento ou queda de
um indicador, é aconselhável verificar se existem, pelo menos, três observações consecutivas na
mesma direção, de preferência usando séries “estacionárias”, isto é, descontados os efeitos sazonais e
outros, quanto maior o número de observações consecutivas na mesma direção, maior a
certeza de que se está diante de uma tendência.

10) População flutuante e pendular


Alguns municípios, principalmente os turísticos, ou alguns bairros – nas áreas centrais e comerciais das
cidades – sofrem com o problema da elevada população flutuante ou pendular, fazendo com que durante
os finais de semana, verões ou durante o horário de trabalho, circule pelo local uma quantidade de pessoas
muito maior do que aquela que reside no mesmo.

No momento de calcular a taxa por 100 mil habitantes para esses locais específicos, freqüentemente se
esquece que o denominador de base é de fato muito maior, visto que se deve incluir a população flutuante.
Não apenas a população, mas também a frota de veículos pode ser flutuante ou pendular, de modo que é
preciso levar em conta o tamanho da frota ao analisar a incidência de roubo e furto de veículos.

É preciso atentar para o fato de que alguns crimes: maus tratos, tortura, lesão corporal e
homicídios, crescem em determinadas localidades devido à concentração de presídios
ou unidades da Febem, locais com grande número de pessoas e onde é comum o
cometimento de crimes.

11) Hierarquização de cidades, bairros e outros rankings

Quando estatísticas são divulgadas, muitas entidades – jornais, agências de turismo e outros grupos com
interesse em crimes – utilizam-nas para compilar rankings de cidades e estados. Esses rankings não
possuem nenhuma percepção sobre muitas variáveis que moldam o crime numa cidade ou região em
particular. Essas hierarquizações levam a interpretações simplistas ou incompletas da realidade, que criam
percepções enganosas e afetam negativamente algumas cidades e seus residentes.
O leitor deve ser alertado para evitar comparar dados estatísticos apenas com base no tamanho da
população, sem examinar todas variáveis que afetam o crime num determinado local. O usuário do dado
pode fazer comparações bastante errôneas.

Aula 4 – Estrutura de relatórios

O relatório consiste numa apresentação lógica, simples e sistemática das idéias e traz
conclusões referentes ao objetivo da avaliação; todo o resto pode ser dispensável. Ele deve
fornecer não só uma descrição geral do trabalho efetuado, como também os resultados
e a importância deles.

O relatório deve ser escrito de modo a garantir sua compreensão pelo pessoal técnico e que seja usado por
ele como instrumento de trabalho. Enquanto um relatório informal normalmente se dirige ao supervisor e
responde a questões de caráter imediato, um relatório formal tem uma ação mais institucional e uma
maior importância. É geralmente lido por pessoas não familiarizadas com o assunto abordado, tal como
pessoal administrativo, por isso, não se deve referir a um assunto, sem dar uma explicação
prévia do mesmo.

Outro ponto importante é a diferença de leitura dos vários utilizadores. Quando um relatório passa pelas
mãos do supervisor, esse dedicará um tempo ao seu estudo e revisão, confirmando os cálculos,
assegurando-se dos resultados e corrigirá a discussão com detalhe.

Estrutura de relatórios

O gestor ou pessoal administrativo, a quem cabe a tarefa de decidir a execução ou não do projeto ou
trabalho, ao qual o relatório se refere, e que está normalmente ocupado para "perder tempo" com
pormenores técnicos, deverá poder inteirar-se, em poucos minutos, do tema do trabalho: como foi feito e
quais os resultados e conclusões. Surge, então, a necessidade de incluir um pequeno sumário no início do
relatório que satisfaça esses requisitos. Se não entender o relatório, a gestão provavelmente irá remetê-
lo para que o autor reescreva o que não é imediatamente claro, diminuindo, naturalmente, o seu crédito.

O leitor não deve precisar folhear 20 páginas de cálculos tediosos até encontrar os
resultados. O relatório deve ser dividido em seções. Cada uma delas deve começar numa nova
página, convenientemente anunciada, e todas as páginas devem ser numeradas.
Um trabalho mal apresentado e de difícil leitura dá impressão de má qualidade. É evidente que, se for
necessário algum esforço para ler e decifrar um relatório, restará menos energia para a compreensão do
conteúdo do mesmo.

Seções do relatório
Deve ser colocado um número e um título em todas as figuras e tabelas, não devendo aparecer como
elementos dispersos no relatório. Sempre deverá haver um texto, mesmo que curto, agregando
todo o material informativo. Mesmo não sendo o fator mais importante na apreciação global de um
relatório, a boa apresentação não deve ser nunca dispensada.
Um relatório deve ser estruturado nas seguintes seções:
Seções do relatório

1 - Página de Título
2 - Sumário
3 - Índice
4 - Introdução resultados obtidos
5 - Metodologia de análise
6 - Observações experimentais e resultados
7 - Discussão dos resultados e conclusões
8 - Bibliografia
9 - Apêndices

Saiba mais sobre as seções do relatório no texto anexo 6.


Referências Bibliográficas

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Neste módulo são apresentados exercícios de fixação para auxiliar a compreensão do


conteúdo.

O objetivo destes exercícios é complementar as informações apresentadas nas páginas


anteriores.
1. Marque a opção correta:

( ) A teoria ecológica do crime, a teoria dos lugares desviantes e a teoria da desorganização social
compõem a abordagem das atividades rotineiras.
( ) A teoria dos lugares desviantes, a teoria das atividades rotineiras e a teoria ecológica do crime
compõem a abordagem da desorganização social.
( ) A teoria da desorganização social, a teoria das atividades rotineiras e a teoria ecológica do crime
compõem a abordagem dos lugares desviantes.
( ) A teoria das atividades rotineiras, a teoria dos lugares desviantes e a teoria da
desorganização social compõem a abordagem ecológica do crime.

2. Sobre a teoria dos lugares desviantes, marque as afirmativas falsas:

( ) Segundo Stark (1987), existem cinco aspectos que caracterizam as áreas urbanas como lugares
desviantes: densidade demográfica, pobreza, mistura do tipo de utilização da área urbana, variação na
composição da vizinhança e a degradação da área urbana.
( ) A conjugação desses cinco fatores levaria a três processos sociais diferentes: (1) aumento nas
oportunidades de crime, (2) aumento na motivação para a ação desviante e (3) diminuição no controle
social.
( ) A teoria analisa a forma pela qual a conjugação desses três processos irá resultar num aumento da
atração de pessoas e atividades desviantes para uma região e num aumento da intensidade do grau de
desvio dessas atividades.
( )Quanto maior a densidade populacional de uma região, maior seriam as possibilidades de associação
das pessoas predispostas para a ação desviante e maior o cinismo moral dentro da comunidade.
( ) A degradação funcionaria como um estigma (marca) sobre os membros da comunidade, não apenas
refletindo o status de seus membros, mas conferindo status a eles. A presença do estigma resultaria numa
redução da conformação das pessoas às regras sociais. As pessoas mais convencionais tenderiam a se
mudar dessas áreas, gerando um processo de concentração de pessoas tendenciosas ao desvio com baixa
moral, podendo tanto ocupar o papel de vítima quanto de agressores.
3. Sobre a teoria da desorganização social, marque a alternativa falsa:

( ) A teoria da desorganização social propõe a existência de três principais fatores estruturais


relacionados com a criminalidade: baixo status socioeconômico, heterogeneidade étnica e mobilidade
residencial.
( ) O efeito de concentração, resultante do conjunto de oportunidades e limitações usufruídas pelos
residentes de uma região em termos de acesso a empregos, escolas de qualidade, famílias estruturadas e a
exposição a modelos de papéis sociais convencionais, gera barreiras estruturais e culturais que
enfraquecem a ordem social e o controle sobre a atividade criminosa na sociedade.
( ) O conceito de desorganização social está ligado à incapacidade de uma comunidade de garantir a
realização dos valores comuns de seus membros e na incapacidade de realizar um controle social efetivo.
( ) As dimensões estruturais da desorganização social estão baseadas na interdependência de redes
sociais dentro de uma comunidade e no grau de supervisão que a comunidade é capaz de exercer sobre
seus membros. Essas redes sociais podem ter caráter informal (participação em organizações sociais e
estabilidade institucional) ou formal (ligações intergeracionais, identidade do grupo e anomia).
( ) É própria das comunidades desorganizadas a criação e a perpetuação de subculturas, e a criação de
uma cultura geral baseada na tolerância para o desvio e para o crime. Não que a violência seja
considerada algo desejado, mas é algo tolerado e esperado como parte da vida cotidiana.

Gabarito

1. A teoria das atividades rotineiras, a teoria dos lugares desviantes e a teoria da desorganização social
compõem a abordagem ecológica do crime.
2. A conjugação desses cinco fatores levaria a três processos sociais diferentes: (1) aumento nas
oportunidades de crime, (2) aumento na motivação para a ação desviante e (3) diminuição no controle
social.
A teoria analisa a forma pela qual a conjugação desses três processos irá resultar num aumento da
atração de pessoas e atividades desviantes para uma região e num aumento da intensidade do grau de
desvio dessas atividades.
3. As dimensões estruturais da desorganização social estão baseadas na interdependência de redes sociais
dentro de uma comunidade e no grau de supervisão que a comunidade é capaz de exercer sobre seus
membros. Essas redes sociais podem ter caráter informal (participação
em organizações sociais e estabilidade institucional) ou formal (ligações intergeracionais, identidade do
grupo e anomia).

Este é o final do módulo 5

Operacionalização da análise criminal

Além das telas apresentadas, o material complementar está disponível para acesso e impressão.

Anexos

Anexo 1 - Teoria das atividades rotineiras

Com base nos pressupostos da escolha racional, Felson (1997) argumenta que a vítima tem
um papel importante na determinação da circunstância do crime e que a identificação
dos fatores ambientais que facilitam a ação criminosa constitui um dos pontos
fundamentais da pesquisa sociológica nessa área.

A existência do crime está baseada na conjugação espacial e temporal de três elementos:


ofensores motivados, disponibilidade e vulnerabilidade dos alvos potenciais.

A vulnerabilidade teria como principal determinante a ausência da vigilância informal


capaz de conter o crime. Segundo Felson, a forma de estruturação da sociedade moderna incentiva a
atividade criminosa, pois, oferece uma multiplicidade de oportunidades de ação ilegal, ligada
principalmente à expansão da produção de bens duráveis leves e à dispersão dos locais de atividade
econômica para longe das áreas residenciais.

Os princípios da escolha racional são utilizados na construção da cena do crime, onde


surpresas estão estruturadas no mundo físico. Essas surpresas se relacionam tanto às situações de
exposição da vítima quanto às situações de oportunidade de ação do criminoso.
Segundo os princípios da escolha racional, as pessoas tendem a seguir o caminho mais curto, gastar o
menor tempo possível e utilizar os meios mais fáceis para alcançar seus objetivos. O raciocínio dos
criminosos constitui basicamente em buscar alvos mais fáceis e óbvios, enquanto as vítimas buscam as
formas mais simples de reduzir suas chances de vitimização. Concluindo, o princípio do menor
esforço levaria ao princípio da escolha do alvo mais óbvio.

A criminologia pode ser compreendida como uma ciência do mundo físico, baseada na explicação do
movimento das pessoas, suas interações e reações resultantes delas. O avanço do sistema de transporte
nas últimas décadas levou à dispersão das áreas urbanas dedicadas ao trabalho, residência, escola, lazer e
compras. A visão tradicional da cidade como um conjunto de comunidades perdeu espaço, assim como a
própria vida em comunidade existente dentro da cidade.

As ruas passaram a pertencer a todo mundo sem serem vigiadas por ninguém, exceto por um oficial de
polícia ocasional que não sabe a quem pertence aquele espaço. As ruas passaram a ser local de exposição
das vítimas ao risco, pois existe, cada vez menos, espaço para o processo de vigilância informal
característico da vida em comunidade.

Felson (1997) finaliza seu argumento propondo que vivemos um processo de mudança onde as cidades
estão deixando de ser uma coleção de comunidades para se tornarem uma coleção de centros comerciais e
residenciais fechados.

O fato de existir um controle maior sobre a atividade criminosa dentro desses centros leva a uma mudança
profunda no papel da polícia e nas bases ecológicas para a ação criminosa.

Essa teoria lida com as causas da situação imediata para a ocorrência dos crimes e
estipula que um crime resulta da conjugação de três elementos: uma vítima disponível,
um agressor em potencial e a ausência de guardiões. Para cada um desses elementos
do triângulo interno, existe um controlador responsável por executar ações que podem
diminuir a possibilidade de ocorrer o crime.

Para o ambiente, o controlador é o gerente e reúne aqueles que têm responsabilidade de controlar o
comportamento em um local específico, por exemplo, o motorista do ônibus, o professor na escola, o
dono do bar, o dono da pensão ou o comissário de bordo. Para os agressores, o controlador é o
manipulador, alguém que conhece bem o agressor e está em
uma posição para exercer controle sobre ele e suas ações. Alguns exemplos de manipuladores são
parentes, professores, amigos e companheiros.
Para as vítimas, o controlador é o guardião, usualmente, são pessoas protegendo a si mesmas ou aos
membros de suas famílias, amigos e companheiros de trabalho, além da polícia e dos serviços de
segurança privada.

Entender como os problemas são criados, a partir de oportunidades, ajuda a pensar em como orientar os
controladores para evitar que os agressores ajam novamente, ajudar as vítimas a reduzir as possibilidades
de se tornarem alvos e mudar ambientes para reduzir fatores que facilitam a ocorrência de problemas nas
escolas, bares ou estacionamentos.

Figura 15: Teoria das atividades rotineiras: triângulo criminal.

CRIME
Alvo / Vítima Guardião

Fonte: Elaboração própria.

Anexo 2 - Teoria dos lugares desviantes

Essa teoria parte do pressuposto de que as características das populações não


conseguem, por si só, explicar a variação das taxas de crime entre as diferentes regiões,
sendo necessário levar em conta as condições físicas delas.

Segundo Stark (1987), existem cinco aspectos que caracterizam as áreas urbanas como
lugares desviantes: densidade demográfica, pobreza, mistura do tipo de utilização da
área urbana, variação na composição da vizinhança e a degradação da área urbana. A
conjugação desses cinco fatores chega a quatro processos sociais diferentes:

Cinismo moral entre os residentes de uma mesma área;


Aumento nas oportunidades de crime;
Aumento na motivação para a ação desviante; e
Diminuição no controle social.

A teoria dos lugares desviantes propõe uma forma de analisar como a reunião desses quatro
processos irá resultar num aumento de pessoas e atividades desviantes para uma região e num
aumento da intensidade do grau de desvio dessas atividades.

Quanto maior a densidade populacional de uma região, maior seriam as possibilidades


de associação das pessoas predispostas para a ação desviante e maior o cinismo moral
dentro da comunidade. Como seria mais difícil manter as aparências nas comunidades mais densas,
surgiria um sentimento generalizado de que as outras pessoas seriam sempre piores do que pretendem ser.

A associação da densidade populacional com a pobreza e o conseqüente aumento no


tamanho das famílias teria, por outro lado, dois impactos significativos nas ações
criminosas em uma comunidade:

Primeiro, as crianças tenderiam a passar mais tempo fora da supervisão dos pais e das escolas,
estando mais freqüentemente em situações de tentação e oportunidade para o cometimento de ações
desviantes. A redução no grau de supervisão das crianças seria uma diminuição nos resultados
alcançados no processo de sua socialização, o que reduz o nível de conformidade a que elas se
submeteriam. O nível de conformidade é reduzido tanto por razões materiais, devido ao fato das
crianças terem pouco a perder, quanto por razões morais, devido a não terem internalizado os valores
sociais.

Segundo, o aumento do tamanho das famílias levaria à ampliação do número de conflitos entre as
famílias membros da comunidade, diminuindo a ligação entre elas e o controle social derivado da
vida em comunidade.

Dois outros fatores seriam também importantes na determinação dos lugares


desviantes: a mistura no tipo de utilização da área urbana e a variação na composição da
vizinhança.

A conjugação de áreas residenciais, comerciais, de trabalho e lazer, levaria ao aumento


da exposição das pessoas a lugares de oportunidade para o desvio. Já a troca constante
de pessoas que residem numa região reduziria a ligação entre as famílias, pois existe um
decréscimo na oportunidade delas estabelecerem ligações entre si.

A redução nos laços comunitários derivada da conjugação desses dois fatores levaria a uma redução nas
formas de controle social. As comunidades estão desorganizadas e fracas para lutarem por seus interesses
num nível político mais elevado e, ao mesmo tempo, teriam menos capacidade de exercer um controle
social informal, porque não existe um reconhecimento mútuo entre os membros da comunidade.

A última característica marcante dos lugares desviantes seria a degradação do ambiente


urbano. A degradação funcionaria como um estigma (uma marca) sobre a comunidade, não apenas
refletindo o status de seus membros, mas conferindo status a eles. A presença do estigma resultaria
numa redução da conformação das pessoas às regras sociais. As pessoas mais
convencionais tenderiam a se mudar dessas áreas, gerando um processo de concentração de pessoas
tendenciosas ao desvio com baixa moral, podendo tanto ocupar o papel de vítima quanto de agressores.

A polícia também seria levada a agir diferentemente devido à presença do estigma. Teria uma ação mais
lenta nessas áreas, agindo apenas quando chamada, deixando de procurar violações ou agir
preventivamente. Essa ação da polícia levaria, por outro lado, a um aumento do cinismo moral, já que as
pessoas verificariam que as atividades desviantes nem sempre seriam punidas, perdendo o respeito pelos
padrões morais. Essa ação da polícia resultaria num aumento da atração de pessoas tendenciosas para o
desvio para essas regiões. Quanto maior a visibilidade do crime e do desvio, mais parece
aos membros da comunidade que este tipo de atividade é segura e recompensadora.

Anexo 3 - Teoria da desorganização social

Shaw et al. (1929) e Shaw e McKay (1942) propõem que existem três principais fatores estruturais
relacionados com a criminalidade: baixo status sócio-econômico, heterogeneidade
étnica e mobilidade residencial. A combinação desses padrões macro- sociais de
desigualdade de residência leva à concentração ecológica de características de
desvantagem em certas comunidades. Esse fato foi identificado como efeito de concentração,
resultante do conjunto de oportunidades e limitações usufruídas pelos residentes de uma região em termos
de acesso a empregos, escolas de qualidade, famílias estruturadas e exposição a modelos de papéis sociais
convencionais.
O efeito de concentração cria barreiras estruturais e culturais que enfraquecem a ordem social e o
controle sobre a atividade criminosa na sociedade. A combinação da pobreza urbana com a quebra da
estrutura familiar está muito mais presente, por exemplo, entre os negros norte- americanos do que entre
os brancos, mas seu efeito independe da raça.

A quebra da estrutura familiar, o desemprego dos homens e a maior presença das mulheres como chefe de
família, estão ligadas à presença da criminalidade independente da renda, raças, região, densidade
populacional, desemprego, privação econômica, etc.

Segundo Bursik e Grasmick (1993), assistimos a uma transformação social das cidades nos anos 80 que
resultou num aumento da concentração espacial dos segmentos marginalizados da população urbana:
famílias grandes, pobres e chefiadas por mulheres. Esses setores marginalizados são altamente
vulneráveis a influências de mudanças estruturais na economia das cidades – mudança na produção de
bens de consumo para a produção de bens de serviço, aumento da polarização na distribuição de renda e
diminuição proporcional do setor industrial nas cidades.

O conceito de desorganização social está ligado à incapacidade de uma comunidade de


garantir a realização de valores comuns de seus membros, resultando na incapacidade
de realizar um controle social efetivo.

As dimensões estruturais da desorganização social estão baseadas na interdependência de redes sociais


dentro de uma comunidade e no grau de supervisão que a comunidade é capaz de exercer sobre seus
membros. Essas redes sociais podem ter caráter informal (ligações intergeracionais, identidade do
grupo e anomia) ou formal (participação em organizações sociais e estabilidade institucional).

A teoria da desorganização social está baseada num modelo sistêmico onde a base das
redes sociais é a vida familiar e o processo de socialização. A organização e a
desorganização social são fins opostos de um mesmo continuum formado pelas redes
de controle social.

O conceito de desorganização social se enriquece na medida em que são consideradas as forças estruturais
e políticas externas mais amplas que influenciam as comunidades, uma vez que elas são diretamente
ligadas ao estrago das condições de controle. As forças macro- sociais – segregação, migração,
discriminação e transformações econômicas – interagem com
fatores do âmbito comunitário – instabilidade residencial, concentração de pobreza e quebra da estrutura
familiar –, impedindo o processo de organização social.

Pobreza, heterogeneidade, anonimato, descrédito mútuo e instabilidade institucional


impedem a comunicação entre os membros de uma comunidade, intensificando o
processo de diversificação cultural e obstruindo o processo de formação de valores
comuns e de identidade no grupo.

É própria das comunidades desorganizadas a criação e a perpetuação de subculturas e a criação de uma


cultura geral baseada na tolerância para o desvio e para o crime. Não que a violência seja considerada
algo desejado, mas é algo tolerado e esperado como parte da vida cotidiana. Os valores culturais comuns
mais amplos deixam de ser relevantes na medida em que se inviabilizam.

Anexo 4 - Leia os exemplos na íntegra

Exemplo 1 – Prevenção de roubos (transporte coletivo, condomínios e postos de vendas


de combustíveis)

Um exemplo básico do impacto do trabalho de análise criminal pode ser obtido a partir de ações
empreendidas por algumas polícias militares no Brasil, na prevenção de roubos em transporte coletivo.

uando se está inserido em uma situação onde a região está marcada por uma alta incidência de roubo em transpor

O processo básico de caracterização de um problema envolve a identificação em termos de tempo e


espaço dos contextos de maior incidência. No contexto dos roubos em transporte coletivo é importante a
identificação de quais as linhas de ônibus onde ocorre maior número de roubos e, para cada uma das
linhas, identificar as regiões – bairros, ruas ou quarteirões – onde se concentram as incidências criminais.
Por fim, uma qualificação ainda mais estrita deve ser obtida a partir da identificação das horas do dia ou
da noite onde essas ocorrências estão concentradas.

O trabalho de análise criminal deve atuar como a execução de uma seqüência contínua
de filtros: Identificar quais as linhas com maior número de vitimização; nessas linhas mais vitimadas, as
regiões da cidade onde se concentram o maior número de roubos e, por último,
identificar para essas regiões os horários que concentram essa vitimização. Veja passo a passo:

Passo 1
Identificação da linha com maior vitimização. Elaboração de uma distribuição de freqüência dos
roubos em transporte coletivo de acordo com o número das linhas de ônibus.

Tabela 12 – Distribuição de freqüência de roubos em transporte coletivo de


acordo com o número de linhas de ônibus

LINHAS Ocorrências Percentual


1143 7 2,3
1422 56 18,3
2143 31 10,1
1234 212 69,3
TOTAL 306 100,0
Fonte: Elaboração própria.

Passo 2

Identificação do bairro com maior vitimização, considerando as 212 ocorrências de roubo em


transporte coletivo ocorridos na linha 1234. Elaboração de uma distribuição de freqüência dos
roubos em transporte coletivo de acordo com os bairros onde passa a linha de ônibus.

Tabela 13 – Distribuição de freqüência de roubos em transporte coletivo nos bairros por


onde passa a linha de ônibus 1234

BAIRROS Ocorrências
Ocorrências Percentual
Percentual
Santo Antônio 23 10,8
Descoberto 102 48,1
Penha 47 22,2
Flor de Liz 40 18,9
TOTAL 212 100,0
Fonte: Elaboração própria.
Passo 3

Identificação do horário com maior vitimização, considerando as 102 ocorrências de roubo em


transporte coletivo ocorridos na linha 1234, no bairro Descoberto; elaboração de uma distribuição de
freqüência dos roubos em transporte coletivo de acordo com as horas do dia.

Tabela 14 – Distribuição de freqüência de roubos em transporte coletivo de acordo com as horas do dia
em que a linha de ônibus 1234 passa no bairro Descoberto

HORA DO DIA Ocorrências


Ocorrências Percentual
Percentual
00:01 às 04:00 0 0,0
04:01 às 08:00 1 1,0
08:01 às 12:00 0 0,0
12:01 às 16:00 2 2,0
16:01 às 20:00 86 84,3
20:01 às 00:00 13 12,7
TOTAL 102 100,0

Fonte: Elaboração própria.

Final da análise
Ao final da execução da análise, verifica-se que, do total de 306 roubos em transporte coletivo, 86
ocorrências têm sua incidência na linha 1234, bairro Descoberto, entre as 16 e 20 horas. Esse
diagnóstico elaborado pelo analista criminal constituiria num importante subsídio para a
tomada de decisão sobre como atuar para reduzir a incidência dos roubos em transporte
coletivo com eficácia e eficiência. Um exemplo prático de estratégia para a solução desse problema
seria colocar policiais como passageiros dessa linha, nesse local e horário.

A crítica sobre esse tipo de análise é que ela não evoluiu para descobrir todas as causas do problema e,
assim, a intervenção policial empreendida pode ter como resposta do agressor uma mudança do local,
linha ou horário do cometimento do roubo. Restam, então, duas alternativas: manter um monitoramento
contínuo da distribuição espacial e temporal da incidência de roubos, fazendo com que o agressor tenha
que mudar continuamente o procedimento padrão de execução do crime ou avançar para identificar as
causas e ampliar as estratégias de ação a serem tomadas. Na lógica do triângulo da teoria das
atividades rotineiras, a análise criminal executada se restringiu a identificação das causas apenas na
ausência dos guardiões, em especial dos órgãos de segurança pública.
Figura 15: Teoria das atividades rotineiras: triângulo criminal.

CRIME
Alvo / Vítima Guardião

Fonte: Elaboração própria.

Exemplo 2 – Perfil dos prédios com incidência de vitimização

Semelhante ao desenvolvido anteriormente para a identificação dos ambientes de concentração dos


roubos em transporte coletivo nas dimensões de tempo e espaço, o trabalho de análise criminal começou
também pela identificação dos bairros, dias da semana e perfil dos prédios que apresentavam maior
incidência de vitimização. Num contexto de distribuição espacial e temporal das incidências que
desfavorecia a obtenção de resultados, a partir da adoção de estratégias de distribuição do efetivo, a
estratégia foi fazer uma parceria com a comunidade criando um alarme para chamar a polícia, o mais
rápido possível, no caso de ocorrências desse tipo.

A polícia militar convocou os síndicos dos condomínios identificados como potenciais vítimas desse tipo
de roubo e, em parceria com eles, formulou a seguinte estratégia para solucionar o problema: cada prédio
criou uma vaga de garagem ociosa para ser ocupada quando os moradores entrassem nas garagens
acompanhados com um assaltante dentro do veículo e os porteiros eram treinados para chamar a polícia
imediatamente quando vissem essas vagas ocupadas. Assim, a polícia chegava no prédio e podia tomar as
providencias necessárias para reduzir o impacto da vitimização.

A estratégia para a prevenção de roubos em condomínios merece a mesma crítica


elaborada em relação à estratégia para prevenção dos roubos em transporte coletivo,
porque não evoluiu para descobrir as causas do problema.
A intervenção policial planejada pode ter como resposta do agressor tanto uma
mudança do local de cometimento do roubo ou até mesmo mudança de prática
delituosa. É necessário manter um sistema de monitoramento contínuo da distribuição espacial e
temporal da incidência de roubos em condomínio, fazendo com que o agressor tenha que mudar
continuamente o procedimento padrão de execução do crime. Outra alternativa é identificar as causas do
problema e ampliar as estratégias de ação a serem tomadas.

Resta, no entanto, salientar o progresso trazido por essa estratégia ao chamar a comunidade para trabalhar
junto na formulação e na execução da prática de prevenção. Como relatado anteriormente, a teoria das
atividades rotineiras propõe que para ocorrer um crime é preciso ter uma vítima disponível, um agressor
em potencial e a ausência de guardiões. Os guardiões não podem ser pensados apenas em termos dos
profissionais dos órgãos de segurança pública. A segurança pública tem como um de seus pressupostos
fundamentais o reconhecimento por parte de cada membro da comunidade do seu papel como agente
responsável pela segurança. A parceria entre polícia e comunidade é um dos pilares fundamentais para
garantir o efetivo controle da violência e criminalidade.
Exemplo 3 – Estudo das ocorrências de roubo a postos de combustível

Outro exemplo prático da análise criminal, relacionado à prevenção da incidência de roubos, aconteceu na
cidade de São Luís do Maranhão. O analista criminal do Centro Integrado de Operações de Segurança
(CIOPS) realizou o estudo das ocorrências de roubo a postos de combustível. Ele verificou que os roubos
eram realizados por motoqueiros, em duplas, que entravam na área do posto para abastecer e anunciavam
o assalto aos frentistas. Essa informação foi utilizada pela polícia militar para deter a quadrilha.

Primeiramente foi identificado o número de ocorrências mensais no ano de 2007. Em seguida foi
verificado o bairro e os horários de maior incidência desse tipo de roubo. Além disso, através da
análise do mapa das ocorrências foi possível perceber que os postos mais visados eram os próximos às
principais avenidas do bairro. Por fim, a análise dos históricos das ocorrências policiais registradas
indicou que a maioria dos roubos era praticada por dois indivíduos em uma motocicleta.

Com base nas tabelas e no mapa abaixo foi identificado que o roubo a postos se concentrava no bairro
Anil-zo, entre 21 e 22 horas, nos finais de semana. Também foi constatado que geralmente os roubos
ocorriam nos postos localizados nas avenidas Edison Brandão, Casimiro Junior e na Estrada de Ribamar
(ANIL). A Polícia Militar do Estado do Maranhão passou a abordar motoqueiros nos horários e locais
considerados críticos. Essas ações propiciaram a diminuição das ocorrências.
Tabela 15 – Distribuição de freqüência mensal dos roubos a postos de combustível, no ano de 2007

TIPO/SUBTIPO TOTAL
Roubo a posto de combustível 145
Jan 12
Fev 13
Mar 14
Abr 27
Mai 20
Jun 21
Jul 15
Ago 16
Set 7
Total geral 145
Fonte: CIOPS / SESEC / MA.
Tabela 16 – Distribuição de freqüência dos roubos a postos de combustível de acordo com a hora do
dia e o bairro de maior incidência. Fonte: CIOPS / SESEC / MA.

BAIRRO HORA TOTAL


0 2
1 2
2 3
3 3
4 1
5 2
6 1
ANIL-ZO 14 1
17 2
18 1
20 1
21 6
22 5
23 1
TOTAL 31

Fonte: CIOPS / SESEC / MA.


Mapa 7 – Pontos para o roubo a postos de gasolina.

Fonte: CIOPS / SESEC / MA.

Exemplo 4 – Favela, tráfico e homicídios

O tráfico de drogas e a pobreza são dois fatores responsabilizados pelo grande número de homicídios nas
cidades brasileiras. Vários estudos testaram a correlação entre homicídios e pobreza, obtendo resultados
variados, mas poucos se dedicaram à análise da relação entre tráfico de drogas e homicídio, em função de
algumas dificuldades de operacionalização de uma pesquisa desse gênero. Uma primeira dificuldade é
como mensurar o tráfico, uma vez que as estatísticas oficiais refletem em grande parte a atividade policial
de combate ao delito e não necessariamente a distribuição do delito em si.

Uma segunda dificuldade tem a ver com a “unidade de análise”: bairros e distritos policiais são
unidades geográficas agregadas, criando uma grande quantidade de áreas sem casos de
tráfico ou homicídio, provocando perturbações nas análises estatísticas. Por exemplo, no
município de São Paulo existe uma centena de distritos policiais e 13 mil setores censitários.

Nesse exemplo de prática de análise criminal será exposta uma análise da relação entre tráfico de drogas e
homicídio na cidade de São Paulo. Os dados analisados foram as denúncias confirmadas de tráfico feitas
ao Disque-Denúncia como indicador de tráfico e os 1332
subsetores da polícia militar na capital como unidade de análise, de modo a obter um número significativo
de casos para estudo.

A favela não é apenas um indicador de pobreza, uma vez que existem outras características urbanísticas,
ecológicas e sociais específicas a esse tipo de habitat, que tornam os subsetores com favelas mais
propensos ao envolvimento com o crime, seja na qualidade de autores ou de vítimas. Sabe-se já que boa
parte dos homicídios ocorre no interior das favelas ou nas suas imediações, como mostra o mapa na
próxima página, com buffers de 50m ao redor das favelas da capital. Dos 5521 casos de homicídios
analisados, 33,5% ocorreram no interior ou numa faixa de 50m de distância das favelas.

Figura 16: Distribuição dos homicídios segundo a distância entre o local de ocorrência e
as favelas
Os tópicos seguintes procurarão avaliar o peso das variáveis “tráfico de drogas” e “favelas” para a
explicação dos homicídios, mediante diversos procedimentos estatísticos.

Os homicídios dolosos registrados no Infocrim, entre 1999 e 2003, na capital, foram reagrupados em
cinco faixas, dividindo os subsetores em blocos com maior ou menor quantidade de homicídios.

A primeira faixa agrega 341 subsetores com dois ou menos homicídios no período e a última
251 subsetores com mais de 29 homicídios. Os subsetores foram reagrupados também segundo a
quantidade de favelas: 61% dos subsetores da capital não têm favelas, enquanto o restante tem uma ou
mais favelas. Finalmente, os subsetores foram reclassificados, segundo a existência ou não de denúncias
de tráfico, independente da quantidade de denúncias: 32% deles tinham pelo menos uma denúncia de
tráfico de drogas entre janeiro de 2003 e outubro de 2004.

Embora os mapas de denúncias de tráfico e homicídios sejam parcialmente


coincidentes, nota-se a presença de algumas áreas com tráfico, porém sem homicídio e
vice-versa. A interpretação é árdua, pois há uma superposição entre áreas com favelas, tráfico e
homicídio, dificultando a apreensão do peso de cada fator isoladamente. Conforme esperado, subsetores
com poucos homicídios estão em áreas sem tráfico ou favelas (33,8%), enquanto subsetores com muitos
homicídios estão em áreas com presença de tráfico e várias favelas (27,9%). Lendo os dados de outra
forma, apenas 2,4% dos subsetores sem tráfico ou favelas têm 29 ou mais homicídios; em contraste,
apenas 2,6% dos subsetores com tráfico e muitas favelas têm dois ou menos homicídios.

Mapa 8 – Mapa de denúncia de tráfico e homicídios


No entanto, uma análise mais qualificada evidencia que a relação entre homicídios e tráfico de drogas é
condicional, isto é, é forte e significativa nas áreas onde não existem favelas e torna- se não significativa
quando analisadas em separado as áreas com favelas.

Observando as médias de homicídio de acordo com a existência ou não de tráfico, controlado pela
presença de favelas, os homicídios dobram com a presença do tráfico nas áreas sem favelas (5,5 para
10,4). Por outro lado, o tráfico quase não influencia a média de homicídios nas áreas com muitas favelas
(41,4 para 43). Conclui-se que a influência do tráfico é crimogênica, entretanto condicional, e a presença
ou não de favelas influencia muito mais a média de homicídios – 6,6 nas áreas sem favelas, 17,7 quando
há uma e 42,3 quando existem várias.
Os coeficientes de correlação de Pearson sugerem igualmente que a correlação dos homicídios com
tráfico é significativa na análise bivariada, porém mais fraca do que a correlação com o número de
favelas na área. A análise de regressão dos homicídios, tendo como base a quantidade de favelas e a
existência ou não de denúncia de tráfico no subsetor, confirma as anteriores: embora ambas as variáveis
sejam significativas, o poder de predição da variável “favelas” é bastante superior a “tráfico”. Observe-se
o que acontece quando se roda a mesma regressão separadamente para as áreas sem e com presença de
favelas. Quando não existem favelas no subsetor, a presença do tráfico é um previsor, ainda que fraco,
do número de homicídios (r = .219, F e t significativos > .000). Entretanto, nos subsetores onde existem
favelas a relação entre tráfico e homicídios simplesmente desaparece (r =. 057, F e t não significativos).

Figura 17: Média de homicídios por setor estratificados segundo a presença de tráfico e
presença de favelas

Case Summaries
Mean
Faixa de Existência de tráfico no Número de
favelas por subsetor homicídios
subsetor no subsetor
Nenhuma Subsetor sem denúncia de 5,53
favela tráfico 10,40
Subsetor com denúncia de 6,66
tráfico
Total
Uma favela Subsetor sem denúncia de 15,38
tráfico 21,21
Subsetor com denúncia de 17,78
tráfico
Total
Várias favelas Subsetor sem denúncia de 41,65
tráfico 43,09
Subsetor com denúncia de 42,34
tráfico
Total
Total Subsetor sem denúncia de 14,18
tráfico 25,55
Subsetor com denúncia de 17,82
tráfico
Total

Os procedimentos adotados – análise de tabelas cruzadas, comparação de médias, coeficientes de


correlação parcial e análise de regressão – parecem coincidir no diagnóstico. Aceitando-se que as
denúncias confirmadas de tráfico feitas ao Disque- Denúncia sejam boas substitutas da dimensão “tráfico
de drogas”, e que os 1332 subsetores sejam uma unidade de análise apropriada para estudar a questão,
conclui-se que a presença do tráfico num subsetor implica num aumento dos homicídios, principalmente
nas áreas sem favelas. Nos subsetores com presença de favelas, porém, a existência do tráfico diminui
acentuadamente sua influência, sugerindo que a pobreza e o contexto social e cultural predominante no
local são mais importantes que o tráfico para explicar o elevado número de homicídios.

Em termos práticos, a estratégia policial para a redução dos homicídios, através do combate ao tráfico de
entorpecentes será, provavelmente, mais eficaz nos 187 subsetores com denúncias de tráfico, mas sem
favelas. Do ponto de vista teórico, a análise sugere que as condições socioeconômicas explicam mais do
que o tráfico de drogas o elevado número de homicídios em São Paulo, sugerindo que a solução para o
problema deve passar também por políticas sociais e urbanísticas, além das ações policiais.

Exemplo 5 – Desordem urbana

Agora você conhecerá uma experiência prática de gestão que ocorreu em São Paulo, na área de Santo
Amaro, onde foi identificada uma grande concentração (hot spot) de roubos. Os
responsáveis pela área nas polícias militar e civil foram chamados ao gabinete da SSP para tomar
conhecimento do problema, elaborar um plano de ação e dar início a uma série de operações policiais para
reduzir os índices de criminalidade na região, utilizando a metodologia IARA – identificar, analisar,
responder e avaliar.

Foi mencionado na reunião, o problema do grande fluxo de população flutuante e da concentração de


camelôs (cerca de 2 mil quiosques), o que exigiria uma ação conjunta com a prefeitura e outros órgãos, e
relatou-se que o atual subprefeito colaborava em operações para a desocupação das vias.

Em razão da grande quantidade de camelôs, existiam também na área diversos depósitos que
armazenavam produtos piratas, que deveriam ser alvo de fiscalização e alertou-se também para o
fato de que a existência de um Poupa Tempo na área poderia implicar num registro superestimado de
roubo de documentos, mesmo que o crime tivesse ocorrido em outro local.

Foi relatado que, recentemente, teria ocorrido migração de crimes para o local, em razão de operações de
outros batalhões de choque nas áreas vizinhas, embora o entrosamento entre as duas polícias na área foi
qualificado como “muito bom” e a comunidade caracterizada como bastante participativa, com um
Conseg ativo: a Associação Comercial Americana, por exemplo, fazia campanhas preventivas contra a
criminalidade na região. Há também um contato com a CET para o monitoramento das vias principais por
câmeras (Adolfo Pinheiro, Ver. José Dinis, etc.)

No encontro foi sugerido que, dada as características da criminalidade, o policiamento a pé seria o mais
efetivo para prevenir os roubos. Também foi apontado que se trata da única seccional de polícia da capital
ainda sem Delegacia Participativa.

Como resposta policial aos problemas, a PM aumentou em 65 homens o efetivo policial da área e
formulou-se um projeto para a instalação de uma nova Cia PM no local. Uma força- tarefa composta por
260 homens estava na ocasião atuando na área e foi previsto que 160 deles permaneceriam. A PC reativou
o setor operacional e por determinação do Del. Geral, o GARRA foi enviado para reforçar o policiamento
no local. Por determinação da seccional, recursos materiais e humanos foram remanejados para a área do
11º DP e, coordenada pela seccional, as operações da PC passariam a contar com apoio de outros DPs
próximos.
Figura 18: Avaliação da incidência de roubos e área sugerida para implantação de supedâneos

Foi realizada uma reunião do Comando do CPM 10 com a subprefeitura, a guarda metropolitana, os
representantes da associação comercial local, a Eletropaulo e a Sabesp, com o objetivo de iniciar ações
conjuntas para a retirada de todas as barracas de camelôs, apreensão de objetos ilegais, com a
participação da seccional, viaturas, policiais civis e militares e a delegacia móvel. Cerca de 1120 barracas
foram retiradas durante as ações, que contaram com 400 fiscais, guardas civis e policiais civis e militares.
A intenção da subprefeitura era realocar os ambulantes para o POP Centro, da Rua Antonio Bento, criado
para organizar o comércio de rua.

Como resultado das ações empreendidas, houve uma redução de 13% nos “roubos outros” no 11º DP,
entre abril de 2006 e abril de 2007, bem como uma redução de 45,6% nessa modalidade, no polígono
traçado com o Infocrim em torno do Largo 13 de Maio. Ao contrário do que ocorreu em 2006, verificou-
se também uma redução nos roubos no período fevereiro a abril de 2007, tanto no DP (-12,9%) quanto
no polígono (-44,4%). Aparentemente, não houve migração para outras áreas dentro do distrito, uma vez
que houve queda da modalidade em todo o DP, ainda que menor do que a observada no polígono.
De acordo com a filosofia de “policiamento orientado a problemas”, e para que o roubo não retorne ao
padrão anterior, terminadas as operações, a CAP sugeriu a classificação da área em torno do Largo 13 de
Maio como uma AISP (Área de interesse de segurança pública) e a análise da possibilidade da instalação
de supedâneos em pontos estratégicos do largo ou, ainda, uma central de monitoramento por câmeras,
estratégias adequadas em função do tipo de crime e da concentração espacial observada. O caso do
Largo 13 de Maio ilustra todas as etapas envolvidas na metodologia do policiamento orientado a
problemas e o sucesso de seu uso na redução dos roubos.

Exemplo 6 – Avaliação de eficiência de ações – Criação de buffer

A avaliação científica de uma intervenção policial é uma tarefa complexa que exige, dentre outras
cautelas, uma comparação com as tendências criminais preexistentes e a seleção aleatória de uma
área controle, com perfil semelhante à área onde se realiza e intervenção. Um desenho de avaliação
bastante utilizado em pesquisas científicas é conhecido como “antes- depois com grupo de controle” e
tem por finalidade evitar que as conclusões da avaliação sejam equivocadas, tanto de rejeitar como
inoperante uma ação eficaz, quanto de abalizar uma intervenção ineficaz.

Num projeto experimental, duas ou mais áreas semelhantes são escolhidas, e um sorteio aleatório é feito
para saber quais serão as áreas de intervenção e quais as de “controle”; os indicadores criminais de ambas
as áreas são monitorados antes e depois da intervenção. O problema com a avaliação de projetos policiais
é que quase sempre são avaliados a posteriori, sem que tenha havido o cuidado de selecionar
aleatoriamente áreas similares para os grupos controle e intervenção. Além disso, as áreas selecionadas
para a intervenção são costumeiramente diferentes das demais, porque concentram mais crimes, sendo
esse o motivo pelo qual foram escolhidas para a intervenção. É preciso ter isso em mente ao se avaliar os
resultados encontrados nos experimentos que e que envolvem a avaliação antes-depois de certos
indicadores criminais, contabilizados no interior de um buffer.

Um “buffer” é uma zona ao redor de um objeto, como uma favela ou avenida, que tenha um significado
investigativo. Ele não precisa ser necessariamente um “anel”, mas pode ter qualquer formato. Com ele é
possível analisar que tipo de objeto atrai ou afasta certo tipo de crime (ou se não há efeito algum), qual o
raio de ações de postes de luz, câmeras de vídeo, onde distribuí-los, quais as características dos chamados
ao 190, no raio de 1km ao redor das escolas, etc. No mapa abaixo foi criado um buffer de 100m ao redor
das vias principais de São Paulo e foi contabilizada a proporção de latrocínios que ocorrem no interior
dessa faixa.
Mapa 9 – Distribuição espacial da incidência de roubos seguidos de morte ou lesão grave

Sabe-se que os diferentes “equipamentos públicos” ou tipos de estabelecimentos produzem efeitos de


atração ou repulsão na criminalidade. As faculdades atraem ocorrências de furto de veículos, favelas
atraem ocorrências de homicídio, etc. Por outro lado, existem alguns “bloqueadores de oportunidades” –
base policial, câmeras de vídeo, supedâneos, iluminação, obstáculos físicos à circulação – que reduzem ou
afastam o crime para outros locais menos protegidos. Além da atração entre vias principais e
latrocínios, há também nesse tópico, o efeito inibidor dos equipamentos fixos de segurança – Base
comunitária de segurança, distrito policial e Companhia Policial Militar – sobre os furtos na cidade de
São Paulo, no ano de 2002.

Gráfico 8 – Incidência de furtos segundo a distância dos distritos policiais

Para simular esse efeito, foram construídos cinco círculos em torno desses equipamentos de segurança,
num raio de até 500m, e contabilizado o total de ocorrências de furto em cada círculo. De um modo geral,
quanto mais próximo do equipamento de segurança, menor a quantidade de furtos, sugerindo o efeito
inibidor. Supõe-se que o mesmo efeito pode ser conseguido com as bases comunitárias móveis e com os
supedâneos, equipamentos públicos de segurança mais baratos e em alguma medida deslocáveis. O raio
de ação desses
equipamentos de menor escala deve, teoricamente, ser menor do que o observado anteriormente.

O local dos equipamentos fixos nem sempre pode ser escolhido livremente pelas polícias, uma vez que a
instalação de uma unidade policial depende da disponibilidade de imóveis, acesso, dentre outros fatores.
Com efeito, a análise dos mapas revela que nem sempre o equipamento de segurança fixo está localizado
nos pontos criminais mais críticos. A localização das bases comunitárias móveis, supedâneos e outros
equipamentos preventivos, por outro lado, deve levar em conta os “hot spots” sugeridos pelos
sistemas de informações georeferenciadas. Como os crimes são altamente concentrados no espaço, a
colocação desses equipamentos nos locais corretos pode contribuir para inibir uma quantidade maior de
crimes.

Outro exemplo de uso da construção de buffers envolveu a avaliação da eficiência das câmeras de vídeo
monitoramento, instaladas pela Prefeitura de São Paulo no centro da cidade, sobre a incidência de furtos.
Em 26 de julho de 2006, entraram em funcionamento as primeiras 35 câmeras de monitoramento, 32 das
quais voltadas para áreas externas. As câmeras são ocultas e não existe nenhuma sinalização para o
público informando que a área é monitorada. Atualmente, abril de 2008, já existem 99 câmeras instaladas
e a proposta é de chegar a até 12 mil em toda a cidade, daí a importância de uma avaliação sobre os
efeitos do monitoramento sobre a criminalidade. A avaliação da experiência é relevante também, porque a
PM está iniciando a implantação das primeiras 100 câmeras de monitoramento na cidade e é preciso
aprender com os erros e acertos de outras experiências.

Nesse tópico será feita apenas a análise das 32 câmeras iniciais. Ela iniciou com a construção de nove
anéis (buffers) de 15m, em torno de cada câmera, abrangendo uma área total de 145m, ao redor de
cada uma. Depois, foram comparados os furtos ocorridos em volta das câmeras nos seis primeiros meses
de 2006, antes da instalação, com os furtos ocorridos nos seis primeiros meses de 2007, depois da
instalação. A análise inicial sugere uma diminuição da ordem de 5% nos furtos, após a instalação das
câmeras de monitoramento, embora estimativas da prefeitura falem em 15% de redução.

Uma análise mais precisa fica prejudicada, uma vez que as câmeras não foram instaladas nos locais de
maior concentração criminal, onde seriam maiores seus efeitos. As câmeras não tinham como função
apenas reduzir a criminalidade, mas também a de zelar por equipamentos públicos nas proximidades. Não
se sabe ao certo que treinamento os monitores receberam, nem em que medida há “pronta resposta” no
caso de identificação de crimes. Mas, mesmo
assim, foi possível identificar uma redução da criminalidade depois da instalação das câmeras, redução
que seria potencializada, acredita-se:

(1) com uma correta seleção do local de instalação;

(2) com sinalização alertando que se trata de área monitorada; e

(3) com treinamento adequado para os monitores que acompanham as imagens e pronta resposta
no caso da identificação de delitos.

É importante ressaltar que apenas os furtos foram analisados, mas que as câmeras podem também ter
surtido efeito sobre outros crimes e contravenções não analisados nesse trabalho.

Mapa 10 – Distribuição das câmeras e incidência de furtos ao redor das câmeras: amarelo (2006) e
vermelho (2007)
Gráfico 9 – Número de furtos no interior de cada anel (ao redor das câmaras) em 2006 e 2007

700

631
600

500

525 435
421 413 394
400 385

341 332
318
300 304
294 290
281
265 260
245

200
193

100

0
m etros m etros m etros m etros m etros m etros m etros m etros m etros
15 30 45 60 75 100 115 130 145

furtos 2006 furtos 2007

RADIU DIST_UN
S_ ITS AREA_ furtos 2006 furtos 2007 var
15 m etros 24106,96 318 265 -16,67
30 m etros 68301,86 421 385 -8,55
45 m etros 105186,94 245 193 -21,22
60 m etros 135634,65 304 413 35,86
75 m etros 151785,88 631 525 -16,80
100 m etros 279509,53 435 394 -9,43
115 m etros 170039,95 294 341 15,99
130 m etros 169440,19 260 281 8,08
145 m etros 162710,14 332 290 -12,65
3240 3087 -4,72

Metodologia similar a essa foi utilizada para testar os efeitos do novo policiamento de trânsito adotado na
cidade. Após três meses de experiência, a SSP lançou, em 25 de setembro de 2007, o Programa de
Policiamento de Trânsito na Capital, em parceria com a Prefeitura de São Paulo, voltado para a prevenção
a crimes e infrações praticadas no trânsito. Além de aplicar multas, os policiais também vistoriam o
veículo ou prendem o motorista que cometer crimes nas ruas. Foram disponibilizadas 365 viaturas
(entre elas 140 motos) e 1375 homens, treinados especialmente para o programa, que atuam em 1011
cruzamentos considerados estratégicos da cidade.

A novidade do programa dificulta uma avaliação mais detalhada dos seus efeitos no policiamento. Foi
comparado o número de crimes em 2006 e 2007, tomando por base o mês de outubro, em 156
cruzamentos. Em torno de cada cruzamento, foi construído um “buffer” (círculo) com 200m de raio e,
posteriormente, foram contados os crimes no interior desses círculos, tanto em 2006 quanto em 2007. A
constatação é que, comparando outubro de 2006 com outubro de 2007, o total de crimes cai 20%, os
furtos 36% e os roubos 52% nas áreas ao redor dos pontos de estacionamento. Foram criados também 10
círculos concêntricos de 50m,
ao redor do ponto de estacionamento das viaturas (total 500m), e os resultados mostram que a queda
ocorre mesmo a 500m de distância, embora os efeitos sejam decrescentes conforme aumenta a distância,
como esperado. Pelo menos, até 500m de distância, não existe efeito deslocamento detectável nos furtos e
apenas um ligeiro deslocamento nos roubos, a partir dos 200m.

Tabela 17 – Número de roubos segundo distância do ponto de estacionamento

RING_ RADIUS_ DIST_UNIT AREA_ AREA_UNITS roubos 06 roubos 07 var furtos 06 furtos 07 var
1 50 metros 1172812,99 metros quadrados 453 203 -55 612 348 -43
2 100 metros 3404342,74 metros quadrados 218 107 -51 290 227 -22
3 150 metros 5495226,91 metros quadrados 250 114 -54 405 288 -29
4 200 metros 7473921,53 metros quadrados 261 141 -46 405 330 -19
5 250 metros 9276975,60 metros quadrados 269 181 -33 456 301 -34
6 300 metros 10813504,21 metros quadrados 282 146 -48 393 300 -24
7 350 metros 12121058,01 metros quadrados 294 190 -35 439 329 -25
8 400 metros 13321792,63 metros quadrados 276 196 -29 437 305 -30
9 450 metros 14390447,93 metros quadrados 284 168 -41 410 325 -21
10 500 metros 15379486,85 metros quadrados 271 185 -32 402 289 -28

Este tipo de procedimento – criação de um buffer em torno de um equipamento qualquer, como distrito
policial, câmera de vídeo ou ponto de estacionamento de viatura – pode ser utilizado para avaliação da
eficiência de vários tipos de projetos policiais, medindo-se a evolução da criminalidade nos arredores
antes e depois da instalação do equipamento. Mais robustos ainda são as conclusões quando se evidencia
que o comportamento da criminalidade não foi similar em outras áreas, atuando aqui como um tipo
rudimentar e imperfeito de “grupo de controle”.

Exemplo 7 – Letalidade policial

Esse exemplo de prática de análise criminal foi desenvolvido pela Coordenadoria de Análise e
Planejamento da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. Nesse caso, serão avaliados os fatores
determinantes da letalidade da ação policial. Para essa análise, foram selecionados
523 casos de incidentes letais ocorridos entre 2001 e 2003, envolvendo policiais civis e policiais
militares em serviço. Além de informações do banco de dados de letalidade da CAP, serão utilizados
dados adicionais do Infocrim para “plotar” incidentes no mapa. Foi identificado o seguinte cenário
típico: durante patrulhamento noturno, em bairros violentos da periferia, policiais identificam veículo
suspeito com pessoas em atitudes suspeitas e durante a abordagem ou acompanhamento, há troca de tiros
e o incidente termina com a morte de uma das pessoas em atitudes suspeitas.

Quase metade dos casos de confrontos letais registrados ocorre apenas no município de São Paulo. Por
sua natureza e finalidade, o Choque é a unidade policial mais envolvida em
confrontos letais, como seria natural esperar. A distribuição dos confrontos é eqüitativa por dia da
semana, com ligeira queda nos finais de semana. A maior parte dos confrontos letais ocorre entre 19h e
1h da madrugada. Os policiais militares estão envolvidos em cerca de 90% dos casos de confronto letal,
proporção esperada, dada a tarefa constitucional da PM.
Com relação ao contexto do início da ocorrência que terminou em confronto, 60% iniciaram-se durante
rotinas de patrulhamento e 37% por chamados ao 190. A situação mais freqüente é aquela em que a
patrulha se depara com um furto ou roubo em andamento, onde ocorre troca de tiros com os criminosos.
Cerca de 67% dos confrontos ocorrem nas vias públicas, implicando numa situação potencialmente
perigosa também para as pessoas que estão circulando pelo local dos fatos.

A idade média das vítimas civis de confrontos é 24,6 anos, enquanto a média de idade dos policiais
envolvidos em confrontos é de 32 anos. Das vítimas, 98,4% são homens. Em 83,4% dos confrontos
apenas uma pessoa foi morta e em 13,2% duas pessoas.

Em 95% dos casos de confronto, a ocorrência é registrada como resistência seguida de morte. Os casos de
resistência seguida de morte em 2002 (círculos pretos) tenderam a ocorrer em hot spots de homicídios
dolosos (manchas vermelhas). Foram identificados, pelo menos, três possíveis explicações para essa
superposição. O policial que atende ocorrências nas áreas violentas se sente inseguro e tende a não seguir
os procedimentos de abordagem padrão? Tratamento desigual efetivado pelos policiais devido ao baixo
status socioeconômico e pouca visibilidade das vítimas? Ou simplesmente concentração da violência
criminal nessas áreas?

Mapa 11 – Distribuição da letalidade policial e incidência de homicídios dolosos (2002)


Há uma relação linear entre a taxa de mortos por 1000 policiais e o tamanho do município: nos pequenos
a taxa é de 5,6:1000, crescendo para 44,7:1000 nas oito cidades com mais de 500 mil habitantes.

Gráfico 10 – Incidência de letalidade policial segundo tamanho do município (2002)

40,0000

categoria de população
ate 5000 hab
30,0000
de 5001 a 25000 hab
de 25001 a 100000 hab
Values

de 100001 a 500000 hab mais


de 500000 hab
20,0000

10,0000

Mean

É muito comum o envolvimento dos mesmos policiais em mais de uma ocorrência com resultado letal. A
reciclagem e o acompanhamento psicológico devem focar os policiais e unidades que concentram o maior
número de envolvimento em ocorrências letais. Sem pretensão de fazer qualquer julgamento moral, sabe-
se que cada comandante geral tem seu estilo e preocupações próprias, o que tende a afetar o
comportamento da corporação. A questão dos “excessos” policiais é uma das mais afetadas pela postura e
discursos adotados pelo alto comando, que dão ênfase maior ou menor ao problema. Através de uma série
de “sinais” explícitos e implícitos, a tropa de algum modo “capta” esta linha e se comporta em função da
orientação superior.
Figura 19: Análise da incidência de letalidade destacando impacto das mudanças de comando
Troca de comando
troca de
comando

Resistência
seguida de
morte, em
serviço:
mudança de
nível para
cima em
julho de
2002 e
para baixo
em
dezembro
de 2004

Caso dentista

Nessa análise, constata-se como a letalidade aumentou em julho de 2002, durante a gestão do último
comandante geral, que assumiu em abril de 2002; caiu em dezembro de 2004, após a posse do atual
comandante geral e ao episódio da morte do dentista negro, em fevereiro de 2004. A análise sugere que a
postura do comando e casos emblemáticos (Carandirú, Favela Naval, etc.) afetam mais os níveis de
letalidade do que os procedimentos burocráticos internos.

O número de policiais encaminhados ao PROAR, no período analisado (2001 a 2005) e o número de


procedimentos adotados (inquéritos, sindicâncias, etc.) parece não ter impactado no nível de letalidade.
Ele manteve-se praticamente constante, portanto não explica nem o aumento em 2002 e nem a queda em
2004. O número de procedimentos internos, por sua vez, aumentou em julho de 2002 – acompanhando o
crescimento da letalidade – e se manteve estável desde então. Os dados reforçam a importância da postura
do comando perante a questão, deixando claro aos subordinados que mortes desnecessárias são um mal –
ainda que legais – e que afetam a legitimidade da ação policial e abusos não serão tolerados.

Os dados da pesquisa de vitimização IFB, de 2003, sugerem que ainda pode haver um padrão desigual de
tratamento da população conforme o bairro, especialmente, no tocante às revistas e averiguações de
documentos. A população que mora nos bairros periféricos é mais abordada pelas polícias para
verificação de documentos e revistas. Incidência criminal e o perfil epidemiológico dos criminosos
podem justificar essa maior incidência.
Mapa 12 – População revista por profissionais de segurança pública

Nos Estados Unidos morrem, em média, por ano, cerca de 400 pessoas em confrontos com a polícia. Esse
número equivale a cerca de 1/3 das mortes ocorridas anualmente no Brasil, embora a população
brasileira seja bem menor. Segundo dados remetidos pelas Secretarias de Segurança à Senasp, metade
dos casos de vitimização fatal por agentes policiais no Brasil ocorre em São Paulo. Em termos de taxa por
1000 policiais, São Paulo só fica atrás do Rio de Janeiro. Como os homicídios têm diminuído em São
Paulo, desde 2001, a proporção de mortos em confrontos sobre o total de homicídios tem aumentado.
Atualmente, os confrontos são responsáveis por cerca de 9% dos homicídios do estado e essa proporção
equivale, aproximadamente, a encontrada nas cidades norte-americanas com mais de 1 milhão de
habitantes.

Em função do melhor treinamento e equipamento, é natural esperar que os civis sejam mais vitimados nos
confrontos com a polícia. Em 85,2% dos casos analisados, o policial respondeu que utilizava colete no
momento do confronto. Contudo, a relação mortos policiais X mortos civis no estado está desequilibrada,
sugerindo excesso policial nas ações. Na cidade de Buenos Aires, a relação entre civis e policiais mortos
em confrontos varia de 6 a 15,7 (dados de 1998). Nos Estados Unidos, a relação varia entre 5 e 7 vezes
mais civis mortos nos confrontos
– proporção similar a do Rio de Janeiro entre 1997 e 1998. Nos confrontos entre policiais e criminosos, o
padrão é que o número de criminosos feridos seja superior ao número de criminosos mortos (relação
feridos X mortos menor que 1). O padrão atual de São Paulo é ligeiramente invertido, com o número de
mortos superando o de feridos.
As análises sobre as características dos confrontos estão baseadas em 2113 casos de confrontos
cadastrados pelo grupo de letalidade da CAP. Cerca de 84% dos confrontos ocorrem com o policial em
serviço e ¼ durante a folga. Quase metade dos casos de confrontos letais registrados ocorre no município
de São Paulo. Em 502 municípios do estado, não houve mortes em confrontos com a polícia entre 2001 e
2003. O problema está concentrado em 25 cidades. Em termos de taxa de mortos por 1000 policiais, São
Paulo perde para diversos municípios do interior do estado, que tem efetivos muito menores, inflando
artificialmente as taxas. A distribuição dos confrontos por município segue, aproximadamente, a
distribuição dos maiores efetivos policiais do estado, em termos absolutos. As áreas onde mais ocorrem
esses confrontos letais são o 1º DP de Guarulhos, o 73º e 41º DPs de São Paulo, Campinas, Santo André,
Diadema e Osasco.

Informação é a matéria-prima do trabalho policial e sociedade pressiona polícia por “resultados”. Quanto
menos técnico-científico for o trabalho policial num determinado departamento, maior o recurso à
violência ou aos meios ilegais para a obtenção de informação. A superação dos abusos na polícia virá não
apenas do ensino específico dos “direitos humanos”, mas da elevação da qualidade do ensino técnico nas
academias de polícia.

Exemplo 8 – Problema da segurança nos postos de saúde

Um exemplo importante de análise criminal que avançou de forma significativa para conceber ações não
restritas, apenas ao âmbito dos órgãos de segurança pública, ocorreu, novamente, em Belo Horizonte. A
prefeitura do município possuía um problema sério relacionado à alta rotatividade de funcionários nos
postos de saúde, causada pela própria solicitação de transferência dos funcionários de local de trabalho
justificada pela grave situação de segurança nas regiões. Que estratégia utilizar para fazer com que os
funcionários dos postos de saúde parassem de solicitar tantas transferências?

A análise criminal do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública/UFMG começou pelo


procedimento padrão de mapeamento da localização dos postos de saúde no município e identificação do
tipo de criminalidade predominante na região dos postos. Como esboçado no mapa a seguir, essa análise
levou a conclusão de que os postos não estavam localizados em áreas tipicamente violentas. Como
explicar que os funcionários dos postos de saúde reclamavam da situação da segurança pública, se a
incidência de crimes nas regiões dos postos é muito pequena? Duas possibilidades de explicação foram
cogitadas: a vitimização nos postos de saúde envolve situações onde as vítimas não estão registrando os
crimes na polícia ou o medo dos funcionários dos postos de saúde resulta menos da convivência com
eventos reais de incidência criminal, e mais da existência de outros fatores que promovem o aparecimento
de uma forte sensação de insegurança.

A verificação dessas possibilidades exigiu que se fizesse uma pesquisa tipo survey envolvendo a
aplicação de questionários nos funcionários dos postos de saúde. A construção do questionário teve como
objetivo identificar os fatores que explicam a sensação de insegurança. Questionou-se sobre a
vitimização dos funcionários e o acompanhamento pelos funcionários de casos de vitimização na região
dos postos de saúde. Também foi levantada uma série de características do ambiente do posto de saúde, a
dinâmica interna de trabalho, a relação com a comunidade atendida, as condições de infra-estrutura do
posto, a infra-estrutura urbana da região que circunda o posto e o comportamento da vizinhança.

A análise dos dados coletados por esses questionários explicitou um dado importantíssimo para a
formulação da estratégia de redução dos pedidos de transferência. O principal fator relacionado com a
sensação de insegurança não era a vitimização do funcionário ou de outras pessoas no ambiente do posto
de saúde. A sensação de insegurança mostrou-se fortemente relacionada ao ambiente de infra-estrutura
urbana da região que circunda o posto. A presença de lotes vagos, calçadas quebradas, ruas com problema
de pavimentação e postes com luz queimada foram fatores destacados como fundamentais para a sensação
de insegurança por parte dos funcionários.

Mapa 8 – Mapa de Kernel dos eventos criminais nas proximidades dos postos de saúde

Postos de Saúde Ruas e Avenidas Parques e Praças


Concentração de Ocorrências Criminais
Maior Concentração

Menor Concentração

Nesse contexto, a estratégia de ação sugerida pelo analista criminal envolveu muito mais a atuação da
prefeitura para promover uma melhora na situação da infra-estrutura urbana no local dos postos de
saúde do que a simples distribuição de policiais. Esse é um exemplo típico de uma situação onde
verdadeiramente se buscou a causa do problema e se desenvolveu
ações para resolvê-lo. Fica claro dessa forma, como o uso da estratégia tradicional de policiamento não
resolveria o problema e levaria ao esperdício de grande quantidade de recursos financeiros, humanos e
técnicos.

Exemplo 9 – Recuperação da sensação de segurança no espaço urbano

Outro exemplo interessante de trabalho de análise criminal que avançou para além das ações específicas
dos órgãos de segurança pública aconteceu em São Leopoldo/RS, em relação à revitalização de uma
praça. Tanto as análises de concentração espacial de crimes no município de São Leopoldo apontavam a
praça como um lugar com alta incidência criminal, quanto a própria população reclamava para a polícia
dessa situação.

O trabalho de análise criminal iniciou pela identificação do perfil de vitimização na praça, dos dias e
horas que concentravam maior volume de ocorrências. Dado o mínimo efetivo disponível para atuar na
segurança do município, destacar policial para permanecer grande parte do tempo cuidando da praça foi
um problema. A adoção dessa estratégia implicava, também, na construção de uma situação de equilíbrio
instável, pois permaneceu o temor da população de que com a saída dos policiais a situação pioraria
novamente. Sem atuar nas reais causas do problema, a situação continuaria sendo a mesma.

O trabalho de análise criminal passou a avaliar quais seriam as possíveis explicações para a degradação
da região da praça. Após a realização de visitas técnicas na praça e conversas com a população
residente nas suas proximidades, o analista criminal identificou que as condições da praça em termos de
jardins, calçadas, iluminação e bancos estavam precárias e, por conta dessa precariedade, a população
ressaltava que permanecer na praça era inseguro.

A ação que se seguiu foi revitalizar a área da praça, com conserto das calçadas e dos bancos, poda das
plantas, aperfeiçoamento do processo de iluminação, dentre outras atividades. O monitoramento dos
resultados dessa ação nos meses seguintes evidenciou o sucesso da iniciativa, porém, mesmo com a praça
revitalizada, com o passar do tempo a situação da insegurança voltou a piorar. Novamente, a partir de
visitas técnicas na praça e conversas com a população, o analista criminal identificou que a comunidade
continuava não utilizando a praça e os adolescentes e jovens da região continuavam degradando a praça,
pois não concebiam o espaço como uma área de propriedade deles.
O passo seguinte para a solução do problema foi criar uma série de atividades para promover o uso da
praça pela população. A praça passou a ser utilizada na realização de exposições artísticas, a sediar a
realização de oficinas de jardinagem e outras atividades. Com isso, a população começou a freqüentar a
praça e o problema da presença da degradação foi resolvido. A população resgatou a propriedade sobre a
área urbana e passou a constituir um sistema de segurança informal sobre a praça que mostrou ser muito
mais eficiente do que a presença da polícia.

Exemplo 10 – Programa Fica Vivo

Um bom exemplo de estratégia de policiamento orientado a problemas realizado no Brasil é o programa


Fica Vivo executado pela Secretaria de Estado de Defesa Social de Minas Gerais. O programa envolveu
uma intervenção focal em uma área de Belo Horizonte (MG) denominada Morro das Pedras e vem
apresentando resultados significativos. Ele é executado numa parceria entre a Universidade Federal de
Minas Gerais, a Prefeitura de Belo Horizonte, o Ministério Público, as Polícias Militar e Civil de Minas
Gerais, a Polícia Federal, Organizações não-governamentais e a comunidade, dentre outros grupos,
viabilizando alternativas de ação ampla, ultrapassando as ações tradicionais de polícia.

O principal objetivo do programa é a redução do número de homicídios. Para atingir esse objetivo são
realizadas ações para melhorar as relações familiares e comunitárias e ações imediatas no controle da
criminalidade. Essas ações são estruturadas nos Grupos de Intervenções Estratégicas (GIE) e de Proteção
Social (GPS). O primeiro grupo tem como responsabilidade a repressão ao crime, através da ação rápida
na prisão e condenação dos criminosos, e apreensão constante e eficiente de armas e drogas. O segundo
grupo, por meio da criação do Núcleo de Referência (NR) para atendimento aos jovens da comunidade,
tem como responsabilidade a organização de atividades de lazer e ensino para os adolescentes, tais
como: atividades de dança, esporte, cultura e cursos profissionalizantes, visando à inserção no mercado
de trabalho.

Todo trabalho é estruturado com um monitoramento contínuo do resultado das ações, identificando os
problemas a serem abordados. Os resultados do Fica Vivo foram evidenciados pelas pesquisadoras
Andrade e Peixoto (2006), em uma avaliação da relação entre custo e benefício de oito diferentes
estratégias de prevenção e controle da criminalidade adotadas no Rio de Janeiro, Minas Gerais e São
Paulo. A tabela 17 denota que o custo de prevenção de um crime por meio de um tipo específico de
estratégia tradicional de policiamento, como patrulha
de prevenção ativa, é de R$ 6.916,42. Já o custo de prevenção de um crime por meio do Programa
Fica Vivo é de R$ 645,69.

Tabela 17 – Comparação das razões custo-efetividade de ações de prevenção e controle


da criminalidade (Brasil – 2005)

Reais por crime


Programas
sério prevenido
APAC R$ 21.109,75
Patrulha de prevenção ativa R$ 6.916,42
Liberdade assistida R$ 1.459,94
UERÊ R$ 18.290,73
Paz nas escolas R$ 1.174,45
Fica Vivo R$ 645,69
Bolsa Família R$ 11.256,15
PROERD R$ 1.682,33

Fonte: Andrade e Peixoto (2006).

Anexo 5 - O método IARA

O MÉTODO SARA OU IARA

Esse método foi desenvolvido por policiais e pesquisadores no projeto Newport


News, como parte do Policiamento Orientado para o Problema (POP), na década de
1970, nos EUA. Ele é um modelo de solução de problemas que pode ser utilizado
para lidar com o problema do crime e da desordem. Como resultado desse projeto
surgiu o método SARA que na língua portuguesa é chamado de IARA.

1ª FASE - IDENTIFICAÇÃO SCANNING

2ª FASE - ANÁLISE ANALYSIS

3ª FASE - RESPOSTA RESPONSE

4ª FASE - AVALIAÇÃO ASSESSMENT

É importante ressaltar que existem diversas variações dessa metodologia,


detalhando ainda mais cada uma das fases. O método IARA é de simples
compreensão para os líderes comunitários e para os policiais que atuam na
atividade fim, e não compromete a eficiência e eficácia do serviço apresentada pelo
POP, assim como não contradiz outros métodos, por isso, neste texto ela foi
adotada como referência.

Anexo 6 - Seções do relatório

1 - Página de Título
A página de título deve ser mais do que a capa do relatório. Nela devem conter a informação necessária
para identificar o trabalho e os seus autores, as datas de início e fim do trabalho e de entrega do relatório.

2 - Sumário
É de vital importância para o leitor que não tem tempo a perder e quer se inteirar rapidamente do trabalho.
Deve ser conciso e abranger o que se pretende: objetivo do trabalho, resultados e conclusões...
Em poucas linhas.

3 - Índice
Contém títulos de seções e subseções, discriminadamente, permitindo o fácil acesso a elas.

4 – Introdução
A primeira coisa que o leitor de um relatório quer saber é o objetivo do trabalho
efetuado. Em seguida, as questões pertinentes e o trabalho prévio que se relacionam com o trabalho
atual. A introdução deve ainda fornecer um breve "background" histórico relacionado com o trabalho de
análise. Caso tenha ocorrido o uso de alguma bibliografia, deve conter um resumo das bases teóricas que
suportam o problema proposto, sendo obrigatória a referência no texto, das fontes de informação
utilizadas. No entanto, é importante destacar que não deve expressar opiniões, conclusões e
recomendações do autor, nem adiantar os resultados obtidos.
Em resumo, a introdução servirá para fornecer ao leitor não familiarizado com o assunto,
um conhecimento mais completo do trabalho efetuado, assim como a teoria em que está
baseado.

5 - Metodologia de análise
Essa seção tem importância fundamental num relatório. Se o leitor duvidar dos resultados obtidos deve
poder repetir o trabalho, com rigor, baseado unicamente no procedimento metodológico descrito. Quando
o trabalho é efetuado a partir de publicações ou procedimentos
"standard", é suficiente a referência do processo utilizado. No caso de se modificarem esses métodos, as
alterações devem ser apontadas.

6 - Observações experimentais e resultados

Essa seção não deve ser uma desordem de tabelas e gráficos. Deve ser um texto descritivo dos
dados que se registraram e dos resultados que se obtiveram. Nesse texto devem entrar as
tabelas e os gráficos que embasaram a análise.

Também devem ser anotados todos os dados, como as informações sobre a localização da análise no
tempo e no espaço. Todos os gráficos devem ser legendados, com os eixos bem referenciados e as
unidades devidamente assinaladas.

7 - Discussão dos resultados e conclusões

A discussão deve ser crítica, detalhada e baseada nas seções precedentes. Ela deve
indicar o significado e a precisão dos resultados. Todas as hipóteses, limitações,
possibilidades de erro, possibilidades de falsas interpretações, etc., devem ser
destacadas. Serão apresentadas as bases para as conclusões do trabalho. Na discussão dos resultados
deve figurar uma análise cuidadosa de possíveis fontes de erro, que permita avaliar a precisão dos
métodos utilizados para obter os resultados.

Na medida do possível, quando se discutem os resultados obtidos, não basta especular qualitativamente
sobre os motivos dos desvios entre os resultados obtidos e os valores esperados, deve-se buscar uma
análise quantitativa e objetiva. O leitor deve ser conduzido sistematicamente, através dos
fatos, teorias e argumentos, para as conclusões finais. As conclusões continuam a
discussão e devem ser sempre justificadas e complementadas com os dados
experimentais e resultados obtidos.

8 – Bibliografia
Caso tenha ocorrido o uso de alguma bibliografia, é necessário fazer as devidas
referências. A maior parte da informação utilizada é obtida de várias fontes bibliográficas, tais como:
livros, artigos ou comunicações particulares. Para dar crédito a essas fontes e registrá- las para posterior
referência é necessário uma lista conveniente (bibliografia) que possibilite um acesso fácil.
9 – Apêndices
Nos apêndices deve figurar toda a informação necessária para a elaboração do relatório,
mas que, devido à sua menor importância, não deve sobrecarregar o corpo do mesmo.
Devem ser apresentadas as fontes de dados utilizadas exceto no caso de serem dados de conhecimento
geral. Assim, se os dados pertencerem a uma parte do relatório, deve referir-se à tabela onde eles
figuram; se pertencerem a um texto ou livro é necessário citar o autor, título e página.

É preciso ter especial cuidado em distinguir entre clareza e excessivo detalhe, o balanço
entre um cálculo claro e o pormenor desnecessário é atingido, normalmente, após alguma prática.

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