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Resumo
Este artigo é uma adaptação de um trecho da minha tese de doutorado intitulada Do isolamento regional à
globalização: contradições sobre o desenvolvimento do Extremo Sul da Bahia, onde procurei fazer uma
leitura da atual dinâmica espacial e econômica de uma das regiões que mais se transformam na Bahia e no
Brasil. Nesse texto o enfoque principal foi mostrar com um conjunto de fatores composto pela
governança, economia, cultura e meio ambiente é capaz de tirar uma região, que até pouco tempo foi uma
espécie de colônia da região cacaueira do Estado, de um estágio de inércia econômica para ter um
destaque mundial. Dentre os setores econômicos destacam o plantio de eucalipto com a transformação da
celulose em papel e o turismo. O Extremo Sul da Bahia é uma região não somente importante para a
Bahia, mas acima de tudo para o Brasil, pois, funciona como uma ponte que liga as grandes regiões do
Nordeste e Sudeste. Portanto, compreender as novas configurações espaciais e o seu desenvolvimento se
torna fundamental para os futuros planos de desenvolvimento regional.
Palavras chaves: Desenvolvimento. Extremo Sul da Bahia. Eucalipto. Turismo.
Abstract
This article was adapted from an excerpt of my doctoral thesis entitled The regional isolation to
globalization: contradictions about the development of the extreme south of Bahia, where I tried to do a
reading of the current economic and spatial dynamics of one of the areas which most turn in Bahia and
Brazil. In this text the main focus was to show with a set of factors composed by governance, economy,
culture and environment is able to draw a region, which until recently was a species of colony of cocoa
growing region of the State, an economic inertia stage to have a global focus. Among the economic
sectors include the planting of eucalyptus with the transformation of cellulose in paper and tourism. The
extreme south of Bahia is a region not only important to Bahia, but above all to the Brazil therefore acts
as a bridge that connects the major regions of the Northeast and Southeast. Therefore, understanding the
new space configurations and their development becomes critical to future regional development plans.
Keywords: Development. Extreme South of Bahia. Eucalyptus. Tourism.
Conclusão
O que se pode afirmar sobre a trajetória geográfica do Extremo Sul da Bahia, apresentada
neste artigo, é que atualmente a região saiu de uma posição de periferia e se aflorou como parte de todo o
processo que se pode enxergar na dinâmica das desigualdades (aqui, sem o sentido de expor o contraste
entre ricos e pobres) que ocorre planejada ou aleatoriamente pelo território baiano, nacional e dentro da
própria região, no que tange a cada reordenamento espacial que surge em decorrência de vários fatores,
mas, primordialmente pelos agentes econômicos que, mesmo com a atual crise, ainda têm o poder de
desorganizar, reorganizar e organizar os espaços.
Conclui-se também que o Extremo Sul da Bahia não saiu de um isolamento regional e foi para
a globalização, pois se por um lado a região foi preterida dos planos de desenvolvimento da Bahia, por
outro lado, esta região sempre teve a injeção de investimentos advindos da região Sudeste, através de
Minas Gerais e Espírito Santo, por parte da iniciativa privada com as atividades de extração vegetal e
pecuária. O cenário que se vê na região é de grande efervescência econômica com a implantação e
continuidade de grandes projetos no turismo, na cultura do eucalipto e cana-de-açúcar. Prever-se com
isso, o inchaço das cidades polos, maior urbanização das cidades menores e consequentemente maior uso
dos elementos naturais que poderá produzir grandes impactos no meio ecológico, bem como a previsão de
muitos conflitos entre os movimentos sociais do campo com as usinas de álcool e com as fábricas de
celulose. Contudo, os conflitos sempre existiram no Extremo Sul da Bahia, desde os tempos das
derrubadas da mata nativa, portanto são parte da história da região no que concerne ao seu
desenvolvimento econômico e enquanto uma área de produção dos lugares.
Quanto a dinâmica de municípios e distritos, há uma tendência que de que alguns distritos, que
possuem dinâmicas e estrutura de cidades, se emancipem de municípios que não conseguem administrar
seu território. Esta percepção se deve a coleta de depoimentos em distritos como os de Posto da Mata
(Nova Viçosa), Itabatan (Mucuri), Arraial D’ajuda e Trancoso (Porto Seguro) onde uma parte da
sociedade se sente, de certa forma, com uma autonomia por viver num local que ultrapassa a simples
estrutura de um povoado ou distrito; e por compreender que o poder central do município não chega até
essas comunidades. Uma consciência local, mas que é o reflexo do que acontece com a administração
precária do território nos âmbitos federal e estadual.
No que se refere a dinâmica da região em sua totalidade, ainda que não haja um projeto
especifico para que a região venha a ser uma nova unidade federal, não se pode descartar a possibilidade
de que se as propostas de redivisão do mapa brasileiro forem aprovadas o Extremo Sul possa ser atingido.
Assim, longe de ter alcançado a globalização, como sentido do ápice do desenvolvimento, esta região
brasileira pode estar na rota da crise do federalismo, que provoca novas configurações político-
administrativas.
Entretanto, independentemente de pertencer ao estado da Bahia ou ser integrado a um outro
estado, ou ainda ser um novo estado, o Extremo Sul será sempre um território que tem a função de
estabelecer uma ligação entre as regiões Sudeste e Nordeste no sentido longitudinal, através do traçado da
BR 101; e também funciona como uma faixa de transição entre o litoral e Minas Gerais, um estado
importante economicamente, mas carente em alguns pontos para tanto para o escoamento da sua
produção, como o da sua população. Por tudo isso, o Extremo Sul da Bahia representa um território
preponderante para a integração do Brasil.
A percepção que se deve ter sobre o Extremo Sul da Bahia, assim como qualquer outra região,
é que antes de pertencer a uma Unidade Federal ela está no território nacional. Assim, da mesma forma
que deve-se produzir propostas de integração estadual (papel do Governo da Bahia), deve-se criar
também mecanismos de acompanhamento sobre as transições espaciais que acontecem no país. Assim, o
desmatamento na Amazônia ou a supressão do bioma do Cerrado, por algumas culturas, antes de ser visto
somente a espoliação da natureza é também uma reorganização espacial, uma transição do uso do espaço.
Investir ou implantar mecanismos de coerção pode ser apenas parte do processo de organização espacial
da contrapartida do poder público, mas não é o suficiente para estabelecer uma política de integração, seja
a escala que estiver sendo adotada.
Este artigo oferece uma pequena reflexão sobre a dinâmica do Extremo Sul da Bahia até este
inicio de século. Uma dinâmica que oferece uma gama de possibilidades de interpretações das
transformações espaciais por diferentes variáveis em diferentes períodos da história. E, tendo em vista
que o objeto de estudo da geografia não é estático, é provável que vários resultados apresentados nesta
pesquisa sejam irrelevantes perante a atual velocidade dos meios que organizam e reorganizam o espaço.
No entanto, a contribuição maior está na produção de uma geografia que não fique somente no campo
teórico, mas que também possa ser aplicada efetivamente na construção dos diferentes espaços.
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