ISSN 2526-2300
ECLESIOLOGIA EM BONHOEFFER
Uma analise reflexiva, histórica e teológica sobre as perspectivas
eclesiológicas de Dietrich Bonhoeffer em Sanctorium Commnuio e
no Discipulado
ECLCESIOLOGY IN BONHOEFFER
A reflective, historical and theological analysis on the ecclesiological perspectives of
Dietrich Bonhoeffer in Sanctorium Commnium and in Discipleship
RESUMO
A Igreja brasileira tem enfrentado atualmente uma verdadeira crise existencial,
visivelmente fragmentada, teologicamente rasa, desnutrida espiritualmente, por
banalizar a fé, tem silenciado sua voz profética, e seu posicionamento diante dos
reais dilemas da nossa sociedade tem sido irrelevante. O presente artigo propõe
uma análise reflexiva sobre a Eclesiologia, sobretudo, a luz das perspectivas
eclesiológicas de Dietrich Bonhoeffer, que tanto por meio sua respeitada produção
acadêmica, quanto pela profundidade de sua impressionante biografia, tem muito
a dizer quanto ao verdadeiro proposito da Igreja, diante de Deus, da comunidade
local, e da sociedade como um todo.
PALAVRAS-CHAVES
Cristianismo. Bonhoeffer. Eclesiologia. Cristologia
ABSTRACT
The Brazilian Church has faced a veritable existential crisis, visibly fragmented,
theologically shallow, spiritually undernourished, by banalizing faith, has silenced
its prophetic voice, and its positioning in the face of the real dilemmas of our
society has been irrelevant. The present article proposes a reflexive analysis on
Ecclesiology, especially in the light of the ecclesiological perspectives of Dietrich
Bonhoeffer, who through both his respected academic production and the depth of
his impressive biography has much to say about the true purpose of the Church,
before God, the local community, and society as a whole.
KEYWORDS
Christianity. Bonhoeffer. Ecclesiology. Christology.
INTRODUÇÃO
Poucos pensadores produziram teologia com tão ampla interação entre a
vida prática e a reflexão como Dietrich Bonhoeffer, teólogo alemão, pastor
luterano que foi executado pelo regime Nazista no fim da 2ª guerra mundial. Suas
reflexões sobre a Igreja de Cristo ocuparam de forma intensa e fascinante, a maior
*
Graduado em Teologia pela Escola de Ensino Superior Fabra
1 O QUE É ECLESIOLOGIA?
Inicialmente, é importante mencionar que a Igreja Cristã contemporânea,
assim como em outros períodos de transição na história, vem enfrentando grandes
desafios enquanto um organismo vivo e institucional. Portadora de uma
mensagem atemporal, edificada sobre uma afirmação tão solida, que foi capaz de
A expressão Igreja vem da palavra grega ―ekklēsia‖ que por vezes tem sido
traduzido como aqueles que foram ―chamados para fora‖ como indica R.C.Sproul;
Mas esse processo pelo qual Cristo edifica a igreja é apenas uma
continuação do modelo estabelecido por Deus no Antigo Testamento,
por meio do qual ele chamou a povo para si mesmo para ser uma
assembleia em adoração diante dele. Quando Moisés diz ao povo que
o Senhor havia-lhe dito: ―Reúne este povo, e os farei ouvir as minhas
palavras, a fim de que aprenda a temer-me todos os dias que na terra
viver...‖ (Dt 4.10), a septuaginta traduz a palavra ―reúne‖ (heb. qãhal)
pelo termo grego ekklêsiazõ, ―convocar uma assembléia‖, verbo
cognato do substantivo do Novo Testamento ekklêsia, ―igreja‖.
Portanto, não é surpreendente que os autores do Novo Testamento
possam falar do povo de Israel do Antigo Testamento como uma
―igreja‖ (ekklêsia) no deserto‖ (At 7.38 - tradução do autor)
(GRUDEM, 2012, p.715).
Contudo, a eclesiologia não foi um dos temas mais explorados pelos
primeiros cristãos, como Alister McGrath nos aponta em sua obra, Teologia
sistemática, histórica e filosófica;
de que a Igreja era o corpo misto de Cristo, bem como a ideia de continuidade e
autoridade apostólica concedida aos bispos, outorgaram a Igreja, a noção de
Catolicidade, única depositaria da Graça divina e a total identificação da Igreja
Romana como única representante do Reino de Deus, como destaca o teólogo
Louis Berkhof;
A Igreja vê-se ainda unida, por muitos títulos, com os baptizados que
têm o nome de cristãos, embora não professem integralmente a fé ou
não guardem a unidade de comunhão com o sucessor de Pedro (28).
Muitos há, com efeito, que têm e prezam a Sagrada Escritura como
norma de fé e de vida, manifestam sincero zelo religioso, crêem de
coração em Deus Pai onipotente e em Cristo, Filho de Deus Salvador
(29), são marcados pelo Baptismo que os une a Cristo e reconhecem e
recebem mesmo outros sacramentos nas suas próprias igrejas ou
comunidades eclesiásticas. (LUMMEN GENTIUM cap.II, 15)
Apesar de todas as tentativas de unidade da Igreja Cristã, dos movimentos
ecumênicos que até mesmo o próprio Bonhoeffer prefigurou, sonhando com a
união dos Cristãos de todas as raças e povos, através da pessoa de Cristo, (como
veremos no próximo tópico), a Eclesiologia enfrenta questões peculiares de nosso
tempo, e como salientamos no inicio desse tópico, uma das maiores narrativas
concorrentes da Eclesiologia tem sido a questão do pluralismo. De acordo com
Sproul (2014, p.09) ―Pluralismo é uma filosofia que permite uma ampla
diversidade de pontos de vista e doutrinas coexistirem dentro de um único corpo‖.
Consequentemente, surgem tantas discordâncias doutrinárias dentro das igrejas, e
paralelamente, uma tentativa de manter a paz e a unidade ao mesmo tempo em
que acomodam as diferentes cosmovisões. Essa tentativa de acomodar os pontos
de vista conflitantes tem gerado igrejas doutrinariamente fracas, e a perca da força
de sua mensagem como nos indica R.C.Sproul,
época com 18 anos, uma viagem de férias a Roma marcaria de forma significativa
a sua visão sobre a Igreja, o jovem Dietrich ficou fascinado com a beleza, a arte e
a cultura da cidade, sobretudo com a religiosidade que lhe encantou devido à
diversidade, o que provavelmente desencadeou seus anseios ecumênicos sobre a
Igreja de Cristo;
Dietrich tomou sua decisão: escreveria, afinal, sua tese de doutorado aos 21
anos de idade, sob a orientação de Seeberg, mas optara por um tema dogmático. O
tema, aliás, seria fruto daquele quebra-cabeça intrigante iniciado em Roma, ou
seja, O que é a igreja? Intitulou o texto de Sanctorum Communio: Uma
investigação Dogmática dentro da Sociologia da Igreja. Bonhoeffer definiria a
igreja não como uma entidade histórica ou uma instituição, mas ―Cristo existindo
como comunidade eclesial‖. Um debute deslumbrante. (2011, p.76), sua tese
obteve a avaliação summa cum laude (com máximo louvor) reconhecimento por
obter a máxima qualificação possível em uma titulação universitária, e o próprio
Karl Barth a celebrou com um ―milagre teológico‖.
Como ainda não tinha idade para ser ordenado, ele aceitou ser pastor
assistente em uma comunidade em Barcelona, Espanha coincidindo com a época
da ―grande depressão‖ ele pode experimentar atender uma comunidade em
extrema pobreza e necessidade. Em um célebre sermão, ele lembrou ao seu povo
que ―Deus caminha entre nós em forma humana, falando a nós naqueles que
cruzam nosso caminho, sejam eles estranhos, mendigos, doentes, ou mesmo
naqueles mais perto de nós em nosso dia a dia, tornando-se a ordem de Cristo em
nossa fé nele‖. (2011, p.96)
seja, para ―dentro‖ de Cristo, que por sua vez atua sobre a comunidade, sobre o
corpo como um todo;
3.2 Discipulado
A partir da primavera de 1935, Bonhoeffer é enviado como regente do
Seminário de Pregação de Finkenwalde. Ali, pode desenvolver seu conceito de
Igreja, não apenas de forma teórica, como já havia feito na fase mais acadêmica
de sua vida, mas, sobretudo na pratica, visto que a esse tempo, já havia se
envolvido na luta contra o Nacional socialismo. O resultado desse período foi uma
de suas obras mais populares e emblemáticas, o livro Nachfolge, (traduzido no
Brasil como Discipulado). A principio o Discipulado surge como um curso
ministrado em 1936 na universidade de Berlim (ultimo antes de ter sua licença de
professor caçada), e posteriormente publicado em 1937.
O batismo não é oferta do ser humano, mas oferta de Jesus Cristo. Ele
se fundamenta totalmente na vontade de Jesus Cristo conforme
expressa em seu chamado. Batismo quer dizer ser batizado; é ter de
sofrer o chamado de Cristo. No batismo, o ser humano torna-se
propriedade de Cristo. [...] Daquele momento em diante, passa a
pertencer a Cristo. É arrancado do poder do mundo e torna-se
propriedade de Cristo. O batismo, portanto, significa rompimento.
Cristo intervém no domínio de Satanás, põe a mão sobre os seus e cria
sua Igreja. Passado e presente são separados. As coisas antigas
passaram, e tudo se tornou novo (BONHOEFFER, 2016, p. 184,185).
O seguimento iniciado pelo batismo exerce influencia total sobre o novo
cristão, que passa a se relacionar apenas com Cristo, e através desse
relacionamento, todas as afeições são redirecionadas e redefinidas. Bonhoeffer
entende que só Cristo é o mediador entre Deus e os homens, (1 Timóteo 2:3-6),
mas amplia esse conceito ao enfatizar que Cristo agora é Mediador entre o
discípulo e o mundo, todas as formas de relacionamentos da pessoa que foi
batizada para ―dentro de Cristo‖ são profundamente transformados, de sorte que o
Cristão só conhece a Cristo agora, e através de Cristo, passa a conhecer todas as
coisas;
que houve também em Jesus Cristo‖ (Fp 2.5), imitar os exemplos que
ele nos deixou, dar a vida pelos irmãos como ele deu a vida por nós
(1Jo 3.16). (2016, p.254).
Para Bonhoeffer, só podemos ser como Cristo, porque Cristo foi como nós,
porque fomos conformados à sua imagem. Agora que nos tornamos imagem de
Cristo, podemos viver de acordo com seu exemplo;
―E, por causa disso, sofro e estou preso como um criminoso. Mas a
palavra de Deus não está presa. Portanto, estou disposto a suportar
qualquer coisa se isso trouxer salvação e glória eterna em Cristo Jesus
para os que foram escolhidos. Esta é uma afirmação digna de
confiança: "Se morrermos com ele, também com ele viveremos. Se
perseverarmos, com ele reinaremos. Se o negarmos, ele nos negará. Se
formos infiéis, Ele permanecerá fiel, pois não pode negar a si mesmo"
(2 Tm2.9-13).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desenvolvimento do presente artigo possibilitou uma análise importante
sobre a Igreja de Cristo, as abordagens históricas, bem como os caminhos
percorridos através dos tempos, sob um víeis eclesiológico, nos permitiram
observar, que mesmo entre erros e acertos, a Igreja Cristã tem atravessado os
séculos e porque não dizer, influenciado e moldado positivamente a cultura das
nações ocidentais, bem como seus valores éticos e morais, sobretudo, por meio da
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 2ª Edição. São Paulo: Cultura Cristã.
2001