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1. Diferencie fraude contra credores de fraude à execução.

O primeiro ponto esclarecedor que envolve a questão diz respeito à existência de duas
espécies de fraudes do devedor que são: a fraude contra credores e a fraude à execução.
Para o maior entendimento, vale alguns pequenos comentários sobre cada uma e por
fim, suas diferenciações. A fraude contra credores encontra sua previsão dentro dos
artigos 158 ao 165 do Código Civil, existindo quando houver um ato que seja capaz de
diminuir ou onerar o patrimônio do devedor, desfalcando ou ainda eliminando uma
garantia que sirva pra o pagamento das dívidas, praticado por um devedor insolvente, ou
que por ele, se reduza a situação de insolvência (GONÇALVES, 2020). Os elementos
que caracterizam a fraude contra credores apresentam dois elementos, um objetivo
(eventos damni), que diz respeito ao prejuízo ao credor, que decorre da insolvência do
devedor, e ainda um subjetivo (consilium fraudis), que é a intenção do devedor de
provocar sua redução patrimonial até o estado de insolvência. Importante ainda destacar
que em 2018, a Quarta Turma do STJ ao analisar o REsp 1294462, entendeu que para a
caracterização da fraude contra credores não é imprescindível a existência de consilium
fraudis, bastando, além requisitos previstos em lei, a comprovação do conhecimento,
pelo terceiro adquirente, da situação de insolvência do devedor (scientia fraudis).

Já com relação a fraude à execução, trata-se de espécie de ato fraudulento que atenta
contra o Poder Judiciário, causando um prejuízo ao credor. Importante destacar ainda
que existirá tal fraude somente se a alienação tiver sido realizada pelo devedor, não se
constituindo tal fraude na alienação judicial do bem, não existindo na alienação de bem
impenhorável. Sem dúvidas uma das principais características da fraude à execução é a
dispensa da comprovação do consilium fraudis, sendo presumida a intenção fraudulenta.
Cabe destacar ainda o art. 792 do CPC que prevê as situações de fraude à execução de
maneira não taxativa:

Art. 792. A alienação ou a oneração de bem é considerada fraude à execução:

I - quando sobre o bem pender ação fundada em direito real ou com pretensão
reipersecutória, desde que a pendência do processo tenha sido averbada no
respectivo registro público, se houver;

II - quando tiver sido averbada, no registro do bem, a pendência do processo


de execução, na forma do art. 828 ;
III - quando tiver sido averbado, no registro do bem, hipoteca judiciária ou
outro ato de constrição judicial originário do processo onde foi arguida a
fraude;

IV - quando, ao tempo da alienação ou da oneração, tramitava contra o


devedor ação capaz de reduzi-lo à insolvência;

V - nos demais casos expressos em lei.

Depois de tecer os comentários sobre cada um dos tipos de fraude, cabe agora, destacar
o centro da questão que reside justamente nas diferenças entre ambas. A primeira é a de
que a fraude contra credores é de Direito Material, sendo uma das modalidades de
defeito dos negócios jurídicos, enquanto a fraude à execução está no direito processual,
sendo ato atentatório à dignidade da Justiça. Outra diferenciação é que no primeiro caso,
o defeito no negócio jurídico prejudica o credor, já no segundo além disso, existe o ato
atentatório. Na fraude contra credores a dívida existe, mas não existe uma ação
proposta, enquanto na fraude à execução, o devedor já foi citado e existe uma ação em
andamento. Enquanto na fraude contra credores a ação cabível é a Pauliana, na fraude à
execução a ineficácia é reconhecida dentro dos próprios autos.

2. Diferencie título executivo judicial de título executivo extrajudicial,


exemplificando-os nos termos do Código de Processo Civil

Existe uma distinção clara no CPC com relação aos títulos produzidos em juízo e
aqueles que não são. Tratarei individualmente de cada título para fins de maior
esclarecimento geral e elucidação dos principais pontos, retomando ao final com as
principais diferenciações entre ambos. Os títulos executivos judiciais são caracterizados
pela sua produção em juízo, com o rol presente no art. 515 do CPC não sendo taxativo,
por mais que todos os títulos executivo sejam criado por Lei.

Partindo para uma análise exemplificativa sobre os títulos executivos judiciais, podemos
destacar as decisões proferidas no processo civil que reconheçam a exigibilidade de
obrigação de pagar quantia, de fazer, de não fazer ou de entregar coisa, sendo por
excelência títulos executivos judiciais, a decisão interlocutória de mérito, a sentença e o
acórdão a exigibilidade de uma obrigação. Também possui eficácia executiva à decisão
homologatória de autocomposição judicial, mesmo que verse sobre matéria não posta
em juízo. Cabe destacar ainda que a decisão homologatória só terá eficácia executiva
quando houver alguma obrigação a ser cumprida pelos transatores. Existe ainda a
Decisão homologatória de autocomposição extrajudicial de qualquer natureza, que
garante ao interessado levar o acordo ao juízo, pedindo sua homologação para obter um
título judicial. O art. 515, IV, ainda faz referência à partilha de bens, transmitidos mortis
causa, o crédito de auxiliar da Justiça aprovado por decisão judicial, a sentença penal
condenatória transitada em julgado, que ao contrário da cível só constitui título
executivo quando transitada em julgado, a sentença arbitral, a sentença estrangeira
homologada pelo STJ, Decisão interlocutória estrangeira, após a concessão do
exequatur à carta rogatória pelo Superior Tribunal de Justiça e ainda decisão que
concede tutela provisória antecipada, reconhecendo obrigação, e a decisão inicial na
ação monitória.

Tratando agora sobre os Títulos executivos extrajudiciais, é possível os definir como


aqueles que, através de sua constituição, e garantias que os revestem, possuem segundo
o legislador, um grau de certeza tal que justifica se prescinda de um prévio processo de
conhecimento (GONÇALVES,2020) O legislador após entender que eles possuem um menor
grau de certeza, autorizou a apresentação de embargos. Como exemplo, se tem o que
está em leis especiais, mas principalmente o art. 784 do CPC que diz:

Art. 784. São títulos executivos extrajudiciais:


I - a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque;
II - a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor;
III - o documento particular assinado pelo devedor e por 2 (duas)
testemunhas;
IV - o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela
Defensoria Pública, pela Advocacia Pública, pelos advogados dos transatores
ou por conciliador ou mediador credenciado por tribunal;
V - o contrato garantido por hipoteca, penhor, anticrese ou outro direito real
de garantia e aquele garantido por caução;
VI - o contrato de seguro de vida em caso de morte;
VII - o crédito decorrente de foro e laudêmio;
VIII - o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de
imóvel, bem como de encargos acessórios, tais como taxas e despesas de
condomínio;
IX - a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, correspondente aos créditos inscritos na
forma da lei;
X - o crédito referente às contribuições ordinárias ou extraordinárias de
condomínio edilício, previstas na respectiva convenção ou aprovadas em
assembleia geral, desde que documentalmente comprovadas;
XI - a certidão expedida por serventia notarial ou de registro relativa a
valores de emolumentos e demais despesas devidas pelos atos por ela
praticados, fixados nas tabelas estabelecidas em lei;
XII - todos os demais títulos aos quais, por disposição expressa, a lei atribuir
força executiva.
§ 1º A propositura de qualquer ação relativa a débito constante de título
executivo não inibe o credor de promover-lhe a execução.
§ 2º Os títulos executivos extrajudiciais oriundos de país estrangeiro não
dependem de homologação para serem executados.
§ 3º O título estrangeiro só terá eficácia executiva quando satisfeitos os
requisitos de formação exigidos pela lei do lugar de sua celebração e quando
o Brasil for indicado como o lugar de cumprimento da obrigação.

Após a conceituação dos Títulos, com suas características que já demonstram suas
diferenciações, cabe definir o principal aspecto de suas distinções. Diferenciar um tipo
de outro é importante para verificar o procedimento que será observado. Em caso de
título judicial, existirá uma fase apenas de cumprimento de sentença, não existindo um
processo autônomo de execução. Já com relação ao título extrajudicial, a execução irá
formar um novo processo, com procedimento estabelecido no livro II da Parte Especial.

Caio, menor com doze anos de idade, está sem receber a pensão alimentícia de seu
pai, Carlos, há cinco anos, apesar de decisão judicial transitada em julgado. Jorge,
representado por sua mãe, Fátima, promove ação de execução de alimentos, no
valor de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais), pelos alimentos pretéritos,
devidamente corrigidos. Para pagamento da dívida, fora determinada penhora do
imóvel em que Carlos e Carmem, sua atual companheira, residem. O imóvel,
avaliado em R$ 300.000,00 (trezentos mil reais), é o único do casal e foi adquirido
onerosamente por ambos após a constituição de união estável. Considerando que a
penhora recaiu apenas sobre a parte que cabe a Carlos, responda
fundamentadamente: Há fundamento para penhora do bem descrito?

É importante destacar inicialmente que a execução de alimentos, tema da questão em


pauta, é uma espécie de execução especial, por sua natureza, podendo hodiernamente
causar a prisão do devedor. Adentrando no cerne do questionamento, tudo está centrado
no debate acerca de um bem de família, que conforme o art. 1º da Lei n° 8.009/1990, “
O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é impenhorável e não
responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de
outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus
proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas nesta lei”. De maneira geral,
o bem de família é impenhorável, contudo a Lei em questão traz, em seu art. 3º, a
situação de que:
Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução
civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido:

...

III – pelo credor da pensão alimentícia, resguardados os direitos, sobre o


bem, do seu coproprietário que, com o devedor, integre união estável ou
conjugal, observadas as hipóteses em que ambos responderão pela dívida;

Como é possível ver no inciso em questão, uma das exceções ao que foi dito acima é
justamente o processo movido pelo credor de pensão alimentícia, desde que
resguardados os direitos do seu coproprietário. Consoante a isso, cabe destacar a
posição jurisprudencial do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, confirmando a
possibilidade:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. EMBARGOS À PENHORA.


EXECUÇÃO DE ALIMENTOS. PENHORA DE IMÓVEL. BEM DE
FAMÍLIA. POSSIBILIDADE. 1. Não mais recaindo a penhora sobre o
veículo controvertido, não merece ser conhecida a pretensão recursal neste
ponto. 2. É elementar que não pode ser alegada a impenhorabilidade do
bem de família quando se trata de execução de alimentos diante da clara e
expressa dicção do art. 3º, inc. III, da Lei nº 8009/90. 3. Descabe a alegação
de excesso de penhora, pois ao executado é garantida a restituição dos
valores que excederem o montante do débito. Inteligência do art. 907 do
NCPC. Recurso conhecido em parte e desprovido.

(TJ-RS - AI: 70080570161 RS, Relator: Sérgio Fernando de Vasconcellos


Chaves, Data de Julgamento: 31/07/2019, Sétima Câmara Cível, Data de
Publicação: 02/08/2019)

Diante disso, a resposta é que sim, o bem de família do devedor de alimentos no caso
em questão, pode ser penhorado, baseado na exceção à regra geral de impenhorabilidade
do imóvel destinado a residência, consoante o art. 3º da Lei nº 8009/90.

José figura como executado em ação movida por Henrique. Devidamente citado
para o pagamento da quantia obrigacional, o demandado deixa de proceder com o
pagamento no prazo legal, motivo pelo qual o Oficial de Justiça procedeu à
penhora e à avaliação de bens, lavrou o respectivo auto e intimou o executado de
tais atos, nos exatos termos da lei. A penhora recaiu sobre uma vaga de garagem
que possuía matrícula própria no Registro de Imóveis e que fora indicada pelo
credor na inicial da ação de execução. José opôs embargos do devedor, dentro do
prazo legal, por meio do qual arguiu que o objeto da penhora constituía bem de
família, estando insuscetível ao ato constritivo. Considerando a situação
apresentada, responda, fundamentadamente: o embargante está correto nas suas
razões?

Importante mais uma vez utilizar de conceituadora, para definir o que mais uma vez é o
tema do questionamento. Por Bem de Família, entende-se a propriedade destinada à
residência e moradia da família e que recebe o benefício da impenhorabilidade. O que a
questão procura debater é justamente se existe possibilidade de se penhorar a vaga de
garagem, ou se ficaria atrelada à ideia de bem de família. Quanto a isso, destaco que o
§1º, do art. 2º da Lei nº 4.591/64 garante que o direito à guarda de veículos nas garagens
ou locais a tanto destinados, nas edificações ou conjunto de edificações, será tratado
como objeto de propriedade exclusiva. Por esse ponto inicial, parece que o direito de
uso da garagem é acessório ao direito de propriedade.

Contudo, se a garagem possui matrícula própria e uma fração ideal distinta daquela que
a unidade habitacional possui, a garagem poderá ser penhorada pois não será estendida a
ela, a impenhorabilidade que a Lei nº 8.009/90 traz. A súmula do STJ nº 449 descreve
que “A vaga de garagem que possui matrícula própria no registro de imóveis não
constitui bem de família para efeito de penhora”. Importante julgado do TST ratifica
que:

“Agravo de instrumento. Recurso de Revista. Execução.1.Preliminar de


nulidade por negativa de prestação jurisdicional.2.Penhora de vaga de
garagem. Matrícula própria no Registro de Imóveis. Óbice do art.896, §2º, da
CLT c/c Súmula nº 266 do TST. Decisão denegatória. Manutenção.

Tratando-se de recurso de revista, este estreito veículo só tem


pertinência nas estritas hipóteses jurídicas do art. 896, -a-, -b- e -c-, da CLT
(conhecimento, observado o seu § 6º), respeitados os limites ainda mais
rigorosos do § 2º do citado artigo (execução de sentença). Nesse quadro
lógico de veiculação necessariamente restrita do recurso de revista, não há
como realizar seu destrancamento, pelo agravo de instrumento, se não ficou
demonstrada inequívoca violação direta à CF. É que, na lide em apreço, a
revisão do julgado sob perspectiva diversa depende da interpretação da
legislação infraconstitucional. Óbice da Súmula 266 do TST. De todo modo,
está pacificada a jurisprudência no sentido de que a vaga de garagem que
possua matrícula própria no Cartório de Registro de Imóveis, ainda que
referenciada a apartamento específico, não constitui bem de família, ainda
que o apartamento tenha esse caráter; pode, assim, ser penhorada. Nessa linha
há até mesmo a Súmula 449 do STJ. Assim, não há como assegurar o
processamento do recurso de revista quando o agravo de instrumento
interposto não desconstitui os fundamentos da decisão denegatória, que
subsiste por seus próprios fundamentos. Agravo de instrumento desprovido.
(AIRR - 248500-37.1993.5.02.0048, Relator Ministro: Mauricio Godinho
Delgado, 3ª Turma, DEJT 01/07/2013).
Desse modo, o embargante não possui razão, já que é possível a penhora de vaga de
garagem com registro imobiliário autônomo, não integrando a noção de bem de família.

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