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- Longe de ser tratada como uma noção definidora, produtora ou, no mínimo, viabilizadora da

condição cidadã, a comunicação aparece como um meio, um instrumento, pelo qual a


cidadania pode ser alcançada.

- Não há cidadania sem comunicação.

- Definir a cidadania segundo as categorias do campo de estudos da comunicação.

- Encontrar a noção comunicacional de cidadania.

CAP. 1 - CONCEITOS E ASPECTOS DA CIDADANIA (SIGNATES; MORAES,


2019)

- Na práxis greco-romana, cidadania era a soma de direitos privilegiados. (S;M; P. 16).


- Na modernidade se edifica no princípio, originalmente burguês, de igualdade formal entre
os homens ante um Estado.

Bobbio (1992):

- Aponta que um dos tipos de direito é, justamente, o "direito de reivindicação de direitos", ou


seja, "ultrapassa a abordagem específica do direito à comunicação e atinge o patamar
pragmático do direito como comunicação".

Marshal (1967), adotado e problematizado por Carvalho (2010):

- Definição de cidadão: "cidadão é aquele a quem é concedido um status de membro da


comunidade de direitos".

- A condição de cidadania está ligada às três dimensões dos direitos fundamentais: Direitos
Civis; Direitos Políticos e Direitos Sociais.
Direitos Civis: referem-se ao âmbito individual. São direitos necessários à liberdade
individual – liberdade de ir e vir, liberdade de imprensa, pensamento e fé, o direito à
propriedade e de concluir contratos válidos e o direito à justiça. Instituições relacionadas a
ele: tribunais de justiça.
Direitos Políticos: Direito de participar no exercício do poder político, como um
membro de um organismo investido da autoridade política ou como um eleitor dos membros
de tal organismo. Instituições relacionadas: Parlamento e conselhos do governo local.
Direitos Sociais: Tudo o que vai desde o direito a um mínimo de bem-estar econômico
e segurança ao direito de participar, por completo, na herança social e levar a vida de um ser
civilizado de acordo com os padrões que prevalecem na sociedade. Instituições relacionadas:
Sistema educacional e serviços sociais.
- Para Marshal, não apenas é uma divisão elementar, mas uma sequência lógica. Carvalho
(2010) aponta, entretanto, que tal defesa não compete à realidade de uma série de países, uma
vez que "pode haver também desvios e retrocessos, não previstos por Marshall". Assim, a
cidadania não admite caráter evolucionista. Ambos acreditam que é razoável supor que
caminhos diferentes afetem o produto final, afetem o tipo de cidadão e, portanto, de
democracia, que se gera.

Jessé de Souza (2003), seguindo Bourdieu:

- A cidadania é o limite do "habitus primário" para cima, ou seja, a garantia mínima “das
precondições sociais, econômicas e políticas do sujeito útil, “digno” e cidadão".

- O indivíduo que não goze de tais formas de reconhecimento social, de tais hábitos, seria um
subcidadão.
Subcidadania: para Jessé Souza (2003), é a condição do indivíduo subjugado pela
dinâmica específica da ideologia espontânea do capitalismo, a partir de suas instituições
fundamentais: mercado competitivo e Estado racional centralizado.

Perspectiva marxista:

- Não há cidadania. Se a lei diz que ‘todos os homens são iguais perante a lei’, a realidade diz:
‘os seres humanos são desiguais perante a sociedade’, devido à divisão social do trabalho”.
Não há possibilidade de cidadania senão sob o ato declaratório dos direitos pelo Estado, que
guarda interesses de classe. Se o Estado os nega, não há cidadania, pois o cidadão só o é
perante este.

- A cidadania poderia ser alcançada apenas com a superação do capitalismo. Sem a revolução,
não há possibilidade de cidadania.

RESUMO:

"Se para Marshall (1967) a cidadania é garantida por um status, Carvalho (2010) a coloca
como um processo historicamente localizado. Independentemente disso, Viana (2003)
acrescenta que este mesmo status é fornecido ou negado segundo os interesses de acumulação
do capital, por meio do Estado. Para Souza (2003), tal condição pode ser designada – ainda
que problematicamente – por outro conceito: a subcidadania.

Cortina (2001):

- Busca teorizar uma cidadania cosmopolita

- "A cidadania está profundamente vinculada à necessidade humana de construir uma


identidade dentro de um grupo, possuindo para isso deveres e benefícios em justa medida".
- Para a autora, a cidadania se estabelece no ponto de união entre o sentimento de pertença a
uma comunidade e o de justiça dentro dela.

- Assim, “reconhecimento da sociedade por seus membros e consequente adesão por parte
destes aos projetos comuns são duas faces da mesma moeda que, ao menos como pretensão,
compõem esse conceito de cidadania que constitui a razão de ser da civilidade” (CORTINA,
2001, p. 21).

- Cortina sistematiza as formas de cidadania da sociedade contemporânea: a cidadania


política, a cidadania social, a cidadania econômica, a cidadania civil, a cidadania intercultural
e o ideal da cidadania cosmopolita (universalização da cidadania social).

- "Integrante da política, a cidadania deve se revelar a partir do processo democrático da


sociedade contemporânea, que é todo comunicacional".

O COMUNICACIONAL NA CIDADANIA

Definição de comunicação: Todo e qualquer processo de troca simbólica capaz de gerar


algum tipo de vínculo social.

- A privação do ser humano é sua não existência

- OU AINDA, o “cidadão”, como categoria normativa da vida em sociedade, existe apenas na


esfera pública.

- Os Direitos Humanos, como contextos normativos da cidadania e de seu exercício, apenas se


tornam válidos em ambientes sociais nos quais são legitimados, em que os agentes sociais são
reconhecidos como cidadãos, e nos quais haja espaço democrático para o debate, a criação e a
demanda pública por novos direitos.

- Nos termos da definição adotada, não é possível a cidadania sem o ambiente democratizado
das trocas simbólicas criadoras, afirmadoras e processuais (no sentido sociológico do termo)
dos direitos.

- Sem comunicação, não há cidadania.

- PRINCIPAL HIPÓTESE DO ARTIGO: não existe cidadania, sequer como possibilidade,


fora de um processo comunicacional que a viabilize, estabeleça e desenvolva.

O COMUNICACIONAL NA CIDADANIA NAS TEORIAS ABORDADAS

- Marxista: noção mais "incomunicacional" de cidadania; sendo a cidadania apenas uma


abstração do Estado, em uma teorização universalista que oculta uma desigualdade estrutural
impossível de se resolver nas condições capitalistas, a comunicação nesse cenário é um
instrumento manipulatório do Estado para com a classe popular, atuando como "correia" de
transmissão da ideologia da classe dominante.

- Marshal (1967): funcionalista, a teoria do autor compreende de maneira limitada a


comunicação: como agente da estabilidade do sistema. "a cidadania é aquilo que estabiliza a
comunicação".

- Carvalho (2010): "as condições de manutenção da desigualdade na aplicação dos direitos no


país percorrem espaços de troca simbólica que vão desde os processos educacionais até a
presença dos meios de comunicação como agentes de formação e afirmação (ou negação) da
condição cidadã".

AUTORES: no contexto brasileiro "os aspectos comunicacionais acionam desigualmente no


Brasil as noções relacionadas aos direitos, estabelecendo condições de naturalização da
desigualdade e de formação e afirmação desigual da cidadania". O objetivo passa a ser
perscrutar tanto o âmbito de uma comunicação (massiva ou não) reprodutora das condições de
desigualdade, na medida em que o normaliza, como modos específicos de distribuição da
informação, surpreendíveis na segmentação comunicacional, mediante a qual os processos
comunicacionais se diferenciem, quando tratem as classes populares, em comparação com o
modo como se dirigem às classes altas.

RESUMO:

As sinalizações categoriais articuladas a partir dos autores estudados permitem, assim,


considerar a comunicação tanto como
(1) instrumento de manipulação simbólica para a conformação da abstração do
cidadão sob interesses da burguesia e do capital (Viana, 2003); como
(2) instrumento para a funcionalidade e a manutenção da ordem social (Marshall,
1967; e também Carvalho, 2010, que a constata negativamente no contexto brasileiro); como
(3) formas subalternas de tratamento da informação (Souza, 2003); e, ainda, como
(4) condição processual fundamental para a construção do direito básico do cidadão do
mundo (Cortina, 2001).

- Signates e Moraes dividem essas abordagens em duas perspectivas:

1. Instrumental (Viana, Marshall): a comunicação é meio ou instrumento de trânsito


simbólico em direção a outros objetivos que a extrapolam. Viana: objetivo manipulatório;
Marshall: estabilidade social. "Em nenhum desses casos, a cidadania se realiza
comunicacionalmente ou contém em si características comunicacionais. Comunica-se “para”
alguma coisa". "não apenas se perde uma dimensão muito mais ampla e relevante dos
processos comunicacionais, como se opera um reducionismo dos sistemas de troca simbólica
que configuram os modos de atenção, compreensão, interpretação e resposta social da cultura
humana".
2. Permuta simbólica (Souza, Cortina): formação de vínculos sociais que permitem a
circulação pública de sentidos. Costina: enxerga-se esse viés no estabelecimento da própria
noção cosmopolita de cidadania. Souza: viabilizadora e ratificadora das injustiças sociais que
naturalizam o modo desigual da distribuição da cidadania na sociedade brasileira.

A partir da Declaração Universal dos Direitos Humanos, podemos deduzir algumas noções
que vinculam, de forma direta, a comunicação à cidadania.

a) A comunicação como o processo cultural e simbólico pelo qual os direitos são


identificados, reivindicados, exigidos, viabilizados e mantidos, ao longo da história da
civilização.
b) A comunicação como processo do direito inserido na quarta geração de Direitos
Humanos, que trata mais especialmente de uma matriz de direitos. A reivindicação por novos
direitos – ou, no dizer de Arendt, o “direito de reivindicar novos direitos” – é de caráter
pragmaticamente comunicacional: sem o estabelecimento das formas simbólicas de
reconhecimento, compartilhamento simbólico e publicização, não há uma quarta geração dos
Direitos Humanos.
c) A comunicação entendida como direito humano fundamental, sintetizado nas
noções de liberdade de expressão e de direito à informação. (Declaração Universal dos
Direitos da Pessoa Humana - Art. 19).

CONCLUSÃO:

O sentido amplo de comunicação agrega-se de forma estrutural e ôntica à condição cidadã,


além de expressar-se em vários direitos específicos, e não apenas na liberdade de expressão e
informação.

- "Assim, por exemplo, no âmbito dos diretos civis, o direito de ir e vir coloca-se pela
liberdade da movimentação como sendo condição comunicacional da corporeidade humana.
De forma semelhante, nos direitos políticos, garante-se o voto como ato comunicacional por
excelência, no episódio da tomada pública de decisão direcionada às definições de gestão da
democracia, o que transforma o eleitor num agente comunicacional ativo e deliberativo".
Direitos sociais: Braile, Língua Brasileira de Sinais (Libras) são interfaces comunicacionais
orientadas para o amplo exercício da cidadania.

RESULTADO:

- Tipos de cidadania que podem ser propostos, a partir da centralidade da noção de


comunicação:

 Cidadania como meio: a cidadania pode ser vista como argumento, mecanismo ou
instrumento da comunicação para se conseguir direitos em uma determinada
sociedade.
 Cidadania do direito à informação e do consumo: todo cidadão tem direito ao acesso
às informações sobre suas condicionantes civis, políticas e sociais, seja por meio de
jornais, internet e meios comunitários.
 Cidadania da liberdade de expressão: a participação em termos da opinião pública é
um direito especificamente comunicacional, ainda que de ordem instrumental.
 Cidadania como direito de expressão de direitos: assim como a cidadania não
prescinde da comunicação para acontecer, a cidadania comunicacional é o direito
básico que permite a elaboração comunitária dos termos de sua própria justiça.
 Subcidadania comunicacional: trata-se da condição do subcidadão, ou seja, aquele que
é silenciado no processo comunicacional, ou seja, é inserido como falado,
referenciado, e não como falante.
 Cidadania como incomunicabilidade: a radicalidade da negação da cidadania. Se
existe um subcidadão, também é possível existir o sujeito que não tem fala e não é
falado, mas subjugado às condições de silenciamento, e, portanto, de submissão.

CAP. 2 - INFORMAÇÃO E MUDANÇA: repensando o conceito de comunição e de


processo na comun. social.
Silva, Luiz M. da

- Duplo caráter da comunicação:


a) sua natureza interdisciplinar;
b) seu papel constitutivo de outros processos, pressupondo a comunicação como
condição, a começar pelo processo de construção social da realidade; das interações e da
democracia.

OBJETIVO: Aqui, a tentativa é de demonstrar que há outros pressupostos para que uma
comunicação seja efetiva, entre eles, a condição ética e o propósito da mudança.

A pré-disposição ética e o desejo de mudança, portanto, participando do processo de


comunicação como fatores condicionantes da autenticidade de uma situação ao mesmo tempo
relacional e discursiva, capaz de ultrapassar a ‘comunicação’ como simples transmissão
fática, primária e unidimensional de informações de um polo a outro.

- Teoria Matemática da comunicação: radicalmente informacional; considera-se comunicação


o processo em si: um ator (emissor/codificador) envia um dado/estímulo para um outro ator
(receptor/decodificador), podendo haver ou não um elemento reativo (feedback).

- Posteriormente, veio se questionar, nos estudos comunicacionais (ex.: Paulo Freire), a


natureza extensionista/difusionista dessa acepção dos processos de comunicação. Percebeu-se
a necessidade de se avaliar qualitativamente a natureza e os fins dos processos ditos
comunicacionais.

- Habermas: Os fins da comunicação não se esgotam no processo em si, mas na necessária


discursividade (argumentativa) das ações, condição sine qua non para que sejam,
genuinamente, comunicativas. "sem ética simplesmente não há comunicação".
Comunicação ética: [Emissor 1 + Emissor 2 = sentido construído] - processo
DIALÓGICO em que há busca consensuada do sucesso
"Comunicação" sem ética = estratégica: [Emissor sobre Receptor] (visão marxista
sobre comunicação na "cidadania", "a ação estratégica de um ator perante outro, com vistas à
satislfação de interesses próprios")

- OU SEJA, a comunicação requer, mais do que simples troca de informações, uma troca de
esforços com vista à partilha de propósitos e dos resultados decorrentes.

- "Não há comunicação sem informação, mas a comunicação pressupõe algo mais que a
simples transmissão e recepção de informação".

- Como se estabelece a comunicação como um processo dialógico? R: pelo entendimento e


pela produção compartilhada de sentido.

Mass communication: modelo few to many;


Redes sociais mediadas por computador: many to many.

- Esse contexto (no qual se dá o êxito comunicacional), por sua vez, se estabelece em dois
distintos momentos: o primeiro, no cotejo simétrico e transparente das proposições dos
interlocutores; o segundo, na coletivização dos propósitos, ou seja, quando o interlocutor, ou
uma pluralidade deles, vislumbra a mobilização de auditórios com vistas a causas e
mobilizações de interesse coletivo. O final desse percurso é uma desejada mudança, senão da
realidade concreta, pelo menos no plano utópico.

Informação → Comunicação → Horizonte Ético → Advocacy → Mobilização →


Mudança

- Retirar do auditório essa condição passiva de ou ser persuadido ou ser convencido, situação
típica do contexto da “comunicação de massa”, até mesmo porque, depois das redes sociais,
não haveria mais massa e sim, de fato, público. Já não é mais apenas o público que somente
responde a estímulos ou sondagens, mas um público que participa da produção de sentido e,
por vezes, de forma intersubjetiva e interdependente (inclusive do orador original).

- Informação e comunicação constituem, portanto, um duplo, um par-complementar (não o


par oposicional), embora dialético: tese-antítese = síntese.

- Propósito da comunicação é a mudança cooperada.


Mudar o quê? R: desenvolvimento (humano, social, econômico, cultural, ambiental,
moral etc); bem-estar, felicidade, a boa vida

- Massificação da informação tem três fases: Enunciação; Denunciação e Anunciação


(jornalismo).

CAP. 3 - A CONDIÇÃO CIDADÃ


Lavina Madeira Ribeiro

Na tradição do pensamento ocidental, o termo cidadania deriva do surgimento da polis grega.


Com a polis nasce o cidadão. A experiência cidadã grega abrangia não somente a política (no
sentido estrito do que concerne ao Estado legislador e militar), mas também a esfera social e
cultural.

No âmbito da polis fundaram-se de forma associativa e orgânica noções de cidadania, de


comunidade e de individualismo.

Durante a Idade Média, entretanto, não é possível a identificação de uma esfera privada –
como o lugar do exercício de um domínio individual privado – a partir da qual se possa
ascender à outra esfera de existência pública. Assim sendo, não é possível se falar de
cidadania, do exercício autônomo de uma liberdade individual.

DEFINIÇÃO DE CIDADANIA: cidadania é o exercício da condição de ser cidadão,


habitante da cidade, partícipe de sua vida pública e privada. Cidadania é uma práxis. Onde há
uma relação interativa e intencional de indivíduos que compartilham identitariamente um
conjunto de valores, representações e de práticas entre si, há uma experiência de cidadania.
Ela diz respeito à relação que os indivíduos estabelecem entre si e com a sociedade em geral.
Concerne ao pertencimento físico e mental a uma esfera comum, a uma comunidade espacial
e temporalmente dada cujos membros, indivíduos singulares, únicos e criativos, se
identificam e se reconhecem em uma realidade objetivamente vivida.

Formação de uma "esfera pública burguesa" à partir do século XVII, na qual eram caros os
valores de:
1. "Sociabilidade" e a "polidez da igualdade", em oposição ao "cerimonial das
hierarquias" aristocráticas;
2. Discussão e problematização de temas “universais”até então restritos ao âmbito do
Estado e da Igreja;
3. “Não - fechamento do público”: a acessibilidade à esfera da apropriação e da
discussão dos bens culturais produzidos para o mercado a todos os que alcançassem um certo
nível de formação acadêmica.
Ascenção do Estado de Direito:

- A democracia representativa, a restrição ao direito de voto às camadas mais prósperas


economicamente impediu a expressão da opinião de todos os cidadãos no âmbito legislativo e
privilegiou a hegemonia de interesses privados.
O ideal de fusão entre Estado e sociedade não se realizou e o exercício da cidadania política
se restringiu, sobremaneira, às camadas com poder econômico e à defesa de seus interesses
privados.

SÉC. XX

A imprensa, assim como posteriormente o rádio e a televisão, se desenvolveu como novas


instâncias da prática social;

O compromisso com a crítica, a partir de então, é extraordinariamente arrefecido e substituído


por uma perspectiva de cumprimento da defesa do interesse público baseada no noticiamento
supostamente objetivo, isento e fiel dos fatos da realidade.

Com a internet, tem-se uma mudança qualitativa na relação dos indivíduos com as instituições
de comunicação, entre si e com a sociedade.

Fóruns, blogs, espaço dos leitores e outros mecanismos discursivos reacenderam a expressão
da singularidade, a formação de comunidades de pares, que podem não ter uma
territorialidade física, que cortam transversalmente camadas sociais, critérios de gênero, idade
e etnia, que se transformam, ampliam ou diminuem numa dinâmica imprevisível.

Este é um processo de formação de identidade, de regiões de conforto, de afirmação de sensos


efetivos de realidade, do sentimento de pertencimento ao mundo em uma comunidade que
compartilha, em formas e intensidades variadas, de valores semelhantes. É um exercício vivo
de cidadania, por mais que a cidade não seja mais um espaço geograficamente localizável. O
exercício da cidadania tornou-se móvel, fluida, múltipla e sensorial.

CAP. 4 - COMUNICAÇÃO PÚBLICA, 17 ANOS DEPOIS


Elizabeth Pazito Brandão

Início do estudo da comunicação pública no Brasil: Final dos anos 1980

- Afirmar a comunicação pública como um conceito político indissoluvelmente ligado ao


Estado democrático, também em processo de consolidação.

ANOS 90:
- Contexto anterior: ditadura, caos econômico e processo de impeachment presidencial.

- Após esse momento caótico, chegou o tempo em que os principais temas das agendas de
esquerda, finalmente, alcançavam a esfera pública e deixavam as pautas de reivindicação para
integrar os planos de governo e as políticas públicas.

- Construção democrática do Brasil

- “o confronto e o antagonismo que tinham marcado profundamente a relação entre o Estado e


a sociedade civil nas décadas anteriores cederam lugar a uma aposta na possibilidade da sua
ação conjunta para o aprofundamento democrático”.(DAGNINO, 1995, p. 96)

- O momento histórico brasileiro enquadrava o ideal de um estado democrático que deveria


compartilhar e deliberar com a participação da sociedade civil.

- Duarte (2007): Na sua visão, subsiste o “descrédito e a apatia” por parte do cidadão que
“não considera os governos como algo relacionado à sua vida e torna-se bastante cético em
relação à política e à capacidade dos dirigentes públicos de alcançar o interesse coletivo.”
(2007, p. 124.)

- O “descrédito” e a “apatia” citados por Duarte não são fenômenos brasileiros, pois o
esvaziamento da esfera política e a crise da democracia representativa é um dos temas mais
explorado pela ciência política contemporânea.

- Na vertente da Comunicação, a clássica discussão sobre a esfera pública e privada está


sendo recolocada frente à influência cada dia mais forte das tecnologias de informação e
comunicação que têm o poder de amalgamar os espaços da vida privada e pública.

- Thompson (1998) defende que o uso dos meios de comunicação implica na criação de novas
formas de ação e de interação no mundo social, novos tipos de relações sociais e novas
maneiras de relacionamento do indivíduo com os outros e consigo mesmo.

- No Brasil, percebe-se o crescimento da participação na vida política e a troca de


“informações de interesse público” por meio de canais alternativos, como as redes sociais
articuladas a partir das diversas associações da sociedade civil.

- Os episódios comprovam que a participação política existe, mas a mobilização e a formação


de opinião acontece mais através de canais “alternativos” do que pela mídia formal,
tradicionalmente a formadora de opinião por excelência. A repercussão dos escândalos e a
mobilização da população não podem ser atribuídas apenasà cobertura da mídia, pois foram
manifestações que se agigantaram através das redes sociais, eclodiram com força na sociedade
e acabaram por pautar a mídia, exemplificando um fenômeno que as teorias do jornalismo
estão estudando como as teorias do contra-agendamento.
- A simples existência de atitudes positivas de CP, por parte de um governo ou de uma
instituição, não desencadeia automaticamente a participação. Mobilizar é muito mais do que
dispor-se a ouvir em
uma audiência ou reunião pública, da mesma forma que participar é muito mais complexo de
que estar presente.

- Na América Latina, a concepção de CP, como se pode ler nos textos de Juan Camillo
Jaramillo (2015), está embasada no entendimento de que a comunicação é um bem público,
assim como a informação, e que é preciso deslocar a apropriação destes dois bens públicos
pelo interesse individual. Para isso, recorrem às técnicas de mobilização que já vinham sendo
pensadas e colocadas em prática por Bernardo Toro (2001) na área de educação.

CAP. 5 - A HIPERTROFIA DO ESTADO ANUNCIANTE


Eugênio Bucci

- Comunicação pública é um conceito um tanto vasto; [...] O essencial, aí, é compreender que
o que norteia a comunicação pública é o direito constitucional à informação, de que todo
cidadão é titular.

- A comunicação pública tem como objetivo principal a promoção da cidadania.

- No Brasil, a comunicação pública se confunde com a propaganda governamental


(publicidade). A propaganda governamental como extensão da campanha eleitoral.
Diferenças: além da finalidade, a natureza impessoal da comunicação pública.

- Não é difícil concluir que o que os governos (federal, estaduais, municipais, todos eles) vêm
chamando de comunicação pública é, na verdade, uma modalidade de comunicação comercial
e privada. A legítima comunicação pública é norteada pelo direito à informação e promoção
da cidadania.

CAP. 6 - REVISÃO CRÍTICA DA RELAÇÃO ENTRE A COMUNICAÇÃO E A


CIDADANIA: um estudo sobre a mídia
Ana Carolina Rocha Pessôa Temer
Simone Antoniaci Tuzzo
- O modelo tradicional, fonte-mensagem-canal-receptor, há muito tem se mostrado
insuficiente para o estudo dos processos de comunicação. A comunicação não é apenas mais
uma atividade humana, é atividade ação que define sua humanidade, sendo essencial para o
desenvolvimento da racionalidade e para a formação dos grupos sociais, das comunidades e
sociedades,

- Uma das possibilidades que a comunicação forneceu às comunidades foi a normatização da


vida social;

- Considerando a modernidade como uma das fases deste desenvolvimento [da humanidade],
a “descoberta” e utilização dos meios de comunicação mediados por técnicas e tecnologias
que ampliam seu alcance, ao mesmo tempo potencializam e interferem nos processos
comunicativos mudando sua dinâmica e suas consequências.

- Agora recepção dos conteúdos = atribuição de sentidos (internet); onde o receptor não é
mais vítima das emissões com fins manipuladores, sendo possível interpretar os conteúdos
comunicacionais conforme as experiências pessoais e o contexto social.

- Neste sentido, o estudo dos processos comunicativos mediados e midiatizados é essencial


para a compreensão da dinâmica das relações humanas.

- As autoras consideram dinâmico o conceito de cidadania e o conceito de comunicação, e não


devem ser pensados a partir de modelos rígidos e estáticos.

- OBJETIVO: a meta proposta neste texto é refletir sobre aspectos e possibilidades que
contribuam para uma compreensão dinâmica sobre a relação entre comunicação e cidadania.

- Cidadania: A palavra cidadãos significa os habitantes de uma cidade, também pode


significar os indivíduos que possuem direitos sociais, civis e políticos, tendo em vista que
cidadania, cidadão e cidade são palavras que possuem a mesma origem semântica. Cidadania
vem do latim civitase que quer dizer cidade.

- Mas a relação entre a cidadania, o cidadão e a cidade é absolutamente imbricadas, não só


pela condição semântica, mas, sobretudo, porque na Antiguidade a cidade representava a
unidade
comunitária e era no espaço público das cidades que aconteciam os encontros dos cidadãos
para conversar sobre seus direitos e exercer sua cidadania.

- A cidadania institui uma relação de direitos e, ainda que certas diferenças hierárquicas
permaneçam, como as desigualdades entre as classes sociais, raça e gênero, a cidadania
significava que, apesar disso, os cidadãos compartilhavam os mesmos direitos e deveres.

- O problema é que nem todos aqueles que vivem nas cidade usufruem igualmente do direito
“à cidade” (ou aos benefícios que surgem a partir da vida urbana), entendido como uma vida
decente e com acesso a tudo aquilo que a vida na urbe proporciona, incluindo o direito à
liberdade de ir e vir, de manifestar opiniões, de poder trabalhar, estudar, morar de forma digna
e de ter acesso e manifestar a sua cultura. Além disso, o direito à participação política e o
direito à informação. Para isso, não adianta simplesmente esses direitos existirem, mas há de
se ter a possibilidade de exercê-los.

- Entendendo essas desigualdades, foram criados termos para designar diferentes graus e tipos
de acesso à cidadania, como hipercidadãos, subcidadãos, cidadania regulada, cidadãos em
negativo, estadania.

- "Pertencer a uma cidade, a um estado ou a uma nação não é apenas uma condição legal, mas
principalmente o compartilhamento de experiências e de vivência dos lugares". Andrade
(2013, s/p)
>> Uma vez que a cidade é o espaço de compartilhamento de experiências, de
exercício da cidadania, torna-se também um espaço voltado para a comunicação <<

De fato, a própria noção de cidadania pressupõe o debate entre iguais – a livre comunicação
entre os cidadãos. Não por acaso, uma das condições que acompanham ou que se desenvolve
em paralelo ao conceito de cidadania é a noção de liberdade de manifestação do pensamento e
a liberdade de imprensa.

- Como elemento social, ela [a mídia] está sempre inserida em um contexto de ordem sócio-
histórica e cultural, e, embora capitaneada pelos interesses do grande capital, tem a
necessidade de manter a sintonia com o seu público, elemento do qual é dependente para a sua
própria sobrevivência.

A INFLUÊNCIA DA MÍDIA: uma revisão

- Para Rublescki (2013, p. 113), “um campo social consiste numa estrutura de relações, em
um espaço socialmente estruturado".

- As múltiplas variáveis que interferem nos processos comunicativos fazem com que não
exista uma constante do poder formador da mídia, ou mesmo dos seus agendamentos.

- A apreensão dos conteúdos ocorre a partir de diferentes graus de acesso à informação e


diferentes níveis de valorização desta informação.

- Duas teorias reducionistas falhas: “A agenda existe como função, mas não isolada, à
maneira de um instrumento à parte do sujeito” (SODRÉ, 2002, p. 57). Além disso, se
pensarmos a mídia como um espelho, também temos que considerar a sociedade nela se
espelhando, como um conjunto de infinitos espelhos direcionados um para o outro, cujas
imagens se “espelham” ad infinitum.
- "Há uma impossibilidade prática de respostas matemáticas que perturba tanto a emissores
como a controladores que tateiam em busca de respostas ou receitas objetivas. Em função
disso, a mídia trabalha com experimentações e, em muitos casos, deixa de lado pontos básicos
que a vida social (os indivíduos) não pode ignorar.

- Os processos de democratização da sociedade e a própria evolução dos meios de


comunicação de massa deram uma nova visibilidade às decisões que antes eram privativas de
algumas esferas do poder, os políticos conquistam visibilidade, e usam essa visibilidade como
fator decisivo em eleições futuras (CONEXÃO com artigo de Eugênio Bucci).

- Em um mundo marcado pela imagem transmitida ao vivo, a mídia faz uma interpretação
cênica da realidade, construindo inflexões, agendas e posicionamentos políticos que, em
alguns casos, têm pouco em comum com o que é representado.

- No Brasil, a ênfase [midiática] está na utilização de estratégias de captação de audiência a


partir dos símbolos da sociedade de consumo, com base no conceito – ou pré-conceito - de
que o público não gosta de política (ou de notícias sobre política): não entende ou não é
educado formalmente para fruir conteúdos de substância da cultura culta.
Paranhos (1998): "Política normalmente é identificada a todo um repertório de golpes
baixos[...]. As classes trabalhadoras estão fartas de assistir ao funcionamento da máquina
política para, acima de tudo, atender aos interesses das classes dominantes, integradas por
grandes industriais, banqueiros, etc".
Ribeiro [(2000)] vai ainda mais longe e afirma que “os brasileiros enxergam sua
política como uma dimensão alienada, sobre a qual não têm controle.

- Ainda que alguns discursos midiáticos valorizem a ética e às questões ligadas à


responsabilidade social das empresas de comunicação, a prática mostra que para a mídia
pouco importa: a fórmula essencial da moral midiática é comprar e vender. (SODRÉ, 2002, p.
63)

- No entanto, ao ser retratado apenas como provedor dos serviços necessários ao cidadão (e
não como espaço para o debate e a delimitação do próprio conceito de cidadania) o
receptor/consumidor perde de vista a função estratégica do Estado e se desinteressa pelo seu
funcionamento.

- Neste modelo, o cidadão comum ou todos os cidadãos que não exercem cargos de poder
ficam excluídos das grandes decisões que, como em tempos passados, estão restritas aos
gabinetes.

- Consolida-se assim uma espécie de anti-cidadania, na qual o consumidor/receptor escolhe o


que menos é importante (a estética), mas é conduzido à sua revelia nas questões realmente
significativas.
- >> Para Tuzzo (2005) o papel da mídia na construção da cidadania se firma naquilo que ela
pode transmitir de informação para que uma pessoa forme uma opinião e participe da
construção da opinião pública. Note que a informação por si não é uma garantia de que isso
aconteça, mas sem informação isso é impossível de acontecer. <<

- A relação entre mídia e cidadania deve ser compreendida a partir da leitura crítica da mídia,
e por extensão, uma leitura crítica da realidade social na qual o processo comunicativo e as
relações de cidadania se desenvolvem.

>> A comunicação afeta emissores e receptores: afeta os emissores que refazem a cada
elaboração (escrita e reescrita) dos conteúdos, os reelaboram racionalmente, ampliando a sua
compreensão; e afeta os receptores porque ao terem acesso à novas informações, reelaboram
os processos de escolha e de compreensão do mundo.

>> A leitura crítica da mídia parte de um princípio inverso da teoria hipodérmica ou bala
mágica, que entende que os indivíduos expostos aos meios de comunicação reagem de forma
automática e inevitável aos conteúdos destes meios3: a leitura crítica da mídia entende que os
indivíduos apreendem os conteúdos, mas vão além dos seus significados imediatos, não se
limitando ao ato de decodificar a mensagem.

- E como se dá esse processo? O acesso à informação por meio da comunicação interpessoal


amplia e afeta a leitura do mundo de cada indivíduo, em um processo que é marcado
inicialmente pela inquietação, seguido de ajustes no mundo interior do leitor por meio da
reflexão para, como uma consequência natural do processo, ocorrer aprática consciente, ou
seja, um novo sujeito transformado, mas não concluído, uma vez que a essa experiência
sempre estarão se sobrepondo novas leituras.

- Desta forma, ainda que a mídia não seja a única responsável pela construção da cidadania,
ela estabelece uma relação de “diálogo social” que permanentemente gera novas formas de
entender, explicar, ressignificar essa cidadania, visto que é ela um conceito inacabado,
complexo e em constante formação, inclusive mudando de pessoa para pessoa, de lugar para
lugar, de cultura para cultura e assim sucessivamente.

- A mídia também “dialoga” com estes receptores (ou reage a eles) se apropriando de
conceitos que são simpáticos ao seu público, ou que tem uma aceitação fácil no sentido de
venda de uma ideia e de participação no processo.

- Tuzzo (2014, p. 166) afirma que “a mídia como reorganizadora de sentidos passa a
desempenhar um papel importante na construção daquilo que é ser cidadão.

- O QUE É CIDADANIA?

1) Cidadão é aquele que tem participação política;


2) Cidadania é a possibilidade de utilização dos serviços do Estado/Nação, tais como
educação, saúde, emprego, lazer, moradia, educação etc;
3) Cidadania é a inserção de um indivíduo no cenário consumidor e participante da
movimentação da economia;

- Temer, Tondato e Tuzzo (2012, p. 52-53): "Aliás, o acesso dos diferentes grupos sociais,
inclusive as minorias, aos meios de comunicação midiatizados, modifica a própria percepção
do que é cidadania, abrindo espaço para reelaborações do seu conceito. A compreensão do
que é cidadania deixa de se basear apenas nas abordagens clássicas, e passa a ser definida
também na perspectiva do acesso ao consumo e ao grande volume de informações."

4) Cidadania é o acesso à informação que levará a uma possibilidade de formação do


senso crítico e, consequentemente na participação da formação da opinião pública.

RESUMÃO:

Assim como o desenvolvimento dos processos comunicativos foi fundamental para a


cidadania, também a cidadania foi fundamental para o desenvolvimento de novos processos
comunicativos mediados e midiatizados, cuja evolução foi constantemente formatada e
reformatada pelas tecnologias que ampliam e modificam o seu uso, possibilitando novas
formas de relações (e até mesmo de interlocução) dos indivíduos com o Estado e com a
sociedade, o que consequentemente acaba tecendo novas percepções sobre a própria
cidadania.

- "Tanto a comunicação quanto a cidadania são elementos dinâmicos, que não podem ser
traduzidos – ou pelo menos traduzidos com plena exatidão – por meio de frases-conceitos
fechados".

- As autoras defendem o uso da polifonia metodológica para o estudo das relações entre
comunicação e cidadania, que fornecerá uma visão mais ampla das dinâmicas, sempre
considerando questões relativas ao contexto em estudo, as dinâmicas sociais e aspectos
humanos envolvidos (educação, ética, ideologia, relações de poder e normatizações que
orientam as relações sociais).

CAP. 7 - COMUNICAÇÃO, INTERNET E CONTRAHEGEMONIA: o interesse


público na sociedade midiatizada
Tiago Mainieri
Douglas Romani

- A internet tem possibilitado a ampliação significativa de formas de expressão da sociedade


- Essa realidade tem revelado a capacidade de organização e mobilização dos cidadãos na
criação de espaços de interlocução na própria internet (movimentos, reivindicações).

- Este espaço, apesar de ainda não estar disponível para boa parte dos indivíduos, já figura
como uma possibilidade real de trazer a comunicação pública ideal para perto da sociedade e
começa a apresentar alguns exemplos de discussões e ações concretas.

- CONCEITO: comunicação pública contempla a concepção de uma comunicação voltada


para o cidadão, por meio da qual governo e sociedade estabelecem um vínculo de trocas para
discussão de
temas que concernem ao interesse coletivo. Assim, a comunicação pública é um elemento
primordial para o exercício da cidadania.

- Trata-se de entender a comunicação pública como uma prática democrática e social da


comunicação, que leva em conta o cotidiano e o interesse dos públicos específicos.

- Outras definições de comunicação pública a remetem exclusivamente à comunicação


governamental, unilateral e fechada à diálogos com o coletivo. (TEORIAS FRANCESAS)

- Desse modo, em grande medida, o aparecimento de novos ambientes de interlocução da


sociedade midiática se deve à comunicação em rede, ou seja, à internet.

- Podemos considerá-los espaços de contraposição às organizações midiáticas tradicionais,


que surgem da necessidade de democratização do espaço da mídia.

> Contexto: a reconfiguração dos processos comunicacionais instaurada pelas tecnologias.


Por um lado, apresenta-se uma perspectiva da internet como protagonista para uma
comunicação democrática, transparente e participativa. Mas, por outro lado, é necessário
cautela.

- Entende-se a democratização da comunicação como condição para uma comunicação


pública transparente e um diálogo permanente com o cidadão.

- Como ressalta Jorge Duarte (2009), a comunicação pública demanda alguns aspectos para
sua consecução:
1. dar prioridade ao interesse público em detrimento de interesses individuais ou
coorporativos;
2. colocar o cidadão como central no processo;
3. ir além do que tão somente prover informações;
4. adaptar as ferramentas de acordo com os públicos;
5. admitir a complexidade da comunicação.
- É fundamental que seja estabelecido um diálogo amplo e irrestrito, a fim de garantir uma
comunicação efetiva, na qual há de fato interlocução. (DIÁLOGO COM ARGUMENTOS DE
Silva, Luiz M. da sobre ética na comunicação).

- Pressupostos para uma comunicação pública verdadeira: “processo de comunicação


instaurado em uma esfera pública que engloba Estado, governo e sociedade, um espaço de
debate, negociação e tomada de decisões relativas à vida pública do país” + ESTADOS

- O problema ocorre quando, assim como acontece no Brasil, a informação ainda é pouco
acessível a grande parte da população, sobretudo aquela que mais necessita
Razões (DUARTE, 2009): 1. falta de recursos para o acesso; 2. o déficit educacional
entre as camadas populacionais menos favorecidas pressupõe uma maior dificuldade de
compreender o significado de tudo aquilo que precisam conhecer para ajudar na construção de
seus processos de cidadania.

- O autor delega à mídia tradicional, pré-internet, a "espiral do silêncio: não havia espaço
para manifestação de opinições alternativas, a “voz” dominante era sempre a dos meios de
comunicação.

O surgimento da internet como espaço de diálogo

- Dênis de Moraes (2008) apresenta a internet como uma possibilidade de produção e difusão
fora dos moldes da mídia tradicional.

- A internet foi concebida, com fins militares, para a transmissão de informações, durante o o
período da Guerra Fria. Arpanet: 1969

- Nas décadas de 1970 e 1980, a internet se popularizou em institutos de pesquisa e no meio


acadêmico, mas, foi somente em 1991, que surgiu o World Wide Web (www), sistema de
hipermídia que interliga os arquivos na rede de forma a facilitar o acesso do usuário comum.

- No decorrer da década foram surgindo evoluções, como o surgimento dos browsers, dos
primeiros servidores brasileiros, de diversos provedores e de milhares de sites, o que
propiciou a popularização
massiva da web.

>> Em relação aos modos de interação com o meio por parte dos indivíduos, a internet trouxe
importantes contribuições, principalmente pela pluralidade de canais de informação
disponíveis.7

>> Logo, como o acesso à informação é condição básica tanto para a construção da cidadania
quanto para a efetivação de uma comunicação pública, a internet talvez seja o meio de
comunicação que mais contribua nesses processos em relação à forma de uso. Isso sem contar
que os próprios usuários podem postar informações e opiniões.
- Castells (2004) chega a dizer que a internet é o tecido da vida dos cidadãos.

- Web 2.0: participação ativa dos cidadãos na construção da rede.

- Vilches (2003), defende que a sociedade estaria emigrando para uma nova economia criada
pelas tecnologias do conhecimento. Seria um movimento contínuo de produtores e
consumidores, o que geraria a ocupação de novos espaços sociais diversificados.

- Segundo Castells (2004) a internet teria permitido que, pela primeira vez, a comunicação
fosse feita de muitos para muitos.

- Surgem então comunidades virtuais, que lançam mão de novos padrões de interação social,
onde já não há mais o limitador geográfico.

>> É importante ressaltar o fato de que os dispositivos e o acesso a serviços de internet ainda
não são universais e uma grande parcela dos indivíduos ainda estão à margem dessas
tecnologias.

- Contra-agendamento.

A INTERNET cria um espaço inédito de comunicação alternativa e contra-hegemônica, ainda


que não tenha força para corrigir o curso histórico da comunicação.

A cidadania e o cidadão em tempos de web

- Marshall (1967) define cidadania elencando três dimensões, relativas aos direitos civis,
políticos e sociais [...]. Contudo, atualmente, novos aspectos imprescindíveis à construção da
cidadania passam a ser percebidos.

- A definição de Hanna Arendt (1979), que determina a cidadania como o direito de ter
direitos, já apresenta uma maior amplitude, pois além das três primeiras dimensões de direitos
apresentadas por Marshall já prevê
quaisquer outros direitos que o cidadão venha a ter.

- Arendt coloca que a percepção da necessidade de buscar a cidadania só foi percebida a partir
do momento que diversos grupos foram alijados do processo.

- Conforme José Murilo de Carvalho, talvez não exista uma cidadania plena. Uma cidadania
plena, que combine liberdade, participação e igualdade para todos, é um ideal desenvolvido
no Ocidente e talvez inatingível.
Mas ele tem servido de parâmetro para o julgamento da qualidade da cidadania em cada país e
em cada momento histórico. (CARVALHO, 2002. p. 9)
- Desse modo, o surgimento da internet veio contribuir de forma significativa para a
construção da cidadania, pois algumas características desse meio apontadas por Maria Ercília
(2000), como a velocidade e a escala das trocas de informação, a uniformidade dos textos e a
redução de custos, fizeram com que uma quantidade enorme de conteúdos nos mais diversos
formatos, como livros, revistas, jornais, canais de rádio, músicas, filmes, entre outros,
ficassem acessíveis a um grande número de pessoas, número esse que vem crescendo de
acordo com o ingresso de novos cidadãos na rede mundial de computadores.

>> É necessário ressaltar, contudo, que só o acesso a informação não garante cidadania.

- A internet, além de repassar informações selecionadas por gatekeepers como ocorre em


alguns
meios, propicia uma variedade muito maior de canais, pontos de vista e permite inclusive que
o próprio cidadão interaja e seja produtor de conteúdo.

- Entretanto, conforme coloca German (2000), as camadas sociais que não têm condições
financeiras necessárias à compra de equipamentos e ao pagamento para o uso da rede ficam
alijadas do progresso econômico e social. Por conta disso, a desigualdade entre países
desenvolvidos e subdesenvolvidos estaria aumentando.

- Rede: exprimir processos comunicacionais com formas mais completas e democráticas de


diálogo.

- Todos aqueles que o possuem podem recorrer aos mesmos conteúdos e utilizá-los da mesma
forma.

- O cidadão como emissor.

- Negroponte (2003) compara que cada pessoa, com a internet, funciona como se fosse uma
rede de TV não autorizada

- A possibilidade de participação ativa do cidadão, criando espaços alternativos e contra-


hegemônicos por meio dessa mídia, amplia a perspectiva de uma verdadeira comunicação
pública.

- A internet se tornou um meio que alterou a forma com que as pessoas lidam com as mídias
de massa.

- Em outros meios de comunicação, o fluxo de conteúdo é unilateral.

- Ao perceber o poder que a mobilização por meio da internet proporciona, o cidadão pode
passar a reivindicar os elementos que considerarem importantes em busca da construção de
sua cidadania.

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