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RESUM O
O trabalho ora em exposição visa traçar algumas considerações sobre um tema que ainda não
alcançou a importância merecida por parte dos estudiosos do Direito Previdenciário. A
desaposentação é um direito subjetivo, que lembra o direito a aposentação. Consiste no desejo da
pessoa de voltar ao status quo ante, ou seja, de renunciar a aposentadoria que recebe a fim de
auferir benefício mais vantajoso, a fim de aproveitar o tempo de contribuição para contagem em
nova aposentadoria, no mesmo ou em outro regime previdenciário. No entanto, esse direito ainda
não é reconhecido até mesmo devido ao fato de que tal instituto não possui previsão legal, dando
margem por muitas vezes à negativa na esfera jurídica e administrativa. Contudo, será demonstrada
a necessidade de se garantir esse direito, que é um novo horizonte sobre as perspectivas do
aposentado no Brasil.
1 INTRODUÇÃO
O presente artigo tem a intenção de abordar a polêmica temática da desaposentação. Expor
as situações que há cabimento e tentar solucionar alguns questionamentos acerca da matéria que
leva muitas vezes a indeferimento no âmbito judicial.
A Constituição Federal de 1988 garante, em seu artigo 7º, o direito a aposentadoria.
Pois bem, a desaposentação seria o ato de renúncia à aposentadoria anteriormente concedida,
para fins de aproveitamento do tempo de contribuição em contagem para nova aposentadoria, no
mesmo ou em outro regime previdenciário. No entanto, não se reconhece o direito do aposentado de
poder renunciar sua aposentadoria e retornar ao status quo ante em favor de uma situação mais
benéfica, alegando tanto insegurança jurídica, como também o fato de tal instituto não possuir ainda
previsão legal, sendo uma questão controversa. Outra questão muito debatida é a da restituição de
valores recebidos anteriormente a desaposentação.
O Instituto da desaposentação vem sendo apontado como uma inovação à alternativa de
melhoria na renda mensal em uma nova aposentadoria dentro dos procedimentos juridicamente
legais.
Oportuno salientar que o estudo mais aprofundado do tema é bem oportuno devido ao fato
de que até o presente momento não possui regulamentação específica. Além disso, há pouca
doutrina a respeito desse instituto, baseando-se mais o estudo na jurisprudência.
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Aluna concludente do curso de Bacharelado em Direito 2010.2.
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O método de estudo utilizado para que se possa chegar à conclusão deste trabalho é o de
revisão bibliográfica. Tal forma consiste basicamente em comparar as visões de vários autores da
doutrina, a fim de se obter, ao final, um raciocínio crítico acerca do que fora pesquisado.
O presente artigo expõe, preliminarmente, uma idéia geral do que vem a ser seguridade
social e a que direitos se destina assegurar, além de uma noção de previdência social. Em seguida,
apresenta-se o direito à previdência, contendo o conceito de aposentadoria e suas espécies. Tratar-
se-á, por conseguinte, de forma detalhada sobre o enfoque central desse trabalho, a desaposentação,
seu conceito, do desfazimento do ato concessório da aposentadoria, dos tipos de desaposentação, da
polêmica questão da restituição dos valores recebidos, do projeto de lei n. 7.154/2002 e, por fim,
será feito um estudo comparado desse instituto em âmbito internacional.
Apesar das divergências doutrinárias, reafirma-se ser o objetivo da obra enfocar o tema, de
forma a contribuir para a discussão e reflexão em torno deste, analisando o objetivo principal do
instituto e os benefícios para a sociedade que viriam com ele. Além de solucionar inúmeros
questionamentos presentes no Sistema Previdenciário Público Brasileiro.
2 SEGURIDADE SOCIAL
A Seguridade Social trata-se de uma proteção social constituída de ações de iniciativa dos
poderes públicos e da sociedade, destinadas a assegurar direitos relacionados à saúde, à previdência
e à assistência social do indivíduo. Tal instituto encontra-se regulamentado pela lei n. 8.212/1991.
A Previdência Social é organizada sob forma de regime geral, de caráter contributivo e de
filiação obrigatória, observando critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial.
Para Vianna (2008, p.53):
[..] O sistema previdenciário constitui-se em um direito protetivo, garantindo a seus
segurados contribuintes meios de subsistência quando de períodos de
improdutividade financeira, tais como doença, maternidade, idade avançada e
inavlidez.
3 DO DIREITO À PREVIDÊNCIA
A Previdência Social através do Regime Geral de Previdência Social ± RGPS, mediante
contribuições daqueles que se filiam, obrigatoriamente ou facultativamente, observando critérios
que mantenham o equilíbrio financeiro e atuarial do sistema, garante a seus beneficiários o direito a
benefícios e serviços, dentre eles a aposentadoria.
A aposentadoria é um direito garantido pela Constituição Federal: ³Art. 7º. São direitos dos
trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social; [...];
XXIV ± aposentadoria;´
Segundo Ibrahim (2007, p.7):
A aposentadoria é a prestação pecuniária por excelência, visando garantir os recursos
financeiros indispensáveis ao beneficiário, de natureza alimentar, quando este já não tenha
condições de obtê-los por conta própria, seja em razão de sua idade avançada ou mesmo
por incapacidade permanente do trabalho.
A renda mensal da aposentadoria por idade é equivalente a 70% (setenta por cento) do
salário-de-contribuição, mais 1% a cada grupo de 12 contribuições mensais, até o máximo de 30%,
totalizando assim, em 100%, com a aplicação facultativa do fator previdenciário.
4 DESAPOSENTAÇÃO
A desaposentação é o direito de se renunciar a aposentadoria obtida no Regime Geral de
Previdência Social, ou em Regimes Próprios de Previdência de Servidores Públicos, com o intuito
de possibilitar o recebimento de benefício mais vantajoso no mesmo ou em outro regime
previdenciário.
Segundo Martinez (2008, p.28):
Desaposentação é ato administrativo formal vinculado, provocado pelo interessa do no
desfazimento da manutenção da aposentação, que compreende a desistência com declaração
oficial desconstitutiva. Desistência correspondendo a revisão jurídica do deferimento da
aposentadoria anteriormente outorgada ao segurado.
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Desta feita, desde que o objetivo dessa renúncia seja o de melhoria econômica do segurado,
tratar-se-á de desaposentação. Nesta, a idéia seria liberar o tempo de contribuição utilizado como
requisito para a concessão do benefício, de modo que este fique disponível para uma possível
averbação em outro regime ou para nova aposentadoria, no caso do beneficiário ter tempo de
contribuição posterior à aposentação, devido ao fato de ter continuidade laborativa.
Castro e Lazzari (2000, p.488), afirmam que a desaposentação ³é ato de desfazimento da
aposentadoria por vontade do titular, para fins de aproveitamento do tempo de filiação em contagem
SDUDQRYD DSRVHQWDGRULD QRPHVPR RXHPRXWUR UHJLPH SUHYLGHQFLiULR´
Pontual frisar que no Direito Civil, a renúncia é um negócio unilateral, bastando apenas a
declaração do titular do direito, independe do consentimento de outrem. Trata-se, portanto, do
abandono, da desistência de um direito voluntariamente. No entanto, para alguns doutrinadores o
emprego do termo renúncia ocorre de maneira errônea, visto que depende de requerimento e
concordância da Administração, excluindo assim a unilateralidade do instituto.
Havendo mudança de regime previdenciário, a contagem recíproca entre regimes distintos é
assegurada pela Constituição Federal, artigo 201, §9º2 .
No caso do segurado querer renunciar a aposentadoria para auferir benefício vantajoso no
mesmo regime previdenciário, geralmente o RGPS, é necessário comprovar a continuidade
laborativa e manter a contribuição prevista no artigo 12, § 4º, da Lei nº 8.212/91, porém sem
nenhum acréscimo em seu benefício.
Malgrado, é importante observar preliminarmente, que o instituto da desaposentação não
possui previsão legal, sendo ainda uma questão controversa, motivo pelo qual se dá a negativa desse
direito na esfera administrativa, com respaldo no Decreto nº 3.048/99, que se posiciona pela
impossibilidade dessa renúncia a aposentadoria no RGPS. Quanto a desaposentação nos regimes
próprios, há a omissão acerca do tema, tratando apenas da reversão, que diferentemente do instituto
ora trabalhado, visa o retorno ao labor remunerado no cargo público com a perda do benefício
previdenciário, no interesse da Administração Pública.
Contudo, na Carta Magna não existe qualquer vedação ao instituto, nem tampouco existe na
legislação específica da Previdência Social dispositivo legal que proíba a renúncia aos direitos
previdenciários.
Nessa vereda tem-se baseado a maioria dos juristas, no que tange ao fato de que um decreto,
como norma subsidiária que é, não pode restringir a aquisição de um direito do aposentado, de
forma a prejudicá-lo. Deste modo, por ausência de expressa proibição legal, subsiste a permissão.
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Art. 201. §9.º Para efeito de aposentadoria, é assegurada a contagem recíproca do tempo de contribuição na Administração
Pública e na atividade privada, rural e urbana, hipótese em que os diversos regimes de previdência social se compensarão
financeiramente, segundo critérios estabelecidos em lei.
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Não é ocioso destacar, ainda, que a partir da Lei nº 9.796/99, os estudiosos passaram a
acreditar na eficácia da desaposentação. Tal lei preceitua que os diferentes regimes previdenciários
se compensam financeiramente e, dessa forma, a contagem recíproca se tornou um instrumento
lógico da desaposentação, não causando prejuízos a ninguém.
Por assim dizer, basicamente, desaposentação seria uma renúncia à aposentação, sem
prejuízo do tempo de serviço ou do tempo de contribuição, estes que são irrenunciáveis, seguida ou
não de retorno ao trabalho, restituindo-se o que for necessário para a manutenção do equilíbrio
financeiro dos regimes envolvidos, sempre que melhorar a situação do segurado e não causar
prejuízo a terceiros.
Em bem verdade, o fato desse instituto não possuir previsão legal, traduz a possibilidade do
indivíduo demandar pelo desfazimento de sua aposentadoria e obter êxito na esfera jurídica.
4.2.3 Regulamento Geral de Previdência Social para Regime Próprio de Previdência Social
Ocorre, geralmente, quando uma pessoa, aposenta-se pelo RGPS, é aprovado em concurso
público, e, almejando um benefício mais vantajoso, cancela o benefício atual, migrando do RGPS
para o RPPS, contando o tempo de serviço anterior da iniciativa privada.
De fato, a restituição dos valores recebidos pelo segurado é apenas mais uma dificuldade
alegada pelos que se recusam a admitir a validade deste instituto.
Pontual frisar, portanto, que no caso de desaposentação, a restituição dos valores percebidos
possui respaldo somente em regimes de capitalização individual pura, o que inexiste no Sistema
Previdenciário Público Brasileiro.
5. CONCLUSÃO
De tudo o que foi visto e debatido, é indubitável o direito dos segurados em renunciar suas
aposentadorias, visando uma melhoria de sua condição social, através da desaposentação. Foi
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comprovado, que tal instituto por mais que não possua previsão legal, é constitucional, ao passo que
inexiste qualquer vedação expressa acerca desse direito.
Comprovou-se ainda, que o instituto da desaposentação não causa nenhum tipo de prejuízo
ao equilíbrio atuarial do sistema, já que as contribuições posteriores à aposentadoria não estavam
previstas. Além disso, as reservas acumuladas pelo segurado eram direcionadas ao seu sustento
durante o restante de sua vida e, com a desaposentação, o regime previdenciário terá que arcar com
menor período de tempo, em razão da menor expectativa de vida do segurado.
Desta feita, conclui-se que tais impedimentos não estão presentes na desaposentação, como
restou demonstrado.
E, nesse aspecto, não se pode negar a existência da desaposentação com base em melhores
condições para o segurado, pois não se trata de puro desafazimento do seu benefício, mas sim,
obtenção de nova prestação, mais vantajosa do que a anteriormente recebida, melhorando assim, sua
qualidade de vida e de seus dependentes.
Contudo, vale salientar, não ser pretensão desse artigo dissipar inteiramente o assunto ora
exposto, mas sim colher algumas considerações no sentido de ser, eventualmente, utilizado como
³EDVH GHFRQVXOWD UiSLGD´
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REFERÊNCIAS
DUARTE, Marina Vasquez. Temas atuais de direito previdenciário e assistência social. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2003.
FIGUEIREDO, Antônio Borges de; OLIVEIRA, Marcela Gallo de. Renúncia à aposentadoria
(desaposentação) no projeto de Lei nº 7.154/2002. Disponível em:
<jus2.uol.com.br/doutrina/imprimir.asp?id=9945>. Acesso em: 07 de outubro de 2009.
VIANNA, Cláudia Salles Vilela. Previdência social: custeio e benefícios. 2. ed. São Paulo: LTr,
2008.