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Boe Povos INDIGENAS i) eV Pe Dy) ‘NO ic ZB ma a MYST at 1996/2000 cl Edo responsavel Carlos Albert (Beto Ricardo Ccoordenadora ta Equipe de Equipe da aigio, redagio apasguise Famando Luis 8.Miana, Julian Portnoy (sti, LulsConisete, Marco Antonio Gongalves, Marcas Rufino, Marta Amoroso ‘eenatoSeutman Preparagio de orisisis © secretara de predugaogritica Vera Feiasa fevisto Helos Baros, Julians Portaroy 0 ora Fetasa Design e produgiegrtica Reborto Strauss Editoragiaolewixicn berto Strauss (coordenagHo), Lucire Zann ‘Thats de Amide Horta Schievon (Mapas andlisesespaciais fo Gooprocossamontn do ISA ‘Alicia Rota coordenacfo), na Amarim dos ‘Santos. ClesroCardote Augusto aK INSTITUTO. ‘SOCIOAMBIENTAL weve socioambiental.org Processaments de dados Rodotfe Marine eaercone 30) ‘Alexandre Mallat, Ana Carina Gomes «de Andrade @Rasane Sato ‘Adinistragio Moisés Pangeni, Reinaldo Yoshikawa, Carlos Atlerto de Souza, Marccle de Sow, Crisdna Khan (rasa, Solange de Oiva-a eMacie MVelas0 Colaboradores autosis Ds pomes dos colaboradores que escreveram artigos nts 0 codarar ftes aparocom nos eédies dos respectvos texas ons, Colaberadores nitric ‘Ana Vals Arai, AntoneleTssinr, Bruce Albert © Marina Kran, Galles, Edson Beit, Eliane Pequero, Feo Montenogre, Funai inperata, Sao Las, Bolém, ‘Aamir, iepoque, Marabs, Colabs, aitba, EunépolsBA, Jogo Pessoa, Panis, Manas, ‘Guarapuava, Porto Volo, Chapeed, Guupie ‘Suajara Mri), DS, Jors! Oia Caterers, Jornal Estada de Mines, Juana Sela, Leonardo Cameiro da Cunha, Lg Neve, Marie ‘risa Toncarli, Mana Elica Leite, Ma Cempail Michel Pellondars, Méeica Meia, dino Cruvial, Pavicia Nesqut,Rona‘o lieFerera/Agencia Estado, icard Bel, Comargo, Sydney Possuel, Ushi Walt Blés ¢ War Coutino ‘Dados Inernacionais de Catalogagfo na Publieagio (CIP) (Canara Brasilia do Lie, SP, Brat) vos infigonas no Bras 168620007 (Catos Aborto Ricardo (odo). ‘So Paul: nstiuta Sociosmaersl, 700 Vetis coloboradres, 158N 35-904 0056 1 indis da Armée Ficardo, Carlo Alben, 1950- on 05 inaees para eatatogo tctenaiea: 1-BrastPovosindigonas S801 2 Povesindlgones: Bras 41 fo Su-Brasi 2 Pows indigonas - Bras | coo-sonat ‘Agoiesconplementares IMEC Ministirio da Etueupe~ SEF/OPE/ Assossonia de Eucagao Escola Inge ‘Apo nsitucional Ame psi Aetanste (ter een sn SONHOS DAS ORIGENS Davi Kopenawa Aldeia Watoriki, Serra Demini (Rorsime), 1998 Os'espiritos xapiripé dangam pare os xamiés desde a primeira tempol assim continua até hoje, Eles parecom seres humenos mas so téo mindsculos quanto particulas de poeira’ cintlantes. Para poder vé-los deve-se inalar o pé da arvore yakdanahimuitas e muitas vezes. Leva tanto tempo quanto para os braficos aprender o desenho de suas palavras. 0 p6 do yaksenahié a comida dos espiritos: Quem no Oxbebes assimfica com olhos de fantasma e ndové na Os xapiripé dancamjuntos sobre grandes @spelhos que descem de céu.Nunea sBo cinzentos como os humanos, $8 sempre magnificos: 0 Corpo pintado de urucum e percorrida de desenhos pretos, sas cabegas cobertas de plumas brancas de vrubu rei, suas bragadeiras de micangas replatas de plumas de papagaios, de cujubim e de araravermelha, a cintura envolta de rabos de tueanos.. Mithares doles chogam pare-danar juntos, agitando fothas da patmeiras novas) soltando gritos de alegria e-eantando sem parar. Seus caminhos parecem fis d aranhas brihando como a dz do hvar e seus ormamentos de phimas moxom lentamento 20 ritmo de seus passos, Dé alegria de ver como so bonitos! Os espiritos sao tao numerosos porque-eles sdo as imagens dos animais da floresta. Todos na floresta tém uma imagem utupé: quem andajno cho, quemandanas arvores, quem tem asas, quem mora na agua:Séo estas imagens que os xémas chamam ¢ fazem descerparavirérespiritos xepiripé. Esta imagens $80.0 vardadeiro centro, 0 verdeira interioedos seres da floresta. As pessoas comuns nfo podem vé-los, s6 os xamés. Mas nao so imagens dos animais que conhacemos agora, Séo imagens dos pais destes aniinais, sfoimagens dos nossos antepassados, No primeifo tempoyquando a floresta estava ainda jovem,nossos antepissados eram humands Comnomes de animais'e acabaram virando caca, Séo eles que fléchamos © comemos hoje, Mas sues imagens née desepareceram e sfo'elas'que agors dancam pare 16s como espiritos xepiripé. Estes antepassaios sao verdadeiros antigos. Viraram caca ‘ha muito tempo mas seus fantastias parmariacam aqui. Témnomes de animais mas s80 ‘que nunca morfem. A épidettia dos braficos pode tentar queimé-los @ dovora-los, nunca desaparacerdo. Seus espelhos brotam sempre de novo. Os brancos desenham suas jpalavras porque seu pensamento é cheio de esquecimento. 'Nés guardamos as palayrasdosnoss0s aritepassados dentro de nds ha muito tempo e ccontinuamos passahda-as para os nossosfilios. As eriangas, que no sabem nada dos espiritos, escutam os cantos’do xamas ¢ depots quefem ver os espiritos por sua vez. Eassim que, apesar de muito antigas, as palavta.dos xepinipg sempre voltam a ser novas. S80 elas que aumentam fossos pens® mentos’ So elas que nos fazem ver @ conhecer as coisas de longe, 8s céisaé dos antigos" £0 nosso estudo, o que nos ensina a sonhar Deste modo, queminao Bebe a sopra dos eSpintos tem o pensamanto curto e enfumacado; quem nao é olhado pelos xapinipé néo séntia, 56,dorme como um machado no chao. Davi Kopenawa DESCOBRINDO Aldoia Watoriki, Serra Demini (Roraima), = OS BRANCOS Dos espiritos iuito tempo, meus avés, que habitavam Méramabi araopi, uma casa situada canibais mmo longa, nas nascentes do rio Toototobi, iam &s vezes visitar nas terras baixas outs Yanomami estabelecidos ao longo do rio Araca, Foi la que encontraram os primeiros brancos. Esses estrangeiros coletavam fibra de palmeira piagaba a0 longo do rio’. Durente essas visitas nossos mais valhos obtiveram seus primeiros faces. Eles me contaram isso muitas vezes quando eu era crianga. Naquele tempo, eles 86 encontravam brancos ao viajar muito longe de sua aldeia e 1o iam vé-los sam motivo, simplesmente para visité-los. Haviam visto suas ferramentas metilicas e as cobigavam, pois possuiam apenas pedacos de metal que Omama deixara’. Era duranta essas longas viagens que, de vez em quando, eles conseguiam obter um facéo ‘ou mesmo um machado. Trabelhavam entéo em sues plantagGes amprestando-os uns aos outros, Quando um tinha aberto sua plantagdo, passava-os a um outro e assim por diant Seu hurt eat! Eles emprestavam também esses poucas ferrementes metélicas de umi 'Nao era para procurar fésforos que iam ver os brancos téo longe, nao: tinham seus paus de cacaveiro para fazer fogo. Evidentemente, eles achavam as panelas de aluminio muito bonitas, mas tampouco era por isso que faziam aquelas viagens: também tinham vesithas da tarracota para cozinhar sua caca. Era raalmanta por seus facdas a saus machados qua iam visitar aqualas estrangeiro Mas foi bem mais tarde, quando habitévamos Marakana, mais para o lado ds foz do rio Toototobi, que os brancos visitaram nossa casa pela primeira vez. Na época, nossos mais velhos estavam ainda todos vivos a éramos muito numerosos, au me lambro. Eu ara um ‘menino, mas comegava a tomar consciéncia das coisas. Foi lé que comecei a crescer e descobri os brencos. Eu nunca os vira, néo sabia nada deles. Nam masmo pansava qua alas cexistissam. Quando 0s avistai, chorai da mado. Os adultos i os haviam encontrado algumas vvezes, mas eu, nuncal Pensei que aram espiritos canibais e qua iam nos devorar. Eu os achava muito feios, esbranquigados e peludos. Eles eram tao diferentes que me aterrorize- vam. Além disso, ndo compreendia nanhuma de suas pelavras emaranhadas. Parecia que eles tinham uma lingua da fantasmas. Eram pessoas da “Comiss8o". Os mais velhos diziam que alas roubavam as criangas, qua jé as haviam capturado e lavado com elas quando tinham subido o rio Mapulai, no pasado’. Era por isso também que eu tinha muito medo: estava certo de que também iam me levar. Meus avés ja haviam contado muitas vezes essa histéria, eu os ouvira dizer: “Sim, esses brancos so ladrdes de criangas!”, e tinha muito mado. Por qua eles levaram aquelas criangas? Eu ma pergunto isso ainda hoje Quando aqueles estrangeiros antravam em nosse habitag8o, minha mae me escondi debaixo de um grande cesto de cipé, no fundo de nossa casa. Ela me di “Nao tenha uma palavra!™, a au ficava assim, tremendo sob meu cesto, sem dizer nada Eu me lembro, no entanto devia ser realmente muito pequeno, sendo no teria cabido debaixo daquele cesto! Minha mae me escondia pois também tamia qua os brancos me lavassem com alas, como tinham roubado aqualas criangas, da primaira vaz. Era também para me acalmar, pois au astava aterrorizado e $6 parava de chorar quando estava escondido. Todos os bens dos brancos ma assustavam também: tinha medo da seus motores, de suas lampadas elétricas, de seus sapatos, de saus éculos e de seus reldgios. Tinha medo da fumaga de seus cigarros, do chairo de sua gasolina. Tudo me assustave, porque nunca vira nada de semelhante ¢ ainda era pequeno! Mas, quando seus avides nos sobrevoavam, eu no era 0 Gnico a ficar assustado, os adultos também tinham medo; elguns chegavam mesmo mw |PALAVRAS INDIGENAS POVOS INDIGENAS NO BRASIL 1862010-INSTTUTD SOCIDAMBIENTAL a romper em solugos, e todo mundo fugia para a mata vizinhal Nés somos habitantes da floresta, nfo conhieciamos 0s avides e estévamos aterrorizados. Pensdvamos que eraim seres sobrenaturais voadores que iam cair sobre nés e queimar todos. Todos tinhamos, muito medo de morte! Eu me lembro que também tinha medo das vozes que saiam dos rédios e da exploséo dos fuzis que matavam a caga. Perguntava-me o que todas aquelas que pareciam sobranaturais poderiam serl Perguntava-me também por que aquelas pessoas tinham vindo até nossa casa Mais tarde, resimenta comacai a crascer ¢ @ pensar dircito, mas continuci a me perguntar: “O que os brancos vém fazer aqui? Por que abrem caminhos em nossa floresta?” 0 mais valhos ma respondiam: “Eles vém sem divida visitar nossa terra para habitar aqui conasco mais tarde!". Mas eles no compreendiam nade da lingua dos brancos; foi por isso que os deixaram penetrar em suas terras dessa maneira amistosa, Se tivessem Compreendido suas palavras, acho que os teriam expulsado. Aqueles brancos os enganarem om sous presentes. Deram-Ihes machados, facdes, facas, tecidos, Disserom-thes, para adormecer sua desconfianga: “Nés, os brencos, nunca os deixaremos desprovidos, Ihes daramos muito da nossas mercadorias e vocés se tomaro nossos amigos!”. Mas, pouco depois, nossos parentes morreram quase todos em uma epidemia, depois em uma outra. Mais tarde, muitos outros Yanomami novamente morreram quando a estrada entrov na florestaé e bem mais ainda quando os garimpairos chegaram ali com sua malar Mas, dessa vez, eu tinha me tomado adulto 6 pensava direito; sabia reaimente 0 qua os brancos queriam ao penetrar em nossa terra Os brancos so engenhosos, tém muitas maquinas e mercadorias, mas nBo tém Descobrir o nnenhuma sabedoria, Nao pensam mais no que eram seus ancastrais quando foram criados. Descobrimento Nos primeiros tempos, eles eram como nés, mas esqueceram todas as suas antigas palavras, Mais tarde, atravessaram as aguas e vieram em nossa dirago. Depois, repetem que descobriramn esta terra. S6 compreendi isso quando comecei a compreender sua lingua, Mas nés, os habitantes da fioresta, habitamos aqui hé longu(ssimo tempo, desde que mama ts criou. No comego das coises, aqui s6 havia habitantes da floresta, seres humanost "Awaken ds Yrorart Os brancos clamam hoje: “Nés descobrimos a terra do Brasill”. Isso ndo passa de uma Spiantendectnms i &"eres tomanes"-esoaplen mentira, Ela existe desde sempre e Omama nos criau com ela. Nossos antcestrais 2 ‘amen tose rd ponds Conheciam desde sempre. Ela ndo foi descoberta pelos brancos! Muitos outros povos, sestrinaly sega hrm como os Makuxi, os Wapixana, os Waiwai, os Waimiri-Atroari, os Xavanta, os Kayapé @ 0 Guarani ali viviam também. Mas, aposar disso, os brancos continuam a mentir para si mesmos pensando que descobriram esta terra! Como se ela estivesse vazial Como s@ os seres humanos néo a habitassem desde os primeiras tempos! Os brancos foram criados em nossa fiorasta por Omama mes ele os expulsou porque teria sua falta de sabedoria @ porque eram parigosos para nésI” Ele hes deu uma terra, muito Jonge dagui, pois queria nos proteger de suas epidemias e de suas armas. Foi por isso que ‘8 afastou. Mas esses ancastrais dos brancos falaram a saus filhos dessa floresta e suas palavras se propagaram por muito tempo. Eles se lombraram: “E vordadet Havia If, ao longe, ume outre terra muito belal”,e voltaram para nés. Na margem desta terra do Brasil aonde ‘eles chegaram viviam outros indios, Esses brancos eram pouco numerosos e comecaram a mentr: “Nés, os brancos, somos bons e generosas! Damos presentes e alimentos! Vamos, viver a sou lado nesta terra com vocés! Seremos seus amigos!". Era com assas mesmas ‘mentiras que tentavam nos enganar dasda que também chegaram a nds. Depois dessas primeiras palavras da mentira eles foram embora e Depois vottaram muito POVOS INDIGERAS NO BRASIL s84aIE0-INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL PALAVRAS INDIGENAS| 24 ISA PCC ‘numerosos, No comago, sem casa nesta terra, ainda mastravam amizade pelos indios. Tinham visto a beleza desta floresta e queriam se estabelecer aqui. Mas desde que se instalaram realmente, desde que construiram suas habitagdes e abriram suas plantacdes, desde que comearam a criar gado e a caver a terra para procurar ouro, esqueceram sua amizade. Comegaram a matar as gentes da floresta que viviam perto dates. Nos primeiros tempos, os seres humanos eram muito numerosos nesta terra. Eo que dizer nossos mais velhos. Nac havia doencas perigoses, serampo, gripes, meléia. Estavamos sozinhos, ndo havia garimpeiros pare queimar o our farices para produzir ferro e gasolina, carros e avides. A floresta e os que a habitavam no estavam o tempo todo doentes. Foi apenas quando os brancos se tomaram muito numerosos que sua fumaga-opidemia xavrara comegou & aumentar @ a se propagar por toda parte, Essa coisa mé se tomou muito poderosa e fai assim que as gentes de floreste comegaram a Apri amr vate morrert. Quando viviam sem as brancos nossos ancestrais nfo tinham fabricas, cagavam g ms e trabalnavam em sues plantacdes para fezer crescer seu alimento. Também néo sujavam tain ea todos os ros como esses brancos que agora procuram ouro em nossas terras. Sem doers “Nos descobrimos estas terras! Possuimas os livros e, por isso, somos importantes!” atalioe traurrdi dizem oa brencou Mes so aparaa palavrea de mentia. Gea no fizaram mais que tomar ‘anwou sos vtedon as terras das gemtes da floresta para se pdr a devasté-las, Todas as terras foram criadas a vez, as dos brancos e as nassas, a0 mesmo tempo que 0 céu. Tudo isso existe desde os primeiros tempos, quando Omama nos fez existr. E porisso que no creio nessas, palavras de descobrir a terra do Brasil. Ela nao estava vazia! Creio que as brancos querem ‘sempre se apoderar de nossa terra, por isso que repetem esses palavras. Séo também as ‘dos garimpeiros a prop6sito de nossa floreste: “Os Yanomami n&o habitavam aqui, eles vém ‘de outro lugar! Esta terre estava vazia, queremos trabalhar nelal”. Mas eu, sou filho dos antigos Yanomami, habito a floresta onde viviam os meus desde que nasci e eu n&o digo ‘a todos os brancos que a descobril Ela sempre esteve al, antes de mim. Eu nao digo “Eu dascobri este terra porque meus olhos cairam sobre ela, portanto a possua Ela existe desde sempre, entes de mim, Eu nao digo: “Eu descobri o céu!”. Também ‘no clamo: “Eu descobri as peixes, eu descobri a cagal”. Eles sempre estiveram li, desde os primeiros tempos. Digo simplesmente que também os coma, isso & tudo. 0 Povo das ‘Quando viaji para longe, vi a terra dos brancos, lé onde havia muito tempo viviam Mercadorias seus ancestrais, Visite a terra que eles chamam rope. Era sua floresta, mas eles a desnudaram pouco a pouco cortando suas érvores para construir suas casas. Elesfizeram muitos fihos, no pararam de aumentar, ¢ néo havia mais foresta. Entfo, eles pararam de ccagar, nBo havia mais caga também. Depois, seus fos puseram-se a fabricar mercadorias, seu espirito comegou a obscurecer-se por causa de todos esses bens sobre os quais ‘ixaram seu pensamento. Eles construlram casas de pedra, para que nBo se deteriorassem. Continuaram a destruir a fioresta, dizendo-se: "Nés vamos nos tornar 0 povo das imercadorias! Vamos fabricar muitas delas e dinhsiro também! Assim, quando formos realmente muito numerosos, jamais seremos miserdveis!”. Foi com esse pensamento que les acabaram com sua floresta sujaram seus rios. Agora, s6 bebem agua “embrulheda”, ‘ue precisam comprar, A agua de verdade, a que corre nos ros, ja no 6 boa para beber. 'Nos primeiros tempos, os brancos viviam como nés na floresta e seus ancestrais eram pouco numerosos. Omama transmitiu também a eles suas palavras, mas no o escutaram. Pensaram que eram mentiras ¢ puseram-se a procurar minerais ¢ petréleo por toda parte, todas ossas coisas perigosas que Omama quisera ocultar sob a terra @ a égue porque seu calor é perigoso. Mas os brancos as encontraram e pensaram fazer com elas ferramentas, méquinas, carros ¢ aviGes. Eles se tomaram euféricos e se disseram: “Nas somos os Gnicos 8 ser tio engenhosos, s6 n6s sabemos realmente fabricar as mercadorias e as méquinas|”. Foi nesse momento que eles perderam realmente toda sabedoria. Primeiro estragaram sua propria terra antes de ir trabalhar nas dos outros para aumentar suas mercadorias sem parar, Nunca mais eles se disseram: “Se destruirmos a terra, sera que seremos capazes de recriar uma outra?”. mz |PALAVRAS INDIGENAS POVOSINOISENAS NO BRASIL st920H0.INSTITLTO SOCIOAMIENTAL ‘Quando conheci a terra dos brancos isso me deixou inquieto. Algumas cidades séo belas, mas seu barulho no péra nunca. Eles correm por elas com carros, nas ruas e mesmo com ‘wens debaixo da terra. Hé muito barulho e gente por toda parte. 0 espirito se toma obscuro e emaranhado, néo se pode mais pensar direito. £ por isso que o pensamento dos brancos esta cchelo de vertigem e eles ndo compreendem nossas palavras. Eles nao fazem mais que dizer: “Estamos muito contentes de rodar e de voar! Continuemos! Procuremas petréleo, ouro, ferro! Os Yanomami s80 mentirosos!”. 0 pensamento desses brancos esté obstruido, 6 por 0 que eles maltratam a terra, desbravando-a por toda parte, e a cavam até debaixo de suas casas. Eles nfo pensam que ela vai acabar por desmoronar. Eles ndo temem cair ‘no mundo subterréneo. Porém, é assim. Se os “brancos-espiritos-tatus-gigantes” [mineradoras} entram por toda parte sob a terra para retirar os minérios, eles vo se perder e eair no mundo escura e podre dos ancestrais canibais “oma tonm 'Nés, nés queremos que afloresta permaneca como é, sempre. Queremos viver nela Spenorarsmenosenm ‘com boa saide e que continuem a vivernela os espirtos xapirpé, a cage e os peixes ee Cuttivams apenas as plantas que nos alimentam, néo queremos fébricas, nem ttrenre astra stomps {eres que «fossn parmanogsslvclose, qe 0 chy candaue cleo, que» io SSS ArT alent SOsEe SSeeMT eee TUTE STON Leto Ses SaaS GSES RETRSLNEN ETO aI ee ORIN ‘muito alto no peito do céu. Essa fumaga se dirige para nés mas ainda no chega la, pois o espirito celeste Hutukararia repele ainda sem descanso. Acima de nossa floresta océu ainda é claro, pois no faz tanto tempo que os brancos se aproximaram de nds. Mar bem mus, qunndo au suover'nrt tater sma Ravage cuerpo de estender a escuridéo sobre a terrae de apagar o sol. Os brancos nunca pensam nessas coisas que os xam8s conhecem, é por isso que eles nao tém medo. Seu pensamento ‘esté cheio de esquacimento, Eles continuam a fixa-lo sem descanso em suas bburacosna terra, nem rios sujos. POVOS INOIGENAS NO BRASIL 1862000. ISTTTUTOSOCIOAMOIENTAL PALAVAAS INDIGENAS| 2

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