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São Carlos
2020
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3.3 Células-Tronco 21
4. Referências Bibliográficas 22
3
Fonte: [3]
Era essencial para o desenvolvimento da ciência eugenista a resposta de algumas
perguntas. Primeiro, era preciso descobrir o que causa as variações intra-específicas das
espécies, pois caso essas variações tivessem origem no ambiente, como afirmavam Lamarck
e Galton, uma boa alimentação, boa higiene, educação e melhora nas condições de vida
seriam suficiente para apresentarem uma melhora significativa geral nas características
humanas.
Em segundo lugar, era necessário definir como as informações passavam dos
progenitores à prole e, para isso, Galton acreditava que a pangênese Darwiniana estava
correta. Segundo a pangênese, as informações eram passadas de pais para filhos através de
pequenas partículas vindas de todos os lugares do corpo, chamadas de gêmulas.
Durante a segunda metade do século XX, serão realizados diversos testes muito
importantes que comprovarão, em partes, a existência das gêmulas propostas pela ideia da
6
esta substância apresentava alta massa molecular, postulando inclusive algumas fórmulas
moleculares tais como C22H32N6P2O16 e C29H49N9P3O22.[4]
Figura 2- Tubo de ensaio contendo nucleína isolada de esperma de salmão, por Friedrich Miescher.
Fonte: [4]
Em 1889, Richard Altmann renomeia o termo “nucleína” para “ácido nucleico” após
identificar caráter ácido nesta substância, sendo este último termo o amplamente aceito e
utilizado desde então.[6]
2.2 Albrecht Kossel, Phoebus Levene e George Beadle
que o DNA é uma série de quatro unidades de nucleotídeos, cada um contendo as quatro
bases nitrogenadas numa sequência fixa. Esta teoria é incorreta, e foi apenas dispensada após
o trabalho de Erwin Chargaff no final dos anos 40 e início dos anos 50.[8]
George Beadle (1903 - 1989) foi um geneticista americano laureado pelo Nobel de
Fisiologia ou Medicina em 1958. Beadle e colabores foram responsáveis por propor a
hipótese de “um gene-uma enzima”, que é a ideia de que cada gene é responsável pela
produção de uma enzima específica que afeta o processo metabólico do organismo. Hoje, esta
ideia foi ampliada para “um gene-um polipeptídeo”, visto que os genes não são responsáveis
apenas pela produção de enzimas, mas sim de polipeptídeos no geral.[9],[10]
2.3 Oswald Avery
Fonte [13].
Entretanto, o que chamou a atenção de Griffith (e de outros pesquisadores da época)
foi que ao injetar a cepa R (avirulenta) e a cepa S (virulenta) desativada, os ratos eram
mortos. Griffith propôs então que a cepa R havia se “transformado” na cepa S através de um
“princípio transformador”, porém não descreveu este princípio, até porque não era o objetivo
inicial de sua pesquisa.
No artigo original, submetido em 1943 e publicado em 1944, demoniado “Studies on
the chemical nature of the substance inducing transformation of Pneumococcal types” [11]
,
Avery e seus colaboradores deixam claro que seus objetivos eram de realizar uma análise
mais detalhada no fenômeno que ocorreu nas bactérias observado por Griffith, com maior
interesse em extrair e isolar o princípio ativo que promoveu a transformação (princípio
transformador) e identificar sua identidade química.
Experimentalmente, Avery e seus colabores inicialmente mataram bactérias (cepa S,
virulenta), extraíram componentes salinos, hidrolisaram polissacarídeos com o auxílio de
enzimas e precipitaram proteínas utilizando clorofórmio. Por fim, o “princípio
transformador” foi isolado por precipitação em etanol e analisado com relação às proporções
de carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio e fósforo. Esta análise mostrou que este
“princípio” tinha proporções idênticas a de ácidos nucleicos.
Para confirmar que o “princípio transformador” era realmente DNA, e não RNA ou
proteínas, Avery e seus colaboradores ainda realizaram o seguinte ensaio bioquímico: cepas S
11
foram mortas com calor, sendo polissacarídeos e lipídeos eliminados do meio em seguida.
Em frascos distintos, foram adicionadas diferentes enzimas: no primeiro frasco, adicionaram
proteases (enzimas que clivam proteínas); no segundo, RNAses (enzimas que clivam RNA);
no terceiro, DNAses (enzimas que clivam DNA). Em seguida, adicionaram as soluções dos
três frascos em diferentes culturas de células da cepa R (avirulenta). O resultado foi que
apenas na cultura na qual foi adicionada a solução contendo DNAses não foi observada
transformação das bactérias R (avirulentas) em S (virulentas). Portanto, a conclusão foi que
DNAses inibem a transformação pois clivam o “princípio transformador”, que com este
ensaio, mostrava-se ser o DNA, estando portanto ligado à hereditariedade.
A Figura 4 abaixo mostra sucintamente o ensaio bioquímico realizado por Avery e
seus colaboradores.
Figura 4 - Esquema do experimento realizado por Avery e colaboradores.
Fonte: [14].
Hoje em dia sabemos que o que ocorreu com as bactérias é chamado de
transformação, fenômeno que ocorre quando alguns tipos de bactérias obtém trechos de DNA
de outras bactérias, tendo sua constituição genética alterada.
2.4 Erwin Chargaff
Erwin Chargaff (1905-2002) era austríaco, porém se mudou para os Estados Unidos
em 1935 devido ao regime nazista. Nos EUA, publicou seu maior número de artigos que
tiveram grande importância na história da elucidação da estrutura do DNA.[15]
12
Após ler a publicação de Avery e seus colabores em 1944, que concluía que os genes,
unidades de hereditariedade, eram compostos de DNA, Chargaff ficou impactado, chegando a
dizer que Avery tinha descoberto um novo idioma, e que ele, Chargaff, iria abdicar de seu
trabalho atual para entender melhor os textos neste novo idioma.[15]
A crença inicial de Chargaff era de que se o DNA de diferentes espécies exibiam
atividades biológicas distintas, deveria haver também uma diferença em sua composição
química. Sua preocupação inicial era analisar as porções contendo bases nitrogenadas (Figura
5’) e o anel de 5 membros da desoxirribose de diferentes espécies.[15]
Ao longo de dois anos, Chargaff desenvolveu um método para analisar pequenas
quantias de DNA. Este método era composto de três passos: 1) separação do DNA em
componentes individuais através de cromatografia em papel; 2) os componentes individuais
eram convertidos em sais de mercúrio; 3) purinas e pirimidinas (Figura 5) eram devidamente
identificadas através de seus espectros de absorção na região do ultravioleta.[15]
Figura 5 - Estrutura química de um nucleotídeo.
Fonte: [16].
Após anos de pesquisa utilizando novos métodos para extração e análise do DNA
(como exemplo, utilizando hidrólise com ácido fórmico) de diferentes espécies, Chargaff
publica seu trabalho mais reconhecido, um artigo de revisão, em 1950[17]. Neste artigo,
Chargaff cita duas conclusões importantes, que hoje são denominadas “Regras de Chargaff”.
Estas regras podem ser enunciadas como:
13
Fonte: [17].
Nesta tabela, é possível observar que as regras I e II são obedecidas: as proporções das
bases nitrogenadas é constante (os poucos desvios observados são aleatórios) e há
equivalência nas proporções nos pares adenina/timina e citosina/guanina.
Curiosamente, Chargaff não deu um motivo para que as proporções de adenina/timina
e citosina/guanina. Ou seja, não foi Chargaff que explicou que as bases eram complementares
ou que interagiam por meio de ligações de hidrogênio, sendo este fator essencial para a
elucidação da estrutura tridimensional do DNA anos mais tarde.
Chargaff ainda observou que, na presença de ribose não havia presença da base
timina, mas sim da base uracila. Esta é uma distinção importante entre as moléculas de DNA
(desoxirribose, presença de timina) e do RNA (ribose, presença de uracila).[17]
2.5 Rosalind Franklin
Rosalind Franklin (1920 - 1958) obteve seu PhD em Cambridge em 1945. No período
entre 1946 e 1949, ela trabalhou intensamente em técnicas de difração de raios X em cristais
imperfeitos. Alguns de seus artigos são citados até hoje pois revolucionaram a forma como
químicos e físicos visualizam a microestrutura de compostos de carbono tais como carvão e
grafite. Entre 1951 e 1953, ela trabalhou com o DNA, obtendo a famosa Fotografia 51
14
(Figura 7), que foi determinante para elucidação da estrutura tridimensional do DNA.[18]
Figura 7 - Fotografia 51, obtida por Rosalind Franklin e Raymond Gosling em maio de 1952.
Fonte: [19].
Inicialmente, Franklin observou duas formas distintas de DNA podiam existir,
denominadas por ela de “A” e “B” (Figura 8). A forma A é mais seca e obtida
preferencialmente com 75% de umidade relativa, e cátions (como Na+) são responsáveis por
estabilizar os íons fosfatos ionizados. A forma B é a forma que ocorre in vivo, é uma forma
menos ordenada e totalmente hidratada, produzida preferencialmente com 90% de umidade
relativa. A forma B, por ser mais hidratada, é mais estável e assume a forma de hélice, de
menor energia, e por isso é encontrada in vivo, o que tornava a forma B muito mais difícil de
ser observada através de difração de raios X, porém muito mais interessante de ser
estudada.[18]
Figura 8 - Formas do DNA-A e DNA-B.
Fonte: [20].
15
James Dewey Watson (1928) e Francis Harry Compton Crick (1916 - 2004),
americano e britânico, respectivamente, são hoje os considerados responsáveis por elucidar a
estrutura tridimensional do DNA. Eles acumularam evidências importantes, principalmente
dos dados obtidos por Erwin Chargaff e Rosalind Franklin para propor uma estrutura
adequada e coerente.[20]
Em 1953, eles postularam o modelo da dupla hélice, que consiste em duas hélices de
DNA enroladas em torno de um único eixo longitudinal. Os grupos fosfato e desoxirribose,
hidrofílicos, se situam no lado de fora, permitindo interações importantes com a água do
meio. No interior da hélice, as bases pirimídicas (citosina, timina) e púricas (adenina,
guanina), hidrofóbicas, estão planares e próximas umas das outras, formando um
empilhamento que está praticamente perpendicular ao eixo longitudinal (Figura 9). Vale
ressaltar que, como na época não existiam computadores capazes de gerar imagens
tridimensionais, a estrutura inicial foi feita utilizando modelos moleculares de bola e palito.[20]
16
Fonte: [20].
Outro fator crucial para obter este modelo foi a interpretação realizada por Watson e
Crick dos resultados obtidos por Chargaff anos antes: a regra II de Chargaff citada
anteriormente foi interpretada de tal forma que os pares A/T e C/G se pareassem através de
ligações de hidrogênio (Figura 10), explicando assim suas proporções iguais.
Figura 10 - Ligações de hidrogênio responsáveis pelo pareamento das bases nitrogenadas.
Fonte: [20].
17
amplamente conhecida, e está presente até mesmo em diversas referências da cultura pop de
diferentes culturas.
3. Tecnologias relacionados ao DNA
Fonte: [22].
O processo da PCR é dividido em: Passo 1, inicialização, no qual as polimerases de
DNA são ativas além de ocorrer a desnaturação do DNA original por meio da quebra das
ligações de hidrogênio entre as bases para obtenção de duas fitas de DNA simples, sendo
estes efeitos causados pelo aumento da temperatura para cerca de 95ºC; Passo 2, no qual a
temperatura é reduzida (~68ºC) para que os iniciadores (primers) possam se anelar às fitas
moldes obtidas no Passo 1. Os indicadores são sequências pequenas de DNA de cadeia
simples, que se complementam apenas à extremidade 3’ (terminação hidroxil) das fitas
molde; Passo 3: com a devida complementaridade dos iniciadores, as DNA polimerases
sintetizam uma nova cadeia de DNA através da adição de desoxirribonucleotídeos fosfatados
(dNTPs) livres, adicionados previamente. Com as novas cadeias sintetizadas, o processo pode
ser refeito, o que torna o processo cíclico.[20],[22]
Para o teste de paternidade, o resultado é representado por bandas referentes aos dois
alelos daquele locus, onde um dos alelos deve ser semelhante ao da mãe e o outro ao do pai
biológico. Feito isso, são utilizados cálculos estatísticos para verificar a probabilidade de
compatibilidade biológica.
Vale ressaltar que o método PCR é amplamente utilizado em outras áreas, como
detecção de cânceres e tumores, detecção de infecções por vírus pela detecção do DNA viral,
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clonagem e aplicações diversas na área forense, como identificação do DNA por análise de
fios de cabelo ou até mesmo impressões digitais.[20],[22]
O resultado da PCR é analisado através de eletroforese em gel de poliacrilamida ou de
agarose, no qual é também adicionado um padrão de peso molecular pré-estabelecido.
O método PCR foi desenvolvido em 1983 por Kary Mullis e Michael Smith,
vencedores do prêmio Nobel de Químico de 1993.[22]
Uma variação da PCR é a RT-PCR (reverse transcription polymerase chain reaction),
que transcreve o RNA para DNA (denominado DNA complementar, ou ainda cDNA) através
da enzima transcriptase reversa, seguido da amplificação pelos 3 passos descritos para o
método PCR padrão.
3.3 Células-Tronco
Fonte: [23].
Existem três tipos de células-tronco inicialmente, que são denominadas de
totipotentes, pluripotentes e multipotentes. As células-tronco multipotentes possuem a menor
versatilidade de transformação dentre as células-tronco, e são principalmente encontradas na
medula óssea de adultos, onde elas trabalham para a manutenção e renovação dos nossos
órgãos mesmo na fase adulta.
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[1] THE History of DNA Timeline. DNA Worldwide, 2020. Disponível em:
<https://www.dna-worldwide.com/resource/160/history-dna-timeline>. Acesso em 1 abr.
2020.
[2] ADES, César. Darwin, instinto e mente. Revista Pesquisa Fapesp, mar 2009.
Disponível em: <https://revistapesquisa.fapesp.br/2009/03/01/darwin-instinto-e-mente/>.
Acesso em 10 abr. 2020.
[3] A ORIGEM DAS ESPÉCIES. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida:
Wikimedia Foundation, 2020. Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=A_Origem_das_Esp%C3%A9cies&oldid=57664
001>. Acesso em: 4 abr. 2020.
[4] DAHM, Ralf. Friedrich Miescher and the discovery of DNA. Developmental
Biology, [s.l.], v. 278, n. 2, p. 274-288, fev. 2005. Elsevier BV.
http://dx.doi.org/10.1016/j.ydbio.2004.11.028.
[5] LINFÓCITO. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia
Foundation, 2020. Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Linf%C3%B3cito&oldid=58111338>. Acesso
em: 2 abr. 2020.
23
[15] KRESGE, Nicole. Chargaff's Rules: the Work of Erwin Chargaff. Journal of
Biological Chemistry, 17 de jun. de 2005. Disponível em:
<https://www.jbc.org/content/280/24/e21.full>. Acesso em 9 abr. 2020.
[16] Pray, L. (2008) Discovery of DNA structure and function: Watson and Crick.
Nature Education 1(1):100.
[17] CHARGAFF, Erwin. Chemical specificity of nucleic acids and mechanism of
their enzymatic degradation. Experientia, [s.l.], v. 6, n. 6, p. 201-209, jun. 1950. Springer
Science and Business Media LLC. http://dx.doi.org/10.1007/bf02173653.
[18] ELKIN, Lynne Osman. Rosalind Franklin and the Double Helix. Physics Today,
[s.l.], v. 56, n. 3, p. 42-48, mar. 2003. AIP Publishing. http://dx.doi.org/10.1063/1.1570771.
[19] PHOTO 51. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia
Foundation, 2020. Disponível em:
<https://en.wikipedia.org/w/index.php?title=Photo_51&oldid=952552211>. Acesso em: 12
abr. 2020.
[20] Nelson, David L.; COX, Michael M. Princípios de bioquímica de Lehninger.
Porto Alegre: Artmed, 2011. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
[21] HERSHEY-CHASE EXPERIMENT. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre.
Flórida: Wikimedia Foundation, 2020. Disponível em:
<https://en.wikipedia.org/w/index.php?title=Hershey%E2%80%93Chase_experiment&oldid
=939238664>. Acesso em: 13 abr. 2020.
[22] POLYMERASE CHAIN REACTION. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre.
Flórida: Wikimedia Foundation, 2020. Disponível em:
<https://en.wikipedia.org/w/index.php?title=Polymerase_chain_reaction&oldid=953463271>
. Acesso em: 6 abr. 2020.
[23] CÉLULAS TRONCO. IPCT - Instituto de Pesquisa com Células-tronco,
2020. Disponível em: <http://celulastroncors.org.br/celulas-tronco-2/>. Acesso em: 20. abr.
2020.