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INSTALAÇÕES ELÉTRICAS INDUSTRIAIS

ENE094

RELATÓRIO

Juiz de Fora
2019
GABRIEL SCHREIDER DA SILVA
JOSÉ MIGUEL ZANETTI TRIGUEROS
PEDRO FERNANDES NOGUEIRA
RAÍ NARDELLI MEDINA

CARGAS NÃO-LINEARES

Trabalho de Graduação em Engenharia


Elétrica da Universidade Federal de Juiz de
Fora, pela disciplina de Instalações Elétricas
Industriais, como requisito parcial para a
obtenção de título de Bacharel em Engenharia
Elétrica.

Professora: Débora Rosana Ribeiro Penido Araújo

JUIZ DE FORA
2019
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................. 7

2. NÃO-LINEARIDADE ......................................................................... 8

3. EQUIPAMENTOS NÃO-LINEARES ................................................. 9

3.1. Dispositivos a arco ............................................................................. 9

3.1.1. Fornos a arco ................................................................................... 10

3.1.2. Máquinas de solda a arco ................................................................ 12

3.1.3. Lâmpadas de descarga ................................................................... 13

3.2. Lâmpadas LED ..................................................................................... 17

3.3. Fornos de indução ........................................................................... 18

3.3.1. Forno de indução de núcleo magnético ........................................... 18

3.3.2. Forno de indução sem núcleo .......................................................... 19

3.4. Laminadores .................................................................................... 20

3.5. Transformadores de núcleo saturado .............................................. 21

3.6. Conversores estáticos...................................................................... 24

3.6.1. Conversores de alta potência .......................................................... 24

3.6.2. Conversores de média potência ...................................................... 25

4. DISTÚRBIOS E IMPACTOS NO SISTEMA ELÉTRICO ................. 26

4.1. Introdução ........................................................................................ 26

4.2. Harmônicos ...................................................................................... 28

4.2.1. Fundamentação teórica ................................................................... 28

4.2.2. Análise de Fourier ............................................................................ 30

4.2.3. Valor eficaz ...................................................................................... 31

4.2.4. Distorção Harmônica Total............................................................... 31

4.2.5. Inter-harmônicos .............................................................................. 31

4.2.6. Ressonâncias .................................................................................. 32

4.3. Afundamentos e saltos de tensão .................................................... 33


4.4. Transitórios ...................................................................................... 35

4.4.1. Transitórios impulsivos..................................................................... 35

4.4.2. Transitórios oscilatórios ................................................................... 37

4.5. Flutuações de tensão ....................................................................... 40

4.5.1. Flicker .............................................................................................. 42

4.6. Interrupções de tensão .................................................................... 43

4.7. Desequilíbrios .................................................................................. 44

4.8. Cortes de tensão .............................................................................. 45

4.9. Ruídos.............................................................................................. 46

5. IMPACTOS DAS CARGAS NÃO-LINEARES NO SISTEMA ......... 46

INDUSTRIAL.................................................................................................... 46

5.1. Condutores ...................................................................................... 46

5.2. Transformadores .............................................................................. 48

5.3. Bancos de capacitores ..................................................................... 49

5.4. Sistemas de proteção e medição ..................................................... 51

5.5. Sistemas de iluminação ................................................................... 51

5.6. Fator de potência ............................................................................. 52

5.7. Motores e geradores ........................................................................ 53

6. MEDIDAS MITIGADORAS ............................................................. 54

6.1. Harmônicas ...................................................................................... 54

6.1.1. Sobredimensionamento ................................................................... 55

6.1.2. Filtros passivos ................................................................................ 56

6.1.3. Filtros ativos ..................................................................................... 56

6.1.4. Transformadores .............................................................................. 57

6.1.5. Filtro dessintonizante ....................................................................... 58

6.2. Afundamentos de tensão ................................................................. 60

6.2.1. Aspectos econômicos ...................................................................... 61


6.2.2. Estratégias de acionamento de motores elétricos ........................... 62

6.3. Transitórios ...................................................................................... 65

6.4. Flutuações de tensão ....................................................................... 65

6.5. Interrupções ..................................................................................... 66

6.6. Desequilíbrios .................................................................................. 68

7. REGULAMENTAÇÃO ..................................................................... 68

7.1. Distribuição (ANEEL) ....................................................................... 68

7.1.1. Desequilíbrios de tensão.................................................................. 69

7.1.2. Distorções harmônicas..................................................................... 69

7.1.3. Flutuações de tensão ....................................................................... 71

7.2. Transmissão (ONS) ......................................................................... 72

7.2.1. Desequilíbrios de tensão.................................................................. 73

7.2.2. Distorções harmônicas..................................................................... 73

7.2.3. Flutuações de tensão ....................................................................... 75

7.3. Setor industrial ................................................................................. 76

7.3.1. IEEE 519 .......................................................................................... 76

7.3.2. IEC 61000-2-4.................................................................................. 78

7.3.3. Partidas de motores ......................................................................... 79

7.4. Resumo das referências ....................................................................... 80

APÊNDICE A) ESTUDO SOBRE DESEMPENHO DE FILTRO EM PLANTA


INDUSTRIAL.................................................................................................... 81

A.1) Resumo ................................................................................................ 81

A.2) Descrição da Subestação GERDAU .................................................... 81

A.3) Especificação técnica dos filtros ........................................................... 82

A.4) Análise de desempenho dos filtros harmônicos na SE GERDAU ........ 84

A.5) Conclusão............................................................................................. 85

REFERÊNCIAS................................................................................................ 86
1. INTRODUÇÃO

Um sistema elétrico de potência possui uma enorme variedade de cargas


atreladas a ele. Dentro desse contexto, algo que merece atenção especial dos
operadores do setor elétrico é a mudança no perfil de carga dos consumidores
provocada pela modernização dos equipamentos elétricos utilizados tanto na
indústria quanto no setor residencial. Algumas cargas, devido à sua
característica não-linear, provocam distorções nas tensões e correntes das
barras de alimentação causando perturbações no sistema, o que pode ocasionar
falhas de equipamentos elétricos e diminuição na qualidade do produto entregue
ao consumidor final.
Atenção especial tem sido dada à análise da injeção harmônica,
avaliando-se as origens e consequências das tensões e da circulação de
correntes harmônicas através do sistema de suprimento e distribuição.
Equipamentos eletrônicos estão sendo utilizados em todos os níveis de
tensão, desde linhas de transmissão a circuitos de baixa tensão dentro das
instalações de usuários finais. Cada vez mais, as correntes harmônicas geradas
por consumidores estão se somando às injetadas por complexos industriais e
consumidores do setor de serviços e doméstico, o que pode resultar em uma
diminuição da qualidade da energia elétrica e trazer como consequência o
aumento das perdas elétricas no sistema e, por conseguinte, a diminuição dos
ganhos das empresas do setor.
Torna-se cada vez mais importante a necessidade da avaliação do
impacto de uma nova carga a ser conectada na rede. Para tanto, é necessária,
também, a representação das diversas cargas industriais presentes na rede,
assim como novas cargas adicionadas nas futuras unidades consumidoras.
Portanto, a necessidade por modelagem de equipamentos eletrônicos se faz
tanto pelos equipamentos existentes como pelas novas aplicações.
Também é muito importante levar em consideração o afundamento de
tensão, muito ligado à partida de motores, os transitórios eletromecânicos, a
flutuação de tensão e outros tipos de distúrbios que afetam o sistema industrial.

7
2. NÃO-LINEARIDADE

Uma carga não-linear se caracteriza por uma relação não constante entre
tensão e corrente. A Lei de Ohm que define essa relação deixa de ser válida, já
que a impedância da carga varia ao longo de um período. Sua representação
pode ser feita através de fontes de corrente, com magnitude e ângulos
conhecidos em cada frequência de espectro. A Figura 2.1 mostra um exemplo
de carga não-linear sendo suprida por uma tensão puramente senoidal, mas que
exige correntes que não obedecem a esse perfil.

Figura 2.1: Exemplo de carga não-linear

São alguns exemplos de cargas elétricas não-lineares equipamentos


eletrônicos tais como monitores e computadores, lâmpadas fluorescentes,
retificadores, máquinas de solda, fornos a arco e fornos de indução. As Figuras
2.2 e 2.3 mostram a forma de onda da corrente de um equipamento alimentado
por uma fonte puramente senoidal.

Figura 2.2: Forma de onda da corrente de um computador pessoal [1]

8
Figura 2.3: Forma de onda da corrente de uma lâmpada fluorescente [1]

Com a proliferação dos conversores eletrônicos de potência, amplamente


difundidos no mercado industrial, a rede elétrica passou a apresentar correntes
harmônicas que podem resultar em distorções significativas nas tensões.
Embora estas cargas individualmente produzam quantidades insignificantes de
correntes harmônicas, o efeito de um grande número de tais cargas pode ser
significativo, podendo criar uma série de perturbações para as concessionárias
e para os usuários finais. [1]

3. EQUIPAMENTOS NÃO-LINEARES

Muitos equipamentos presentes no setor industrial não apresentam um


comportamento elétrico linear. Essas cargas são grandes contribuidores de
distúrbios na tensão e corrente em um sistema elétrico industrial e, a seguir,
serão exemplificadas e relacionadas aos seus respectivos problemas.

3.1. Dispositivos a arco

Encontram-se nessas categorias os fornos a arco, máquinas de solda a


arco e lâmpadas de descarga (fluorescente, vapor de sódio e vapor de mercúrio)
que utilizam reatores magnéticos ou circuitos eletrônicos para serem acionadas.
Todos esses equipamentos são produtores de harmônicas devido às
características de tensão e corrente dos arcos elétricos serem não-lineares. [2]

9
3.1.1. Fornos a arco

Os fornos a arco elétrico surgiram no começo do século XX, criados pelo


francês Héroult, e são empregados nas indústrias siderúrgicas destinadas à
fusão do ferro e aço e à produção de ligas de aço a partir da fusão de sucatas.
São assim denominados pois utilizam as propriedades do arco elétrico para
produzirem a fusão dos metais mantidos dentro de uma cuba isolada
termicamente por material refratário.
A ocorrência do arco elétrico está fundamentada na passagem de uma
corrente por eletrodos, tendo como meio ionizado, geralmente o ar. Para ocorrer
a fusão, o calor necessário é gerado através do plasma de arco elétrico que se
estabelece entre os eletrodos (normalmente três, um por fase) de grafite e de
sucata. Para sustentar o arco de corrente alternada no plasma, é necessário que
haja suficiente indutância no circuito de alimentação. Estas indutâncias, ao
mesmo tempo em que estabilizam e limitam a corrente de arco, também impõem
um elevado consumo de reativos. Por isso é comum encontrar baixo fator de
potência em instalações com fornos a arco. No período de fusão, o forno
funciona em média com uma potência ativa 20% superior à sua potência normal
absorvida e com um fator de potência correspondido entre 0,75 e 0,85. Já no
período de refino, quando a carga se acha em estado líquido, a potência ativa
média absorvida pelo forno é aproximadamente 30% de sua potência normal e
com um fator de potência entre os limites de 0,85 e 0,90. Durante o período de
fusão as condições de operação do forno são as mais severas possíveis,
transferindo para o sistema de alimentação grandes perturbações no nível de
tensão. Na imagem a seguir está representado um esquema do forno a arco.

Figura 3.1.1.1: Esquema representativo do forno a arco [3]

10
Os fornos a arco podem ser construídos de três diferentes tipos. Os de
arco direto, mais utilizados atualmente pelas indústrias siderúrgicas, são
constituídos basicamente de uma cuba revestida de material refratário dentro do
qual operam os eletrodos posicionados verticalmente acima da carga de
trabalho. São mais destinados especificamente à fusão de sucata de ferro e aço.
O segundo tipo é o de arco indireto, constituído basicamente de uma cuba
revestida de material refratário dentro da qual operam os eletrodos fixados
horizontalmente num ponto acima da carga de trabalho. Neste caso, o arco é
mantido entre os eletrodos, e a energia térmica atinge a carga através dos
fenômenos de irradiação e convecção.
O terceiro tipo é o arco submerso ou arco-resistência, o qual é constituído
de uma cuba revestida de material refratário dentro da qual operam os eletrodos
submersos na massa da carga de trabalho. São destinados mais
especificamente à produção de diversas ligas de ferro e são comumente
empregados na manutenção do estado líquido da gusa ou aço oriundo de outros
tipos de fornos.
O principal causador de distúrbios sensíveis nos sistemas de suprimento
das concessionárias é o do tipo arco direto. Isso ocorre devido à relação não-
linear entre a tensão de arco e a corrente. Essa não linearidade varia com o
comprimento do arco e com as características do próprio meio condutor do
plasma, como temperatura, pressão, seção transversal, tipo de gás, entre outros.
O comprimento do arco é uma variável de controle, que é exercido através da
elevação dos eletrodos sobre a sucata ou sobre o material fundente. Na fase
mais crítica (a ignição para início da fusão) os eletrodos são abaixados até se
curto-circuitarem através da sucata. Com o início da condução, começa a fase
da fusão e o controle posiciona os eletrodos tentando manter constante a relação
tensão/corrente de arco, ou seja, a resistência do arco. Como esse controle é
lento em relação à dinâmica do próprio arco, a corrente tende a variar bastante
em cada fase. Essas variações provocam a flutuação da tensão da rede,
causando o efeito flicker, e modificam o nível de harmônicas e inter-harmônicas
responsáveis pela distorção e produzindo, além disso, desequilíbrios
momentâneos. À medida que o material vai sendo fundido, o arco se estabiliza
e o nível de perturbações também diminui. Durante a fase final de refino do

11
material, a operação do forno costuma ser estável, com níveis aceitáveis de
flutuação, desequilíbrio e distorção. [4]
Durante a fase de fusão, a corrente pode mudar significativamente em
amplitude e forma. Prevalecem as harmônicas ímpares, mas existem também
componentes pares, indicando uma assimetria de meia onda, o que ocorre
principalmente quando a corrente é baixa, ou seja, o arco é longo. A riqueza do
espectro produzido pelo forno mostra que se trata de uma importante fonte de
harmônicas e inter-harmônicas
No caso dos fornos a arco as harmônicas produzidas são imprevisíveis
devido à variação aleatória do arco. A corrente do arco é não periódica e sua
análise revela um espectro contínuo, onde as harmônicas predominantes são as
inteiras entre a 2ª e a 7ª, sendo que sua amplitude decai com a ordem. Quando
o forno atua no refino do material, a forma de onda se torna simétrica,
desaparecendo as harmônicas pares. Na fase de fusão, as componentes
harmônicas apresentam amplitude de até 8% da fundamental, enquanto no
refino valores típicos são em torno de 2%. [5] [6]

3.1.2. Máquinas de solda a arco

A máquina de solda é um equipamento que transforma a energia da rede


elétrica para a tensão adequada na soldagem, que se inicia assim que um arco
elétrico é criado entre a ponta do eletrodo e o metal base.
O intenso calor gerado funde o eletrodo à superfície da peça nas
proximidades do arco. Pequenos glóbulos de metal rapidamente se formam na
ponta do eletrodo e são transferidos através do arco elétrico para uma poça de
metal que se estabelece sobre a peça, assim o metal é adicionado à medida que
o eletrodo é consumido.
Com o deslocamento do eletrodo e, por consequência, do arco ao longo
da soldagem, o metal base vai se fundindo com o metal do eletrodo. Com
temperaturas superiores a 5000 ºC, o arco elétrico funde-se ao metal base quase
instantaneamente após a abertura do arco.
A corrente elétrica necessária para fundir o eletrodo e o metal de base é
estabelecida por uma tensão entre 16 e 40 V e a corrente entre 20 e 550 A. [7]

12
Figura 3.1.2.1: Formas de onda da tensão e corrente de uma máquina de solda [8]

A figura acima mostra o comportamento não-linear desse equipamento,


comumente citado como um exemplo de carga não-linear geradora de distúrbios
no sistema elétrico, principalmente harmônicos.

3.1.3. Lâmpadas de descarga

As lâmpadas de descarga são compostas por um tubo de arco onde se


produz o efeito luminoso. A radiação luminosa é provocada pelo choque entre
os elétrons e os átomos dos gases que compõem a lâmpada, formando um arco
elétrico entre os eletrodos instalados nas suas extremidades. A energia luminosa
liberada depende da pressão interna da lâmpada, da natureza do gás ou da
presença de partículas metálicas ou halógenas no seu interior. O tubo que
envolve a lâmpada pode ser revestido internamente com material fosforescente
para melhorar a reprodução das cores. Entre as suas principais características
estão a elevada eficiência luminosa e a vida útil prolongada, representando
grandes vantagens em termos de economia de energia. Por outro lado, a
proliferação das lâmpadas de descarga em ambientes residenciais, comerciais,
industriais e na iluminação pública, a despeito de significarem uma diminuição
no consumo de energia elétrica, representa a introdução de distorções
harmônicas significativas nas redes dos sistemas de energia elétrica.
A utilização de lâmpadas de descarga aumenta a taxa de distorção
harmônica. O problema relacionado com a utilização dessas lâmpadas está
associado à não-linearidade do processo de geração do fluxo luminoso, que

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envolve a operação dos reatores utilizados para prover a ignição do arco elétrico.
[9]

Figura 3.1.3.1: Alguns tipos de lâmpadas de descarga [10]

Dentre as lâmpadas de descarga, podemos citar quatro tipos muito


utilizados no geral: as fluorescentes, vapor de sódio, vapor de mercúrio e LED.

I) Lâmpadas fluorescentes: Desde a sua introdução no mercado consumidor


em 1938, as lâmpadas fluorescentes, são conhecidas pela confiabilidade nos
quesitos que mais importa ao consumidor final: luminosidade e economia.
No tocante à eficiência energética, fica evidente a superioridade das
lâmpadas quando comparadas com as lâmpadas incandescentes. Entretanto,
quando se observam os efeitos das lâmpadas fluorescentes sobre a qualidade
da energia elétrica do sistema onde elas são empregadas, verifica-se certo
comprometimento, devido ao surgimento de distorções harmônicas indesejadas
na rede.
As lâmpadas fluorescentes tubulares (LFT) são compostas por um tubo
de vidro revestido de material a base de fósforo, preenchido com gás à baixa
pressão. Para proporcionar seu funcionamento correto, as LFT requerem o
emprego de alguns acessórios, como starter e reator.
O processo de funcionamento, tanto nas LFT quanto nas lâmpadas
fluorescentes compactas (LFC), baseia-se em descargas elétricas bruscas para
a ionização do gás, formação do arco no ambiente gasoso e excitação do fósforo.
Todavia, enquanto nas LFTs o acionamento depende do reator e do starter, nas
LFCs geram-se as descargas a partir de circuitos eletrônicos. As LFT também

14
podem utilizar reatores eletrônicos, mais empregados atualmente. Na Figura
3.1.3.1, é apresentada uma visão do circuito interno de uma LFC.

Figura 3.1.3.1: Circuito interno de uma lâmpada fluorescente compacta

As LFCs causam distorções na forma de onda da corrente na rede, o que,


em baixos níveis, poderia não caracterizar um problema. No entanto, em níveis
mais elevados, a circulação dessa corrente em elementos resistivos originará
tensões que, somadas à fundamental, provocarão distorções na tensão
fornecida. Esta situação pode ocorrer quando há um grande número de LFCs na
instalação elétrica considerada. [10]

II) Lâmpadas a vapor de sódio: A lâmpada a vapor de sódio possui um tubo


de descarga extremamente delgado, constituído de óxido de alumínio
policristalino. A atmosfera na qual o arco circula é constituída com certa
quantidade de mercúrio, além de gases nobres como neônio ou xenônio e o
sódio sendo este último em maior quantidade, e possuem bulbos semelhantes
aos das lâmpadas incandescentes.
O processo de ignição da lâmpada vapor de sódio é semelhante à
fluorescente convencional, é gerado um pulso de tensão, que ioniza o gás
xenônio e facilita a emissão de elétrons entre os eletrodos. A partir deste instante
o reator passa a funcionar como um estabilizador da corrente e o ignitor é
desativado. A figura abaixo mostra os principais componentes desse tipo de
lâmpada.

Figura 3.1.3.2: Lâmpada a vapor de sódio [11]

15
Quando uma lâmpada de descarga é alimentada a partir de uma fonte
alternada, as propriedades da descarga elétrica do gás ou do vapor dependem
da frequência e do tipo de reator. Após a ignição e a estabilização do arco, a
impedância efetiva da lâmpada é aproximadamente equivalente a um resistor
não linear em série com uma indutância. Quando operada em 50 ou 60 Hz, a
impedância da lâmpada muda continuamente através de um ciclo, o que leva a
formas de onda de corrente e de tensão não senoidais, gerando harmônicas. O
processo de acendimento pode durar de três a quinze minutos dependendo do
reator e da lâmpada utilizada. A Figura 3.1.3.3 o comportamento da corrente e
da tensão durante acionamento da lâmpada a vapor de sódio. [11]

Figura 3.1.3.3: Comportamento da tensão e corrente durante o acionamento da lâmpada a vapor de sódio
[11]

III)Lâmpadas a vapor de mercúrio: Esse tipo de lâmpada, geralmente em


forma de bulbo tubular longo, com um eletrodo na extremidade contém vapor de
mercúrio sob baixa pressão, com uma pequena quantidade de gás inerte para
facilitar a partida. Quando a lâmpada é ligada, a passagem de corrente elétrica
através dos filamentos causa o aquecimento dos mesmos e a liberação de
elétrons. Esses elétrons se movimentam de um eletrodo para o outro em
altíssima velocidade, estabelecendo uma descarga elétrica (arco) no vapor de
mercúrio. Esta descarga emite quase que totalmente radiação ultravioleta
(invisível ao olho humano) que por sua vez, será convertida em luz visível pelo

16
pó fluorescente ou pó de fósforo que reveste a superfície interna do bulbo. [12]
O gráfico a seguir representa as harmônicas da lâmpada de vapor de mercúrio:

Figura 3.1.3.4: Conteúdo harmônico da corrente em lâmpadas de vapor de mercúrio [12]

3.2. Lâmpadas LED

As lâmpadas LED representam economia no consumo de energia para


consumidores residenciais, o que estimula seu uso. Entretanto, um conversor
compacto CA-CC é necessário para suprir corrente contínua para a lâmpada, o
que introduz não-linearidade no sistema. Por esse motivo, as lâmpadas LED
geram distorções harmônicas que são injetadas na rede elétrica. Nas Figura
3.1.3.5 é mostrado o histograma para lâmpadas LED tipo bulbo sem nenhum tipo
de filtragem. [13]

Figura 3.1.3.5: Histograma do espectro harmônico de lâmpadas LED [13]

17
3.3. Fornos de indução

O processo indutivo utilizado nos fornos de indução para a fusão baseia-


se no princípio de que uma corrente alternada de intensidade elevada,
atravessando um condutor, gera um campo magnético alternado à sua volta, o
qual induz correntes errantes ou de Foucault na carga metálica, aquecendo-a
diretamente. Os fornos que apresentam esse tipo de comportamento operacional
são divididos em dois grandes grupos: fornos de indução de núcleo magnético e
fornos de indução sem núcleo. [14]

3.3.1. Forno de indução de núcleo magnético

Também chamados de fornos de indução a canal, trabalham geralmente


na frequência da rede. Se prestam, basicamente, à manutenção e
sobreaquecimento de ferro, alumínio e algumas ligas, como bronze e latão. As
vantagens desse equipamento são que, pelo fato de trabalharem com frequência
de linha, podem operar com fator de potência elevado e um rendimento elétrico
bom, além de não necessitarem de conversores de frequência, o que acarreta
numa baixa geração de conteúdo harmônico. [14]

Figura 3.2.1.1: Espectro harmônico típico de fornos de indução a canal [14]

18
3.3.2. Forno de indução sem núcleo

Esse tipo também é conhecido como forno de indução de cadinho ou


coreless. Sua frequência de operação varia desde 60 Hz a 200 Hz, se for do tipo
baixa frequência, ou de 200 Hz até 10.000 Hz, se forem do tipo média frequência.
Esses últimos são utilizados na fusão de ferro, aço-carbono, alumínio, cobre,
prata, ouro e suas respectivas ligas. São adequados quando se quer partir de
carga sólida ou fundir vários tipos de ligas no mesmo forno, desde que sejam
administradas de forma correta para haver o mínimo de contaminação. Por
trabalhar acima da rede, necessitam de conversores de potência em sua
alimentação e injetam um forte conteúdo de harmônicas na rede elétrica.

Figura 3.2.1.2: Espectro harmônico típico de fornos de média frequência [14]

Como é possível observar, comparando as Figura 3.2.1.1 e 3.2.1.2, o nível


de harmônicas típico de um forno a canal é bem menor se comparado com o de
média frequência. A operação do forno sem filtros harmônicos sintonizados na
5ª, 7ª e 11ª ordens, leva a níveis de THD de tensão acima dos limites
recomendados pelas normas na baixa tensão (menor que 5%, pela IEEE
519/1992), bem como o THD de corrente no transformador acima dos limites
recomendados pelos fabricantes desses equipamentos (menor que 15%, a plena
carga). [14]

19
Figura 3.2.1.3: Forno de indução em operação [15]

3.4. Laminadores

A laminação é um processo que consiste em modificar a seção transversal


de um metal na forma de barra, lingote, placa, fio ou tira. Tal processo é realizado
pela passagem entre dois cilindros com geratriz retilínea (para produtos planos)
ou por canais entalhados de forma mais ou menos complexa (para produtos não
planos), sendo que a distância entre os dois cilindros deve ser menor que a
espessura inicial da peça metálica.
É um processo de transformação mecânica de metais muito utilizado, já
que sua produtividade é alta e o produto final apresenta grande precisão.
Utilizam-se variadas disposições de cilindros na laminação, o mais
simples é constituído por dois cilindros de eixo horizontais, colocados
verticalmente um sobre o outro. Este equipamento é chamado de laminador duo
e pode ser reversível ou não. Nos duos não reversíveis, Figura 3.3.1(a), o sentido
do giro dos cilindros não pode ser invertido e o material só pode ser laminado
em um sentido. Nos reversíveis, Figura 3.3.1(b), a inversão da rotação dos
cilindros permite que a laminação ocorra nos dois sentidos de passagem entre
os rolos. No laminador trio, Figura 3.3.1(c), os cilindros sempre giram no mesmo
sentido. Porém, o material pode ser laminado nos dois sentidos, passando-o
alternadamente entre o cilindro superior e o intermediário e entre o intermediário
e o inferior.
À medida que se laminam materiais cada vez mais finos, há interesse em
utilizar cilindros de trabalho de pequeno diâmetro. Estes cilindros podem fletir, e
devem ser apoiadas por cilindros de encosto (apoio), Figura 3.3.1(d). Este tipo
de laminador denomina-se quádruo, podendo ser reversível ou não. [16]

20
Figura 3.3.1: Tipos de laminadores [16]

Como esses equipamentos apresentam variações bruscas de corrente,


são muito citados como fontes de harmônicas e outras distorções no sistema
elétrico. A Figura 3.3.2 mostra um laminador em operação.

Figura 3.3.2: Laminador em operação [17]

3.5. Transformadores de núcleo saturado

O transformador é um dispositivo que funciona em corrente alternada,


utilizado para abaixar ou aumentar o valor da tensão elétrica em um circuito
elétrico por meio da indução eletromagnética. Este equipamento consiste em
duas ou mais bobinas enroladas em torno de um núcleo de material
ferromagnético, de forma que, quando uma bobina é energizada com uma
corrente alternada, o campo eletromagnético gerado pelo fluxo dessa corrente
na bobina induz uma tensão elétrica na outra bobina. Assim uma bobina funciona

21
como a entrada, e a outra como a saída. O núcleo serve para acoplar as duas
bobinas, isso é, facilitar que uma bobina induza uma tensão elétrica na outra
bobina. Os transformadores podem apresentar diversas configurações, de
acordo com o número de fases utilizadas, podendo ser trifásico ou monofásico,
de acordo com as conexões das bobinas, podendo estar em delta ou em estrela,
ou com relação à função do transformador, podendo ser elevador ou abaixador
de tensão.
Em condições normais de operação, os transformadores não geram
harmônicos significativos no sistema elétrico, somente operando fora das
condições normais ou em alguns distúrbios transitórios é que os transformadores
podem aumentar sua contribuição harmônica. Normalmente, os harmônicos
originados de transformadores são resultado de saturação, comutação,
densidade de fluxo elevada e conexões nos enrolamentos.
A curva de saturação (B x H) média do ferro do transformador paralela a
curva da corrente de magnetização, em função do tempo, é apresentada na
figura abaixo.

Figura 3.4.1: curva BxH do material magnético e corrente de magnetização de pico do


transformador

A forma de onda da corrente é periódica, mas não é senoidal e pode ser


decomposta em uma série de harmônicos. Como a onda de corrente é simétrica
em relação ao eixo das abcissas, a decomposição resultará apenas em
harmônicos ímpares. O 3º harmônico é, em geral, o que atinge maiores valores.
A porcentagem de harmônicos superiores da corrente de magnetização é tanto
maior quanto maior for a amplitude da densidade de fluxo.
Para explicar a formação da corrente de magnetização de pico
considerando o terceiro harmônico, será levado em conta a Figura 3.4.2. Uma

22
fonte de tensão senoidal 𝐸𝑎 gera um fluxo de corrente também senoidal, 𝐼𝑎 , com
fase atrasada em relação a 𝐸𝑎 . Estes geram um fluxo magnético Φ1, que pode
ser decomposto em dois componentes, a curva de fluxo da onda fundamental e
a curva de fluxo da componente de 3ª harmônica, a Φ3 . Este fluxo de terceira
harmônica pode produzir uma tensão de terceira harmônica 𝐸3 , e uma corrente
de terceira harmônica, correspondente a 𝐼3 . Esta corrente 𝐼3 , quando somada a
corrente 𝐼𝑎 , resulta em uma corrente total, que é a corrente de pico, como pode
ser observado abaixo.

Figura 3.4.2: Origem da corrente de 3º harmônico e corrente de magnetização de pico em um transformador

Os harmônicos de corrente de magnetização causam maior distorção no


sistema durante os períodos em que a carga a ser alimentada está reduzida
resultando um aumento dos níveis de tensão.
Além disso, o problema de saturação de um transformador, por
sobretensão, torna a corrente de magnetização composta de outros harmônicos
ímpares. Considerando que os harmônicos múltiplos de 3 são retidos no
enrolamento em delta, são geradas correntes harmônicas de ordens 5, 7, 11, 13,
17, 19, ou seja, os mesmos de um retificador de 6 pulsos, de harmônicos 6K ± 1,
onde 𝐾 é inteiro. [18] [19]

23
3.6. Conversores estáticos

Esse equipamento representa uma das fontes mais expressivas de


harmônicas. Para este trabalho, citaremos os dois principais tipos de categorias
que estão relacionados com maior frequência com o setor industrial. [20]

3.6.1. Conversores de alta potência

Com operação na ordem de MW, são muito utilizados nos sistemas de


transmissão de corrente contínua (HVDC) e nos processos eletroquímicos de
redução de metais. Na sua composição, apresenta uma indutância elevada do
lado CC, o que torna o conversor uma fonte de harmônicas de tensão no lado
CC e harmônicos de corrente no lado CA. [20]
Segundo a teoria clássica, há uma grande influência de diversos tipos de
conversores na produção de harmônicas. Por exemplo, um conversor de 𝑝
pulsos gera harmônicas de tensão da ordem 𝑛 = 𝑝𝐾 no lado CC e 𝑛 = 𝑝𝐾 + 1
no lado CA, sendo 𝐾 um número inteiro.
A Figura 3.5.1.1 mostra uma configuração de um conversor de seis pulsos
formado através da conexão série de dois conversores de três pulsos. [21] [22]

Figura 3.5.1.1: Configuração do retificador de seis pulsos [20]

24
3.6.2. Conversores de média potência

Conversores de média potência são aqueles que operam na ordem de


centenas a dezenas de kW. São de grande utilização na indústria, pois
participam do acionamento e controle de máquinas rotativas de corrente
alternada. São dois exemplos dessa categoria de conversores os soft-starters e
o inversor de frequência. [20]
O soft-starter é uma chave de acionamento estático projetada para
acelerar, desacelerar e proteger motores de indução trifásicos, evitando altos
conjugados de aceleração. Seu princípio de funcionamento é baseado nos
tiristores. A figura abaixo é um esquema genérico de um soft-starter.

Figura 3.5.2.1: Soft-starter implementado com 6 tiristores para acionar um motor de indução trifásico

Já os inversores de frequência são equipamentos versáteis e dinâmicos


que permitem controlar a velocidade de motores de indução trifásicos. Estes
dispositivos são responsáveis por converter uma tensão de entrada CA em CC,
em seguida a tensão de saída será novamente convertida em CA, simétrica com
amplitude e frequência desejadas.
Os inversores de frequência podem ser subdivididos em quatro
componentes principais: o retificador, o circuito intermediário, o inversor e o
circuito de controle, como apresentado na Figura 3.5.2.2.

25
Figura 3.5.2.2: Inversor de frequência [35]

O circuito retificador é conectado a uma fonte de alimentação externa


alternada e gera uma tensão contínua pulsante. O circuito intermediário pode
funcionar de três formas, a primeira converte a tensão do retificador em corrente
contínua, a segunda estabiliza ou alisa a tensão contínua e a coloca a disposição
do inversor e a terceira converte a tensão contínua do retificador em uma tensão
alternada variável. É o circuito inversor que gera a tensão e a frequência para o
motor. Por fim, o circuito de controle é responsável por transmitir e receber sinais
do retificador, do circuito intermediário e do inversor, é ele quem envia sinais
para que ocorra o chaveamento dos transistores de potência. Atuando sobre a
taxa de variação do chaveamento dos transistores controla-se a frequência do
sinal trifásico gerado e consequentemente a velocidade do motor.
Como é possível observar na Figura 3.5.2.2, o inversor de frequência é
formado por vários componentes eletrônicos de potência, e devido a isto as
formas de onda da tensão de saída dos inversores são não senoidais e contém
certo conteúdo de harmônica que pode afetar as características dos motores de
indução e seu rendimento.

4. DISTÚRBIOS E IMPACTOS NO SISTEMA ELÉTRICO

4.1. Introdução

A qualidade de energia em uma determinada barra do sistema elétrico é


adversamente afetada por uma ampla variedade de distúrbios, que podem ser

26
caracterizados em transitórios, variações de curta duração, variações de longa
duração e desequilíbrios.
Os transitórios são fenômenos eletromagnéticos oriundos de alterações
súbitas nas condições operacionais de um sistema de energia elétrica.
Geralmente, a duração desses eventos é muito curta, mas, como submetem os
equipamentos a grandes solicitações de tensão e/ou corrente, não devem ser
subestimados.
As variações de tensão de curta duração são, geralmente, causadas pela
energização de grandes cargas que requerem altas correntes de partida. Outra
causa dessas variações podem ser falha intermitente nas conexões dos cabos
do sistema. Dependendo do local da falha e das condições do sistema, pode
acontecer o afundamento de tensão (sag) ou elevação de tensão (swell).
Já as variações de tensão de longa duração apresentam características
muito semelhantes às de curta duração, entretanto, se mantêm no sistema
elétrico por tempos superiores a três minutos. Podem ser causados por saídas
de grandes blocos de carga, perdas de fase, dentre outras.
Outro tipo de distúrbio são os desequilíbrios, que são bastante comuns
nos sistemas de distribuição, os quais possuem várias cargas monofásicas
distribuídas inadequadamente.
Há também diversos outros tipos de distorções, como harmônicos, cortes
de tensão e ruídos. É importante saber quais distorções são mais causadas
pelas cargas não-lineares e que trazem os maiores problemas ao sistema
elétrico industrial.
A Figura 4.1 mostra uma forma de onda perfeita seguida por várias
distorções que podem descaracterizá-la. Nos tópicos seguintes, essas e outras
interferências serão abordadas de forma aprofundada. [23]

Figura 4.1: Distúrbio na qualidade de energia [23]

27
a: tensão puramente senoidal
b: transitório impulsivo
c: transitório oscilatório
d: sag
e: interrupção
f: swell
g: harmônico
h: corte de tensão
i: ruídos
j: inter-harmônicos

4.2. Harmônicos

4.2.1. Fundamentação teórica

Harmônicos podem ser definidos como um conjunto de ondas senoidais


cujas frequências são múltiplas inteiras da frequência da onda senoidal
fundamental (50 ou 60 Hz). As cargas não-lineares são as grandes responsáveis
pelo surgimento de correntes ou tensões que não apresentam uma forma de
onda puramente senoidal, mas sim um somatório de senóides de diferentes
frequências. A figura 4.2.1.1 mostra os diferentes harmônicos contidos em uma
forma de onda não senoidal. Como principais efeitos negativos, destacam-se o
aquecimento em cabos, motores, geradores e transformadores e possibilidade
de ressonância em capacitores. Outros problemas também podem ocorrer, como
mau-funcionamento de equipamentos eletrônicos, aparelhos de medição, relés
e fusíveis. [24]

28
Figura 4.2.1.1: Onda fundamental e suas respectivas harmônicas [25]

Portanto, um sinal de tensão, por exemplo, sem nenhuma componente


harmônica, é expresso pela equação 4.1:

𝑣(𝑡) = 𝑉1 𝑐𝑜𝑠 (𝜔𝑡 + 𝜑) (4.1)

Sendo a velocidade angular do sinal em função da frequência 𝑓


representada por:

𝜔 = 2𝜋𝑓 (4.2)

E 𝑣(𝑡) o valor instantâneo de tensão, 𝑉1 o valor de pico da tensão e 𝜑 o


ângulo de fase.
Como dito antes, um sinal que apresenta distorções harmônicas será um
somatório de diferentes senóides com frequências múltiplas inteiras da
fundamental. Assim, o sinal de tensão que contém diferentes níveis de
harmônicas é representado pela equação 4.3.

𝑣(𝑡) = 𝑉𝐶𝐶 + 𝑉1 cos(𝜔𝑡 + 𝜑1 ) + 𝑉2 cos(2𝜔𝑡 + 𝜑2 ) + ⋯ + 𝑉𝑛 cos(𝑛𝜔𝑡 + 𝜑𝑛 ) (4.3)

29
Sendo 𝑉𝐶𝐶 o valor constante de tensão (componente contínua), 𝑉2 até 𝑉𝑛
os valores de pico da tensão de cada componente senoidal que forma a série e
𝜑2 até 𝜑𝑛 os ângulos de fase.

4.2.2. Análise de Fourier

Qualquer função contínua e periódica, em um intervalo qualquer, pode ser


representada por um somatório de componentes senoidais e uma componente
constante. A partir da análise da Série de Fourier é possível representar o
comportamento físico de um determinado sinal baseado em suas componentes
de frequência. Este procedimento possibilita a reconstrução de um determinado
sinal periódico não senoidal, no domínio da frequência, através de um somatório
de componentes senoidais com diferentes amplitudes. Um sinal 𝑓(𝑡) definido no
intervalo de −𝑇/2 a 𝑇/2, com período 𝑇, pode ser tratado através da série de
Fourier nos termos definidos pela equação 4.4.


𝑎𝑜 2𝜋𝑛𝑡 2𝜋𝑛𝑡
𝑓(𝑡) = + ∑ [𝑎𝑛 𝑐𝑜𝑠 ( ) + 𝑏𝑛 𝑠𝑒𝑛 ( )] (4.4)
2 𝑇 𝑇
𝑛=1

Na qual os coeficientes de Fourier (𝑎𝑛 e 𝑏𝑛 ) são definidos pelas equações 4.5 e


4.6, respectivamente.

𝑇
2 ⁄2 2𝜋𝑛𝑡
𝑎𝑛 = ∫ 𝑓(𝑡)𝑐𝑜𝑠 ( ) 𝑑𝑡 (4.5)
𝑇 −𝑇⁄ 𝑇
2
𝑇⁄
2 2 2𝜋𝑛𝑡
𝑏𝑛 = ∫ 𝑓(𝑡)𝑠𝑒𝑛 ( ) 𝑑𝑡 (4.6)
𝑇 −𝑇⁄ 𝑇
2

Na aplicação prática da análise de Fourier é considerado somente um


número finito de componentes harmônicos, apesar de ser infinita, tanto no
domínio da frequência quanto no domínio do tempo. É usual considerar-se, para
boa precisão de resultados, frequências até a 49ª ordem.

30
4.2.3. Valor eficaz

Dada uma função periódica 𝑓(𝑡), o seu valor eficaz ou rms é dado pela
equação 4.7:

1 𝑇
𝑉𝑟𝑚𝑠 = √ ∫ 𝑓(𝑡)2 𝑑𝑡 (4.7)
𝑇 0

Para uma tensão do tipo apresentado na equação 4.3, temos o valor


eficaz definido como:

𝑉12 𝑉22 𝑉𝑛2


𝑉𝑟𝑚𝑠 = √𝑉𝐶𝐶
2
+ + + ⋯+ (4.8)
2 2 2

4.2.4. Distorção Harmônica Total

A distorção harmônica total é definida em consequência da necessidade


de se determinar numericamente as harmônicas presentes em um dado ponto
de instalação. Há duas formas de medir, uma relacionada com a corrente e outra
com a tensão, mostradas a seguir:

√∑ℎℎ≠1
𝑚á𝑥 2
𝐼ℎ
𝑇𝐻𝐷𝑖 % = ∙ 100% (4.9)
𝐼1
( )

√∑ℎℎ≠1
𝑚á𝑥
𝑉ℎ2
𝑇𝐻𝐷𝑣 % = ∙ 100% (4.10)
𝑉1
( )

4.2.5. Inter-harmônicos

Inter-harmônicas são extremamente semelhantes às harmônicas


diferenciando-se apenas pelo fato de que não são múltiplos inteiros da
31
frequência fundamental da rede. As inter-harmônicas podem ser encontradas em
redes de diferentes classes de tensão. Complementando, existem também as
sub-harmônicas, as quais possuem valores de frequência menores que a
frequência da onda fundamental, e as supra-harmônicas que possuem valores
muito maiores (entre 2 kHz e 150 kHz). Esse distúrbio é um dos causadores do
flicker visual no display de equipamentos. [23]

4.2.6. Ressonâncias

As harmônicas podem causar ressonâncias em circuitos elétricos, já que


a combinação de elementos capacitivos (principalmente os bancos de
capacitores) e de elementos indutivos (como as reatâncias dos transformadores,
linhas de transmissão ou cabos alimentadores) podem gerar um circuito de baixa
impedância para as correntes harmônicas.
Um possível caso de ressonância pode acontecer com os elementos
capacitivos e indutivos em paralelo, como mostrado a seguir:

Figura 4.2.6.1: Sistema com possível configuração de ressonância em paralelo [26]

Vistos da fonte de ressonância, os capacitores atuam em paralelo com a


impedância do sistema. Ignorando a resistência, a impedância equivalente é:
1
𝑗𝜔𝐿 ∙ (𝑗𝜔𝐶 )
(4.11)
1
𝑗𝜔𝐿 + (𝑗𝜔𝐶 )

Assumindo valores constantes tanto para a indutância do sistema quanto


para a capacitância, então, a ressonância pode ser dada por:

32
1
𝜔𝑟 = (4.12)
√𝐿𝐶

Já na configuração mostrada na Figura 4.2.6.2, pode acontecer uma


configuração em série entre os capacitores e a indutância do sistema.

Figura 4.2.6.2: Esquema de uma possível configuração em série [26]

A impedância vista pela fonte tem o valor de:

1
𝑗 (𝜔𝐿 − ) (4.13)
𝜔𝐶

4.3. Afundamentos e saltos de tensão

Também conhecido como sag e swell, esses são os distúrbios mais


significantes que se manifestam nas redes elétricas e podem ser definidos como
um desvio significativo da amplitude da tensão por um curto intervalo de tempo.
Segundo o PRODIST (Capítulo 8.7 da ANEEL) o afundamento de tensão
pode ser dividido em dois casos particulares, o afundamento instantâneo de
tensão e o afundamento momentâneo de tensão.
Para variações instantâneas, o período de duração é de 1/60 segundos
(1 ciclo) a 3 segundos, enquanto que para variações momentâneas, o período é
de 3 segundos a 3 minutos, em ambos os casos ocorre um decréscimo entre 0,1
a 0,9 pu do valor eficaz da tensão nominal. Já pelo IEEE, são classificados três
tipos de afundamentos de tensão, sendo acrescida, em relação ao PRODIST, o
tipo temporário. Nesse caso, é considerado afundamento de tensão instantâneo
de 0,5 a 30 ciclos, momentâneo de 30 ciclos a 3 segundos e temporários entre

33
3 segundos e 1 minuto. Se a intensidade for menor que 0,1 pu, é considerado
pelo IEEE como interrupção.
Os afundamentos de tensão são causados, usualmente, pelas faltas no
sistema, principalmente curtos-circuitos, chaveamento de capacitores, pela
energização de grandes cargas ou partida de motores e pela corrente de
magnetização do transformador.
A seguir está um gráfico que representa a curva de tensão pelo tempo, no
barramento de uma concessionária levando em consideração uma situação
hipotética na qual há a partida de um motor de indução.

Figura 4.3.1: Partida de um motor de indução [28]

Figura 4.3.2: Oscilograma das tensões fase-fase no barramento da concessionária [28]

Esse distúrbio pode causar muitos efeitos prejudiciais dentro de um


sistema elétrico, tais efeitos podem afetar o funcionamento do sistema como um
todo, ou apenas o funcionamento de um equipamento específico. Um dos
principais é o fato de provocar a falha ou a má operação de equipamentos
eletrônicos, pois cada um deles possui um nível de sensibilidade. Outros efeitos
podem ser a redução da vida útil de máquinas rotativas, transformadores, cabos,

34
disjuntores, transformadores de corrente e transformadores de potencial. O
afundamento de tensão também pode impactar no funcionamento dos
equipamentos, como uma pequena redução na velocidade dos motores de
indução e no reativo dos bancos de capacitores, além de provocar uma operação
indevida nos relés de proteção. [27] [28] [29]

4.4. Transitórios

O termo transitório é usado para denotar um evento momentâneo e


indesejável. Um transitório eletromagnético é caracterizado por alterações
súbitas nas condições operacionais de um sistema de energia elétrica.
Geralmente, a duração de um transitório é muito pequena, mas de grande
importância, já que os equipamentos presentes no sistema serão submetidos a
grandes solicitações de tensão e/ou corrente. [30]

4.4.1. Transitórios impulsivos

Um transitório impulsivo é uma súbita alteração não desejável no sistema,


que se encontra em regime permanente, refletido nas formas de onda da tensão
e/ou corrente, sendo unidirecional na sua polaridade.
Em razão da alta frequência, os transitórios impulsivos são amortecidos
rapidamente devido à resistência dos componentes do sistema. Geralmente, não
são conduzidos para muito longe do ponto onde foram gerados. Entretanto,
esses transitórios podem excitar ressonâncias naturais no sistema e provocar
outros tipos de transitórios, como os oscilatórios.
Normalmente são causadas por descargas atmosféricas com frequências
bastante diferentes daquela da rede elétrica. A Figura 4.4.1.1 ilustra a aplicação
de descarga atmosférica na fase A de um determinado sistema elétrico. Já as
Figuras 4.4.1.2 e 4.4.1.3 mostram da corrente atmosférica aplicada nesse
sistema e da forma de onda das tensões fase-fase no receptor, respectivamente.
Note que a aplicação de um transitório impulsivo (nesse caso uma descarga
atmosférica), ocasionou transitórios oscilatórios.

35
Figura 4.4.1.1: Aplicação de uma descarga atmosférica em um determinado sistema elétrico [30]

Figura 4.4.1.2: Corrente proveniente da descarga atmosférica [30]

Figura 4.4.1.3: Tensão fase-fase no receptor do sistema analisado [30]

Em sistemas de distribuição, o caminho mais provável para as descargas


atmosféricas é por meio de um condutor fase, causando altas sobretensões no
sistema. Uma descarga diretamente na fase pode causar um flashover (quebra
de isolamento e curto-circuito na forma de arco entre a linha de transmissão e o

36
cabo para-raios) na linha próxima ao ponto de incidência e pode gerar, além do
transitório impulsivo, uma falta, acompanhada de afundamentos de curta
duração e interrupções.
Existem numerosos caminhos através dos quais as correntes de descarga
podem fluir pelo sistema de aterramento, tais como o terra do primário, o terra
do secundário e as estruturas do sistema de distribuição. Pode-se destacar dois
problemas na qualidade de energia causados por estas correntes no sistema de
aterramento. Um deles é a elevação do potencial do terra local, que, em relação
a outros terras do sistema, pode apresentar uma diferença e afetar
equipamentos eletrônicos que são conectados em duas referências de terra. O
outro é a indução de altas tensões nos condutores fase quando as correntes
passam pelos cabos a caminho do terra.
Descargas atmosféricas ocorridas em nível de transmissão não afetarão
tanto os consumidores atendidos em baixa tensão, já que, desde o ponto de
incidência até as subestações abaixadoras, o valor de máximo é
consideravelmente atenuado. Contudo, os consumidores atendidos em tensão
de transmissão estarão sujeitos aos efeitos da descarga, que pode danificar
alguns equipamentos de suas instalações. [30]

4.4.2. Transitórios oscilatórios

Também como para o caso anterior, um transitório oscilatório é uma súbita


alteração não desejável da condição de regime permanente da tensão, corrente
ou ambas, em que as mesmas incluem valores de polaridade positivos ou
negativos. Podem ser classificados como oscilatórios de baixa, média ou alta
frequência.
Um transitório com uma componente de frequência primária menor do que
5 kHz e duração entre 0,3 a 50 ms é considerado de oscilatório de baixa
frequência. São frequentemente encontrados no sistema de subtransmissão e
de distribuição e podem ser causados por vários tipos de eventos. O mais
comum provém da energização de banco de capacitores, que tipicamente resulta
em uma tensão transitória oscilatório com uma frequência primária entre 300 Hz
e 900 Hz, com pico de magnitude podendo alcançar 2,0 pu, mas com valores
típicos de 1,3 pu a 1,5 pu, com duração entre 0,5 a 3 ciclos. A figura abaixo

37
(4.4.2.1) apresenta um sistema composto por uma concessionária e um banco
de capacitores. A tensão no barramento e a corrente no banco encontram-se
ilustradas nas Figuras 4.4.2.2 e 4.4.2.3, respectivamente.

Figura 4.4.2.1: Energização de um banco de capacitores [30]

Figura 4.4.2.2: Tensão fase-fase no barramento de conexão do banco de capacitores [30]

Figura 4.4.2.3: Corrente no banco de capacitores [30]

38
Transitórios com componentes de frequência entre 5 kHz e 500 kHz, com
duração média de dezenas de microssegundos são classificados como
oscilatórios de média frequência. Podem ser causados pelo chaveamento de
disjuntores para a eliminação de faltas e também pode ser o resultado de uma
resposta do sistema a um transitório impulsivo.
Por último, caracteriza-se como transitórios oscilatórios de alta frequência,
aqueles cujo componentes de frequência estão acima de 500 kHz e têm duração
típica medida em microssegundos. São frequentemente causados por uma
resposta local do sistema a um transitório impulsivo. Também podem ser
causados por chaveamento de circuitos indutivos. A desenergização de cargas
indutivas pode gerar impulsos de alta frequência. Apesar de serem de curta
duração, podem interferir na operação de cargas eletrônicas. A Figura 4.4.2.4
apresenta um sistema onde será desenergizado uma carga indutiva. As Figuras
4.4.2.5 e 4.4.2.6 apresentam, respectivamente, as tensões fase-fase no
barramento de conexão da carga e a corrente no sistema.

Figura 4.4.2.4: Desenergização de uma carga indutiva [30]

Figura 4.4.2.5: Tensões fase-fase no barramento da carga indutiva [30]

39
Figura 4.4.2.6: Corrente do sistema [30]

4.5. Flutuações de tensão

Flutuações na tensão são variações sistemáticas dos valores eficazes de


tensão, ou uma série de mudanças aleatórias, cujas magnitudes normalmente
não excedem a faixa de valores preestabelecidos (geralmente entre 0,95 pu a
1,05 pu). São, em geral, provocadas pelas alterações rápidas nas potências
ativas e reativas das cargas elétricas, como em fornos a arco.
As flutuações se manifestam de diferentes formas. Uma delas, chamada
de flutuações aleatórias, são, na maior parte, causadas por fornos a arco em que
as amplitudes das oscilações dependem do estado de fusão do material e do
nível de curto-circuito da instalação.
Outro tipo de flutuação é a repetitiva, que são causadas por máquinas de
solda, laminadores, elevadores de minas e ferrovias.
O terceiro e último tipo de flutuação recebe a classificação de esporádicas,
que está relacionada com a partida direta de grandes motores e causa oscilação
de potência e torque nas máquinas elétricas, queda do rendimento de
equipamentos elétricos, interferência nos sistemas de proteção e o efeito flicker.
Como exemplo da geração de flutuação de tensão, considere o sistema
apresentado na Figura 4.5.1. Este sistema é composto por uma concessionária
e um grande motor, cujo conjugado de carga varia repetitivamente com o tempo.
[31]

40
Figura 4.5.1: Sistema a ser analisado a flutuação de tensão [31]

As Figuras 4.5.2 e 4.5.3 apresentam, respectivamente, as formas de onda das


tensões fase-fase no barramento da concessionária e os seus valores eficazes.

Figura 4.5.2: Formas de onda das tensões fase-fase no barramento da concessionária

Figura 4.5.3: Tensões eficazes fase-fase no barramento da concessionária

41
4.5.1. Flicker
Cargas industriais que exibem variações contínuas e rápidas de
magnitude da corrente podem causar variações na tensão que são
frequentemente referidas como flicker ou oscilação. Dos itens de avaliação da
qualidade da tensão, o efeito flicker apresenta destacada importância, já que
seus principais efeitos se manifestam sobre as pessoas na forma de incômodo
visual, irritação, perda de concentração e, em casos extremos, problemas
neurológicos.
Há diversos métodos para a avaliação do flicker. Entretanto, pode-se
destacar alguns fundamentos comuns, como, por exemplo, a adoção da
lâmpada incandescente como referência.
O método padrão, proposto pela UIE (União Internacional de
Eletrotermia), foi idealizado com o objetivo de unificar, em nível internacional, os
critérios de medição mais difundidos. Para a realização da análise estatística,
devem-se correlacionar os níveis de flicker e as correspondentes porcentagens
no tempo de duração. Deste modo, os níveis instantâneos de flicker são
classificados, ou seja, são organizados de forma a obter a distribuição de
frequências da amostra e, por conseguinte, a correspondente Curva Função de
Probabilidade Acumulada (FPC), em pu.
Pelo que foi apresentado em relação às FPCs, no tocante às diferenças
entre os resultados para cada tipo de distúrbio, constata-se a necessidade do
estabelecimento de um único critério que quantifique a severidade de flicker,
independentemente da forma do distúrbio. Esse critério, de acordo com o Método
Padrão UIE, baseia-se na conversão da curva FPC em um índice representativo
da severidade de flicker. Para tal, o procedimento adotado pela UIE, foi o
desenvolvimento de um algoritmo que avaliasse a curva FPC em múltiplos
pontos. Assim, este processo requer o cálculo de duas variáveis, o PST, que é
o índice de severidade pelo método de curta duração e o PLT, pelo método de
longa duração.
O nível de severidade do flicker de curta duração é calculado pela
equação 4.14:

42
𝑃𝑆𝑇 = √(𝐾1 𝑃1 ) + (𝐾2 𝑃2 ) + ⋯ + (𝐾𝑛 𝑃𝑛 ) (4.14)

Onde 𝑃𝑆𝑇 é o valor correspondente ao índice de severidade de flicker de


curta duração; 𝐾1 até 𝐾𝑛 são coeficientes de ponderação e 𝑃1 até 𝑃𝑛 são as
probabilidades de determinados níveis de flicker serem excedidos.
Para a obtenção de um número adequado de pontos e de coeficientes,
foram feitas diversas análises e avaliações de resultados que levam em conta a
magnitude e o incômodo ao olho humano. Assim, chegou-se à expressão
resultante equivalente a equação 4.15.

𝑃𝑆𝑇 = √0,0314 ∙ 𝑃0,1 + 0,0525 ∙ 𝑃1 + 0,0657 ∙ 𝑃3 + 0,28 ∙ 𝑃10 + +0,08 ∙ 𝑃50 (4.15)

Já a avaliação do nível pelo flicker pelo método da longa duração depende


do método de curta duração e é expresso pela equação 4.16. [31]

12 1/3
1
𝑃𝐿𝑇 = [ ∑(𝑃𝑆𝑇𝑖 )3 ] (4.16)
12
𝑖=1

4.6. Interrupções de tensão

A interrupção é a desenergização do sistema elétrico que pode ser


causada por eventos planejados ou por eventos imprevisíveis. Dos eventos
planejados, é possível citar o desligamento parcial ou total do sistema para
realização de manutenção nos equipamentos ou manobras como
seccionamento. Com relação aos eventos inesperados, o mais frequente é o
curto-circuito.
As interrupções podem ser classificadas como instantâneas,
momentâneas ou temporárias, que podem causar desligamento de
equipamentos, parada de processos produtivos, além de falhas de
equipamentos eletrônicos e de iluminação.

43
Como já visto anteriormente, no tópico de afundamento e salto de tensão,
caso um distúrbio desse tipo atinja níveis menores que 0,1 pu, torna-se uma
interrupção, segundo o PRODIST. [23] [27]

4.7. Desequilíbrios

O desequilíbrio em um sistema elétrico trifásico é uma condição na qual


as três fases apresentam diferentes valores de tensão em módulo ou defasagem
angular entre fases diferentes de 120º elétricos ou, ainda, as duas condições
simultaneamente.
As origens destes desequilíbrios geralmente são nos sistemas de
distribuição, os quais possuem cargas monofásicas distribuídas
inadequadamente, fazendo surgir no circuito tensões de sequência negativa.
Este problema se agrava quando consumidores alimentados de forma trifásica
possuem uma má distribuição de carga em seus circuitos internos, impondo
correntes desequilibradas no circuito da concessionária. Tensões
desequilibradas podem também ser resultados da queima de fusíveis em uma
fase de um banco de capacitores trifásicos.
A causa de desequilíbrios também pode vir do sistema de transmissão.
Linhas de transmissão com disposição física assimétrica e sem transposição irá
apresentar impedâncias diferentes para cada fase. [32]

Figura 4.7.1: Um sistema trifásico desequilibrado e sua decomposição em três sistemas equilibrados [56]

A principal consequência do desequilíbrio de tensão é o aumento das


perdas elétricas, em outras palavras, sistemas elétricos desequilibrados ou
desbalanceados provocam aumento considerável das perdas elétricas

44
contribuindo para o desperdício de energia elétrica. Soluções para a correção de
redes desbalanceadas são, portanto, além de adequações econômicas e
operacionais, ações sustentáveis do ponto de vista ambiental.
A Figura 4.7.1 apresenta o comportamento da elevação de perdas em
motores devido ao desequilíbrio de tensão na alimentação. O que se pode
observar é que valores da ordem de 2% de desequilíbrio impõem ao motor
alimentado aumento de perdas da ordem de 8%. Valores acima de 1% de
desequilíbrio costumam ser objeto de análise das causas, notadamente em
sistemas de distribuição.

Figura 4.7.2: Relação entre perdas em motores e nível de desequilíbrio [55]

4.8. Cortes de tensão

Voltage notching ou corte de tensão é a condição na qual a magnitude da


tensão cai para zero por um tempo muito breve gerando uma distorção na forma
de onda. Essa distorção na forma da onda é mais comumente causada pela
comutação da corrente por dispositivos da eletrônica de potência. Já os
principais efeitos são problemas de operação nos dispositivos de medição e
proteção.
Para identificar o fenômeno é necessário um equipamento que possua
uma taxa de amostragem de 512 amostras por ciclo. [33]

45
Figura 4.8.1: Onda senoidal com presença de cortes de tensão [33]

4.9. Ruídos

O ruído é definido como um sinal elétrico indesejado, contendo uma larga


faixa espectral com frequências menores que 200 kHz, as quais são superpostas
às tensões ou correntes de fase, ou encontradas em condutores de neutro.
Podem ser causados por chaveamento de equipamentos da eletrônica de
potência, circuitos de controle, equipamentos a arco, retificadores a estado
sólido e fontes chaveadas e radiações eletromagnéticas. Os ruídos provocam
distúrbios em equipamentos eletrônicos, como computadores e controladores
programáveis, podendo ser solucionado com o uso de filtros e aterramento. [23]

5. IMPACTOS DAS CARGAS NÃO-LINEARES NO SISTEMA


INDUSTRIAL

5.1. Condutores

Em cabos condutores, os dois principais efeitos das componentes


harmônicas são as perdas ao longo do circuito e a queda de tensão. As perdas
adicionais se devem ao fato do aumento do valor rms da corrente que passa pelo
cabo como é apresentado na equação:

46
𝐻

𝐼𝑆 = √𝐼12 + ∑ 𝐼ℎ2 (5.1)


ℎ≠1

Em que 𝐼𝑆 é o valor rms total da corrente em questão, 𝐼1 é a amplitude da


corrente de frequência fundamental, 𝐼ℎ é a amplitude da corrente de frequência
ℎ e 𝐻 a ordem de harmônico máximo. As perdas nos circuitos então podem ser
dadas por 𝑅𝐼𝑆2 , potência que será dissipada na forma de calor que pode
comprometer o isolamento dos cabos condutores. Como consequência, o
aumento na impedância do sistema devido ao efeito pelicular e aos efeitos de
proximidades, proveniente do efeito dos campos magnéticos produzidos pelos
demais condutores colocados na vizinhança, levam a um aumento nas quedas
de tensão ao longo do circuito. [34]
Além disso, a maioria das cargas eletrônicas monofásicas conduzem
corrente somente no pico de tensão, gerando no cabo neutro a seguinte forma
de onda:

Figura 5.1.1: Soma da corrente de neutro num sistema trifásico a quatro fios [44]

Em outras palavras, o cabo neutro que normalmente (em um sistema em


que é feito o equilíbrio entre as fases) é dimensionado com base no cabo que
carrega a fase, deve ser redimensionado. Caso o condutor do neutro não esteja
corretamente dimensionado para suportar essas correntes, ele pode
sobreaquecer acima da sua capacidade, causando perigo a instalação elétrica.

47
Ainda, as cargas não lineares podem não estar bem divididas entre as fases
causando um aumento na diferença da corrente de neutro.

5.2. Transformadores

Nos transformadores também pode ser observado um aquecimento


adicional devido ao aumento das perdas pela presença de componentes
harmônicas na corrente. Além disso, pode haver também os problemas de
ressonância descritos anteriormente. As componentes harmônicas na tensão
aumentam também as perdas por histerese e correntes parasitas no núcleo do
transformador, aumentando também o estresse na isolação da laminação do
núcleo. Vale lembrar que essas perdas no núcleo do transformador variam
conforme a construção do núcleo.
Em transformadores que estão na interface de sistemas AC/DC sofrem
mais com as perdas no cobre pois estes não se beneficiam de filtros para as
componentes harmônicas. Outro ponto importante a ser ressaltado é que em
transformadores com enrolamento ligado em delta podem vir a ser
sobrecarregados por causa das componentes harmônicas múltiplas de três da
sequência zero, visto que essa sequência se mantém circulando no delta do
transformador. Nos gráficos abaixo, é apresentado um estudo quantificando a
diminuição da vida útil de um transformador na presença de harmônicos e
corrente contínua e de tensão. [35]

Figura 5.2.1: Relação entre THD de corrente e vida útil de um transformador [35]

48
Figura 5.2.2: Relação entre THD de tensão e vida útil de um transformador [35]

Nota-se nas figuras acima que a perda da vida útil de um transformador é


mais severa devido a uma elevada THD de corrente, do que a uma elevada THD
de tensão. Esta preocupação com a vida útil torna-se relevante pois é comum
encontrarmos THD de corrente da ordem de 10-30% em diversas aplicações.
Normalmente, para evitar a diminuição da vida útil dos transformadores
na presença de correntes harmônicas, é realizado um superdimensionamento
do mesmo. Esse superdimensionamento é calculado a partir do fator K, e é
aconselhado para transformadores com distorção harmônica de corrente
superior a 5%. [35]

5.3. Bancos de capacitores

Os bancos de capacitores utilizados para a correção do fator de potência


têm como objetivo a obtenção de uma corrente com ângulo de fase adiantado,
para compensar correntes atrasadas produzidas por uma carga indutiva. Estes
bancos são extremamente sensíveis à presença de harmônicas. Como a
impedância dos capacitores diminui com o aumento da frequência, estes
naturalmente funcionam como filtros de harmônicos, absorvendo parte das
elevadas correntes harmônicas para si. Essa passagem de corrente não prevista
pode causar problemas de aquecimento, perda de vida útil e até explosões dos
mesmos devido à ressonância paralela.

49
Como visto no item 4.2.6, o efeito da ressonância pode ser classificado
como série ou paralela. No caso da ressonância série, são provocadas
sobrecorrentes que danificam os capacitores. Já na ressonância paralela a
tensão assume valores muito elevados. [36]
De acordo com [37], são mencionadas três principais consequências da
circulação de harmônicas nas barras onde o banco de capacitor está instalado:
Uma delas, é que a presença de harmônicas de tensão pode gerar
aumento da tensão eficaz da barra e o seu valor de pico. Este ocasiona
descargas parciais e deterioração do isolamento dos capacitores.
Pode haver também um aumento da corrente nominal. Harmônicas
presentes na corrente podem gerar o aumento da corrente eficaz e o valor de
pico da mesma. Este ocasiona sobre aquecimentos localizados e instabilidades
no comportamento dielétrico dos capacitores;
Por fim, pode ocorrer um efeito combinado entre tensão e corrente. O
comportamento não senoidal da tensão e corrente com variações bruscas gera
também variações bruscas no campo elétrico interno entre as placas. Esta
variação gera a deterioração das características dielétricas do capacitor.
Para se evitar a perda ou diminuição da vida útil do banco de capacitores
é necessário que seja realizado um estudo prévio de ressonância no sistema
onde o banco deve ser instalado para se garantir que a frequência de
ressonância paralela não coincida com a frequência de um harmônico presente
na rede, gerando uma sobretensão. Na figura a seguir, está evidenciada a
diminuição da vida útil de um capacitor quando submetido às sobretensões.

Figura 5.3.1: Relação entre sobretensão num capacitor e a diminuição do tempo de vida útil

50
5.4. Sistemas de proteção e medição

Harmônicos alteram e degradam as características operativas de relés de


proteção dependendo da composição e dos princípios de operação do sistema.
Relés que têm funcionamento numérico ou digital e que se apoiam nos dados da
amostragem ou nos cruzamentos com o eixo do tempo são os mais propensos
a erro quando há distorção harmônica no sistema como por exemplo o notching.
Além disso, outros fatores como o tempo de atuação, corrente de partida e
conjugado do relé também podem ser influenciados pela presença deste
distúrbio. [26]
Componentes harmônicas afetam também a operação de disjuntores.
Uma alta variação na corrente de sequência zero pode fazer o processo de
interrupção de circuito mais difícil para estes componentes, uma vez que a
presença de harmônicas causa deformação da onda, podendo gerar mais
passagens por zero em um ciclo ou variando o valor de pico da onda. Apesar
disso, disjuntores a vácuo se mostraram menos sensitivos a estas variações. Em
fusíveis, as correntes harmônicas afetam a corrente nominal que o fusível opera,
além de afetar também o comportamento tempo e corrente do elemento. [20]
Quando se trata dos dispositivos de medição que operam com base no
disco de indução, como medidores de energia, projetados para operarem apenas
com correntes fundamentais, estes são muito sensíveis a componentes
harmônicas, podendo apresentar erros nas medições que dependem da
harmônica presente. Em geral a distorção deve ser elevada (>20%) para produzir
erro significativo. [38]

5.5. Sistemas de iluminação

As distorções harmônicas podem interferir diretamente na vida útil das


lâmpadas, tendo efeitos diferentes para cada tipo. As lâmpadas incandescentes
sofrem significativamente com as distorções pois o sobre aquecimento do
filamento de tungstênio interrompe sua atuação de forma prematura. O
fenômeno mais conhecido devido às harmônicas nas lâmpadas de descarga é
um ruído audível. Lâmpadas com reatores eletrônicos são mais imunes às

51
harmônicas quando comparadas às lâmpadas com reatores eletromagnéticos
nos aspectos de potência, fator de potência, eficiência e luminosidade. [39]

Figura 5.5.1: Espectro harmônico de amplitude da corrente em lâmpadas [70]

5.6. Fator de potência

Na presença de distorções harmônicas nas instalações elétricas o


triângulo de potências recebe uma terceira dimensão que corresponde a
potência aparente necessária para suprir a distorção da frequência fundamental.
[36]
O fator de potência real ou 𝑓𝑝, leva em consideração, além da defasagem
entre a corrente e a tensão, os ângulos de defasagem de cada harmônica e a
potência reativa para produzi-las. O valor do fator de potência real considera o
valor do índice de distorção harmônica total da corrente 𝑇𝐻𝐷𝑖 .

𝑐𝑜𝑠𝜑
𝑓𝑝 = (5.2)
√1 + 𝑇𝐻𝐷𝑖2

Analisando a nova dimensão que surge no triângulo de potência com


harmônicas, temos a seguinte relação:

𝑆 2 = 𝑃2 + 𝑄 2 + 𝐻 2 (5.3)

52
Portanto, a distorção da potência aparente, 𝐻, será definida a partir da
equação abaixo:

𝐻 = √𝑆 2 − 𝑃2 − 𝑄 2 (5.4)

No qual 𝑃 é a potência ativa, 𝑄 é a potência reativa e 𝑆 é a potência


aparente.

Figura 5.6.1: Tetraedro de potência [45]

5.7. Motores e geradores

Em motores e geradores, as distorções harmônicas de tensão nos


terminais das máquinas, geram fluxos harmônicos que, por conseguinte,
induzem correntes harmônicas no rotor. Este distúrbio pode gerar efeitos como
aquecimentos elevados nas barras do rotor e nos enrolamentos do estator
devido ao aumento das perdas no ferro e no cobre, implicando em uma
diminuição da eficiência e do torque disponível, além de provocar vibrações. É
possível ainda que ocorra aumento do ruído audível quando comparado com
alimentação puramente senoidal. O sobreaquecimento que pode ser tolerado
depende do tipo de rotor utilizado. Rotores bobinados são mais seriamente
afetados do que os de gaiola. No caso dos motores de gaiola com barras
profundas, onde a impedância do rotor aumenta com a frequência, podem surgir

53
pontos quentes significativos para distorções harmônicas na tensão superiores
a 10%. O efeito acumulativo do aumento das perdas reflete-se numa diminuição
da eficiência e da vida útil da máquina. A redução na eficiência é de 5% a 10%
dos valores obtidos com uma alimentação senoidal.
Algumas componentes harmônicas, ou pares de componentes podem
instigar oscilações mecânicas em sistemas turbina-gerador ou motor-carga,
devido a uma potencial excitação de ressonâncias mecânicas (POMILIO, 1997).
Outro fato interessante, é o de que a sequência da componente harmônica pode
influenciar diretamente no funcionamento da máquina. As harmônicas de
sequência positiva tendem a fazer o motor girar no mesmo sentido da
componente fundamental, provocando uma sobrecorrente nos seus
enrolamentos, já harmônicas de sequência negativa fariam o motor girar em
sentido contrário ao giro produzido pela fundamental, provocando a frenagem do
motor e causando aquecimentos. Harmônicas de sequência zero não provocam
efeitos no sentido de rotação do motor, porém somam-se algebricamente no
condutor neutro, causando problemas para outros equipamentos do sistema
elétrico.
Em [42] é realizado um estudo sobre a vida útil do isolamento de motores
quando estes são submetidos aos desbalanceamentos de tensão e harmônicos.
Neste estudo, os motores foram analisados através do seu modelo térmico,
montado a partir de informações de placa, propriedades térmicas e coeficientes
de transferência térmica. Foi constatado que existe uma considerável diminuição
do tempo de vida do isolamento quando os motores são alimentados por tensões
distorcidas. Esta informação foi comprovada através de simulações como a de
uma máquina que é alimentada por uma fonte de tensão com THD igual a 7,4%
e um leve desequilíbrio entre as fases (3%). Operando em carga nominal, a
redução de vida útil do isolamento desta máquina elétrica foi de 24,3 %. [38] [40]
[41] [43]

6. MEDIDAS MITIGADORAS

6.1. Harmônicas

54
6.1.1. Sobredimensionamento

Tendo em conta que os efeitos negativos das correntes harmônicas


aumentam com a impedância cumulativa de cabos e fontes, a solução óbvia é
limitar a impedância total de forma a reduzir tanto a distorção da tensão como a
subida da temperatura. A Figura 6.1.1.1 mostra os resultados quando as secções
transversais dos cabos e a potência nominal fonte são duplicados. Dado que o
THD depende essencialmente do componente indutivo e, desta forma, do
comprimento dos cabos, fica claro que a solução não é muito eficaz e tem como
resultado limitar simplesmente a subida da temperatura. A Figura 6.1.1.2 mostra
que, para as correntes harmónicas mais fortes (3ª e 7ª), a proporção 𝐿𝜔/𝑅 é
igual a 1 para os cabos com uma secção transversal de 36 mm 2.
Consequentemente, acima de 36 mm2, é necessário reduzir a impedância,
utilizando um cabo de núcleos múltiplos para criar impedâncias paralelas. [46]

Figura 6.1.1.1: Aumento das seções transversais dos cabos para limitar as distorções e perdas [46]

Figura 6.1.1.2: Influência da seção transversal na impedância [46]

55
6.1.2. Filtros passivos

Um filtro passivo caracteriza-se pelo uso somente de elementos passivos,


como resistores, indutores e capacitores, no processo de filtragem de sinais. Os
filtros passivos têm tradicionalmente sido usados para absorver correntes
harmônicas geradas por grandes cargas industriais devido ao baixo custo e alta
eficiência. Existem quatro tipos diferentes de filtros de harmônicos passivos:
notch ou corte (indutor em paralelo com o capacitor), 1ª ordem (capacitor em
série com resistor), 2ª ordem (resistor em paralelo com indutor e ambos em série
com capacitor), 3ª ordem (resistor em série com capacitor, ambos em paralelo
com o indutor, e todos em série com o capacitor). [46] [47]

Figura 6.1.2.1: Filtros passivos de 1ª, 2ª e 3ª ordens, respectivamente [47]

6.1.3. Filtros ativos

Os filtros ativos (também chamados de condicionadores ativos), cancelam


as harmônicas injetando correntes iguais onde elas surgem. Este tipo de filtro
reage em tempo real (por isso o nome) para eliminar as harmônicas existentes.
É melhor em relação aos filtros passivos pois têm desempenho melhor (é
possível eliminar harmônicas até a 50ª ordem) e são mais flexíveis em relação à
configuração. [46]

56
Figura 6.1.2.2: Possível configuração de filtros ativos [64]

Na tabela abaixo, encontrada num catálogo de filtros de uma fabricante


[46], foram elencadas algumas estratégias possíveis para conviver com as
harmônicas, ou eliminá-las parcialmente ou completamente.

Tabela 6.1.3.1: Tabela para lidar com as harmônicas [46]

6.1.4. Transformadores

O transformador convencional não transporta energia entre seus


enrolamentos em altas frequências. Dessa forma, esse tipo de equipamento
pode ser utilizado como um filtro, impedindo que o ruído gerado por harmônicas
no lado primário chegue à carga. A recíproca é verdadeira, ou seja, todo ruído
gerado pela carga não é ‘jogado’ na rede. O transformador utilizado como filtro,
com relações de espirar 1 pra 1 recebe o nome de transformador isolador. [48]
57
Além disso, outra forma de usar um transformador com a finalidade de
diminuir o efeito das harmônicas é utilizar algo negativo a seu favor. O fato de as
correntes de 3ª harmônica ficarem circulando nos enrolamentos de um
transformador com conexão em delta possibilita a utilização desse equipamento
como um tipo de isolador, não deixando que essas correntes sejam injetadas na
distribuição, mesmo que isso aumente as perdas nos enrolamentos. [49]

6.1.5. Filtro dessintonizante

A queima de um banco de capacitores pode ocorrer devido a um efeito


ressonante entre a característica indutiva do sistema e o próprio banco inserido
para correção de fator de potência. Para esse problema, são usados filtros de
dessintonia, também chamados de banco de capacitores dessintonizados, que
evita essas ressonâncias geradas pelas harmônicas de altas frequências. Essa
medida pode evitar a queima dos bancos de capacitores e aumenta a vida útil
desse equipamento. Outros benefícios também podem ser destacados, como a
redução do THD e a diminuição do desgaste de componentes de manobra. [50]
As Figuras 6.5.1.1 e 6.5.1.2 mostram um sistema com banco de
capacitores sem filtro dessintonizante e as distorções harmônicas desse
sistema.

Figura 6.1.5.1: Um sistema com banco de capacitores sem filtro dessintonizante [50]

58
Figura 6.1.5.2: Distorção harmônica sem o filtro dessintonizante [50]

Já as Figuras 6.1.5.3 e 6.1.54 mostram o mesmo sistema com um filtro


dessintonizados:

Figura 6.1.5.3: Sistema anterior com um banco de capacitor dessintonizado [50]

Figura 6.1.5.4: Novas distorções harmônicas após a instalação do filtro [50]

59
No primeiro caso, apenas com o banco de capacitores instalado, além da
falha e queima dos mesmos, houve ressonância entre os capacitores e elevação
da temperatura de cabos. O DTH de tensão estava em 8,2% e o de corrente em
16%.
Já com o filtro dessintonizado, os capacitores operam normalmente e a
temperatura dos cabos estava em condições normais. Houve redução em perdas
de transformadores, na quantidade de parada de processos e nos níveis de
interferências em sistemas de controle. O DHT de tensão sofreu uma redução
de 54% (atingindo 3,8%) e o de corrente 49% (chegando a 8,3%). [50]

6.2. Afundamentos de tensão

O afundamento de tensão nas partidas de motores de indução trifásicos


sempre foi um problema para indústrias e distribuidoras. Provavelmente, o efeito
de partida de motores mais amplamente conhecido e estudado é a queda de
tensão experimentada por um sistema elétrico industrial como resultado da
partida de grandes motores. Durante a partida, os motores elétricos solicitam da
rede de alimentação uma corrente de valor elevado, da ordem de seis a dez
vezes a sua corrente nominal. Nestas condições, o circuito, que, inicialmente fora
projetado para transportar a potência requerida pelo motor, é solicitado agora
pela corrente de acionamento durante um certo período de tempo. Em
consequência, o sistema fica submetido a uma queda de tensão muito superior
aos limites estabelecidos, podendo provocar sérios distúrbios operacionais nos
equipamentos de comando e proteção, iluminação e no sistema elétrico de uma
forma geral. A Tabela 6.2.1 fornece os valores percentuais de tensão sob os
quais os motores e diversos dispositivos de comando podem operar
indevidamente. [51]

60
Tabela 6.2.1: Faixas de tensão de possíveis níveis de operação e suas respectivas consequências [51]

Dessa forma, para grandes cargas, deve ser usado um mecanismo para
redução de corrente de partida a valores de forma a obter quedas de tensão
menores na rede de alimentação. [51]

Figura 6.2.2: Corrente de partida típica de um motor [69]

6.2.1. Aspectos econômicos

Em relação à partida dos motores, vale ressaltar que tanto a demanda


quanto o consumo de energia elétrica não são afetados de forma significativa,
uma vez que a demanda vista pelo medidor é integralizada no tempo de 15
minutos e o tempo de partida dos motores é na ordem de alguns segundos à
minutos quando se trata de motores de grande porte. [52]
No entanto, quando se trata de afundamentos de tensão, a questão
econômica torna-se relevante, não pelo fato do consumo ou demanda, mas com
relação às consequências técnicas de operação tanto do motor quanto dos
outros equipamentos conectados à rede. As indústrias, por sua vez, têm
investido cada vez mais em equipamentos que garantam máxima produtividade.

61
Desta forma, uma interrupção passa a ter impactos econômicos consideráveis.
[53]

6.2.2. Estratégias de acionamento de motores elétricos

Os motores de indução podem ser acionados de diversas maneiras,


dependendo das características do fornecimento de energia elétrica e da
demanda que se tem da máquina. A razão para a existência de diferentes
métodos de partida consiste no fato de provocar a diminuição da corrente de
partida do motor, sobretudo, para diminuir as quedas de tensão nos terminais do
motor e nas cargas circunvizinhas. [54]
O método de acionamento mais simples existente é a partida direta, onde
a corrente de partida não é limitada e o conjugado também não é afetado. As
partidas que utilizam chave de partida direta também são métodos considerados
simples e baratos e são utilizados, geralmente, em aplicações que não exigem
alto conjugado na partida. Nesse método, utilizam-se apenas contatores,
disjuntores ou chaves interruptoras. Além disso, a chave de partida direta é um
dispositivo pelo qual o motor parte com valores plenos de conjugado e de
corrente de partida, pois suas bobinas recebem a tensão nominal de serviço. No
entanto, algumas condições devem ser satisfeitas para a obtenção de sucesso
quando se considera a partida direta, dentre elas, deve-se destacar que a
capacidade de fornecimento de corrente da rede precisa ser grande, de forma
que a corrente de partida do motor não seja relevante. [52]

Figura 6.2.2.1: Esquema de partida direta de um motor

62
A figura acima mostra um esquema de partida direta de um motor, no qual
F são os fusíveis, FT1 é o relé de sobrecarga, K1 são os contatores, B0 o botão
de desligar, B1 o botão de ligar e H1 a lâmpada de indicação.
O funcionamento do circuito de comando para a partida direta consiste
basicamente dos seguintes comandos: apertando-se a botoeira B1 o circuito é
energizado e o contator K1 é acionado. Nesse instante, o contato de K1 é
fechado e quando a botoeira B1 é solta o circuito fica energizado por esse
caminho alternativo. Quando a botoeira B0 é acionada, o contator K1 é desligado
automaticamente e o circuito é interrompido.
Outro método é o da partida estrela-triângulo, que é uma das formas de
suavizar os efeitos da partida de motores elétricos. Para o acionamento do motor
através desse tipo de chave é necessário que o motor possua seis terminais
disponíveis e deve dispor de dupla tensão nominal. [52].
O procedimento para o acionamento do motor consiste basicamente do
acionamento do motor em ligação estrela, reduzindo-se a corrente de linha em
três vezes e após determinado tempo (geralmente quando o motor atinge
velocidade próxima da nominal, cerca de 90%), realiza-se a troca da ligação para
triângulo de forma automática.
Uma das desvantagens deste tipo de ligação é que o conjugado também
se reduz três vezes, portanto, deve-se empregar este tipo de acionamento para
partidas que não exijam conjugado de partida alto. [57]

Figura 6.2.2.2: Esquema de partida estrela-triângulo de um motor

63
Na Figura 6.2.2.2. é mostrado um esquema de partida estrela-triângulo e
seus componentes. F é o fusível, FT1 o relé de sobrecarga, KT1 o relé
temporizador, K1, K2 e K3 os contatores, B0 o botão de desligar, B1 o botão de
ligar e H1 e H2 as lâmpadas de indicação.
O funcionamento do circuito de comando para a partida estrela triângulo
consiste basicamente dos seguintes comandos: apertando-se a botoeira B1 o
circuito é energizado e o relé temporizador é acionado, fechando o contato de
K1 (enquanto isso a botoeira B1 é solta), acionando o contator K3 e logo após o
contator K1 também é acionado. Após um determinado tempo (geralmente
quando o motor atinge cerca de 90% da velocidade nominal) a ligação é mudada
para triângulo, isto ocorre quando o contato do relé temporizador KT1 é fechado
e o contator K2 é acionado, permanecendo, portanto, o contator K1 e o contator
K2 funcionando em regime. Quando a botoeira B0 é acionada, o fornecimento
de corrente para o circuito é interrompido e consequentemente o motor é
desligado.
Por fim, um outro componente utilizado na partida de motores foi citado
no item 3.5.2. Como já dito, o soft-starter auxilia na aceleração, desaceleração e
proteção de motores. O torque produzido também pode ser ajustado através
desse equipamento.

Figura6.2.2.3 : Diferentes curvas de corrente para diferentes tipos de partidas [69]

64
6.3. Transitórios

Como já visto anteriormente, há dois tipos diferentes de transitórios. Como


principais medidas para mitigar os efeitos dos transitórios impulsivos, destacam-
se os usos de filtros, supressores de surtos (para-raios) e transformadores
isoladores.
Já os problemas relacionados com os transitórios oscilatórios podem ser
resolvidos adotando várias técnicas. Uma delas, visando diminuir os efeitos do
chaveamento de banco de capacitores do consumidor, é limitar a magnitude da
tensão transitória transformando esses bancos em filtros harmônicos,
simplesmente adicionando uma indutância em série com o capacitor. Isso irá
reduzir a tensão transitória na barra do consumidor a níveis aceitáveis.
Já o chaveamento de capacitores nos sistemas elétricos das
concessionárias de energia pode ser controlado realizando o chaveamento no
momento da passagem por zero da onda tensão.
Os principais equipamentos de proteção drenam os transitórios para o
sistema de aterramento. Alguns exemplos desses equipamentos são os
supressores de surto, como varistores, centelhadores, capacitores de surto e
diodos tipo Zener, transformadores isoladores, filtro passa baixas e para-raios
do tipo óxido de zinco. [30]

6.4. Flutuações de tensão

Existem algumas técnicas disponíveis para a atenuação do Flicker. A ideia


é reduzir a flutuação da tensão e, assim, reduzir o cintilamento.
Basicamente, existem duas abordagens para resolver o problema. A
primeira é reduzir a variação do fluxo de potência, particularmente a sua
componente reativa. A segunda é aumentar a potência de curto-circuito em
relação à potência da carga. Para reduzir as variações de energia reativa no
sistema de alimentação, instalam-se compensadores dinâmicos, também
chamados de estabilizadores dinâmicos. Máquinas síncronas podem ser usadas
para essa finalidade. A Figura 6.4.1 mostra um compensador dinâmico baseado
em máquina síncrona. [23]

65
Figura 6.4.1: Compensador dinâmico baseado em máquina síncrona [23]

6.5. Interrupções

Como uma das principais causas da interrupção são faltas no sistema


elétrico, o principal equipamento que atua nesse tipo de distúrbio é o religador,
que é programado para operar instantaneamente e limita, geralmente, a
interrupção a tempos inferiores a 30 ciclos. Logo que esse dispositivo de
proteção detecta a corrente de curto-circuito, ele comanda a desenergização da
linha com o objetivo de eliminar a corrente de falta. Somente após um curto
intervalo de tempo, o religamento automático do disjuntor ou religador é
efetuado. Entretanto, pode ocorrer que, após o religamento, o curto persista e
uma sequência de religamentos pode ser efetuada com o intuito de eliminar a
falta. A Figura 6.5.1 mostra uma sequência de religamentos com valores típicos
de ajustes do atraso.

Figura 6.5.1: Exemplo de operação de um religador [58]

66
Figura 6.5.2: Religador [59]

Sendo a falta de caráter temporário, o equipamento de proteção não


completará a sequência de operações programadas e o fornecimento de energia
não é interrompido. Assim, grande parte dos consumidores, principalmente em
áreas residenciais, não sentirá os efeitos
da interrupção.
Porém, algumas cargas mais sensíveis do tipo computadores e outras
cargas eletrônicas estarão sujeitas a tais efeitos, a menos que a instalação seja
dotada de unidades UPS (Uninterruptible Power Supply), as quais evitarão
maiores consequências na operação destes equipamentos, na eventualidade de
uma interrupção de curta duração. Esse dispositivo, também chamado de no-
break, será responsável por manter o suprimento de energia elétrica através de
baterias, que suprem a demanda por energia caso o UPS seja acionado. Além
reduzir o risco da perda de dados, os no-breaks protegem os aparelhos que
estão conectados à rede de oscilações de energia, prolongando a vida útil dos
equipamentos e minimizando os danos causados pelas variações na energia
elétrica recebida. [60]

67
6.6. Desequilíbrios

Apesar das presenças de desequilíbrios serem praticamente inevitáveis,


algumas ações para sua diminuição e controle podem ser adotadas. A operação
simétrica implementa a distribuição das cargas de forma equilibrada entre as três
fases. Outra forma mitigadora são os dispositivos de compensação, onde são
conectados no barramento da carga e são concebidos visando que a fonte
supridora alimente um conjunto equilibrado, ou seja, em termos práticos, a
configuração conjunta do compensador e da carga desequilibrada, será vista
pela fonte como uma carga balanceada. [61]

7. REGULAMENTAÇÃO

O reconhecimento da existência de problemas devido às distorções


harmônicas incentivou o desenvolvimento de normas específicas para tratar
deste assunto. As principais normas internacionais envolvidas são o guia IEEE
Std 519-1992 e a norma (IEC) da série 61000, sendo que cada uma delas tem
como objetivo limitar o nível de distorção harmônica tanto nas tensões quanto
nas correntes para instalações elétricas além de estabelecer limites quanto ao
nível de harmônicas que os novos equipamentos podem introduzir na rede. [43]
[62]

7.1. Distribuição (ANEEL)

Os sistemas industriais conectados ou que pretendem acessar à


distribuição necessitam conferir as normas vigentes, por meio de estudos
técnicos que permitam a ANEEL e as concessionárias de distribuição locais
fornecer autorização para a conexão. Através do Procedimentos de Distribuição
de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional (PRODIST) uma análise sucinta
das principais distorções pode ser realizada. [63]

68
7.1.1. Desequilíbrios de tensão

A tabela a seguir apresenta a terminologia para as grandezas


relacionadas ao desequilíbrio de tensão:

Tabela 7.1.1.1: Terminologia aplicável ao cálculo de desequilíbrios [63]

Calculando o fator de desequilíbrio da tensão por:

𝑉−
𝐹𝐷% = ∙ 100% (7.1)
𝑉+

Os limites para o indicador de desequilíbrio de tensão estão na tabela a


seguir, no qual os limites correspondem ao máximo valor desejável a ser
observado no sistema de distribuição.

Tabela 7.1.1.2: Limites para os desequilíbrios de tensão [63]

7.1.2. Distorções harmônicas

A Tabela 1 sintetiza a terminologia aplicável ao cálculo das distorções


harmônicas.

69
Tabela 7.1.1.3: Terminologia aplicável ao cálculo das distorções harmônicas [63]

O cálculo das grandezas é realizado por:

𝑉ℎ
𝐷𝐼𝑇ℎ % = ∙ 100% (7.2)
𝑉1
Sendo ℎ a ordem harmônica individual.

√∑ℎℎ=2
𝑚á𝑥
𝑉ℎ2
𝐷𝑇𝑇% = ∙ 100% (7.3)
𝑉1
Sendo ℎ as ordens harmônicas de 2 até ℎ𝑚á𝑥 e ℎ𝑚á𝑥 conforme a classe A
ou S.

70
𝑝ℎ
√∑ℎ=2 𝑉ℎ2
𝐷𝑇𝑇𝑃 % = ∙ 100% (7.4)
𝑉1
Sendo ℎ as ordens de harmônicas pares e não múltiplas de 3 e ℎ𝑝 a
máxima ordem da harmônica par não múltipla de 3.

√∑ℎℎ=5
𝑖
𝑉ℎ2
𝐷𝑇𝑇𝐼 % = ∙ 100% (7.5)
𝑉1
Sendo ℎ as ordens de harmônicas ímpares e não múltiplas de 3 e ℎ𝑖 a
máxima ordem da harmônica ímpar não múltipla de 3.

√∑ℎℎ=3
3
𝑉ℎ2
𝐷𝑇𝑇3 % = ∙ 100% (7.6)
𝑉1
Sendo ℎ as ordens de harmônicas múltiplas de 3 e ℎ3 a máxima ordem da
harmônica múltipla de 3.

Os limites para as distorções harmônicas totais estão representados a


seguir, na Tabela 7.1.1.4:

Tabela 7.1.1.4: Limites das distorções harmônicas totais [63]

7.1.3. Flutuações de tensão

O item 4.5.1 abordou o assunto relacionado ao flicker, bem como as


equações utilizadas no cálculo da sensação de cintilação luminosa (Eq. 4.14,
4.15 e 4.16)

71
Com base no cálculo dessas variações, os limites considerados pela
ANEEL para avaliação do desempenho do sistema de distribuição quanto às
flutuações de tensão são mostrados na tabela a seguir:

Tabela: 7.1.3.1: Limites quanto à flutuação de tensão

7.2. Transmissão (ONS)

Nesta etapa, será detalhado a regulamentação segundo o Submódulo 2.8


(Gerenciamento dos indicadores de desempenho da rede básica e de seus
componentes) da ONS. Este submódulo apresenta os indicadores de
desempenho da rede básica relacionados à Qualidade de Energia Elétrica (QEE)
e os valores limites de referência, no aspecto tanto global ou sistêmico, como
individual ou por agente.
No que se refere aos valores de tensão em regime permanente, o limite
de desempenho da rede básica deve atender aos requisitos que constam na
Resolução ANEEL nº505/2001 ou em suas revisões e atualizações. Não sendo
obrigatório nos barramentos que não atendam diretamente a consumidores e
que não sejam pontos de fronteira, sendo respeitadas as limitações dos
equipamentos.
Os indicadores utilizados são:

𝑛𝑙𝑝
𝐷𝑅𝑃𝑃𝐶 = ∙ 100% (7.7)
𝑛

𝑛𝑙𝑐
𝐷𝑅𝐶𝑃𝐶 = ∙ 100% (7.8)
𝑛
Onde 𝐷𝑅𝑃𝑃𝐶 é a Duração Relativa de Violação de Tensão Precária por
ponto de controle; 𝐷𝑅𝐶𝑃𝐶 é a Duração Relativa de Violação de Tensão Crítica
por ponto de controle; 𝑛𝑙𝑝 é o número de leituras com tensão precária no período
de observação mensal; 𝑛𝑙𝑐 é o número de leituras com tensão crítica no período
de observação mensal e 𝑛 é o número de leituras válidas obtidas no período de

72
observação mensal e com período de integralização do equipamento
correspondente a dez minutos. [65]

7.2.1. Desequilíbrios de tensão

O indicador para avaliar o desequilíbrio de tensão nos barramentos da


rede básica é o Fator de Desequilíbrio de Tensão (𝐾), que exprime a relação
entre as componentes de sequência negativa (𝑉2) e sequência positiva (𝑉1) da
tensão, expresso em termos percentuais da componente de sequência positiva:

𝑉2
𝐾= ∙ 100% (7.9)
𝑉1

O valor do indicador a ser comparado com o valor limite, identificado como


KS95%, é assim obtido: determina-se o valor que foi superado em apenas 5%
dos registros obtidos no período de 1 dia (24 horas), considerando os valores
dos indicadores integralizados em intervalos de dez minutos, ao longo de sete
dias consecutivos. O valor do indicador corresponde ao maior entre os sete
valores obtidos anteriormente, em base diária. O limite global nos barramentos
da rede básica é de KS95% ≤ 2%. Já o limite individual nos pontos de conexão
à rede básica é de KS95% ≤ 1,5%.
Caso as tensões de sequência negativa variem de forma intermitente e
repetitiva, é permitido ultrapassar os limites especificados em até o dobro, desde
que a duração cumulativa das tensões de sequência negativa, acima dos limites
estabelecidos, não ultrapasse 5% do período de monitoração.

7.2.2. Distorções harmônicas

O indicador utilizado para avaliar o desempenho global quanto a


harmônicos, em regime permanente, nos barramentos da rede básica,
corresponde à distorção de tensão harmônica. Entende-se por Distorção de
Tensão Harmônica Total (THD de tensão) a raiz quadrada do somatório
quadrático das tensões harmônicas de ordens 2 a 50. O cálculo foi mostrado na
equação 4.10.

73
Os valores dos indicadores – tanto o indicador total (DTHTS95%) quanto
os indicadores por harmônicos – a serem comparados com os valores limites
são assim obtidos: determina-se o valor que foi superado em apenas 5% dos
registros obtidos no período de 1 dia (24 horas), considerando os valores dos
indicadores integralizados em intervalos de dez minutos, ao longo de sete dias
consecutivos. O valor do indicador corresponde ao maior entre os sete valores
obtidos, anteriormente, em base diária.
Os limites globais inferiores correspondentes aos indicadores de tensões
harmônicas individuais de ordens 2 a 50, bem como ao indicador DTHTS95%
estão apresentados na tabela abaixo.

Tabela 7.2.2.1: Limites globais inferiores de tensão em porcentagem da tensão fundamental [65]

Já os limites globais superiores são determinados pela multiplicação dos


limites globais inferiores correspondentes pelo fator (4/3). Por exemplo, os limites
globais superiores relativos aos indicadores DTHTS95% para V< 69 kV e V ≥ 69
kV são, respectivamente, 8% e 4%.
Os limites individuais de tensões harmônicas de ordens 2 a 50, bem como
o limite para a Distorção de Tensão Harmônica Total (DTHTS95%), são
apresentados na tabela abaixo.

Tabela 7.2.2.2: Limites individuais de tensão em porcentagem da tensão fundamental [65]

74
No caso em que determinadas ordens de tensão harmônica e/ou a
distorção harmônica total variem de forma intermitente e repetitiva, os limites
especificados podem ser ultrapassados em até o dobro, desde que a duração
cumulativa acima dos limites contínuos estabelecidos não ultrapasse 5% do
período de monitoração.

7.2.3. Flutuações de tensão

Pela ONS, os valores dos limites globais inferior e superior, considerados


para avaliar a qualidade da tensão na rede básica quanto à flutuação de tensão,
estão apresentados na Tabela 7.2.3.1. Esses valores são expressos em função
dos limites globais para tensão secundária de distribuição 220 V e da atenuação
esperada quando a flutuação de tensão se propaga dos barramentos da rede
básica para os barramentos da rede secundária de distribuição.

Tabela 7.2.3.1: Limites globais de flutuação de tensão [65]

Onde FT é o fator de transferência aplicável entre o barramento da rede


básica sob avaliação e o barramento da tensão secundária de distribuição
eletricamente mais próximo. O fator de transferência é calculado pela relação
entre o valor do PltS95% do barramento da rede básica sob avaliação e o valor
do PltS95% do barramento da rede de distribuição. No caso de os fatores de
transferências entre os barramentos envolvidos não terem sido medidos, os
valores apresentados na Tabela 7.2.3.2 podem, em princípio, ser aplicados para
a avaliação da flutuação de tensão nos barramentos da rede básica:

Tabela 7.2.3.2: Fatores de transferência [65]

75
Os limites globais apresentados na Tabela 7.2.3.2 foram estabelecidos
com a premissa de que o limite global inferior para as tensões secundárias nos
sistemas de distribuição (220 V) é 1 pu.
Já os limites individuais de flutuação de tensão consideram um nível de
saturação igual a 80% dos limites globais inferiores estabelecidos na Tabela
7.2.3.1, como indicado na Tabela 7.2.3.3.

Tabela 7.2.3.3: Limites individuais de flutuação de tensão [65]

7.3. Setor industrial

7.3.1. IEEE 519

Esta recomendação descreve os principais fenômenos causadores de


distorção harmônica, indica métodos de medição e limites de distorção. Não
importando ao sistema o que ocorre dentro de uma instalação, mas sim o que
ela reflete para o exterior, ou seja, para os outros consumidores conectados à
mesma alimentação. Os limites estabelecidos referem-se aos valores medidos
no Ponto de Acoplamento Comum (PAC), e não em cada equipamento
individual. Na tabela a seguir os limites de tensão harmônica. [66]

Tabela 7.3.1.1: Limites de distorção de tensão [66]

76
No ponto de acoplamento comum com tensão entre 120 V a 69 KV, os
consumidores devem limitar a corrente harmônica de acordo com a seguinte
tabela:

Tabela 7.3.1.2: Limites de distorção de corrente para sistemas entre 120 V a 69 kV [66]

Onde 𝐼𝑆𝐶 é a máxima corrente de curto-circuito no PAC e 𝐼𝐿 é a máxima


corrente de carga solicitada (componente da frequência fundamental) no PAC
sob condições normais de operação.

No ponto de acoplamento comum com tensão entre 69,001 kV a 161 kV,


os consumidores devem limitar a corrente harmônica como segue:

Tabela 7.3.1.3: Limites de distorção de corrente para sistemas entre 69,001 kV a 161 kV [66]

Por fim, no ponto de acoplamento comum com tensão acima de 161 kV,
os consumidores devem limitar a corrente harmônica de acordo com a tabela a
seguir:

77
Tabela 7.3.1.4: Limites de distorção de corrente para com tensão acima de 161 kV [66]

7.3.2. IEC 61000-2-4

Essa norma se preocupa com distúrbios conduzidos na faixa de


frequências de 0 a 9 kHz. Ele fornece níveis de compatibilidade numérica para
sistemas de distribuição de energia industriais e não públicos em tensões
nominais de até 35 kV e na frequência nominal de 50 Hz ou 60 Hz. Os níveis de
compatibilidade são especificados para distúrbios eletromagnéticos dos tipos
que podem ser esperados em qualquer ponto de acoplamento interno de plantas
industriais ou outras redes não públicas, para orientação em limites a serem
estabelecidos para emissão de perturbações em sistemas industriais de
fornecimento de energia e a escolha dos níveis de imunidade para o
equipamento dentro desses sistemas. Definem-se três classes de
compatibilidades para tipos de ambientes, que podem ser observadas na tabela
7.3.2.1.
A Classe 1 é para redes protegidas que são muito sensíveis a distúrbios,
como laboratórios tecnológicos, certos equipamentos de automação e de
proteção e computadores.
A Classe 2 se refere a rede elétrica. Equipamentos que se enquadram
aqui são os de instrumentação desde o ponto de conexão comum a pontos de
ligação interna de ambientes industriais que possuam mesmo nível de
compatibilidade da rede pública.
Já a Classe 3 se refere somente a ambientes industriais, com níveis de
compatibilidade superiores aos da Classe 2. As cargas tratadas nessa classe
são as alimentadas por conversores, máquinas de solda e em casos que há

78
partidas frequentes de motores de grande potência e cargas que variam
rapidamente.

Tabela 7.3.2.1: Porcentagem de THDv para cada classe

7.3.3. Partidas de motores

Cada concessionária de energia elétrica possui suas normas quanto às


quedas de tensão permitidas no ponto de entrega da instalação. Por outro lado,
a NBR 5410 estabelece alguns limites de quedas de tensão na partida de
motores como forma de evitar perturbações que comprometam a rede de
distribuição, a própria instalação e o funcionamento das demais cargas por ela
alimentadas.
O dimensionamento dos condutores que alimentam os motores deve ser
tal que, em regime permanente, as quedas de tensão nos terminais do motor e
em outros pontos de utilização da instalação não ultrapassem os limites de
queda estabelecidos por cada concessionária (geralmente entre 5% e 7%). Por
outro lado, durante a partida, o dimensionamento dos condutores deve ser de
forma que a queda de tensão nos terminais do dispositivo de partida não
ultrapasse 10% da respectiva tensão nominal.
Além disso, a NBR 14039 que estabelece normas para instalações
elétricas de média tensão (1 kV a 36,2 kV), acrescenta que a queda de tensão
entre a origem de uma instalação e qualquer ponto de utilização deve ser menor
ou igual a 5% quando se utiliza níveis de média tensão. Outro aspecto de
fundamental importância quando se trata de oscilações de tensão é com relação
ao número de partida por unidade de tempo do motor. A Figura 7.3.3.1 mostra
os limites de oscilação máxima permitidos, onde se verifica que quanto mais
partidas são realizadas por minuto, menor deve ser a oscilação de tensão para
não haver danos maiores ao motor e a instalação. Por outro lado, se o motor
parte poucas vezes ao dia o limite de queda de tensão é maior, por volta de 9%,
para o caso de 12 partidas por dia, por exemplo. [67] [68]

79
A curva a seguir mostra a relação o limite de tolerância de oscilações em
um determinado tempo. Por exemplo, com 12 variações em um dia, a tensão
pode atingir um aumento de 9%. Entretanto, se estas forem mais frequentes, o
limite também é menor, por exemplo, com 5 oscilações em um segundo, estas
só podem atingir uma elevação de menos de 2%.

Figura 7.3.3.1: Limite de tolerância de oscilações

7.4. Resumo das referências

O IEEE é uma associação de classe que, a partir da experiência de


profissionais da área, estabelece limites na injeção de harmônicos no sistema
elétrico. Apesar de ser uma referência mundial, estes limites devem ser
encarados como recomendação e não como uma norma a ser seguida.
O IEC, por outro lado, é um organismo de regulamentação internacional
que estabelece valores máximos de injeção de harmônicos no sistema elétrico
produzidos por equipamentos individuais. Na região onde estas normas estão
em vigor, os equipamentos devem obedecer rigorosamente aos limites impostos
pelo IEC.
O Procedimento de Rede são documentos de caráter normativo
elaborados pelo ONS e aprovados pela ANEEL, que estabelecem os
procedimentos e os requisitos necessários a realização das atividades de
planejamento da operação eletroenergética, da administração da transmissão,

80
da programação e operação em tempo real no âmbito do SIN. Nesta dissertação
tratamos mais especificamente do submódulo 2.8 que trata do gerenciamento
dos indicadores de desempenho da rede básica e de seus componentes. No
Brasil, estes limites devem ser rigorosamente obedecidos.

APÊNDICE A) ESTUDO SOBRE DESEMPENHO DE FILTRO EM PLANTA


INDUSTRIAL

A.1) Resumo

Em trabalho apresentado no Seminário Brasileiro sobre Qualidade da


Energia, entre 17 a 20 de Agosto de 2003, foram apresentados resultados de
medições de tensão e corrente e a avaliação dos níveis de harmônicos
individuais e de distorção harmônica total no ponto de conexão da Indústria
Siderúrgica Nacional GERDAU com o sistema da Companhia Energética do
Ceará (COELCE) e no ponto de entrega em 69 kV da referida indústria. As
medições foram realizadas em diferentes condições de operação do forno
elétrico a arco visando constatar o desempenho do filtro harmônico passivo
instalado na planta da GERDAU, comparando os dados obtidos com os limites
adotados pelo IEEE, IEC e ONS. As medições de harmônicos foram efetuadas
com e sem o filtro inserido na planta, nos estágios de fusão e de refinamento do
forno elétrico.

A.2) Descrição da Subestação GERDAU

Figura A.2.1: Diagrama unifilar simplificado do sistema de alimentação da GERDAU

81
A SE GERDAU dispõe de três transformadores de 12/15MVA, 69/13,8kV,
delta-estrela aterrada, os quais alimentam uma barra seccionada de 13,8 kV e
cargas como fornos, laminação e aquecedor indutivo, bancos de capacitores,
aciaria, utilidades e escritório. Na Figura A.2.1 é apresentado o diagrama unifilar
simplificado da SE GERDAU.
Os transformadores TR-1 e TR-2 suprem a barra perturbadora B01 em
13,8 kV que alimenta somente cargas não lineares como o forno elétrico a arco
para fusão do material, denominado EAF (Electric Arc Furnace), e o forno elétrico
tipo Panela para refino, objetos do estudo. O transformador TR-3 supre a barra
B02 de 13,8 kV que alimenta cargas também produtoras de correntes
harmônicas, porém de menor impacto.
Na barra B01 está instalado com o banco de capacitor BC-1um filtro de
frequência de sintonia de 270 Hz, e na barra B02 outro filtro de 306 Hz instalado
no banco de capacitores BC-2.

A.3) Especificação técnica dos filtros

O filtro passivo instalado na planta da GERDAU foi projetado e instalado


por uma empresa de consultoria contratada pela GERDAU. A empresa de
consultoria realizou medição de corrente e de suas harmônicas nos circuitos de
alimentação do forno elétrico EBT, forno panela e laminação.
Com base no espectro de correntes medidas, a empresa de consultoria
realizou simulação computacional utilizando o software SABER encontrando
valores de DHT na barra em 69 kV de 12,84%, e nas barras em 13,8 kV, B01 e
B02, THD de 31,05% e 24,42%, respectivamente. Conforme a Tabela 7.2.2.1 os
valores calculados de THD violam os limites estabelecidos pelo ONS e IEEE. A
simulação mostrou ainda condição de ressonância para as harmônicas de 5ª e
6ª ordem.
Para o projeto do filtro a empresa consultora utilizou as expressões A.1,
A.2 e A.3, que definem a indutância 𝐿𝐹 , o fator de qualidade 𝑄, e a resistência 𝑅
do filtro.

82
1
𝐿𝐹 = (𝐴. 1)
𝐶 ∙ (377 ∙ 𝑛)2

377 ∙ 𝑛 ∙ 𝐿𝐹
𝑄= (𝐴. 2)
𝑅

377 ∙ 𝑛 ∙ 𝐿𝐹
𝑅= (𝐴. 3)
𝑄

Onde 𝐶 é a capacitância do banco de capacitores (em μF), e 𝑛 a ordem


da harmônica. Dessa forma, os parâmetros encontrados para o filtro passivo
GERDAU foram:

Tabela A.3.1: Parâmetros dos filtros passivos sintonizados

Ainda que diferentes configurações de filtros sejam possíveis, a topologia


dos filtros instalados é do tipo RLC série, ambos conectados em paralelo nas
barras B01 e B02. A topologia dos filtros instalados na SE GERDAU está
representada no diagrama da Figura A.3.1.

Figura A.3.1: Arranjo físico de conexão dos filtros da SE GERDAU

83
A.4) Análise de desempenho dos filtros harmônicos na SE GERDAU

As medições deste estudo realizadas em abril de 2002 foram feitas em


duas etapas distintas: medições efetuadas no secundário dos TCs e TPs de 69
kV na SE GERDAU, no ponto de entrega, e na SE DID II, no ponto de conexão.
As medições nas duas subestações foram realizadas para as condições
de operação do forno a arco nos estágios de fusão e refinamento, com e sem a
inserção do filtro passivo para cada estágio de operação.
As Figuras A.4.1 a A.4.4 apresentam um resumo das medições realizadas
na SE DID II e SE GERDAU em 69kV para avaliação do desempenho dos filtros
da siderúrgica GERDAU. Os diferentes estágios de avaliação estão
representados pelos grupos: FSF: fusão sem filtro, RSF: refinamento sem filtro,
FCF: fusão com filtro e RCF: refinamento com filtro.

Figura A.4.1 Figura A.4.2

A Figura A.4.1 mostra os valores de THD de corrente de linha e a Figura


A.4.2 são os valores de THD de tensão de linha, ambos na SE DID II.

Figura A.4.3 Figura A.4.4

A Figura A.4.3 mostra os valores de THD de corrente de linha e a Figura


A.4.4 são os valores de THD de tensão de linha, ambos na SE GERDAU.

84
Pelos gráficos apresentados verifica-se um desequilíbrio na tensão e
corrente nos dois pontos de medição (SE DID II e SE GERDAU), e ainda que no
estágio de fusão a distorção da corrente é bem maior que no refino, exercendo
o filtro uma mitigação significativa nos diferentes estágios de operação.
Segundo a recomendação do IEEE 519, o limite de DIHT para valor de
ICC/IL entre 20 e 50 é de 8%, e para distorções individuais de corrente ℎ < 11, o
limite de corrente é igual a 7%. Para THD o limite é de 5% e o limite individual é
de 3%. Segundo o ONS o limite de THD é de 3% e o limite individual para ℎ ≤ 7
é de 2%. Com base nas medições não foi verificada violação na distorção de
tensão harmônica total. No entanto, verificou-se violação de THD de corrente
mesmo na condição de operação com filtro (Figuras A.4.1 e A.4.3) violando as
recomendações de 8% do IEEE. Para as distorções individuais de corrente
houve violação para a componente de 3ª ordem na condição FSF e RSF com
valores máximos medidos de 13% e 10,9% na SE GERDAU. Na SE DID II o
valor máximo medido no estágio FSF para a componente de 5ª ordem foi de
7,2% e o valor máximo medido no estágio FCF para a componente de 3ª ordem
foi de 7,8%, em todos os casos violando as recomendações do IEEE de 7%.

A.5) Conclusão

Neste trabalho foram apresentadas as medições de harmônicos nas


instalações do sistema COELCE e GERDAU visando verificar o desempenho
dos filtros harmônicos na melhoria da qualidade de energia.
Concluiu-se que o forno a arco apresenta valores de THD diferenciados
para os diferentes estágios de operação, sendo a fusão o mais solicitante, e com
violação de limites.
As medições realizadas comprovam que o forno no estado de fusão, sem
a conexão dos filtros de harmônicos passivos, resultou em THD de corrente na
ordem de 35,6% valor máximo, e no processo de refinamento, carga leve,
também sem a conexão do filtro, THD de corrente na ordem de 9,3% máximo,
violando o estabelecido pelo IEEE-519 de 8%.
A aplicação de filtros passivos contribuiu para a mitigação de harmônicos
de corrente minimizando os efeitos provocados no sistema elétrico da
concessionária.

85
Há de se notar que as medições para análise do desempenho do filtro,
embora realizadas no período de maior demanda da planta, os valores
apresentados não são representativos de uma campanha de medição de 1 dia
(24 horas) e sete dias consecutivos. Portanto, as violações podem representar
situações pontuais. Contudo, neste trabalho está evidente a eficácia dos filtros
harmônicos passivos na mitigação das distorções harmônicas tendo em vista a
eficiência técnica, a simplicidade na engenharia e a praticidade de montagem.

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