Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CPF: 714.261.321-15
email: marcosestat@gmail.com
As análises apresentadas trazem uma nova perspectiva para o que hoje o judiciário
brasileiro conhece por taxa de congestionamento. Atualmente traduzida em um
percentual, buscou-se apresentar o indicador sob uma ótica que vislumbra o
tempo.Objetiva-se facilitar a compreensão do que seja congestionamento por parte dos
diversos atores envolvidos: magistrados, servidores, advogados e jurisdicionados.Para
tanto, será demonstrado como se chega à atual fórmula da taxa de congestionamento,
apresentadas situações hipotéticase finalmente será apresentada uma construção que
permite a comparação entre unidades judiciárias sem perda de generalidade e que
possibilitarão avaliar situações futuras com base na produtividade atual.
ABSTRACT
Até abril de 2015, a taxa de congestionamento era medida por uma fórmula
que continha três variáveis:
TBaix
TxCong=1−
(CN +CPant )
Onde:
TBaix – Total de Processos Baixados
CN – Casos Novos
CPant – Casos Pendentes do período anterior
Após atualização da Resolução CNJ nº 76(fonte), passou-se a utilizar uma
nova fórmula, mais simples, com apenas duas variáveis, mas que apresenta um mesmo
resultado se comparada com a fórmula anterior, issoqueserá demonstrado mais adiante.
O denominador (CN + CPant) consiste na totalidade de processos
disponíveis para se trabalhar, correspondendoCorresponde a 100% do acervo processual
(limite lógico de produção), sendoimpossível fazer mais, porque não há mais. Durante
um ano, o acervo processual de uma unidade judiciária é formado por todos os
processos que entraram nesse mesmo ano, somados aos processos que restaram
pendentes do ano anterior.
Já o numerador “TBaix” representa a parcela de processos baixados1 num
dado período. Essa fração, ou esse valor percentual, indica quantos processos, a cada
100, não serão deixados para o próximo período/ano.
TBaix
Nesse ponto, cabe mais uma ponderação: a fração (CN+CPant ) poderia
ser chamada de Atendimento à Demanda2, uma vez que a demanda consistiria na soma
entre casos novos e pendentes. Os processos que não foram finalizados, que
permanecem pendentes para o próximo ano, constituem a demanda não atendida. A taxa
de congestionamento, neste contexto, seria um “Índice de Não Atendimento à
Demanda”.
Esse raciocínio, todavia, não espelha a ideia de efetividade, ou a falta dela.
Dizer que 60% dos processos permaneceram para o próximo ano nada diz sobre a
capacidade da unidade em lidar com esse estoque.
1
Consideram-se baixados os processos: a) remetidos para outros órgãos judiciais competentes, desde que vinculados a
tribunais diferentes; b) remetidos para as instâncias superiores ou inferiores; c) arquivados definitivamente; d) em que
houve decisões que transitaram em julgado e iniciou-se a liquidação, cumprimento ou execução. Incluem-se apenas
as baixas nas classes processuais compreendidas na variável Cn - Casos Novos de 1º e 2º graus.
2
O Índice de Atendimento à Demanda, deixa de fora os casos pendentes que também são demandas represadas. Os
casos novos são apenas a demanda mais recente. Se é bem verdade que se trata de uma medida relevante, pois uma
relação superior a 100% indica a redução do estoque, a nomenclatura causa estranheza, já que o numerador não é
necessariamente um subgrupo do denominador. Assim, se para o atendimento à demanda, na baixa, se pode computar
os processos antigos, para a demanda (CN e CPant) também deveria ser assim.
Consideremos, ainda, a seguinte situaçãofictícia do Quadro 1:
TBaix
TxCong=1−
(CN +CPant )
Substituindo, teremos:
TBaix
TxCong=1−
(CPat +TBaix )
CPat+TBaix−TBaix
TxCong=
(CPat+TBaix )
CPat
TxCong= Como se queria demonstrar!
(CPat +TBaix ) órmula atual, conforme Resolução CNJ nº 76. C.Q.D
2.1CAPACIDADE DE PRODUÇÃO
2.4 O FATORTEMPO
Expressando algebricamente:
CPat
Congestionamento= n
∑ TBaix
i=1 i=1, 2, 3,...
n
Onde:
TBaix – Total de Processos Baixados
CPat – Casos Pendentes do período atual
n – Período considerado: mês, ano, etc.
Observe-se que do ano 2009 para o ano 2010 houve uma queda no
número de processos pendentes, porém um aumento da taxa de congestionamento. Por
outro lado,de 2013 para 2014 houve aumento no número de processos pendentes de
baixa, porém uma redução da taxa de congestionamento, o mesmo ocorrendo do ano de
2017 para o ano de 2018 e em outros períodos de tempo.
No quadro a seguir, estãoO Quadro 4 apresentaas informações do
Tribunal Superior do Trabalho com os processos pendentes de baixa, baixados e o
congestionamento baseado no tempo necessário para se baixar todos os processos
mantendo-se a produtividade daquele ano.
Quadro 4 – Congestionamento do Tribunal Superior do Trabalho pelo tempo
Congestionamento:
Pendentes de Baixa no
Baixados no ano Tempo Necessário
Ano período atual
(TBaix) para Baixar todos os
(CPat)
processospendentes
2009 428.720 223.025 23,1 meses
2010 409.976 174.478 28,2 meses
2011 424.194 157.838 32,3 meses
2012 432.870 179.778 28,9 meses
2013 531.086 192.589 33,1 meses
2014 535.210 200.571 32,0 meses
2015 641.336 234.936 32,8 meses
2016 617.914 202.561 36,6 meses
2017 574.580 220.780 31,2 meses
2018 614.644 247.927 29,7 meses
2019 759.368 256.296 35,6 meses
Fonte: CNJ
Em 2009, o TST possuía 428.720 processos pendentes de baixa. Com
base na sua capacidade de baixar processos (processos baixados naquele ano), ele
levaria 23,1 meses para zerar o seu estoque, desconsiderando as entradas. Dez anos
depois, esse tempo aumentou para 35,6 meses. Observe-se que de 2009 para 2010 o
quantitativo de pendentes diminuiu, porém o tempo de congestionamento aumenta, isso
porque a capacidade de baixar processos diminuiu em 2010, comparativamente ao ano
de 2009.
Essa capacidade de baixa poderia ser uma média de 2 ou 3 anos ou até
mesmo outro período de tempo julgado conveniente. Importante é que seja padronizado,
assim como é feito na Resolução CNJ nº 219, que usa a média de casos novos do triênio
para deslocamento de servidores, cargos e funções entre as instâncias.
Havendo aumento ou diminuição dos pendentes de um período para o
outro, importante se faz avaliar o tempo que aquela unidade levaria para reduzir seu
estoque a zero ou para uma meta x%.
Traduzir a taxa de congestionamento em tempo facilita a compreensão
por parte de todos os envolvidos. Dizer que em 2019 o congestionamento do TST está
em 35,6 meses parece ser mais razoável do que dizer que sua taxa de congestionamento
foi de 59,7%.
A capacidade de baixar processos é fundamental na mensuração do
congestionamento. Ao longo do tempo, essa capacidade aumenta ou diminui de acordo
com os recursos humanos, infraestrutura e os insumos disponíveis e, assim sendo, de
um período para outro pode haver aumento ou redução do número de processos
pendentes com uma redução ou aumento do congestionamento a depender de como foi a
capacidade de produção da unidade judiciária.
Expressar o congestionamento como uma função do tempo traz uma
perspectiva para resolução total dos processos, deixando os interessados com uma
expectativaexplicitando aos interessados uma perspectiva para o atendimento da suas
demandas judiciais, o que é razoável, uma vez que a preocupação dos clientes é quase
sempre com o tempo que se leva para resolver um determinado problema: em quanto
tempo minha pizza será entregue?Quanto tempo ficarei na fila de um banco até ser
atendido?Quanto tempo o táxi chegará num determinado destino? Em quanto tempo o
próximo ônibus chegará para pegar os passageiros numa parada? No caminho entre
início de cada uma dessas tarefas até suas respectivas conclusões está o
congestionamento de que tanto falamos.
4 CONCLUSÃO
O Sistema de Estatística do Poder Judiciário possui aproximadamente 810
variáveis, das quais algumas compõem a taxa de congestionamento atual, a depender da
fase processual e das instâncias. Nas análises realizadas, muitas em decorrência do uso
diário dos dados, de situações em unidades judiciárias de 1º e 2º Graus, despertaram o
interesse em aprofundar no que esse indicador realmente tem correspondido.
A taxa de congestionamento, de utilização habitual no ramo da Justiça,
possui peculiaridades que informam seu caráter de indicador estratégico de efetividade.
A realidade do exercício jurisdicional provoca a existência de um “passivo
necessário”, o que impede a situação “estoque igual a zero” e, por conseguinte, a
efetividade total (cem por cento de vazão processual), além de dificultar a
comparabilidade entre unidades, sejam elas de qualquer porte.
A redução na taxa de congestionamento, tal como é calculada
hodiernamente, pode ocultar o aumento de processos pendentes, ou seja, o acúmulo de
processos não solucionados. A taxa de congestionamento possui comportamento
variável, de acordo com o tamanho do período selecionado, e inconsistente como
medida de efetividade.
Além disso, há a dificuldade em se tratar de taxa média, bem como definir
qual o intervalo de tempo adequado para mensuração, uma vez que, como demonstrado
em estudo anterior, a ampliação do período de referência faz cair bruscamente a taxa de
congestionamento.
O congestionamento como uma medida de tempo surge a partir de uma
ideia que visa transmitir um resultado de compreensão mais trivial a uma sociedade que
almeja por celeridade e efetividade na prestação jurisdicional. Ele traz em seu bojo uma
perspectiva de futuro, do tempo necessário para se atingir uma meta de produtividade
que impacta diretamente no Índice de Produtividade Comparada da Justiça - IPCJus,
apresentado anualmente no Relatório Justiça em Números do CNJ e no Índice Nacional
de Gestão do Desempenho - IGEST, calculado trimestralmente pelo CSJT.
A ciência estatística deve manter sua atenção não apenas nos números, mas
colaborar para que os dados expressem, com fidelidade, o objeto a ser medido. O
indicador “taxa de congestionamento”, por estar consagrado na praxe estatística do
Judiciário, pode e deve ser questionado em sua essência. O avanço no estudo e a
alteração de paradigma podem representar uma evolução na forma do Poder Judiciário
enxergar sua própria atuação, bem como na sua comunicação com a sociedade. Este
artigo busca contribuir para que as análises do Poder Judiciário se ampliem, busquem
novos horizontes. Não se propõe, necessariamente, abandonar o indicador “taxa de
congestionamento”, mas repensá-lo. As vantagens do modelo proposto, como medida
de tempo prospectiva, podem ser levadas em consideração na formulação de uma
estratégia de caráter nacional, unificada.
5 REFERÊNCIAS