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O QUE É VINYASA KRAMA?

Vīnyāsa tem a etimologia em duas palavras/raiz: vi, que significa “ordem” e nyāsa, que significa
colocação. No geral, vīnyāsa refere-se à prática de sincronizar a respiração com o movimento –
colocar de maneira especial. Ou ainda, saindo do âmbito apenas do āsana, colocar deidades no
corpo, letras do alfabeto sânscrito, mantras...
Krama é um termo em sânscrito que significa sucessão, passo, etapas. Isso pode indicar uma
progressão passo a passo ou uma sequência de eventos.
Krama e Karma, ambas as palavras vêm da raiz kṛ - fazer.
Karma se refere à ação e krama geralmente indica uma maneira ou método ordenado de realizar um
karma ou ação. Qualquer coisa feita de maneira adequada seria krama karya / karma. A palavra
akrama, o oposto de krama, também é usada com muita frequência na Índia. Akrama indicaria
qualquer coisa feita de forma desordenada ou ilegal, de maneira injusta e inaceitável.
No yoga, essa palavra é mais comumente usada para se referir ao Vīnyāsa krama. O Vīnyāsa krama é
uma prática de āsana que flui com a respiração e adota uma abordagem sequencial para alcançar
um objetivo ou intenção específica. Normalmente, esse objetivo é um āsana mais avançado ou
complexo - sendo estruturada em torno desse: a sequência está preparando o corpo para a
execução e também depois para a compensação. Todo āsana se baseará no anterior, preparando o
corpo para a peak pose. É um método de praticar yoga usando vīnyāsas ou variações em vários
āsana conhecidos.
“O termo Vīnyāsa Krama é também conhecido como 'movimento por números', é a tradição de
praticar āsana em uma sequência fluida conectada harmoniosamente pela respiração. Krama
significa "um passo" ou "em etapas". Também significa aprender as posturas uma a uma,
observando a ordem correta.”
Matthew Sweeny
A sincronização completa da respiração com o movimento é um requisito primordial deste método.
Cada movimento na sequência do está ligado a uma inspiração ou expiração. Krama denota os
estágios ou etapas da sequência e incorpora o princípio da progressão ao longo do tempo.
Vīnyāsa krama desenvolve força e flexibilidade. Melhora a circulação sanguínea, linfática e energia
vital (prāṇa). É uma maneira simples, agradável e eficaz de exercitar todas as articulações, músculos
e tecidos do corpo. Os movimentos são lentos e sincronizados com a respiração ujjayī, que concentra
a mente e a leva a um estado de atenção. Todo o processo transforma gradualmente o corpo e a
mente, liberando velhos padrões de tensão física e mental e padrões disfuncionais de movimento. É
a arte de saber quando você integrou o trabalho de um certo estágio da prática e está pronto para
seguir em frente.

CONTEXTUALIZANDO HISTORICAMENTE ( construindo e desconstruindo)


Vīnyāsa Krama é uma forma tradicional de yoga Vīnyāsa ensinada pelo pai do yoga moderno, Sri T.
Krishnamacharya (1888-1989). É um método que integra a filosofia do Yoga de Patañjali com os

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métodos do Haṭha Yoga. Krama é uma forma de praticar yogasanas, com base nos parâmetros
mencionados nos Yoga Sutras. Ex:
-Firmeza e conforto: No Yoga Sutra Patañjali (2,46) estabelece que a prática de āsana deve ser em
conformidade com os princípios de firmeza (sthira) e conforto (sukha). O praticante deve ser capaz de
manter a postura com firmeza e ao mesmo tempo ser capaz de encontrar alegria e relaxamento no
āsana.
-Respiração suave e prolongada: O seguinte sutra diz (2.47) perfeição na postura é alcançado pela
respiração profunda e suave (sithila prayatna).
Numerosos movimentos ou vīnyāsa são praticados em sucessão, lentamente e com sincronização da
respiração de maneira inteligente e progressiva, levando o praticante às práticas internas de
meditação e samādhi. Eram elaboradas sequencias que levavam ao domínio de certas posturas com
a prática sistemática. Movimentos de transição entre sequências, numerosos vīnyāsa dentro de cada
sequência e contra posturas trouxeram grande variedade para uma prática regular.
Esse processo passo a passo envolve o conhecimento de como se constrói, em estágios graduais, um
"pico" dentro de uma sessão de prática. Essa progressão pode incluir elementos como o uso de
āsana de complexidade e desafio cada vez maiores ou o aumento gradual da capacidade de
respiração.
Como os alunos de Krishnamacharya eram no início principalmente jovens rapazes ativos, ele
recorreu a muitas disciplinas – incluindo yoga, ginástica e boxe indiano – para desenvolver
sequências de āsana a serem realizadas dinamicamente, destinadas a construir boa forma física. Esse
estilo de Vīnyāsa usa os movimentos do Sūrya Namaskar para introduzir cada āsana e novamente
sair dela. Cada movimento é coordenado com uma respiração pré-estabelecida e um dṛṣṭi, que dão
foco aos olhos e instilam concentração meditativa. Finalmente, Krishnamacharya padronizou as
sequências de posturas em três séries, constituídas de āsana preliminares, intermediárias e
avançadas. Os estudantes foram agrupados por ordem de experiência e habilidade, devendo
memorizar e dominar cada sequência antes de avançar para a próxima.
Com o tempo, vieram alunos com menos aptidão física, incluindo alguns com deficiências...
Krishnamacharya então começou adaptar as posturas a capacidade de cada aluno.
Por exemplo, ele instruiria um aluno a fazer paścimottānāsana com as pernas estendidas, para
alongar seus músculos posteriores, enquanto um aluno mais rígido aprenderia a mesma postura com
os joelhos flexionados. De forma semelhante, ele poderia variar a respiração para atender as
necessidades do aluno, às vezes contraindo o abdômen, para enfatizar a exalação, outras vezes
apoiando as costas, para enfatizar a inalação. Krishnamacharya variou a duração, a frequência e a
maneira de por em sequência os āsana para ajudar os alunos a alcançarem metas a curto prazo,
como se recuperar de uma doença. À medida que a prática dos alunos progredia, ele os ajudaria a
refinar os āsana em direção à sua forma ideal. Em seu modo individual, próprio, Krishnamacharya
ajudava seus alunos a moverem-se de um yoga adaptado às suas limitações para um yoga que
ampliasse suas capacidades. Essa abordagem, que hoje é comumente designada como Viniyoga,
tornou-se a marca registrada do ensino de Krishnamacharya durante suas décadas finais.

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Durante os últimos anos de sua vida, introduziu o canto Védico na prática de yoga, sempre
adaptando o número de versos para corresponder ao tempo que o aluno pudesse sustentar a
postura. Essa técnica pode ajudar os alunos a manter o foco, sendo também um passo em direção à
meditação.
De acordo com Desikachar, filho de Krishnamacharya, seu pai descrevia o ciclo da respiração como
um ato de entrega. “Inala, e Deus se aproxima de ti. Retém a inalação, e Deus permanece contigo.
Exala, e tu te aproximas de Deus. Retém a exalação, e entrega-te a Ele”.
Vīnyāsa Krama foi uma frase usada por Krishnamacharya para transmitir duas abordagens diferentes,
embora complementares. O primeiro, ele chamou Vīnyāsa Cikitsa, um método terapêutico de
movimento que fornece as etapas necessárias para realizar um āsana - como ditado por sua
constituição individual. No segundo, ele chamou Vīnyāsa Śakti, um método pelo qual ele contava
números para um grupo para que eles pudessem seguir os padrões de movimento com precisão e
consistência. O primeiro método consiste em adaptar a prática para se adequar ao indivíduo. O
segundo é sobre adequar o indivíduo à prática. Ambos têm desvantagens e vantagens possíveis.

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Na nossa perspectiva não dual


A prática do vīnyāsa krama nos possibilita o alinhamento com a natureza fluente e em evolução do
universo, em vez de ficarmos presos à mentalidade de ver cada āsana como um evento separado,
desconectado do restante da prática – fluxo ininterrupto (spanda) , porque cada āsana pode se
desdobrar no próximo - da mesma maneira que os eventos no mundo se desenvolverão e se
desdobrarão gradualmente.
Krama também é um dos sampradāya tântricos śivaita, que é a filosofia que sustenta o Śivaismo
junto com a Trika.

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Parâmetros para o Krama dentro da pratica de āsana:
- estudo da biomecânica da postura
- construção da prática, āsana por āsana, para chegar na peak pose
- variações dentro da postura – tanto mais simples como mais complexas
- contra posturas de compensação
- observar respiração de acesso
- prezar pela importância da experiência
- e principal, como embasar a experiencia que é o Haṭha Yoga filosoficamente através da perspectiva
śivaita caxemire

O foco do nosso curso será nas posturas desafiadoras de equilíbrios


sobre as mãos – tendo como ponto de partida bakāsana.

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